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MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA IMPORTANTE FERRAMENTA DE LEITURA DO MUNDO.

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Academic year: 2021

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MODELAGEM MATEMÁTICA: UMA IMPORTANTE FERRAMENTA DE LEITURA DO MUNDO.

ROGÉRIO FERNANDO PIRES.

O presente trabalho tem por objetivo mostrar a modelagem matemática como uma importante ferramenta de leitura do mundo por meio de uma linguagem matemática. Entendemos que a modelagem pode ser usada para fazer previsões, ajudar na tomada de decisões e explicar matematicamente situações oriundas da realidade. Por esse motivo, um modelo matemático possibilita uma perfeita compreensão da situação que serviu de inspiração para sua criação, compreensão essa que só é possível quando as situações da realidade são explicadas por meio da Matemática. Procuramos destacar a importância da modelagem no processo de ensino–aprendizagem, sendo essa uma metodologia que permite que o educando parta de situações provenientes da realidade e chegue de maneira natural a ações pedagógicas, tornando o ensino da Matemática mais dinâmico e interessante. O ensino da Matemática por meio da modelagem pode estimular a criatividade, desenvolver habilidades na resolução de problemas, melhorar a compreensão dos conceitos matemáticos, promover o interesse pela disciplina, aproximar a Matemática das outras áreas do conhecimento, além de desenvolver o senso crítico e o espírito de investigação. Para mostrar que a modelagem pode ser uma ferramenta de leitura do mundo por meio de uma linguagem matemática, apresentaremos as definições e concepções de modelagem, modelação e modelo de acordo com alguns pesquisadores da área, como Barbosa (2001), Jacobini (2001), Wodewotzki (2001), Bassanezi (2006), D’Ambrosio (2004), Biembengut e Hein (2007), como também a visão de leitura de mundo de acordo com Freire (1994).

Resumo

modelagem matemática, Leitura de mundo, ensino e aprendizagem.

Palavras-chave:

Concepções sobre a Modelagem Matemática e sua importância no processo de ensino-aprendizagem.

Atualmente, a modelagem matemática tem sido considerada como uma das abordagens pedagógicas para o ensino de Matemática. Documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (1998), fazem menções a atividades desse porte. Neste contexto, Barbosa (2001) entende modelagem como um ambiente de aprendizagem no qual os alunos são convidados a indagar e/ou investigar, por meio da Matemática, situações oriundas de outras áreas da realidade. Essas se constituem como integrantes de outras disciplinas ou do dia-a-dia.

O ambiente de aprendizagem da modelagem pode se configurar por meio de três níveis, os quais não significam uma prescrição, mas ao contrário, é uma teorização crítica da prática corrente. Trata-se de zonas de possibilidades sem limites, claro que ilustram a materialização da modelagem em sala de aula. Neste sentido Barbosa (BARBOSA, 2001) descreve estes níveis como segue:

Nível 1. Trata-se da "problematização" de algum episódio "real". A uma dada situação, associam-se problemas. A partir das informações qualitativas e quantitativas apresentadas no texto da situação, o aluno desenvolve a investigação do problema proposto.

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Nível 2. O professor apresenta um problema aplicado, mas os dados são coletados pelos próprios alunos durante o processo de investigação.

Nível 3. A partir de um tema gerador, os alunos coletam informações qualitativas e quantitativas, formulam e solucionam problemas. (p. 05).

Sendo assim, entendemos que o trabalho com modelagem pode ser iniciado de três maneiras diferentes como apresentadas na descrição acima, sendo que, no nível 3, os alunos parecem ser mais independentes, pois a coleta de informações, a formulação e a resolução dos problemas são feitas por eles próprios, tendo pouca interferência do professor. Acreditamos que este nível seja mais interessante para o educando, pois ele participa de todo o processo, mas, em contrapartida, aparenta ser o mais complicado de ser desenvolvido, uma vez que o professor pode perder o controle da situação, perdendo o foco do trabalho.

Jacobini e Wodewotzki (2001), explicam que um modelo é a representação de alguma situação relacionada com o mundo real feita através de uma linguagem matemática. Segundo Bassanezi, (BASSANEZI, 2006), modelagem matemática:

é um processo dinâmico utilizado para a obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A modelagem consiste essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual. (p. 31).

É possível perceber que a modelagem matemática possibilita a obtenção e validação de modelos por parte do indivíduo, sendo esses modelos criados a partir de situações da realidade, explicados por meio da Matemática e interpretados na linguagem usual. A modelagem pode ser eficiente a partir do momento em que nos conscientizamos que estamos sempre trabalhando com a aproximação da realidade, ou seja, que estamos elaborando sobre representações de um sistema ou parte dele.

McLone (1984 apud BASSANEZI, 2006) dá uma definição bem simples para modelagem matemática, por meio do esquema do Anexo 1.

Partindo desse ponto de vista, entendemos que a modelagem pode ser uma importante ferramenta de leitura do mundo por meio de uma linguagem matemática.

Esse mundo que nos referimos é aquele em que o indivíduo que aprende ou faz uso da Matemática está inserido, e a leitura desse mundo de acordo com Freire (1994) precede a leitura da palavra, ou seja, mesmo antes de começar a decodificar as palavras o indivíduo já faz uma leitura do mundo em que está inserido, buscando compreender essa relação existente entre o ser humano e o ambiente no qual faz parte.

Partindo desse pressuposto, entendemos que a modelagem matemática pode auxiliar o indivíduo na leitura do mundo em que vive. Isso pode acontecer quando, por exemplo, cria-se um modelo matemático que explica o crescimento populacional de uma determinada espécie de peixe ou quando se cria um modelo com o objetivo de saber qual a idade ideal para o abate de perus.

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Esse dois exemplos que citamos acima podem ajudar, por exemplo, uma comunidade de piscicultores ou avicultores a compreender melhor o mundo em que estão inseridas, sendo a Matemática uma ferramenta primordial para essa compreensão, fornecendo ao indivíduo ferramentas para que possa fazer uma leitura crítica do meio em que vive, ou das situações com as quais se depara.

O ensino da Matemática, quando parte de situações que apresentam contextos realísticos como os que acabamos de citar, pode trazer inúmeras vantagens para o processo de ensino-aprendizagem, pois o educando passa a ver mais utilidade naquilo que aprende, uma vez que a matemática ensinada surge da necessidade de resolver problemas que são oriundos de situações vivenciadas pelo aprendiz.

No processo evolutivo da Educação Matemática, a inclusão de aspectos como a resolução de problemas e modelagem tem sido defendida por vários educadores envolvidos com o ensino de Matemática (Barbosa, 2001; Jacobini e Woderwotzki, 2001; D' Ambrosio, 2004; Bassanesi, 2006; entre outros). Isto significa que para este grupo de educadores, os conteúdos devem ser ensinados de maneira significativa, considerando as realidades do sistema educacional. Blum (1989 apud BASSANEZI, 2006) dá alguns argumentos para esta inclusão:

1) Argumento formativo - enfatiza aplicações matemáticas e a performance da modelagem matemática e resolução de problemas como processos para desenvolver capacidade em geral e atitudes dos estudantes, tornando-os explorativos, criativos e habilidosos na resolução de problemas.

2) Argumento de competência critica - focaliza a preparação dos estudantes para vida real como cidadãos atuantes na sociedade, competentes para ver e formar juízos próprios, reconhecer e entender exemplos representativos de aplicações de conceitos matemáticos.

3) Argumento de utilidade - enfatiza que a instrução matemática pode preparar o estudante para utilizar a matemática como ferramenta para resolver problemas em diferentes situações e áreas. 4) Argumento intrínseco - considera que a inclusão de modelagem, resolução de problemas e aplicações fornecem ao estudante um rico arsenal para entender e interpretar a própria matemática em todas suas facetas.

5) Argumento de aprendizagem - garante que os processos aplicativos facilitam ao estudante compreender melhor os argumentos matemáticos, guardar os conceitos e os resultados e valorizar a própria matemática.

6) Argumento de alternativa epistemológica - A modelagem também se encaixa no Programa Etnomatemática que propõe um enfoque epistemológico alternativo associado a uma historiografia mais ampla. Parte da realidade e chega de, maneira natural e através de um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural, à ação pedagógica. (p. 36-37).

Com os argumentos citados acima, percebe-se os benefícios que a modelagem pode trazer ao estudante, já que ela contribui para o desenvolvimento de habilidades em resolução de problemas, tornando o aluno mais criativo,

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proporcionando a formação de juízo próprio e facilitando na aprendizagem dos conteúdos. Todos estes ganhos se justificam pela característica da modelagem que permite que o estudante parta da sua realidade e chegue de maneira natural à ação pedagógica, processo esse que possibilita a adequação perfeita da modelagem no Programa Etnomatemática.

A Etnomatemática é o estudo das técnicas matemáticas utilizadas por diferentes grupos culturais. Técnicas estas que são utilizadas para a resolução de problemas que nascem nos próprios grupos. Estes grupos fazem uso da modelagem para desenvolver suas técnicas. D'Ambrosio (2004) explica a relação entre a modelagem e a Etnomatemática por meio da figura do anexo 2.

Pelo que podemos observar na figura do anexo 2, a modelagem matemática é um dos três elementos que compõem a Etnomatemática, ou seja, ela é um dos elementos que formam o tripé de sustentação do Programa Etnomatemática. Além disso, a figura deixa-nos antever que as técnicas para a resolução de problemas cotidianos usadas por diversos povos, parecem ser desenvolvidas por meio de um processo de modelagem, podendo seu uso ser consciente ou não.

Apesar de todos estes argumentos favoráveis ao uso da modelagem matemática, existem alguns obstáculos quanto a sua utilização principalmente em cursos regulares, nos quais há um programa a ser cumprido.

Diante disso, devem ser feitas algumas adaptações que tornem possível a utilização da modelagem como metodologia de ensino, sem perder a linha mestra que é a pesquisa e a posterior criação de modelos pelos alunos, sem deixar de cumprir o currículo estabelecido pelo sistema educacional. Esse método que visa a utilização da modelagem matemática com algumas adaptações de maneira que atenda o programa a ser cumprido em cursos regulares é denominado modelação matemática.

Segundo (Biembengut e Hein 2007), a modelação matemática

norteia-se por desenvolver o conteúdo programático a partir de um tema ou modelo matemático e orientar o aluno na realização de seu próprio modelo-modelagem. Pode valer como método de ensino-aprendizagem de Matemática em qualquer nível escolar, das séries iniciais a um curso de pós-graduação. (p. 18).

Sendo assim, entendemos que a modelação pode ser de grande valia para os cursos em que se tem um conteúdo programático para ser cumprido, não podendo o professor fugir dos temas apontados nesse programa. Logo, a modelação apresenta uma perfeita adequação nesses cursos, uma vez que os conteúdos matemáticos que serão explorados estão previstos no programa.

A respeito da modelação (Biembengut e Hein 2007), comentam:

Na modelação, o professor pode optar por escolher determinados modelos, fazendo a sua recriação em sala de aula, juntamente com os alunos, de acordo com o nível em questão, além de obedecer ao currículo inicialmente proposto. (p. 29).

Mesmo nos cursos em que há a existência de um programa a ser seguido, o uso da modelagem se torna possível seguindo os pressupostos da modelação matemática.

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A modelação permite que o professor escolha os modelos com os quais irá trabalhar e esses modelos serão obtidos pelos alunos com auxilio do professor por meio de um processo de re-criação. Processo esse que é estimulado pela busca da resolução de problemas que tiveram suas origens em situações vivenciadas pelos alunos, ou em outras palavras, situações que fazem parte do mundo em que os alunos vivem. Neste sentido, consideramos que tanto a modelagem como a modelação matemática, podem ser importantes para a realização de uma leitura matemática do mundo, uma vez que ambas as estratégias de ensino e aprendizagem têm como objetivo a obtenção e a validação de modelos que possibilitam a resolução de problemas oriundos de situações da realidade.

Considerações Finais

Considerando as concepções e definições de modelagem matemática apontadas em nosso trabalho, sem perder de vista o nosso objetivo de mostrar a modelagem como uma importante ferramenta de leitura do mundo por meio de uma linguagem matemática, entendemos que o uso da modelagem como estratégia de ensino e aprendizagem pode ser um caminho para essa constante busca dos professores de Matemática em dar um significado mais realístico para aquilo que ensinam.

O uso da modelagem em sala de aula pode tornar o ensino da Matemática mais dinâmico, fazendo com que o conhecimento seja construído a partir de situações que apresentem contextos provenientes da realidade em que a comunidade com a qual se trabalha está inserida. Entendemos que o conhecimento construído dessa forma pode gerar no aprendiz a apropriação de conceitos, diferentemente do que ocorre quando se tem um ensino voltado para a memorização, em que a construção do conhecimento acaba sendo prejudicada.

De modo geral, podemos concluir que a modelagem é uma ferramenta que possibilita uma maior interatividade por parte do educando, fazendo com que ele se torne o protagonista do processo de construção do conhecimento.

Referências

BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática e os professores

BASSANEZI, R. C.

: a questão da formação. BOLEMA - Boletim de Educação Matemática da UNESP, Rio Claro, n. 15, p. 05-23, mai. 2001.

Ensino-Aprendizagem com Modelagem Matemática

BRASIL. Ministério da Educação.

. São Paulo: Contexto, 2006. 389 p., 23 cm. Bibliografia: p. 17-38. ISBN 85-7244-207-3.

Parâmetros Curriculares Nacionais

D'AMBROSIO, U.

: Matemática, Ensino Fundamental. Brasília, DF, 1998. 143 p.

Etnomatemática das Esteiras Sagradas Maias

D'AMBROSIO, U.

. Disponível em: <www.csus.edu/indiv/o/oreyd/papers/EtnoMaias%20Final%20Draft.doc>. Acesso em: 15 de novembro de 2007.

O Programa Etnomatemática e Questões Historiográficas e Metodológicas. Disponível em: <http://vello.sites.uol.com.br/ubi.htm>. Acesso

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FREIRE, P. A importância do ato de ler

JACOBINI, O. R. e WODEWOTZKI, M. L. L. Modelagem Matemática aplicada no Ensino de Estatística nos cursos de graduação.

: Em três artigos que se completam. 29. ed. São Paulo: Cortez, 1994. 36 p. (Coleção questão da nossa época, 13). p. 11-21. ISBN 85-249-0308-2.

BOLEMA - Boletim de Educação

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