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Análises das variações das despesas do Governo Federal no período de 1995 a 2010

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Análises das variações das despesas do Governo Federal no

período de 1995 a 2010

MAURÍCIO CORRÊA DA SILVA*

Resumo: As despesas públicas são classificadas nas categorias econômicas: despesas correntes e despesas de capital. O objetivo geral deste artigo é analisar as variações que ocorreram nas despesas do Governo Federal, no período de 1995 a 2010, abordando os resultados contábeis para evidenciar o comportamento da aplicação dos recursos que foram obtidos do contribuinte numa visão macro. O estudo testa a hipótese que as despesas de capital devem variar em proporção maior que as despesas correntes. Neste sentido, foram realizadas análises dos grupos de natureza em relação às despesas totais e em relação com o Produto Interno Bruto e, ainda, foram realizadas comparações dos gastos dos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.

Palavras-chave: Despesas correntes; Despesas de capital; Superávit corrente; Déficit corrente.

Analyses of the variations of the Federal Government’s expenditures from 1995 to 2010

Abstract: Public expenses are divided into the economic categories: current expenses and capital expenses. The overall objective of this paper is to analyze the variations which occurred in the Federal Government's expenditures from 1995 to 2010, approaching the accounting results in order to highlight the behavior of resources application obtained from the taxpayer under a macro perspective. The study tests the hypothesis that the capital expenses shall vary in a greater proportion than the current expenses. For this purpose, analyses of the groups of nature in relation to the overall expenses and in relation to the Gross Domestic Product (GDP) were performed and, in addition, comparisons of the expenditures of Fernando Henrique Cardoso's and Luis Inácio Lula da Silva's governments were conducted.

Key words: Current expenses; Capital expenses; Current surplus; Current deficit.

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MAURÍCIO CORRÊA DA SILVA é Mestre em Ciências Contábeis - Multiinstitucional das UnB/UFPB/UFPE/UFRN; Professor Assistente II da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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1. Introdução

A administração pública utiliza recursos para cumprir sua finalidade. Os recursos são denominados de receitas públicas, que são provenientes de contribuições da sociedade e de recursos obtidos como empréstimos e financiamentos tomados etc. As receitas públicas são classificadas em categorias econômicas: receitas correntes e receitas de capital. As receitas correntes são provenientes dos impostos, taxas, contribuições etc. e se destinam ao pagamento das despesas correntes. As receitas de capital são provenientes das operações de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos etc. e se destinam ao pagamento de despesas de capital. A utilização dos recursos no funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade, tais como escolas, hospitais, segurança pública etc. que resultam em desembolso financeiro é denominada de despesa pública.

As despesas públicas são classificadas nas categorias econômicas: despesas correntes e despesas de capital. As despesas correntes se destinam a cobrir os gastos com a manutenção da máquina administrativa (água, luz, telefone, pessoal, juros, material de consumo etc.) e as despesas de capital se destinam a cobrir os gastos com as obras públicas (investimentos), inversões financeiras, pagamentos de amortização/refinanciamento de dívida etc.

Diante do acima exposto surge a seguinte questão-problema: que variações ocorreram nas despesas do Governo Federal, no período de 1995 a 2010?

Este artigo tem o objetivo geral de analisar as variações das despesas do Governo Federal, no período de 1995 a

2010, com a perspectiva de contribuir com informações para os cidadãos entenderem as variações das despesas públicas, bem como os conceitos básicos.

A relevância da pesquisa reside na demonstração dos resultados contábeis dos recursos que foram entregues pelos contribuintes como forma de evidenciar sua aplicação pelo governo federal. Os resultados das despesas públicas são apresentados de forma agrupada. O somatório das despesas totais (correntes e de capital) representam este retorno. Neste sentido, o estudo testa a hipótese que as despesas de capital devem variar em proporção maior que as despesas correntes. Se o governo procedeu desta maneira, priorizou os recursos em investimentos (obras públicas), inversões financeiras e pagamento de dívidas em detrimento dos recursos utilizados com a manutenção da máquina administrativa.

Convém esclarecer que os resultados contábeis das despesas públicas representam o registro de todas as ações do governo. A despesa pública é classificada sob os enfoques institucional (órgãos e unidades orçamentárias), funcional (funções e subfunções pré-fixadas), programático (programas que articulam ações identificadas em projetos, atividades ou operações especiais) e segundo a natureza da despesa em: categoria econômica, grupo de natureza da despesa, modalidade da aplicação e elemento da despesa. O Balanço Orçamentário sintetiza o confronto do registro das receitas e despesas correntes e de capital previstas com as realizadas.

Assim, a visão macro dos registros contábeis das despesas públicas representam os gastos do governo federal com os Programas do Bolsa

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Família, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Programa de Apoio ao Pequeno e Médio Produtor Agropecuário, Programa de Infra-estrutura Turística, Programa de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças e Agravos - Vigilância em Saúde etc., que foram registrados como despesas correntes e de capital.

Para atingir o objetivo proposto, o artigo está dividido em cinco partes. Após esta introdução, a parte dois destaca marcos teóricos para o seu entendimento. As partes seguintes tratam da metodologia, resultados e discussões e as considerações finais, conclusão e referências.

2. Marcos teóricos

O Estado necessita para atender as obrigações constitucionais, segundo Jund (2008), obter as receitas públicas; criar o crédito público (endividamento); planejar e gerir o orçamento público e despender recursos (despesa pública). De acordo com Vieira (2009), o Estado é dotado de funções que vão desde a esfera financeira e estrutural até aspectos sociais e econômicos.

As receitas públicas são classificadas nas categorias econômicas: receitas correntes e receitas de capital. As receitas correntes são subdivididas em: receita tributária; de contribuições; patrimonial; agropecuária; industrial; de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em despesas correntes. As receitas de capital são provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a

atender despesas classificáveis em despesas de capital e, ainda, o superávit do orçamento corrente (BRASIL, 1964). A Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964, não define as despesas, apenas as classifica em categorias econômicas (art. 12) em: despesas correntes (despesas de custeio e transferências correntes) e despesas de capital (investimentos, inversões financeiras e transferências de capital) e para atender ao disposto no Parágrafo 1º. do art. 50 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foram criadas as Despesas Correntes Intra-orçamentárias e as Despesas de Capital Intra-orçamentárias.

Os dispêndios, ou seja, as despesas públicas são classificadas segundo a sua natureza em categoria econômica, grupo de natureza de despesa e elemento da despesa, de acordo com a Portaria Interministerial nº 163, de 04 de maio de 2001, da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e da Secretaria de Orçamento Federal (SOF). (BRASIL, 2001).

Entende-se por grupos de natureza de despesa a agregação de elementos de despesa que apresentam as mesmas características quanto ao objeto de gasto. O elemento de despesa tem por finalidade identificar os objetos de gasto, tais como vencimentos e vantagens fixas, juros, diárias, material de consumo, serviços de terceiros prestados sob qualquer forma, subvenções sociais, obras e instalações, equipamentos e material permanente, auxílios, amortização e outros de que a administração pública se serve para a consecução de seus fins.

Os grupos de natureza da despesa, de acordo com Slomski (2001) e Bezerra Filho (2004) para as despesas correntes são: Pessoal e Encargos Sociais

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(despesas do pessoal civil ou militar; ativo ou inativo, bem como as obrigações de responsabilidade do empregador); Juros e Encargos da Dívida Interna e Externa (pagamento de juros, comissões e encargos de operações de crédito); Outras Despesas Correntes (aquisição de material de consumo, pagamento de serviços prestados, transferências correntes etc.). Para as despesas de capital, os grupos de natureza da despesa são: Investimentos (despesas em programas que visem ao desenvolvimento ou aprimoramento dos serviços prestados pelo Estado, através de construções, aquisição de terrenos, aquisição de materiais permanentes etc.); Inversões Financeiras (aquisição de imóveis não destinados a edificações, constituição e/ou aumento de capital de empresas etc.) e Amortização/refinanciamento de Dívida (despesas com o pagamento do principal e da atualização monetária ou cambial da dívida).

Gerigk (2008) esclarece que as despesas correntes têm por finalidade manter funcionando a estrutura pública existente, para atender as necessidades dos cidadãos e as despesas de capital, geralmente, têm por objetivo aumentar o patrimônio público. Kohama (2006) aprofunda o conceito de despesas de capital como sendo os gastos realizados pelas instituições públicas, cujo propósito é o de criar novos bens de capital ou mesmo adquirir bens de capital já em uso.

As despesas correntes representam a aplicação dos recursos públicos para os gastos com a atividade-meio e as despesas de capital representam os gastos com a atividade-fim.

3. Metodologia

Os procedimentos metodológicos utilizados nesta investigação são as pesquisas descritiva (quanto aos objetivos), bibliográfica (quanto aos procedimentos) e quantitativa e qualitativa (quanto a abordagem do problema). Tais procedimentos são recomendados por Beuren et al. (2003) na realização das pesquisas em contabilidade.

A pesquisa descritiva descreve as características de determinada população ou fenômeno (GIL, 1999). A população (universo) da pesquisa constituem nas despesas públicas do Governo Federal e por conveniência a amostra foi delimitada nas despesas do período de 1995 a 2010.

Os dados foram coletados do sítio eletrônico da Secretaria da Fazenda

Nacional (STN) –

www.stn.fazenda.gov.br, já convertidos para a moeda de 2010 pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna). Os valores do Produto Interno Bruto (PIB) foram extraídos do sítio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), expressos a preços correntes. A pesquisa bibliográfica fornece a plataforma teórica do estudo (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). A pesquisa quantitativa caracteriza por utilizar algum instrumento estatístico e a pesquisa qualitativa por descrever e analisar os fatos (BEUREN et al., 2003). A análise dos dados foi realizada com os instrumentos estatísticos: desvio-padrão, média aritmética e o coeficiente de variação (estatística descritiva) e a porcentagem matemática. As análises estatísticas foram realizadas com base no que ensinam Levine, Berenson e Stephan (2000), Martins (2002) e Oliveira (2010), com a

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utilização da planilha eletrônica Microsoft Office Excel 2007®.

As limitações do presente estudo referem-se às análises de resultados contábeis das despesas públicas de forma agrupada para evidenciar o comportamento das mesmas. Desse modo, as questões econômicas, políticas, sociais etc., que foram levados

em conta pelo governo ao aplicar mais recursos em um grupo de natureza de despesa em relação a outro não foram analisadas.

4. Resultados e discussões

Para facilitar o entendimento dos resultados apresentados nas Tabelas 1 a 7, o Quadro 1 relaciona as siglas com seus significados.

DESP_COR despesas correntes;

PES despesas de pessoal e encargos sociais;

JED despesas de juros e encargos da dívida;

ODC outras despesas correntes;

DESP_CAP despesas de capital;

INV despesas de investimentos;

INF despesas de inversões financeiras;

ARD despesas de amortização/refinanciamento da dívida;

DP desvio-padrão;

Média média aritmética;

CV coeficiente de variação;

PIB Produto Interno Bruto;

PES/DESP_COR razão entre as despesas de pessoal e encargos sociais e as despesas correntes; JED/DESP_COR razão entre as despesas de juros e encargos da dívida e as despesas correntes; ODC/DESP_COR razão entre as outras despesas correntes e as despesas correntes;

INV/DESP_CAP razão entre as despesas de investimentos e as despesas de capital; INF/DESP_CAP razão entre as despesas de inversões financeiras e despesas de capital;

ARD/DESP_CAP razão entre as despesas de amortização/refinanciamento da dívida e as despesas de

capital;

PES/PIB razão entre as despesas de pessoal e encargos sociais e o Produto Interno Bruto;

JED/PIB razão entre as despesas de juros e encargos da dívida e o Produto Interno Bruto;

ODC/PIB razão entre outras despesas correntes e o Produto Interno Bruto;

INV/PIB razão entre as despesas de investimentos e o Produto Interno Bruto;

INF/PIB razão entre as despesas de inversões financeiras e o Produto Interno Bruto;

ARD/PIB razão entre as despesas de amortização/refinanciamento de dívida e o Produto

Interno Bruto.

Quadro 1 – Siglas e seus significados. Fonte: elaboração própria.

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As Tabelas de 1 a 5 apresentam os resultados da pesquisa em relação aos dados do Governo Federal, no período de 1995 a 2010 e as Tabelas 6 e 7

apresentam comparações de gestões dos governos dos Presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010).

Tabela 1 - Análise descritiva das despesas do Governo Federal, no período de 1995 a 2010

R$ 1,00

Estatísticas Despesas Correntes (DESP_COR)

PES JED ODC TOTAL

DP 15.091.742.666,20 34.879.874.448,10 87.572.989.310,24 125.418.667.420,85

Média 135.334.349.554,39 107.269.997.585,20 394.077.560.152,07 636.681.907.291,66

CV 11,15% 32,52% 22,22% 19,70%

Estatísticas Despesas de Capital (DESP_CAP)

INV INF ARD TOTAL

DP 5.702.599.498,04 60.257.065.350,07 123.627.380.220,63 143.098.587.534,77

Média 18.875.454.222,76 59.916.883.446,14 567.983.445.905,50 646.886.744.570,85

CV 30,21% 100,57% 21,77% 22,12%

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se na Tabela 1, que as variações relativas (CV - coeficiente de variação) das despesas correntes foram menores (CV de 19,70%) que as variações das despesas de capital (CV de 22,12%). Isto significa que o Governo Federal teve mais regularidade (menor variação) nos gastos correntes (despesas com a máquina administrativa) em relação aos gastos de capital.

A maior variação (dispersão) relativa das despesas correntes (DESP_COR) ocorreu com as despesas de juros e encargos da dívida (JED). Tais recursos variaram de R$ 72.390.123.137,10 a R$ 142.149.872.033,30 em torno da média de recursos aplicados (análise do desvio-padrão - DP). A maior média aritmética (Média) dos recursos correntes foram com as outras despesas correntes (ODC).

Quanto às despesas de capital a maior variação (dispersão) ocorreu com as despesas de inversões financeiras - INF (CV de 100,57%). Este coeficiente representa alta dispersão dos valores em torno da média e baixa representatividade da média da série, ou seja, houve no período uma grande instabilidade na aplicação destes recursos.

A menor média das despesas de investimentos (INV) em relação às despesas de inversões financeiras (INV) e de amortização/refinanciamento da dívida (ARD) e a variação em torno da média de R$ 13.172.854.724,72 a R$ 24.578.053.720,80 (análise do desvio-padrão) para as referidas despesas de investimentos (obras públicas, aquisição de material permanente e equipamentos etc.) - valores inferiores da variação dos demais grupos de natureza de despesa de capital, significa que o Governo

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Federal deixou de realizar obras públicas (despesas de investimentos)

para pagar mais as outras duas despesas de capital.

Tabela 2 – Análise da participação (porcentagem) dos grupos de natureza da despesa, no período de 1995 a 2010

Fonte: dados da pesquisa.

A razão dos grupos de natureza de despesa e as despesas por categoria econômica (Tabela 2) evidencia como foram utilizados os recursos dentro das referidas categorias. A média geral dos anos analisados (1995 a 2010) de 61,66% (ODC/DESP_COR) para as outras despesas correntes e as despesas correntes (maior participação nas despesas correntes) é justificado pela ocorrência da classificação do maior vulto das despesas correntes neste grupo de natureza de despesa. São incluídas as transferências de recursos para os Estados, Distrito Federal e os Municípios, os gastos com luz, água, energia elétrica, material de consumo etc.

As despesas de pessoal e encargos sociais em relação às despesas correntes (PES/DESP_COR) com a média geral superior ao das despesas de juros e encargos da dívida (JED/DESP_COR) é esperado, haja vista que o setor público federal emprega muita gente.

Nas despesas de capital, a participação das despesas de investimentos em relação às despesas de capital –

INV/DESP_CAP (média de 3,02%) evidencia a pouca utilização dos recursos de capital para as obras públicas e a média de 88,15% para amortização/refinanciamento de dívida (ARD/DESP_CAP), o grande volume de pagamentos de despesas de empréstimos e financiamentos tomados. Convém destacar na Tabela 2, a média geral dos recursos utilizados de despesas correntes para pagamento de juros e encargos da dívida (JED/DESP_COR – média de 16,59%) e o pagamento do principal (amortização) e refinanciamento (ARD/DESP_CAP) de 88,15% dos recursos de capital. Tais valores comparados com os investimentos (média de 3,02%) em obras públicas demonstram que o governo tem retornado muito pouco para o contribuinte. As despesas com pagamentos de juros, encargos da dívida

(despesas correntes) e

amortização/refinanciamento de dívida (despesas de capital) movimentaram grande parte do orçamento do Governo Federal.

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Tabela 3 – Apuração do superávit ou déficit corrente, no período de 1995 a 2010, na moeda de 2010

Anos Superávit/Déficit Corrente Anos Superávit/Déficit Corrente

1995 0,95582 2003 1,00137 1996 1,02204 2004 1,02474 1997 1,02302 2005 1,01696 1998 1,00558 2006 0,92614 1999 0,95483 2007 1,00246 2000 1,01007 2008 1,07864 2001 0,98531 2009 0,99903 2002 1,01180 2010 1,04550

Fonte: dados da pesquisa.

O superávit corrente (receita corrente maior que a despesa corrente) demonstrado na Tabela 3 ocorreu em 11 anos. Isto significa uma situação positiva, haja vista que sobraram recursos correntes (receitas de impostos, taxas etc.) para o pagamento de despesas de capital, o que demonstra capitalização de recursos. O déficit corrente ocorreu nos anos de 1995, 1999, 2001, 2006 e 2009. Nestes anos faltaram recursos para o pagamento das despesas correntes (déficit corrente).

O superávit corrente representa os recursos que sobraram do pagamento de despesas correntes (custeio da máquina pública) que foram cedidos pelos contribuintes como forma de impostos, taxas, contribuições etc. (receitas correntes). Convém registrar que neste caso o governo realizou obras públicas com os recursos diretamente arrecadados do contribuinte e não apenas com a utilização de recursos de empréstimos, financiamentos e alienação de bens (receitas de capital).

Tabela 4 – Apuração do superávit ou déficit de capital, no período de 1995 a 2010, na moeda de 2010

Anos Superávit/Déficit de Capital Anos Superávit/Déficit de Capital

1995 1,08508 2003 1,09323 1996 1,05408 2004 1,02662 1997 1,09426 2005 1,07750 1998 1,02453 2006 1,09874 1999 1,07828 2007 1,15039 2000 1,08768 2008 0,93014 2001 1,02899 2009 1,32451 2002 1,12801 2010 1,02427

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Observa-se na Tabela 4, que sobraram recursos de receitas de capital (operações de crédito, alienação de bens etc.) em todos os anos analisados (superávit de capital), exceto o ano de 2008. Isto significa que o Governo deixou de investir e pagar dívidas.

Neste caso, o superávit de capital não representa uma situação positiva. O governo arrecadou os recursos de capital e não retornou devidamente para o contribuinte, principalmente em obras públicas. Os recursos arrecadados devem ser utilizados.

Tabela 5 – Comparações dos grupos de natureza da despesa com relação ao PIB

Fonte: dados da pesquisa.

A comparação dos valores das despesas por grupos de natureza da despesa em relação ao PIB (razão entre os grupos de natureza de despesa e o PIB) tem a finalidade de validar as análises das despesas públicas, haja vista que o PIB constitui um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região e/ou de país. Neste sentido, observa-se na Tabela 5, que as despesas de capital representaram no período analisado um valor superior de gastos em relação às despesas correntes. Esta é uma situação positiva para o governo e para o contribuinte.

Observa-se na Tabela 5, que as outras despesas correntes em relação ao PIB (ODC/PIB) representaram a maior

média aritmética (média geral de 25,04%) das despesas correntes em relação ao PIB. Isto é devido ao maior volume de recursos que são gastos nesta natureza de despesa, conforme explicações demonstradas abaixo das Tabelas 1 e 2.

Destaca a baixa relação das despesas de investimentos em relação ao PIB (INV/PIB) com a média de 1,36%, no grupo de natureza das despesas de capital. Isto demonstra que o Governo Federal deixou de realizar obras públicas para pagar dívidas de amortização/refinanciamento de dívida – ARD/PIB (média de 38,47%) e inversões financeiras – INF/PIB (média de 5,06%). O retorno dos recursos de capital diretamente para o contribuinte em relação ao PIB foi muito baixo.

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Tabela 6 – Análises comparativas das variações das despesas correntes das gestões de governo dos Presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva

(Lula)

Estatísticas Governo de FHC (1995 a 2002)

PES JED ODC TOTAL

DP 2.072.183.024,96 21.945.867.425,05 32.201.389.343,35 52.060.811.012,89

Média 132.939.520.012,16 85.175.373.689,76 330.228.214.768,53 548.343.108.470,44

CV 1,56% 25,77% 9,75% 9,49%

Natureza da despesa PES/DESP_COR JED/DESP_COR ODC/DESP_COR

Média (geral) 24,44% 15,34% 60,22%

Média (geral) PES/PIB JED/PIB ODC/PIB TOTAL/PIB

13,16% 8,08% 32,04% 53,28%

Estatísticas Governo de LULA (2003 a 2010)

PES JED ODC TOTAL

DP 21.694.599.448,25 31.773.705.351,10 77.964.367.343,54 114.714.204.953,18

Média 137.729.179.096,62 129.364.621.480,64 457.926.905.535,62 725.020.706.112,89

CV 15,75% 24,56% 17,03% 15,82%

Natureza da despesa PES/DESP_COR JED/DESP_COR ODC/DESP_COR

Média (geral) 19,06% 17,84% 63,10%

Média (geral) PES/PIB JED/PIB ODC/PIB TOTAL/PIB

5,45% 5,18% 18,04% 28,68%

Fonte: dados da pesquisa.

A Tabela 6 evidencia os resultados contábeis dos recursos correntes que foram utilizados pelos dois governos com o objetivo de serem feitas as comparações macros. Neste sentido, observa-se que as despesas de pessoal e encargos sociais (PES) do governo de FHC tiveram uma variação (dispersão) relativa (CV de 1,56%) menor que a do governo de Lula (CV de 15,75%). Isto significa menor variabilidade durante o período. No caso, os dados demonstram mais pagamentos do governo de Lula na

contratação de pessoal. Esta análise não leva em conta os valores pagos (o montante), muito embora, tenham sido atualizados para a moeda de 2010. A análise é feita pela variação relativa dos gastos (coeficiente de variação).

As dispersões relativas dos juros e encargos da dívida (JED) dos dois governos estiverem bem próximas, mas em termos relativos o governo de Lula pagou mais juros e encargos da dívida.

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11

A dispersão relativa dos recursos correntes dos dois governos (CV de 9,49% para o governo de FHC e de 15,82% para o governo de Lula) representam baixa dispersão dos valores. Isto representa que houveram no período uma relativa estabilidade na aplicação dos recursos de manutenção da máquina pública.

Em relação aos grupos de natureza de despesas e as despesas correntes totais , a média geral das despesas de pessoal e encargos sociais (PES/DESP_COR) do governo de FHC foi de 24,44% e de Lula foi de 19,06%. No caso das outras despesas correntes (ODC/DESP_COR), a média foi de 60,22% e 63,10%, respectivamente. Tais resultados não evidenciaram grandes diferenças na

distribuição dos recursos correntes nos grupos de natureza de despesas. Os dois governos utilizaram os recursos correntes de forma parecida ao decidirem as aplicações de recursos nos grupos de natureza de despesa.

Comparando os gastos dos grupos de natureza de despesa em relação ao PIB, observa-se que no governo de FHC foram obtidos os maiores resultados: 13,16% para as despesas de pessoal e encargos sociais (PES/PIB); 8,08% para juros e encargos da dívida (JED/PIB) e de 32,04% (ODC/DESP_COR) para outras despesas correntes. Isto significa que o governo de FHC utilizou mais recursos em despesas correntes em relação ao PIB que o governo de Lula.

Tabela 7 – Análises comparativas das variações das despesas de capital das gestões de governo dos Presidentes Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva

(Lula)

Estatísticas Governo de FHC (1995 a 2002)

INV INF ARD TOTAL

DP 4.303.865.627,79 76.923.576.313,27 164.100.577.490,79 195.169.386.692,69

Média 21.162.707.686,15 88.342.235.432,90 552.230.402.832,85 661.957.267.944,80

CV 20,34% 87,07% 29,72% 29,48%

Natureza da despesa INV/DESP_CAP INF/DESP_CAP ARD/DESP_CAP

Média (geral) 3,40% 12,55% 84,00%

Média (geral) INV/PIB INF/PIB ARD/PIB TOTAL/PIB

2,05% 8,84% 52,49% 63,41%

Estatísticas Governo de LULA (2003 a 2010)

INV INF ARD TOTAL

DP 6.261.302.302,23 4.053.967.195,23 72.488.823.292,96 72.591.350.337,20

Média 16.588.200.759,38 31.491.531.459,37 583.736.488.978,15 631.816.221.196,89

CV 37,75% 12,87% 12,42% 11,49%

(12)

12

Média (geral) 2,63% 5,07% 92,31%

Média (geral) INV/PIB INF/PIB ARD/PIB TOTAL/PIB

0,66% 1,29% 24,44% 26,39%

Fonte: dados da pesquisa.

Na Tabela 7 foram agrupados os resultados contábeis da administração dos recursos de capital dos dois governos com o objetivo de evidenciar as análises comparativas macros. Neste sentido, destaca a variabilidade das despesas de investimentos (INV) do governo de Lula (CV de 37,75%). Isto representa que este governo teve menos regularidade do que o Governo de FHC para administrar tais recursos, mas no caso das despesas de inversões financeiras (INF), ocorreu o contrário, haja vista que no governo de FHC, a variabilidade foi de 87,07% (CV). No total das despesas de capital, o governo de Lula apresentou mais regularidade nos gastos (CV de 11,49%) contra 29,48% do governo de FHC.

A média aritmética dos oitos de cada governo na administração das despesas de investimentos variaram de R$ 16.858.842.058,36 a R$ 25.466.573.313,94 para o governo de FHC (análise do desvio-padrão – DP) e de R$ 10.326.898.457,15 a R$ 22.849.503.061,61 para o governo de Lula.

Na relação grupo de natureza de despesas e despesas de capital total, observa-se que o governo de FHC utilizou mais recursos de despesas de investimentos (INV/DESP_CAP – média geral de 3,40%). Em relação ao

pagamento de

amortização/refinanciamento de dívida (ARD/DESP_CAP), o governo de Lula utilizou mais recursos (92,31%). Isto evidencia que em relação às despesas de capital total, o governo de Lula pagou

mais despesas com empréstimos e financiamentos tomados.

Comparando os grupos de natureza das despesas de capital com o PIB, observa que os maiores valores em todos os grupos estão no Governo de FHC (2,05% para despesas de investimentos – INV/PIB; 8,84% para inversões financeiras – INF/PIB e 52,49% para

despesas de

amortização/refinanciamento de dívida - ARD/PIB). Isto significa que o governo de FHC utilizou mais recursos em despesas de capital em relação ao PIB que o governo de Lula.

5. Considerações finais e conclusão A pesquisa, em atenção ao objetivo formulado, analisou as variações das despesas do governo federal no período de 1995 a 2010, bem como evidenciou os conceitos básicos da despesa pública e os grupos de natureza que compõem a mesma. Assim, acredita-se que os resultados da pesquisa poderão ser úteis aos cidadãos.

Os resultados revelaram que a hipótese testada sobre a aplicação de recursos de capital em proporção maior que as despesas correntes foi assegurada no período de 1995 a 2010. Entretanto, em termos relativos, as despesas de capital de investimentos (obras públicas, aquisição de material permanente e equipamentos etc.) ficaram aquém do que poderia o contribuinte esperar da administração dos recursos pelo Governo Federal. Tal assertiva pode ser confirmada, por exemplo, pela situação

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precária em que se encontra várias rodovias federais brasileiras.

Os resultados evidenciaram que as despesas correntes totais tiveram, no período de 1995 a 2010, uma variação (dispersão) relativa menor que a variação das despesas de capital. Desse modo, houve mais regularidade nos gastos com a máquina administrativa. Ficou demonstrado, por análises em relação aos grupos de natureza de despesa e em relação ao Produto Interno Bruto, que as aplicações de recursos em despesas de investimentos tiveram a menor média de aplicação, o que significa que o Governo Federal deixou de realizar obras públicas (despesas de investimentos) para pagar mais as outras duas despesas de capital (inversões financeiras e amortização/refinanciamento de dívida). Na comparação dos gastos dos grupos de natureza de despesa em relação ao PIB dos governos de FHC (1995 a 2002) e de Lula (2003 a 2010), foi observado que no governo de FHC foram obtidos os maiores resultados (situação positiva): 2,05% para despesas de investimentos, 8,84% para inversões financeiras e 52,49% para despesas de amortização/refinanciamento de dívida. O Governo de Lula teve mais superávit corrente (aplicação de receitas correntes para o pagamento de despesas de capital – capitalização de recursos).

Considerando que são disponibilizadas informações sobre os resultados contábeis das despesas públicas dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal nos portais de transparência, recomendam-se a realização de pesquisas acadêmicas para discutir os resultados e divulgar para os cidadãos (contribuintes).

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Recebido: 14.012012 Publicado: 12.12.2012

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