• Nenhum resultado encontrado

DISPERSÃO URBANA habitação e não só. INTRODUÇÃO A DISPERSÃO URBANA NA REGIÃO. UMA ABORDAGEM PARA O CONCELHO DE CALDAS da RAINHA.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "DISPERSÃO URBANA habitação e não só. INTRODUÇÃO A DISPERSÃO URBANA NA REGIÃO. UMA ABORDAGEM PARA O CONCELHO DE CALDAS da RAINHA."

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

DISPERSÃO URBANA – habitação e não só.

UMAABORDAGEM PARA O CONCELHO DE CALDAS da RAINHA

João Aboim

INTRODUÇÃO

No espaço rural um novo cidadão emerge. Por migração da cidade compacta ou por migração cultural e mediática, a cultura urbana instala-se. Conquistada a almejada independência habitacional pela moradia, implantada no seu bocado de terra, preferencialmente com vistas para uma parcela de paraíso que parece ser só seu, este novo urbanita, pode escolher “a cidade” que quer, como refere Spiro Kostov, “Automobile drivers – the only fully entitled citizens of edge cities – can now compose their own town…”.

No “campo” a rede de acessibilidades expandiu-se, asfaltou-se e completou-se pela infra-estrutura básica da água, saneamento, energia e telecomunicações.

O crescimento da urbanização dispersa apoia-se nesta rede básica de infra-estrutura, agora potenciada pelos diversos apoios sociais e institucionais e pela existência disseminada de possibilidades de emprego.

A DISPERSÃO URBANA NA REGIÃO

Genericamente, o fenómeno da expansão da construção por um território, o Urban Sprawl, tem como principais motores o desejo de individualidade e autonomia presente no “sonho americano”.

Mas, contrariamente à expansão típica dos subúrbios americanos, as condições para a dispersão urbana em Portugal, e no caso particular do Concelho de Caldas da Rainha, não se formam em territórios amorfos mas sim em zonas já historicamente estruturadas por uma tipologia fundiária de raiz agrícola, por localidades de historicidade rural e por uma rede primária de acessibilidades, completada por uma infra-estruturação básica de energia, saneamento e abastecimento de água.

Nesta estruturação básica, justapõe-se à ocupação ancestral uma nova ocupação que reforça a alteração da composição sócio cultural tradicional, já de si em rápida evolução pelo acesso generalizado ao ensino e às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC).

No concelho de Caldas da Rainha, e em muitos concelhos da região Oeste, a dispersão urbana verificada assenta numa matriz histórica ligada à actividade agrícola tradicional. Esta actividade embora em declínio como motor económico da região, subsiste ainda em complemento com outros sectores, que agora se espalham pelo território criando novas oportunidades de emprego fora da cidade compacta.

CONDIÇÕES PARA A DISPERSÃO

Ao carácter histórico e identitário de permanência no lugar agrega-se um conjunto de condições ou razões que reforçam e/ou favorecem a dispersão urbana, algo semelhantes ao Urban Sprawl americano nos seus aspectos motivacionais de fixação de novos residentes, mas completa- NOTA 1 - SPRAWL and SUBURBIA, magazine reader, Editor - William S. Saunders - University of Minnesota Press 2005

(2)

mente diferentes nos aspectos da sua escala física, institucional, financeira e de território.

Estas razões básicas não só atenuam ou anulam as causas clássicas de abandono do território rural como ainda induzem ou suportam o movimento oposto da cidade para a periferia ou para a região.

Podemos assim elencar como hipóteses, algumas razões fomentadoras da manutenção e alargamento da dispersão urbana na região, sistematizando-as do seguinte modo:

MOTIVAÇÃO

O paradigma da Individualidade/liberdade, que afasta o sujeito de uma vizinhança citadina tida como incómoda, quando não conflituosa. A valorização do “habitar no campo” em contacto com a “natureza”, em oposição a um viver na cidade sujeito à poluição e à promiscuidade social. O espaço visual/paisagem, como reforço do sentimento idílico de “volta às origens”.

Estas razões são abundantemente exploradas na publicidade aos empreendimentos fora do contexto urbano citadino e mutam o desejo de emigrar da aldeia para a cidade num desejo de permanecer2.

Na região abordada, os valores identitários tradicionais e os de valoração do ambiente natural reforçam-se. A motorização permite um viver “rural” e aceder facilmente à urbanidade de uma média cidade – Caldas da Rainha, acrescida a Lisboa pelo acesso à A8/A15.

DISPONIBILIDADE AEDIFICANDI

Existência de espaço com condições de edificabilidade e acessibilidade proporcionada pela ocupação ancestral do território que funciona como motor da infra-estruturação básica.

ECONOMIA FUNDIÁRIA

Valorização fundiária na cidade pelo aumento da escassez de terrenos para edificação, que por sua vez induz a construção de habitação colectiva e em altura, agravando as razões psicos socio-lógicas da motivação já referidas anteriormente, aliada em contraponto à desvalorização fundiária no espaço rural, ou melhor, ao grande desequilíbrio do valor fundiário de um terreno agrícola face à sua potencial transformação em terreno aedificandi 3.

Acresce ainda que na matriz fundiária resultante de um longo processo de divisão da propriedade agrícola a posse ancestral do terreno é “meio caminho andado” para a construção da habitação, da pequena indústria ou do pequeno comércio. Assim o PDM o permita.

RAZÕES INSTITUCIONAIS E CONDIÇÕES ADMINISTRATIVAS

A administração de um território é confiada às autarquias competindo os concelhos na angariação de recursos os quais são directamente proporcionais à demografia, à construção, à fixa-ção de empresas e ao poder económico dos estratos sociais presentes.

Pelo poder de fixar as taxas de IMI e outras, as câmaras municipais pretendem atrair para o respectivo concelho, habitantes e empresas, criando reduções e/ou isenções das referidas taxas e mesmo disponibilizando terrenos e/ou edifícios.

NOTA 2 – Exemplos de anúncios extraídos ao acaso (Viver no campo perto da cidade e perto da praia, T3 no Milharado … o prazer de viver no campo (jardim, piscina e churrasqueira) e uma vila bonita e cheia de história… Entre o campo e a cidade, apenas a 5min. da cidade… automóvel, do chegar mais depressa, do stress: VIVER NUMA ÁREA DE BELEZA EXTRAORDINÁRIA… QUER VIVER NO CAMPO NUMA CASA CITADINA — Arruda dos Vinhos…)

NOTA 3 - Numa consulta aos preços de terrenos para a zona de Caldas da Rainha efectuada em sites especializados – Preço dos terrenos a) para construção fora da cidade de Caldas – áreas entre 5000 e 5900 m2, preços entre os 39000 e os 65000€. média ponderada de 9,2 €/m2 b) para construção na cidade de Caldas – áreas entre 500 e 655 m2 – preços entre 110.000 e 225.000 €. média ponderada de 295 €/m2 c) rústicos non-aedificandi – áreas entre os 1285 e 26.100 m2 – preços entre os 5.000 e 26.100 € média ponderada de 3,54 €/m2 . Constata-se assim, numa aproximação sumária, que um terreno rústico se conseguir viabilidade de construção passa a valer o triplo.

(3)

Paralelamente, pela sua responsabilidade na execução dos PMOT (Planos Municipais de Ordenamento de Território) nomeadamente dos PDM, as autarquias detêm um considerável poder de afectação na dispersão urbana, contrariando-a ou fomentando-a.

Normalmente as câmaras municipais estabelecem um difícil e instável equilíbrio entre a necessidade de conter o aumento de infra-estruturas, quer na sua implementação quer na sua posterior manutenção e conservação, e o apelo à transformação dos terrenos rurais em urbanos motivada pela valorização fundiária e pela ligação ao local.

Num tecido fundiário bastante fraccionado e de pequena propriedade rural, a permissão de construir em parcelas rurais de meio hectare4 favorece claramente a dispersão urbana.

Agregados as estas condições/razões constata-se a existência de meios facilitadores e/ou potenciadores pelos quais a dispersão urbana se estabelece como oportunidade de vida. Estando ainda por estabelecer os seus custos efectivos, sobretudo a necessária comparação com os custos da urbanidade citadina.

Estes meios facilitadores e/ou potenciadores podem ser analisados sectorialmente do seguinte modo: MOBILIDADE

Motorização familiar privada (automóvel, motociclo) 5, com tendência para o rácio de um veículo por cada membro da população activa. Esta motorização pelos custos associados dos tempos de deslocação e custos de funcionamento conduz a uma necessidade de proximidade a centros urbanos indutora de uma localização dentro da área de influência de uma urbe ou rede urbana de proximi-dade, eventualmente acelerada pela existência de via rápida especializada.

No caso de Caldas essa via é a auto-estrada A8, ramificada pela A15 até Santarém e por via rápida até Peniche (IP6). Pela ausência de portagem entre Tornada e Bombarral (20 km) este troço constitui a espinhal dorsal da mobilidade de uma região que abrange Peniche, Bombarral, Cadaval, Óbidos e Caldas da Rainha. (fig 4)

Fig. 4 Esquema de acessibilidade por via rápida na região de C. da Rainha NOTA4 – O PDM de C. da Rainha (em fase de revisão) previa um mínimo de meio hectare para edificação em meio rural.

Este índice foi fixado em 4 hectares pelo PROT – OESTE. Mas, devido a uma fortíssima contestação da parte dos municípios abrangidos, este índice foi suavizado para um mínimo de 2 hectares aquando da publicação em Diário da República.

R = 5 Km R = 5 Km R = 5 Km C. RAINHA TORNADA ÓBIDOS FOZ do ARELHO BOMBARRAL CADAVAL A8 A8 IP6 A15 PENICHE

RIO MAIOR / SANTARÉM NAZARÉ / ALCOBAÇA

LOCALIDADE NÓ de ACESSO

AUTO ESTRADA TROÇO SEM PORTAGEM (20 km) (4,5 km)

(4)

TECIDO EMPRESARIAL

Oportunidade empresarial.

Não é de desprezar o movimento centrífugo das indústrias em relação aos centros urbanos como forma de fomento da dispersão urbana.

Afastadas das zonas urbanas, quer pelos efeitos poluentes no meio urbano, quer por dificul-dades crescentes de acessos aos abastecimentos e ao escoamento da produção, quer por simples diferencial de valor fundiário ou posse de terreno ancestral, as indústrias fazem parte integrante da dispersão urbana. Quer reduzidas a zonas industriais quer disseminadas pelo território por característica e dimensão próprias, elas fixam a bacia de emprego numa dimensão de acessibilidade praticamente coincidente com a região (fig 5).

Fig 5 A dispersão dos edifícios de carácter industrial Fig 6 A dispersão dos equipamentos religiosos, escolares e recreativos

Fonte – Adaptação da cartografia vectorial do concelho de Caldas da Rainha 2001

INFRAESTRUTURAÇÃO

As infra-estruturas desempenham um papel crucial na dispersão urbana possibilitando comodidade urbana a um território, podendo ser classificadas em vários níveis consoante o seu grau de implementação.

Num primeiro nível teremos as vias de acesso e a infra-estrutura básica de energia eléctrica. Num segundo nível a infra-estrutura de abastecimento de água e saneamento básico e as telecomunicações, seguindo-se um terceiro nível constituído pela rede de gás (canalizado ou de fornecimento ao domicílio), rede de transportes públicos e recolha de lixos.

Podemos ainda considerar um quarto nível formado pela construção de vias especializadas (auto-estrada, caminho de ferro) de iniciativa do estado central, e a implementação de apoios sociais de proximidade (escola, lar de idosos, apoio domiciliário) normalmente de iniciativa autárquica (câmara municipal e/ou junta de freguesia) ou de instituições de solidariedade social. (fig 6)

Embora esta classificação dos meios potenciadores da DU não seja rígida na sua sequência, ela torna-se operativa na classificação do grau de infra-estruturação de um determinado território. Mas para determinar o tipo de infra-estruturação deveremos acrescentar outro modo operativo de classificação:

- FÍSICA (rede viária, telecomunicações, gás, água e saneamento…)(fig 8) - INSTITUCIONAL (instituições de apoio e administração – Autarquias, juntas

de freguesia, centro de saúde, bombeiros, gnr, escolas, instituições de solidariedade social….)(fig 6)

(5)

- PROMOTORA (nota) (existência ou criação de eventos) Feiras, mercados, espectáculos, festas…. (software do espaço público) - ECONÓMICA (tecido empresarial, indústria, comércio e serviços) - AMBIENTAL (qualidade do espaço nos seus aspectos biofísicos e de

paisagem)

Concelho de Caldas da Rainha

Fig 7 Mancha de construção Fig 8 Rede viária asfaltada

Fonte – Adaptação da cartografia vectorial do concelho de Caldas da Rainha 2001

A disseminação no território de empresas, escolas, pontos de abastecimento e espaços de lazer, permite algumas deslocações de proximidade, embora sem condições de urbanidade pela trans- formação das ruas em estradas sem percursos pedonais qualificados.7

Esta disseminação ocorre em paralelo com a existência e reforço de um centro urbano efectivo.

NOTA 7 – Embora se verifique o mesmo fenómeno referido por Álvaro Domingos em A Rua da Estrada, em situações de grande tráfego (estrada da Tornada), prevalece nos lugares rurais algo de inverso – a rua que se transforma em estrada. Pelo aumento do tráfego e da sua velocidade, a rua do espaço público de encontro transformou-se em via asfaltada e regularizada, de onde o peão é afastado .

Fig 9

Distribuição da área urbana em 1994 e área urbanizada entre 1994 e 2004

Fonte

In Expansão Urbana e Mercado Imobiliário, GONÇALVES

Com base em Zêzere, et, al, 2008

(6)

CONCLUSÃO

O concelho de Caldas da Rainha é uma área de edificação dispersa polarizada pela cidade de Caldas e inserido na região Oeste.

Esta edificação dispersa subsiste e adensa-se apoiada na mobilidade automóvel e na rede histórica das aldeias e dos casais agrícolas. Sustenta-se da criação de emprego na proximidade, em substituição ou complemento da actividade agrícola, agora com população activa minoritária e sofre mutações de ordem sociológica e acréscimos de população e construção, sobretudo na sua faixa litoral, na cidade de Caldas e na sua envolvente próxima.

A mobilidade e acessibilidade são fulcrais no funcionamento da dispersão urbana, nos mais variados aspectos que vão do abastecimento ao emprego e passando pela atracção de visitantes.

Funciona neste ponto a existência de uma estrutura tecnológica de acessibilidade – a autoestrada, que coloca a região no raio de influência de Lisboa.

Maio de 2010

Bibliografia

THE CITY ASSEMBLED - The Elements of Urban Form Through History, KOSTOV, Spiro - edição 1992, Thames & Hudson. SPRAWL and SUBURBIA, magazine reader, Editor - William S. Saunders - University of Minnesota Press 2005

Resolução do Conselho de Ministros n.º 64-A/2009 – Diário da República, 1.ª série — N.º 151 — 6 de Agosto de 2009.

Plano Director Municipal de Caldas da Rainha – VÃO, associados

METÁPOLIS - Ácerca do futuro da cidade - ASCHER, François, Celta Editora, tradução de METAPOLIS: ou l'avenir des villes por Álvaro Domingues

A Rua da Estrada, DOMINGUES, Álvaro, 1ª edição, Porto: Dafne Editora, 2009.

Expansão Urbana e Mercado Imobiliário – A Cidade de Caldas da Rainha Como Laboratório, GONÇALVES, Carlos – Tese de

Referências

Documentos relacionados

Destacam-se como equipamentos/serviços prioritários: Residências para pessoas com Doença mental, Rede de Cuidados Continuados Integrados para pessoas com deficiência,

Anschrift: Valinha, CX 924970-205 Jolda, Madalena Telefon: +351 96 686 20 95.

Pode ser usado em pisos como cimentados, concretos, ardósias, granilites, lajotas, marmorite, paviflex, manta vinílica, cimento.. polido, plurigoma e seu brilho pode ser

ASPECTOS QUE POSSIBILITARAM A GRILAGEM DAS TERRAS DO SÍTIO BARREIRO PELA FAZENDA ITAHYÊ..

“um serviço de extensão bibliotecária da biblioteca pública, que é disponibilizado através de um qualquer meio de transporte (carro, barco, comboio, etc.) e

A organização da educação proposta pela LDB foi tema frequente de debates, a problemática partia do princípio das dificuldades do educador em executar o

Ao terminar a prova, devolva ao Fiscal de Sala este Caderno de Questões, juntamente com a Folha de Respostas de questões objetivas e a Folha de Texto Definitivo da Redação e assine