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ACORDO DE PESCA COMO INSTRUMENTO PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA NO MUNICÍPIO DE CURRALINHO, PARÁ 1

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Academic year: 2021

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ACORDO DE PESCA COMO INSTRUMENTO PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA NO MUNICÍPIO DE CURRALINHO, PARÁ1

Monique Helen Cravo Soares Farias Christian Nunes da Silva

INTRODUÇÃO

pescado capturado e elevada dependência das populações ribeirinhas a esta atividade (MATOS; LOPES; FREITAS, 2018). No estado do Pará, Gouveia et al. (2015) relatam que a pesca artesanal predomina quanto ao total de pessoas envolvidas e no volume de produção, sendo praticada por populações que habitam a orla marítima, margens de rios e lagos do interior, combinando objetivos comerciais e de subsistência.

A intensificação da pesca tem aumentado vertiginosamente a pressão sobre os estoques pesqueiros e esse processo tem levado a construção de Acordos de Pesca (APs) que visam, grosso modo, ordenar quais atores sociais podem fazer uso do recurso sem colocar em risco a oferta de pesca e a integração socioeconômica das comunidades que sobrevivem, em parte, da obtenção desses recursos (SILVA; FERREIRA, 2018).

Oviedo; Bursztyn e Drummond (2015) expõem que a gestão participativa (ou cogestão) da pesca na região é conhecida localmente sob a designação geral de “ ”. E comunidades amazônicas e valem para lagos selecionados. São uma importante ferramenta para controlar o acesso irregular e a consequente degradação do recurso. Acordos são um passo na direção de alcançar um meio-termo entre os interesses individuais e coletivos, gerando benefícios em ambas as dimensões.

Em 31 de dezembro de 2002, por meio da Instrução Normativa nº 29, o IBAMA definiu Acordo de Pesca como um conjunto de normas específicas, decorrentes de tratados consensuais entre os diversos atores (stakeholders) dos

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Trabalho apresentado no V Seminário Nacional População, Espaço e Ambiente, realizado nos dias 19 e 20 de Agosto de 2019, em Diamantina-MG.

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recursos pesqueiros em uma determinada área definida geograficamente. Eis aí o Marco Legal que normatiza esses acordos sob a responsabilidade de atores sociais e institucionais, tendo o IBAMA como órgão fiscalizador e regulador, representante do Ministério do Meio Ambiente (SILVA; FERREIRA, 2018).

Silva (2017) conceitua os acordos de pesca como um conjunto de regras sociais e, eventualmente jurisdicionadas, estabelecidas por comunidades pesqueiras que definem o acesso e o uso do recurso pesqueiro numa determinada região. Esses acordos são comunitariamente construídos com o intuito de regulamentar o acesso dos comunitários aos lagos locais e determinam, grosso modo, a quantidade

socialmente aceitável de pescado – dependendo do tamanho, ciclo de produção do

peixe, o quilo – por pescador / pescadora. Paralelamente a isso, esses acordos instituem quem pode exercer a atividade da pesca no lago e em quais condições Sendo assim, barcos forasteiros são sumariamente excluídos do processo de captura do pescado.

Essa ferramenta é, na verdade, uma maneira de destacar o conhecimento tradicional dos pescadores através da partilha de responsabilidades, onde o governo e as comunidades compartilham a gestão dos recursos naturais locais, valorizando assim a capacidade que as comunidades possuem na gestão de recursos naturais e o planejamento espacial da pesca, reduzindo os conflitos internos e aumentando as comunidades de produção e renda. A partir dos acordos de pesca, os pescadores são reconhecidos pelo Estado como co-responsáveis pela gestão dos recursos pesqueiros que estão disponíveis no território, juntamente com os órgãos responsáveis pelo monitoramento e legalização da atividade nas áreas onde a pesca ocorre (SILVA; CARDOSO, 2015).

Assim, este trabalho tem como objetivo analisar a implementação do Acordo de Pesca das comunidades e congregações do Rio Canaticu e seus afluentes, no município de Curralinho, estado do Pará.

DADOS E METODOLOGIAS

O município de Curralinho está localizado no arquipélago do Marajó, na microrregião denominada furo de Breves, nas áreas de abrangência das comunidades do Rio Canaticu e seus afluentes.

O Rio Canaticu apresenta mais de 12 mil hectares de área, com 13 (treze) – PAE, 01 (uma) Reserva Extrativista –

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RESEX Terra Grande Pracuúba, 30 (trinta) afluentes habitados e mais de 1.500 (mil e quinhentas) famílias (IDEFLOR-BIO, 2016).

DISCUSSÃO

Nas áreas de abrangência das comunidades do Rio Canaticu e seus afluentes, ocorrem práticas pesqueiras exploratórias e insustentáveis do ponto de vista ambiental, ocasionando o aumento do esforço de pesca, e consequente diminuição dos estoques pesqueiros. Dessa forma, surgiu a necessidade das comunidades e congregações realizarem ordenamento normativo através de regras de uso dos recursos pesqueiros que visem dirimir as constantes agressões aos estoques.

Para isso, foram realizadas assembleias e reuniões comunitárias onde foram discutidas e acordadas consensualmente pelas comunidades e congregações ribeirinhas residentes ao longo do Rio Canaticu e seus afluentes, sendo elas: Aramaquiri, Jatiboca, Cuiapí, Tracuateua, Massaranduba, Lagarto, Cupijó, São José, Araçacá, Camucu, Sorva, Limão, Tartaruga, Ipanema, Pariacá, Pariacazinho, Boa Esperança, Oleiro, Curupuú, Pucu, Santa Maria, Inajatuba, Buçuteua, Mututi, Uruá, Escondido, Furo do Cacau, Timbotuba, Chapada, Miritipucu e Croarí.

As comunidades elegeram representantes para participar do Núcleo Gestor dos Acordos de Pesca do Rio Canaticu, colegiado que discutiu a primeira minuta dos acordos e que também é o responsável pela fiscalização e cumprimento destas regras, bem como o de proposição de alteração, retirada ou inclusão de quaisquer regras. Este Núcleo foi formado, além dos representantes das comunidades e Congregações do Rio Canaticu e seus afluentes, por representantes do poder público municipal, Secretarias municipais de Meio Ambiente e de Pesca e Aquicultura, e pela Colônia de Pescadores Z-37.

Foram realizadas assembleias e reuniões comunitárias onde foram discutidas e acordadas consensualmente pelas comunidades e congregações ribeirinhas residentes ao longo do Rio.

Em 17 de março de 2016, por meio da Instrução Normativa nº 001/2016, foi firmado o Acordo de Pesca das Comunidades e Congregações do Rio Canaticu e afluentes, em Curralinho, disciplinando o uso dos recursos pesqueiros e ordenando as artes de pesca utilizadas a partir da reunião das regras pactuadas pelas

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comunidades e congregações ribeirinhas com a lei vigente e os costumes tradicionais.

Por meio deste instrumento, foi proibida a captura, abate, armazenamento, beneficiamento, transporte e comercialização de jacarés e quelônios (tracajá, perema, jabuti, tartaruga, etc.) por período indeterminado, de acordo com a legislação de fauna silvestre (Lei Federal nº 9.605/1998).

Além disso, também foi proibida a captura, abate, armazenamento, beneficiamento, transporte e comercialização do aracu pelo período de 01 (um) ano a contar da data de publicação da Instrução Normativa. Após o término deste período, a pesca do aracu foi permitida somente em tempo, local e com artes de pesca definidas pelas comunidades e congregações ribeirinhas do Rio Canaticu e seus afluentes, observando os tamanhos mínimos de captura estabelecidos nas normas vigentes.

Já a pesca do tucunaré foi permitida somente em tempo, local e com artes de pesca definidas pelas comunidades e congregações ribeirinhas.

Também foram proibidas as seguintes as artes, apetrechos e utensílios de pesca, dentro dos limites da área deste acordo de pesca: pesca com explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; tarrafa; espingarda aquática (arpão de mergulho); puçá de lança; pesca tóxica, ou outro meio proibido pela autoridade competente (timbó, cunambi, assacu, zolhim, ou outro); pesca elétrica; rede de arrasto; tapagem; Igapuia; Batição; Piraqueira (somente nas comunidades e congregações do Rio Sorva); borqueio na beira do rio; uso de pilhas e baterias para a prática da pesca. Além disso, foi proibido o uso de matapi e demais apetrechos utilizados na pesca do camarão em áreas de igarapés e outros ambientes de reprodução (berçários naturais), reconhecidos e indicados pelas comunidades e congregações locais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a adoção do Acordo de Pesca na área do Rio Canaticu, buscou-se reduzir os conflitos entre os pescadores, uma vez que estes usuários participam diretamente na formulação das propostas de manejo, que visam atender aos seus próprios interesses.

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Apesar dessa iniciativa, que parte de uma ação local, é possível suscitar questionamentos sobre a efetiva participação comunitária, as possibilidades de avanço e os problemas de adequação legal.

Além disso, é necessário avançar mais nesses estudos, procurando entender os conflitos ambientais que estão por detrás do manejo da pesca e os distintos interesses em jogo, principalmente quando se trata de questões ambientais envolvendo a gestão de recursos naturais da Amazônia.

REFERÊNCIAS

GOUVEIA, N. A. et al. O seguro defeso do pescador artesanal: evolução dos recursos e beneficiários no estado do Pará. Revista Monografias Ambientais, Santa Maria, RS, v. 14, n. 2, p. 75-85, 2015.

MATOS, O. F.; LOPES, G. C. S.; FREITAS, C. E. C. A pesca comercial no baixo rio Solimões: uma análise dos desembarques de Manacapuru/AM. Biota Amazônia (Biote Amazonie, Biota Amazonia, Amazonian Biota), Macapá-Amapá, v. 8, n. 4, p. 1-8, 2018.

OVIEDO, A. F. P.; BURSZTYN, M.; DRUMMOND, J. A. Agora sob nova administração: acordos de pesca nas várzeas da Amazônia Brasileira. Ambiente & Sociedade, São Paulo, SP, v. 18, n. 4, p. 119-138, 2015.

SILVA, C. N.; CARDOSO, E. S. Fishermen and territorial trends in the Brazilian fisheries policies. International Journal of Geosciences, [S. l.], v. 6, n. 4, p. 339-349, 2015.

SILVA, R. E.; FERREIRA, R. R. Construção de acordos de pesca e políticas públicas para gestão de recursos pesqueiros na Região de Santarém, Pará (1990-2004). O Social em Questão, Rio de Janeiro, RJ, v. 21, n. 41, p. 327-354, 2018.

SILVA, R. E. Por uma reforma agrária aquática? Luta por reconhecimento social dos ribeirinhos do rio tapajós para a construção de Acordos de Pesca. Revista Ciências da Sociedade, Santarém, PA, v. 1, n. 2, p. 81-102, 2017.

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