ANÁLISE DA AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO PROJETO MÃO
NA MASSA - INICIAÇÃO CIENTÍFICA NO CICLO I - PARCERIA
ENTRE ESTAÇÃO CIÊNCIA E SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO
ATHAYDE, Beatriz A. C. de Castro1; FALCONI, Simone2
; MATOS, Kédima F. de Oliveira2
; BORGES, Rita de Cássia Pereira3
1.Polo Estação Ciência /USP – 2. Polo Estação Ciência /USP e IGE/UNICAMP (doutoranda) 3. Escola Agrotécnica Federal de Cáceres MT/FEUSP / PIQDTec – MT FE/USP (doutoranda)
beatriz@eciencia.usp.br; sifalconi@yahoo.com.br; keddima@yahoo.com.br;maribor@usp.br INTRODUÇÃO
Neste artigo apresentamos o resultado da avaliação diagnóstica, do projeto Mão na Massa - Iniciação Científica no Ciclo I, parceria da Estação Ciência4 com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP)
estabelecida e em continuidade desde 2006.
Para o desenvolvimento do projeto atuou-se na formação dos representantes das Diretorias Regionais de Educação, coordenadores pedagógicos e professores com o objetivo de suscitar nas séries iniciais do ensino fundamental um ensino de ciências baseado em investigação, que favorece a apropriação progressiva do conhecimento científico e a articulação com o desenvolvimento de habilidades e das expressões oral e escrita pelos alunos.
METODOLOGIA
Para a avaliação diagnóstica realizada ao final do ano de 2007 foram estruturados e organizados instrumentos de avaliação da seguinte forma:
1. Situação de investigação, que contava com o desenvolvimento de uma atividade de investigação “Derretendo um pedaço de gelo” com os alunos.
2. Instrumento individual constava de três provas escritas com alternativas certo ou errado; uma que se relacionava com a situação de investigação, outra com uma situação diferente e a última elaborada pelo professor com auxilio do coordenador pedagógico e que dizia respeito aos conteúdos abordados em sala de aula.
3. Protocolos de Observação da aplicação da atividade investigativa pelo professor e no desenvolvimento da investigação pelos alunos. Os protocolos tinham como objetivo avaliar as ações do professor frente aos
momentos investigativos preconizados pelo projeto e dos alunos individualmente e em grupos. Esses protocolos foram preenchidos
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Centro de Difusão Científica, Cultural e Tecnológica da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade de São Paulo.
pelo Coordenador Pedagógico (CP) na observação das ações do professor e dos alunos pelo CP e professor.
4. Questionários referentes aos dados de implementação e desenvolvimento do projeto para percepção da situação de cada unidade escolar em relação à apropriação da metodologia, reflexão sobre a prática e reestruturação das ações nas escolas. Dessa maneira, os questionários foram respondidos pelos representantes das Diretorias Regionais de Educação, coordenadores pedagógicos e pelos professores que aplicaram a atividade investigativa na sala de aula.
Todos os instrumentos de avaliação foram elaborados e discutidos conjuntamente entre a assessora da SME e a equipe de formadores do projeto da Estação Ciência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo desta avaliação foi verificar nos diferentes instrumentos possíveis mudanças nas ações dos professores e alunos que possam ser atribuídas ao projeto. A
atividade investigativa pode fornecer dados das concepções prévias dos alunos referentes ao assunto abordado, como pensaram em testar suas hipóteses e como os resultados foram interpretados, com a mediação do professor, para que se agregue um diferencial que propicie a apropriação de conceitos de ciências pelos alunos.
Das 91 escolas
envolvidas no projeto, 66 participaram da avaliação, correspondendo a 73% das escolas envolvidas no projeto.
Na aplicação da atividade investigativa “Derretendo um pedaço de gelo”, os alunos desenvolveram as seguintes etapas:
• O registro individual das hipóteses e planejamento de ações
• Experimentação em grupos para verificação das hipóteses
• Registro do que foi observado
• Discussão com a sala toda apresentação dos resultados e observação do grupo
• Registro coletivo da situação vivenciada
Este momento foi mediado pelo professor, que conduziu as etapas desenvolvidas pelos alunos. Estiveram envolvidos nesta etapa da investigação 66 salas/classes com uma média de 462 grupos que não tinham números fixos de participantes, variando normalmente entre 3 a 7 componentes.
Com auxílio dos questionários respondidos pelos professores, e também das análises feitas dos registros dos alunos, observou-se que aproximadamente 90% formularam suas hipóteses através de textos. Em
Desenvolvimento da atividade investigativa em sala de aula
algumas ocasiões estes alunos, não alfabetizados, desenharam com clareza pertinente a sua faixa etária.
Nos questionários é possível identificar, também, segundo os professores, que 70% dos grupos, a fim de resolver o problema, escrevem em conjunto o que foi observado e testado por eles. Os demais apresentaram dificuldade em realizar este momento.
Cerca de 71% dos professores apontaram a participação dos alunos no momento da elaboração do registro coletivo. Destacamos no quadro a seguir uma seqüência desses momentos, através de uma exemplificação extraída da atividade investigativa desenvolvida em uma das escolas que participou da avaliação.
A mediação do professor foi observada, em algumas escolas, pelo formador, que também respondeu algumas questões para que fosse possível perceber a ação do mesmo como orientador da atividade investigativa e como esta se desenvolveu.
Para os formadores 81% observaram que os professores ajudam os grupos a se organizarem e a encontrar um bom caminho para a solução da situação problema. 94 % dos professores auxiliam aos alunos para que eles executem o que planejaram e 74% auxiliam os alunos a escreverem retratando aquilo que foi observado por eles e 84% interfere agregando conhecimentos novos, ou já vistos em outras situações.
Ao analisarmos os dados pareceu-nos evidente a participação ativa dos alunos entre si e dos professores na construção do conhecimento. Nos encontros de formação percebe-se que para os professores superarem o senso comum e as concepções alternativas dos alunos, é necessário deter conhecimentos mais “robustos” e, o desenvolvimento de diferentes estratégias a fim de lidar com os problemas que surgem em sala de aula, algo que vai sendo construído no desenvolvimento do projeto. Conseqüentemente, cabe ao
aluno (aquele que investiga) e ao professor (aquele que orienta a investigação) lidarem com as situações de desequilíbrio e com as capacidades cognitivas, buscando a construção de conhecimentos coerentes com as evidências (empíricas ou não) que vão surgindo nas atividades investigativas.
O instrumento individual, através das questões objetivas fez-nos supor que os alunos ao desenvolverem uma atividade investigativa no dia anterior tiveram facilidade para responderem as questões que “exigiam” conhecimento geral e de relação com a atividade.
CONCLUSÃO
Os alunos, na maioria, expressaram suas idéias, observações e conclusões por escrito. Alunos participaram na discussão coletiva e na elaboração do registro coletivo. Os alunos relacionaram fenômenos observados nas atividades com outros de seu cotidiano.
Os professores indicam que com a utilização da proposta investigativa preconizada pelo projeto “Mão na Massa”, o ensino de ciências torna-se mais atraente para os alunos, facilitando a aprendizagem dos conteúdos e desenvolvendo habilidades como observação, argumentação e organização. Para o professor, torna-se mais prazeroso ensinar ciências, embora as aulas tornem-se mais trabalhosas, devido à maior necessidade de preparação, maior aprofundamento nos conteúdos abordados, observação e colaboração com cada grupo de docentes, para que haja momentos de discussões. O mesmo vale para seus registros, no sentido de relatarem o que foi observado.
O professor tem o papel de conduzir o trabalho na sala, fazendo intervenções para que os alunos agreguem novos conhecimentos, auxiliando-os a realizar a síntese da discussão coletiva, de modo a avançar na direção do conhecimento científico.
Apesar de toda subjetividade envolvida ao se realizar uma avaliação que tenta diagnosticar em que ponto encontra-se uma metodologia aplicada em sala de aula, a análise de todo material obtido, tem apontado para uma apropriação gradativa da metodologia, pelas 66 escolas que a aplicam. Além de tudo a declaração de professores, coordenadores e formadores do projeto, através dos questionários, demonstraram que, embora, com certas limitações à metodologia tem chegado na sala de aula e tem feito diferenças significativas no tocante ao envolvimento, participação, aprendizagem, leitura e apropriação mais significativa de conceitos em ciências e ousamos dizer que isto se estende a outras áreas do conhecimento.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
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