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Reservas Extrativistas Marinhas e o II Plano Nacional de Reforma Agrária viram trampolins político no litoral do Pará.

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Academic year: 2021

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Reservas Extrativistas Marinhas e o II Plano Nacional de Reforma

Agrária viram trampolins político no litoral do Pará.

José Benedito Figueiredo Filho ¹ Nildineide Lima Soares ²

1 Graduando - Bacharel e Licenciatura em Geografia – UFPA. E-mail: figuegeo@yahoo.com.br

2 Graduanda - Licenciatura em Ciências Naturais – Química – UEPA. E-mail:nildisoares@hotmail.com

Resumo - Quando se estuda historicamente a estrutura fundiária no Brasil, verifica-se que desde os primórdios do período colonial essa distribuição foi desigual. Dessa forma, pode-se verificar que essas marcas que caracterizam a concentração fundiária no Brasil têm sua origem na própria historia do país. MARTINS - 2000, afirma que a luta pela reforma agrária se tornou um embate de idéias, de interpretações e de projetos históricos. Isso acontece precisamente porque os mediadores (sindicalistas, religiosos, agentes de pastoral, intelectuais, militantes e ativistas políticos) das lutas pela reforma agrária pertencem às classes médias urbanas portadoras de "visões de mundo estranhas aos protagonistas do drama agrário".O II PNRA inclui, além dos agricultores familiares, as comunidades rurais tradicionais, as populações ribeirinhas, os atingidos por barragens, as mulheres trabalhadoras rurais e a juventude rural. E é exatamente esse publico: Os agricultores familiares, as comunidades rurais tradicionais que habitam as Reservas Extrativistas Marinhas - RESEX–Marinha, localizadas no Litoral paraense que estão sendo manipulados pelos Agentes mediadores.

Palavras-chaves: RESEX – Marinhas, Trampolins e Agentes Mediadores.

Introdução

Quando se estuda historicamente a estrutura fundiária no Brasil, ou seja, a forma de distribuição e acesse à terra, verifica-se que desde os primórdios do período colonial essa distribuição foi desigual. Primeiro foram as capitanias hereditárias e seus donatários, depois foram as sesmarias. Estas estão na origem de grande parte dos latifúndios do país

Com a independência do Brasil e, depois, com o fim da escravidão, trataram os governos de abrir a possibilidade de, através da “posse”, legalizar grandes extensões de terras. Com a Lei de Terras de 1850, entretanto, o acesso à terra só passou a ser possível por meio da compra com pagamento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo praticamente impedia, o acesso à terra para os trabalhadores escravos que conquistavam a liberdade. Dessa forma, pode-se verificar que essas marcas que caracterizam a concentração fundiária no Brasil têm sua origem na própria historia do país.

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Atualmente, a disputa pela terra passa pelo que José de Souza Martins, em seu livro: Reforma agrária o impossível diálogo - São Paulo, Edusp, 2000. No ensaio introdutório intitulado “A disputa política pela forma da reforma agrária”, Martins afirma que a luta pela reforma agrária se tornou um embate de idéias, de interpretações e de projetos históricos: "a luta ideológica engoliu a luta pela reforma agrária" (p.40). Isso acontece precisamente porque os mediadores (sindicalistas, religiosos, agentes de pastoral, intelectuais, militantes e ativistas políticos) das lutas pela reforma agrária pertencem às classes médias urbanas portadoras de "visões de mundo estranhas aos protagonistas do drama agrário" (p.40). O dilema atual da sociedade brasileira é o desencontro da consciência social dos trabalhadores que lutam pela terra e a consciência social dos mediadores das classes médias que interpretam as demandas dos movimentos populares a partir da sua própria visão de classe.

O meio rural brasileiro precisa se tornar, definitivamente, um espaço de paz, produção e justiça social. A reforma agrária é mais do que um compromisso ela é uma necessidade urgente e tem um potencial transformador da sociedade brasileira, gera emprego e renda, garante a segurança alimentar e abre uma nova trilha para a democracia e para o desenvolvimento com justiça social.

O público do II Plano nacional de Reforma Agrária – II PNRA inclui, além dos beneficiários diretos da reforma agrária, os agricultores familiares, as comunidades rurais tradicionais, as populações ribeirinhas, os atingidos por barragens e outras grandes obras de infra-estrutura, os ocupantes não índios das áreas indígenas, as mulheres trabalhadoras rurais e a juventude rural. E é exatamente esse publico: Os agricultores familiares, as comunidades rurais tradicionais, as populações ribeirinhas, que habitam as Reservas Extrativistas Marinhas - RESEX–Marinha, localizadas no Litoral paraense que estão sendo manipulados pelos Agentes mediadores.

As reservas extrativistas marinhas do Pará, criadas pelo Governo Federal ao longo desta década, viraram palco de uma guerra por poder entre as classes ou agente mediadores, assim denominado por Martins. Em disputa, está o direcionamento dos créditos da reforma agrária, que financiam desde a compra de equipamentos de pesca até a construção de casas populares, alem de mandatos eletivos de Vereador, Prefeito e Vice-prefeito. As associações de pescadores, que definem quem recebe ou não o benefício, foram transformadas em

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trampolins eleitorais. Em cinco das nove reservas, há presidentes de associações eleitos para cargos na política municipal.

Material e Métodos:

Este projeto de pesquisa foi realizado na Região conhecida como o Nordeste paraense ou Litoral paraense.

O Levantamento das informações foram importantes para o desenvolvimento das atividades como: Visita aos Municípios para a aplicação de questionários e pesquisa de campo, “explanação do projeto” e conversas informais e formais com o população local e autoridades do Legislativo e Executivo dos municípios que possuem Reservas extrativistas Marinhas em seus territórios. Alem de entrevistas com funcionários do INCRA e ICMBio.

Resultados e Discussões

A paisagem das bucólicas vilas de pescadores nos arredores de Bragança, município a 200 quilômetros de Belém, não é a mesma de dez anos atrás. As casas de taipa cobertas com palha pouco a pouco dão lugar à geometria cinzenta da alvenaria construída com recursos do Governo Federal; assim também como nos municípios de Viseu, Augusto Correia, Tracuateua, Curuçá e outros.

Em 2008, uma portaria interministerial estendeu aos moradores e usuários das unidades de conservação e reservas o direito de gozar de benefícios semelhantes ao dos assentados da reforma agrária. Os pescadores de Bragança e de outros municípios que abrigam populações tradicionais extrativistas reconhecidas pelo IBAMA, puderam acessar créditos para a construção de moradias e para o desenvolvimento da agricultura familiar por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Nas 45 comunidades de pescadores de Bragança, foram construídas 1000. É mudança na vida de muitas famílias que nasceram e cresceram nas tradicionais casas de taipa, como Maria Zuleide Torres Seabra, catadora de caranguejo na vila de Caratateua há mais de 30 anos, acostumou-se com o chão batido das tradicionais casas de barro, mas que mudou-se para a casa nova, de piso cimentado e paredes rebocadas.

A vila de Caratateua, a 16 km da sede do município de Bragança, é moradia para mais de 100 famílias que vivem basicamente do extrativismo do caranguejo. Na linha de

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produção do marisco, os catadores ocupam uma das pontas com pior remuneração por tempo de trabalho. Eles fazem a catação, separando a polpa do caranguejo cozido para a venda por quilo. Quando têm trabalho, nos meses em que se pode extrair o crustáceo dos mangues de Bragança, conseguem trazer para casa entre R$ 30,00 e R$ 40,00 por semana.

A farra nos cadastros de beneficiários dos programas de assistência do governo federal transformou os cargos de liderança nas associações de pescadores em trampolins para cargos políticos nas cidades pequenas do interior do Pará. Em pelo menos cinco das nove reservas extrativistas marinhas do litoral do Estado criado pelo governo federal, há casos de diretores de associações de pescadores que conseguiram se elegerem no último pleito municipal, em 2008. Em Bragança, o presidente da associação de usuários da reserva de Caeté-Taperaçu se elegeu vereador. O mesmo aconteceu nos municípios de Viseu, Augusto Corrêa e Tracuateua.

Em Curuçá e São João da Ponta, o salto entre a cadeira na associação e o cargo na política foi maior: os líderes das associações de usuários de reservas extrativistas assumiram os cargos de prefeito e vice-prefeito. Em São João da Ponta, município com pouco mais de quatro mil eleitores, o presidente da associação de pescadores conseguiu se eleger chefe do Executivo municipal com 2.284 votos.

“Não há nenhum impedimento legal para isso, é preciso conhecer a história pessoal de cada uma dessas pessoas para se falar se há ou não irregularidade. O Nelsão (prefeito de São João da Ponta), o Zacarias (vereador em Viseu), o Chico (vereador em Augusto Corrêa) e eu, aqui em Bragança, passamos pela direção das RESEX. Mas todos nós temos histórico de trabalho de movimento social; eu, desde a década de 70, no antigo MOPEPA (Movimento de Pescadores do Estado do Pará)”, justifica Oséas Saraiva Rocha, o Zeca Rocha do PT.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), o órgão ambiental vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, responsável por gerir as reservas extrativas e unidades de conservação, foi criado em 2007, e ainda está em fase de estruturação. Fabiano Gumier Costa, analista ambiental recém-nomeado coordenador regional do ICMBIO em Belém, diz que a falta de pessoal é o principal impedimento para que o cadastramento de usuários feito pelas associações seja acompanhado de perto pelo órgão como deveria acontecer.

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Gumier afirma que as listas de beneficiários dos programas do governo federal deveriam ser avaliadas pelos conselhos deliberativos de cada reserva, nas reuniões periódicas entre representantes das associações, prefeituras e gestores do ICMBIO. O fato é que nem todas as RESEX que recebem benefícios via programa de reforma agrária possuem gestores do órgão. O instituto não tem acompanhado os cadastramentos feitos pelas associações pura e simplesmente por falta de gente. Há reserva que tem apenas um servidor lotado, e outras, como a de Bragança, com nenhum, explica Fabiano Gumeir. “É possível que haja distorções no cadastramento dos usuários da reserva que vão receber o benefício. Por isso, a gente tem dialogado com o Incra e com o Ministério Público para identificar e evitar que ocorram. Até para que as unidades de conservação e as reservas extrativistas não sejam utilizadas para fins assistencialistas e políticos”.

Os créditos da reforma agrária são concedidos às famílias a partir de um levantamento feito nas comunidades de quem realmente é população tradicional. A relação de beneficiários do INCRA, conhecida como a lista do “RB”, baseia-se em um cadastro feito pelas associações criadas para reunir os usuários das reservas extrativistas - pescadores, catadores de caranguejo e pequenos agricultores. A seleção de quem é indicada pelas associações para receber benefícios do governo federal obedece a critérios criados pelas próprias associações, pouco claros e, por vezes, escusos.

O presidente da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté–Taperaçu – ASSUREMACATA, Zeca Rocha, afirma que a associação, em contato com comitês em cada uma das 45 comunidades de usuários da reserva, define quem tem prioridade para o recebimento do benefício. É o que ele chama de “ordem de necessidade”, um critério menos técnico que subjetivo que não está expresso na regulamentação federal das reservas extrativistas.

Coincidência ou não. O nome do próprio presidente e de parte das lideranças com cargos nas associações, figurou entre as primeiras listas para o crédito da reforma agrária em 2007. A visibilidade e a influência que Zeca Rocha conquistou, à frente da ASSUREMACATA, renderam votos suficientes para que ele fosse eleito vereador do município Bragança. Hoje, Zeca Rocha concilia as duas funções, na Câmara Municipal e na associação de usuários da reserva.

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Em Viseu, município do litoral paraense, está localizada a maior Reserva Extrativista Marinha do Brasil. Que é a RESEX Gurupi – Piriá, criada por Decreto presidencial em 20/05/2005 com uma área de 74.081hectares.

Somente na RESEX Gurupi – Piriá, já foram construídas atualmente 1250 casas pelo INCRA, e segundo a presidência da RESEX há previsão de se construir aproximadamente 3200 casa para a população que estiver dentro da área de abrangência da mesma. Na vila de Fernandes Belo que é a maior comunidade abrangida pela RESEX até o presente momento já haviam sido construídas 356 casas.

Conclusão

Essa não só a realidade de um caso especifico, e sim de todas as RESEX – Marinhas do Litoral do Pará. E provavelmente de todos os projetos ligados ao II Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA no Brasil. Pois o Estado brasileiro não é favorável a Reforma Agrária e está entregue a burguesia e ao Capitalismo Internacional. Ciente dessa realidade, os Agentes mediadores aproveitam a realidade para usufruírem de muitas vantagens entre as quais esta os cargos eletivos de vereadores, Vice-prefeito e Prefeito. O Estado Brasileiro é contrario a Reforma Agrária, e quem quiser a mesma deve ser contrario ao Estado e deve derrubar a Burguesia, as Leis e os Agentes Mediadores que ai está, pois a meu ver ser revolucionário é denunciar as injustiças e não aceitar o fim da Reforma Agrária.

Referencias bibliográficas:

Geografia do Brasil / Jurandyr L. Sanches Ross (org.) – 5 edição. São Paulo: editora da

Universidade de São Paulo (Edusp), 2008.

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. II Plano Nacional de

Reforma Agrária – PNRA:www.incra.gov.br

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Martins, José de Souza. Reforma agrária o impossível diálogo, São Paulo, Edusp, 2000, 173 pp.

Silvana de Souza Nascimento Doutoranda em Antropologia Social – USP. Pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana - USP.

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