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Maiores Incertezas Externas e Internas

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Academic year: 2021

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Maiores Incertezas Externas e Internas

Nos últimos dias, alguns sinais de que a atividade econômica dos Estados Unidos estaria saindo do longo período de contração, iniciado a partir da quebra do Lehman Brothers em 2008, acenderam a expectativa de que seu Banco Central (Reserva Federal) poderia dar início, ainda esse ano, à retirada dos estímulos monetários, o que se traduziria em elevação da taxa de juros básica. Essa possibilidade, somada à própria recuperação da maior economia do planeta, provocaram importante valorização do Dólar frente às demais moedas, principalmente de países emergentes.

O Brasil, evidentemente, não ficou imune a esse movimento, experimentando nas últimas semanas importantes desvalorizações do Real. Contudo, essas desvalorizações também refletem a situação de permanente aumento do gasto, principalmente público, acima da capacidade de expansão da produção nacional, que, além de resultar em maior inflação, redunda em contas externas cada vez mais desequilibradas. O maior valor da moeda estrangeira agrava o problema inflacionário, transformando-se, conjuntamente com a elevação dos salários acima da produtividade, em pressão de custos para as empresas, além do encarecimento dos produtos importados.

Frente a tudo isso, a resposta da política econômica tem sido contraditória, com o Banco Central praticando uma política monetária mais “apertada”, enquanto a política fiscal sofre, na prática, contínuos “afrouxamentos” e “malabarismos contábeis”. Essa falta de definição acrescenta incertezas internas às externas existentes, o que não contribui para a efetiva retomada dos investimentos. De fato, devido à deterioração das contas públicas e ao baixo crescimento da economia, a Agência de Classificação de Risco Standard & Poor'sacaba de colocar viés de baixa na nota atribuída ao país, o que significa que, nos próximos dois anos, este pode ser considerado mais arriscado para receber investimentos estrangeiros.

Síntese Econômica

 Expansão do crédito à pessoa física continuou desacelerando em abril.

 Inflação anualizada manteve-se no limite superior da meta.

 Produção industrial mostrou leve recuperação no primeiro quadrimestre.

 Inadimplência recuou levemente nas operações bancárias e manteve-se no varejo.

 Arrecadação federal desacelerou no primeiro quadrimestre, devido às desonerações e ao fraco desempenho da economia.

 Despesas públicas, principalmente de custeio, continuaram crescendo muito acima da expansão das receitas durante o período janeiro-março.

 Contas externas continuaram deteriorando-se durante os primeiros cinco meses do ano, aumentando a dependência em relação aos capitais internacionais.

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Análise da Conjuntura

1. Moeda, Crédito e Inflação

Dados do Banco Central de abril de 2013 mostram que continua a perda de ritmo no crédito à pessoa física, com alta em 12 meses de 9,6%, contra 10,4% e 15,4% registrados no final de 2012 e 2011, respectivamente.

A inflação (IPCA 12 meses) registrou em maio 6,50%, seguindo no “teto” do intervalo da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional.

Em maio, o Banco Central prosseguiu elevando a taxa SELIC, agora em 0,5 ponto porcentual, sinalizando que está “vigilante”. O Comitê de Política Monetária votou unido, não tratou do crescimento econômico e tirou da Ata as preocupações sobre “as incertezas”, que recomendam “cautela”, alertando para o nível elevado e a dispersão da inflação, que mostra resistência, exigindo “tempestividade” e “intensificação do ritmo de ajuste” da SELIC. A autoridade monetária deseja “colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.

2. Produção, Vendas e Inadimplência

Conforme o IBGE, a produção industrial no primeiro quadrimestre reagiu com alta de 1,6% sobre igual período do ano passado, frente à queda de 2,6%, observada durante o período janeiro-abril de 2012 na mesma base de comparação. Trata-se de um sinal positivo, mas que deve ser avaliado com cautela, pois o resultado registrado durante esse ano não foi capaz de compensar a contração sofrida no ano anterior. De qualquer forma, a notícia mais expressiva veio da elevação de 13,4% nos bens de capital, o que pode indicar certa retomada nos investimentos.

Nas vendas do varejo, o primeiro quadrimestre registrou alta de apenas 3%, representando forte desaceleração em relação ao mesmo intervalo de 2012, que apresentou elevação de 9,2%. No varejo amplo, que inclui vendas de veículos e materiais de construção, também se observou desaceleração durante o mesmo período, ainda que em menor grau, com taxa de expansão passando de 6,2% para 5,1%. Essa desaceleração poderia ser explicada pelo aumento da inflação, que corroeu o poder de compra das famílias, e por um menor crescimento do crédito.

Para completar os dados de atividade, o IBGE divulgou que o crescimento do PIB durante o primeiro trimestre do ano alcançou a 0,6%, livre de efeitos sazonais, bem abaixo das expectativas e do resultado observado durante o mesmo período de 2012, que mostrou elevação de 1,9%. Esses resultados sinalizam um crescimento anual da atividade econômica próximo a 2,0%, pouco acima dos 0,9% de 2012. O grande destaque foi a agricultura, com 17,9% de alta. Outro dado positivo foi o incremento de 3,0% dos investimentos produtivos e em infraestrutura, o que pode sinalizar alguma retomada.

Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas no acumulado janeiro-maio, apresentaram altas de 1,1% e 0,9% para o SCPC e SCPC Cheque. Esses resultados apesar de positivos, estão abaixo do esperado, e poderiam ser atribuídos tanto à inflação, principalmente dos alimentos, que subtrai renda do consumo de outros produtos, quanto

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ao menor crescimento da massa salarial, que em abril se elevou em apenas 2,4% (0,8% no emprego e 1,6% na renda), em parte também devido ao aumento de preços. A inadimplência, medida pelo Banco Central, apresentou leve redução em abril, com 5,3% da carteira bancária, enquanto no comércio manteve-se em 5,3% no acumulado de doze meses terminado em maio.

Em síntese, o Banco Central parece estar recuperando autonomia no combate à inflação, mudando o tom de acomodatício para pró-ativo. Quanto ao PIB, a recuperação deverá ser menor do que a esperada, com expansão do consumo bastante menor do que em anos anteriores. Os investimentos públicos e privados e o agronegócio deverão contribuir para o crescimento da atividade econômica.

3. Finanças Públicas

O superávit fiscal primário (excesso de receitas sobre despesas, sem incluir os juros da dívida) do setor público consolidado (Governos Central e Regionais e empresas estatais, excetuando Petrobrás e Eletrobrás) registrado abril, segundo o Banco Central, foi de R$ 10,3 bilhões, equivalente a 2,6% do PIB, resultado considerado baixo para um mês marcado pela arrecadação dos impostos de renda à pessoa física e jurídica. No acumulado de doze meses terminado em abril, houve redução do desempenho fiscal nas três esferas governamentais, com o superávit primário caindo de 2,0% do PIB em março para 1,9% em abril, enquanto no primeiro quadrimestre do ano a queda em relação a 2012 alcança a 31,7%, configurando-se no pior resultado desde 2001.

A deterioração das contas públicas reflete a adoção de uma política fiscal crescentemente expansionista, principalmente por parte do Governo Central, cujas despesas durante o período janeiro-abril aumentaram 13,4% em relação a igual período do ano passado, frente a aumentos de receitas de 4,9%, utilizando a mesma base de comparação. O menor crescimento da arrecadação se explica tanto pelo baixo crescimento quanto pelos estímulos tributários concedidos, enquanto as despesas públicas, como de praxe, se concentram em gastos de “custeio”, com pouco espaço para os investimentos em infraestrutura.

É difícil pensar em mudança dessa trajetória durante o resto do ano, mesmo com a ameaça do país ser considerado mais arriscado pelas agências classificadoras de risco, onde a situação fiscal tem importante ponderação. Na prática, apesar das promessas de austeridade do Governo, que já sinaliza com o cumprimento de uma meta de superávit primário de 2,3%, bastante inferior aos 3,1% originais, a política fiscal continua expansionista, por um lado, valendo-se de aumentos do endividamento para a capitalização de bancos e empresas públicas, além do incentivo dado às despesas de investimento por parte dos estados e municípios. Por outra parte, a utilização de artifícios contábeis se converteu em prática habitual, com adiantamento de receitas e adiamento do pagamento de despesas, além da possibilidade, garantida por lei, de desconto da meta anterior em até R$ 65,2 bilhões de investimentos do PAC e desonerações.

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4. Setor Externo

A balança comercial registrou um saldo positivo (superávit) de US$ 760 milhões no mês de maio, resultado das exportações no valor de US$ 21,8 bilhões menos importações de US$ 21,1 bilhões. As vendas externas superaram as importações, devido ao bom desempenho dos produtos básicos, com destaque para os embarques de soja em grão (US$ 4,2 bilhões), minério de ferro (US$ 3,0 bilhões) e petróleo em bruto (US$ 1,1 bilhão). De outro lado, as compras do exterior foram “infladas” pelo registro atrasado de US$ 1,1 bilhão de aquisições de petróleo e derivados pela Petrobrás, feitas em 2012.

Os registros atrasados de importações pela Petrobrás foram também o principal responsável pelo saldo negativo (déficit) de US$ 5,4 bilhões na conta de comércio do país acumulado nos primeiros cinco meses do ano. Nesse período, calculadas pela média diária, as exportações (US$ 93,3 bilhões) recuaram 2,8% e as importações (US$ 98,7 bilhões) aumentaram 9,8%, em relação a janeiro-maio de 2012. A conta petróleo foi agravada ainda pela parada da produção de várias plataformas e pelo atraso na entrada de novos poços que fizeram a produção cair 6% no primeiro quadrimestre do ano, com relação à média diária produzida em dezembro do ano passado, provocando queda de 53,8% nas exportações do setor, ao mesmo tempo em que, as importações subiram para atender ao maior consumo interno.

No entanto, mesmo excluindo o valor de US$ 4,6 bilhões em importações realizadas pela Petrobrás no ano passado, o saldo da balança comercial, até maio deste ano, ainda seria negativo, da ordem de US$ 800 milhões, contra um superávit de US$ 6,3 bilhões em idêntico período de 2012, refletindo inegável perda de competitividade dos produtos brasileiros.

Os déficits acumulados na conta de comércio nesses primeiros quatro meses contribuíram para agravar o resultado das transações correntes, que engloba as vendas menos as compras de bens serviços do país com o exterior. No acumulado em 12 meses até abril, as despesas líquidas alcançaram US$ 70,0 bilhões, o equivalente a 3,0% do PIB, pior nível desde 2002. Nesse mesmo período, a entrada de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$ 64,1 bilhões, deixando de cobrir integralmente o déficit em transações correntes, como vinha ocorrendo desde 2011.

O mercado de câmbio que se mantinha praticamente estável desde março, quando o Banco Central fez sua última intervenção, voltou a sofrer forte oscilação nos últimos dias de maio. As expectativas de crescimento da economia norte-americana e da redução da política de “afrouxamento” monetário adotada pelo FED (Banco Central dos EUA), e a escassez de entrada de moeda no Brasil, pressionaram o dólar comercial, que, no fechamento de maio, foi cotado a R$ 2,132, representando uma desvalorização de 6,5% do Real no mês, apesar das intervenções do Banco Central no mercado futuro.

Em resumo, a deterioração das contas externas, provocada principalmente pelo fraco resultado da balança comercial, está aumentando o grau de dependência da entrada de capitais estrangeiros para a cobertura do déficit em transações correntes, incluindo aqueles relacionados aos investimentos em carteira, de natureza muito mais volátil que os provenientes do IED. Essa deterioração está contribuindo, em conjunto com a valorização do Dólar em relação a outras moedas, para a elevação do nível da taxa de câmbio.

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Indicadores de Conjuntura Selecionados:

Abril de 2013

Variação Mensal (%) Variação Acumulada (%)

Crédito à Pessoa Física 1,0% 9,6%(2)

Inflação – IPCA 0,4% 6,5%(2)

Produção Industrial 1,8% 1,6%(3)

Vendas do Varejo 0,5% 3,0%(3)

Receitas Governo Federal 30,3% 4,9%(3) Despesas Governo Federal 21,2% 13,4%(3)

Exportações 5,8%(1) -2,8%(4)

Importações -2,6%(1) 9,8%(4)

Taxa de Câmbio 6,5% 5,5%(2)

Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP. (1) Variação maio/abril.

(2) Variação acumulada em 12 meses.

(3) Variação do primeiro quadrimestre de 2013 em relação a igual período de 2012. (4) Variação do primeiro quadrimestre de 2013 em relação a igual período de 2012.

Referências

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