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TEORES DE METANOL EM AGUARDENTES VÍNICAS E BAGACEIRAS PORTUGUESAS

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Academic year: 2021

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TEORES DE METANOL EM AGUARDENTES VÍNICAS E

BAGACEIRAS PORTUGUESAS

Deolinda MOTA1;Ana C. P. M. das Neves LUÍS2; Otília CERVEIRA1;Ofélia ANJOS2,3; Sara CANAS1; Ilda CALDEIRA1*

1)INIA-Dois Portos/INRB, Quinta da Almoínha - 2565-191 Dois Portos, Portugal.

Tel.: +351261712106; Fax: +351261712426; e-mail: evn.icaldeira@mail.net4b.pt ou ilda.caldeira@inrb.pt 2) Unidade Departamental de Silvicultura e Recursos Naturais, Escola Superior Agrária de Castelo Branco, Apartado 119, 6000 Castelo Branco, Portugal.

3) CERNAS – Centro de Estudos de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade, Bencanta, 3040-316, Coimbra, Portugal

* Autor para correspondência

RESUMO

O metanol é um álcool resultante da degradação das pectinas que ocorre durante o processo de fermentação do vinho e do bagaço, passando para a aguardente durante o processo de destilação. A tecnologia utilizada na preparação dos vinhos e dos bagaços condiciona o seu teor nos destilados.

Por razões de toxicidade, o teor de metanol nas aguardentes é limitado a 1000g/hL de álcool puro nas aguardentes bagaceiras e 200g/hL nas aguardentes vínicas (Reg. CE. 110/2008). Assim, antes da colocação das aguardentes no mercado deve ser avaliado o teor deste álcool, o qual é normalmente quantificado por cromatografia-gás-líquido de alta resolução.

Neste trabalho são apresentados os teores de metanol de um número considerável de amostras analisadas no nosso laboratório, em 2007, 2008 e 2009. Os resultados obtidos mostram que nenhuma das amostras de aguardente vínica analisada apresentou um teor superior ao limite legal estabelecido. No caso das aguardentes bagaceiras, apenas quatro das amostras analisadas apresentaram teores acima do limite legal.

Palavras-chave: metanol, quantificação, aguardente vínica, aguardente bagaceira

1. INTRODUÇÃO

As aguardentes vínicas e as aguardentes bagaceiras são obtidas, respectivamente, a partir da destilação de vinhos e de bagaços previamente fermentados (Reg. CE. 110/2008). Após o processo de destilação, o destilado obtido terá que obrigatoriamente envelhecer em vasilhas de madeira, no caso das aguardentes vínicas, enquanto as aguardentes bagaceiras poderão ser comercializadas sem sofrer qualquer processo de envelhecimento.

Para além do etanol, já foram identificados em ambos os destilados centenas de compostos voláteis (CALDEIRA, 2004; CORTÉS et al., 2005). A composição volátil das aguardentes vínicas é influenciada por vários factores, nomeadamente a qualidade da uva (MAZEROLLES

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et al., 1992), a tecnologia de vinificação (RIPONI et al., 1992) e a tecnologia de destilação

(BELCHIOR e CURVELO-GARCIA, 1971; CARVALHO e BELCHIOR, 1983).

De modo similar, a composição volátil das aguardentes bagaceiras é condicionada por diversos factores, designadamente a tecnologia de vinificação (BELCHIOR e CARVALHO, 1978), as condições de conservação dos bagaços (BELCHIOR, 1977; BELCHIOR e CARVALHO, 1980; SILVA e MALCATA, 1999; CORTÉS-DIÉGUEZ et al., 2001) e a tecnologia de destilação (BELCHIOR e CARVALHO 1977).

O metanol é um dos compostos voláteis, que tem merecido particular atenção devido à sua toxicidade. De facto, trata-se de uma substância neurotóxica para o ser humano, afectando especialmente a retina, tendo sido detectadas várias situações de intoxicação por metanol, associado ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas e com teores elevados deste álcool (PAINE e DAVAN, 2001)

A presença de metanol nas aguardentes vínicas e bagaceiras resulta das desmetoxilação das pectinas da uva, por acção da enzima pectinametilesterase, que ocorre naturalmente durante a maturação das uvas e no processo de fermentação das uvas e dos bagaços. Como as pectinas existem em maior quantidade nas películas da uva, o teor de metanol é normalmente mais elevado nos vinhos tintos do que nos vinhos brancos e, no caso dos destilados, o seu teor é bastante mais elevado nas aguardentes bagaceiras do que nas aguardentes vínicas. Assim, encontram-se definidos limites legais para os teores de metanol nas aguardentes, sendo de 1000g/hL de álcool puro nas aguardentes bagaceiras e 200g/hL nas aguardentes vínicas (Reg. CE.110/2008).

O controlo do teor de metanol é, por isso, fundamental antes da colocação das aguardentes no mercado.

O objectivo deste trabalho é apresentar os teores de metanol de um número considerável de amostras de aguardentes que foram analisadas no laboratório do INIA - Dois Portos em 2007, 2008 e 2009.

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2.2. Obtenção do destilado e determinação do teor alcoólico

O teor alcoólico foi determinado por destilação e densimetria electrónica (OIV, 2009). Os resultados são arredondados às décimas e resultam da média aritmética das três leituras.

2.3. Quantificação do metanol por cromatografia gás-líquido de alta resolução

A quantificação de metanol foi realizada por cromatografia gás-líquido de alta resolução, de acordo com a NP 3263 (CT 83, 1990).

Nas aguardentes envelhecidas em madeira o metanol foi determinado no destilado previamente obtido, conforme 2.2. Nas aguardentes sem envelhecimento em madeira o metanol foi quantificado por análise cromatográfica directa das aguardentes.

Condições cromatográficas: cromatógrafo Focus GC (Thermo Scientific, EUA) equipado com

um detector de ionização de chama DIC (250ºC), injector (200ºC) a funcionar em modo de divisão e com uma coluna capilar de sílica de polietileno glicol (DB-WAX da J & W Scientific, Folsom, CA, EUA), 60m x 0,32 mm x 0,25 µm). O gás de arraste foi o hidrogénio (3,40 mL/mim) e a razão de divisão foi de 1:6. O programa de gradiente térmico foi o seguinte: 35ºC (8 minutos em isotérmica), 10ºC/min até 200ºC (9 minutos). O volume de amostra injectado foi aproximadamente de 1,0 µL

Preparação da amostra para injectar: 10 mL de aguardente ou de destilado foram

adicionados de 1mL de padrão interno (5-metil-2-pentanol)

Calibração: 10 mL de uma solução hidroalcoólica de metanol a 50% foram adicionados de

1mL de padrão interno e injectados nas mesmas condições das amostras analisadas, de acordo com a NP 3263 (CT 83, 1990). Na Figura 1 apresentam-se cromatogramas de uma aguardente vínica envelhecida, de uma aguardente bagaceira sem envelhecimento e de uma solução hidroalcoólica (50% v/v) de padrões.

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Figura 1- Cromatogramas de uma aguardente vínica envelhecida (A), de uma aguardente

bagaceira (B) e de uma solução hidroalcoólica (50%) de padrões (C). Identificação dos compostos: etanal (acetaldeido); acetato de etilo; metanol; 2-butanol; 1-propanol; 2-metil-1-

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3. RESULTADOS

Os resultados médios do teor de metanol das aguardentes bagaceiras e vínicas são apresentados na Figura 2.

Figura 2 – Teores médios de metanol nos dois tipos de aguardente de origem vínica

O valor médio do teor de metanol para as aguardentes vínicas foi de 66,9 g/hL A.P. Este valor é equivalente aos determinados por outros autores em aguardentes de Cognac (PUECH et al., 1984) e é ligeiramente superior aos valores apresentados noutros trabalhos (CANTAGREL et al., 1991; JURADO et al., 2008).

No entanto, todos os valores se encontram abaixo do limite legal de 200g/hL A.P., sendo de notar que 97% das amostras apresentam valores abaixo dos 100g/hL. (Figura 3).

M e ta n o l (g /h L A .P ) Vinica 2007 2008 2009 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 Bagaceira 2007 2008 2009 Média Erro padrão Desvio padrão Outliers

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Figura 3 – Histograma dos teores de metanol determinados nas aguardentes vínicas.

O valor médio das aguardentes bagaceiras foi de 751 g/hL A.P. (Figura 2). Valores semelhantes foram determinados em amostras comerciais de “Orujo de Galicia” (ORRIOLS et

al., 2008) e de aguardentes da Região dos Vinhos Verdes (PINTADO et al., 1999).

No caso das aguardentes bagaceiras, 92% das amostras analisadas apresentaram teores de metanol abaixo do limite legal actualmente estabelecido (1000g/hL A.P.) e 8% das amostras apresentaram valores muito acima desse limite (Figura 4). Estes valores, acima do limite, resultarão provavelmente de uma má tecnologia na obtenção das respectivas aguardentes, designadamente de condições de ensilagem menos adequadas e/ou de um prolongado tempo de ensilagem dos bagaços, que se sabe contribuírem de forma decisiva para um elevado teor de metanol (BELCHIOR, 1977; BELCHIOR e CARVALHO, 1980; SILVA e MALCATA, 1999; CORTÉS-DIÉGUEZ et al., 2001). No entanto, como se pode observar pelo histograma, são valores que aparecem como aberrantes, não representando a situação mais frequente. 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 Metanol (g/hL A.P) 0 2 4 6 8 10 12 F re q u ê n c ia A b s o lu ta

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Figura 4 – Histograma dos teores de metanol determinados nas aguardentes bagaceiras

4. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos demonstram que a tecnologia actualmente disponível permite a obtenção de aguardentes vínicas e bagaceiras com teores de metanol abaixo dos limites legalmente estabelecidos, consequência de uma crescente preocupação, por parte não só dos produtores como das entidades responsáveis, por garantir a qualidade destes produtos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BELCHIOR A.P., CARVALHO E. 1977 Qualidade e composição química das aguardentes de bagaço. I- Influência dos alambiques “Déroy” e “Caldeira Bagaceira” De Vinea et Vino Portugalia Documenta - Serie II 7(4) 9-15.

BELCHIOR A.P., CARVALHO E. 1978 Implicações da termovinificação nos teores em metanol e nas fermentações dos bagaços. De Vinea et Vino Porugalia Documenta - Serie II 8(3) 1-14.

BELCHIOR A.P., CARVALHO E. 1980 Factores que condicionam os teores de metanol nos bagaços De Vinea et Vino Portugalia Documenta - Serie II 10(2) 1-9.

BELCHIOR A.P., CURVELO GARCIA A.S.,1971. Comportamento de alguns constituintes voláteis das aguardentes tipo “Cognac” no decurso da destilação. Vin. Port. Doc., 6, 1-14.

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 Metanol (g/hL A.P) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 F re q u ê n c ia A b s o lu ta

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CALDEIRA I. 2004. O aroma de aguardentes vínicas envelhecidas em madeira. Importância da tecnologia de tanoaria 238.p. Dissertação para obtenção do grau de doutor em Engenharia Agro-Industrial, Instituto Superior de Agronomia - Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.

CANTAGREL R., MAZEROLLES G., VIDAL J.P., LABLANQUIE O., BOULESTEIX J.M 1991 L´assemblage: une etape importante dans le processus d ´elaboration des Cognacs. In: Les eaux-de-vie traditionelles d´origine viticole 243-253 Bertrand A. (ed.), Lavoisier - Tec & Doc, Paris.

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