ESTÁGIO SUPERVISIONADO E O DESENVOLVIMENTO DE ATITUDES INVESTIGATIVAS NOS FUTUROS LICENCIADOS EM CIÊNCIAS
AGRÍCOLAS
Erik Nunes Gomes, Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari; Gislene Miotto Catolino Raymundo, Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari.
RESUMO
O presente trabalho refere-se à organização do estágio supervisionado no curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas do Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari, destacando as ações teórico-práticas que se realizam no sentido de desenvolver uma postura docente investigativa nos futuros professores. O Estágio Curricular Supervisionado é o momento fundamental da formação dos profissionais da educação, pois além de permitir uma aproximação com o futuro ambiente de trabalho, possibilita, se pautado na reflexão crítica da realidade, o desenvolvimento de uma identidade docente embasada na pesquisa, caminhando num sentido de emancipação e autonomia. Atendendo, e inclusive superando, as exigências legais, o estágio no curso de Ciências Agrícolas possui uma carga horária total de 440 horas, desenvolvendo-se de maneira gradativa e permitindo que o futuro professor correlacione a fundamentação teórica obtida nas disciplinas ofertadas com a atuação no âmbito educacional. Inicialmente realiza-se um estudo da organização pedagógica da escola campo de estágio, estudo este que irá fundamentar o desenvolvimento de um projeto de ação condizente com a realidade escolar bem como com as diretrizes epistemológicas sob as quais se orienta. Esse exercício permite uma real associação entre teoria e prática, concebendo o próprio cotidiano como fonte de pesquisa e investigação. Por meio deste processo vivenciado no Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas, constata-se que uma postura docente investigativa não é inata, precisa ser desenvolvida ao longo da carreira do professor, partindo desde o processo formativo inicial. Nesse sentido o estágio constitui-se em um momento privilegiado de formação, permitindo, além da associação entre teoria e prática educacional, uma relação entre os conhecimentos específicos da área agrícola e os saberes pedagógicos, propiciando a formação de novos conhecimentos e o aperfeiçoamento das ferramentas que poderão auxiliar os futuros licenciados em sua prática docente com vistas a uma educação de qualidade.
Palavras-chave: Educação; Docência; Identidade. INTRODUÇÃO
A formação de professores é um tema de fundamental importância para alavancar a qualidade da educação no país, uma vez que os educadores possuem influencia decisiva na formação de todo e qualquer profissional bem como no desenvolvimento da cidadania. Dessa maneira, é necessário que se tenha total atenção ao processo formativo ofertado aos futuros professores. Nesse processo formativo inicial o estágio constitui um momento decisivo para a formação da identidade docente, pois, é na experiência do cotidiano escolar que os futuros professores terão a
possibilidade de vivenciar uma olhar investigativo sobre a prática pedagógica, “[...]portanto, o estágio é o lócus onde a identidade profissional é gerada, construída e referida (MIRANDA, 2008, p.18)”. Nesse sentido BARREIRO & GEBRAN, alertam que no decorrer do curso de licenciatura, “não é possível desejar que o professor tenha uma prática investigativa se sua formação não priorizou a investigação a partir da análise, da reflexão, da crítica e de novas maneiras de se educar (2006; p.25)”.
Legalmente, conforme a resolução CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002, que institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior, ao estágio curricular supervisionado destinam-se, obrigatoriamente, 400 (quatrocentas) horas, a partir do início da segunda metade do curso.
Especificamente no que diz respeito aocurso de Licenciatura em Ciências Agrícolas, estão previstas em seu Projeto Pedagógico, 440 horas de estágio. Todavia, mais que o cumprimento da legislação, este estágio permite a realização de atividades embasadas em práticas de reflexão e investigação.
Inicialmente, no Estágio I, se realiza o estudo e reflexão da organização pedagógica da escola e de como se organizam os sujeitos que dela fazem parte. O estudo é realizado de maneira que os estudantes consigam ter um embasamento teórico-científico e associá-lo à realidade do ambiente de ensino em que escolheram estagiar.É justamente neste confronto entre teoria e prática e na produção de novos saberes que se possibilita a formação da identidade docente investigativa de que falamos. Este estudo torna-se fundamental para embasar as próximas etapas do estágio, quando o acadêmico começará a participar mais ativamente das atividades da instituição de ensino, pois dessa forma terá o conhecimento necessário para formular sua pesquisa e realizar uma ação condizente com a realidade e com os preceitos científicos sob os quais se baseia a escola campo de estágio.
Dessa maneira o presente texto refere-se à organização do Estágio Curricular Supervisionado, expressando um tempo e espaço vivenciado em Escolas de Educação Básica pelos acadêmicos do Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas. O referido Estágio deu-se pautado na pesquisa e reflexão e buscou direcionar a formação do licenciado para uma identidade docente emancipatória, voltada ao desenvolvimento da autonomia dos educandos. Essas práticas sem sombra de dúvida contribuíram significativamente na formação dos futuros docentes, especialmente por servirem como uma aproximação dos alunos de licenciatura com seu futuro local de trabalho. Todavia
não falamos de uma aproximação aleatória, nos referimos a uma aproximação fundamentada teoricamente em preceitos científico-pedagógicos adquiridos em aula, propiciando ao estudante/futuro professor, ferramentas para que observe o contexto educacional por meio do viés científico e pesquisador, e que assim continue no decorrer de sua prática profissional.
Infelizmente nem sempre os estágios são encarados comocomponentes curriculares que possibilitam o desenvolvimento de uma postura docente investigativa, a literatura da área de formação de professores aponta que existem concepções e práticas de estágio que não visam uma reflexão e uma relação entre teoria e prática. Dessa maneira se reforça a perspectiva de que o ensino se dá como imitação de modelos, sem contemplar a análise crítica do ambiente escolar, da formação docente e dos processos que compõem as relações em sala de aula, “tais concepções evidenciam problemas existentes na formação do profissional docente, explicitados pela dissociação entre prática e teoria. (BARREIRO & GEBRAN, 2006; p. 27)”. Esta dissociação fatalmente pode acarretar em um despreparo do futuro profissional para as situações em que, durante seu exercício profissional, seja necessário este tipo de reflexão.
Pensando nisso, o componente curricular de Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas procura realizar a referida associação entre teoria prática, pois em determinado momento da formação, os futuros licenciados do Instituto Federal Catarinense deverão realizar um projeto com embasamento teórico-bibliográfico para que seja aplicado na escola campo de estágio. Este projeto deverá ser pautado no conhecimento da realidade da instituição, previamente adquirido com a pesquisa realizada na ocasião do período de observação.
Para que se pudesse ter uma noção da organização desta escola, foram observados pelos futuros licenciados alguns documentos importantes referentes ao
planejamento da escola. Uma das principais contribuições que o
planejamentoproporcionou émostrar aos executores da atividade educacional as suas responsabilidades e as habilidades e competências que terão de desenvolver ou aprimorar para assumi-las satisfatoriamente, “[...] um plano ou projeto constitui, portanto, um compromisso de ação com percepções claras e específicas sobre o que será feito, como, quando, por quem, para que, e com que objetivos (LÜCK, 2009; p.34)”.
Dentre os diversos desdobramentos do planejamento escolar, estudaram-se criteriosamente no estágio dos acadêmicos de Ciências Agrícolas, o projeto político pedagógico e o plano de ensino.
O plano de ensino é um documento que traz uma série de informações correspondentes aos tipos de conteúdos e atividades que serão trabalhados em determinada disciplina durante um determinado período letivo. Deve ser desenvolvido tendo em vista o conhecimento de quem são os alunos, ou seja, quais são seus saberes prévios e quais as dificuldades encontradas na incorporação de novos conhecimentos.
O Projeto Político-Pedagógico consiste em um projeto educativo que traz promessas e que compromete as pessoas que dele fazem parte, na busca de um futuro melhor. A importância da análise deste documento por parte dos estudantes de Licenciatura em Ciências Agrícolas e demais áreas, dá-se na medida em que o mesmo organiza o trabalho escolar em todas as suas dimensões, Segundo VEIGA, “[...] é preciso entender que o projeto político-pedagógico da escola dará indicações necessárias à organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala de aula [...](2002; p.02)”. Dessa forma, conhecê-lo, primeiramente neste estágio, a nível geral, e posteriormente aquele específico do seu lócus profissional, torna-se fundamental para qualquer profissional verdadeiramente comprometido com uma educação de qualidade, realizada através de uma prática sistematicamente organizada e cientificamente embasada em conhecimentos teóricos pertinentes.
Durante o estágio realizam-se atividades de observação e participação investigativas, buscando a formação do profissional inovador e pesquisador tão necessário nos dias atuais. Para tal feito deve-se levar em conta que o estágio não se constitui na parte prática do curso de licenciatura, é muito mais que isso, trata-se de uma atividade teórico-prática de reflexão e desenvolvimento de novos saberes através do conhecimento científico. Pensar no estágio como a parte prática consiste em uma visão dicotômica entre os saberes teóricos e as atividades práticas, tal pensamento resulta em lacunas no processo formativo.
É necessário destacar também outro equívoco muito comum, além dessa separação da teoria e prática. Em algumas concepções de estágio citadas pela literatura, existem atividades de observação e participação realizadas de tal maneira, que não agregam valores, ou pelo menos valores significativos, à formação do futuro docente. Nessas práticas o futuro licenciado realiza uma observação do fundo da sala, preenchendo formulários e esperando uma relação linear com a teoria que estudou. Este tipo de estágio, nos esclarece MIRANDA, “limita o papel do aluno-estagiário a mero observador e, consequentemente empobrece as possibilidades de ação na escola-campo
(2008; p.16)”.Essa concepção limitante será superada com ações de incentivo à pesquisa docente, nesse sentido são as demandas da realidade escolar que irão nortear o estágio, que desta forma consiste em uma ação educativa e social, uma maneira intencional de intervir na realidade. Nessa perspectiva o olhar do acadêmico vai sendo lapidado para uma emancipação docente através da pesquisa. Na medida em que se concebe o cotidiano como fonte de pesquisa e investigação o profissional da área de educação “[...] imprime, inclusive, necessidades e significados à sua formação continuada (BARREIRO &GEBRAN,2006; p.24)”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do processo vivenciado no estágio do curso de Licenciatura em Ciência Agrícolas do Instituto Federal Catarinense constata-se que a postura docente investigativa não é algo inato, é uma condição que precisa ser desenvolvida ao longo da carreira do professor, partindo desde a formação inicial. Nas palavras de BARREIRO E GEBRAN “o pensamento reflexivo e a capacidade investigativa não se desenvolvem espontaneamente, eles precisam ser instigados, cultivados e requerem condições favoráveis para o seu surgimento.(2006; p.36)”. Essas condições favoráveis devem estar presentes durante todo o curso de licenciatura, e especialmente na ocasião do Estágio Supervisionado, momento em que, conforme já esclarecemos, não consiste na parte prática do curso, mas sim em componente fundamental da prática do futuro docente. Neste momento formativo em especial, o acadêmico terá a oportunidade de desenvolver um pensamento reflexivo e de relacionar a teoria com a prática, dessa forma produzindo novos conhecimentos e resignificando sabres que subsidiarão sua futura prática docente, dessa forma, possibilitaremos a formação de um docente com conhecimentos específicos e pedagógicos que fará de uma prática profissional um processo contínuo de investigação.
REFERÊNCIAS
BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de
Ensino: Elemento Articulador da Formação do Professor. São Paulo: Avercamp
Editora, 2006.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CP nº. 2, de 19 de fevereiro de 2002.
LÜCK, Heloísa. DIMENSÕES DA GESTÃO ESCOLAR E SUAS
COMPETÊNCIAS. Curitiba: Editora Positivo, 2009.
MIRANDA: Maria Irene: SILVA, Lazara Cristina da.Estágio Supervisionado e Prática
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org.) PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA
