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VALOR ECONÔMICO 09/mar/17

PIS pode ser embrião do IVA nacional

Por Ribamar Oliveira

Aprovado o teto para o gasto da União e encaminhada a proposta de reforma da Previdência Social, o governo pretende agora simplificar o altamente complexo sistema tributário brasileiro, em um esforço para reduzir os custos das empresas com suas obrigações tributárias e diminuir os litígios dos contribuintes com o Fisco.

Ele quer começar por mudanças na legislação do PIS/Pasep.

Posteriormente, ainda neste ano, vai alterar também a legislação da Cofins. Essas duas contribuições são responsáveis, de acordo com fontes da

Receita Federal, por 80% de todo o contencioso tributário, no nível federal. É fácil entender, portanto, a necessidade urgente de rever essa legislação. A promessa é que as mudanças não trarão aumento da carga tributária, ou seja, a arrecadação do novo PIS/Pasep será igual à do velho. As alterações na legislação, no entanto, não serão neutras para todas as empresas. Muitas delas, provavelmente as prestadoras de serviço, pagarão mais, enquanto que outras terão sua carga reduzida. De tal forma que, em seu conjunto, a carga seja mantida.

As mudanças serão feitas por medida provisória. O aumento da carga, mesmo que seja para setores ou empresas, leva quase sempre a protestos e a pressões políticas. A MP do presidente Michel Temer terá que ser

aprovada pelo Congresso Nacional. Alguns observadores questionam a oportunidade de o governo abrir uma nova frente de conflito com sua base aliada, no momento em que está concentrado na luta para a aprovação da reforma da Previdência Social, que é essencial para o ajuste fiscal.

A avaliação do governo é que a simplificação das contribuições do

PIS/Pasep e da Cofins faz parte de uma agenda necessária para a retomada do crescimento econômico, que prevê ainda outras reformas, como a trabalhista. "O Congresso precisa entender que este é o ano das reformas", disse ao Valor fonte credenciada do governo. O argumento é que, se as mudanças nos tributos não forem feitas em 2017, não serão em 2018, ano

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de eleições gerais. O país terá, assim, perdido um precioso tempo e dificultado a retomada do crescimento.

Mesmo sem elevar carga total, alguns pagarão mais

A MP transformará a contribuição do PIS/Pasep em um tributo não cumulativo, ou seja, ele passará a incidir sobre o valor real agregado pela empresa, em cada operação. Atualmente, ele pode ser cumulativo, não cumulativo e ter outros regimes diferenciados (em relação à apuração da base de cálculo e/ou alíquota).

Hoje, as empresas que pagam pelo regime não cumulativo só podem se creditar dos insumos que utilizam no processo produtivo. Com a nova legislação, o direito aos créditos será ampliado. Qualquer bem ou serviço poderá ser objeto de crédito, independentemente de sua aplicação ou destinação (consumo ou produção).

Para o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Ibre-FGV, o novo PIS será o embrião de um IVA nacional, cuja criação consta de todos os projetos de reforma do sistema tributário. "Como ele é muito pequeno, gera menos de 4% da arrecadação nacional, é possível usar como experimento para ver o impacto, seja nos contribuintes, seja nas empresas", disse, em conversa com o Valor.

Na avaliação do economista, é importante reformar o PIS/Pasep e não mexer na Cofins, de imediato, porque assim o governo poderá calcular com precisão como impactará a nova alíquota e a nova base de cálculo. "Será o caso de comparar o que se arrecadará com o novo PIS/Pasep e com a velha Cofins. Se aquele crescer mais rápido que esta, é porque a alíquota ficou alta demais", ponderou.

Com a ampliação do direito aos créditos, a base de cálculo do novo

PIS/Pasep será menor. Assim, a alíquota de incidência do tributo terá que ser maior. Hoje, ela é de 0,65% no regime cumulativo e de 1,65% no regime não cumulativo. A definição da nova alíquota é a primeira dificuldade do governo.

Há outras decisões igualmente difíceis. O governo deverá manter a

desoneração da cesta básica, que é politicamente inatacável, embora alguns técnicos acreditem ser possível retirar a isenção de alguns produtos, como, por exemplo, o salmão. A desoneração deverá atingir também os insumos para os medicamentos, os livros e os produtos para pessoas com

necessidades especiais. Há uma discussão dentro do governo sobre a isenção para os serviços de transportes públicos.

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Os incentivos para a Zona Franca de Manaus serão mantidos. Está em discussão dentro do governo a manutenção da alíquota zero para os insumos da agropecuária e do crédito presumido para a agroindústria na aquisição de produtos in natura, embora com redução da pluralidade desses créditos.

Guerra fiscal

A "guerra fiscal" entre os Estados voltou à ordem do dia. Ontem, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionais leis do Rio Grande do Sul e do Paraná, que concediam benefícios fiscais com base no ICMS a empresas, como contrapartida à adesão a programas de

investimento e geração de emprego. Os ministros do STF entenderam que as legislações configuravam caso de "guerra fiscal".

Repetindo despacho em caso anterior, as decisões de ontem só produzirão efeitos a partir da publicação da ata do julgamento. Ou seja, as empresas não serão obrigadas a pagar o tributo que deixaram de recolher desde que foram beneficiadas pelas leis. Mas não terão mais os incentivos.

A reforma do ICMS, com a unificação das alíquotas interestaduais e a convalidação dos benefícios fiscais já concedidos, está parada na Câmara e no Senado. O presidente Michel Temer anunciou que pretende realizá-la. Mas o dinheiro que estava previsto para compensar as perdas dos Estados e criar um fundo de desenvolvimento regional, já foi consumido. A ideia era usar parte dos recursos obtidos com a regularização dos ativos mantidos por brasileiros no exterior de forma ilegal, a chamada "repatriação". Esse dinheiro foi usado para o gasto corrente. Não há outra fonte para bancar a reforma, mesmo porque ela não foi prevista no teto de gasto.

Ribamar Oliveira é repórter especial e escreve às quintas-feiras http://www.valor.com.br/brasil/4892952/pis-pode-ser-embriao-do-iva-nacional http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/03/pis-pode-ser-embriao-do-iva-nacional.html

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VALOR 13/03/2017

Mudanças no PIS darão início à reforma

tributária

Editorial

Desde o início da década de 1990 fala-se no Brasil na necessidade de realizar uma reforma do sistema tributário, considerado por todos como altamente complexo, com tributos cumulativos, que oneram as exportações, os investimentos e os mais pobres. A primeira proposta de mudança foi coordenada pelo professor Ary Oswaldo Mattos Filho, ainda no governo Fernando Collor. Depois disso, inúmeras iniciativas foram feitas sem qualquer resultado. No momento, há outra proposta em debate na Câmara dos Deputados.

O louvável desejo de realização de uma ambiciosa reforma de todo o sistema, com a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) nacional, não pode desestimular, no entanto, decisões mais práticas do governo que iniciem as mudanças necessárias para a simplificação tributária. Está pronto, desde o fim do primeiro governo Dilma

Rousseff, um projeto de reformulação das contribuições do PIS/Pasep e da Cofins. A intenção de levá-lo adiante já foi anunciada várias vezes e, na semana passada, o presidente Michel Temer prometeu concretizá-la, por meio de medida provisória, começando com as mudanças no PIS/Pasep, em um prazo de 60 dias. Depois, será a vez da Cofins. A proposta vem sendo debatida desde 2012, tendo sido apresentada e

discutida com vários setores da sociedade.

Até 2002, as contribuições do PIS/Pasep e da Cofins incidiam sobre o faturamento das empresas, com poucas exceções, tendo regras relativamente simples e alíquota única. Mas elas tinham um caráter perverso, pois eram cumulativas, onerando as exportações e os investimentos. O governo tentou, então, acabar com a cumulatividade, baixando a medida provisória 135. Dado o jogo de pressões políticas da época, as duas

contribuições passaram a adotar dois regimes: um cumulativo e outro não cumulativo. Ao longo dos anos seguintes, várias mudanças foram realizadas na apuração dessas contribuições, estabelecendo-se alíquotas zero e regimes diferenciados para uma infinidade de produtos. Há alíquotas diferenciadas para combustíveis, produtos

farmacêuticos, veículos, pneus, borracha, bebidas, embalagens e biodiesel, entre outros. Há base de cálculo e alíquotas diferenciadas para instituições financeiras, pessoas jurídicas de direito público e muitas mais.

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A complexidade é de tal magnitude que, hoje, é difícil encontrar um especialista que conheça todas as particularidades dessa tributação ou que diga quais são os regimes diferenciados previstos. O resultado disso é que 80% do contencioso tributário, a nível federal, gira em torno do PIS/Pasep e da Cofins. Não há concordância nem mesmo sobre o conceito de insumo, que é importante para definir as despesas do processo produtivo que podem ser objeto de crédito.

A MP a ser assinada pelo presidente Michel Temer transformará o PIS/Pasep em um tributo não cumulativo, ou seja, ele passará a incidir sobre o valor real agregado pela empresa, em cada etapa da cadeia produtiva. Ele não incidirá sobre exportações e investimentos. Hoje, as empresas que pagam o PIS/Pasep pelo regime não cumulativo só podem se creditar dos insumos que utilizam no processo produtivo. Com a nova legislação, o direito aos créditos será ampliado. Qualquer bem ou serviço poderá ser objeto de crédito, independentemente de sua aplicação ou destinação (consumo ou produção).

Assim, a reforma do PIS/Pasep pode ser, como bem sintetizou o economista José Roberto Afonso, o embrião do IVA nacional, que se planeja como base do futuro sistema tributário. O fato das mudanças serem feitas primeiro no PIS/Pasep e, somente depois, na Cofins, permitirá que o governo calcule com precisão o impacto da nova alíquota e da nova base de cálculo na arrecadação.

Bastará, para isso, que a receita com o novo PIS/Pasep seja comparada com a

arrecadação da velha Cofins. Se aquele crescer mais rápido que esta, é sinal de que a alíquota ficou alta demais. Pode-se, assim, reduzi-la. O Brasil está cansado de ouvir falar em reforma dos impostos que resulta apenas em aumento da carga tributária, com a manutenção das distorções que se queria corrigir.

Alguns segmentos da sociedade reclamam, como é o caso do setor de serviços, que pagarão mais com o novo PIS/Pasep e Cofins. É preciso compreender, no entanto, que, em um regime não cumulativo de tributação, o eventual aumento decorrente das mudanças será repassado aos consumidores finais dos serviços.

http://www.valor.com.br/opiniao/4896574/mudancas-no-pis-darao-inicio-reforma-tributaria?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=Compartilhar

Referências

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