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Vencendo o capacitismo

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Academic year: 2021

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Daniela caburro: uma

história de superação

através da arte

Capacitismo: o que é

e onde se encaixa

na sociedade

Vencendo o capacitismo

(2)

Índice

A equipe

Júlia Sahão, 21 anos

Lara Ignezli, 19 anos

Luigi Rigoni, 20 anos

Patrick Souza, 19 anos

Victor Barreto, 20 anos

Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho”

Veículo produzido como trabalho de

conclusão das disciplinas de

Jorna-lismo Impresso II e de Planejamento

Gráfico-Editorial I, sob orientação dos

professores João Guilherme D’Arcádia

e Francisco Rolfsen Belda, no Curso de

Jornalismo da Unesp, campus de Bauru.

Redação: Júlia Sahão, Lara Ignezli, Luigi

Rigoni, Patrick Souza

Av Eng Luiz Edmundo Carrijo Coube,

nº 14-01

Bairro: Vargem Limpa

CEP: 17.033-360 – Bauru, SP

Fone: (14) 3103-6063

cológica) ou uma síndrome, não significa se tornar incapaz. Natu-ralmente, o cuidado deve ser diferenciado e algumas adaptações devem ser feitas, mas essas condições não deveriam ficar entre o que a pessoa é e o que ela deseja fazer.

A sociedade no geral possui pouco contato com esse grupo de pessoas e a ignorância se torna então peça-chave para o precon-ceito. Os programas de inclusão já existentes, as adaptações físi-cas para melhor acessibilidade e a representação dessas pessoas na mídia estão falhando na construção de uma visão social que não limite o deficiente as suas limitações.

Resultado disso é o termo pouco discutido: capacitismo. O posi-cionamento capacitista leva a acreditar que deficientes — e,

impor-Síndrome de Down — são incapazes de alcançar a independência. O capacitismo é o tema geral do “Sem Barreiras”, que busca ex-plicar o significado do termo para quem ainda não tem contato com a abordagem e mostrar então inúmeras situações, através das matérias e das personagens que nelas aparecem, em que os gestos preconceituosos são frequentes.

São histórias capazes de acabar com os estereótipos enraizados, apontar problemas estruturais que ainda são muito fortes no dia a dia de uma pessoa deficiente, aproximar o leitor dessas persona-gens e trazer mais informações que deveriam ser expostas mais frequentemente ao público. Em suma, buscamos retirar a lente capacitista dos leitores deste suplemento.

Leis para deficientes continuam precárias

Ambiente escolar acolhe alunos com dificuldades de aprender

“Não é só colocar o implante e sair ouvindo”, diz usuária de implante coclear

Alimentação pobre em glúten beneficia autistas

Mobilidade ainda é precária em Bauru

Cadeirantes enfrentam dificuldades de locomoção em casa

Engenheiro cego descobre escultura

Esporte ajuda na superação de pessoas com deficiência

Saúde sexual da mulher cadeirante é negligenciada

Artigo de opinião - Sessão Fantasma

Entrevista - Daniela caburro: uma história de superação através da arte

Estante cultural

Enxergando além do preconceito

Capacitismo: o que é e onde se encaixa na sociedade

Pág. 2

Pág. 2

Pág. 3

Pág. 4

Pág. 4

Pág. 5

Pág. 5

Pág. 6

Educação para surdos é tema do Enem

Pág. 6

Pág. 7

Pág. 8

Pág. 9

Pág. 9

Pág. 10

Pág. 11

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Capacitismo: o que é e onde se encaixa na sociedade

Capacitismo é, por definição, uma discriminação baseada na ideia de que pessoas com algum tipo de deficiência são inferiores às pes-soas que não possuem tais necessidades.

Portanto, trata-se de uma categoria que subestima pessoas defi-cientes e diagnosticadas com alguma síndrome enquanto seres hu-manos, tornando-os incapazes de fazer coisas como trabalhar, ter re-lações sexuais, frequentar o ambiente acadêmico, sentir desejos etc. Uma das decorrências da visão capacitista é a negligência quanto à inclusão dessas pessoas na sociedade.

Segundo uma pesquisa de opinião (via formulário online) realizada para a produção dessa matéria, 74% dos entrevistados não sabia o

significado do termo, embora 59% deles afirmasse que esse tipo de preconceito é real - o que comprova que a terminologia não é tão dis-seminada quanto é colocada em prática.

Um dado que exemplifica a lógica capacitista, também coletado na pesquisa de opinião, é o de que mais de 90% do público entrevistado não acredita que uma pessoa com deficiência ou dotada de alguma síndrome possa ser completamente independente.

Em suma, o capacitismo é firmemente enraizado e tende a manter--se estável enquanto a sociedade, como um todo, não gerar estrutu-ras física e informacional para que haja uma inclusão efetiva do grupo social composto por pessoas deficientes.

Enxergando além do preconceito

As dificuldades do cotidiano dos deficientes

A inclusão dentro da sociedade ainda é um dos maiores desafios para pessoas que possu-am alguma deficiência. Além da dificuldade diá-ria de conseguir se adaptar a um mundo em que nem sempre está adaptado a eles, há ainda a necessidade da aceitação das outras pessoas. Muitas vezes, os deficientes são considerados inferiores ou incapazes, sendo segregados ape-nas por não se encaixarem nos padrões sociais.

A ACBR, Associação de Cadeirantes de Bau-ru e Região, tem como objetivo promover tal inclusão, e seu presidente, William Pinheiro, te-lefonista no hospital Beneficência Portuguesa, fala sobre a necessidade da própria pessoa de realizá-la. “Se expondo todos os dias, se torna uma coisa normal. Eu pego ônibus para o tra-balho como todo mundo. Sempre estou lá, e as pessoas não notam se estou usando ou não uma cadeira”, explica William.

Tornar-se um indivíduo independente é algo que Regina Alves de Paula, gerente de saúde na APAE de Bauru, reforça. Segundo ela, esse é um dos primeiros passos para que a pessoa possa se incluir na sociedade, pois são todos capazes de realizar tal feito. Caso isso não seja possível, devido a diversos fatores, como o grau da deficiência da pessoa, busca-se ao menos que eles possam se incluir dentro de suas

famí-lias, pois segundo Regina, é um dos primeiros espaços dos quais elas são excluídas.

A família está inclusa nesse trabalho, pois muitas vezes acaba perpetuando, mesmo que sem querer, preconceitos como o da necessida-de necessida-de proteção exagerada do necessida-deficiente, e necessida-de sua suposta incapacidade. “Hoje, muitas pes-soas com deficiência que estão com idade por volta de 60 anos ficaram presas apenas ao con-vívio com a mãe. Tentamos contribuir para que ela possa se relacionar com toda a família, e depois, com o resto da sociedade”, fala Regina.

Dificuldades no dia a dia

Uma forma utilizada para mostrar o potencial dos pacientes é com os eventos culturais reali-zados na Associação, nos quais estes realizam obras e peças de teatro, mostrando suas capa-cidades. Embora ainda sejam limitados em áre-as como o mercado de trabalho. William conta sobre suas experiências numa época com me-nos acessibilidade do que hoje. “Não existiam banheiros adaptados, e eu torcia para que o banheiro fosse largo para que eu pudesse usar. Às vezes precisava levar uma cadeira menor e sentar nela para poder entrar”, desabafa.

Outras limitações surgem pelas próprias

defi-ciências. Um indivíduo que possua dificuldades para se comunicar é muito mal visto, por acredi-tarem que ele não seja capaz de aprender. Po-rém, como adverte Regina, com o determinado preparo, ele pode exercer alguma função que lhe seja acessível. Ela dá o exemplo de pesso-as com alguma deficiência mental que podem cumprir, sem problemas, funções como empa-cotador de supermercados.

Outro problema que os afeta é a falta do co-nhecimento de direitos. William Pinheiro afirma que hoje, com todas as informações que estão disponíveis, a situação é muito melhor do que quando começou a trabalhar. Mas que, ainda assim, falta certa representatividade no con-gresso para que os direitos sejam plenamente difundidos e as pessoas passem a enxergar o deficiente com melhores olhos.

Regina também fala sobre a importância de conscientização, principalmente entre as famí-lias com mais dificuldades e menos informações. “Muitas vezes oferecemos caminhos para que os pacientes possam chegar a direitos como o LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) e o Passe Cidadão, que muitas vezes as famílias acabam nem tendo conhecimento. Não traba-lhamos no sentido de dar por elas, mas sim no sentido de fazê-los ir em busca”, encerra.

Por Patrick de Sousa

Por Lara Ignezli

Familiariazação com a terminologia

Em uma pesquisa realizada com pessoas de 13 a 50 anos, todos conheciam o “capacitismo” colocado em prá-tica, mas a miarioria não conhecia o significado da palavra

74% não conhece o termo 26% conhece o termo

a deficiencia no cotidiano

%

0 1 3 3+ 61,5 23 3,8

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Leis para deficientes continuam precárias

Diversos benefícios são garantidos, mas raramente concedidos na prática

Se o mundo já não é fácil de se viver, o

de-safio se torna ainda maior para aqueles que possuam alguma deficiência. Na esperança de beneficiar tais pessoas, foi concebida a LBI - A Lei Brasileira de Inclusão. Estabelecida em 2015, ela regulamenta os direitos dos deficien-tes, entre eles a acessibilidade obrigatória em estabelecimentos públicos, filas preferenciais, direito à educação e uma porcentagem de va-gas de trabalho nas empresas.

Isso faz parecer que a lei brasileira, à pri-meira vista, promova plenamente a inclusão ao deficiente. Porém, há também o lado daqueles a quem as leis são direcionadas. Ana Raquel Périco Mangili, deficiente auditiva e assesso-ra de imprensa da Associação dos Deficientes Auditivos, Pais, Amigos e Usuários de Implante Coclear (ADAP) fala sobre um lado negativo da Lei das Cotas, que determina uma certa por-centagem de vagas de uma empresa às pesso-as com alguma deficiência. “Muitpesso-as emprespesso-as ainda contratam apenas por obrigatoriedade, e não para promover a inclusão”, relata.

Segundo Ana Raquel, as empresas costu-mam tratar com descaso o deficiente, sem

fis-calizar se ele se adaptou ao emprego ou se precisa de algum auxílio. Ela aponta os moldes sociais como um dos culpados. “Num mundo capitalista, o objetivo é a maior produtividade no menor tempo. O mercado de trabalho já é competitivo entre pessoas com habilidades es-pecíficas,então imagina com quem foge desse padrão”, desabafa Ana Raquel.

Além do mercado de trabalho, áreas como a saúde também são afetadas por leis. Nathália Costa, psicóloga comportamental que trabalha com pacientes do espectro autista, contou so-bre a existência de um projeto de lei que altera o funcionamento dos planos de saúde,afetan-do o tratamento de seus pacientes. “Muitos autistas são atendidos com o plano de saúde. O projeto de lei estabelece que os planos de saúde não precisem arcar com os custos que não estão no contrato”, conta Nathália, que também divulga um abaixo-assinado contra a iniciativa do projeto em questão.

O desrespeito às leis também é frequente. Nathália fala sobre como o autista, incluído na LBI, não possui seus direitos cumpridos. “Às vezes, uma mãe liga para uma escola pedindo

uma vaga para seu filho autista, e ouve que não há vagas. Depois, ela liga novamente,-como uma mãe de um filho sem o diagnósti-co, e consegue a vaga”, relatou. Ana Raquel também falou sobre a aposentadoria especial, que, além de estar incerta atualmente com as futuras mudanças na previdência, é dificultada em algumas ocasiões. “Você precisa compro-var a deficiência, e muitas vezes, o pedido é indeferido. É ainda pior para deficientes auditi-vos”,confessa a assessora de imprensa.

Quando questionada sobre uma possível solução para o quadro, Nathália falou que é preciso uma maior fiscalização das leis, além da existência de mais campanhas de cons-cientização. “Muitas vezes, as famílias acabam nem sabendo da existência dos direitos”, afir-ma. Por outro lado, Ana falou não sobre leis, mas sobre o lado social. “O preconceito ain-da é muito presente, como por exemplo com pessoas com Síndrome de Down”, alega. Ela também apontou a necessidade da produção de mais filmes e séries que abordem o assunto da deficiência, para que, assim, ele seja mais comum e aceito pela sociedade.

Por Patrick de Souza

Segundo o IBGE, 45 milhões de pessoas

no país possuem alguma deficiência

Mas apenas 20,3 milhões

deles são empregados

Pessoas com deficiência

Números(em milhões) 0 20 25 15 10 5

Uma pesquisa realizada pela I . Social

mostrou que muitos, ao menos, já ouviram

falar sobre as leis

NA área da metalurgia a lei de

cotas écumprida, como indaca o

sindicato dos metalúrgicos

Conhecem a Lei de Inclusão Conhecem a Lei de Cotas

Ainda assim, a falta de informa ç ão é

uma das principais reclama ç ões

Leis de inclusão trabalhista

O mercado para o deficiente

Não contratam deficientes (3,43 %) Contratam deficientes (39,61 %)

(5)

Em 2016, entrou em vigor no Brasil a lei conhecida como Esta-tuto da Pessoa com Deficiência, a qual, de acordo com a Constitui-ção, “assegura a oferta de sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades de ensino, além de estabelecer a adoção de um projeto pedagógico que institu-cionaliza o atendimento educacio-nal especializado, com o forneci-mento de profissionais de apoio”.

Para a psicopedagoga forma-da na Universiforma-dade de São Paulo (USP), campus Ribeirão, Marcela Borges, profissionais de apoio são fundamentais para a inclusão das crianças diagnosticadas com Sín-drome de Down, Espectro Autista, Paralisia Cerebral ou até mesmo com comportamentos desafiado-res, desatentos e hiperativos no ensino regular.

A função desses profissionais, muitas vezes reconhecidos como facilitadores de aprendizagem ou facilitadores educacionais, é “o de ser o porta-voz dessas especifici-dades da criança acompanhada, auxiliar na aprendizagem em si, contribuir para o desenvolvimento dentro das suas capacidades e

fa-cilitar o processo de socialização no ambiente escolar”, relata a psi-copedagoga.

Marcela ainda frisa que estar inserida onde haja diferentes es-tímulos é extremamente benéfico para a criança que terá a possi-bilidade de desenvolver suas po-tencialidades além das definidas pelo diagnóstico da síndrome ou deficiência. Contudo, o facilitador se torna necessário quando, nas

escolas regulares, estas crianças não conseguem acompanhar o an-damento da sala de aula sozinhas e apresentam um desenvolvimen-to pedagógico aquém ao esperado para a sua idade cronológica.

No entanto, embora exista de-manda por facilitadores e a lei garanta às crianças atendimento educacional especializado e de qualidade disponibilizado pelas es-colas, nem sempre isso acontece.

Ambiente escolar acolhe alunos com dificuldades em aprender

Facilitadoras educacionais são fundamentais para a inclusão das crianças na escola regular

“Não é só colocar o implante e sair ouvindo”, diz usuária de implante coclear

Apesar de melhorar a qualidade de vida dos deficientes, o uso e a manutenção do implante coclear não

são acessíveis para todos.

Criado na década de 1950 pelos médicos franceses André Djourno e Charles Eyriès, o im-plante coclear surgiu como uma tecnologia promissora para mitigar os danos a audição de quem so-fre com perda auditiva. Para que o paciente possa utilizar o aparelho, é necessária uma cirurgia que in-troduz eletrodos dentro da cóclea, que é uma cavidade em forma de caracol localizada dentro do ouvi-do interno, e tem a função de cap-tar sons. Com a inserção desses eletrodos, eles passam a realizar parcialmente as funções desse ór-gão.

“Mas não é só colocar o

implan-te e sair ouvindo”, de acordo com Ana Raquel Périco Mangili, jorna-lista e assessora de imprensa da Associação dos Amigos e Pais dos Deficientes Auditivos e usuários do implante coclear, a ADAP, sediada em Bauru.

Ana Raquel, que também é deficiente auditiva e usuária de implante coclear, conta que as dificuldades enfrentadas por es-sas pessoas vão muito além da própria deficiência. Segundo ela, as pessoas que dependem do im-plante coclear, ou seja, pessoas que apresentam um grau elevado de perda auditiva, quase sempre necessitam desembolsar muito

di-nheiro para realizar o tratamento. Nesses centros, o paciente re-cebe um acompanhamento de uma equipe interdisciplinar, que envolve psicólogos e assistentes sociais, que verificam se a famí-lia do deficiente tem condições de bancar o tratamento. “Tem que fa-zer a terapia fonoaudiológica, por exemplo, que muitas vezes não tem no município de origem da pessoa, por isso tem todo o acom-panhamento de psicólogos e as-sistentes sociais, para encontrar alternativas”, afirma a jornalista.

Outro grande problema apon-tado por Ana Raquel é a dificulda-de em realizar a manutenção do implante. Até o ano passado, os

Por Júlia Sahão

Nathália Costa, formada em psi-cologia pela PUC Campinas, atua como facilitadora há cinco anos, e conta que sempre foi contratada pelos pais das crianças, pois as escolas não querem arcar com os custos do trabalho dos profissio-nais.

Para Nathália, a atuação dos facilitadores é de extrema impor-tância para o desenvolvimento das crianças com maiores dificuldades de aprendizado, uma vez que eles orientam os professores em como adaptar atividades, e conduzem o aluno na execução das atividades para que a criança tenha o melhor aproveitamento e aprendizado possíveis. “A resposta das crian-ças é muito positiva. E elas são inclusas de forma mais adequada nas atividades”, disse.

A possibilidade e a necessida-de das crianças com maiores difi-culdades de serem assessoradas por uma facilitadora de qualidade bancada pela escola não deve ser ignorada, pois, para Nathália, “elas aprendem de forma mais rápida, já que existe um controle de compor-tamento adequado e um ensino de um para um”.

convênios médicos não tinham a obrigação de fornecer essa ma-nutenção, o que foi alterado com uma portaria de 2016. Dessa ma-neira, o usuário deveria arcar com todos os custos do aparelho, que normalmente envolvem altos va-lores. “O aparelho quebrava e o usuário que tinha que arcar com as despesas, que geralmente dá 3 mil reais cada vez que quebra. Por isso muita gente ficava sem ouvir”, declara Ana Raquel.

Com a obrigatoriedade da ma-nutenção, resta agora a fiscaliza-ção do cumprimento das diretrizes estabelecidas por essa portaria. É o que se propõe a fazer a ADAP, a qual, segundo Ana Raquel, “vai

Por victor barreto

Foto: Júlia Sahão

“A resposta das crianças é

muito positiva. E elas são

inclusas de forma mais

adequada nas atividades”

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Alimentação pobre em glúten beneficia autistas

Pesquisas indicam que dieta auxilia no desenvolvimento cognitivo das crianças com a síndrome

Na última década, neurocientistas

norte americanos, europeus e brasi-leiros estudaram os efeitos de deter-minados alimentos no organis-mo humano - entre eles, o

consumo do glúten foi bas-tante debatido. Embora as pes-quisas ainda e s t e j a m em and a m e n -to, vários médicos e cientistas observaram que uma dieta pobre ou nula em glúten melhora a capaci-dade de aprendizado

da criança.

Os pesquisado-res também pu-deram notar que a redução do glúten é extremamen-te benéfica para crianças com o Transtorno do Espectro Autis-ta (TEA), uma vez que estudos recentes

apresen-taram que, em geral, essas crianças têm níveis mais elevados de anticorpos igG para gliadina (substância presente no glúten) em compara-ção a outros indivíduos. Isto comprovou a teo-ria de que as cteo-rianças autistas podem apresen-tar reatividade imunológica ao glúten.

A fonoaudióloga Tânia Raquel Maccari Gui-rão, formada pela PUC Campinas e que traba-lha há 21 anos na área, conta que acompanha essas pesquisas há algum tempo e que tem pacientes autistas cujas famílias optaram por fazer uma dieta livre de glúten em busca de melhores resultados no desenvolvimento psi-cológico e pedagógico das crianças. “Vejo que em crianças pequenas, a gente tem um resulta-do melhor com as dietas especiais. Elas ficam menos agitadas e assim conseguimos traba-lhar melhor”,conta a fonoaudióloga.

Para Tânia, no entanto, a dieta livre de glú-ten depende da personalidade da criança e da conduta da família. “Tem casos em que prefiro que a criança continue com os hábitos alimen-tares da casa. A dieta pode gerar um estresse tão grande na família que todo o tratamento e o desenvolvimento da criança podem ser deses-truturados”, comenta a profissional.

Pesquisas já relatam que, ao ficar sem o glú-ten, o autista fica mais atento, os movimentos estereotipados – repetitivos – diminuem consi-deravelmente, de forma que a criança possa fo-car no próprio desenvolvimento. Após ler sobre essas pesquisas e da insistência da psicóloga

infantil, Cláudia dos Santos, mãe de Eduardo* de 14 anos diagnosticado com autismo aos 2, tirou o glúten do filho 8 anos atrás. “Por dois anos, fizemos a dieta certinho, meu filho não comia nada com glúten. Depois desse tempo resolvemos fazer uma dieta com glúten reduzi-do e nós estamos mantenreduzi-do esta alimentação até hoje”, conta Cláudia.

De acordo com a mãe, após o início da die-ta, ela pôde observar grande melhora,uma vez que Eduardo ficou menos agitado, mais atento, tinha maior desempenho nas atividades esco-lares e nas terapias, conversava “olho no olho” e os movimentos repetitivos diminuíram bas-tante. No entanto, a família resolveu reintrodu-zir alguns alimentos com glúten, pois, segundo Cláudia, o filho sentia falta de algumas comi-das, como bolos, pizzas e pão francês. “Às ve-zes, deixamos que ele coma um pedacinho de pão e uma pizza em jantares de família, assim ele não passa tanta vontade. Mas eu noto que quando ele ingere muito glúten, os sintomas do autismo se intensificam”, afirma.

Pesquisadores já estudam a possibilidade de que o glúten também influenciar nas atitudes de quaisquer crianças de forma geral, porém, os estudos ainda são muito recentes e pouco foi confirmado. No entanto, a fonoaudióloga Tâ-nia Guirão afirma que “crianças ‘normais’ com dietas ricas em açúcar, farinha branca, glúten e artificiais ficam mais agitadas, menos concen-tradas e têm menor resultado nos tratamentos”.

Por Júlia Sahão

mobilidade ainda é precária em Bauru

Acessibilidade plena é prevista na Constitui-ção, sendo um dos direitos básicos do cidadão. De acordo com a Legislação, é obrigatório que as avenidas, calçadas e estabelecimentos per-mitam que qualquer pessoa, independente de sua condição física, transite por ali. Mas vemos que Bauru, que possui até mesmo uma praça paradesportiva, ainda deixa muito a desejar neste quesito, como podemos ver pelos seus inúmeros buracos e falta de rampas de acesso.

Isso já é um incômodo por si próprio, mas se torna ainda maior quando consideramos os cidadãos cadeirantes. A acessibilidade é ainda muito precária na cidade, como deixa claro a cadeirante Ariani Queiroz de Sá. Segundo ela, somente uma parte do centro, composto da Quadra 8 da Av. Nações Unidas até a Praça Machado de Melo, além da Rua Ezequiel Ra-mos até a Rua Bandei rantes, é relativamente adaptado. “Esse é um espaço com rampas de acesso e com calçadas mais ou menos acessí-veis. Elas não estão em boas condições, e não contemplam uma acessibilidade boa”, declara.

Além da ausência de rampas e calçadas,

Marcelina Amaro Olímpio, aposentada, tam-bém critica a falta de outro elemento de aces-sibilidade nas ruas. “O que mais atrapalha não só a mim, como também outros cadeirantes, é a falta das guias rebaixadas. Isso é o que nos limita, e não a cadeira em si”.

Outro problema citado por Marcelina é o das plataformas dos ônibus. Embora a frota de Bauru seja 100% adaptada, sendo a primeira cidade do Brasil a atingir essa meta, ela ainda falha muitas vezes em receber os passageiros. “Por conta de plataformas quebradas, às vezes precisamos esperar o próximo ônibus passar, já que não conseguimos embarcar nesse”, de-sabafa a cadeirante Marcelina.

Ariani ainda explica que alguns problemas administrativos estão envolvidos na situação. “Nosso antigo prefeito (Rodrigo Agostinho), nos primeiros 4 anos do mandato, fez 750 rampas de acesso, mas porque o Ministério Estadual acionou a prefeitura”. Após isso, praticamente nada foi feito em prol da acessibilidade na cida-de no resto cida-de seu mandato.

Ela ainda fala sobre outras formas em que a

acessibilidade possa ser contemplada, fora as rampas. “É preciso também pensar na acessi-bilidade para deficientes visuais, já que temos muitos pela cidade. Semáforos sonoros, piso táctil. Sinalizações de mais fácil acesso em ge-ral”, afirma Ariani. A acessibilidade em outras áreas, como a cultura e a educação, também foram citadas. A última se torna especialmente importante, visto que pesquisas do Inep apon-tam um crescimento de mais de 600 mil alunos com alguma deficiência matriculados em esco-las de ensino regular e não adaptadas.

Ainda assim, Bauru ainda parece caminhar na direção certa para ser mais e mais aces-sível. A cidade possui, além da já citada frota adaptada, 3 táxis adaptados, e um serviço de vans da prefeitura para atender deficientes fí-sicos. Ariani também afirma que a cidade está em uma situação melhor do que outras cidades da região. “Em Marília, aqui perto de Bauru, o polo industrial da cidade é grande, mas o nível de acessibilidade é péssimo. Uma cidade que eu adoraria viver, pois me contempla de todas as formas, seria Curitiba”, encerra Ariani.

Os obstáculos e avanços da acessibilidade na cidade sem limites

Por Patrick de Sousa

(7)

Cadeirante há quase quatro anos, o morador de Bauru, Carlos Eduardo Oliveira, 36 anos, fi-cou paraplégico após complicações em uma ci-rurgia de retirada de um tumor intramedular. Ele faz parte do 1,3% da população brasileira que possui algum tipo de deficiência física, como apontou o último censo divulgado pelo IBGE. Na rotina desse grupo, buracos e degraus são alguns dos obstáculos mais comuns, além das dificuldades de mobilidade dentro de casa.

“As barreiras arquitetônicas são um proble-ma. Minha casa não é adaptada e eu acabo ten-do um pouco de dificuldade na hora ten-do banho, mas consigo me virar sozinho”, afirma Carlos. Ele, que sustenta a esposa e dois filhos com a aposentadoria paga pela previdência social, la-menta não ter condições financeiras para adap-tar os cômodos de sua residência, dificultando suas atividades diárias.

No entanto, Carlos garante que os seus maiores obstáculos estão nas ruas.“Sair de casa é sempre um desafio, uma vez que as es-quinas não têm rebaixamento”. Apesar disso, atualmente já existem políticas públicas que

vi-sam sanar esse problema. A lei da acessibilida-de assegura que todos os ambientes públicos sejam adaptados às necessidades dos porta-dores de deficiência física, que devem usufruir, assim como qualquer outro cidadão, dos espa-ços urbano disponíveis.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é a responsável, desde 2004, por es-pecificar os elementos e as dimensões neces-sários para tornar uma edificação acessível. As normas estipuladas pela associação devem ser verificadas e aprovadas pela prefeitura antes que qualquer construção seja iniciada, como explica a professora do curso de arquitetura da Unesp Bauru, Silvana Aparecida Alves.

Para ela, é papel do arquiteto projetar cida-des acessíveis e “ter respeito pelo ser humano, principalmente pelas pessoas que têm algum tipo de limitação física”. Com base nisso, a pro-fessora salienta algumas alterações feitas para tornar a residência de um cadeirante mais fun-cional. “Eliminar qualquer desnível é a principal mudança. Adaptar os banheiros com barras de apoio e deixar espaços livres para os

movimen-tos da cadeira também é fundamental”, declara. A professora também cita a existência de ferramentas mais sofisticadas na hora de tor-nar uma construção acessível, o monta carga é uma delas, já que ele pode substituir um eleva-dor sem ter um custo tão alto.”São alternativas que facilitam a vida do cadeirante sem onerar muito a obra”, argumenta a arquiteta.

Para a cadeirante bauruense Ariani Queiroz de Sá, 55 anos, adaptar sua residência foi um investimento necessário. Eu senti que precisa-va adequar o espaço onde moraprecisa-va. O banheiro era horrível, muito pequeno, a cadeira de rodas não passava nas portas. Então, eu reformei mi-nha casa inteira por dentro”, conta Ariane, que é cadeirante há 10 anos.

“Troquei as portas, aumentei a cozinha, adaptei a pia, deixei tudo da minha altura”,diz ela, que atualmente mora sozinha e realiza, gra-ças as adaptações feitas na residência, todos os serviços domésticos com tranquilidade.”Re-construí minha vida sobre rodas. Aprendi a ser independente e hoje estou super adaptada”, declara Ariani Queiroz Sá.

Cadeirantes enfrentam dificuldades de locomoção em casa

Residências adaptadas minimizam o problema, mas ainda são uma realidade distante

Prova dividiu opiniões a respeito do tema da redação

“Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” foi o tema da redação do Enem 2017 (Exame Nacional do Ensino Mé-dio), que foi aplicado em alunos de todo o país no último dia 5 de novembro. Com mais de 6,5 milhões de escritos, a prova é a maior porta para o ingresso de estudantes no Brasil.

O tema dividiu opiniões. Para Marina Gou-lart Dorigo, 24 anos, professora de redação do cursinho pré-vestibular Primeiro de Maio da Unesp Bauru, o tema já era esperado, uma vez que inclusão e acessibilidade são assuntos re-correntes na prova. “Acredito que a maioria dos professores tenha comentando durante o ano sobre acessibilidade - mesmo que de uma forma mais geral”, comenta Mariana. Ela ainda

explica: “acessibilidade não é apenas rampa e corrimão, ela é muito mais profunda que isso, ainda mais quando aborda a questões educa-cionais e inclusivas”.

Embora o tema seja debatido com frequên-cia em cursinhos preparatórios, os alunos en-frentaram dificuldade na hora de redigir seus textos, como eles mesmos apontaram. Laryssa Lima, 18 anos, que concorre a uma vaga no curso de jornalismo, disse que não esperava que a prova abordasse a formação educacional de surdos, que para ela é um tema muito espe-cífico. “Achei um pouco difícil por não conviver com essa realidade, porém consegui relacionar outros conceitos ligado à educação no geral”, comentou a estudante.

João Scarbi, 18 anos, que pretende cursar design, admitiu ter sido pego de surpresa pelo tema da redação, “é um assunto difícil de de-senvolver porque as pessoas não falam muito sobre”, comentou ele ao destacar a importância de se debater esse conteúdo em âmbito nacio-nal. “Muitas pessoas saíram da prova recla-mando do tema, e isso mostra como nós ainda colocamos pessoas deficientes à margem da sociedade”, declarou João.

A professora Marina acredita que a escolha do tema do Enem é um indicativo de que os órgãos públicos estão dando atenção para a educação inclusiva e para os surdos no país. “Esse tema deve ser pauta de discussões e conversas, para que essa realidade de exclu-são e invisibilidade mude”, pontuou.

Cair como tema

de redação no maior

exame nacional dá

muita visibilidade

para o debate

Por luigi rigoni

Laryssa Lima, 18 anos

Por luigi rigoni

Colocamos os

deficientes à margem

da sociedade, por isso

a importância de se

debater o tema

João Scarbi, 18 anos

Educação para surdos é tema do Enem

Fo tos: Fi lip e L ea P laza Pág. 6

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Engenheiro cego descobre escultura

Com muito bom humor, Inácio viu em um momento de dificuldade uma oportunidade para mudança

Vandier Inácio Medeiros, de 32 anos, natural de Minas Gerais e atual morador de São Carlos, descobriu em 2011 ser portador de Neuropatia Óptica Hereditária de Leber, uma doença genética que causa, em um curto período de tempo, a perda gradativa da visão. “Hoje, eu estou reconstruin-do. Vivo um dia de cada vez. Brin-co Brin-com as minha dificuldades e busco sempre um equilíbrio para viver da melhor forma possível”, conta Inácio, que seis anos após a descoberta da doença dedica seu tempo livre a esculturas em argila. Inácio, que é formado em en-genharia civil, descobriu a doen-ça três meses após concluir sua graduação. “Eu já estava atuando na área de fundações. Fazia pro-jetos, dirigia, ia até as obras. Vida normal”, declara. Ele ainda salien-ta a rapidez com que a doença acometeu sua visão, aproxima-damente oito meses. A partir daí, sua rotina mudou drasticamente. Inácio, que na época morava em São Paulo, procurou ajuda em institutos especializados na

adap-tação de deficientes visuais e deu início a uma série de cursos.

“Fiz curso de mobilidade para aprender a usar a bengala. Infor-mática com leitor de tela, braile e tive meu primeiro contato com técnicas básicas para trabalhar com argila”, relembra o enge-nheiro, que desde então utiliza a arte como forma de terapia. “Eu, como deficien-te visual, sinto necessidade de produzir alguma coisa, e poder tocar no que eu fiz é muito gratifi-cante”, confessa o escultor, que

atualmente faz cursos em ateliês de sua cidade como hobbie e para aprimorar seu trabalho.

As primeiras obras de Inácio foram casinhas de joão de barro, pássaro pelo qual o artista nutre grande fascínio. “Como engenhei-ro eu sempre admirei o joão de barro. É um pássaro que constrói a própria casa sozinho, isso é mui-ta sabedoria”. E foi dessa forma,

“brincando com as dificuldades”, como ele mesmo diz, que Inácio começou a produzir suas escultu-ras, que levam em média um mês para serem finalizadas e são ven-didas ou dadas de presente para seus amigos próximos.

Apesar da satisfação em pro-duzir arte, Inácio ainda sofre pre-conceito em decorrência de sua

deficiência, já que muitos não acreditam em sua capacida-de. “A socie-dade nos trata com coitadismo, querem nos car-regar no colo, e não nos deixam ser produtivos”, lamenta o artista. Ele explica que muitas empresas contratam pro-fissionais apenas por obrigação, já que no Brasil, 2% dos funcio-nários de uma empresa precisam ser portadores de algum tipo de deficiência, como estipula a lei Nº 8.213, em vigor desde 1991.

Inácio relembra que quando ainda morava na capital tentou

atuar em sua área de formação, mas era sempre designado a re-alizar funções muito simples, que subestimavam sua competência. “É só um jeito de cumprir a lei, eles não acreditam na capacida-de dos capacida-deficientes”, lamenta Iná-cio, que após se mudar para o interior, teve a oportunidade de atuar como colaborador/professor em uma disciplina do curso de ar-quitetura da USP chamada “Sentir o Espaço”, na qual eram desen-volvidos mapas táteis, um recurso para a acessibilidade de deficien-tes visuais em espaços públicos.

Atualmente, além das escultu-ras, Inácio dedica seus momentos de lazer à viola caipira, sua outra paixão. Ele também pratica nata-ção e jiu-jitsu, além de ministrar palestras nas quais ele desmisti-fica sua deficiência, sempre com muito bom humor. “Eu vivo um dia de cada vez, busco superar meus obstáculos da melhor forma pos-sível e tento fazer minha parte para que no futuro tenhamos uma sociedade mais justa, com mais amor”, declara Inácio.

Por luigi rigoni

“Hoje, eu estou

reconstruindo.

Vivo um dia de

cada vez. Brinco

com as minhas

dificuldades e

busco sempre

um equilíbrio

para viver da

melhor forma

possível”

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Esporte ajuda na superação de pessoas com deficiência

deficientes que praticam esportes destacam mudanças que as atividades físicas causaram em suas vidas

Por victor barreto

Desde o Império Romano, a saúde do corpo é relacionada com a saúde da mente, como descrito pelo filósofo Juvenal, autor da frase “corpo são, mente sã”. Recomendada por especialistas de diversas áreas da saúde, a prática de esportes é um meio de se atingir o status concebido por Juvenal. Para pesso-as com deficiência, entretanto, o esporte pode ser um meio de se chegar ainda mais além do que isso.

De acordo com Ariani Queiroz de Sá, de 55 anos, cadeirante devido a sequelas da Polio-mielite, o esporte mudou sua forma de ver o mundo. “Foi extremamente importante para a minha estruturação emocional, a minha su-peração e a minha aceitação”, afirma Ariani. Praticante de tênis de rodas desde 2011, ela garante que a atividade física trouxe para ela,

além de um melhor condicionamento físico, uma nova visão de mundo, na qual ela se sen-te mais autônoma, segura emocionalmensen-te e inclusa na sociedade. “No meu ponto de vista, o esporte é tão inclusivo quanto o mercado de trabalho, porque quando você pratica o espor-te você se senespor-te perespor-tencendo a alguma coisa, pertencendo a uma modalidade, pertencendo a um grupo de pessoas”, declara.

Diferenças entre o esporte e o paraesporte

Trabalhando como treinador de tênis adap-tado desde a fundação da praça paradespor-tiva de Bauru, em 2011, Hélder Gouveia não crê que haja tantas diferenças entre a prática desportiva por pessoas com e sem deficiên-cia. “O treinamento dos alunos é basicamente

o mesmo das pessoas que não possuem deficiência, temos sempre que nos preocupar com as limitações de cada aluno”, explica o treinador, que hoje trabalha com sete alunos na praça paradesportiva.

Ainda sobre os treinamentos, ele afirma que não há muita dificuldade em treinar essas pes-soas com limitações. Segundo ele, as maiores dificuldades vêm de fora da quadra. “Temos dificuldade de mobilidade na cidade e o ma-terial para a prática é caro”, declara. Além desses problemas, Hélder aponta para a falta de conhecimento das pessoas com deficiência sobre o paraesporte como um grande impedi-mento. “Falta conhecimento das pessoas com deficiência dos benefícios do esporte, além da falta de conhecimento dos esportes que po-dem praticar”, afirma o treinador.

Brasil nas paralimpíadas rio 2016

Apesar da pouca visibilidade, artistas paralímpicos tem

de-sempenho melhor do que atletas que disputaram as Olimpíadas

medalhas

Paralímpicas

olímpicas

14 ouros 29 pratas 29 bronzes 7 ouros 6 pratas 6 bronzes

O Brasil conquistou 72 medalhas nas

Paralimpíadas, 53 a mais que os

atletas que disputaram as Olimpíadas

atletas em destaque

Colocação geral: 8 º lugar Colocação geral: 13 º lugar

Daniel dias - natação

Veronica Hipólito - atletismo Daniel martins - atletismo

4 ouros, 3 pratas

e 2 bronzes Recorde paraolímpico 1 prata, 1 bronze nos 100m T38

1 ouro

Recorde Mundial nos 400m T20

Modalidades em destaque

8 ouros, 14 pratas e 11 bronzes 1 prata e 3 bronzes 4 ouros, 7 pratas e 8 bronzes Pág. 8

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Saúde sexual da mulher cadeirante é negligenciada

“A mulher cadeirante é um ser sexual e a saúde sexual faz parte da saúde global, não deve ser

ne-gligenciada nem mesmo quando a mulher sofre algum tipo de acidente e sofre uma lesão medular.”

Por Lara Ignezli

Atualmente, o governo brasilei-ro oferece pbrasilei-rogramas de reabilita-ção como a Rede Lucy Montoro e, além disso, a AACD (Associação de Apoio à Criança Deficiente) atua na área como iniciativa privada, mas não mostra assistência para exames preventivos especializa-dos. A prevenção e a reabilitação conjuntas exigem onze profissio-nais da área da saúde da mulher.

“O atendimento deve ser feito por uma equipe multiprofissional, precisa de um médico, um neuro-logista, um gineconeuro-logista, urologis-ta, fisiatra e um cardiologista. Mas esse profissionais não são sufi-cientes para a reabilitação com-pleta, também precisa de fisiotera-peuta, fisioterapeuta neuromotor, fisioterapeuta pélvico, psicólogo, terapeuta ocupacional e uma en-fermeira”, afirma a fisioterapeuta Laíse Veloso, 33 anos, especialis-ta, em sexualidade humana.

A profissional interliga sexuali-dade e saúde, e reafirma a impor-tância de ambas. “A mulher cadei-rante é um ser sexual e a saúde

sexual faz parte da saúde global, não deve ser negligenciada nem mesmo quando a mulher sofre al-gum tipo de acidente e uma lesão medular. O aspecto da sexualida-de sexualida-deve ser encorajado, e é bem possível estimular a sensibilidade perineal”, afirma. A sensibilidade perineal diz respeito à sensibilida-de ao toque na área do períneo, o qual é composto pelos órgãos ge-nitais (vulva e pênis) e o ânus.

Ivone de Oliveira, 48, contraiu poliomielite aos seis meses, quan-do ficou sem o movimento das pernas e do braço direito. A pri-meira consulta de Ivone com um ginecologista foi realizada quando a operadora de telemarketing já havia completado 40 anos, incen-tivada não pela família, mas por uma amiga. “Minha mãe nunca me orientou sobre sexo. Quando soube que eu não era mais vir-gem, logo pensou o pior (falando sobre estupro) e foi a caça do meu malfeitor, sem um instante sequer acreditar que a filha teve um na-morado que gostou dela, de seu

corpo fora dos padrões e que o relacionamento consensual de cinco anos foi repleto de

muito carinho, tesão e prazer.” Ela conta que esse foi seu rela-cionamento mais duradouro, po-rém, optou por esconder da famí-lia por medo de preconceito. Além desse namoro, Ivone cultivou, ao longo dos anos, relacionamentos mais curtos com homens e mulheres, e todo o conhecimento sobre o assunto que possuía tinha adquirido através de pro-gramas de televisão.

Sobre a sexualidade da mulher cadei-rante, Ivone declara que a sexualidade da pessoa deficiente ser assegurada pela Lei Brasileira de Inclusão. “Aqui na terra tupiniquim ela ainda se en-contra em estágio embrionário, pois em comparação à comunidade LGBTQ que luta cada qual pelo reconhecimento de sua letra na sociedade, a pessoa deficiente ainda luta pelo reconhecimento de ser simplesmente ‘homem’ e ‘mulher’, basta observar, por exemplo, que o banheiro de de-ficiente na maioria das vezes é unissex”, afirma a cadeirante.

artigo de opinião

Sessão Fantasma

Cheguei ao Boulevard Shopping Bauru para acompanhar a Sessão Azul – sessão de cinema especial com ambientação para crianças com distúrbios sensoriais, cujo objetivo é promover a socialização e inclusão dos cidadãos com transtorno do espectro autista (TEA) com a sociedade - e encontrei a sala de cinema praticamente vazia.

O tempo chuvoso, cinzento, e a escassa divulgação do evento feita pelo shopping limitou a presença das crianças e seus fami-liares assistindo ao filme Lego NinjaGo. Durante o filme, o am-biente é bastante aconchegante para as crianças com TEA: as luzes não são apagadas, o som é mais baixo, trailers não são exibidos e elas podem andar, dançar, cantar e gritar o tempo todo.

Em um espaço totalmente pensado para ser confortável e faci-litar a socialização das crianças seria, à primeira vista, estranho a falta de público e o comportamento das quatro famílias presentes, as quais, embora estivessem sobrando várias poltronas, optaram por se sentar nos cantos da sala e no fundo, e os lugares centrais ficaram todos desocupados.

Contudo, a apreensão familiar em relação ao ambiente coletivo é compreensível e previsível, uma vez que não são raros os

rela-tos preconceirela-tos e humilhações sofridos por autistas no Brasil. Eles são muitas vezes alvos de piadas em salas de aulas e em programas de televisão, o que dissemina uma imagem distorcida da Síndrome do Autismo e torna mais difícil a socialização das crianças com distúrbios sensoriais com outras crianças, com a sociedade e com o mundo.

O que vi na Sessão Azul, no entanto, não foi apenas um eco dos preconceitos contra autistas, mas quatro crianças que olha-vam para o mundo como se o estivessem conhecendo pela pri-meira vez - apontavam encantadas para tudo para perguntar o que era ou para reconhecer algo que já viam em seu ambiente familiar. Observei crianças que sorriam com os olhos e se diver-tiam à sua maneira em um ambiente tão aconchegante que dava a elas a oportunidade de brincar e assistir a um filme fora das suas casas, longe de seu isolamento familiar.

Ao final da sessão de cinema, não pude deixar de refletir: se os cidadãos pudessem ver o sorriso daquelas quatro famílias, provavelmente, não existiria mais preconceitos, rejeições, into-lerância, discriminação e hostilidade contra qualquer autista, e a sala de cinema não estaria vazia, mas lotada.

Por Júlia Sahão

Fo

to: Di

vu

lgaç

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Entrevista

Daniela Caburro, 46 anos, é uma pintora tetraplégica de São Carlos que ganhou destaque por suas telas feitas com tinta à óleo. Seu diferencial? Ela pinta com a boca. Com a ajuda de um aparelho que evita machucados, desenvolvido por uma “grande amiga dentista”, Daniela enfrentou dificuldades que quase a impediram de seguir seu grande sonho, a pintura.

Sem Barreiras - Inicialmente, conte um pouco da sua história.

Daniela Caburro - Eu nasci uma criança normal e com oito meses contraí poliomielite, que roubou meus movimentos. Na época, pela gravidade da situação, os médicos disseram que eu passaria a vida toda deitada em uma cama, vege-tativa, sem nem poder falar. Fui in-ternada em São Paulo, quase mor-rendo. Foi uma luta muito grande, porque a doença ia afetar os meus pulmões e eu não ia sair do respi-rador artificial, mas Deus resolveu me dar uma chance, e hoje estou aqui.

Quanto tempo você ficou no hospital?

Foram vários meses. Na época era tudo muito precário, meus pais eram recém-casados e eu fui a pri-meira filha. Meu pai precisou voltar para São Carlos para trabalhar e minha mãe ficou na casa de fami-liares em São Paulo que deram apoio para ela enquanto eu esteva internada.

E sua infância, como foi?

Minha infância e juventude foram muito legais. Com o apoio da famí-lia e dos amigos minha casa sem-pre pareceu uma creche, cheia de crianças. Eu não podia muito sair de casa então todos vinham aqui brincar. Na época, como minha cadeira não era motorizada, as crianças amarravam minha ca-deira e me puxavam para la e pra cá. Era muito bacana, nunca senti que não podia fazer algo, porque de uma forma ou de outra eu fazia. Com ajuda o que a gente não con-segue, não é mesmo?

E a arte surgiu quando na sua vida?

Eu sempre amei a pintura, mas o pouco que eu conhecia era através da televisão, não tinha condições de fazer um curso, que sempre foi muito caro, então esse sonho foi sendo adiado. Eu nunca gostei de ficar parada, de uma forma ou

de outra, dentro dos meus limites eu sempre estou fazendo alguma coisa. Então antes de chegar na pintura à óleo eu fiz outras coisas: pintura em tecido, em vidro, mas sempre com a esperança de um dia pintar telas. Nessa época, com 15 anos, eu tinha vergonha de pintar com a boca, mas eu falei ‘Se deus me deu o dom de pintar desse jeito então eu vou assu-mir isso e pintar com a boca’.

O que trabalhar com a pintura re-presenta pra você?

A pintura em tela é onde eu consigo me libertar, eu me realizo. Cada pin-celada é uma liberdade, se eu estou pintado cavalos eu estou cavalgando com eles, se eu pinto uma bailarina eu estou dançando com a bailarina.

Você fez cursos para aprender a pintar?

Fiz um curso de pintura em tela que consegui através de amigos que co-nheci em uma associação para defi-cientes aqui em São Carlos. Um dia eu comentei que tinha muita vonta-de vonta-de pintar quadros. Foi aí que um amigo dessa associação conseguiu o contato da professora de artes plásticas Mara Toledo, que acreditou no meu sonho e me deu o curso de presente. Eu tive oportunidade, sem oportunidade a gente não consegue seguir em frente.

E sobre a associação dos pintores com a boca e os pés?

É uma benção na minha vida e na vida de todos que fazem parte. Para você ter uma ideia, hoje a associa-ção conta com mais de 800 artistas em 75 países diferentes, no Brasil são 53 pintores. A associação muda completamente a vida dos seus inte-grantes, porque viver da arte não é fácil. A associação dá suporte para o artista, já que através da reprodução de nossas obras em calendários e cartões, eles nos pagam uma bolsa. Isso é um apoio pra você comprar seu material, suas coisas do dia a dia, afinal ser deficiente é caro.

Como você conheceu a associa-ção?

Foi uma grande amiga, que também pinta com a boca que me apresen-tou. Ela me ligou e falou que estava em uma associação muito interes-sante que dava apoio para artistas. Isso tudo quinze anos atrás. Ela me indicou para a APBP (Associação dos Pintores com a Boca e os Pés) e eu consegui marcar uma entrevista. Eles vieram conhecer meu trabalho, levaram alguns quadros que foram

enviados para a sede na Suíça e de-pois que me aprovaram mandaram um contrato para eu assinar. De-pois de aceita eu não precisei mais me preocupar com materiais para a pintura e cursos. Hoje a dedicação é 100%.

Com relação a sua adaptação, como foi?

Para conseguir que seu dia a dia seja mais independente é preciso adaptar sua casa quase 100%. Hoje eu tenho minhas luzes adaptadas, rampas, pia, tudo. Meu tio fez um cavalete de pintura que com um sim-ples toque eu consigo girar a tela e alcançar o ponto que quero pintar.

Em 2011 foi lançada sua biografia, como foi isso para você?

A Hebe Rios é uma jornalista que trabalhava a EPTV aqui de São Carlos e foi ela que escreveu minha biografia.Que está muito linda, feita com muita dedicação. A Hebe que-ria escrever um livro e a Mara Tole-do, minha professora, passou meu contato, falando que minha história era muito bacana. Quando ela en-trou em contato comigo eu fiquei tão emocionada, nem acreditava direito. O lançamento foi outra emoção, foi fantástico porque todos os nossos amigos participaram.

Além do livro você também tem uma peça que conta um pouco da sua história. Como surgiu essa peça?

A peça de teatro aconteceu através do livro. O Laerte Asniz, que é um diretor de teatro, estava se apre-sentando e uma pessoa do público perguntou se ele conhecia a histo-ria da Daniela Caburro, que tinha publicado um livro recentemente. Ele procurou a minha história e achou legal. Ele me chamou para ser a atriz e quando ele falou isso eu não acreditei, eu amo teatro mas nunca tinha tido a oportunida-de oportunida-de atuar. E foi uma experiência maravilhosa, fazer teatro é tudo de bom, é um outro sonho realizado

E agora, qual seu próximo so-nho a ser realizado?

Eu sou uma sonhadora incorrigível e tenho muito sonhos para reali-zar. Eu quero conhecer o exterior, ir até a Suíça na sede da associa-ção que eu faço parte. Quero apri-morar minha arte. Quero saltar de paraquedas, que é uma coisa que eu tenho vontade faz tempo e nin-guém nunca deixou, mas eu ainda vou fazer. Futuramente eu que-ro dirigir um carque-ro, mesmo sendo tetraplégica, porque hoje eu já sei que é possível.

Daniela caburro: uma história de superação através da arte

Artista sãocarlense sutiliza a boca para pintar telas que são vendidas no mundo todo

Por luigi rigoni

Fo to: L uig i R ig oni Fo to: Di vu lgaç ão

“A pintura em tela é onde eu consigo

me libertar, eu me realizo”

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Data de publicação: 2012 Autora: R.J Palacio Editora: Intrínseca

Toda pessoa

deveria ser aplaudida

de pé uma vez na

vida, porque todos nós

vencemos o mundo

Data de publicação: 2013 Autora: Kathryn Erskine Editora: Valentina

Data de lançamento: 2012 Direção: Eric Toledano, Olivier Nakache

Como pode existir

alguma palavra

mais especial que

coração?

A beleza da borboleta

está no interior da

lagarta, basta você

se permitir ver

Data de publicação: 2012 Autora: R.J Palacio Editora: Intrínseca

Às vezes você deve

entrar no mundo do

outro para descobrir

o que falta no seu

Um chamado especial

Extraordinário

Os Intocáveis

Passarinho

Soul Surfer – Coragem de viver

Não precisa ser

fácil, só precisa

ser possível

Data de lançamento: 2011 Direção: Sean McNamara

A Teoria de Tudo

Não deve haver

limites para o esforço

humano. Somos

todos diferentes

Data de lançamento: 2015 Direção: James Marsh

Como eu era antes de você

Poucas coisas

ainda me fazem feliz

Data de lançamento: 2016 Direção: Thea Sharrock

O que me faz pular

Quando pulo, é

como se meus

sentimentos

rumassem em

direção ao céu

Data de publicação: 2014 Autor: Naoki Higashida Editora: Intríseca

Referências

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