SÉRIE DE DOCUMENTOS DE INFORMAÇÃO SINTÉTICOS DO ESCRITÓRIO REGIONAL DA OMS PARA A ÁFRICA SOBRE A COVID-19
6.ª SÉRIE: A COVID-19 E PREVENÇÃO
NÚMERO 006-03: Eficácia de várias medidas de distanciamento na interrupção da transmissão da COVID-19
© Escritório Regional da OMS para a África, 2021
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Citação sugerida: Documento De Informação Sintético Número: 006-03 — Eficácia de diferentes medidas de distanciamento na interrupção da transmissão da COVID-19. Brazzaville: Organização Mundial da Saúde, Escritório
regional para a África; 2020. Licença: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
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1 DOCUMENTO DE INFORMAÇÃO
SINTÉTICO NÚMERO: 006-03
ÁREA DE INVESTIGAÇÃO: A COVID-19 E PREVENÇÃO
TÍTULO— Eficácia de diferentes
medidas de distanciamento na interrupção da transmissão da COVID-19
DOCUMENTO DE INFORMAÇÃO SINTÉTICO NÚMERO: 006-03
DOCUMENTO DE INFORMAÇÃO SINTÉTICO NÚMERO: 006-03
2 ÁREA DE INVESTIGAÇÃO: A COVID-19 E PREVENÇÃO
3 TÍTULO: — Eficácia de diferentes medidas de distanciamento na interrupção da transmissão da COVID-19
4 DATA DA PUBLICAÇÃO: 23/01/2021
5 CONTEXTO
Desde que o surto de doença por coronavírus 2019 (COVID-19), provocada pela síndrome respiratória aguda grave – coronavírus 2 (SARS-CoV-2), foi declarado pandémico, têm sido implementadas várias intervenções não farmacêuticas (INF) com o objectivo de reduzir a transmissão do vírus [1–3]. Uma das INF implementadas em países de todo o mundo é o distanciamento físico ou social. Este distanciamento implica minimizar o contacto, quer através de restrições à aglomeração de pessoas, quer persuadindo -as a permanecer em casa salvo quando estritamente necessário, bem como mantendo a distân cia entre pessoas [4]. Entre os exemplos de medidas de distanciamento incluem-se o encerramento de escolas, o regime de teletrabalho, o isolamento de casos de infecção ou de suspeita de infecção e a redução dos contactos interpessoais nas comunidades[5].
Este documento de informação sintético tem como objectivo sintetizar os dados factuais relativos à eficácia das medidas de distanciamento na interrupção da transmissão da COVID-19.
6 ESTRATÉGIA DE PESQUISA E MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO
Foi efectuada uma pesquisa em três bases de dados para encontrar estudos realizados entre Dezembro de 2019 e 18 de Dezembro de 2020, nomeadamente na PUBMED, na base de dados da OMS sobre a COVID-19 e na Google Scholar. Os termos de pesquisa utilizados foram: “COVID-19”, “SARS-CoV-2” e “distanciamento”, utilizando os operadores booleanos relevantes. Foi ainda efectuada uma pesquisa que incluía o termo “África” e uma cadeia de pesquisa abrangendo todos os países africanos, com o intuito de identificar estudos específicos do continente. Recorreu-se a um total de 12 artigos para sintetizar as conclusões resumidas neste documento de informação sintético.
7 SÍNTESE DA LITERATURA PUBLICADA A NÍVEL MUNDIAL SOBRE O ASSUNTO
Diversos estudos demonstraram que o distanciamento social é uma INF eficaz, a qual pode reduzir a transmissão da COVID-19 [6,7]. Um estudo de modelização realizado na China demonstrou que o distanciamento social e o confinamento no epicentro da doença podem reduzir o número de novos casos de infecção em até 98,9% [7], enquanto um estudo de séries temporais interrompidas revelou que o distanciamento social reduziu a taxa de crescimento dos casos confirmados, em média, em 52,37% [6]. Os autores deste último estudo [6] sugerem que o distanciamento deve ser adoptado como INF prioritária para a contenção da COVID-19. Num outro estudo de modelização, realizou-se uma série de experiências com recurso à aplicação de quatro intervenções de distanciamento social: encerramento de escolas, regime de teletrabalho, maior rigor no isolamento de casos de infecção ou de suspeita de infecção e redução dos contactos interpessoais nas comunidades. Este estudo demonstrou que as referidas
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intervenções são altamente eficazes para achatar a curva epidémica e para reduzir os números máximos de casos diários [5].
Além disso, vários estudos revelaram que as medidas de distanciamento são mais eficazes quando implementadas em conjugação com outras INF do que isoladamente. Por exemplo, um estudo ecológico [1] demonstrou que a combinação com outros tipos de INF parecia contribuir para uma maior redução da transmissão da COVID-19 [1]. De igual modo, uma avaliação sistemática revelou que a conjugação de intervenções, nomeadamente o encerramento de escolas e outras medidas de distanciamento, como a quarentena, reduzia a transmissão da COVID-19 [8]. Além disso, uma recente avaliação rápida da Cochrane aferiu a eficácia da quarentena em surtos graves de coronavírus [9]. Esta avaliação abrange estudos de observação e de modelização, sendo estes últimos predominantes. Os estudos de modelização demonstraram que a quarentena, por si só (vs. nenhuma quarentena), é benéfica e pode evitar entre 44% e 96% de novos casos e entre 31% e 76% de mortes, por comparação com a ausência total de medidas. Por outro lado, a quarentena, em conjugação com outras medidas de prevenção e controlo, tais como o encerramento de escolas, as restrições à mobilidade e o distanciamento social, demonstrou ter maior impacto na redução de novos casos, transmissões e mortes do que as medidas tomadas sem incluir a quarentena ou do que a ausência de medidas. Esta avaliação sugere também que quanto mais cedo são implementadas as medidas de quarentena, maior é a redução de custos. Embora os autores desta avaliação tenham também incluído estudos sobre a eficácia da quarentena noutras doenças infecciosas, como a SARS e a MERS, as respectivas conclusões são consistentes com as dos estudos sobre a COVID-19 [9]. Numa outra avaliação sistemática semelhante, a qual aferiu o impacto da distância física – a par de outras INF, como o uso de máscaras faciais e de óculos de protecção ou viseiras – sobre a transmissão do SARS-CoV-2 e de outras infecções, como o SARS-CoV e o MERS-CoV, os autores verificaram que há uma relação entre manter um distanciamento físico de pelo menos um metro e a redução da transmissão da infecção. Por sua vez, uma distância de dois metros ou mais pode ter uma eficácia ai nda maior [10]. Através de dados factuais obtidos em estudos de observação e de modelização dedicados a outras pandemias (ex., pandemias de gripe) e também através das experiências com a COVID-19, foi demonstrado que a implementação precoce, decidida, rápida, coordenada e abrangente das medidas de distanciamento social tende a ser mais eficaz na interrupção da propagação do vírus do que uma implementação tardia [11]. Foi igualmente demonstrado que as medidas de distanciamento social podem contribuir para reduzir a propagação de outras doenças infecciosas. Por exemplo, um estudo de observação realizado em Hong Kong revelou que o distanciamento social não só reduziu a transmissão da COVID-19, como reduziu também a transmissão da gripe [12].
É importante realçar que, na sua maioria, os dados factuais sobre a eficácia das medidas de distanciamento têm reduzida fiabilidade, uma vez que foram maioritariamente obtidos em estudos de observação e de modelização, sem randomização. Além disso, alguns dados factuais baseiam-se em
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conclusões retiradas de epidemias anteriores, como as epidemias de gripe, SARS e MERS, pelo que constituem evidências indirectas [9,11].
8
SÍNTESE DA LITERATURA ESPECÍFICA DA ÁFRICA SOBRE O ASSUNTO Não foi encontrada nenhuma.
9 PRINCIPAIS CONCLUSÕES
Quer os estudos de observação, quer os estudos de modelização demonstraram que há uma relação entre a implementação de medidas de distanciamento e a redução da transmissão da COVID-19.
As medidas de distanciamento são mais eficazes quando são implementadas em conjugação com outras medidas preventivas.
A implementação precoce, decidida, rápida, coordenada e abrangente das medidas de distanciamento social é provavelmente mais eficaz para abrandar a propagação do vírus do que as acções mais tardias, além de ser também mais económica.
As medidas de distanciamento não só reduzem a transmissão da COVID-19, como são também eficazes para reduzir a transmissão de outras infecções, nomeadamente as do vírus da gripe.
10
INVESTIGAÇÃO EM CURSO NA REGIÃO AFRICANA Não foi encontrada nenhuma.
11
RECOMENDAÇÕES DO ESCRITÓRIO REGIONAL DA OMS PARA A ÁFRICA RELATIVAMENTE A FUTURAS INVESTIGAÇÕES
É necessário realizar estudos bem concebidos sobre a eficácia de várias medidas de distanciamento em diferentes contextos em África, de modo a aumentar a fiabilidade das evidências de suporte a estas intervenções.
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12 REFERÊNCIAS
1 Bo Y, Guo C, Lin C, et al. Effectiveness of non-pharmaceutical interventions on COVID-19 transmission in 190 countries from 23 January to 13 April 2020. Int J Infect Dis 2021;102:247–53.
doi:10.1016/j.ijid.2020.10.066
2 Min K-D, Kang H, Lee J-Y, et al. Estimating the effectiveness of non-pharmaceutical interventions on COVID-19 control in Korea. Prev Soc Med 2020;7:e321. doi:10.3346/JKMS.2020.35.E321
3 Lai S, Ruktanonchai N, Zhou L, et al. Effect of non-pharmaceutical interventions to contain COVID-19 in China. Int J Infect Dis 2021;102:247–53. doi:10.1038/s41586-020-2293-x
4 Matrajt L, Leung T. Evaluating the effectiveness of social distancing interventions to delay or flatten the epidemic curve of Coronavirus disease. Emerg Infect Dis 2020;26:1740–8. doi:10.3201/eid2608.201093 5 Vokó Z, Pitter JG. The effect of social distance measures on COVID-19 epidemics in Europe: an interrupted
time series analysis. GeroScience 2020;42:1075–82. doi:10.1007/s11357-020-00205-0
6 Hernandez A, Correa-Agudelo E, Kim H, et al. On the impact of early non-pharmaceutical interventions as containment strategies against the COVID-19 pandemic. Published Online First: 2020.
doi:10.1101/2020.05.05.20092304
7 Zhang Y, Jiang B, Yuan J, et al. The impact of social distancing and epicenter lockdown on the COVID-19 epidemic in mainland China: A data-driven SEIQR model study. 2020;2. doi:10.1101/2020.03.04.20031187 8 Viner RM, Russell SJ, Croker H, et al. School closure and management practices during coronavirus
outbreaks including COVID-19: a rapid systematic review. Lancet Child Adolesc Heal 2020;4:397–404. doi:10.1016/S2352-4642(20)30095-X
9 B N-S, Mayr V, Ai D, et al. MMMeasures to control COVID-19 : a rapid review ( Review ). Cochrane Database Syst Rev 2020;:1–44. doi:10.1002/14651858.CD013574.pub2.www.cochranelibrary.com 10 Chu DK, Akl EA, Duda S, et al. Physical distancing, face masks, and eye protection to prevent
person-to-person transmission of SARS-CoV-2 and COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Lancet 2020;395:1973–87. doi:10.1016/S0140-6736(20)31142-9
11 Ecdc, UwKr. Considerations relating to social distancing measures in response to COVID -19 – second update. 2020.
12 Cowling BJ, Ali ST, Ng TWY, et al. Impact assessment of non-pharmaceutical interventions against coronavirus disease 2019 and influenza in Hong Kong: an observational study. Lancet Public Heal 2020;5:e279–88. doi:10.1016/S2468-2667(20)30090-6
DOCUMENTO ELABORADO POR: a célula de gestão de informações/equipa de apoio à gestão de incidentes do Escritório Regional da OMS para a África e a rede Cochrane para a África