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QUEM NOS ESCUTA?: EXISTÊNCIA LÉSBICA E LUGAR DE FALA NA TEORIA FEMINISTA

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Academic year: 2021

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QUEM NOS ESCUTA?: EXISTÊNCIA LÉSBICA E “LUGAR DE FALA” NA TEORIA FEMINISTA

Júlia Moita1 Fabrício Marçal Vilela2

Resumo: A expressão “lugar de fala”, no contexto da militância webfeminista brasileira, é utilizada

como vulgarização de um debate acadêmico complexo identificado com os estudos pós-coloniais. Este trabalho pretende equacionar o problema da invisibilidade lésbica articulando o pensamento de algumas autoras contemporâneas: Gloria Anzaldúa, Gayatri Spivaki, Monique Wittig, Adrienne Rich e Judith Butler. Na primeira parte, discutimos o conceito de subalternidade e a adequação dele para os estudos lésbicos. Para tanto, estabelecemos um diálogo entre Anzaldúa e Spivaki. A seguir, as brechas expressivas para as lésbicas são analisadas considerando-se 1) a impossibilidade da lésbica como sujeito sexuado (Wittig); 2) a invisibilidade lésbica dentro de estruturas da heterossexualidade compulsória (Rich) e 3) a crítica butleriana ao binarismo heterossexualidade/homossexualidade. Assim, aspiramos discutir os desafios de um discurso lésbico já que as contradições implicadas nessa empreitada são apontadas pelas principais teóricas lésbicas feministas contemporâneas.

Palavras-chave: Lesbianidade; Feminismo lésbico-feminista; Estudos subalternos

Introdução

No livro "Pode o subalterno falar?", Gayatri Spivaki procura responder a questão do título fazendo uma crítica ao pós-estruturalismo francês e descrevendo um ritual indiano, o suttee, à luz das interpretações britânicas. A partir daí, ela coloca uma nova possibilidade de interpretação (que poderia ser classificada como pós-colonial) e nos mostra que as interpretações são, elas mesmas, carregadas de silêncio. Recusando as simplificações, ela propõe que o intelectual ocidental "desaprenda" para que possa apreender e superar a subalternidade.

Quando olhamos a produção lésbica e feminista das últimas décadas, percebemos que tais interpretações trazem, também, estratégias de escape à subalternidade. Se considerarmos que a impossibilidade de falar por si é parte integrante da noção de subalterno, a superação desta condição é a emergência de um novo sujeito. As autoras escolhidas para esse ensaio tem em comum o questionamento e o tensionamento de identidades até então percebidas como fixas na tradição intelectual ocidental. Identidades estas que nos levavam a posições rígidas, muitas vezes essencialistas e carregadas de impossibilidades.

1 Universidade Federal de Uberlândia, Ituiutaba (MG), Brasil. 2 Universidade Federal de Uberlândia, Ituiutaba (MG), Brasil.

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Subalternidades

Spivaki (2014) é uma crítica dos posicionamentos rascunhados acima. Os perigos do essencialismo são por ela apontados, inclusive, nos Estudos Subalternos. A autora propõe que recuperemos o conceito de ideologia para escaparmos dessas armadilhas. O marxismo e o pós-estruturalismo também falharam nessa empreitada. A sociologia burguesa preferiu substituir ideologia por cultura. Os pós-estruturalistas, por inconsciente. Os marxistas e os teóricos dos estudos subalternos acabaram reféns da "consciência pura", ou seja, seria possível que o operário ou o colonizado se livrassem das ideias burguesas e imperialistas e se constituíssem como sujeitos completamente livres de influências do dominador.

De qualquer maneira, o intelectual ocidental, ainda que tenha como horizonte a "libertação" do subalterno, mantém o Ocidente como sujeito das análises, sendo assim cúmplice do projeto capitalista globalizado. Além disso, a condescendência do intelectual acaba por obscurecer ainda mais o subalterno.

O marxismo, por exemplo, não reflete sobre sua estrutura masculina, que exclui a família da discussão de classe. A consciência de classe marxista se refere sempre a sentimentos de comunidade, ligados às organizações política e nunca ao modelo estrutural de família. A simples substituição não rompe com esta estrutura. Incluir as "mulheres", coletividade monolítica, entre os oprimidos que devem falar por si tampouco funciona. O sistema monolítico é mantido. É preciso uma compreensão das teorias da ideologia, das micrologias (formação do sujeito) para entender como macrologias (capitalismo global, alianças dos Estados-nação) se solidificam. A intelectualidade francesa estaria presa ao Outro da Europa, contribuindo para reforçar as macrologias sem entender como elas sustentam (SPIVAKI, 2014).

O projeto de se constituir o sujeito colonial como Outro é um exemplo nítido de violência epistêmica. As margens da violência epistêmica, para a autora, estão em todo lugar: nos camponeses iletrados, nas sociedade tribais, no subproletariado urbano (SPIVAKI, 2014). Judith Butler (2015) nos mostra que o próprio conceito de patriarcado é uma tentativa de universalizar e historicizar a opressão das mulheres que precisou ser revista à medida em que o feminismo estreitou relações na luta contra a opressão racial e colonialista já que se trata de uma violência epistêmica.

Foucault e Deleuze (2002) sugerem uma aliança entre os oprimidos e acreditam que por meio de tal solidariedade, estes podem falar e conhecer suas condições. Spivak rechaça a sugestão,

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afirmando que os autores precisam olhar do outro lado da Divisão Internacional do Trabalho, não apenas dentro do círculo da violência epistêmica, mas fora dele. Onde a própria existência de uma coletividade é negada (SPIVAKI, 2014).

Há um subalterno que nem sequer existe para o europeu.

O sujeito feminino é ainda mais obscurecido. Ele aparece apenas como insurgente em relação ao imperialismo ou dentro da divisão internacional do trabalho, que seria um deslocamento do imperialismo territorial do século XIX. Assim, as mulheres das classes dominantes replicam esse modelo no formato do feminismo internacional e propõe uma política de alianças com as mulheres subalternas. Assim como os grupos dominantes nativos são atraídos pela política de alianças do capitalismo internacional. Spivak (2014) acredita que as mulheres do subproletariado urbano são as mais afastadas da possibilidade de alianças. Estão impedidas de ter acesso ao consumismo e às relações de exploração. São sujeitos subalternos que não podem conhecer ou falar sobre exploração feminina mesmo que o intelectual lhes assegure o espaço. O Outro da antropologia é um sujeito da opressão "naturalmente" articulado, não dá conta do Outro heterogêneo, meio fora da divisão internacional do trabalho.

Spivak (2014) recorre a Derrida para pensar o problema do intelectual ocidental benevolente, ou seja, aquele que estabelece um sujeito etnocêntrico ao definir um Outro. Assim, Derrida não apelaria para que deixem o Outro falar. Mas, sim, para o "quase-outro", a voz do Outro em nós.

Aquele que não existe é o foco das reflexões de Gloria Anzaldúa (2005). A teórica chicana reivindica sua condição de mestiza e propõe a construção de uma consciência de frontera. A violência epistêmica, aqui, seria a própria compartimentação das culturas. La mestiza está posicionada entre culturas e é produto dessa transferência de valores. Na cultura chicana, as crenças arraigadas da cultura branca atacam as crenças arraigadas da cultura mexicana e ambas atacam as crenças arraigadas da cultura indígena. La mestiza apresenta um contraposicionamento. Um posicionamento libertador em relação às autoridades, tanto externas quanto internas.

"Rigidez significa morte", nos ensina Anzaldúa (2005). Assim, apenas a flexibilidade permite a compreensão vertical e horizontal da psiquê. La mestiza se move em direção ao pensamento divergente, escapando do convergente, do padrão, do raciocínio analítico. La mestiza desenvolve uma tolerância às ambiguidades. Nada põe de lado (nem o feio nem o bonito). É uma consciência plural, uma possibilidade de unir tudo aquilo que está separado, livrando-se de qualquer resquício de pensamento dualista

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Ao tentar elaborar uma síntese, o self adiciona um terceiro elemento que é maior do que a soma de suas partes separadas. Esse terceiro elemento é uma nova consciência – uma consciência mestiza – e, apesar de ser uma fonte de dor intensa, sua energia provém de um movimento criativo contínuo que segue quebrando o aspecto unitário de cada novo paradigma. (ANZALDÚA, 2005, p. 707)

Se Anzaldúa propõe flexibilidade e fluxo, Spivaki nos propõe "desaprendizagem". Desconsiderar o conhecimento ocidental, posicionar o sujeito investigador, rompendo com as práticas intervencionistas e considerando as nostalgias suspeitas. Ambos os projetos apontam para a descristalização do dominador. O importante seria nos conectar àquilo que não é dito. O desafio seria medir os silêncios e a recusa de dizer (SPIVAK, 2004).

A heterossexualidade compulsória como colonização

Em "Heterossexualidade compulsória e existência lésbica", Adrienne Rich (2010) interpela diretamente as feministas heterossexuais em relação ao apagamento da existência lésbica na produção teórica do feminismo. Nesse sentido, o texto escolhe a quem falar, assim como Spivak faz em relação ao pensamento ocidental. Rich enfrenta a teoria feminista tradicional incitando-a a fazer a crítica da heterossexualidade e mudando o enfoque com que encara o lesbianismo (um estilo de vida a tolerar).

O texto aponta para as instituições patriarcais que controlam o corpo e a vida da mulher. Várias delas foram identificadas e estudadas pelas feministas da segunda onda: a maternidade (em contexto patriarcal), a exploração econômica, a família nuclear. Rich (2010) se debruça sobre uma instituição até então ignorada pelo feminismo: a heterossexualidade compulsória.

Rich (2010) considera que a resposta do feminismo ocidental à questão tem deixado a desejar. O não-enfrentamento do problema da heterossexualidade compulsória leva as mulheres a abrigar-se no semelhante e deixar-se assimilar pelo dominador. A identificação das mulheres heterossexuais chega a níveis mais profundos e complexos, levando a uma confusão sexual e intelectual. A heterossexualidade compulsória leva as mulheres a internalizarem os valores do colonizador e, inclusive, a participarem ativamente da colonização do eu. Assim, a hierarquia homem/mulher não apenas é aceita mas a relação entre mulheres passa a ser uma forma menor de se

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relacionar. As parcerias femininas são escondidas e invalidadas dentro desse panorama e mesmo a produção acadêmica feminista tem negligenciado os textos lésbicos.

A heterossexualidade compulsória se apresenta de maneira violenta (da escravização física à dissimulação das opções possíveis) e as feministas heterossexuais se limitam a exigir mais igualdade na divisão do trabalho doméstico, por exemplo, evitando discutir a matriz do problema, ou seja, a heterossexualidade.

O problema feminista diz respeito, sobretudo, a reforçar a heterossexualidade compulsória, uma vez que a invisibilidade lésbica tem papel preponderante nesse reforço. Rich (2010) propõe a substituição do termo lesbianismo por existência lésbica/continuum lésbico, que seria mais abrangente, pois abarcaria o conjunto de experiências de identificação não necessariamente sexuais, e evocaria a criação e recriação contínua de significados.

O continuum lésbico seria, então, um vínculo contra a tirania masculina e a rejeição de um modo compulsório de vida. Um ato de resistência ao casamento, ao direito masculino de ter acesso às mulheres. Para tanto, é preciso recuperar a história e a existência política das lésbicas. As experiências femininas devem ser resgatadas e seus significados reescritos ou ampliados.

As mulheres não precisam se organizar para existirem em um continuum lésbico. Elas já existem. Da amamentação à velhice, as mulheres são amparadas por mulheres. A própria teia da resistência feminina à tirania masculina vem sendo tecida de maneira inequívoca ao longo da história. De acordo com Rich (2010), um feminismo de ação, sem teoria tem aparecido em toda cultura.

Spivak sugere que perceber a mecânica da constituição do Outro pode ser mais analítica do que as invocações sobre a autenticidade do Outro. Rich poderia concordar. Os mecanismos que instituem a heterossexualidade compulsória também engendram a categoria "mulher" e o desmonte dessa engrenagem faria com que tal categoria fosse esvaziada de sentido. A lésbica, aqui, não teria qualquer autencidade identitária, antes seria uma identificação política. A lésbica estaria na frontera da relação homem/mulher.

A lésbica pode falar?

Monique Wittig, em “A Mente Hetero” (1980), discute a linguagem como importante aporte para afastar os oprimidos da participação intelectual e política. Criticando a psicanálise, a francesa afirma que o campo psicanalítico cria os termos do debate e os interpreta de acordo com as

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estruturas que o próprio campo elaborou. A experiência analítica se revela, assim, constrangedora para o “analisado”. A pessoa oprimida tenta dizer o que é suposto dizer. Tais discursos oprimem e impedem de falar. Dessa forma, como para SPIVAK (2014), a questão da ideologia se torna central já que obter acesso à fala não é mera questão de empoderamento mas de restrição e impedimento exterior, o discurso

É aquele que diz: você não tem o direito de falar porque seu discurso não é científico, não é teórico, você está no nível errado de análise, você está confundindo discurso e realidade, seu discurso é infantil, você não entendeu está ou aquela ciência. (WITTIG, 1980, p. 106)

Os discursos da ciência, além disso, naturalizam e desnaturalizam a realidade social. São um conjunto de ideias, disciplinas e teorias que afirmam que não existe natureza, é tudo cultura, exceto a heterossexualidade, que estaria no núcleo duro da natureza. A mente hetero transforma seus conceitos em leis gerais e promove uma interpretação totalizante da história, da realidade, da linguagem etc. E mais, confere significado absoluto às categorias metafóricas da psicanálise (WITTIG, 1980).

Butler (2015) também se incomoda com a inscrição da heterossexualidade num tempo pré-discursivo. Argumenta que homossexualidade e heterossexualidade não são categorias anteriores, e que é impossível precisar a autenticidade das manifestações da sexualidade humana. "Assim, o gay é para o hetero não o que uma cópia é para o original, mas, em vez disso, o que uma cópia é para uma cópia (...) o original nada mais é do que uma paródia da ideia do natural e do original" (BUTLER, 2015,p. 67)

A mente hétero (WITTIG, 1980) naturaliza a heterossexualidade e dissimula seus próprios tabus. Classicamente, as ciências humanas tem apontado o incesto como a maior interdição cultural. Mas não é verdade. A homossexualidade é o maior dos tabus. Lesbianismo e homossexualidade não podem ser pensados ou falados e a mente hetero não conseguem conceber um outro tipo de sociedade, em que a heterossexualidade não seja central.

A sociedade hetero se constitui através da necessidade do diferente/Outro. Wittig afirma que para instituir uma diferença é necessário um ato de poder. Tal ato só pode ser instituído pelo grupo socialmente dominante, caso contrário todos os grupos mostrariam um Outro como diferente. O discurso da diferença mascara os conflitos. Homem e mulher tem que desaparecer política, econômica e ideologicamente. Mesmo as mulheres lésbicas e os homens gays se concebem como homens e mulher e são instrumentalizados na manutenção da heterossexualidade.

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Butler (2015) faz uma longa crítica a Monique Wittig no livro "Problemas de Gênero" (2015). No que diz respeito à orientação sexual, a estadunidense nos lembra que as ambiguidades da heterossexualidade, da homossexualidade e da bissexualidade são suprimidas dentro do esquema binário de gêneros. A pretexto de criar uma coerência sexo, gênero e orientação sexual, a identidade de gênero restringe, também, a sexualidade. Por isso, discorda de Wittig no que ela chama de "disjunção radical entre heterossexualidade e homossexualidade. Para Butler, "há estruturas de homossexualidade psíquica nas relações heterossexuais" e vice-versa. Sendo assim, a heterossexualidade é um fetiche, uma impossibilidade em si mesma. "Aliás, eu ofereceria essa visão da heterossexualidade como um sistema compulsório e uma comédia intrínseca, paródia constante de si mesma, como uma perspectiva gay/lésbica alternativa" (BUTLER, 2015, p. 211)

A provocação de Judith Butler faz sentido se formos pensar na constituição de sujeitos. Se para o Wittig, a lésbica pode falar pois abandonou a condição subalterna de mulher, para Butler não há qualquer garantia de que a lésbica (ou a mulher hetero) se consolidarão como sujeitos. A desestabilização das categorias sexuais e de gênero não suportam a emergência da lésbica. A própria Wittig (1980), ao discorrer sobre a insuficiência das categorias atuais, lembra que a simples pergunta “o que é uma mulher?” causa alarme geral dentro da academia heterossexual. “Lésbicas não são mulheres”, ela conclui em seu célebre ensaio. Daí que podemos concluir que a pergunta “o que é uma lésbica?” também pode ser alarmante.

Conclusão

Spivak, Rich e Wittig parecem estar dispostas a revelar as engrenagens que forjaram sujeitos subalternos. A primeira convoca os teóricos pós-coloniais a iniciarem um processo de desaprendizagem a fim de desconstruírem o pensamento imperialista. A própria condição de subalterno, para ela, é fixada em relação ao Ocidente que criou um Outro para si. Rich, por sua vez, denuncia um movimento diferente no que diz respeito à heterossexualidade compulsória. Posição reforçada por Wittig. As autoras mostram que a mente hetero e a heterossexualidade compulsória tornaram a lésbica uma impossibilidade. Mesmo quando Wittig afirma que a mente hetero cria as diferenças para a construção do Outro, a lésbica transgride as normas a etnocentria relacional. Ora, se não entra no jogo homem/mulher, ela sinaliza os limites dessa relação.

Anzaldúa e Butler possuem visões mais desestabilizadoras dos sujeitos e, portanto, da lésbica. Podemos especular que, na perspectiva de Anzaldúa, a lésbica estaria em ebulição no

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caldeirão das sexualidades. Rompendo com as expectativas sociais e com dificuldade de ser assimilada. Butler completaria a análise mostrando que a incoerência entre sexo, gênero e orientação sexual levam, necessariamente, à abjeção. A zona de abjeção, de acordo com Butler, seria fundamental para a constituição dos sujeitos, uma vez que não basta a identificação com o normativo mas também repúdio por aqueles que não compactuam com ele. Assim, tais sujeitos se constituem num local ainda por criar. Ao contrário de Wittig, Anzaldúa e Butler parecem apontar por desdobramentos dos sujeitos e não pelo desaparecimento de categorias existentes.

O “lugar de fala” tão reivindicado pela militância atual é, talvez, uma impossibilidade. Primeiro porque ao falar, o subalterno se liberta da subalternidade (no caso da lésbica wittigiana isso fica claro). Depois, porque, se convocado a falar pelo intelectual ocidental, estaria preso à rede que coloca o Ocidente como sujeito (inclusive para permitir a fala, através da condescendência). Ainda podemos dizer que a lésbica não fala porque os termos do debate não a interessam e, quando enfim, novas configurações se apresentarem, o que é visto como subalterno será parte constituinte da realidade.

Referências

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Who listens to us?: Lesbian existence and “place of speech” in lesbian-feminist theory Abstract: The expression “place of speech”, in context of the feminist web brazilian militancy, is

used like trivialization of a complex academic discussion indentified with postcolonialism. This work intends to work with lesbian invisibility issues articulating the thinking of some contemporary authors: Gloria Anzaldúa, Gayatri Spivaki, Monique Wittig, Adrienne Rich e Judith Butler. First, we discuss the concept of subalternity e its application in lesbian studies. For this, we stand a dialogue between Anzaldúa and Spivaki. After, the expressive’s gaps for lesbians are analyzed considering 1) the impossibility of the lesbian like a sexed subject, 2) the lesbian invisibility within the structures of the compulsory heterosexuality, 3) the Butler’s review to the binarism heterosexuality/ homosexuality. Thus, we aspire to discuss the possibilities of a lesbian speech since the contradictions are pointed out by mains lesbian-feminist theorists.

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