• Nenhum resultado encontrado

DOS MODELOS INTERATIVOS DE LEITURA 'A TEORIA DAS OPERA<;OES ENUNCIATIV AS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DOS MODELOS INTERATIVOS DE LEITURA 'A TEORIA DAS OPERA<;OES ENUNCIATIV AS"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

ENUNCIATIV AS

ABSTRACT: The objective of this paper is to make a comparison between the interactive models of reading and the theory of enunciative operations, having in mind the teaching of reading in aforeign language.

Para caracterizar, de forma bastante sucinta, os modelos interativos de leitura, apontamos os trabalhos de Rumelhart (1977) e Stanovich (1980), para quem 0

processamento da informa~iio recebe a contribui~iio de vanas fontes de conhecimento, bem como a teoria dos esquemas, que aborda 0 relacionamento da estrutura do

conhecimento ja existente na memoria do individuo com a informa~ao nova contida no texto.

Para Rumelhart (1977: 573), a leitura e urn processo perceptivo e cognitivo, pois come~a com uma vibra~ao na retina e termina com uma ideia definida sobre a mensagem do autor. Nesse processo, (jleitor utiliza informa~oes sensoriais, sintliticas,

semllnticas e pragmaticas e estas parecem interagir de forma integrada; a interpreta~ao do significado daquilo que se l@depende do contexte geral em que se encontra 0texto.

Stanovich (1980:35) admite que, nos modelos interativos, os processos seminticos restringem as alternativas de niveis inferiores (reconhecimento de letras, palavras), mas sao tambem restringidos pela analise desses niveis inferiores, quando 0

leitor procede a compreensiio de urn texto. Admite, ainda, que 0processamento em urn dos niveis pode compensar as defici@ncias de qualquer outro nivel. Assim, urn leitor com defici@ncias no reconhecimento de palavras pode valer-se do contexto, porque este lhe fornece fontes de informa~ao.

A teona dos esquemas prev@ que a compreensao se da pela intera~ao da informa~ao nova com a informa~ao velha que 0 leitor possui. Na interpreta~iio de Meurer (1985:44), os esquemas operam como uma massa unitana, sao ativos e estao sempre atuando num comportamento ordenado. Os individuos respondem as situa~oes do dia a dia baseados nesses esquemas, ou seja, no conhecimento que tern acumulado das experi@ncias passadas.

Com rela~iio a teoria das opera~oes enunciativas ou 0 modelo do lingUista franc@s Antoine Culioli (1976 e 1985), propoe-se a estudar a linguagem atraves de opera~oes generalizaveis entre as lfnguas, como a determina~iio, aspectualidade, temporalidade e modalidade. Parte do principio de que, no processo de constru~iio da

(2)

625

significa~iio (produ~iio/compreensiio de

textos), toda no~iio sofrera uma serie de

opera~oes de determina~iio (quantifica~iio/qualifica~iio)para entrar em rela~iio com

outras no~oes e formar, assim, as rela~oes.predicativas. Estas, por sua vez, sofreriio,

tambem, opera~oes de determina~iio,especialmente as de orienta~iio (Ureperage"),com

rela~iioa situa~iiode enuncia~iio.

E

pelo jogo das opera~oes enunciativas sobre as rela~oes predicativas

(efetuadas a partir de no~oes) que se define a referencia~iio, isto e, a constru~iio do

significado que nos interessa no processo de leitura em lfngua estrangeira. As opera~oes

enunciativas implicam uma tomada de posi~iiodo sujeito enunciador em face do que ele

enuncia e do seu interlocutor

(0

co-enunciador), resultando nas categorias gramaticais

do tempo, aspecto e modalidade.

Para acompanharmos esse percurso entre essas duas linhas de pesquisa - os

modelos interativos com base na psicolingUfstica,de urn lado, e a teoria de Culioli, de

outro - e esclarecedor que acompanhemos a reflexiio do pr6prio Culioli (1990:9-10)

sobre os rumos da lingiifstica,na Europa, ap6s a Segunda Guerra Mundial.

Durante muito tempo, a lingilfstica,segundo

0

autor, se organizou em torno da

heran~a de Saussure que colocou como objeto os estudos da lfngua, enquanto domfnio

idealizado e construfdo a partir de lfnguas especfficas.

Desse ndcleo inicial, houve uma deriva~iio de pesquisas para campos

fronteiri~os, surgindo disciplinas de estatuto as vezes incerto, agrupadas dentro da

grande area das ci8ncias da linguagem. Assim, na decada de 60, surgiu a psicolingilfstica

que se liga a lingiifstica e a psicologia, em especial a psicologia cognitiva. Destaca-se,

tambem, a sociolingiifstica, urn setor bastante complexo para Culioli, uma vez que

congrega pesquisas variadas, desde problemas de lfnguas em contato como a

criouliza~iioe a pidginiza~iio ate a planifica~iio lingilfstica ou a alfabetiza~iio. Surge,

ainda, a analise do discurso, participando de cruzamentos com a filosofia da linguagem,

pragmatica, argumenta~iioe antropologia cultural.

Nessa mesma epoca, desenvolve-se a lingiifstica aplicada, setor que

compreende, de urn lado, a lingiifstica aplicada a didatica de lfnguas e, de outro, a

tradu~iioautomatica e a patologia da linguagem.

Culioli constata que ha uma tendencia a separar as questoes de lfngua, com

objetos delimitliveis,das questoes da linguagem, terreno movedi~o e complexo; grande

parte dessa fragmenta~iio que se verifica em torno da lingiifstica - psicolingiifstica,

sociolingiifstica,analise do discurso, etc. - decorre da maneira com que grande parte dos

estudos lingiifsticos tern trabalhado a rela~iio entre lfngua e linguagem. A proposta de

Culioli esta justamente na articula~iiodesses dois campos do conhecimento, pois e na

rela~iio dialetica de urn nfvel com

0

outro que se recobrem questoes de ordem do

cognitivo, do social e do cultural, uma vez que

0

autor define a atividade da linguagem

como opera~oes de representa~iio,de referencia~iioe de regula~iio e essa atividade s6

pode ser apreendida atraves de urn conjunto de marcas de uma dada lfngua. Propoe,

portanto, uma lingilfsticaaplicada sem dicotomizar teoria e pratica.

A reflexiio decorrente da teoria das opera~oes enunciativas permite-nos

perceber que, no processo de produ~iio e reconhecimento de textos, as rela~oes se

estabelecem em nfvel da lfngua e linguagem, e ambas remetem ao cognitivo.

(3)

Da analise das marcas lingiifsticas (0 aspecto pratico) chega-se as opera~oes generalizaveis da linguagem (a teoria), constituindo uma rela~ao que e parte integrante da cogni~ao.

Configuramos, assim, tres nfveis: 0 cognitivo, 0 linguagfstico e 0 lingUfstico, do mais generico para 0 mais especffico, interrelacionados e inseparaveis. Nos modelos interativos de leitura, trabalha-se mais diretamente entre 0 cognitivo (apresentado de forma bem ampla) e 0 lingUi'stico (0 produto especffico de uma lfngua). Como falta 0 conceito de linguagem, que faz a ponte entre a cogni~ao e as marcas da lfngua, nao se observa af a rela~ao entre 0 linguagfstico e 0 cognitivo. 0 lingiii'stico, por sua vez, nao tern, nos modelos interativos, 0 mesmo valor que no modelo de Culioli, pois nao e apresentado como 0 lugar das marcas de opera~oes da linguagem. Na teoria das opera~oes enunciativas, por outro lado, articulam-se marcas da seqUencia discursiva de determinada lfngua com opera~oes generalizaveis da linguagem, resultantes de uma atividade cognitiva maior (Dota, 1994).

o

trabalho com estrat6gias de leitura, embasado na abordagem interativa dos modelos anglo-americanos e bastante difundido no ensino da compreensao de textos, procura taticas comuns para a aproxima~ao da lfngua materna (Ll) e da lfngua estrangeira (L2) , aproveitando os esquemas que os alunoslleitores ja possuem, para, atraves das pistas sintatico-semlinticas do texto, construfrem 0 seu significado. A atribui~ao do significado se faz a vista dos elementos lingiii'sticos parciais e parcialmente identificados (dado 0 nao conhecimento de certos aspectos de L2) e a redu~ao do desconhecido se opera progressivamente, a custo de aproxim~oes, revisoes, ajustes sucessivos, num vai-e-vem entre hip6teses globais e 10cais para a significa~iio.

Com 0 modelo de Culioli, mais abrangente, a nosso ver, os esquemas (experiencia, conhecimento sobre 0 tema, autor, situa~iio) tambCm sao levados em considera~ao, ao se relacionarem as marcas textuais com as opera~oes generalizaveis (comuns a L1 e L2), tais como determina~iio, temporalidade, aspectualidade e modalidade. Sua vantagem esta, justamente, em trabalhar com opera~oes subjacentes as diversas lfnguas e permitir, portanto, que se empreguem em L2 procedimentos de compreensiio utilizados em Ll.

Urn primeiro ponto que contrlbui para a aproxim~iio entre os dois modelos e0

relacionamento entre "leitura critica", enfatizada pela abordagem psicolingiifstica, e uma proposta de reconhecimento de textos que coloca 0 sujeito como centro do discurso e recupera suas orienta~oes com rela~iio a situa~iio de enuncia~iio, conforme 0modelo de Culioli.

Os materiais para leitura, escritos dentro da abordagem psicolingUfstica, apontam oportunidades para se lerem uma variedade de textos com diferentes prop6sitos. Assim, pode-se saber 0 sentido geral de urn texto ("skimming"), descobrir urn fato especffico ou urn item de inform~iio ("scanning"), fazer uma leitura detalhada ou avaliar a informa~iio para verificar se esta se encaixa em determinada visao de mundo, este ultimo identificado dentro da abordagem como "leitura critica".

De acordo com a psicolingUfstica, "as habilidades de leitura critica permitem, entao, ao leitor, distinguir fato de opiniao, delinear inferencias e avaliar 0ponto de vista do autor" (Silberstein, 1987:30). Na realidade, qualquer atividade de leitura exige uma

(4)

627

postura crftica que permita avaliar a posirriio do autor, que leve em conta 0dialogo entre

o sujeito enunciador e seu interlocutor. Esse niio e, portanto, urn tipo de leitura que deva ser ressaltado apenas em deterrninados contextos.

Estudando a categoria da modalidade, por exemplo, a luz da teoria das operarroes enunciativas, podemos trabalhar 0 texto com os alunos/leitores de forma

efetivamente crftica, uma vez que podemos analisar a presenrra do sujeito enunciador em seu discurso, a distancia que ele assume face as predicarroes que efetua e sua interarriio frente ao co-enunciador. Siio essas estrategias pedag6gicas

"que, pouco a pouco, treinam 0 aprendiz para saber escolher, em urn texto, os indices

lingUisticos (e/ou ic6nicos), geradores de hip6teses e facilitadores de previsoes, e a saber reconhecer aqueles que the serviriio para testar suas pr6prias interpretarroes" (Lehman, 1980:101).

Os modelos interativos de leitura falam de urn lei tor ativo (tambem ligado a questiio da leitura crftica), pois apontam sua continua interarriio com 0 texto, na construrriio do significado. Nesse sentido, a "leitura e vista como uma especie de dialogo entre 0leitor e0texto" (Grabe, 1988:56).

Esse diaIogo corresponde, na teoria das operarroes enunciativas, a reconstrurriio do dialogo entre enunciador e co-enunciador: na base dessa teoria esta 0dialogo entre 0

"eu" e0"tu" que vai resultar nas operarroes enunciativas do processo de produrriio e que precisam ser recuperadas no processo de reconhecimento. Nas palavras de Culioli (1973:87), "a significarrao de urn enunciado ... sera proveniente des sa acomodarriio intersubjetiva, enfim, das pr6prias condirroes da enunciarriio".

Urn outro aspecto a aproximar os dois modelos e a questiio da experiencia previa ou conhecimento de mundo, parte integrante da abordagem interativa de leitura. Isso significa que

"na perspectiva do leitor, 0 significado e criado a medida que ele usa sua experiencia

anterior em conjunto com as pistas do autor, para controlar tanto aquilo que0autor esta

levando-o a fazer ou a pensar como aquilo que ele (0 leitor) decide criar por si proprio" (Tierney & Pearson, 1983:568).

Na abordagem enunciativa, ao se relacionarem as marcas textuais com a situarriio de enunciarriio, tanto 0 lei tor como 0 produtor do texto precisam levar em

considerarrao 0extralingUistico, isto e, 0conjunto de elementos ffsico-culturais tornados

como comuns entre ambos. 0 pr6prio Culioli (1976:37) nos da essa diretiva:

"A determinarriio do sentido da relarriio primitiva [existente entre as norroes] niio e somente do funbito da lingiiistica. Uma parte esta ligada a cultura, uma outra parte a situarriio de enuncia~iio, de tal forma que a produ~iio e0reconhecimento dos enunciados viio estar subordinados a imlmeras imposirroes" .

(5)

Para estabelecer a compara~ao a que nos propusemos, fizemos uma breve

apresenta~iiodos modelos interativos de leitura e da teoria das opera~oes enunciativas

de Antoine Culioli.

Apontamos a distin~iiobasica entre essas duas linhas, ou seja: uma tentativa de

articula~iioentre

0

lingilfstico e

0

cognitivo, nos modelos interativos de leitura, de urn

lado; de outro, na teoria das opera~oes enunciativas, a constata~iio do nfvel da

linguagem, estabelecendo uma liga~iio entre as marcas de uma dada llngua e todo

0

aparato cognitivo do indivfduo.

Ressaltamos as aproxima~oes entre os dois modelos: as mareas lingilfsticas

como pistas textuais para

0

leitor, a experiencia previa deste, manifestada em sua

rela~iio com

0

extralingilfstico e

0

dililogo estabelecido entre

0

enunciador e

co-enunciador, no processo de produ~iioe reconhecimento de textos.

RESUMO:

0 objetivo deste trabalho i fazer uma comparafilo entre os modelos interativos de leitura e a teoria das operafoes enunciativas, tendo em vista 0ensino de

leitura em l(ngua estrangeira.

CULIOLI, A. (1973) Sur quelques contradictions en linguistique.

Communications,

Paris, n.

20,

p. 83-91.

__

. (1976)

Transcription du siminaire de D.E.A. de M.A. Culioli -

1975-1976.

Paris: Universite de Paris VII, D.L.R.

__

. (1985)

Notes du seminaire de D.E.A.

-1983-1984. Paris: Poitiers.

__

. (1990)

Pour une linguistique de l'enonciation.

Paris: Ophrys.

DOTA, M.I.M. (1994)

Das estratigias de leitura as operafoes enunciativas: a modalidade.

Tese de Doutorado. Faculdade de Filosofia, Cicncias e LetrasIUNESP,

Araraquara.

ESKEY, D.E. (1988) Holding in the bottom: an interactive approach to the language

problems of second language readers. In: CARRELL, P.L. et al. (eds).

Interactive approaches to second language reading.

Cambridge: Cambridge University Press,

p.93-100.

GRABE, W. (1988) Reassessing the term "interactive". In: CARRELL, P. L. et al.

(eds.).

Interactive approaches to second language reading.

Cambridge: Cambridge

University Press, p. 56-70.

(6)

629

MEURER, J.L. (1985) Reading comprehension in Ll and L2o' exploring text structure,

schemata and advance organizers. Ph. D. Dissertation. Georgetown University, Washington, D.C.

RUMELHART, D.E. (1977) Toward an interactive model of reading. In: DORNIC, S. (ed.). Attention and performance, v. 1. New York: Academic Press, p. 573-603. SILBERSTEIN, S. (1987) Let's take another look at reading: twenty-five years of

reading instruction. English Teaching Forum, Washington, D.C., v. 25, n. 4, p. 28-35.

STANOVICH, K.E. (1980) Toward an interactive-compensatory model of individual differences in the developement of reading fluency. Reading Research Quarterly, Newark, DE, v. 16, n.

1,

p. 32-71.

TIERNEY, R. & PEARSON, P.D. (1983) Toward a composing model of reading.Language Arts, Urbana, IL, v. 60, n. S, p. 568-580.

Referências

Documentos relacionados

EDUCACIONAL MARY/MG: 0; EE PROF.

Tais transforma¸ c˜ oes podem ser feitas, por exemplo, efetuando nas linhas da matriz A opera¸ c˜ oes similares as opera¸ c˜ oes elementares realizadas nas equa¸ c˜ oes de

Administração de a vos de longo prazo e inves mento de Vídeo Aulas, Leitura, Resolução de Youtube, Drive, Google Sala de Google 5 horas.. Custo de capital, estrutura

Para efeito de cálculo da transpiração diária, procedeu-se uma interpolação linear entre os dados consecutivos medidos de área foliar, em virtude do intervalo de medida adotado

O resultado final ilustra que propriedade das opera¸c˜ oes

Podemos constatar, nos resultados obtidos para o Brasil, que, para alguns agravos levantados como: diabetes, hipertensão, excesso de peso e obesidade, existem programas

É possível perceber nos contornos da Segurança Alimentar, ainda que o conceito tenha passado por sofisticações, que tanto a fome quanto o alimento estão numa chave

U okviru Rečnika data je veoma detaljna i pregledna gramatika romskog jezika sa pravopisnim savetnikom, koja će biti od velike koristi, kao i sam rečnik uostalom, širokom