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Legislação trabalhista no meio aeronáutico: direitos e deveres dos empregadores brasileiros e de seus tripulantes

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CLEVERSON CONTE GONÇALVES

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO MEIO AERONÁUTICO: DIREITOS E DEVE-RES DOS EMPREGADODEVE-RES BRASILEIROS E DE SEUS TRIPULANTES

Palhoça 2017

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CLEVERSON CONTE GONÇALVES

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO MEIO AERONÁUTICO: DIREITOS E DEVE-RES DOS EMPREGADODEVE-RES BRASILEIROS E DE SEUS TRIPULANTES

Monografia apresentada ao Curso de Especia-lização em Gestão e Direito Aeronáutico, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para o título de Especialista.

Orientador: Prof. João Batista da Silva, Msc.

Palhoça 2017

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CLEVERSON CONTE GONÇALVES

LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO MEIO AERONÁUTICO: DIREITOS E DEVE-RES DOS EMPREGADODEVE-RES BRASILEIROS E DE SEUS TRIPULANTES

Esta Monografia foi julgada adequada à obten-ção do título de Especialista e aprovada em sua forma final pelo Curso de Gestão e Direito Ae-ronáutico, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça - SC, _______ de __________________ de 20____.

_____________________________________________ Prof. e orientador João Batista da Silva, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________ Prof. José Luiz Gonçalves da Silveira, Dr.

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Dedico à minha esposa Walkiria, presente em todos os momentos de dificuldades e que sou-be, através da sua serenidade e sabedoria, me manter comedido e estimulado.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por me dar saúde, força e paz para galgar nessa atribulada fase emocional em que passo além dos compromissos inerentes a todos que são irmãos, pais, filhos e maridos ao mesmo tempo.

Agradeço a minha esposa e toda a família que compreendeu a relevância pessoal da conclusão desse curso e a minha ausência física nos momentos importantes em que a maté-ria se faz necessámaté-ria.

Concluo agradecendo ao Prof. Msc João Batista da Silva que demostrou além das fronteiras do seu conhecimento. Mostrou através de seu exemplo que o ser humano deve ter dedicação e respeito sendo prestativo de forma eficaz ao que se destina. Características profis-sionais que ressaltam a personalidade de um ser humano correto e digno de ser seguido.

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“Os seres humanos gostam de estar associados a uma pessoa trabalhadora, disci-plinada e bem-sucedida, e, quando cultivadas cuidadosamente essas qualidades, ganhas mui-tos amigos.” (MANDELA, 1969)

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RESUMO

A presente monografia objetiva, precipuamente, examinar a legislação trabalhista aeronáutica na relação jurídica desenvolvida entre o tripulante e o empregador. Para isso, inicia-se a análi-se com um breve escorço histórico sobre o direito do trabalho. Em análi-seguida, examinam-análi-se os métodos de interpretação jurídica, de forma pragmática, com o intuito de trazer ao conheci-mento dos tripulantes e seus respectivos empregadores, seus deveres e obrigações na referida relação empregatícia. Com essas premissas, passa-se a esmiuçar a legislação trabalhista perti-nente à relação empregatícia desenvolvida entre o tripulante e o empregador, com o fim de demonstrar a gama de normas constantes na Consolidação das Leis Trabalhistas aplicáveis ao meio aeronáutico. Finalmente, verificam-se as consequências do descumprimento da legisla-ção trabalhista, tanto por parte do empregado, quanto do seu empregador. Pretende-se desen-volver um trabalho pautado em termos práticos, que viabilize a democratização do conheci-mento técnico-jurídico, sobretudo para garantia do bem-estar da classe aeronáutica. Conclui-se o trabalho enfatizando a importância do cumprimento da legislação trabalhista aeronáutica por todos os envolvidos neste meio, mitigando os riscos e administrando-os à níveis aceitáveis conciliando segurança com produtividade e lucratividade dentro de uma empresa aérea.

Palavras-chave: História do direito do trabalho. Direito Trabalho. Direito Aeronáutico. Apli-cação do direito. Relação empregatícia. Tripulante e empregador.

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ABSTRACT

The present monograph aims, in essence, to examine the aviation labor legislation concerning the legal relationship developed between the crew member and the employer. In this regard, the analysis begins with a brief historical overview of Labor Law. The methods of legal inter-pretation are subsequently examined, in a pragmatic approach, with the intention of bringing awareness to the crew as well as their respective employers, on what concerns to their duties and obligations referring to the employment relation. Considering these premises, the perti-nent labor legislation regarding to the employment relationship between the crew member and the employer is scrutinized, in order to demonstrate the range of regulations contained in the Consolidation of Labor Laws which are applicable to aviation environment. Finally, the con-sequences of non-compliance with the labor legislation, both by the employee and his em-ployer, are reviewed. It is intended to develop the work based on practical terms, which will enable the technical-legal knowledge democratization, especially to ensure the aviation cate-gory welfare. As a conclusion to the dissertation, the rights to be pursued concerning labor legislation are reviewed, and, on the other hand, which ones are contained in the respective aviation laws as well.

Key words: History of labor law. Labor Law. Aviation Law. Application of the law. Em-ployment relationship. Crew member and employer.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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LISTA DE SIGLAS

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil CBA – Código Brasileiro de Aeronáutica CCT – Convenção Coletiva de Trabalho CMA – Certificado Médico Aeronáutico

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social SNA – Sindicato Nacional dos Aeronautas

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO LABORAL ... 14

2.1 ETIMOLOGIA: SENTIDO DA PALAVRA TRABALHO ... 14

2.2 PRIMÓRDIOS DO DIREITO LABORAL ... 15

2.3 HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ... 17

3 INTRODUÇÃO À INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ... 21

3.1 O QUE É DIREITO? ... 21

3.2 INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ... 22

3.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO DIREITO ... 22

3.3.1 Interpretação gramatical ... 22

3.3.2 Interpretação sistemática ... 23

3.3.3 Interpretação histórica ... 24

3.3.4 Interpretação teleológica ... 25

3.4 PRINCÍPIOS PRÓPRIOS DO DIREITO TRABALHISTA ... 25

3.5 APLICAÇÃO DO DIREITO ... 26

3.5.1 Critério hierárquico ... 26

3.5.2 Critério cronológico ... 27

3.5.3 Critério da especialidade: a questão do tripulante ... 28

4 DIREITOS E DEVERES DOS EMPREGADORES E DE SEUS TRIPULANTES . 29 4.1 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ESPECIAL ... 29

4.2 DIREITOS E DEVERES DOS EMPREGADORES BRASILEIROS E DE SEUS TRIPULANTES CONSTANTES EM OUTRAS NORMAS ... 32

4.2.1 Do acidente de trabalho ... 33

4.2.2 Da gravidez e da amamentação ... 33

4.2.3 Das férias ... 35

4.2.4 Faltas justificadas ... 36

4.2.5 Do exame médico ... 37

4.2.6 Das faltas graves ... 38

4.2.7 Da identificação profissional ... 40

4.2.8 Da higiene no âmbito de trabalho ... 40

4.2.9 Do direito ao uniforme ... 41

4.2.10 Das convenções coletivas de trabalho ... 41

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4.3 DAS CONSEQUÊNCIAS DO DESCUMPRIMENTO DOS DEVERES

TRABA-LHISTAS ... 43

4.4 NOVA LEI DO AERONAUTA ... 44

5 CONCLUSÃO ... 48

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1 INTRODUÇÃO

O Direito é ramo do conhecimento humano de gênese estritamente social. O re-gramento somente é necessário onde há um grupo de pessoas. O indivíduo só não necessita de regras. É a forma que o homem encontrou para viabilizar a coexistência pacífica.

Em um segundo momento da humanidade, já enraizado na consciência dos povos a ideia de Direito como regra de conduta, exsurge-se o Direito como fonte transformadora do tecido social. É a visão moderna.

Nessa perspectiva, ressai a importância do Direito do Trabalho. Conjugse am-bas as posições. De um lado, busca-se o regramento da convivência entre o prestador de viços e aquela a quem se presta. Do outro lado, visa-se a dignificação daquela que presta ser-viços, no mais das vezes o mais fraco na relação jurídica.

Porém, não pode o Direito limitar-se a instrumento simbólico de garantia de direi-tos. Essa tensão entre o ser e o dever ser precisa ser constantemente superada, de sorte a en-tregar efetividade às normas, transmudando-se o ser para o dever ser.

Na relação empregatícia aeronáutica, as faces jurídicas se encontram em perma-nente tensão, haja vista a existência de legislações esparsas sobre o tema, o que torna difícil o conhecimento da legislação pertinente pelo tripulante.

O tema abordado, Legislação trabalhista no meio aeronáutico: direitos e deveres dos empregadores brasileiros e de seus tripulantes foi elaborado através da compilação do direito laboral pertinente à atividade, com intuito de auxílio às empresas aéreas para cumpri-rem o que é de dever aos seus tripulantes e as consequências advindas caso não assim não faça.

Por isso, torna-se necessário o exame metodológico da aplicação do direito. É preciso que o leigo em técnica jurídica conheça que a legislação especial somente se aplica naquilo que se trata especificamente, restando à legislação geral plenamente aplicável nas lacunas da lei especial.

E, na legislação aeronáutica, vislumbram-se legislações próprias para a relação desenvolvida entre o tripulante e o empregador. Sucede que referidas leis não excluem a apli-cação da lei trabalhista, como está enraizado no ideário social.

A economia mundial passa por momentos instáveis afetando os mais diversos se-tores públicos e privados. Consequentemente, a aviação civil precisou adequar-se ao momen-to de sobrevivência no mercado como qualquer outra instituição, mas há grande diferença em relação as outras. Uma empresa aérea possui características peculiares que devem ser tratadas com cautela e muito estudo porque trabalha diretamente com vidas que podem ser perdidas

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por corte de custos inconsequentes como redução da mão de obra ou extensão de jornada irre-gular de tripulantes.

A metodologia aplicada na elaboração para atingir o problema de forma pura ca-racterizada pela curiosidade intelectual definida pelo que o pesquisador quer conhecer é quali-tativa, predominantemente descritiva, fruto de investigação bibliográfica.

A pesquisa será teórica voltada na área específica do direito trabalhista concomi-tantemente com as peculiaridades da regulamentação aeronáutica pertinente aos tripulantes e com um nível de profundidade explicativa, pois serão correlacionados aspectos legais com as possíveis responsabilidades geradas no descumprimento do ordenamento.

O seu objetivo geral é identificar a legislação trabalhista aeronáutica imputada aos tripulantes de empresas aéreas e seus empregadores, bem como as responsabilidades advindas do descumprimento delas.

Para atingir o objetivo geral, será apresentado em ordem cronológica a evolução histórica do direito laboral partindo da interpretação própria da palavra e seus conceitos em diversos aspectos dentre eles o jurídico.

No contexto da evolução do direito trabalhista, volta-se ao passado no Século XVIII com a época da Revolução Industrial onde ocorreram as primeiras organizações sociais buscando melhorias nas condições de trabalho e, por consequência, foi criada a Organização Internacional do Trabalho. Dessa organização surgiram legislações especiais que regulam mais de 190 países no mundo.

Para adentrar-se na legislação especial aeronáutica e obter a interpretação correta, bem como a aplicabilidade da legislação comum a todos os empregados, é necessário haver breve introdução e interpretação do direito.

Tanto o tripulante quanto o seu empregador precisam adquirir, caso ainda não possuam, os métodos de interpretação para aplicar a legislação pertinente ao assunto confor-me a sua normatização na íntegra com o intuito principal que realconfor-mente foi redigida. Não obs-tante, também a hierarquia legislativa devido à organização normativa brasileira além da in-ternacional promulgada no país.

Por fim, somando o conhecimento e facilitando a consulta da legislação pertinente aos tripulantes e empregadores serão apresentados os direitos e deveres de ambos com co-mentários pertinentes aos principais artigos da legislação elaborados por muitos autores ope-radores do direito.

Em suma, envereda-se tanto pela legislação aeronáutica, quanto pela constante na Consolidação de Leis do Trabalho, para que, ao fim, possa-se demonstrar sua simbiose. Essa tensão sinérgica que une ambas as legislações, mas que, obscuridade técnica, passa à margem dos empregados e empregadores.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO LABORAL

Fruto de um período histórico mundialmente conturbado, as leis trabalhistas cor-responderam a um estágio no desenvolvimento social e jurídico, pois antes de existirem os empregados possuíam apenas deveres dos mesmos para com seus empregadores não havendo a menor possibilidade da existência de direitos, os quais, muitas vezes, tratados de forma de-sumana além de inúmeros acidentes irreversíveis ocasionados por falta de segurança e anseio no ambiente de trabalho.

Do sofrimento à conquista, os trabalhadores atuais usufruem da gama normativa lapidada no decorrer dos anos. A apresentação da evolução do direito laboral é necessária para melhor compreensão das leis que regem o trabalho, palavra essa que apresenta diversos con-ceitos citados a seguir.

2.1 ETIMOLOGIA: SENTIDO DA PALAVRA TRABALHO

A palavra trabalho tem como origem a palavra tripalium, que era um instrumento de tortura constituído de três estacas de madeira afiadas. Tripalum é formada pela junção dos elementos tri, que significa “três”, e palum, que quer dizer “madeira”. (TRABALHO, 2017)

Os pobres e escravos que não podiam pagar seus impostos eram os que sofriam as torturas no tripalum, sendo assim, quem trabalhava na época eram as pessoas destituídas de posses. (JUNIOR, 2015)

Essa concepção é compreensivel para a época de sua gênese. Desde a Antiguidade até o advento do Estado Liberal, ou Moderno, predominava o ideário de que os homens livres e iguais não deveriam se submeter ao trabalho. Pelo contrário, deveriam levar uma vida ociosa, preocupada com a coisa pública.

Em relação ao conceito geral da palavra trabalho, pode apresentar genericamente vários sentidos como significar o reconhecimento da dignidade do homem, uma dimensão da personalidade humana, o meio pelo qual o ser humano se realiza em sua plenitude. (FILHO et. al., 2015)

Sob o aspecto sociológico, JUNIOR (2015) afirma que seria tido como um método pelo qual se produz bens e serviços, ou a forma pela qual o homem adquire seu sustento. Conforme o mesmo autor, sob o aspecto filosófico apresenta uma dimensão dupla, sendo que de um lado pode significar castigo e privilégio e de outro, produção de riqueza e redenção humana.

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Finalmente o conceito de trabalho em seu sentido jurídico. O trabalho deve ser lícito para o ordenamento jurídico além de compreender atividade valorada socialmente. (SOIBELMAN, 1997)

2.2 PRIMÓRDIOS DO DIREITO LABORAL

O surgimento dos primeiros indícios de normas concernentes ao Direito do Trabalho se deu no século XVIII com a Revolução Industrial. É neste momento que as má-quinas são efetivamente introduzidas nas fábricas, mudando assim, irreversivelmente, a forma pela qual o trabalho era exercido. Esta nova estrutura de produção quebrou todos os paradig-mas e trouxe como consequência uma explosão na oferta de mão de obra. Marx conceituava esse excedente de mão de obra como “exército industrial de reserva”. (SANTANA, 2017)

O crescimento contínuo das indústrias atraiu famílias rurais para as cidades em busca de trabalho remunerado. As condições de trabalho, no entanto, eram extremamente pre-cárias. A mão-de-obra urbana começou a exceder o número de empregados gerados, o que culminou com massas populacionais sem emprego. (JUNIOR, 2015)

O mesmo autor afirma que o menor e a mulher sofriam todo tipo de discriminação e exploração, pois além de trabalharem jornadas imensas, não recebiam nem a metade do sa-lário reservado aos homens adultos.

Mulheres pariam filhos no interior das fábricas. As condições de trabalho eram in-salubres. Crianças trabalhavam em minas de carvão. Enfim, toda sorte de abuso ocorria.

Com o emprego das máquinas de produção, que eram precursoras nas indústrias, inúmeros acidentes advinham da falta de experiência nos equipamentos em fase de aprimora-mento ou pela inexistência de equipaaprimora-mentos de proteção. Além da inexperiência, os emprega-dos também sofriam todo tipo de abuso, e nas fabricas a situação tornava-se cada vez mais insustentável. As jornadas de trabalho atingiam até 16 horas diárias. Os acidentes eram cons-tantes e a falta de higiene era notória. (CASSAR, 2010)

Com nítida influência dos movimentos surgidos na Europa, os trabalhadores co-meçam a reivindicar a melhoria das condições de trabalho.

É neste difícil cenário, marcado, sobretudo, pelas precárias condições de trabalho, que eclodiram revoluções sociais trabalhistas.

Segundo JUNIOR (2015), o direito do trabalho pode ser dividido em três fases: a primeira que vai da Revolução Industrial até o Manifesto Comunista de 1848 caracterizado por leis esparsas e difusas; a segunda fase que vai do Manifesto Comunista até 1919 com a criação da Organização Internacional de Trabalho (OIT) onde, nessa fase, tem-se a ação em massa dos trabalhadores em prol dos seus direitos, o que acarreta o reconhecimento destes

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perante o Estado e a última fase a partir de 1919 tendo-se a oficialização do direito do traba-lho formada por várias leis como a Carta Del Lavoro que influenciou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) brasileira.

A evolução do direito trabalhista no Brasil teve como marco a abolição da escra-vatura, que define a possibilidade ou não, do surgimento de um Direito Laboral, haja vista que anteriormente não havia trabalhadores livres em número bastante para exigir tutela jurídica em seu ofício. (SANTANA, 2017)

JUNIOR (2015) divide a evolução do Direito do Trabalho no Brasil também em três fases marcantes, sendo a primeira destacada da independência do Brasil à abolição da escravatura, período esse caracterizado pelas políticas mercantilistas à base da agricultura onde o Brasil era colônia portuguesa, fase essa marcada pelos motivos acima citados.

O segundo período de 1888 a 1930 com manifestações esparsas e desconexas, ex-ceto a greve geral de 1917, a qual angariou milhares de trabalhadores influenciados pelos imi-grantes europeus com ideais anarco-sindicalistas.

Assim, o Estado começou a intervir nestes conflitos e coordenou a realização de reuniões com o objetivo de se conciliar às reivindicações mais importantes. Criou-se uma forma de mediação obrigatória, na qual sempre estaria presente um representante do Estado. Contudo, tal procedimento não alcançou uma solução satisfatória, sendo necessária que outra posição fosse tomada. (SANTANA, 2017)

A pressão popular, por sua vez, fez o seu papel e forçou que o Estado procedesse à implementação de algumas leis, sobretudo com o objetivo de proteger o trabalhador. (SAN-TANA, 2017)

Conforme o mesmo autor, a primeira instituição com o objetivo de conciliar as li-des trabalhistas surgiu no Estado de São Paulo, em 1922, com a criação dos Tribunais Regio-nais. Contudo, esta experiência também não surtiu os efeitos desejados. Nesse período surgem leis proibitivas de trabalho dos menores de 12 anos, preocupação com acidentes do trabalho, direito de férias dentre outras.

A terceira fase da evolução laboral brasileira JUNIOR (2015) caracteriza partir da Revolução de 1930 aos dias atuais. A Revolução foi tida como o principal fator responsável pela criação imediata de um grande número de leis trabalhistas.

Em 1932, foram criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento e as Comissões Mistas de Conciliação, com funções de suprimir os conflitos trabalhistas e a Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de questões trabalhistas, notoriamente, influenciada pelo constitu-cionalismo social surgido na Europa após a Primeira Guerra Mundial. (SANTANA, 2017)

O Estado-Novo, capitaneado pelo autoritarismo de Getúlio Vargas, concebeu os primeiros traços do que seria a Consolidação das Leis do Trabalho, proscrevendo o trabalho

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para menores de 12 anos, criando a justiça do trabalho, instituição sindicais, dentre outras. (JUNIOR, 2015)

Em 1939, o Decreto-Lei n° 1.237 instituiu a Justiça do Trabalho e, em 1940, o Decreto-Lei n° 6.596 modificou a estrutura da Justiça do Trabalho, com a criação de oito Conselhos Regionais e um considerável aumento de suas atribuições. (JUNIOR, 2015)

Nesse cenário, é possível verificar a intensa preocupação estatal com a relação en-tre o empregado e empregador, fato este que culmina com a edição de um Código Trabalhista.

Em 1943, é publicada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que estabelece as diretrizes legais que regulamentam as relações de trabalho individuais e coletivas. É impor-tante ressaltar que ainda nos dias atuais a CLT é a principal fonte regulamentadora do direito do trabalho no país. (JUNIOR, 2015)

Fato curioso no Direito Trabalhista brasileiro, é que, diferentemente de outros paí-ses, as leis trabalhistas emanam de um governo autoritário, em que a participação social é colocada de lado.

Na Inglaterra, por exemplo, berço da Revolução Industrial, os direitos trabalhistas somente surgem com a participação dos trabalhadores na política. A participação popular, portanto, é decisiva na criação dos direitos trabalhistas, à medida que a classe do trabalho consegue eleger seus próprios representantes. (JUNIOR, 2015)

No mais, de 1943 até os dias atuais, o Direito do Trabalho sofreu várias modifica-ções, pois como se sabe, o direito é dinâmico e social devendo se adaptar à realidade, caso contrário, vê-se o seu completo esvaziamento normativo.

2.3 HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

A Organização Internacional do Trabalho – OIT exerceu papel fundamental para o fortalecimento do Direito Laboral. É uma Agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decen-te e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. O Trabalho De-cente, conceito formalizado pela OIT em 1999, sintetiza a sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo considerada condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. (OIT, 2017)

A sua criação foi em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. (OIT, 2017)

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Segundo dados da própria Organização ela é a única das Agências do Sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, composta de representantes de governos e de organizações de empregadores e de trabalhadores. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações). As conven-ções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu orde-namento jurídico. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferên-cia Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião. (OIT, 2017)

Na primeira Conferência Internacional do Trabalho, realizada em 1919, a OIT adotou seis convenções. A primeira delas respondia a uma das principais reivindicações do movimento sindical e operário do final do século XIX e começo do século XX: a limitação da jornada de trabalho a 8 horas diárias e 48 horas semanais. As outras convenções adotadas nes-sa ocasião referem-se à proteção à maternidade, à luta contra o desemprego, à definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos. (OIT, 2017)

Em 1926, a Conferência Internacional do Trabalho introduziu uma inovação im-portante com vistas a supervisionar a aplicação das normas. Criou uma Comissão de Peritos, composta por juristas independentes, encarregada de examinar os relatórios enviados pelos governos sobre a aplicação de Convenções por eles ratificadas (as “memórias”). A cada ano, esta Comissão apresenta seu próprio relatório à conferência. (OIT, 2017)

Durante seus primeiros quarenta anos de existência, a OIT consagrou a maior par-te de suas energias a desenvolver normas inpar-ternacionais do trabalho e a garantir sua aplicação. Entre 1919 e 1939 foram adotadas 67 convenções e 66 recomendações. A eclosão da Segunda Guerra Mundial interrompeu temporariamente esse processo. (OIT, 2017)

Em 1944, os delegados da Conferência Internacional do Trabalho adotaram a De-claração de Filadélfia que, como anexo à sua Constituição, constitui, desde então, a carta de princípios e objetivos da OIT. Esta Declaração antecipava em quatro meses a adoção da Carta das Nações Unidas (1946) e em quatro anos a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), para as quais serviu de referência. Reafirmava o princípio de que a paz permanente só pode estar baseada na justiça social e estabelecia quatro ideias fundamentais, que constituem valores e princípios básicos da OIT até hoje: que o trabalho deve ser fonte de dignidade, que o trabalho não é uma mercadoria, que a pobreza, em qualquer lugar, é uma ameaça à prosperi-dade de todos e que todos os seres humanos tem o direito de perseguir o seu bem estar materi-al em condições de liberdade e dignidade, segurança econômica e igumateri-aldade de oportunidades. (OIT, 2017)

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No final da Guerra, nasce a Organização das Nações Unidas (ONU), com o obje-tivo de manter a paz através do diálogo entre as nações. A OIT, em 1946, se transforma em sua primeira agência especializada. (OIT, 2017)

Em 1969, ano em que comemorava seu 50º aniversário, a OIT recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Ao apresentar o prestigioso prêmio, o Presidente do Comitê do Prêmio Nobel ressaltou que “a OIT tem uma influência perpétua sobre a legislação de todos os países” e deve ser considerada “a consciência social da humanidade”. (OIT, 2017)

A OIT desempenhou um papel importante na definição das legislações trabalhis-tas e na elaboração de políticas econômicas, sociais e trabalhistrabalhis-tas durante boa parte do século XX.

Em 1998, a Conferência Internacional do Trabalho, na sua 87ª Sessão, adota a Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho, definidos como o respeito à liberdade sindical e de associação e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coleti-va, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório, a efetiva abolição do trabalho infantil e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. (OIT, 2017)

A Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais do Trabalho estabelece que todos os Estados Membros da OIT, pelo simples fato de sê-lo e de terem aderido à sua Consti-tuição, se obrigam a respeitar esses direitos e princípios, havendo ou não ratificado as con-venções a eles correspondentes. A Conferência define também a ratificação universal dessas convenções como um objetivo, senta as bases para um amplo programa de cooperação técnica da OIT com os seus Estados Membros com o objetivo de contribuir à sua efetiva aplicação e define um mecanismo de monitoramento dos avanços realizados. (OIT, 2017)

Em junho de 2008, durante a 97ª Sessão da Conferência Internacional do Traba-lho, que se realiza anualmente em Genebra, representantes de governos, empregadores e tra-balhadores adotaram um dos mais importantes documentos da OIT: a Declaração sobre Justi-ça Social para uma Globalização Equitativa. O documento corresponde a uma das primeiras manifestações de um organismo internacional com preocupações sobre o mundo globalizado e a grave crise financeira internacional que iria eclodir a partir de setembro de 2008. É impor-tante assinalar que já existia uma crise do emprego antes da eclosão da crise econômica e fi-nanceira internacional. Essa crise se manifestava, entre outros indicadores, na existência de 195 milhões de desempregados no mundo e no fato de que 40% das pessoas que estavam ocupadas (cerca de 1,4 bilhões de pessoas) ganhava menos de 2 dólares por dia (situando-se, portanto, abaixo da linha da pobreza) e 20% delas ganhava menos de um dólar ao dia (portan-to, abaixo da linha da extrema pobreza). Além disso, oito em cada dez pessoas não tinha aces-so aos regimes de previdência aces-social (OIT, 2007).

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Essa situação era resultado de um processo de globalização injusto e desigual, tal como assinalado desde 2004 pela Comissão Mundial sobre a Dimensão Social da Globaliza-ção, reunida no âmbito da Organização Internacional do Trabalho, e que caracterizou essas desigualdades globais como “inaceitáveis do ponto de vista moral e insustentáveis do ponto de vista político” (OIT, 2005).

A crise esteve precedida por um desequilíbrio crescente nos rumos da globaliza-ção, que se manifestou, em particular, em uma distribuição muito desigual dos seus benefícios (entre os países e no seu interior) e no aumento das desigualdades de renda, que caracterizou a realidade da maioria dos países, mesmo durante os anos de prosperidade econômica (primei-ros anos da década de 2000). (OIT, 2017)

Com efeito, de acordo com dois estudos publicados pela OIT em 2008, entre 1995 e 2007, em 70% dos países analisados, diminuiu a porcentagem dos salários no PIB e aumen-tou a desigualdade de renda (OIT 2008a e OIT, 2008b). Um desses estudos assinala ainda que um dos fatores que impediram o aumento da desigualdade social em alguns desses países ou fizeram com que ele ocorresse em menor escala, foram as políticas de salário mínimo e os processos de negociação coletiva.

A história institucional de sucesso da Organização Internacional do Trabalho é exemplar. Nenhuma outra instituição com pretensões universais exerceu tanta influência nos regimentos internos dos Estados Soberanos.

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3 INTRODUÇÃO À INTERPRETAÇÃO DO DIREITO

Para melhor interpretação da legislação trabalhista no meio aeronáutico, se faz ne-cessário discorrer assuntos pertinentes ao conhecimento brando do Direito e técnicas de inter-pretação para que a legislação seja corretamente aplicada aos envolvidos nesse complexo or-ganismo econômico explorador do espaço aéreo.

3.1 O QUE É DIREITO?

Segundo DIMOULIS (2013), o termo direito possui quatro definições descritivas:

1. Direito é o justo, aquilo que cada pessoa deve fazer ou deixar de fazer em uma sociedade bem ordenada e justa. Este significado está relacionado com o termo

di-rectum, que significa reto, bem direcionado, correto (como na expressão “fiz tudo

direito”). A definição do direito como mandamento justo coloca o problema da rela-ção entre as leis que estão em vigor em determinado país e os ideais de justiça. 2. Direito é aquilo que alguém pode fazer, exercendo uma faculdade (direito de vo-tar), exigindo uma prestação (direito do vendedor de receber o preço da mercadoria vendida) ou omissão (exigir que os vizinhos deixem de incomodar ouvindo música após a meia-noite). Esta é a definição do “direito subjetivo”.

3. Direito é o estudo das normas jurídicas. Neste sentido, dizemos que alguém é es-tudante ou professor de direito. Aqui o termo “direito” designa o conjunto das disci-plinas jurídicas, que muitos denominam “ciências jurídicas”.

4. Direito é o conjunto de normas que objetivam regulamentar o comportamento das pessoas na sociedade. Essas normas são editadas pelas autoridades competentes e preveem, em caso de violação, a imposição de penalidades por órgãos do Estado.

Segundo o mesmo autor, o direito das sociedades modernas é um conjunto de normas válidas que objetiva regulamentar o comportamento social. Isso significa que o direito não é simplesmente um composto de normas: constitui um sistema, cujos elementos são inter-ligados e ordenados, cumprindo determinadas funções. Portanto, as regras do direito só po-dem ser entendidas e aplicadas se forem combinadas entre si.

O conjunto global de princípios e regras existentes no interior de um determinado Estado Soberano forma, necessariamente, uma rede, em que todas se ligam entre si, sem, con-tudo, excluírem-se mutuamente. (DIMOULIS, 2013)

DIMOULIS (2013) também afirma que o direito é vivo. Pulsa. Esse pulsar ocorre no seio da sociedade civil, e se traduz na forma de costumes e práticas jurídicas. O costume, conquanto não figure como fonte formal do direito, isto é, produzida pelo Estado, certamente é uma das fontes em que se embebera o sistema jurídico.

Depreende-se, assim, que o Direito não se constituiu apenas de regras formais, possui também uma face viva, pulsante, construída pela sociedade civil no seu exercício.

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3.2 INTERPRETAÇÃO DO DIREITO

Interpretar, segundo DIMOULIS (2013), é o ato de “captar o sentido de cada norma emitida pelo legislador. (...) Trata-se de um processo de atribuição de sentido aos enunciados normativos jurídicos (textos de norma).”

Como o Direito possui uma vertente cientifica, ao longo do tempo buscaram-se vários métodos de interpretação do texto, almejando encontrar aquele que permitisse captar o efetivo sentido da norma, àquela imanente, o mais justo dos sentidos. (DIMOULIS, 2013)

Interpretação e hermenêutica figuram como palavras sinônimas. Porém, elas dife-rem daquilo que se chama aplicação do direito. A hermenêutica, ou interpretação, antecede à aplicação da norma. (FRANÇA, 1988)

Primeiro, capta-se o sentido, após, verifica-se sua correspondência com os fatos. Para a busca de um rigor científico na hermenêutica, a academia desenvolveu qua-tro formas principais de interpretação do enunciado textual: a) interpretação gramatical; b) interpretação lógica ou sistemática; c) intepretação histórica; d) interpretação teleológica. (DIMOULIS, 2013)

Os métodos acima, aplicados conjunta ou unicamente, visam captar o correto sen-tido da norma. É uma postura cientifica frente ao Direito.

3.3 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO DIREITO

Segundo DIMOULIS (2013), os métodos abaixo permitem aos juristas dar respos-tas relativamente satisfatórias, mesmo que persistem as controvérsias sobre o sentido de cada método e, principalmente, sobre a solução que deve ser adotada quando os métodos levam a resultados contraditórios ou não permitem chegar a uma conclusão.

3.3.1 Interpretação gramatical

A interpretação gramatical vem em primeiro, pois, evidentemente é a primeira a ser levada a cabo por qualquer pessoa ao se deparar com um enunciado normativo. Como bem destaca DIMOULIS (2013), “o método gramatical constitui o início da interpretação. Antes de tudo devemos entender as palavras. (...) além disso, o significado gramatical dos termos legais funciona como limite de interpretação.”.

A hermenêutica gramatical é sintetizada na fórmula latina: in claris, cessat inter-pretio (em tradução livre: na clareza, cessa-se a interpretação). (AUTOR DESCONHECIDO)

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A imposição de um limite interpretativo inerente à fórmula gramatical é exempli-ficada por DIMOULIS (2013) nos seguintes termos:

Outro exemplo: podemos discutir sobre o ponto exato em que termina a vida huma-na, já que os critérios empregados (morte cardíaca, morte cerebral) são sujeitos a controvérsias científicas e jurídicas. Não se pode, porém, dizer que faleceu uma pes-soa que ainda respira, mesmo sabendo que ela sofre de doença incurável! Aqui en-contramos uma importantíssima função da interpretação gramatical. Respeitar a von-tade do legislador significa respeitar os termos que ele emprega.

É dizer, o método da interpretação gramatical busca identificar o significado das palavras utilizadas pelo legislador, buscando entender o que ele quis ordenar por intermédio da lei. Por vezes, a lei facilita o entendimento dos dispositivos, oferecendo a definição de seus principais termos.

Quando a lei não proporciona indicações sobre o sentido dos termos que emprega, o intérprete deve partir do pressuposto que os termos utilizados possuem o significado comum da linguagem. Embora essa regra não é absoluta, entende-se que a legislação é destinada à população em geral e não somente a juízes e advogados. (DIMOULIS, 2013)

3.3.2 Interpretação sistemática

A interpretação sistemática objetiva integrar e harmonizar as normas jurídicas considerando-as como um conjunto. Para melhor entender o mandamento legislativo, deve-mos analisar a norma dentro do contexto da regulamentação legal, levando em consideração as relações lógicas e hierárquicas entre as várias normas. Com efeito, não é possível entender a maioria das disposições jurídicas sem analisar o direito como um todo. (DIMOULIS, 2013)

Parte-se do pressuposto que o ordenamento jurídico é uniforme e converge para o mesmo sentido, o que implicaria lógica em todo o sistema.

Esse tipo de método auxilia a resolução das dúvidas de interpretação, pois a com-binação de disposições legais permitirá dar uma resposta mais ou menos em acordo com o sistema.

DIMOULIS (2013) fornece o seguinte exemplo:

Não podemos partir do pressuposto de que o legislador, ao mesmo tempo, queria e não queria que José gozasse de férias! Se uma norma leva à conclusão que ele goza de férias e outra permite entender o contrário, devemos harmonizar ambas, para chegar a uma única conclusão.

Segundo FERREIRA (2011), para demonstrar o alcance da norma legal devemos precisar a quais fatos ela se refere. Para isso, por vezes, precisaremos identificar os fenômenos contidos nos significados de algumas palavras ou expressões.

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3.3.3 Interpretação histórica

A interpretação histórica vai além das palavras empregadas no texto da norma. Esse tipo de interpretação baseia-se, em primeiro lugar, nos estudos das discussões parlamen-tares na época da elaboração da lei, dos anteprojetos da lei e da exposição de motivos que, em muitos casos, acompanha as leis de certa relevância e procura explicar as finalidades. (DI-MOULIS, 2013)

A interpretação histórica recorre ao estudo do direito comparado da época de cria-ção da lei onde, eventualmente, o legislador nacional busca normas jurídicas e jurisprudências de outros países que enfrentaram problemas semelhantes. (DIMOULIS, 2013)

O mesmo autor afirma que se esse método de interpretação, se utilizado de forma isolada, pode causar certo mal-estar hermenêutico. Como já se disse, o direito é vivo, pulsan-te, dinâmico. É seu dever acompanhar as evoluções sociais.

Dito isso, fica fácil perceber que interpretar a norma, conferindo-lhe o sentido do contexto em que foi produzida é negar esta vividez ao direito, é estabilizá-lo em um só tempo, impedi-lo de evoluir.

Não obstante, este método encerra muitas benesses, porque, igualmente ao siste-mático, soluciona dúvidas eventualmente decorrentes da apreensão linguística do texto.

Oportuna a lição de DIMOULIS (2013) quando diz:

Ora, buscar a vontade do legislador histórico não significa fazer uma pesquisa bio-gráfica para entender o que exatamente desejou determinado legislador. Isso é im-possível nos Estados Democráticos; onde a lei é o produto de longas deliberações, negociações e compromissos de centenas de deputados que compõe o Poder Legisla-tivo, sendo impossível identificar a vontade de cada um. Mesmo se isso fosse possí-vel não teria relevância a interpretação, já que aquilo que interessa não é a pretensão subjetiva que permaneceu na cabeça do legislador, mas a compreensão dos motivos e das finalidades da lei o debate político e científico da época.

Segundo FILHO (2012), a pesquisa do processo evolutivo da lei, a história dos seus precedentes, auxilia o aclaramento da norma. Os projetos de leis, as discussões havidas durante sua elaboração, a Exposição de Motivos, as obras científicas do autor da lei são ele-mentos valiosos de que se vale o intérprete para proceder à interpretação.

FRANÇA (1988) complementa dizendo que a interpretação histórica é aquela que indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma legal, bem assim das cau-sas pretéritas da solução dada pelo legislador.

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3.3.4 Interpretação teleológica

Por fim, a interpretação teleológica busca a finalidade jurídica conforme critérios e exigências atuais. Para elucidar essa interpretação, o raciocínio seria da seguinte forma: ao criar a lei, o legislador pretendia tutelar determinados interesses ou bens e alcançar certas fi-nalidades. Se entre a criação da lei e o momento atual houve mudanças sociais, deve-se apli-car a norma após ter-se identificado qual seria a vontade do mesmo legislador se ele legislasse em nossos dias. (DIMOULIS, 2013)

É dizer, busca-se o telos da norma, seu fim, sua essência, razão de ser. Notada-mente, este processo é virtuoso à medida que mantém vivida a lei. Confere-lhe status sempre atual, não a deixa perecer à medida que os fatos evoluem. (BOBBIO, 1996)

Sobre o tema, disserta DIMOULIS (2013):

Mesmo quando a lei não necessita de atualização e adaptação à situação atual, a te-leologia objetiva pode ser empregada quando há dúvidas em relação ao seu sentido. Entre várias interpretações possíveis, deveríamos escolher aquela que melhor se ajusta à finalidade da lei. Por essa razão sustenta-se, frequentemente, que a interpre-tação teleológica não se atém à letra da lei e sim ao seu “espírito”. Constitui, assim, outro método para constatar a mens legis (a intenção ou o espírito da lei).

Sobre a interpretação teleológica, BUENO (2015) afirma que o intérprete deve le-var em consideração valores como a exigência do bem comum, o ideal de justiça, a ética, a liberdade e a igualdade, dentre outras.

3.4 PRINCÍPIOS PRÓPRIOS DO DIREITO TRABALHISTA

Os métodos acima elencados se adequam à interpretação geral do direito, isto é, são utilizados em todos os subsistemas normativos existentes (direito penal, processual, traba-lhista, etc.). (PALAVRAS DO AUTOR)

Não obstante, existem outras fontes interpretativas próprias a cada sistema norma-tivo. Essas fontes são denominadas princípios e exprimem um mandado de otimização; cons-tituem um pilar fundante; são normas fundamentais de um determinado sistema; são expres-sões axiológicas de certo sistema normativo. (GRANCONATO, 2016)

No ramo trabalhista, visa-se o equacionamento da relação entre o empregador (parte mais forte) e o empregado (parte mais fraca). Para isso, partem-se de determinadas vi-gas mestras (grifo nosso), os princípios deste ramo em específico. Em um breve apanho, são eles: (GRANCONATO, 2016)

• Princípio protetor: É o princípio maior do direito trabalhista, pois oferece proteção jurídica ao trabalhador compensadora da inferioridade que se

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en-contra no en-contrato de trabalho, pela sua posição econômica de dependên-cia e subordinação;

• Norma mais favorável: Sempre será aplicada a norma mais benéfica ao trabalhador, independentemente de sua hierarquia;

• Inalterabilidade contratual: Uma condição fática alcançada pelo trabalha-dor não poderá ser substituída por outra menos vantajosa, pelo menos, não na mesma relação de emprego;

• Intangibilidade salarial: O salário só poderá sofrer descontos previstos em lei. Além disso, tem privilégio de ser pago em relação a outras espécies de créditos, quando devido pelo empregador.

Assim, para captar o real alcance e sentido da norma, o intérprete deverá utilizar os métodos tradicionais além dos princípios do sistema normativo trabalhista.

3.5 APLICAÇÃO DO DIREITO

Apurado o alcance e sentido do enunciado normativo, o interprete deverá, se for o caso, aplicá-lo. Novos problemas podem, então, surgir.

É neste tópico que reside a principal problematização do trabalho, vez que as principais dificuldades dos tripulantes são na hora de se verificar qual a norma aplicável à sua situação. Em determinados casos, pode haver a incidência de uma norma trabalhista prevista na CLT, e outra igualmente trabalhista, porém prevista na legislação aeronáutica. Questiona-se, qual lei aplica-se?

Para solucionar estas questões de antinomia normativa, a doutrina concebeu ou-tros métodos também com pretensões cientificas, são eles: critério hierárquico, critério crono-lógico e critério especial. (DIMOULLIS, 2013)

3.5.1 Critério hierárquico

O conjunto de normas brasileiras, isto é, o ordenamento jurídico brasileiro, é composto por várias espécies normativas, as quais, por sua vez, possuem hierarquização umas sobre as outras.

Isso quer dizer que, sempre que lei inferior (por exemplo, uma portaria), contrari-ar o conteúdo, ou a forma prescrita, por uma lei superior (por exemplo, a constituição), utili-zar-se-á a norma superior.

Para a melhor compreensão deste escalonamento normativo, confira-se a figura do ordenamento jurídico brasileiro:

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A norma que se encontra no andar superior deve ser sempre preferida quando em conflito com uma norma inferior.

Exemplificando: imagine-se uma portaria do Ministério da Defesa, em que se pro-íbe que os tripulantes usem determinado equipamento durante a condução de aeronave. Dias depois, o Congresso Nacional publica uma lei complementar em que se determina o uso do referido equipamento. Pergunta-se, qual lei deve ser respeitada pelo tripulante?

Como se observa da pirâmide, a portaria se encontra no último andar. A lei com-plementar, por outro lado, encontra-se no meio. Logo, em razão do critério hierárquico, deve-rá prevalecer a legislação superior, ou seja, a lei complementar.

3.5.2 Critério cronológico

O critério cronológico é utilizado quando normas de uma mesmo escalão hierár-quico (por exemplo, duas leis complementares) entram em conflito. Este conflito é resolvido, então, pela preponderância da lei posterior sobre a lei inferior. (DIMOULLIS, 2013)

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Assim, sempre que houver duas normas de igual escala hierárquica, e que estejam em conflito, prevalecerá a norma que entrar em vigência posteriormente, ou seja, a mais re-cente.

Exemplo: uma lei complementar, que entrou em vigência em 21 de janeiro de 2016, determina a utilização de determinado equipamento. Outra lei complementar, que en-trou em vigência em 21 de fevereiro de 2017, proscreve o uso do referido equipamento, ques-tiona-se, qual aplicar?

Em virtude do critério cronológico, a norma posterior aplica-se sobre a norma an-terior, logo, aplica-se aquela vigente em 21 de fevereiro de 2017.

3.5.3 Critério da especialidade: a questão do tripulante

Este critério, o da especialidade, é aplicável quando, normas de um mesmo esca-lão, ou seja, de igual hierarquia, mantém uma relação de norma geral e norma especial. (DIMOULLIS, 2013)

Uma das normas, portanto, deve reger o assunto de forma ampla, geral, sem des-cer às minucias. A outra, por sua vez, deve reger o tema de forma mais minuciosa, detalhista, específica.

Esse é o caso do tripulante. As normas trabalhistas constantes na Consolidação das Leis do Trabalho regem as relações de emprego de uma forma geral. Em alguns casos detalha, contudo, em regra, prevê institutos gerais.

Dessa maneira, as normas editadas que regulam a relação jurídica entre o tripulan-te e seu empregador, visam detalhar um tripulan-tema específico, uma relação empregatícia especifica: a do tripulante.

Com isso, as normas constantes no Código Brasileiro de Aeronáutica, e aquelas constantes em convenções sindicais da entidade, acabam prevalecendo sobre a lei trabalhista.

Mas cuide-se, prevalecem naquilo que regulam. Os assuntos não tratados nas le-gislações especificas do tripulante, são a eles aplicáveis pela Consolidação de Leis do Traba-lho, como, por exemplo: a interrupção do trabalho para amamentação. (CIGERZA, 2008)

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4 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA NO MEIO AERONÁUTICO: DIREITOS E DEVE-ROS DOS EMPREGADORES BRASILEIDEVE-ROS E DE SEUS TRIPULANTES

Os direitos e deveres atribuídos aos envolvidos na relação de trabalho nesse con-texto, empregador brasileiro aeronáutico e tripulante, percorre um caminho repleto de normas trabalhistas que complementam a legislação específica que regulamenta a profissão do aero-nauta, nesse caso mais específico, do tripulante brasileiro.

De certa forma, quando se exige direitos de um dos lados, esses direitos se tornam deveres do outro e vice-versa. Os assuntos que serão apresentados neste capítulo não serão pertinentes às negociações salariais, à previdência social, à tributação e os tópicos que seguem para o rumo de qualquer negociação monetária que representem valores. Serão apresentados quais direitos e deveres ambos os lados têm.

Os direitos e deveres dos empregadores brasileiros operadores de aeronaves e dos tripulantes são descritos nos ordenamentos jurídicos brasileiros. O documento que comple-menta, principalmente com as causas sociais, são as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT), amparadas legalmente pela CLT e que devem ser reconhecidas pelos sindicatos repre-sentantes das empresas específicas e pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) para que possua força de lei. As empresas de táxi aéreo possuem um sindicato diferente do que as em-presas da aviação regular e da aviação agrícola, por isso são realizados acordos distintos que serão apresentados adiante.

4.1 LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ESPECIAL

Para melhor compreensão, a aviação agrícola, representada pelo SNA, após o pro-cesso legal com seus associados pertencentes à categoria, redige a CCT e apresenta para acor-do com o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola. Após a aceitação de ambos os sindicatos, é protocolado no Ministério do Trabalho e geram responsabilidades para ambos os lados. Um tripulante empregado na aviação executiva não terá as mesmas prerrogativas dispostas na CCT da aviação agrícola, pois o seu campo de atuação no meio aeronáutico é outro. Assim ocorre com os tripulantes de Táxi Aéreo e da Aviação Regular.

O alicerce da regulamentação trabalhista do tripulante é a Lei n° 7.183, de 05 de abril de 1984, que regula o exercício da profissão do aeronauta e dá outras providências, co-nhecida como Lei do Aeronauta, conjuntamente com a Portaria Interministerial n° 3.016, de 05 de fevereiro de 1988 que expede instruções para a execução da Lei n° 7.183 que dispõe sobre o exercício da profissão do aeronauta. (SNA, 2017)

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Nas avaliações atuais de pilotos, cobra-se conhecimento superficial de apenas dois ordenamentos: do CBA e da Lei do Aeronauta. O órgão responsável pela regulação e fiscali-zação da aviação civil é a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Sob sua responsabili-dade está à normatização das avaliações de pilotos civis desde sua primeira habilitação até a habilitação profissional de piloto de linha aérea.

A parte normativa laboral do tripulante se aperfeiçoa em sua fase profissional quando faz parte do quadro de funcionários de alguma empresa aérea, seja empresa de trans-porte público regular ou não regular. Essa razão se dá pela responsabilidade que esses tipos de empresas têm perante Lei n° 7565, de 19 de dezembro de 1986 – Código Brasileiro de Aero-náutica (CBA) e perante a Constituição Federal. (HONORATO, 2014)

No CBA encontra-se:

Art. 174. Os serviços aéreos compreendem os serviços aéreos privados (artigos 177 a 179) e os serviços aéreos públicos (artigos 180 a 221).

Art. 175. Os serviços aéreos públicos abrangem os serviços aéreos especializados públicos e os serviços de transporte aéreo público de passageiro, carga ou mala pos-tal, regular ou não regular, doméstico ou internacional.

§ 1° A relação jurídica entre a União e o empresário que explora os serviços aéreos públicos pauta-se pelas normas estabelecidas neste Código e legislação com-plementar e pelas condições da respectiva concessão ou autorização.

§ 2º A relação jurídica entre o empresário e o usuário ou beneficiário dos ser-viços é contratual, regendo-se pelas respectivas normas previstas neste Código e le-gislação complementar, e, em se tratando de transporte público internacional, pelo disposto nos Tratados e Convenções pertinentes (artigos 1°, § 1°; 203 a 213).

§ 3° No contrato de serviços aéreos públicos, o empresário, pessoa física ou jurídica, proprietário ou explorador da aeronave, obriga-se, em nome próprio, a exe-cutar determinados serviços aéreos, mediante remuneração, aplicando-se o disposto nos artigos 222 a 245 quando se tratar de transporte aéreo regular.

Contudo, as empresas aéreas respondem a algumas normas públicas devido as su-as característicsu-as e responsabilidades já que compete à União a exploração, direta ou mediante autorização, concessão ou permissão, a navegação aérea conforme prevista no art. 21 da Constituição Federal, sendo que a própria Constituição Federal prescreve o transporte como direito social ao cidadão em seu art. 6°. (HONORATO, 2014)

Sob essas características dos exploradores de serviços aéreos regulares e não regu-lares, automaticamente existe a exigência imposta pelos órgãos reguladores, seja da Aviação Civil quanto do Ministério do Trabalho.

Faz-se necessário retornar ao CBA para destacar a classe de pilotos que prestam serviços aéreos privados que possuem direitos e deveres assegurados tanto em legislação es-pecial quanto pela CLT. Essa classe, também chamada de pilotos executivos, são trabalhado-res empregados para desempenharem atividade remunerada pilotando aeronaves que não são

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destinadas para obtenção de remuneração de seus proprietários. Cabe ressaltar a definição de serviços Aéreos Privados constante no CBA:

Art. 177. Os serviços aéreos privados são os realizados, sem remuneração, em benefício do próprio operador (artigo 123, II) compreendendo as atividades aé-reas:

I - de recreio ou desportivas;

II - de transporte reservado ao proprietário ou operador da aeronave;

III - de serviços aéreos especializados, realizados em benefício exclusivo do proprietário ou operador da aeronave.

Art. 178. Os proprietários ou operadores de aeronaves destinadas a serviços aéreos privados, sem fins comerciais, não necessitam de autorização para suas ativi-dades aéreas (artigo 14, § 2°).

§ 1° As aeronaves e os operadores deverão atender aos respectivos requisitos técnicos e a todas as disposições sobre navegação aérea e segurança de vôo, assim como ter, regularmente, o seguro contra danos às pessoas ou bens na superfície e ao pessoal técnico a bordo.

§ 2° As aeronaves de que trata este artigo não poderão efetuar serviços aéreos de transporte público (artigo 267, § 2°).

A classe de pilotos executivos normalmente não possui jornada de trabalho defi-nida. Essa característica operacional pode levar, tanto o piloto quanto o empregador, ao des-cumprimento da lei por desconhecimento ou negligência do ordenamento. Dois fatores podem ser atribuídos ao piloto: desconhecimento da legislação trabalhista pela deficiência na forma-ção ou medo de perder o emprego. Esse último pode gerar responsabilidades civis e criminais.

Complementando a legislação trabalhista especial, apresentam-se as Convenções Coletivas de Trabalho que são divididas por segmentos da aviação, as quais possuem regras operacionais distintas. As convenções existentes em vigor são: (SNA, 2017)

Convenção Coletiva de Trabalho da Aviação Regular 2016/2017; Convenção Coletiva de Trabalho da Aviação Agrícola 2016/2017; e Convenção Coletiva de Trabalho de Táxi Aéreo 2014/2015.

Nelas constam os acordos realizados entre os sindicatos de cada categoria sobre: remunerações, hospedagem, diárias nacionais e internacionais, viagens, redução da força de trabalho, dentre outras.

Na aviação, pelo fato da sua complexidade, dinamismo e inúmeras variáveis, os tripulantes precisam de atualização constante da regulamentação aeronáutica pertinente à ope-ração de forma geral além do conhecimento técnico das aeronaves que opera. Outra caracte-rística atribuída no transporte aéreo regular e não regular é o cumprimento das normas e exi-gências impostas por empregadores e contratantes os quais procuram, na maioria das vezes, cumprir com suas responsabilidades legais. (PALAVRAS DO AUTOR)

Os fatores descritos acima demandam de tempo e treinamentos periódicos o que podem justificar e propiciar a falta de curiosidade ao piloto do conhecimento de seus direitos

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e deveres previstos na CLT e outras normas legais que a complementam. Suas atribuições são voltadas ao cumprimento única e exclusivamente à legislação especial.

Situações adversas ocorrem no decorrer de todas as atividades e as mais frequen-tes aos tripulanfrequen-tes é a incapacidade de continuar exercendo sua função a bordo por não aten-der as condições mínimas exigidas nas inspeções de saúde para a revalidação periódica do seu Certificado Médico Aeronáutico. Muitos fatos estão relacionados a problemas de visão, audi-ção e até mesmo condições psicológicas. A CLT prevê o fornecimento dos equipamentos de proteção individual para o trabalhador e exames médicos periódicos conforme descrito do artigo 166 ao 169 da própria consolidação.

Dos direitos dos tripulantes pode-se citar alguns como faltas justificadas sem pre-juízo do salário conforme o art. 473 da CLT situações diversas referente à amamentação des-critos do artigo 396 ao 400 e da gravidez do artigo 393 ao 395 que se aplicam às tripulantes mulheres. Todos da CLT.

O fato é que a lei deve ser cumprida por todos e na aviação o descumprimento de-las se torna muito perigoso, pois a atividade já possui seus riscos que devem ser gerenciados a todo momento. Além das possibilidades de mau funcionamento da aeronave e as variáveis do ambiente, apresenta-se no contexto o fator humano. Este é o mais vulnerável e ao mesmo tempo o mais confiável.

4.2 DIREITOS E DEVERES DOS EMPREGADORES BRASILEIROS E DE SEUS TRI-PULANTES CONSTANTES EM OUTRAS NORMAS

Como introduzido acima, alguns direitos trabalhistas dos aeronautas são estipula-dos por meio de legislação própria, a Lei 7.183/84. Contudo, isso não quer significar que res-tam excluídos os demais direitos previstos na CLT.

Pelo contrário, a própria Lei 7.183/84 assenta que: “Art. 2º Aeronauta é o profis-sional habilitado pelo Ministério da Aeronáutica, que exerce atividade a bordo de aeronave civil nacional, mediante contrato de trabalho.”

Assim, todos os temas trabalhistas não contemplados pela Lei 7.183/84 são asse-gurados pela CLT.

Ressalve-se, todavia, que a legislação acima indiada somente é aplicável ao tripu-lante civil, não se estendendo àquele militar, o qual é regido por lei própria.

Finalmente, para tratar o assunto de forma didática, cumpre elencar alguns dos temas trabalhistas não regidos pela lei do aeronauta:

• Acidente de trabalho • Gestação/Amamentação

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• Faltas justificadas • Exame médico; • Das faltas graves;

• Identificação profissional; • Higiene no âmbito de trabalho; • Dentre outros não mencionados;

4.2.1 Do acidente de trabalho

O acidente de trabalho não encontra regulação expressa na lei do aeronauta. As-sim, aplicando-se o critério da especialidade, transfere-se a regulação para a CLT, e, também, para a Lei da Previdência Social, a qual regula mais apropriadamente a matéria.

O acidente de trabalho, conforme dispõe o art. 19 da Lei nº 8.213/91, é conceitua-do da seguinte maneira:

[...] acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da em-presa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Não obstante, e o lado da conceituação acima, de acidente de trabalho típico, por expressa determinação legal, as doenças profissionais e/ou ocupacionais equiparam-se a aci-dentes de trabalho. Os incisos do art. 20 da Lei nº 8.213/91 as conceituam, respectivamente:

• Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva re-lação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

• Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione direta-mente, constante da relação mencionada no inciso I.

Desta maneira, em caso de eventual acidente de trabalho, ocorrido no exercício da função de tripulante, fará jus o aeronauta a todos os benefícios previdenciários pertinentes.

Além disso, deverá o empregador anotar o acidente na carteira de trabalho (artigo 40, CLT).

4.2.2 Da gravidez e da amamentação

Por força de norma de estatura constitucional, e portanto, aplicável em virtude do critério hierárquico, tem a empregada gestante, ou seja, a tripulante, direito à estabilidade

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pro-visória, consoante dispõe o artigo 10, inciso II, alínea “b”, dos Atos das Disposições Constitu-cionais Transitórias:

Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:

I - fica limitada a proteção nele referida ao aumento, para quatro vezes, da por-centagem prevista no art. 6º, "caput" e § 1º, da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966;

II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:

a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de preven-ção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato;

b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

Além deste, a mulher tripulante faz jus a todos os benefícios elencados na seção V da CLT - DA PROTEÇÃO À MATERNIDADE, o qual vai do artigo 391 ao artigo 400 do referido diploma.

No mais, em relação à amamentação, este tema, igualmente não encontra regula-mentação na lei do aeronauta. Porém, é evidente que a mulher e seu filho têm este direito as-segurado pelas normas trabalhistas.

Nesse sentido, tem a tripulante feminina as seguintes prerrogativas, previstas nos artigos 396 a 400 da CLT:

Art. 396 - Para amamentar o próprio filho, até que este complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada de trabalho, a 2 (dois) descansos espe-ciais, de meia hora cada um.

Parágrafo único - Quando o exigir a saúde do filho, o período de 6 (seis) meses po-derá ser dilatado, a critério da autoridade competente.

Art. 399 - O Ministro do Trabalho, Industria e Comercio conferirá diploma de be-nemerência aos empregadores que se distinguirem pela organização e manutenção de creches e de instituições de proteção aos menores em idade pré-escolar, desde que tais serviços se recomendem por sua generosidade e pela eficiência das respecti-vas instalações.

Art. 400 - Os locais destinados à guarda dos filhos das operárias durante o período da amamentação deverão possuir, no mínimo, um berçário, uma saleta de amamen-tação, uma cozinha dietética e uma instalação sanitária.

Segundo MARTINS (2016), a concessão dos intervalos referidos é compatível com a Convenção n° 103 da OIT, promulgada pelo Decreto n° 58.820/66. Esse legislador entende que o referido intervalo deve ser computado na jornada de trabalho, pois não teria sentido facultar o gozo dos intervalos para amamentação se fosse para descontar da mulher ou obrigar a mulher a ficar no local de trabalho por mais uma hora.

Referente ao parágrafo único do art. 396 da CLT considera-se autoridade compe-tente o médico do SUS, o médico da própria empresa ou do serviço médico credenciado pela empregadora. MARTINS (2016)

(36)

A CCT da aviação regular 2016/2017, em seu item 3.1.9 - Garantia à aeronauta gestante, está garantido o emprego à aeronauta gestante até 180 dias após o parto. CIGERZA (2008) complementa como referência o art. 7°, XVIII, da Constituição Federal, art. 6° da Convenção da OIT n° 103 e art. 71 da Lei n° 8.213/91.

Sobre o mesmo assunto, a CCT do táxi aéreo 2014/2015, no item 33 – afastamen-to da escala de aeronautas grávidas contempla a responsabilidade das empresas em dispensar do voo durante o período do exame para constatação da gravidez e encaminhá-las à Junta Mista da Aeronáutica para o fim de se habilitarem aos benefícios da Previdência Social, res-pondendo a empregadora, quando necessário, pela locomoção da aeronauta, e pelo respectivo transporte e hospedagem.

Casos especiais se destacam à tripulantes da aviação de helicópteros que devem ser afastadas do voo imediatamente após a constatação da gravidez, pois a vibração da aero-nave é de pura periculosidade ocasionando o deslocamento da placenta ocasionando muitas vezes complicações na gestação e morte do feto.

Como garantia de creche à aeronauta, a CCT da aviação regular 2016/2017, em seu item 3.2.13, discorre sobre a responsabilidade do Sindicato dos Aeronautas indicar às em-presas aéreas as creches distritais com as quais as emem-presas assinarão convênio (nas condições de mercado), cujo custo ficará por conta das mesmas, durante 24 (vinte e quatro) meses após o parto.

4.2.3 Das férias

Conforme art. 47 da Lei n° 7.183/84, as férias anuais do aeronauta serão de 30 (trinta) dias. Segundo CIGERZA (2008), o art. 130 da CLT não se aplica aos tripulantes, pois o período deve ser gozado sem descontos previsto na CLT com os respectivos casos:

Art. 130 – Após cada período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de traba-lho, o empregado terá direito a férias, na seguinte proporção:

I – 30 (trinta) dias corridos, quando não houver faltado ao serviço mais de 5 (cinco) vezes;

II – 24 (vinte e quatro) dias corridos, quando houver tido de 6 (seis) a 14 (quatorze) faltas;

III – 18 (dezoito) dias corridos, quando houver tido de 15 (quinze) a 23 (vinte e três) faltas;

IV – 12 (doze) dias corridos, quando houver tido de 24 (vinte e quatro) a 32 (trinta e duas) faltas.

Segundo a mesma autora, as férias dos tripulantes não poderão se converter em abono pecuniário conforme disposto no art. 50 da Lei n° 7.183/84, salvo em rescisão de con-trato. Situação possível com os demais trabalhadores regidos apenas pela CLT em seu art. 143

Referências

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