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A Gripe Aviária como uma ameaça no Brasil

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IV Encontro Nacional da Anppas

4, 5 e 6 de junho de 2008

Brasília – DF - Brasil

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A Gripe Aviária como uma ameaça no Brasil

Marcelo Sebastião Rezende (UFU) Médico Veterinário, advogado, mestrando em Geografia marcelo.srezende@hotmail.com

Samuel do Carmo Lima (UFU) Doutor em Geografia, professor do Instituto de Geografia da UFU Samuel@ufu.br

Resumo

A Gripe Aviária é uma das maiores preocupações mundiais da atualidade. As variantes de alta patogenicidade causam diversos prejuízos relacionados à mortalidade nos plantéis avícolas comerciais. A variante H5N1 do vírus pode infectar seres humanos, com curso severo de infecção. Conhecida há mais de um século, a doença passou a se difundir com maior rapidez a partir do final dos anos 50. Desde então, já dizimou plantéis de frangos em países de todos os continentes, principalmente na Ásia. Por causa dos danos à saúde humana e animal e das conseqüências econômicas e sociais, a prevenção e o combate à influenza aviária são hoje prioridades globais. A influenza aviária de alta patogenicidade ainda não foi diagnosticada no território brasileiro. Não obstante, torna-se imprescindível que se faça uma análise dos riscos potenciais da introdução do agente patogênico no território brasileiro, em particular através do ingresso de aves migratórias setentrionais ou meridionais, do fluxo de pessoas a regiões que apresentam surtos de gripe aviária ou ainda através da introdução de produtos ou equipamentos contaminados, também originados dos mesmos locais.

Palavras-chave

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1. Introdução

A avicultura brasileira tem uma posição de destaque na produção de carne de frango a nível mundial, produzindo 10,3 milhões de toneladas em 2007. Este valor representa 15,8% da produção do planeta, estimada em 65,2 milhões toneladas. O volume é bastante representativo na medida que confere, ao longo de 7 anos, um acréscimo de 66,13% na produção anual de carne de frango no Brasil, ao passo que a média mundial evoluiu 22%. Na exportação os números são ainda mais representativos, uma vez que o país exportou 3,3 milhões de toneladas de carne de frango no ano de 2007, evoluindo 21,2% em relação ao ano anterior. Este valor consolida o país como o maior exportador do mundo, posição conquistada a partir de 2004 (ABEF, 2008).

A carne de frango posiciona-se como um dos principais produtos na pauta de exportação do agronegócio brasileiro. A posição de destaque atingida deve-se a múltiplos fatores, entre os quais destacamos os avanços obtidos na genética, na nutrição, no manejo, na ambiência e principalmente no controle sanitário que, sem dúvida alguma, possibilitou ao Brasil os grandes avanços no mercado global (ABEF, 2008).

Entretanto, nos últimos anos, tem-se assistido a ocorrência de várias enfermidades em animais que também acometem seres humanos. Denominadas de zoonoses, estas patologias como a Doença da Vaca Louca e a Gripe Aviária, têm despertado uma enorme preocupação na comunidade cientifica mundial, nos governos dos países e na população em geral.

Ao longo da história, constatou-se a ocorrência de várias pandemias de gripe. Registra-se a gripe espanhola no início do século XX, que dizimou cerca de 50 milhões de pessoas; bem como a ocorrida em 1957/1958 em Hong Kong (WHO, 2006).

O serviço oficial de saúde humana e animal estabeleceu uma série de ações para prevenir a ocorrência da doença no Brasil. Tais ações dividem-se em políticas, de vigilância, de educação e biossegurança.

Uma das formas de se avaliar a segurança de um sistema de defesa sanitária é a análise de riscos. Preconizada pela OIE (Organização Internacional de Epizootias), esta compreende na identificação do perigo, na avaliação do risco e na gestão do risco (OIE, 2006).

2. A gripe aviária

A gripe aviária é uma doença infecto-contagiosa causada pelo vírus da Influenza tipo A. Pertencem à Família Orthomyxoviridae – tipos A, B e C - com morfologia de esféricos a pleomórficos – 80 a 120 nm – sendo um RNA vírus, fita única de sentido negativo, envelopado, com um genoma viral composto de 8 segmentos e 10 proteínas virais. Possui duas proteínas em sua superfície externa: a Hemaglutinina (HA) e a Neuraminidase (NA). Estas proteínas, de características antigênicas, são as responsáveis pela classificação do tipo do vírus. O subtipo Influenza A possui 15 tipos de hemaglutininas e 9 tipos de neuraminidases, que combinando-se

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entre si, podem resultar em 135 subtipos. O subtipo H5N1 é o mais prevalente nas infecções humanas (OIE, 2006).

Figura 1 – Microscopia eletrônica do Vírus Influenza e desenho esquemático de suas estruturas (OIE, 2006).

Os mamíferos também podem ser acometidos pelo vírus da Influenza, sendo que o homem é susceptível aos tipos A, B e C, atravessando a barreira entre as espécies.

Aves aquáticas selvagens são hospedeiros naturais da doença e provavelmente carrearam-na durante anos. É sabido que estas aves podem albergar vírus de Influenza, contudo nas suas formas de baixa patogenicidade. Evidências têm demonstrado que as aves migratórias podem ser responsáveis pela introdução de cepas de baixa patogenicidade nos plantéis avícolas comerciais, que em seguida sofrem mutação para cepas de alta patogenicidade e eventualmente podem provocar infecção à população humana (FAO, 2006).

Espécies de aves selvagens, principalmente as aquáticas, como patos e marrecos, albergam cepas do vírus de alta e baixa patogenicidade, sem apresentação obrigatória dos sintomas clínicos. O contato entre aves domésticas e migratórias tem sido a origem de muitos surtos epidêmicos. A Influenza Aviária (IA) pode ocasionalmente ser disseminada para a população humana e animal, após contato direto dessas espécies com aves infectadas (BRASIL, 2006).

Figura 2 – Aves aquáticas migratórias (OIE, 2006).

Em aves domésticas, as infecções pelo vírus da IA são classificadas como de alto e baixo extremos de patogenia, relacionada à capacidade de provocar sintomatologia clínica severa em

RNA / Nucleoproteína / Complexo Polimerase

NEURAMINIDASE

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aves. As variantes ou cepas chamadas de baixa patogenicidade causam sintomas brandos, que podem passar facilmente despercebidos. As formas altamente patogênicas são mais marcantes de observação: depressão severa; inapetência; edema facial com crista e barbela inchada e com coloração arroxeada; dificuldade respiratória com descarga nasal; queda severa na postura de ovos; mortalidade igual ou superior a 1%; diminuição do consumo de água e ração, igual ou superior a 20%; morte súbita, que pode chegar até 100% do plantel, num período de 48 horas (OIE, 2006).

Figura 3 – Detalhe de aves mortas pela gripe aviária e ensacadas (OIE, 2006).

A disseminação do H5N1 na população de aves pode representar riscos à população humana. O risco se refere à infecção direta, quando o agente passa de aves para a população humana, resultando em doença bastante severa. Dos casos ocorridos no mundo, a variante H5N1 causou o maior número de casos da doença com morte de humanos (OIE, 2006).

O vírus tem tendência à mutação e pode ocasionalmente disseminar-se para outros animais. Diferentemente da influenza sazonal, em que as infecções causam apenas leves sintomas respiratórios, a infecção pelo H5N1 é seguida de agressivo curso clínico, com rápida deterioração e alta taxa de mortalidade. Pneumonia viral primária e falha sistêmica são comuns de acontecer. Mais da metade das pessoas infectadas com este tipo de vírus morreu e a maioria dos casos aconteceu em crianças e jovens saudáveis. Os casos em humanos foram caracterizados pela presença de subtipos altamente patogênicos, devido ao contato direto com aves infectadas. Em 1997 ocorreu a primeira detecção de transmissão entre aves e humanos da cepa H5N1, durante um surto em Hong Kong. O vírus causou doença respiratória severa em 18 pessoas, com 6 mortes. Desde então, outros incidentes com H5N1 têm ocorrido com população humana.

Ainda não há estudos científicos comprovando a transmissão do vírus entre humanos . A disseminação do vírus entre as aves ocorre pela saliva, secreções nasais e fezes. A disseminação

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para aves susceptíveis ocorre quando elas têm contato com excretas contaminadas. Os casos na população humana de H5N1 são resultado de contato com aves ou fômites infectados (BRASIL, 2006).

Figura 4 – Atendimento de pessoas vítimas da gripe aviária (WHO, 2006).

O foco de atenção está voltado para a possibilidade de mutação genética do vírus circulante no sudeste asiático, levando a transformação do vírus da IA numa nova variante, capaz de ser transmitido entre humanos. Esta mudança pode dar início à situação de pandemia. Os recentes focos de IA de alta patogenicidade, que se iniciaram no sudeste asiático, no ano de 2003, são os maiores e mais severos registros da doença. Nunca tantos países foram simultaneamente afetados, resultando no sacrifício de grande quantidade de aves (BRASIL, 2006).

O agente H5N1 provou ser bastante perigoso. Além do sacrifício e morte de milhões de aves, o vírus é considerado endêmico em muitos países da Ásia. O controle da doença nas aves levará muitos anos (OIE, 2006).

Os costumes de convivência com aves domésticas em que a população mantém íntima convivência com patos e gansos infectados podem ter facilitado a ocorrência de casos humanos.

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2.1 A situação no Brasil

A doença é considerada exótica no Brasil. O Brasil possui o Programa Nacional de Sanidade Avícola desde 1994 e elabora constante vigilância nas doenças de aves. O Departamento de Saúde Animal, da Secretaria de Defesa Agropecuária, é o órgão do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) responsável pela edição de políticas e fiscalização das atividades de prevenção à influenza aviária. Foram realizadas reuniões com o setor produtivo para formulação das políticas de prevenção da doença no território nacional. O Brasil está localizado numa posição geográfica distante dos principais focos da doença, porém preparou um plano de resposta a uma eventual detecção de infecção no plantel avícola nacional. A equipe da Coordenação de Sanidade Avícola, do Departamento de Saúde Animal, está elaborando as ações para manter sistema ativo de vigilância a IA. A vigilância contínua e a rápida detecção inicial de vírus de baixa patogenicidade em aves industriais, de subsistência e migratórias é um fator de prevenção da ocorrência de formas de alta patogenicidade da doença nas aves (BRASIL, 2006). Está sendo atualizado o cadastro oficial de todos os estabelecimentos de criação avícola. Este trabalho servirá como base para identificação de plantéis sob risco de desenvolvimento da doença, quando da eventual detecção da circulação de vírus no País.

O Plano de Contingência de IA descreve as medidas que devem ser tomadas em caso de suspeita de foco de influenza aviária de alta patogenicidade em aves. Este plano é submetido a constante revisão. As principais medidas contempladas são:

- Organização: A comunicação entre as empresas avícolas, autoridades oficiais, especialistas, laboratórios e a OIE (Organização Internacional de Epizootias);

- Biossegurança: A proteção das granjas, das áreas de rotas migratórias, a regionalização da circulação de produtos avícolas.

- Educação: Através do esclarecimento da doença e o risco potencial de sua ocorrência.

- Vigilância: Através do monitoramento sanitário dos plantéis de aves comercias do Brasil, das aves migratórias e das aves caipiras. Destaca-se também o serviço de vigilância em portos e aeroportos, controlando a entrada de possíveis produtos e equipamentos contaminados, oriundos de países com o problema (BRASIL, 2006).

Em caso de suspeita de foco de IA de alta patogenicidade, todas as aves do estabelecimento em questão deverão ficar confinadas. Nenhuma ave deverá entrar ou sair da propriedade. Pessoas, animais, veículos, produtos avícolas, ração animal, ou qualquer agente que possa transmitir o vírus da IA não poderão ser deslocados de e para a propriedade, sem autorização do serviço de defesa sanitária animal. Medidas de biossegurança, como higienização de pessoas, desinfecção de veículos e equipamentos nos pontos de entrada e ao redor dos galpões, deverão ser realizadas (BRASIL, 2006).

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Em caso de confirmação da presença de IA de alta patogenicidade, as medidas de sacrifício e destruição das aves deverão ser conduzidas imediatamente pelos agentes de defesa sanitária animal. Todos os ovos e produtos avícolas também deverão ser destruídos. A carne das aves, originada dos estabelecimentos afetados, que foi abatida dentro do período de incubação da doença, deverá ser localizada e destruída, assim como os ovos incubáveis e de consumo. O estabelecimento e os veículos utilizados para transporte deste material serão constantemente limpos e desinfetados (WHO, 2006).

Além disso, deverão ser implementadas as seguintes medidas:

– Proibição da retirada de qualquer tipo de animal existente na propriedade (inclusive cães, gatos, eqüinos, bovinos, ovinos, caprinos, suínos);

– Sacrifício imediato, no local, de todas as aves presentes no estabelecimento avícola;

– Disponibilização de equipamentos para realizar as tarefas que permitirão a completa e segura destruição das aves: retroescavadeira, pá mecânica, caminhão caçamba, sacos plásticos reforçados, combustíveis líquidos, lenha, outros;

– Destruição de todas as aves que tenham morrido no surto ou tenham sido sacrificadas, assim como da carne de todas as aves provenientes da granja e abatidas durante o período de incubação da doença. Os ovos e os subprodutos produzidos durante o período provável de incubação da doença também serão localizados e destruídos.

– Limpeza e desinfecção de todas as áreas da propriedade.

Nenhuma ave deverá ser reintroduzida no estabelecimento, até que seja feita a liberação da atividade pelo serviço de defesa sanitária animal. O período mínimo para esta liberação é de 21 dias após a conclusão das atividades de limpeza e desinfecção.

Com base em resultados de investigação epidemiológica, os serviços de defesa sanitária animal dos estados, sob concordância do Departamento de Saúde Animal, adotarão medidas sanitárias em estabelecimentos vizinhos ao local onde foi confirmada a presença do agente infeccioso, ou em quaisquer outros estabelecimentos onde haja suspeita de disseminação da doença (BRASIL,2006).

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2.2 A situação no mundo

A nível mundial, a gripe aviária é monitorada pela OIE (Organização Internacional de Epizootias). Desde meados de dezembro de 2003, alguns países asiáticos notificaram surtos de influenza aviária de alta patogenicidade em galinhas e patos, quais sejam, Bangladesh, Cambodja, China, Coréia do Sul, Indonésia, Japão, Laos, Paquistão, Taiwan, Tailândia e Vietnã. Mais recentemente, o vírus da influenza aviária avançou sobre o Ocidente e tem causado alarde sobre a iminência de uma pandemia de influenza. Focos de aves contaminadas pelo vírus H5N1, causador da doença, foram detectados na Alemanha, Áustria, França, Grécia, Hungria, Itália, Polônia, Romênia, Rússia, Suíça e Turquia. Alguns países africanos, como Egito, Nigéria e Togo também apresentaram o problema. A propagação da influenza aviária de alta patogenicidade, com ocorrência de surtos em vários países ao mesmo tempo, é historicamente inédita e de grande preocupação para a saúde humana e animal. Especialmente preocupante, em termos de riscos para a saúde humana, é a detecção da cepa de alta patogenicidade conhecida como FLU A/H5N1, como a causa da maioria desses surtos.

A Organização Mundial de Saúde (até 30 de abril de 2008) confirmou o total de 382 casos de pessoas infectadas pelo vírus H5N1 no Azerbaijão, Cambodja, China, Djibouti, Egito, Indonésia, Iraque, Laos, Myanmar, Nigéria, Paquistão, Vietnã, Tailândia, Turquia e Vietnã, levando a 241 mortes, desde 2003.

3. Os Riscos da entrada da Gripe Aviária no Brasil

Sabendo que nenhum país está totalmente livre do risco da ocorrência do vírus de influenza aviária de alta patogenicidade, há de se avaliar algumas vias de acesso de entrada da doença no país. Nesse sentido é cabível uma análise das migrações de aves que vêm para o Brasil, do fluxo de pessoas em regiões que apresentam a enfermidade ou mesmo a entrada de produtos ou equipamentos contaminados.

3.1 A transmissão pelas aves migratórias

O Brasil é um país que está na rota de muitas espécies de aves migratórias, tanto de visitantes setentrionais (aves Neárticas), que possuem seus sítios de reprodução no hemisfério norte, como as meridionais (aves Neotropicais), que reproduzem em áreas do hemisfério sul (SICK, 1983). A porção norte do Brasil é a porta de entrada dos migrantes setentrionais no país (figura 7). Dessa forma, a Amazônia e zona costeira da região norte e nordeste são locais com muitos registros de espécies migratórias do hemisfério norte. O deslocamento destas aves ocorre ao Norte – acompanhando o salgado paraense, a costa do Amapá e as reentrâncias maranhenses; no Nordeste – pelas costas do RN, PE, SE e BA; e ao Sul – atingindo a região do Parque Nacional da Lagoa do Peixe - RS. Essas aves chegam no país entre agosto e outubro e retornam para suas áreas de reprodução entre março e maio (SICK, 1983).

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Entretanto, parte das aves migratórias não segue a migração pela costa, mas pelo interior do continente. Essas espécies passam pela Venezuela e Colômbia, entrando na Amazônia brasileira, principalmente na porção oriental (AM, AC, RO e MT) seguindo o caminho de grandes rios (ex. Rio Negro, Branco, Madeira) e também a oeste pelo rio Araguaia e Xingu (Figura 1). Essas espécies passam pelo Brasil central, seguindo até ao sul do Brasil ou até mesmo na Terra do Fogo (SICK, 1983).

Figura 7 – Principais rotas migratórias das aves setentrionais para o Brasil (SICK, 1983).

Com relação às migrações meridionais, várias espécies deslocam-se da Argentina, Chile e Uruguai para o Brasil, atingindo as regiões sul, sudeste e em alguns casos o centro-oeste. Em alguns locais de invernada (ex. Parque Nacional da Lagoa do Peixe – RS), no mês de março entram em contato com aquelas oriundas do hemisfério norte. Neste caso, as aves migratórias do norte convivem com as do sul até o mês de abril, quando aquelas retornam às suas áreas reprodutivas (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).

Há de se destacar também alguns deslocamentos esporádicos e não sazonais de migrações originárias da África, Espanha meridional e da Europa ocidental. Ocorrem quando alguns indivíduos jovens que estão em processo de aprendizagem de rotas migratórias atingem a costa brasileira (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).

Alguns inquéritos sorológicos realizados no Brasil em 2005 e 2006, coordenados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, principalmente no Rio Grande do Sul, Bahia, Pará e Pernambuco, registraram vírus da influenza de baixa patogenicidade.

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As aves migratórias desempenham um papel importante na transmissão da Gripe Aviária quando as mesmas são provenientes de áreas consideradas de risco. Levando-se em consideração que a grande maioria das aves migratórias que chegam ao Brasil são provenientes das altas latitudes do continente americano e da parte meridional da América do Sul, regiões sem registros oficiais da doença, a entrada da doença via migração destes locais, em curto prazo, parece não representar um risco potencial. Ressalta-se, porém, os deslocamentos esporádicos de aves oriundas da África e da Europa ocidental, regiões que já tiveram registros oficiais da doença (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Esses deslocamentos pedem uma atenção especial das autoridades oficiais.

3.2 Risco pelo trânsito de pessoas oriundas dos países com gripe aviária

O homem representa um papel importante na transmissão do vírus da Gripe Aviária na medida que, entrando em contato com o mesmo, pode transportá-lo e contaminar outras aves susceptíveis. Levando-se em consideração que no mundo atual os deslocamentos humanos entre as várias regiões do mundo são realizados em questões de horas, o trânsito de pessoas oriundas de regiões que enfrentam o problema da doença, representa um risco potencial na transmissão da enfermidade.

Os últimos dados disponíveis sobre o fluxo receptivo internacional de turismo indicaram que o Brasil recebeu cerca de 5,0 milhões de pessoas no ano de 2006, representando 0,59% do total do mundo (BRASIL, 2007). Considerando o fluxo de pessoas para o Brasil, de acordo com o continente de origem, os maiores aportes vieram da Europa, representando 39,24% do total, seguido pela América do Sul, com 35,93%. No caso da Ásia, esta respondeu por 4,58% do desembarque ocorrido no Brasil no ano de 2006 (BRASIL, 2007).

Gráfico 1 - Porcentagem de chegada de turistas no Brasil de acordo com o continente de origem - 2006

39,24% 35,93% 17,04% 4,58% 3,21% Europa América do Sul América do Norte Ásia Outros

Os últimos dados do Estudo da Demanda Turística Internacional do ano de 2003 apresentou os principais destinos do turista brasileiro para o exterior, sendo que os Estados Unidos, Argentina e alguns países da Europa (França, Espanha, Alemanha, Portugal, Itália e Inglaterra) representaram 74% do total dos embarques (BRASIL, 2004).

Considerando o fluxo de embarques e desembarques, principalmente entre os países europeus (que já tiveram registros da doença) e os da Ásia (considerada uma região endêmica da Gripe

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Aviária), esta via de introdução da doença no país não deve ser ignorada. Registra-se que alguns países como o Chile, realizam inquéritos epidemiológicos antes da entrada das pessoas em seu país, a fim de resguardar a sanidade de seus rebanhos e evitando também impactos na saúde pública.

No Brasil são realizadas algumas medidas protetivas como a instalação de detectores de matéria orgânica para passageiros e bagagens e a mobilização das organizações privadas das empresas de produção de aves, no sentido de não se permitir visitas de pessoas oriundas de países que apresentam o problema, nos seus estabelecimentos de produção.

3.3 Entrada de produtos e equipamentos contaminados

Além do risco da entrada de bagagens com material contaminado de passageiros oriundos de regiões com incidência da Gripe Aviária, merecem destaque a possibilidade de importação de aves ou material genético contaminados com o vírus ou pela introdução de containeres contaminados pelos portos ou aeroportos do país, também oriundos dos mesmos países. Um outro risco potencial são os resíduos das embarcações que chegam aos portos brasileiros vindos de áreas que apresentam a doença, usualmente conhecidos como “consumo de bordo” (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2007).

O Brasil possui um sistema de controle para a importação na área animal e vegetal, sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, através da Vigilância Agropecuária, que tem como objetivo prevenir o ingresso de enfermidades que possam acometer a saúde dos animais e/ou impactar a saúde pública. Nesse sentido é fiscalizado o trânsito internacional de animais, vegetais, produtos, subprodutos, derivados, insumos agropecuários e materiais para pesquisa científica (BRASIL, 2006).

Para o controle nos portos e aeroportos foi considerado um plano de contingência que contempla medidas de controle para o “consumo de bordo”, de uma possível pessoal infectada e o tratamento de containeres oriundos de regiões contaminadas. Está em execução um trabalho de divulgação do plano nos portos e aeroportos, contando com a participação de técnicos dos setores controladores destes locais e de pesquisadores de Instituições Federais de Ensino, como a Unifesp (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2007).

4. Conclusão

A situação global da Gripe Aviária é muito séria. Diversos países asiáticos, europeus e africanos notificaram a ocorrência da doença, ocasionando mortalidades em humanos e aves.

No Brasil a doença é considerada exótica. Os inquéritos epidemiológicos realizados até o momento indicaram apenas o aparecimento de variantes do vírus de baixa virulência.

As aves aquáticas migratórias, especialmente os patos selvagens, são reservatórios naturais do vírus da influenza aviária. Essas aves são mais resistentes à infecção e podem carrear o vírus por

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longas distâncias. Para o Brasil, a chegada do vírus em países das Américas do Hemisfério Norte – Canadá e Estados Unidos – seria extremamente preocupante, pois é de lá que vêm a maioria das aves migratórias que visitam o País. O monitoramento das aves que têm deslocamentos esporádicos provenientes da Europa ocidental e África deve ser considerado.

Há um fluxo migratório de pessoas entre o Brasil e países que apresentaram e que ainda têm surtos da doença. Medidas que evitem a entrada de bagagens contaminadas e o acesso de pessoas provenientes de áreas de risco nos empreendimentos de produção avícolas são extremamente úteis para se evitar a entrada de amostras do vírus patogênico da Gripe Aviária no país.

O Brasil é um grande exportador de frango. Os controles de embarcações e containeres provenientes de países com o foco da doença também devem ser implementados. De forma complementar o rigor e o cumprimento das normas relativas à importação de produtos animais, controlados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento revelam-se particularmente importantes. O mesmo Ministério elaborou um plano de contingência, em conjunto com outros setores dos governos federal, estadual e municipal e com a participação efetiva da iniciativa privada. Nesse plano estão previstas várias ações, como treinamento de veterinários dos serviços oficiais, procedimentos emergenciais a serem adotados nos locais com focos registrados e recomendações para todos os tipos de produção avícola.

É fundamental o estabelecimento e a execução de planos nacionais integrados e no contexto continental para a vigilância e prevenção da Influenza Aviária, em sintonia entre Ministérios da Agricultura e da Saúde e o setor produtivo avícola, melhorando a capacidade de vigilância e de resposta nas suas dimensões humanas e animais. No mesmo sentido ressalta-se a importância da cooperação técnica e financeira internacional, de acordo com os Planos Globais da OMS, da FAO e da OIE.

5. Referências

ABEF - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos. Índices e Estatísticas. Disponível em: <http://www.abef.com.br/>. Acesso em: 01 mar. 2008.

AVICULTURA INDUSTRIAL. Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http:// http://www.aviculturaindustrial.com.br/site/busca.asp?texto=parana+antaq&ok=ok. Acesso em: 10 abr. 2008.

AZEVEDO JÚNIOR, Severino Mendes de. Migração de Aves: Influenza Aviária e a Doença de Newcastle no Brasil. In: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 2007. Anais da Conferência Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas. Campinas: Agros Editorial, p. 211-214.

BRASIL. Embratur. Estatísticas básicas de Turismo. Disponível em: http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/home/. Acesso em: 06 mar. 2008.

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BRASIL. Embratur. Estudo da demanda turística Internacional 2003. Disponível em: http://www.braziltour.com/site/br/dados_fatos/home/. Acesso em: 06 mar. 2008.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Influenza Aviária. Brasília, 2006.

FAO – Federation Agriculture Organization. Avian Influenza in the World. Disponível em: <http://www. fao.org/docs/eims/upload//211877/AIDEnews_aug06_no41.pdf.html>. Acesso em: 09 out. 2006.

OIE – Organização Internacional de Epizootias. Avian Influenza Disease. Disponível em: <http://www.oie.int/codigo_sanitario/index.html>. Acesso em: 16 out. 2006.

SICK, H. 1983. Migrações de aves na América do Sul Continental. IBDF, Brasília. 86p.

WHO – World Health Organization. Avian Influenza Outbreaks. Disponível em: <http://www. who.int/csr/disease/avian_influenza/country/en/index.html>. Acesso em: 06 out. 2006.

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