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REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA NOS SETORES RESIDENCIAL E COMERCIAL

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REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA NOS SETORES RESIDENCIAL E

COMERCIAL

Maria Josicleide Felipe Guedes; Mirella Leôncio Motta; Maria José de Sousa Cordão; Bruna Marcela Delfino de Oliveira; Márcia Maria Rios Ribeiro1

RESUMO – Este trabalho apresenta um estudo de avaliação de alternativas tecnológicas de

gerenciamento da demanda de água nos setores residencial e comercial, considerando como caso de estudo um bairro da cidade de Campina Grande – PB. Avaliou-se a opinião dos usuários através de entrevistas sobre a aceitabilidade quanto à implementação de alternativas tecnológicas. Os resultados mostram que a implementação de bacias sanitárias VDR e torneiras e chuveiros econômicos destacam-se como as melhores alternativas sob os aspectos social, econômico e ambiental.

ABSTRACT – This paper presents an evaluation study of technological water demand

management alternatives considering domestic as well business water sector users. A neighborhood of Campina Grande City (Brazil) was chosen as case study. The alternatives were evaluated through interviews. The outcomes show low flush toilet, economical tap and shower devices as the best alternatives considering social, economical and environmental criteria.

Palavras-chave: gerenciamento da demanda de água, usuário comercial, semi-árido.

1 Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Caixa Postal 505, 58100-970, Campina Grande – PB. E-mails:

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1 – INTRODUÇÃO

O conceito de desenvolvimento sustentável – entendido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras atenderem às suas próprias (CMMAD, 1987) – agregado a fatores como a escassez de água, o crescimento demográfico, a expansão industrial e a redução da capacidade de investimento/financiamento do Estado, trouxe novo enfoque para o gerenciamento dos recursos hídricos. Tal enfoque trata não apenas do tradicional atendimento da demanda através do aumento da oferta pelo menor custo, mas também de manter a sustentabilidade da bacia hidrográfica – gerenciamento da oferta – e de adotar medidas que propiciem o uso racional da água pelos seus consumidores – gerenciamento da demanda (Winpenny, 1994).

Segundo Tate (2001), o gerenciamento da demanda considera o uso da água como uma demanda que pode ser alterada pela adoção de medidas, traduzindo-se em ações socialmente benéficas e consistentes com a proteção e a melhoria da qualidade da água, reduzindo o seu consumo. Tais medidas variam desde aquelas de cunho legal até as de caráter econômico, tecnológico ou educacional, com a sua seleção dependendo das características geográficas, climáticas, econômicas e culturais de cada local ou região (FAO, 2001).

Esta pesquisa tem por objetivo identificar e avaliar a implementação de medidas ou conjunto de medidas de gerenciamento da demanda urbana de água nos setores residencial e comercial do bairro Santo Antônio da cidade de Campina Grande – PB. São analisadas alternativas tecnológicas, para uma efetiva redução de consumo de água. Dentre as alternativas tecnológicas destacam-se: bacia sanitária de volume de descarga reduzido (VDR), torneiras e chuveiros econômicos, captação de água de chuva, medição individualizada em apartamentos e reuso de água.

2 – CASO DE ESTUDO

Campina Grande localiza-se no semi-árido nordestino, a uma altitude média de 551 m. É a maior cidade do interior do Estado da Paraíba, com uma população de mais de 350 mil habitantes. Apresenta clima equatorial semi-árido, com temperatura média de 25ºC e precipitação pluviométrica média anual de 730 mm (PMCG, 2002).

A cidade está localizada na bacia hidrográfica do rio Paraíba, porém, não é banhada pelo rio principal ou por quaisquer de seus afluentes maiores. Ela é abastecida pelo reservatório Epitácio Pessoa (açude Boqueirão, construído na década de 50), com volume máximo de projeto de 536 milhões de metros cúbicos. O assoreamento e a construção desordenada de reservatórios a montante do açude Boqueirão, entre outros fatores, são responsáveis pela redução deste volume (hoje de 450 milhões de metros cúbicos).

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O DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) é o órgão responsável pelos usos a que se destinam as suas águas, originalmente previstos como os seguintes: abastecimento, irrigação, perenização, piscicultura, turismo e geração hidrelétrica. O aproveitamento hidrelétrico nunca foi implantando, a piscicultura e o turismo, apenas em pequena escala.

O abastecimento de água da cidade é de responsabilidade da CAGEPA (Companhia de Água e Esgotos da Paraíba), desde a captação, elevação, tratamento e armazenamento até a distribuição.

2.1 – A crise no abastecimento de água em Campina Grande

Até o ano de 1997, o açude Boqueirão garantiu o abastecimento da crescente demanda de água de Campina Grande. Com a ocorrência da grande seca (1997-1999) surgiu a ameaça de colapso total do abastecimento da cidade. Com o objetivo de minimizar este quadro, foi implantado um regime de racionamento da distribuição de água, tendo início no segundo semestre do ano de 1998, prolongando-se até os primeiros meses do ano 2002; protagonizando a chamada crise 1998-2002 no abastecimento d’água de Campina Grande (Rêgo et al, 2001). Além do racionamento de água como forma de contornar a crise, o Governo do Estado iniciou a construção de uma nova barragem (Acauã), situada na mesma Bacia – demonstrando com esta atitude a opção pela expansão da oferta.

Uma análise da crise ressalta a deficiência de ações voltadas ao uso racional de água seja por parte do poder público, da sociedade civil ou dos próprios usuários da água. Fica ressaltado, portanto, a inexistência da gestão de recursos hídricos em três grandes níveis (Galvão et al., 2001; Rêgo et al., 2000; MP-PB, 1998):

 no nível de bacia hidrográfica: ausência de um eficiente sistema institucional de gerenciamento (entre outros aspectos, pode-se citar: comitê da bacia ainda não instalado) que retarda a implantação plena dos instrumentos de gestão (outorga dos direitos de uso, licenciamento de obras hidráulicas, cobrança pelo uso da água bruta). A situação favorece a manutenção da expansão da oferta (construção de pequenas e médias barragens, a montante do açude Boqueirão);

 no nível do açude Boqueirão: ausência de regras na operação do reservatório permitindo que as retiradas de água para os diversos usos sejam incompatíveis com as entradas anuais;  no nível dos usuários de água: inexistência da gestão da demanda rural e urbana de água

contribuindo para o uso perdulário.

A crise no sistema de abastecimento da cidade de Campina Grande vem motivando diversos estudos enfocando o gerenciamento da demanda como uma ferramenta para minimizar o problema.

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O trabalho, ora em discussão, faz parte destes estudos e contempla uma avaliação de alternativas tecnológicas nos setores residencial (residências e apartamentos) e comercial de um bairro da cidade.

2.2 – Bairro selecionado

Na tentativa de caracterizar o padrão de consumo de água nos setores residencial e comercial de um bairro da cidade de Campina Grande, selecionou-se o bairro do Santo Antônio. Justifica-se a sua escolha por ser um bairro de característica heterogênea, abrigando pessoas de níveis social, econômico e cultural de baixo a alto; além disso, apresenta um vasto comércio.

A parte do bairro do Santo Antônio em estudo é localizada no setor 06 da área de cadastro comercial da CAGEPA referente à leitura dos hidrômetros e faturas. Este setor possui uma área de aproximadamente 1,13 km2 e é abastecido pelo reservatório R-2, localizado no centro da cidade (CAGEPA, 2003). A área do bairro do Santo Antônio estudada possui 270 residências e 3 edifícios residenciais.

3 – ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS DE GERENCIAMENTO DA DEMANDA

3.1 – Bacia sanitária VDR

Atendendo à norma NBR 6452, de 1997, que determinou que até o ano de 2002 as caixas de descargas produzidas deveriam possuir capacidade máxima de seis litros por acionamento, o mercado brasileiro tem lançado produtos de alta tecnologia, seguindo uma tendência internacional em desenvolver produtos que utilizem racionalmente a água. Um desses produtos é a bacia sanitária VDR (Volume de Descarga Reduzido) que utiliza seis litros de água por acionamento representando uma economia superior a 50% em relação às bacias antigas. A bacia VDR tem um papel importantíssimo no gerenciamento da demanda. Estudos realizados pela SABESP constataram que a peça que apresenta o maior consumo de água em uma residência é a bacia sanitária (de 30 a 40% do total da água).

3.2 – Torneiras e chuveiros econômicos

As empresas brasileiras vêm desenvolvendo uma linha de produtos e dispositivos que reduzem o consumo de água. Um exemplo a ser citado é o desenvolvimento de torneiras e chuveiros econômicos que limitam a vazão, representando uma significativa redução no consumo. Os aparelhos que podem ser encontrados facilmente no mercado são: arejadores e restritores de vazão, equipamentos de fechamento automático, temporizadores, entre outros. O objetivo dessa ação é reduzir o consumo de água independente da ação do usuário ou da sua disposição em mudar

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de comportamento para reduzir o consumo de água. Os fabricantes garantem que a economia de água destes aparelhos está em torno de 30 a 70%.

3.3 – Captação de água de chuva

Uma das alternativas propostas para o gerenciamento da demanda é a captação de água de chuva em cisternas. A cisterna é um reservatório protegido (tanque), abaixo do nível do solo, onde se conservam as águas da chuva. Seu funcionamento prevê a captação de água da chuva, aproveitando o telhado da casa, escoando através de calhas (bicas) até o reservatório ou tanque.

3.4 – Medição individualizada em apartamentos

O sistema tradicionalmente utilizado para a medição de água nos apartamentos de edifícios multifamiliares é injusto, pois a tarifa dos serviços é efetuada pelo consumo médio obtido através do volume registrado no hidrômetro do edifício. A implementação da medição individual induz a mudanças de hábitos de consumo, favorecendo a redução do desperdício, pois permite que cada um conheça o seu consumo e pague proporcionalmente pelo mesmo.

3.5 – Reuso de água

O reuso ou reaproveitamento de água é o processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim. A grande vantagem da utilização desta técnica é preservar a água potável, reservando-a exclusivamente para o atendimento das necessidades que exijam a sua potabilidade para o abastecimento humano.

De acordo com o objetivo específico do reuso e com a qualidade da água utilizada são estabelecidos: os níveis de tratamento recomendados, os critérios de segurança a serem adotados, os custos de capital, operação e manutenção associados (Hespanhol, 2002).

4 – CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS ALTERNATIVAS

A aquisição de dados para esta pesquisa compreende as etapas de realização de entrevistas nos setores em estudo e pesquisas de campo para levantamento de custos das alternativas preferíveis no mercado local, fornecendo subsídios para a análise das alternativas sob diversos critérios – os quais estão descritos a seguir.

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4.1 – Critério social

Refere-se à aceitabilidade dos entrevistados em relação às alternativas (bacia sanitária VDR, torneiras e chuveiros econômicos, captação de água de chuva, medição individual em apartamentos e reuso de água). A aceitabilidade é obtida através de entrevistas nos setores. Três critérios de avaliação foram analisados:

i) o critério aceitabilidade geral, referindo-se ao grau de aceitabilidade da implementação das alternativas tecnológicas (independente dos relativos custos de implementação e manutenção);

ii) o critério aceitabilidade econômica, correspondendo ao grau de aceitabilidade das alternativas sob a perspectiva de custos;

iii) o critério aceitabilidade ambiental, referindo-se ao grau de aceitabilidade da implementação das alternativas sob a ótica ambiental, ou seja, escolha da alternativa de acordo com o benefício ambiental que esta possa vir a oferecer (redução de consumo de água).

4.2 – Critério econômico

A análise econômica é obtida através do estudo do retorno do investimento, ou seja, do tempo necessário para a amortização do investimento inicial com a implementação das alternativas. Para a realização da análise econômica nos setores estudados foram feitas simulações da implementação de alternativas isoladamente e de conjunto de alternativas conforme mostrado a seguir:

 1ª Alternativa: Consiste na implementação de uma cisterna de 15 m3 para alimentar duas bacias sanitárias de 12 l já instaladas;

 2ª Alternativa: Consiste na implementação de uma cisterna de 15 m3 para alimentar duas bacias sanitárias de 6 l já instaladas;

 3ª Alternativa: Consiste na implementação de uma cisterna de 15 m3 mais duas bacias sanitárias de 6 l a serem instaladas. A cisterna será utilizada para alimentar apenas as duas bacias de 6 l;

 4ª Alternativa: Consiste na implementação apenas de duas bacias sanitárias de 6 l a serem instaladas;

 5ª Alternativa: Consiste na implementação de torneiras e chuveiros econômicos a serem instalados, já instaladas duas bacias de 12 l;

 6ª Alternativa: Consiste na implementação de duas bacias sanitárias de 6 l e torneiras e chuveiros econômicos.

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Os estabelecimentos comerciais possuem características de uso de água distintos entre si. Diante deste fato foram estabelecidas categorias para comércios com características de uso de água semelhantes. De acordo com cada categoria verifica-se qual das combinações de alternativas, descritas anteriormente, serão mais viáveis, caso fossem implementadas (Quadro 1).

Quadro 1 – Classificação em categorias dos centros comerciais

Categorias estabelecimento Tipo de comercial

Atividades de maior consumo Alternativas

I veterinárias e pet Farmácias shop Higienização, banheiros de funcionários. Bacia sanitária VDR e torneiras e chuveiros econômicos

II supermercados Frigoríficos e Higienização (lavagem do piso, lavagem de objetos de trabalho etc), banheiros de funcionários.

Bacia sanitária VDR, torneiras e chuveiros econômicos e reuso de água (lavagem de pisos)

III Padarias Higienização, produção alimentícia.

Reuso de água apenas para lavagem de áreas

menos nobres

4.3 – Critério ambiental

A análise ambiental tem como critério a redução de consumo de água no bairro estudado através da implementação das alternativas descritas anteriormente.

5 – ENTREVISTAS

As informações em torno da aceitabilidade ou não das alternativas tecnológicas de gerenciamento da demanda foram adquiridas através de um questionário, concebido por Almeida (2004).

As entrevistas foram realizadas com uma amostra significativa do universo em estudo. O tamanho das amostras foi determinado com a utilização da NBR 5426 (Janeiro de 1985) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), nos planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos e na NBR 5427 (Janeiro de 1985). Foram selecionadas aleatoriamente 20 residências, 3 edifícios e 12 estabelecimentos comerciais.

6 – RESULTADOS E COMENTÁRIOS

De posse dos resultados das entrevistas e levantamento de custos das alternativas preferíveis, as alternativas tecnológicas são analisadas sob o ponto de vista social (alternativa que obteve maior aceitação geral dos entrevistados), econômico (através de cálculos de retorno do investimento) e

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ambiental (através da economia de água proveniente da implementação das alternativas). No quadro 2 é apresentado um resumo dos resultados obtidos com as entrevistas.

Quadro 2 – Resultado das entrevistas

Questionamentos Residências Apartamentos Comércio

Nível de conhecimento dos problemas de abastecimento de

água

95% 80% 100%

Sugestões mais citadas para minimizar esses problemas

Uso racional (60%) e racionamento (35%) Uso racional (80%) Consertos de vazamentos (20%) e conscientização (60%) Porcentagem de pessoas que

acham que há muita perda de água por vazamentos na rede de

abastecimento na cidade

95% 40% 60%

Opinião sobre os serviços prestados pela concessionária de

água e esgotos da cidade

Eficiente (35%) e ineficiente (35%) Eficiente (50%) e ineficiente (50%) Eficiente (50%) e ineficiente (50%) Medidas adotadas em épocas de

racionamento Armazenamento de água em caixas d’água e depósitos (50%) Armazenamento de água em caixa d’água coletivas (100%) Armazenamento em caixa de água (80%) e uso racional (40%) Porcentagem dos entrevistados que

acham que há muito desperdício de água

85% acham que há

desperdício 60% acham que há desperdício 80% acham que há desperdício Atividades de maior consumo de

água Lavagem de roupas (50%) e banhos (35%) Banhos (60%) e descargas na bacia sanitária (40%) Banheiros de funcionários (40%) e higienização (40%) Opinião a respeito da tarifa de água Barata (60% dos entrevistados) Barata (100% dos entrevistados) Cara (100%)

Opinião a respeito do aumento da tarifa de água como forma de induzir a diminuição do consumo

65% dos entrevistados acham que esta medida é eficaz

60% dos entrevistados acham que esta

medida não é eficaz

60% dos entrevistados acham que esta medida é eficaz Opinião a respeito da medição

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(continuação)

Questionamentos Residências Apartamentos Comércio

Alternativas tecnológicas mais conhecidas

Uso de água de chuva (95%), reuso de água (85%) Torneiras e chuveiros econômicos, medição individualizada e reuso de água (100%) Bacia sanitária VDR (80%), uso de água de chuva (100%), reuso de água (80%) Aceitabilidade geral Bacia sanitária VDR (90%) econômicos e medição Torneiras e chuveiros

individualizada (80%) Bacia sanitária VDR ou torneiras e chuveiros econômicos: (100%) Aceitabilidade econômica Bacia sanitária VDR (50%) Medição individualizada (80%) Bacia sanitária VDR (80%) Aceitabilidade ambiental Bacia sanitária VDR (40%)

Bacia sanitária VDR, torneiras e chuveiros econômicos e reuso de

água (60%)

Reuso de água: (80%)

6.1 – Aumento da tarifa de água

A tarifa de água pode ser um artifício de conservação da água, mas a redução do consumo depende de como o usuário responde ao aumento desta tarifa. De forma geral, o usuário tem interesse em adquirir determinado produto em quantidades maiores quando o preço baixa. Analogamente, é levado a reduzir seu consumo quando o preço se eleva.

Com relação às entrevistas verificou-se que 65% dos entrevistados nas residências acreditam em um aumento na tarifa como forma de reduzir o consumo de água. Este valor corresponde à 60% dos entrevistados nos apartamentos.

No setor comercial, o aumento da tarifa, segundo 60% dos entrevistados, traria uma economia considerável (deve ser lembrado que a tarifa é mais cara para este setor do que para o residencial). O aumento da tarifa, portanto, poderia induzir ao uso racional.

Caso uma medida como a citada (aumento da tarifa) venha a acontecer, deve ocorrer de forma justa, sem penalizar a população mais vulnerável financeiramente. Uma sugestão citada pelos próprios entrevistados é a da introdução de um bônus para os usuários que conseguissem diminuir o consumo de água.

6.2 – Redução de Consumo

Grande parte dos entrevistados relacionam a redução de consumo apenas com a diminuição da tarifa (ou seja, diminuição de custos). Logo, pode-se concluir que os entrevistados consideram a gestão da demanda de água como, simplesmente, uma questão de efetividade de custos, ou seja, o retorno financeiro compensará os investimentos de tempo e dinheiro empregados na economia de água.

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Mesmo sendo informada dos problemas de abastecimento de água que a cidade sofreu nos últimos anos, percebe-se que a população não é consciente que a redução de consumo é mais uma questão ambiental do que financeira. Reduzindo-se consumo, menor será o volume a ser captado do respectivo manancial (açude Boqueirão).

6.3 – Medição Individualizada em apartamentos

A população entrevistada dos apartamentos mostrou-se bastante preocupada com a questão do sistema tarifário atualmente aplicado na maioria dos edifícios da cidade. De acordo com 80% dos entrevistados nos apartamentos, a medição global é abusiva porque induz ao desperdício, uma vez que não se paga pelo que se consome.

6.4 – Aceitabilidade das alternativas

Verificou-se que a implementação da bacia sanitária VDR e torneiras e chuveiros econômicos são as alternativas mais interessantes e acessíveis, em relação à aceitabilidade geral para os entrevistados. Esse resultado está ligado diretamente ao custo de implementação da alternativa e ao fato de não exigir uma mudança de hábitos da população.

6.5 – Período de retorno de investimento e economia de água

O cálculo de retorno de investimento para a implementação das alternativas estudadas foi realizado para as residências e comércios. Não foi possível calcular o retorno de investimento das alternativas para os apartamentos. Dispondo de uma série de contas de água que contemplassem o período de 1 ano, verificou-se que o volume de água consumido pelos usuários destes edifícios era menor que a taxa mínima; desta forma, não haveria condições de calcular o retorno do investimento.

6.6 – Melhores alternativas para os setores

6.6.1 – Residências

De acordo com as simulações da implementação das alternativas estudadas, verificou-se que as melhores alternativas, sob o ponto de vista econômico e ambiental são:

 4ª alternativa (Implementação de duas bacias sanitárias), com período de retorno de investimento de 2 anos e 7 meses;

 6ª alternativa (Implementação de duas bacias sanitárias e torneiras e chuveiros econômicos), com índice de redução de consumo em torno de 40%.

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6.6.2 – Comércio

Os resultados estão apresentados por categoria comercial, conforme Quadro 1.

Categoria I:

 6ª Alternativa: (Implementação de duas bacias sanitárias de 6 l e torneiras e chuveiros econômicos), com período de retorno de investimento de 1 ano e 6 meses.

Categoria II:

 4ª alternativa (Implementação de duas bacias sanitárias), com período de retorno de investimento de 2 anos e 4 meses.

Categoria III:

 6ª Alternativa: (Implementação de duas bacias sanitárias de 6 l e torneiras e chuveiros econômicos), com período de retorno de investimento de 1 ano e 6 meses.

Com relação à análise ambiental (redução de consumo), a melhor alternativa para as três categorias foi a 6ª Alternativa (implementação de duas bacias sanitárias de 6 l e torneiras e chuveiros econômicos), com índice de redução de consumo de 40%.

7 – CONCLUSÕES

A partir da crise no sistema de abastecimento de água da cidade de Campina Grande, o entendimento do problema e das suas soluções passaram a ser discutidos por toda a sociedade, aumentando o grau de conscientização sobre a necessidade do uso racional da água. Entretanto, o bom nível de conhecimento da população entrevistada em relação ao problema não é garantia do não desperdício de água.

O açude Boqueirão encontra-se hoje em situação privilegiada devido aos altos índices pluviométricos registrados recentemente, mas isso não implica que um novo colapso no sistema de abastecimento de água na cidade não venha a ocorrer no futuro. Para que tal situação seja evitada faz-se necessário a implementação da gestão dos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba nos níveis sugeridos anteriormente, isto é, a própria bacia e os seus componentes: reservatórios (a oferta) e usuários da água (a demanda).

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No lado da demanda, as alternativas tecnológicas avaliadas nesta pesquisa apresentaram-se como de boa aceitação pela população – apesar da relativa rejeição quando considerados os custos para a implementação das mesmas. Com base nos resultados, conclui-se que as melhores alternativas (avaliadas sob os três critérios) foram a implementação de bacias sanitárias VDR e torneiras e chuveiros econômicos. Elas tiveram grande aceitabilidade por parte dos entrevistados (por não exigir uma mudança de hábitos), rápido período de retorno de investimento e uma significativa redução de consumo.

AGRADECIMENTOS

As autoras agradecem à CAGEPA, na pessoa do engenheiro Adalberto Aragão de Albuquerque, pelas informações e dados disponibilizados.

M. J. F. Guedes e B. M. D. Oliveira agradecem ao PIBIC/CNPq e a CAPES, respectivamente, pela concessão de bolsas de estudo durante a realização desta pesquisa.

BIBLIOGRAFIA

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