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ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA: OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO SOBRE O ESPAÇO ESCOLAR

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Academic year: 2021

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ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA:

OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO SOBRE O ESPAÇO ESCOLAR

Maria Edivani Silva Barbosa Departamento de Geografia. Universidade Federal do Ceará (UFC)

Luzianny Borges Rocha Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos. Universidade Estadual do Ceará (Fafidam/Uece)

RESUMO

O Estágio Supervisionado em Geografia, componente curricular da licenciatura, constitui etapa fundamental na formação do profissional de Geografia, pois no transitar entre a universidade e a escola, o estagiário, o professor-orientador e o professor-regente desempenham papéis importantes na troca de experiências e construção de conhecimentos, compreensão e busca de alternativas para melhoria do ensino na educação básica. Este trabalho é resultado de nossa reflexão sobre o estágio curricular ministrado no curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus Fortaleza-CE e da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam-Uece), Campus Limoeiro do Norte-CE. Como professoras-orientadoras de estágio, nossa atenção esteve focada na importância do estágio como espaço de reflexão da prática docente e na análise do espaço escolar identificando suas potencialidades para desenvolver um ensino de Geografia consoante às atuais propostas didático-pedagógicas. O aporte teórico está fundamentado em autores que discutem sobre estágio, prática de ensino e formação docente, com destaque para os trabalhos de Lima (2012), Pimenta e Lima (2009), Passini (2007) e Tardif (2012). Avaliamos os relatos dos estagiários nos encontros de mediação e nos relatórios de estágios. Estes expressam preocupação com o ambiente escolar da escola pública caracterizado por salas quentes, apertadas, com infiltração, deterioradas, barulhentas e abafadas; excesso de alunos por sala (em média de 35 a 40 alunos); quadra descoberta; salas inadequadas para o planejamento do trabalho docente; presença de espaço multifuncional (biblioteca/sala de informática/sala de multimeios, sala dos professores/sala de coordenadores, sala de aula/refeitório); arquitetura inadequada; ausência de espaço para desporto, recreação e sociabilidade dos discentes; ausência de refeitório ou refeitório pequeno; corredores estreitos; iluminação e ventilação inadequadas; dificuldade na acessibilidade dos recursos didáticos. Concluímos que o espaço escolar é inadequado às propostas didático-pedagógicas ousadas, o que desmotiva o ensino de Geografia.

Palavras-chave: Estágio. Geografia Escolar. Formação Docente.

INTRODUÇÃO

O Estágio Supervisionado em Geografia, componente curricular da licenciatura, constitui etapa fundamental na formação do profissional de Geografia, pois no transitar entre a universidade e a escola, o estagiário, o professor-orientador e o professor-regente desempenham papéis importantes na troca de experiências e construção de

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conhecimentos, compreensão e busca de alternativas para melhoria do ensino na educação básica.

O estágio à luz de uma fundamentação teórica nos permite analisar vários aspectos da formação docente, dentre os quais destacamos a relação teoria e prática, a construção da identidade docente, as políticas de educação, os desafios da profissão docente e os saberes necessários à prática, o uso das metodologias e dos recursos didáticos, enfim, diversos aspectos são problematizados via estágio, uma vez que este se constitui espaço aberto para a pesquisa, o diálogo, a reflexão e intervenção sobre o espaço escolar. Pimenta e Lima (2009, p. 100) asseguram que o estágio “[...] pode não ser uma completa preparação para o magistério, mas é possível, nesse espaço, professores, alunos e comunidade escolar e universidade trabalharem questões básicas de alicerce, a saber [..] a realidade dos professores nessas escolas, [...]”.

Neste trabalho, nos atemos à análise do espaço escolar identificando suas potencialidades para desenvolver um ensino de Geografia consoante às propostas didático-pedagógicas e ao perfil do novo professor. Ao intervir no espaço concreto da escola, os estagiários refletem sobre as ações realizadas e, assim, vão ressignificando suas práticas, considerando as condições reais das escolas. Nosso objetivo principal com os estágios é educar o(a) professor(a) em formação para a prática da pesquisa, no sentido de propiciar oportunidade de reflexão crítica da prática docente. O aporte teórico está fundamentado em autores que discutem sobre estágio, prática de ensino e formação docente, a pesquisa na formação docente, com destaque para os trabalhos de Lima (2012), Pimenta e Lima (2009), Passini (2007) e Tardif (2012).

Os licenciandos do curso de Geografia da UFC, Campus Fortaleza-CE e da Uece - Fafidam, Campus Limoeiro do Norte–CE, ao vivenciarem a escola mediante os estágios supervisionados, sob nossa orientação, mobilizam os diversos saberes adquiridos no decurso da formação, têm a oportunidade de avaliar a sua própria formação, os conteúdos estudados, especialmente, os saberes disciplinares, curriculares e profissionais (incluindo os das ciências da educação e da pedagogia). Na confluência desses saberes no momento da prática, o conflito se estabelece quando estes deparam o distanciamento entre o que é proclamado nos textos acadêmicos e nos documentos oficiais que regem a educação com a realidade da escola, um espaço desafiante, árido e cheio de obstáculos, que coloca em xeque os saberes adquiridos.

Os licenciandos são orientados a realizar um estudo, mediante a pesquisa, onde problematizam o espaço escolar, observando sua estrutura física e pedagógica;

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conversam com os professores-regentes, no sentido de que estes venham partilhar suas experiências e ajudar na realização das atividades de observação, participação e regência, fazendo-os mobilizar estes saberes experienciais como forma de superar os desafios a serem enfrentados.

Neste sentido, o estágio ministrado por nós durante os últimos três anos (2011-2013), nos ofereceu um espaço de aprendizado, reflexão e avaliação dos nossos saberes a respeito da escola e do ensino de Geografia ali realizado. Tal empreendimento pareceu-nos o caminho mais adequado para pensarmos em qualquer proposta de reforma no ensino de Geografia e de transformação da escola pública.

O trabalho está organizado em dois tópicos: no primeiro, trazemos à tona o papel dos professores (regentes e orientadores) na formação dos licenciandos; no segundo, refletimos sobre as experiências dos estagiários no espaço concreto da sala de aula, com base nos relatos apresentados nos encontros de mediação e relatórios de estágio.

O PAPEL DOS PROFESSORES NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS

ESTAGIÁRIOS

A percepção do espaço escolar, vivenciada durante os estágios, propicia aos licenciandos e professores formadores problematizarem este espaço e dialogarem, no sentido de levantar questões acerca da prática de ensino de Geografia, reveladas no contexto interno das escolas e suscitadas no contexto mais geral da sociedade. Segundo Passini (2007, p. 14), “o olhar sobre a prática da sala de aula, e mesmo – de forma mais ampla – sobre o espaço escolar, leva-nos a pensar em inúmeras possibilidades desafiadoras para provocar mudanças”. Assim, o estágio supervisionado apresenta-se como uma possibilidade de busca por soluções para a escola e para o ensino que nela se realiza por meio da leitura e do diálogo. Neste sentido, Lima confirma a importância do professor da escola para assegurar este diálogo:

O papel formador do professor da escola de ensino fundamental e médio junto aos estagiários é de essencial importância. Estes profissionais, em seu trabalho solitário, muitas vezes se apoiam nos estagiários e assim estabelecem com eles uma relação de troca, que favorece ao diálogo sobre o ensinar e o aprender a prática profissional, ao mesmo tempo em que assumem seu papel formador de novos professores. (2012, p.74).

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Viabilizar o diálogo entre a escola e a universidade sugere transpor a ideia da formação técnica dos professores, compreendida muitas vezes como uma prática apreendida através de modelos prontos e acabados, seja na universidade ou na escola. Nossa responsabilidade na universidade é estabelecer estratégias que possam revitalizar o diálogo. Neste sentido, Tardif afirma que

O relacionamento dos jovens professores com os professores experientes, os colegas com os quais trabalham diariamente ou no contexto de projetos pedagógicos de duração mais longa, o treinamento e a formação de estagiários e de professores iniciantes, todas essas são situações que permitem objetivar os saberes da experiência. Em tais situações, os professores são levados a tomar consciência de seus próprios saberes experienciais, uma vez que devem transmití-los e, portanto, objetivá-los em parte, seja para si mesmos, seja para seus colegas. Nesse sentido, o docente é não apenas um prático, mas também um formador. (2012, p.52)

O estágio que pretende ser espaço de investigação e reflexão estabelece em primeiro lugar o diálogo entre os formandos e formadores. A aprendizagem da profissão docente ocorre por meio da partilha dos saberes da experiência dos professores-regentes e da prática reflexiva mediada pelos professores-orientadores de estágio.

O MOMENTO DA PRÁTICA E A LEITURA DO ESPAÇO ESCOLAR

Durante os encontros de mediação e em relatórios de estágio os licenciandos falam sobre as principais dificuldades encontradas durante o estágio para desenvolver as aulas planejadas. Os depoimentos expressam preocupação com o ambiente escolar da escola pública considerado bastante precário. Podemos elencar os problemas mais perceptíveis no que se refere à infraestrutura inadequada ao ensino e a aprendizagem caracterizados por: salas quentes, sem forros, apertadas, com infiltração, deterioradas, barulhentas e abafadas; excesso de alunos por sala (em média de 35 a 40 alunos); quadra descoberta; salas inadequadas para o planejamento do trabalho docente; presença de espaço multifuncional (biblioteca/sala de informática/sala de multimeios, sala dos professores/sala de coordenadores, sala de aula/refeitório); arquitetura inadequada; ausência de espaço para desporto, recreação e sociabilidade dos discentes; ausência de refeitório ou refeitório pequeno; corredores estreitos; iluminação e ventilação inadequadas; dificuldade na acessibilidade dos recursos didáticos. Para ilustrar, apresentamos o relato de dois estagiários, os quais revelam a insatisfação com o ambiente de trabalho na escola:

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A escola em questão apresentava uma problemática muito grande em relação ao seu espaço físico, que é muito pequeno. Não há um espaço adequado para a recreação, os corredores são muito estreitos e as salas de aula muito pequenas, barulhentas e abafadas. Essas limitações estruturais acabam trazendo problemas para o processo de ensino-aprendizagem, já que os problemas decorrentes, tais como calor excessivo e o barulho em sala de aula, bem como a falta de espaços extra sala para recreações acabam tornando o momento da aula um momento maçante para aluno e professor.

(Aluno do curso de Geografia, UFC).

Fico analisando a qualidade do ensino e da aprendizagem, quando vejo a professora comprometer de 10 a 15 minutos do tempo de sua aula para que a merenda escolar seja distribuída em sala, antes do recreio. A professora escolhe dois alunos para ir buscar, na cozinha, a merenda escolar, que vem sendo transportada pelos mesmos dentro de um balde. Quanta precariedade, quanta transferência de responsabilidade, quanto descaso com a educação escolar! (Aluno do curso de Geografia, Fafidam).

Ao confrontarmos as experiências dos estagiários com o que é determinado pelos documentos oficiais, para este nível de escolarização, verificamos o distanciamento entre o discurso oficial e o que realmente as escolas vivenciam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos são os fatores que contribuem para minar o trabalho dos professores nas escolas, podemos lembrar aqui as políticas educacionais, as reformas que direcionam as práticas dos professores, a formação do professor desqualificada. Some-se a isso, também, a ausência de espaços adequados para o desporto, a recreação e as festividades; ausência de salas de aula confortáveis e adequadas para o desenvolvimento de aulas criativas e dinâmicas. O desconforto promove a indisciplina e a dispersão dos alunos na sala de aula. Para mudar o ensino precisamos transformar a escola.

REFERÊNCIAS

LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Aprendizagem da profissão docente. Brasília: Liber Livro, 2012.

PIMENTA, Selma Garrido & LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2009.

PASSINI, ElsaYasuko. Prática de ensino de Geografia e estágio supervisionado. São Paulo: Contexto, 2007.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 14 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

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