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Paternidade e infertilidade: Reflexões sobre gênero, saúde e novas tecnologias reprodutivas

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30º Encontro Anual da ANPOCS GT 03 - Corpo, Biotecnologia e Saúde

24 a 28 de outubro de 2006

Paternidade e infertilidade:

Reflexões sobre gênero, saúde e novas tecnologias reprodutivas

Pe dro Fra nc is c o Gue de s do Na s c i me nt o

Doutorando

Programa do Pós Graduação em Antropologia Social Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Prólogo

Sábado, 06 de maio de 2006. Fui a campo acompanhado de uma colega que já havia trabalhado na mesma comunidade na periferia de Porto Alegre. Entramos em uma pequena loja onde vi um rapaz que segurava um bebê no braço. Enquanto organizava pequenos objetos de decoração na prateleira, dizia para a criança que estava ao seu lado e mexia nos bonecos que ele organizava: “Deixe aí, não mexa”.

“É teu filho?” “É sim...”

“É filho ou filha?”

“É um guri. Ele adora ficar no meu braço” “Qual a idade dele?”

“Tem três meses”

“Tem só esse ou tem mais?”

“Tem mais. São três. Esse aqui, mais esse [o que mexia nos bonecos] e aquele que tá ajudando ela ali... [referindo-se a um mais velho que estava ao lado da mulher do outro lado do balcão] mas eu já tô com a vasectomia marcada pro dia 10...” “É mesmo?”

“É... não dá pra ter mais...”

“Mas por que tu vais fazer isso...?”, pergunta minha colega que ouvira a conversa, brincando com o bebê em seu colo.

“É... tem que fazer... Três já tá bom. Tem que poder cuidar deles” “Tu já tinhas pensado nisso antes... de fazer vasectomia?”, pergunto.

“É porque na verdade nenhum deles foi planejado... A gente tava se cuidando, usando anticoncepcional e mesmo assim aconteceu... Então é melhor fazer logo a vasectomia. (...) Como são as coisas... tem gente que quer tanto ter filho e não consegue e outros já têm com muita facilidade... Eu acho que eu sou fértil demais!”

“Tu conheceste alguém que quis ter filho e não conseguiu?” “Ehhh... não... Porque ninguém gosta de falar sobre isso né?...” “Eu conheço”, disse sua esposa

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“É... tem uma mulher que já faz oito anos que tenta engravidar e não consegue... Tá fazendo tratamento e tudo e não consegue...”

“Eu conheço um rapaz que não tava conseguindo ter filho com a mulher dele, e não é que ele engravidou outra mulher...”, disse o marido, motivado pela informação da esposa.

“Como foi isso?”

“Ele louco pra ter um filho e não conseguia. Aí saindo com outra mulher, ela engravidou... já pensaste como são as coisas?”

“E a mulher dele ficou sabendo?” “Tá sabendo, tá a maior confusão...”

[...] “E como vocês decidiram que era tu que ias fazer a cirurgia e não tua esposa...” “É porque pra mulher é muito complicado... a mulher sofre muito... é não sei quantos meses pra se recuperar e homem não, é uma cirurgia simples. Três dias já ta bom”.

Do outro lado da rua fica a unidade de saúde onde eu ouvi de uma psicóloga quando me apresentei explicando o meu tema de pesquisa - infertilidade:

“Mas isso não chega até a gente não... Já faz nove anos que eu trabalho aqui e não me chegou nenhum caso... Teve um caso, mas era de uma pessoa de uma classe mais... que ascendeu. Mas ela não fez esse tipo de tratamento de ponta não, essas coisas... Eu nunca vi. A não ser que as minhas colegas tenham acompanhado”

“Vocês acompanharam algum caso de alguém que procurou tratamento para infertilidade?”, pergunta para a médica que está na mesa ao lado.

“Não! Pelo contrário! O que chega aqui é caso de fertilidade demais!” – responde olhando por baixo das sobrancelhas como quem responde a uma pergunta sem sentido, e continua preenchendo seus papéis.

Uma semana depois, voltamos à mesma loja, encontrando a esposa do rapaz que tinha feito a cirurgia e lhe perguntamos sobre seu marido:

“Ele está em casa se recuperando, tem que ficar três dias. Se fosse eu seria trinta... A anestesia não pegou e ele não quis fazer a geral.”

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“Mas ele que quis e eles fizeram. Era para ficar 40 minutos [na sala de cirurgia] e ele ficou três horas, não achavam o canal... Até os médicos falaram que a maioria desiste, mas ele foi até o final. Depois ainda veio dirigindo para casa, levou duas horas!” “Tu não foste junto?”

“Eu fiquei trabalhando. Ele foi sozinho, levou duas horas para voltar, dirigindo o carro.”

Esse trecho é pródigo em significados sobre o tema de que irei tratar aqui: homens, novas tecnologias reprodutivas e o lugar da infertilidade. Um homem que segura seu filho recém-nascido e diz que vai fazer vasectomia porque é mais simples para ele que para sua esposa. Esse homem diz que, antes do último filho nascer usavam contraceptivo, mas não funcionou. Talvez ele seja muito fértil... Ainda, a percepção da ação do marido é narrada pela esposa com entusiasmo frente o que ela parece perceber como marca de força e coragem. Um casal que, depois de um primeiro silêncio em relação à infertilidade diz conhecer dois casos de pessoas da sua comunidade que estão vivendo essa situação e as formas diferenciadas como estão encarando as mesmas. Do outro lado da rua, deparei-me com uma versão de um discurso, que é insistentemente repetido de que não existe um tal problema chamado infertilidade para os pobres e que já se sabe como eles cuidam de sua reprodução – não cuidando. Lado a lado estão os argumentos que podem ser usados seja para compor uma visão tradicional ou moderna das relações de gênero e da relação com a reprodução e que introduzem uma interrogação aos discursos correntes sobre pobreza, reprodução e novas tecnologias reprodutivas.

A partir do meu lugar de antropólogo, iniciado através de etnografia com homens pobres, preocupado com o debate sobre gênero e o feminismo, bem como através de minha atuação profissional e militante no campo dos direitos sexuais e reprodutivos1, minha intenção aqui é relacionar uma tradição de debates sobre gênero, masculinidades e a “participação” masculina no campo da saúde reprodutiva nascida no passo da crítica feminista, com as manifestações mais recentes desse debate postas pelas NTR. Nesse exercício, o meu objetivo central é a percepção de como o debate sobre infertilidade e

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Entre 1998 e 2005 fui integrante do Instituto Papai, ong com sede em Recife. Para uma reflexão sobre essa experiência no limite da reflexão acadêmica e da militância, ver Nascimento, 2006.

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reprodução aproxima-se e/ou distancia-se do debate fertilidade/anticoncepção e nesse, como o debate sobre paternidade se constitui.

O pano de fundo dessa proposta é a constatação de uma crítica que vem sendo dirigida às simplificações presentes no discurso de participação e responsabilidade masculina (Arilha, 2005) na esfera reprodutiva. Estas simplificações decorrem de uma percepção da experiência de homens e mulheres como sendo organizada a partir de uma divisão dicotômica entre público e privado, a qual ao invés de contribuir para possíveis revisões das desigualdades de gênero, acaba por reforçá-las, por naturalizá-las – como discutirei na última parte desse trabalho.

Algumas questões que orientam os objetivos aqui postos são: Como as discussões trazidas pelas NTR recolocam, superam ou modificam questões centrais no debate sobre reprodução e gênero? O debate sobre infertilidade e concepção, mais que o debate sobre fecundidade e contracepção, oferece outros caminhos para pensar o “lugar dos homens” na reprodução e o próprio debate sobre paternidade? Da mesma forma que na contracepção, quase a totalidade da tecnologia desenvolvida foi voltada ao corpo da mulher e sua medicalização, feministas têm apontado a manutenção da assimetria de gênero no desenvolvimento das NTR. Assim, como se tem identificado e constituído os usuários das NTR do ponto de vista de gênero? Tem havido espaço para considerar especificidades e demandas dos homens, particularmente os mais pobres, ou estas não chegam a ser expressas?

Considerando as mudanças geradas pela introdução das NTR e suas implicações em razão da centralidade do desejo de filhos no discurso que as cercam, Marilena Corrêa sugere cautela na adoção direta da noção de direitos reprodutivos como sendo capaz de abarcar todas as questões que emergem:

Enquanto estiveram restritas à contracepção, aos cuidados da mulher na gravidez com o bebê, essas diferentes dimensões dos direitos reprodutivos – saúde e escolha – apresentavam-se menos contraditórias, sendo articuladas de forma razoavelmente harmônica. O advento de tecnologias de concepção trouxe para esse campo tensões extremamente novas e importantes, e não é com tranqüilidade que se pode ampliar a noção de direito reprodutivo de modo a incorporar as novas tecnologias reprodutivas (Corrêa, 2003, p. 31)

O debate sobre NTR tem se consolidado no meio acadêmico brasileiro nos últimos anos em diálogo próximo com pesquisas na Europa e nos Estados Unidos. A

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amplitude e complexidade dos temas por elas articulados pode em parte explicar essa marca. A possibilidade de reflexão sobre a ciência e seu lugar de destaque na “resolução” de problemas, cada vez mais naturalizada como a forma de explicação de todas as dimensões da vida e o impacto nas relações sociais, particularmente no campo do parentesco e do gênero e a medicalização da vida social são algumas delas. No que se refere a desafios para a ciência em geral e a antropologia em particular, as ciências sociais têm apresentado importantes contribuições. Não é meu objetivo aqui fazer uma revisão de todo esse debate, já iniciado em outros espaços (ver por exemplo, Grossi et al, 2003, para um balanço dessa discussão no Brasil), mas destacar alguns pontos que considero importantes para a temática em questão.

Para refletir sobre estas ‘tensões extremamente novas e importantes’ (Corrêa, 2003) este texto está organizado em duas partes. Num primeiro momento, situarei o debate sobre NTR destacando as questões gerais que as mesmas suscitam na forma do debate sobre natureza e cultura, parentesco, gênero e a relação ciência-tecnologia-progresso. O objetivo aí é visualizar o contexto mais geral no qual as questões mais específicas aqui tratadas se inserem. Na segunda parte destacarei as especificidades do do debate sobre a entrada dessa tecnologia no Brasil, refletindo como algumas pesquisadoras brasileiras têm discutido a questão. Problematizarei aspectos ligados mais especificamente ao debate gênero-masculinidades-paternidade e como essas questões têm aparecido nas pesquisas direta ou indiretamente – em termos empíricos e/ou analíticos, suas diferenças, confluências e alguns pressupostos que são recorrentes.

Gênero, Parentesco e Novas Tecnologias Reprodutivas – Um sobrevôo

Fazendo um balanço do desenvolvimento das NTR e das reflexões acadêmicas e políticas postas pelas estas tecnologias nos Estados Unidos, Charis Thompson (2005) aponta que quando começou a estudar as tecnologias de reprodução assistida, a lógica empregada era similar àquela relativa à adoção. Baseado na premissa de que se deveria fazer o “melhor para as crianças”, o acesso a essas tecnologias dependia de um julgamento de outras pessoas sobre a capacidade de determinado casal de “serem pais”. A autora mostra como, nos EUA, aos poucos foi se passando dos interesses das crianças a

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uma reivindicação das novas tecnologias como “direito reprodutivo”. O assunto migrou para a esfera da “privacidade reprodutiva” e, mais que “fazer crianças”, a preocupação central passa a ser com o “fazer pais” (aqueles com escolhas reprodutivas, exercendo um direito de cidadão). Entretanto, os que não tinham acesso, agora, não eram mais os “pais não preparados ou não adequados”, mas aqueles que não podiam pagar por uma intervenção como essa, dividindo as pessoas entre aqueles com ou sem “cidadania biomédica”.

Thompson utiliza o termo “coreografia ontológica” (ontological choreography) para mostrar a extrema complexidade das esferas envolvidas nas tecnologias de reprodução assistida. Trata-se de coordenar diferentes aspectos mais amplos referentes à ontologia dos fenômenos envolvidos relativos à tecnologia, à ciência, ao parentesco, ao gênero, às emoções, às leis, à política e às finanças para a produção de pais, de crianças, e do reconhecimento desses personagens enquanto tais.

Uma das questões centrais nesse debate diz respeito ao campo do parentesco e tem a ver com o desenvolvimento da própria antropologia enquanto ciência (Schneider, 1984; Strathern, 1992; Thompson, 2005). Somada a esta, o debate sobre as NTR amplia o foco em relação às abordagens antropológicas clássicas que focavam as especificidades culturais, obrigando a uma análise das desigualdades transnacionais onde a reprodução é uma das dimensões presentes (Ginsburg & Rapp, 1995; Balen & Inhorn, 2002). Neste sentido, Charis Thompson busca encontrar paralelos entre o modo capitalista de produção e o que ela chama de “modo biomédico de reprodução”, salientando que “as tecnologias reprodutivas artificiais representam um aspecto de uma tendência crescente das pessoas em transformar problemas sociais em questões biomédicas” (Thompson, 2005 :11).

Antropologia, Ciência e Parentesco. Olhando para nós mesmos

A Antropologia se constituiu a partir da lógica de domínios autônomos, sendo parentesco e família considerados os domínios mais próximos do “natural” e sua análise baseada em uma concepção genealógica. David Schneider na medida em que se coloca como objeto a própria antropologia do parentesco, faz uma crítica epistemológica da mesma na qual:

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A procriação sexuada era vista como o cerne de um sistema em que o sangue simbolizava a proximidade ou distância entre um indivíduo e seus parentes. Da mesma forma que a família conjugal – composta de um casal heterossexual e seus filhos biológicos – era ‘inscrita na natureza’, o parentesco, concebido como irradiando em círculos concêntricos, de um ‘núcleo’ familiar até os primos mais afastados, era visto como algo universal, comum a todas as sociedades humanas (Fonseca, 2005: 16)

Sua obra constitui-se em uma crítica aos estudos de parentesco que tomariam o modelo americano, que tem os fatos biológicos como base de sua representação de parentesco, como referência para os demais modelos. O parentesco americano teria como base a reprodução heterossexual pela qual as crianças se ligariam a seus pais ao “partilharem substância biogenética” a qual simboliza uma “solidariedade difusa e duradoura” representada em termos nativos como “laços de sangue”. A natureza é o idioma dominante deste sistema cultural onde o coito é central. O parentesco é parte da natureza (para os americanos), mas ao mesmo tempo, privadamente, “ser parente” é algo fora da natureza (Schneider, 1980)2.

Esta crítica atualiza o debate acerca da relação entre natureza e cultura, presente de formas distintas em diferentes momentos na antropologia desde o seu surgimento e nem sempre tendo sido fácil fugir a suas armadilhas. Da mesma forma que Schneider, Marilyn Strathern em sua análise do parentesco ‘euro-americano’ irá caracterizá-lo como híbrido atentando para as conexões entre natureza e cultura. Haverá maior ou menor divergência entre autores sobre os “fatos biológicos da reprodução humana” desde estudos clássicos da antropologia sendo o debate sobre o nascimento virgem um desses (ver Franklin, 1997). A revisão das teorias de concepção demonstram que as mesmas têm profundas e específicas relações com questões sobre conhecimento, bem como sexualidade e reprodução. Além disto, indica que este debate tem a ver com as concepções de concepção que antropólogos e os grupos que eles estudaram têm, bem como suas implicações para o estudo da cultura como um todo (Franklin, 1997; Strathern, 1995).

Estas reflexões embora não possam ser vistas como geradas apenas pela emergência das NTR, sendo anteriores às mesmas, certamente contribuem em grande medida para sua problematização. Além destas implicações, as NTR são percebidas como

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trazendo em si um paradoxo: colocam novidades, produzem e “reproduzem o futuro”, ao mesmo tempo em que colocam velhas questões e reproduzem antigos modelos e arranjos. Não apenas no sentido defendido por Françoise Heritier (2000) de que os grupos sempre regularam a reprodução e desenvolveram arranjos de parentesco considerados por nós pouco usuais. Também no sentido de que, mesmo quando se faz uso das mais avançadas tecnologias, este uso está informado por valores e compreensões daqueles que o utilizam e da sociedade como um todo na qual estas tecnologias têm sido desenvolvidas. As tecnologias vêm sendo utilizadas em casos de infertilidade, mas também para a construção de famílias alternativas, mesmo quando nenhuma infertilidade é constatada. Entre outros autores, Charis Thompson argumenta que as tecnologias de reprodução assistida não apenas produzem bebês “milagrosos” , como também produzem pais, bem como novas formas ou re-arranjos de parentesco (Thompson, 2005: 01).

Para além das mudanças no campo reprodutivo, nas relações de parentesco e gênero, as inovações tecnológicas produzem efeitos materiais como o “enaltecimento do progresso cientifico e tecnológico ligado à idéia de bem estar, a importância do desejo de reprodução e à demarcação de limites à manipulação da vida humana” (Ramirez, 2003, p. 06). Presente aí está a lógica de consumo biotecnológico e de mercantilização da produção da vida, apoiada na noção de progresso científico como um valor em si mesmo, idéia discutida por Sarah Fanklin (1997) a partir da noção de embodied progress.

Esta complexa relação de diversos domínios faz com que, segundo Charis Thompson, o campo da infertilidade tenha se construído e se mantido de forma controversa e tensa dentro dos estudos feministas. Ela considera que a infertilidade tem sido o “texto/agenda perfeito feminista” por muitos anos e a medicalização da reprodução combina vários aspectos ao redor dos quais as fases e os conflitos entre as feministas e os vários atores envolvidos têm sido articulados. A autora demarca uma divisão entre duas fases das produções feministas em tecnologias reprodutivas e infertilidade – uma primeira de 1984 a 1991 e uma segunda fase de 1992 a 2001.

Deixando de lado várias sutilezas e ambivalências apontadas pela autora, é possível afirmar que em sua análise, a primeira fase foi marcada pelo pessimismo em relação a qualquer tipo tecnologia, onde acadêmicas e ativistas feministas denunciavam as conexões entre eugenia, medicina e controle da reprodução feminina. Apontavam que

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os tratamentos não curavam a infertilidade, apenas aliviavam a condição de involuntariamente não ter filhos; questionavam os altos recursos investidos nessas tecnologias e identificavam a barreira ideológica que começava a se colocar entre a mulher grávida e o feto. Por outro lado, começam a aparecer, no final dessa fase, etnografias feministas analisando as experiências de infertilidade com outro objetivo que não somente criticar as tecnologias, ainda que no começo deste período o objetivo fosse desconstruir a própria idéia do “desejo feminino” de ser mãe. Somado a isto, o ativismo das pacientes gerando tensão com o movimento e teóricas feministas resultou em que a indústria acabou roubando espaço das críticas radicais.

A fase dois, segundo esta autora, apresenta entre outras características, o retorno da voz das mulheres inférteis e de suas experiências; a transformação do pensamento acadêmico feminista e do estudo antropológico do parentesco; o estudo da infertilidade permitindo de forma mais aprofundada dissociar nascimento de uma criança de maternidade; a ampliação e complexificação do problema percebendo-se a passagem da certeza moral que caracterizava a primeira fase a uma ambivalência moral. É também nessa fase que se consolida a noção de biosociabilidade (ver Rabinow, 1999), significando que as fronteiras entre profissionais médicos e as pacientes no enfrentamento dos problemas foram borradas; o poder médico passa a ser visto como menos conspiratório e a distribuição do poder parecia mais difusa; a denúncia da medicalização e patologização da reprodução, mas exame do papel ativo dessas novas tecnologias na determinação dos significados da reprodução; a luta não era fora do laboratório e clínica, mas dentro desses contextos; inserção dos homens na discussão, não apenas como segmento hegemônico e dominador, mas como pólo relacional no processo e uma continuidade entre velhas e novas tecnologias. O que é novo e o que se mantém nessas tecnologias e nas tentativas de dar filhos às mulheres e aos homens e de lidar com o problema da infertilidade?

Esta caracterização em duas fases está relacionada, deve-se reforçar, à experiência norte-americana e a experiência brasileira é mais recente e marcada, entre outras diferenças, pela ausência de uma organização por parte de usuárias/os. Também não pretende ser pensada de forma fixa, mas apontar possíveis direções e o questionamento do que de fato implica em mudanças efetivas ou manifestações de mesmos elementos.

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De acordo com esta interpretação outras antropólogas feministas em outros contextos como Verena Stolcke (1986) e Françoise Heritier (2000) analisam o desenvolvimento dessas tecnologias e fazem a mesma pergunta: qual a novidade das NTR? Não se questiona o fato de que estas colocaram possibilidades até então pouco imagináveis para a maioria das pessoas. Os vários arranjos de parentesco possíveis (Thompson, 2001) são discutidos e tidos como desafiadores. Por outro lado, uma das mais recorrentes críticas e questionamentos é de que estas modificações não têm levado a uma redefinição do padrão de gênero assentado na subordinação das mulheres, principalmente através da medicalização de seus corpos e de uma espécie de retomada vigorosa da vinculação entre mulheres e maternidade. Essas questões têm sido percebidas também nos últimos anos no campo de estudos sobre NTR desenvolvido no Brasil (Corrêa, 1997, Barbosa, 1999, Grossi, Porto e Tamanini, 2003; Ramirez, 2003; Luna, 2004; Scavone, 2004), o que será discutido na seqüência.

Paternidade e Infertilidade: a construção de um campo

Analisando a configuração e expansão do uso das NTR3 no Brasil Martha Ramirez (2003) demonstra como essa se consolidou nos anos 90 no contexto da “mercantilização da saúde” no Brasil: processo através do qual a atenção médica se converteu numa mercadoria que é submetida às regras de produção, financiamento e distribuição de tipo capitalista (Ramirez, 2003, p.18). A autora situa a reprodução assistida como um exemplo dessa mudança, pois foram introduzidas no Brasil pela iniciativa de grupos de especialistas em reprodução humana, no exercício da medicina privada, os quais promoveram a “formação de profissionais no exterior e/ou a vinda de especialistas amplamente reconhecidos no campo internacional, para realizar treinamento dos médicos locais” (idem, p. 18).

Partilhando da noção referida acima de embodied progress, afirma que para estes profissionais as tecnologias reprodutivas são percebidas enquanto “ferramentas que permitem superar a ausência indesejada de filhos biológicos, mediante a produção de

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A forma como cada autor/a referirá o que aqui estou tratando como Novas Tecnologias Reprodutivas – NTR variará em virtude do amplo espectro coberto pelas mesmas – contracepção, reprodução assistida, etc. Para uma caracterização destas ver, por exemplo, Ramírez (2003, p. 2-3).

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bebês, a despeito das causas da infertilidade ou hipofecundidade e das implicações ético-morais, sociais e de saúde decorrentes do uso dessas técnicas”. Nessa perspectiva, perde-se de vista a dimensão da experiência e vivência da maternidade, enfraquecidas diante do desejo de transmissão e perpetuação genética, associada ao “projeto contemporâneo de experiências e realizações biotecnológicas, no qual se inscreve exacerbação e valorização da verdade genética”. (p. 83), onde os valores particulares dos médicos norteiam o que “pode e o que não pode ser feito”.

Cientes desses vários níveis envolvidos, as pesquisadoras que têm se dedicado a esse campo no Brasil têm buscado explicitar essa conexão, problematizando-os. As teorias de concepção, pessoa e parentesco presentes na busca por essas tecnologias são largamente debatidas por Naara Luna (2004) que analisa também o desenvolvimento dessas tecnologias4 e a experiência da infertilidade e seu tratamento. Não destacarei toda essa produção, mas aquelas que mais diretamente problematizam a relação paternidade-infertilidade por viabilizar o ponto que orienta minha discussão aqui – o debate masculinidades, gênero, paternidade e infertilidade enquanto orientados pela crítica feminista.

Não se trata de identificar um campo diferenciado de reflexão no Brasil. As especificidades podem ser percebidas, mas igualmente fica explícito como essa reflexão está sendo feita em conexão com o que tem sido discutido alhures, o que buscarei explicitar. Em levantamento recente, Marion Quadros identifica dois enfoques que vêm sendo privilegiados nos estudos sobre paternidade: “um deles é o significado da paternidade em decorrência de novas tecnologias reprodutivas, contracepção ou gravidez (...) e o outro, a questão da ausência e da participação paterna” (Quadros, 2006, p. 59-60).

Claudia Fonseca revisando o debate sobre masculinidade e paternidade e a ambivalência masculina quanto a seu lugar na família que quer constituir, aponta uma questão identificada por outros autores de diferenças percebidas entre as mulheres, que “querem filhos”, e os homens, que “querem família” (Fonseca, 2004: 17), ao mesmo tempo em que destaca o debate da adoção à brasileira e o lugar dos padrastos, pouco estudados, nesta questão. Sua investigação a partir do impacto do uso disseminado dos

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O processo de introdução e difusão das NTR no Brasil e seu impacto foi abordado em outros trabalhos, por exemplo, os de Marilena Corrêa (1997) e Rosana Barbosa (1999). Para um panorama dessa produção, ver Porto (2003).

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testes de DNA no Brasil articula o debate da paternidade com as NTR a partir da preocupação com o uso da tecnologia e da ciência para definir laços definidos até então de modo social, perdendo-se de vista todos os elementos outros que constituem relatedness. Além disso, oferece no lugar da “certeza” da paternidade prometida muito mais dúvidas. (Fonseca, 2004).

Rosely Costa (2001) em pesquisa focada nas definições de paternidade e masculinidade em um hospital público de São Paulo onde os homens buscavam tratamento para infertilidade e planejamento familiar identificou que a noção de paternidade é fundamental para a masculinidade dos casados, enquanto solteiros podiam acionar a falta de responsabilidades, a liberdade sexual e várias mulheres como elementos de sua virilidade. Além disso, a idéia de uma diferença entre paternidade e “fazer filhos” onde estão em jogo a importância do provimento e da educação. Assim como presente nos resultados de Fonseca (embora de uma perspectiva diversa – a negação da paternidade), a referência ao desejo por “filhos próprios”, do “seu sangue” aparece associada ao fato da criação de filhos da parceira, filhos da irmã ou adotivos. Estes mesmos homens apresentavam uma distinção entre cuidar, gostar de crianças e “fazer filhos”, elucidada pela busca por parte de pais adotivos por NTR para ter filhos biológicos (Costa, 2002: 342). A autora discute a definição da paternidade como informada pela teoria duogenética da reprodução, bem como os desafios postos para os homens no uso de NTR como inseminação artificial com doador anônimo (IASD)5 que se materializa apenas depois de fracassada a possibilidade de um filho através do “modo natural de reprodução” (Costa, idem). Esta recusa estaria associada a um temor dos homens ao associarem infertilidade e virilidade6:

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Gay Becker (2002) discute o dilema de pais e mães nos Estados Unidos sobre contar ou não a seus filhos que eles foram gerados a partir de sêmen doado. Divididos entre os que já tinham decidido contar, os que não o iriam fazer e os que estavam indecisos, duas noções centrais organizavam suas opiniões e a tomada de decisões: o direito à privacidade, no sentido de que consideravam que a decisão era do casal e temiam que, caso o filho viesse a saber poderia não aceitar o pai “não biológico”. Os que decidiam contar estavam orientados por uma noção de honestidade segundo a qual seria melhor que o filho soubesse por medo que, se aqueles soubessem por outra pessoa ou mesmo pelos pais depois, poderiam entender como se a “verdade” tivesse sido escondida.

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Marilyn Strathern (1995) sugere para um contexto diferente, o debate sobre o ‘nascimento virgem’ na Inglaterra, a possibilidade de pensar a resistência dos médicos como possibilidade de se perceberem simbolicamente assumindo um papel sexual ao fecundar as mulheres com uso das tecnologias.

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Uma vez que a esterilidade masculina aparece muitas vezes associada à impotência sexual, parece-me que a utilização da inseminação artificial com sêmen de doador poderia ser vista como reforçando o peso dessa associação porque sublinha a necessidade de participação de um outro homem na concepção do filho. A inseminação artificial com sêmen do doador propiciaria uma situação percebida como de substituição ou de traição, ambas podendo ser interpretadas como prova de incompetência ou falta de virilidade (Costa, 2003, p. 72; ver também Costa, 2001a, p. 124, 198-199).

Em um outro trabalho esta autora ao comentar a reação da imprensa por ocasião do nascimento da ovelha Dolly considera que a mesma estava relacionada ao fato de o elemento masculino ser dispensável para a formação da ovelha clonada. Os homens seriam assim, de modo análogo, dispensáveis para a reprodução (Costa, 2001b).

Marlene Tamanini (2003) em seu estudo em clínicas de reprodução assistida em Santa Catarina e Porto Alegre mostra como a busca por serviços de reprodução assistida faz com que os homens sejam vistos pela primeira vez como expostos ao ritmo e a lógica do serviço médico, do tempo e da perda da privacidade, questões há muito experimentadas pelas mulheres. Seu argumento se encaminha, quando analisa a emergência da noção de “casal grávido”, para a crítica feminista de que um problema a princípio masculino – a infertilidade – passa a ser englobado como problema do casal, sob a denominação de casal infértil.

Em todos estes casos está presente uma noção, muito difundida em todos os estudos sobre parentesco em tempos de NTR qual seja, a flexibilidade e multiplicidade das formas de construir relações de parentesco – relatedness - desnaturalizando a natureza, ao mesmo tempo em que a noção de filho biológico continua a definir, ou a menos a marcar fortemente os domínios do que é ser pai/mãe nos discursos sobre “pai social” e “pai real” (Becker, 2002). Outra dimensão recorrentemente analisada é a desigualdade de gênero percebida como uma das preocupações centrais acerca do desenvolvimento dessas tecnologias. A seguir refletirei sobre como essa discussão aparece marcada duplamente, por um lado, pela referência à “dominação masculina” inscrita na tecnologia e sua marca em corpos femininos e, por outro, a “ausência” masculina enquanto alvo dessas tecnologias.

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Um homem ausente? A dupla presença masculina no debate sobre NTR

Ao chamar atenção para este ponto não estarei minimizando os impactos diferenciados da tecnologia para homens e mulheres. Certamente não é exagerado considerar esse uso que está presente em várias dimensões, daí a pertinência da pergunta sobre o que muda e o que está sendo reproduzido7. O objetivo é problematizar essa relação apresentada quase que automaticamente, muitas vezes sem considerar possibilidades diferenciadas de interpretação. Uma perspectiva que em alguma medida partilha a visão, por exemplo, de Verena Stolcke de que as NTR enquanto uma “nova forma de opressão” teriam como objetivo “dar ao marido um filho do seu próprio ‘sangue’” (Stolcke, 1986, p. 21).

Em trabalho intitulado de forma provocante “The Missing Gamete”, Mathew Gutmann (2006) põe foco nos pressupostos implícitos na forma como tem sido conduzido o debate sobre a figura masculina. Para ele, embora as mulheres tenham sido “desnaturalizadas” pela crítica feminista, aos homens muitas vezes continua-se atribuindo categorias uniformes e muitas vezes a “cultura” acaba sendo usada para manter e difundir estereótipos a respeito da saúde reprodutiva e sexualidade masculina. Ele nos lembra a partir do exemplo do México que esse uso simplista da cultura esteve presente na crença, 30 anos atrás, de que planejamento familiar não iria vingar para as mulheres naquele país católico (Gutmann, 2006, p. 03). Na sua percepção qualquer discussão sobre a presença ou não dos homens nesse campo deve ser considerada em relação à posição secundária como os homens são considerados pelas agências internacionais e estudos antropológicos sobre saúde reprodutiva focadas nas mulheres. Tomando emprestada a expressão de Mara Viveros, afirma que entender essas questões implica em considerar os homens inseridos na “cultura contraceptiva feminina”.

Não é uma discussão recente a insistência do discurso das ciências sociais em geral e da antropologia em particular sobre a ausência mais que a presença dos homens,

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Em contexto diverso, quando a pesquisa de Claudia Fonseca indica que os teste de DNA – entre outras coisas – está servindo para acionar a pai provedor em muitas circunstâncias não estaríamos diante de um caso onde a tecnologia de ponta atualiza também – sob um outro aspecto - os velhos padrões?

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em especial no debate sobre família e parentesco. Comentando este debate, Marilyn Strathern destaca os sentidos nos quais o missing man influenciou a antropologia:

A primeira é uma ausência conceitual, ou seja, a centralidade presumida dos homens como agentes no controle dos arranjos de casamento afetou décadas de teoria antropológica não apenas em relação à natureza da vida social, mas também sobre os motivos para se engajar em relações e desenvolver o desejo por controle em primeiro lugar. O segundo é a ‘ausência burocrática’, que é a figura concreta do homem chefe de família que é ausente, alguém que aparentemente não faz parte dos arranjos domésticos, e a natureza da ausência dá uma grande dor de cabeça para administradores e coletores de impostos (Strathern, 2005, p. 29)

Associada a essa ausência burocrática haveria uma ausência ética, “uma ansiedade que surge na prática clínica e debate geral sobre concepção assistida. Procriação sem sexo pode ser um problema como são famílias com parceiros do mesmo sexo - não obstante o número de ‘pais’ envolvidos” (Strathern, 2005, p. 29, nota 3).

Essa percepção está presente também nas observações de Ginsburg e Rapp, ao discutirem a política global da reprodução, ao apontarem que “talvez em razão de nossas próprias categorias sociais nós dissociamos os homens do domínio doméstico” (1995, p. 04) – o que é diferente de pressupor tal exclusão. Da mesma forma, Van Balen e Inhorn reconhecem com desânimo a relativa falta de vozes masculinas em sua obra sobre infertilidade e afirmam que:

(...) a infertilidade masculina em si, bem como as experiências masculinas da infertilidade de suas parceiras, representa o grande território não mapeado na ciência social da infertilidade. Claramente, explorar este terreno é a mais urgente necessidade de pesquisa para o século vinte e um, uma vez que mais que metade de todos os casos de infertilidade globalmente envolve os chamados fatores masculinos (Balen, F. and Inhorn, M., 2002: 19)

É certo que embora estudos sobre infertilidade masculina tenham sido escassamente realizados, as pesquisas, não apenas no Brasil mas em diferentes países, indicam relação diferenciada de homens e mulheres com a infertilidade. Num primeiro momento aponta-se que a infertilidade é em geral vista como uma “falha” feminina. Depois, embora se relate sofrimento de homens e mulheres e homens sem filhos, bem como preconceitos a que ambos estão expostos, passa-se quase que inevitavelmente à consideração de que as mulheres tendem a definir mais sua identidade a partir da condição de mãe, enquanto que homens têm na infertilidade um questionamento da sua potência e virilidade. Fica aí implícita um dos pontos que estamos a problematizar.

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Esta percepção está relacionada a um importante conjunto de estudos que ao se dedicarem ao estudo de família e gênero em grupos populares, mostraram como o valor da paternidade relacionados a noções de assumir, ter obrigação e manter o respeito (Fonseca, 2000; Sarti, 1996; Scott, 1990, ente outros). Neste sentido, qualquer análise sobre ser pai e o desejo de “ter filhos” não deverá desconsiderar sua relação com importância de “criar filhos”, “sustentar” uma família8.

Paula Sandrine Machado em trabalho etnográfico com homens populares em Porto Alegre apresenta vasto material que aponta essa relação onde ter filho é prova de fertilidade, mas no plano relacional é “fundamentalmente mostrar o quanto se pode sustentar uma família”

A preocupação com a fertilidade é algo que atravessa fortemente o discurso dos entrevistados como uma dúvida que só é solucionada a partir do momento em que se faz um filho. Dessa forma, faz parte do "scripting" do "ser homem" provar que puderam procriar, na medida em que a paternidade põe fim, ao menos momentaneamente, ao risco de ver a masculinidade questionada. Nas concepções corporais masculinas acerca da "potência" em engravidar uma mulher, os homens podem ser fracos ou fortes, o que é uma medida do poder do seu esperma, o qual, analogamente, pode ser avaliado como mais fraco ou mais forte. Isso significa que nem todo homem possui um esperma suficientemente forte ou fértil. Assim, ainda que a infertilidade seja em geral atribuída às mulheres, os entrevistados consideram que um homem possa ter problemas. (Machado, 2003, p. 74).

Estudos sobre a forma como os homens foram estudados nas ciências sociais (Leal e Boff, 1996) problematizaram a polaridade homens/mulheres – sexualidade/reprodução que acabaria reificando essa oposição. A sensação, portanto, é que embora seja inegável a importância dos resultados de pesquisas que afirmam que “homens querem casa” e “mulheres querem filhos”, esses não podem ser tomados como a priori para qualquer pesquisa, sob pena de não conseguirmos perceber novos elementos, tampouco a forma como essas referências são agenciadas no cotidiano das relações.

Ao considerar que a infertilidade deve ser percebida em sua dimensão dialética (Inhorn & van Balen, 2002) relacionada à fertilidade, muitos autores nos fazem perceber que falar sobre NTR não implica em desvincular-se do debate mais geral sobre reprodução onde a contracepção está inserida. Neste sentido, é importante a observação

8

Para uma revisão desse debate, destacando a relação pai-provedor, ao mesmo tempo que propondo possibilidades de compreensão da noção de provedor e ausência paterna relacionada aos pobres, ver (Longhi, 2001).

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de Rosana Barbosa (2003) de que para as mulheres pobres a busca por NTR poderia ter sido evitada se eles tivessem tido acesso a um serviço de saúde de qualidade previamente. Sem entrarmos aqui no debate que, além dessa deficiência do serviço de saúde, há os casos onde a infertilidade não está relacionada a esse problema, importa refletir sobre os limites do acesso dessas tecnologias aos pobres de uma forma geral no Brasil.

Por essa razão cabe questionar: uma vez tendo se consolidado uma “tradição” de associar o problema do grande número de filhos aos pobres e a partir daí a preocupação passou a ser como controlar a reprodução, domesticando-a, como o recorte de classe marca a introdução das NTR no Brasil? Aqueles que sempre foram vistos como tendo problemas como hiperfertilidade conseguem ser percebidos como demandando por serviços para infertilidade? Quando pensamos reprodução pensamos mulheres e quando pensamos em esterilidade são as mulheres pobres que estão sendo considerados. Com relação à infertilidade, são as mulheres de alto poder aquisitivo que estão sendo referidas e aí, apenas em um segundo momento, pensa-se em mulheres pobres. É só depois desse percurso que conseguiremos pensar nos homens pobres?

Cabe também considerar se e como a visão da maternidade/paternidade como direito está dirigido a todos os grupos de todas as formas e como pode estar vinculado à forma como a tecnologia está se disseminando. Se, ainda de acordo com Barbosa (2003), as NTR podem criar categorias diferenciadas de mulheres, estas categorias estão sendo criadas a partir das mesmas categorias cristalizadas de homem e mulher ou estão sendo problematizadas? Para efeito de comparação com o contexto norte americano, Gay Becker (2000) lamenta não ter conseguido, ao longo de dois anos de pesquisa, localizar usuários pobres que tivessem conseguido dar continuidade ao tratamento devido a seus custos (Becker, 2000, p. 23). Destaca como o viés de classe e raça afeta a ideologia da maternidade de modo que “a disponibilidade de tecnologias reprodutivas mitifica a maternidade como a real vocação de mulheres brancas e de classe média”, refletindo a “economia moral das tecnologias reprodutivas, o que evoca distinções sobre quem é merecedor com base em tais vieses” (idem, p. 34).

Algumas das pesquisas realizadas e referidas aqui foram feitas em serviços públicos (por exemplo, Costa, 2001a, Luna, 20004, Barbosa, 2003) muitos deles vinculados aos hospitais universitários, relacionado ao discurso de “democratizar” o

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acesso de tais tecnologias no país (Ramirez, 2003). Contudo, questiona-se as limitações desse acesso – acentuado pela necessidade de em alguns casos arcar-se com a medicação; o longo período de espera para acessá-lo e as angústias daí decorrentes9.

Comentários finais

Considerando fundamental a reflexão sobre a reprodução da assimetria de gênero que continua a associar mulher e reprodução e, assim, trazendo sérias implicações para as mulheres, o que busquei neste texto foi acrescentar questões ao que vem sendo aqui discutido. Concordando com Gutmann (2006), pergunto-me se seria possível também pensar sobre as formas como o olhar para as mulheres e as implicações das NTR tem impedido um olhar para a medida em que estas mesmas tecnologias referem-se ou impactam corpo dos homens ou no lugar dos homens na reprodução de uma forma mais geral. Segundo este argumento, não se trata de alimentar o debate sobre a ausência masculina como se o processo reprodutivo fosse uma questão das mulheres ou dos homens, mas perceber as relações entre homens e mulheres como possibilidades de expandir nossas noções de gênero e sexualidade, sem como isso abrir mão das questões de diferença e desigualdade. Neste campo da reprodução e das NTR, particularmente, ainda será necessário considerar o cenário mais geral onde se incluem a indústria transnacional da biomedicina, as agências de planejamento familiar, instituições religiosas e fundações e agências multilaterais (Gutmann, 2006, p. 01).

Não se trata de sugerir uma substituição dos focos apenas, deixando-se de estudar as mulheres, uma vez são os corpos femininos que estão prioritariamente no centro de todas as NTR10. O que me questiono é a medida em que não atentar, ou atentar de forma

9

Analisando o acesso de usuárias de serviços públicos, Eliana Vargas destaca aspectos a serem considerados: “1. o tipo de acesso a recursos de saúde e procedimentos médicos favoráveis à reprodução; 2. sua exclusão das tecnologias de ponta; 3. o momento atual da demografia brasileira, caracterizado por uma expressiva queda da ‘taxa total de fecundidade’; 4. os efeitos de uma complexa conjuntura institucional voltada nas ultimas décadas para a garantia dos direitos reprodutivos e o acesso à contracepção”. (1999, p. 90).

10

“A partilha na participação não é igualitária, pois a maioria dos procedimentos continua se desenvolvendo nos corpos femininos, embora encontremos a medicalização masculina ou, em casos extremos, a microcirurgia para retirada de gametas do epidídimo. (...) Eventualmente, a etapa mais complicada para o homem será a de colher seu espermatozóide via ato masturbatório, enquanto que a mulher, além da ingestão acentuada e gradativa de medicamentos, faz também os exames ecográficos, a

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secundária para esta questão atualiza da mesma forma os padrões de gênero onde se continua a vincular mulheres a reprodução – a mesma crítica feita por muitas autoras como vimos acima. Uma saída para isso certamente não será focar empiricamente homens e mulheres, mantendo a mesma dicotomia como base, presumindo motivações e posicionamentos naturalizados. Vejamos algumas perguntas que podem ser colocadas para algumas das pesquisas pontuadas aqui.

Mesmo considerando legítima e necessária a forma como Tamanini (2003, 2004) conduz sua reflexão para evidenciar o ocultamento da especificidade da infertilidade naquele caso como um problema feminino, continua sendo necessário o desenvolvimento de investigações que posam formular questões que enunciem uma experiência diferenciada dos homens nesse ambiente. A autora também considera essa questão na medida em que afirma que

Ao entrar nesse campo, o homem expõe publicamente seu corpo, escolhe participar do tratamento, desloca a paternidade do cuidado dos filhos para a escolha consciente de fazer um filho em laboratório, e paga para isso. Esse fato traz a necessidade de ampliar estudos no campo da paternidade para perceber o que significam essas escolhas. Ao mesmo tempo, a participação do homem poderá vir a ser eliminada, se ele somente fizer a doação de gametas, na medida em que há indicativos da possibilidade futura de fazer embriões somente com óvulos, sem espermatozóides (Tamanini, 2004)

Buscar os significados dados por homens concretos para este processo permitirá entender a reconhecida penalização das mulheres como mais que um resultado de uma atualização de conceitos pouco problematizados como dominação masculina e machismo, por exemplo. Esta seria uma questão metodológica apenas ou de ordem mais geral? Quero dizer com estas perguntas que talvez a possibilidade de perceber novas questões enunciadas no contexto das NTR passa pela observação de como homens concretos estão experimentando esta realidade.

retirada de óvulos com analgesia e punção, a subseqüente transferência, com espera pelo implante embrionário, acompanhada de exames laboratoriais intensivos nos primeiros 14 dias, a ultra-sonografia e o acompanhamento pré-natal, sempre cheio de dúvidas e inseguranças. Acrescente-se ainda a marcação de cesariana, para a maioria dos casais entrevistados, tão logo se constate o 'andamento normal' da gravidez, mesmo que não haja impedimentos a priori para que se faça parto normal, além do medo de perder a criança com todo o investimento que ela significa. É opinião unânime, tanto na literatura feminista consultada quanto na literatura médica, que no caso da injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) as dificuldades masculinas são favorecidas.” (Tamanini, 2004).

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Na direção pontuada por Tamanini, refletindo acerca de como o avanço das ciências biomédicas de uma forma geral impactaram os padrões de maternidade e paternidade, Lucila Scavone (2004b) afirma que “As TCOs [tecnologias conceptivas] não trouxeram grandes inovações, pois continuaram reproduzindo a divisão tradicional dos papéis sexuais, afirmando o modelo biológico de família embora, por outro lado, tenham, contraditoriamente, aberto caminhos para novos arranjos familiares”. (p. 05). Enfatiza que é preciso entender-se as diferenças percebidas no processo não apenas como uma divisão de competências sexuais biológica e socialmente determinadas, mas como um resultado “das relações de dominação masculina” (p. 06) e que “a ausência dos homens no espaço reprodutivo é produzida pelas relações de dominação e poder entre os sexos” (p. 07). Cabe-nos perguntar o que significariam relações de dominação que não estivessem também inseridas nesse processo e definidas por ele e pelo tipo de relação aí mantido. Isto nos permitirá uma análise que não tome a subordinação feminina como uma evidência universal a priori, mas relações de poder que só poderão ser entendidas levando em conta os contextos onde se constroem11.

Certamente, um desafio que se apresenta para este tipo de estudos é dar conta destes contextos de poder. Muitas vezes, as falas obtidas através de entrevistas remetem a padrões gerais e posicionamentos onde não é possível perceber os sentidos atribuídos tampouco agency. Trabalhos etnográficos como os de Claudia Fonseca e Marlene Tamanini permitem uma maior percepção dos sujeitos investigados e seus dilemas não obscurecendo as ambigüidades e incertezas12.

Seria a mesma discussão de que a ciência é definida socialmente e politicamente (Haraway, 1995; 1996; Latour, 1999) que explica esse mesmo foco nas mulheres – no sentido de que se está refletindo sobre problemas concretos vivenciados pelas mulheres? O fato de a maioria das intervenções se darem no corpo das mulheres justifica por si esta forma de reflexão? Estas questões não se colocam por que não emergem como possibilidades de reflexão ou porque estão destituídas de legitimidade no campo?

11

O debate é longo envolvendo a constituição mesmo do debate feminista e não poderá ser estendido aqui. Para uma crítica importante para a forma como a subordinação feminina foi percebida pela antropologia e suas armadilhas, ver Rosaldo, 1990.

12

Não estou afirmando que todas as pesquisas deveriam ser de base etnográfica, tampouco desenvolvidas a partir da antropologia, conforme a referência a pesquisas de outras áreas aqui buscou deixar claro. No entanto, não podem passar despercebidas, por exemplo, as referências aos homens via fala das mulheres, por exemplo, sem que sejam explicitados os contextos dessas falas.

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Margareth Arilha (2005), partilhando da idéia acima exposta de Gutmann, a partir do argumento de Sonia Corrêa de que “transformar os homens vai exigir muito mais tempo e energia intelectual que simplesmente envolvê-los em programas de saúde reprodutiva ou de planejamento familiar” demonstra que está em jogo a necessidade de superação da percepção do gênero e dos problemas enfrentados pelas mulheres como definidos pela oposição homem/mulher e privado/público apenas. Sonia Corrêa relembrando que a mudança individual de homens não levará às mudanças esperadas afirma que essas mudanças demandariam “uma agenda de pesquisa e reflexão, mas, sobretudo uma agenda de coordenação política deveria ser ocupada internacionalmente e vinculada a um pensamento teórico e conceitual sobre gênero, em associação com as grandes questões econômicas” (Corrêa apud Arilha, 2005, p. 163-164). Assim, supor um olhar diferenciado para enxergar essas questões, bem como imaginar a possibilidade de inserção diferenciada dos homens no campo da reprodução e no debate sobre paternidade, demanda a superação da expectativa de que já se sabe o que esperar quando se busca essas questões.

Não gostaria de entrar na discussão a respeito da legitimidade das preocupações postas e dos problemas vivenciados pelas mulheres. Tampouco quero advogar uma separação entre o conhecimento que se constrói a partir de problemas enfrentados pelas mulheres e o próprio movimento feminista, pois o que discutimos até então é também como estas questões estão relacionadas. O ponto em debate é que, ao contrário das análises que focam as mulheres onde as especificidades e motivações, desafios e sofrimentos são tratadas de formas específicas, os homens, na maioria das vezes, pensados de forma genérica ou pela ausência e os usos feitos das NTR continuam a reproduzir a idéia de que os homens não tem nada a ver com reprodução. A impressão é de que, quando esta relação é percebida, ela continua a ser pensada apenas pelo domínio das desvantagens vivenciadas pelas mulheres – onde as “estruturas patriarcais” são percebidas como sinônimo dos homens concretos, como foi a característica não só do debate sobre infertilidade e paternidade, mas do campo sobre saúde reprodutiva de forma geral.

Aquela proximidade e diversidade de visões sobre o tema que convivem literalmente lado a lado (do outro lado da rua) como relatei no prólogo desse texto,

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sugere-nos que se faz necessário atentar para como se dá a escuta a essa diversidade não apenas pelo sistema biomédico, mas também por pesquisadores e os vários sujeitos presentes, mulheres e homens.

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