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ANÁLISE DA RECARGA E DA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM ALUVIÃO DO SEMI-ÁRIDO PERNAMBUCANO

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Academic year: 2021

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ANÁLISE DA RECARGA E DA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM

ALUVIÃO DO SEMI-ÁRIDO PERNAMBUCANO

Tafnes da Silva Andrade1; Eduardo Silva dos Santos2; José Roberto Lopes da Silva3 & Abelardo Antônio Assunção Montenegro4; Suzana Maria Gico Lima Montenegro5

RESUMO --- A água é um dos recursos naturais mais importantes, cuja utilização deve ser realizada de maneira a não comprometer a disponibilidade para as gerações futuras. Sua disponibilidade é hoje limitada não apenas quanto à quantidade mas também pela qualidade O monitoramento da evolução da salinidade da água subterrânea e o estudo da recarga dos aqüíferos são de fundamental importância para o manejo sustentável desses sistemas, especialmente quando esse recurso é utilizado para fins de irrigação. O objetivo deste trabalho foi avaliar a recarga em escala mensal de aluvião de semi-árido, considerando-se eventos extremos de precipitação em período de estiagem, e em período chuvoso e analisar o comportamento da condutividade elétrica da água subterrânea, bem como mapear as áreas de acordo com a concentração de sais. Constata-se que as taxas de recarga dependem da estação do ano, possivelmente em função de alterações nas áreas de contribuição para escoamentos.

ABSTRACT ---The water is one of the more important natural resources, whose use must be made in way not to limit the availability for the future generations. Its availability today is limited not only by the amount but also by the quality. The salinity groundwater evolution monitoring and the recharge of the water-bearing study are of basic importance for the sustainable manegement of these systems, especially when this resource is used for irrigation ends. The objective of this work was to evaluate the recharge in monthly scale of an alluvial area in the semi-arid, being considered extreme rainfall events in the dry period, and in the rainy period, as well as to analyze the behavior of the electrical conductivity of the groundwater, producing map the areas in accordance with salt concentration. It has been verified that the recharge rates depend on the climate period, possibly due to changes in the flow contribution areas.

Palavras-chave: monitoramento, recarga pluviométrica, salinidade. _______________________

1) Aluna de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife-PE. e-mail: tafnesandrade@yahoo.com.br.

2) Aluno de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife-PE. e-mail: silvaufrpe@yahoo.com.br.

3) Aluno de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife-PE. e-mail: rlopes.s@gmail.com.

4) Professor Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. Departamento de Tecnologia Rural. e-mail: monte@hotlink.com.br; 5) Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco- UFPE. Departamento de Engenharia Civil. E-mail: suzanam@ufpe.br

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1 – INTRODUÇÃO

O Brasil ainda apresenta uma grande deficiência no conhecimento do potencial hídrico de seus aqüíferos, seu grau de exploração e a qualidade de suas águas. Os estudos regionais desses corpos d’água são poucos e encontram-se defasados. O monitoramento da água subterrânea é uma ferramenta necessária ao planejamento da exploração desse recurso e ao manejo sustentável dos sistemas agrícolas, particularmente naqueles que utilizam essa água para fins de irrigação.

Os aqüíferos aluviais do Nordeste brasileiro vêm sendo utilizados dentre outros fins para a pequena agricultura irrigada. As manchas aluvionares, por constituírem fontes renováveis de recursos hídricos, apresentam alto potencial para o desenvolvimento agrícola de pequena escala. O regime irregular de chuvas e a elevada evaporação limitam significativamente essa disponibilidade hídrica ao longo da estação seca. Os períodos chuvosos tendem a gerar lâminas de recarga que contribuem para recuperar os níveis nos poços e podem provocar a lavagem de sais no perfil do solo Montenegro et al. (2003b).

A captação de água subterrânea é realizada, em aqüíferos fraturados de sedimentos inconsolidados, através de poços rasos, tipo cacimba, amazonas (poços escavados de grande diâmetro) e com drenos radiais. Os aqüíferos são normalmente arenosos e apresentam nível freático muito raso, sendo estas condições favoráveis para salinização do solo. Segundo Ayers & Westcot (1985), a água utilizada na irrigação, mesmo que com baixos níveis de salinidade, pode acarretar um processo de salinização, caso não seja manejada corretamente. De acordo com Oliveira (1997), cerca de 30 milhões de hectares irrigados no mundo se encontram severamente afetados por sais.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a recarga em escala mensal, em aluvião do semi-árido, considerando-se eventos extremos de precipitação em período de estiagem, e em período chuvoso e analisar o comportamento da condutividade elétrica (EC) da água subterrânea, bem como mapear as áreas de acordo com a concentração de sais ao longo do vale aluvial.

2 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2.1 – Condutividade elétrica

Os sais adicionados e acumulados com a irrigação na zona radicular aumentam de concentração à medida que as culturas consomem, por evapotranspiração, grande parte da água armazenada no solo. TOMÉ Jr (1997) afirma que o excesso de sais na zona radicular, independentemente dos íons presentes, prejudica a germinação, desenvolvimento e produtividade das plantas. Isso porque uma maior concentração da solução exige da planta um maior dispêndio de energia para conseguir absorver água (efeito osmótico) prejudicando seus processos metabólicos

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Salienta-se que na maioria dos casos as causas dos processos de acúmulos de sais são potencializadas por atividades antrópicas, dentre elas a agricultura irrigada, que devido a um manejo inadequado associado a uma drenagem ineficiente podem elevar o lençol freático com conseqüente precipitação dos sais no solo agricultável.

2.2 – Nível potenciométrico

A equação fundamental do escoamento para condições não confinada é a de Boussinesq, Bear et al, (1968). Para condição de declive uniforme da base impermeável, tem-se:

              + −       +         + = t T k T x T k T k T x D H D h R t ch r r r r r c

φ

λ

φ

ξ

λ

φ

λ

φ

ξ

ξ

φ

φ

4 2 exp 4 ) cos( 2 ) ( Re 2 2 2 2 2 2 2 0 (1) onde:

Rc é a taxa de flutuação do lençol,

φ é a porosidade,

h representa a altura do lençol em relação à camada impermeável, k é a condutividade hidráulica,

λ é a declividade da camada impermeável, D a profundidade média do aqüífero, Tr é a transmissividade,

H0 a carga inicial a montante do escoamento, e:

Su (1994) demonstra que, quando o termo k2

λ

2/4Tr

φ

tende a zero, a Equação (1) tende para φRc, ou: t h t ch ∆ ∆ =φ ) ( Re (2)

Para avaliar a taxa de recarga foi adotado o termo k2

λ

2/4Tr

φ

igual a 6,06 x 10

-6,

possibilitando a utilização da equação (2). Neste cálculo, foram utilizados Tr=18,7m2/d; φ=0,10; K=1,87m/d; λ= 0,0036, conforme Montenegro et al. (2003a) em estudo realizado no mesmo domínio.

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3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Caracterização da Área de Estudo

A área de estudada pertence ao Assentamento Fazenda Nossa Senhora do Rosário, município de Pesqueira, Agreste Pernambucano, em uma área aluvial do Rio Ipanema. O clima é do tipo BSsh (extremamente quente, semi-árido), com precipitação total anual média de 730 mm, e evapotranspiração potencial anual média de 1683 mm, segundo Hargreaves (1974). A temperatura média é de 23°C e a vegetação predominante é a caatinga hipoxerófila, cactáceas e bromeliáceas. Os principais solos presentes são Arenoso, Litólico, Bruno não-cálcico, Planossolo, Podzólico Vermelho-Amarelo, e Regossolo Montenegro et al. (2004).

O aqüífero aluvial sobre o qual a área estudada está situada, pertence a uma bacia hidrográfica relativamente plana. A agricultura é praticada em pequena escala na área, utilizando-se irrigação com águas subterrâneas através da aspersão, observando-se, entretanto, crescente aceitação da microaspersão, segundo Montenegro & Montenegro (2006).

3.2 – Monitoramento dos níveis potenciométricos do aluvião.

Os poços e piezômetros existentes na área do estudo foram cadastrados e georreferenciados por intermédio de GPS de navegação. A Tabela 1 contém o número de piezômetros monitorados em cada ano. Cada piezômetro possui cerca de 5 metros de profundidade, e diâmetro de 100mm, protegidos com tela e com filtro em cascalho, sistematicamente monitorados a nível mensal.

Tabela 1 – Número de piezômetros monitorados por ano.

ANO Nº de Piezômetros monitorados

2002 57 2003 63 2004 75 2005 78 2006 74 2007 64

O aqüífero estudado possui espessura média em torno de 10 m, cerca de 3 km de extensão e 300 m de largura Monitoramento da zona saturada através de piezômetros Montenegro et al., (2003b) indica que a profundidade média do lençol freático varia entre 2,0 e 4,0 m, para os períodos chuvosos e secos, respectivamente.

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A recarga do aluvião foi avaliada em três faixas conforme proposto po Montenegro et al, (2003b). Essas faixas foram selecionadas por apresentarem menores coeficiente de variação da profundidade do lençol. As faixas selecionadas são mostradas na Figura 1, e suas características na Tabela 2. P1 P2 P3 P4 POÇOS CACIMBÕES PIEZÔMETROS RIACHOS

Figura 1 - Esquema com locação dos poços e piezômetros na área monitorada (com seta indicando direção preferencial de fluxo)- Faixas do aluvião para efeito de análise da recarga. Fonte: Montenegro et al (2003b)

Tabela 2 - Características das faixas de aluvião selecionadas.

Faixa Pedologia* Número de

piezômetros Log K (cm/s) (solo) Média (desvio) 1 Neossolo flúvico Tb Eutrófico típico textura

arenosa ou média 18 -2,49 (0,95)

2 Neossolo sódico típico textura média

imperfeitamente drenado 10 -2,77 (0,77)

3 Neossolo sálico sódico típico textura média imperfeitamente drenado

18 -2,67 (0,32)

Fonte Montenegro et al (2003b)

3.3 – Monitoramento da condutividade elétrica do aluvião.

O monitoramento da condutividade elétrica da água subterrânea compreende a coleta de amostras nos piezômetros e poços, em períodos coincidentes à determinação dos níveis piezométricos. A condutividade elétrica da água é medida em laboratório com condutivímetro marca/modelo HANNA, HI 9835, ajustado à temperatura da amostra, que era a mesma do ambiente. A partir dos dados de condutividade elétrica e dos pontos georeferenciados dos poços, piezômetros foram gerados mapas utilizado o software Surfer for Windows v.8 (2002) que permitiu geração de mapas através dos dados obtidos, possibilitando análise visual do comportamento da condutividade elétrica no aluvião. Como a concentração sais na água sofre influência direta das

Faixa 1

Faixa 2

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0 20 40 60 80 100 120 Ja ne iro F ev er ei ro M ar ço A br il M ai o Ju nh o Ju lh o A go st o S et em br o O ut ub ro N ov em br o D ez em br o P re c ip it a ç ã o ( m m ) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Jan 193,5 26,5 141,0 127,5 0,0 19,5 Fev 101,0 75,5 208,0 0,0 47,0 125,5 Mar 181,0 59,5 128,0 189,7 184,0 210,0 Abr 52,0 30,0 61,5 34,9 177,5 66,0 Mai 59,5 52,5 92,5 122,8 82,5 87,0 Jun 114,5 46,0 232,0 124,8 158,5 Jul 44,0 45,0 95,5 35,8 69,5 Ago 31,0 4,5 90,0 130,0 32,0 Set 6,0 23,5 11,0 0,0 47,0 Out 0,0 16,5 0,0 0,0 0,0 Nov 4,0 14,0 14,0 0,0 6,0 Dez 26,5 0,0 0,0 122,0 0,0 Total 813,00 393,50 1073,50 887,50 804,00 508,00

chuvas os valores da condutividade elétrica da água foram agrupados em valores médios em três períodos: dezembro a março (período seco final), abril a julho (chuvoso) e agosto a novembro (seco inicial), conforme proposto por Montenegro et al. (2005). Este procedimento se baseou no comportamento pluviométrico da região, devido às incidências pluviométricas se darem principalmente nos meses de abril a julho conforme é mostrado na figura 2, que contém as médias mensais de precipitação do período de 1920 a 2006 analisadas por Silva et al. (2007). A Tabela 3 exibe as precipitações mensais nos anos de 2002 a 2007.

Figura 2 – Precipitação média mensal do município de Pesqueira Tabela 3 - Dados pluviométricos mensais na Área em estudo

4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 – Monitoramento dos níveis potenciométricos

Na Figura 3 são apresentadas as flutuações temporais médias do lençol ao longo do aluvião e a precipitação total em cada mês. Pode-se observar que a variação do nível d’água apresenta

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0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 ja n-02 m ai -0 2 se t-02 ja n-03 m ai -0 3 se t-03 ja n-04 m ai -0 4 se t-04 ja n-05 m ai -0 5 se t-05 ja n-06 m ai -0 6 se t-06 ja n-07 m ai -0 7 p ro f le n ç o l (m ) 0 50 100 150 200 250 P re c ip it a ç ã o ( m m )

Precipitação Média Piezômetros Média dos Poços

adequada resposta aos eventos de precipitação, promovendo a recarga do lençol subterrâneo nos piezômetros instalados e também nos quatro poços públicos.

Em 2003 ocorreu uma baixa acentuada do nível no vale devido à ocorrência de um ano atípico seco quando foram observados os níveis médios mais baixos em relação à superfície do solo. A precipitação ficou muito abaixo da média histórica da região, que segundo Hargreaves (1974), é de 730mm, neste ano o total precipitado foi de apenas 393,50mm. Houve uma rápida recuperação dos níveis potenciométricos com as precipitações ocorridas em janeiro de 2004, indicando uma boa resposta na recarga do lençol subterrâneo. Respostas significativas a eventos de precipitação desse mesmo sistema foram descritas por Montenegro et al. (2003b).

Pequenas chuvas de volumes insignificantes não contribuem para a recarga do lençol freático, apenas as precipitações mensais superiores a 100mm promovem recarga no aqüífero, esse comportamento também foi observado em outros vales aluviais do semi-árido como o Vale da Forquilha, Quixeramobim, estado do Ceará Burte (2005).

Figura 3- Variação média mensal do nível piezométrico e da precipitação ao longo do tempo A Figura 4 exibe o intervalo de confiança para a profundidade média nas três faixas selecionadas, com base no desvio-padrão amostral, com nível de significância de 5%. Na análise foram considerados os períodos de janeiro a julho de 2002, janeiro a fevereiro e maio a junho de 2004 e 2005, janeiro a junho de 2006 e Janeiro a abril de 2007, todos correspondendo períodos de precipitações que geraram recarga no aquífero. Não foi observada nenhuma recarga do lençol durante o ano de 2003. Pode-se observar a semelhança da flutuação do lençol entre as faixas, para um mesmo período.

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Faixa 1 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 ja n /0 2 m a i/0 2 a g o /0 2 d ez /0 2 a b r/ 0 3 a go /0 3 d e z/ 0 3 a br /0 4 a g o /0 4 d ez /0 4 a b r/ 0 5 a g o/ 0 5 d e z/ 0 5 a b r/0 6 a g o /0 6 d e z/ 0 6 a b r/ 0 7 Faixa 2 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 ja n /0 2 m ai /0 2 ag o /0 2 d e z/ 0 2 ab r/ 0 3 a g o /0 3 d e z/ 0 3 a b r/0 4 a g o /0 4 d ez /0 4 a b r/ 0 5 ag o /0 5 d e z/ 0 5 a b r/ 0 6 a g o/ 0 6 d e z/ 0 6 a b r/0 7 Faixa 3 0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 ja n /0 2 m a i/0 2 a go /0 2 d e z/ 0 2 ab r/ 0 3 a g o /0 3 d e z/ 0 3 a b r/0 4 a g o /0 4 d ez /0 4 a b r/ 0 5 a go /0 5 d e z/ 0 5 a b r/ 0 6 a g o /0 6 d e z/ 0 6 a br /0 7

(9)

Tomando-se a taxa mensal de variação do nível do lençol, e assumindo-se um coeficiente de armazenamento (porosidade efetiva) de 0,10 para a área, Cisagro (1991), pode-se estimar o intervalo de confiança para o fator de recarga, obtido a partir da equação (2) dividida pela precipitação mensal.

Com o objetivo de verificar se existe diferença entre as recargas de um ano chuvoso e um ano seco, analisamos as recargas dos anos de 2004 e 2006. Para a recarga ocorrida em 2006, ano seco, o intervalo de confiança para o fator de recarga, baseado em 21 medidas e com significância de 5%, foi [0,526; 0,694], enquanto para as recargas em 2004, ano úmido, o intervalo de confiança foi [0,228; 0,385], obtido a partir de 45 medidas. Para testar a diferença estatística entre médias, utilizou-se o “t-teste: duas amostras presumindo variâncias diferentes”. Para um nível de significância de 0,05, o valor do p-value bi-caudal foi de 9,6x10-7. Desse modo, a hipótese de igualdade entre as médias deve ser rejeitada, para condições de umidade diferentes.

Montenegro et al. (2003b) concluiu, em trabalho realizado na mesma área, que não havia diferença significativa nas média para a mesma região de estudo. Essa discrepância entre os resultados pode se dá devido ao fato de Montenegro et al. (2003b) ter selecionado para sua análise anos com precipitações bem inferiores a 2004 e 2006. Em anos de grandes precipitações, como 2004, o vale aluvial é recarregado tanto pela precipitação que cai efetivamente em sua área, como pela contribuição das serras que o cercam. Logo, para a série escolhida tivemos valores de recarga superiores ao observado no estudo anterior o que podem ter contribuído para essa diferença. Esses resultados são um indicativo de que a recarga no aqüífero depende, não só das propriedades do solo, mas também do regime pluviométrico anual.

A Figura 5 apresenta os fatores de recarga mensais para os anos considerados, distribuídos por faixa e a Tabela 4 mostra a distribuição Normal teórica para média, desvio-padrão e número de dados analisados em cada faixa.

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0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Fator de recarga Experimental teorico Faixa 1 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Fator de recarga

Experimental log (teo)

Faixa 2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Fator de recarga Experimental teorico Faixa 3

Figura 5 - Distribuição estatística dos fatores de recarga mensais, para os anos avaliados em cada faixa.

Tabela 4 – Média, desvio-padrão e número de dados analisados em cada faixa.

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3

Número de dados analisados 64 73 96

Média 0,33 -0,56 0,43

Desvio Padrão 0,22 0,37 0,27

Após a análise de todos os dados de recarga, observou-se que o comportamento da curva não obedecia a normalidade, indicando que as recargas ocorridas em cada faixa pertencem a grupos estatísticos diferentes e, portanto a recarga varia para diferentes características de solos. A normalidade foi alcançada em cada faixa quando analisada individualmente, no entanto para a faixa 2 só foi possível obter a curva log - normal.

4.2 – Monitoramento da condutividade elétrica

A Figura 6 mostra a variação espacial da condutividade elétrica da água e o desvio padrão para mais, no período de julho de 1995 a maio de 2007. Em 1997 houve uma interrupção da série, apenas o mês de novembro foi monitorado. Observa-se que a condutividade cresceu ao longo dos anos, assim como o desvio padrão dos pontos amostrais.

A série apresentou grande variabilidade com desvio padrão entre 22% e 83%. No início do monitoramento em julho de 1995 a agosto de 2002 houve uma diluição média dos sais da ordem de

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0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 ju l/9 5 ja n/ 9 6 ju l/9 6 ja n/ 9 7 ju l/9 7 ja n/ 9 8 ju l/9 8 ja n/ 9 9 ju l/9 9 ja n/ 0 0 ju l/0 0 ja n/ 0 1 ju l/0 1 ja n/ 0 2 ju l/0 2 ja n/ 0 3 ju l/0 3 ja n/ 0 4 ju l/0 4 ja n/ 05 ju l/0 5 ja n/ 06 ju l/0 6 ja n/ 07 c e d S .m -1 0 50 100 150 200 250 P lu v io m e tr ia ( m m )

Pluviometria (mm) media media+(2xdesvpad) Linear (media+(2xdesvpad)) Linear (media)

44%. A partir de então teve iniciou um período de seca que se estendeu até o final do ano de 2003, nesse intervalo de tempo ocorreu um crescimento na média da condutividade elétrica. Apesar da ocorrência de anos chuvosos com precipitação acima da média da região a partir de 2004, não houve a diluição de sais, a um nível inferior ao registrado em agosto de 2002.

Figura 6 - da condutividade elétrica (dS.m-1) e pluviometria mensal (mm)

A Figura 7 apresenta a salinidade da água, amostradas segundo as locações indicadas em azul para os poços e os pontos em preto para os piezômetros, ao longo do vale de Rosário, nos períodos classificados como: chuvoso, seco inicial e seco final. Pode-se verificar o aumento do problema da salinidade ao longo dos anos e a sua grande variabilidade nos anos e entre os períodos estudados. Essa variabilidade é evidenciada pela constante mudança da faixa em verde que mostra a condutividade de 1dS.m-1. Durante o período chuvoso, ocorre um aumento na concentração de sais devido à lavagem do solo que traz os sais que estavam nas camadas superiores para o lençol freático. Após esse período, os sais começam a serem diluídos, e o efeito dessa diluição é observado no período seguinte, quando ocorre uma de menor concentração de sais na água em relação ao período antecedente.

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Figura 7 - Comportamento médio da condutividade elétrica no vale de Rosário em dS.m-1.

Foram classificadas as águas de 60 piezômetros e 24 poços quanto ao risco de salinização de acordo com a metodologia do U.S Salinity Laboratory Staff, conforme Bernardo (1989). As águas dos piezômetros e poços, em sua maioria, foram consideradas Classe “dois”, apresentando

734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Chuvoso 2002 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Chuvoso 2006 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Chuvoso 2004 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Inicial 2002 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Inicial 2004 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Inicial 2006 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Final 2002 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Final 2006 0 0. 2 0. 4 0. 6 0. 8 1 1. 2 1. 4 1. 6 1. 8 2 2. 2 2. 4 2. 6 2. 8 3 3. 2 3. 4 3. 6 3. 8 4 734000 734500 735000 735500 736000 736500 9071000 9071500 Seco Final 2004

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moderado risco de salinização quando utilizadas para fins de irrigação por isso requerem manejo adequado. Os poços possuem menor concentração média de sais que os piezômetros, não sendo observado nenhum poço com águas classificadas como “três” ou “quatro”, o uso da água para irrigação é dependente de técnicas específicas de manejo da irrigação, tais como as apresentadas por Medeiros & Gheyi (1997), que possibilitam um balanço de sais desejado na zona radicular, a partir de aplicações de lâminas de lixiviação.

Santiago et al. (1999), em estudo realizado em Picos - PI, encontrou valores de 2,5 dS m-1 a 25ºC, evidenciando que essas águas têm restrição para as atividades agrícolas, em virtude do risco de salinização dos solos, sugerindo que sua utilização para irrigação seja acompanhada de técnicas de controle do processo de salinização.

Tabela 5- Número de piezômetros e poços cujas águas foram classificadas de acordo com o U.S Salinity Laboratory Staff.

Classe de Água nº de Piezômetro nº Poços

C1 (CE 0-0,75 dS.m-1) 14 8

C2 (CE 0,75 - 1,50 dS.m-1) 33 16

C3 (CE 1.50 - 3,00 dS.m-1) 9 ----

C4 (> 3,00 dS.m-1) 4 ----

5 – CONCLUSÕES

A partir do monitoramento das águas subterrâneas, tem-se verificado que o sistema responde significativamente a eventos de precipitação e que as recargas dependem do regime pluviométrico anual.

Apenas as precipitações mensais superiores a 100 mm promovem a recarga no aqüífero. O monitoramento dos poços e piezômetros têm permitido gerar mapas que ilustram as regiões onde a concentração de sais é crítica no aluvião.

O período chuvoso promove a diluição dos sais através da recarga do lençol, contribuindo para que um menor grau de salinidade da água seja observado no período posterior a ele, o seco inicial.

As taxas de recarga observadas nos períodos chuvosos são significativamente diferentes daquelas observadas nos períodos secos, possivelmente devido a alterações de regimes hidrológicos e de contribuições adicionais advindas da bacia circunvizinha.

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Referências

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