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Nestes apontamentos discute-se a construção das linhas «equiloc» e «equitemp» para uma dado observador inercial
O
. Para fixar ideias vamos considerar que o observador em questão se desloca, em relação ao LAB (laboratório), com uma velocidade normalizada 1 v1 c 1 3. Sedesignarmos por yct a linha de universo deste observador (i.e., a sua «equiloc»), podemos escrever – no referencial do LAB – que esta linha de universo corresponde à equação
1
y x
em que, portanto, se tem 13. Vamos, ainda, considerar que existe um acontecimento A que, no
referencial do LAB, tem coordenadas
xA,yA
com yA ctA. Admitamos que se tem xA 1 e3 2 yA .
Começamos por perguntar: qual é a «equitemp» de
O
que contém o acontecimento A ? Por outras palavras: qual é o acontecimento R que é – do ponto de vista deO
– simultâneo com o acontecimento A ? A resposta encontra-se nas Figs. 1 e 2 da página seguinte.No instante t (acontecimento P ) é enviado um sinal electromagnético de
O
para A . Nesteacontecimento A o sinal é instantaneamente reflectido de volta para
O
aí chegando no instante t (acontecimento Q ). Então, o acontecimento R simultâneo com A localiza-se sobre a linha de universoO
a meia distância dos acontecimentos P e Q (Fig. 2). Por essa razão, o instante (para o observadorO
) do acontecimento R é tR tal que
1 2
c tR ctct .
Na Fig. 2 também se indica o acontecimento B que – tal como A e R l – também pertence à mesma «equitemp»
O
do observadorO
. A notação traduz o facto de que – por definição – a «equiloc»O
é ortogonal à «equitemp»O
.Prof. Carlos R. Paiva Página 3
Podemos, agora, determinar – no referencial do LAB – as coordenadas dos acontecimentos P e Q da Fig. 2. O acontecimento P pertence à equação do sinal electromagnético
y x a
enquanto que o acontecimento Q pertence ao sinal electromagnético y x b.
Como o acontecimento A se encontra na intersecção destes dois sinais, vem
y x a a y x y x b b y x A A A A A A A A
pelo que, como xA 1 e yA3 2, vem
1 , 2 5 . 2 a b
Mas então, como os acontecimentos P e Q pertencem à «equiloc»
O
cuja equação é y 1x,infere-se que 1 1 1 1 1 1 a x y x a y x a y P P P P P P donde, como 13, 1 , 8 3 . 8 x y P P Analogamente, obtém-se 1 1 1 1 1 1 b x y x b y x b y Q Q Q Q Q Q
Prof. Carlos R. Paiva Página 4 5 , 4 15 . 4 x y Q Q
É agora possível determinar todas as coordenadas dos acontecimentos assinalados na Fig. 2 do ponto de vista do observador
O
. Designemos essas coordenadas por
x y para as distinguir das ,
coordenadas
x y relativas ao referencial do LAB. Obviamente, a «equiloc» das Figs. 1 e 2, ,
correspondente a y 1x em relação ao LAB, escreve-se agora0 x .
Pelo acontecimento A passa a «equiloc» xxA enquanto que, pelo acontecimento B , deverá
passar a «equiloc» x xA (Fig. 2). Qual é o valor de xA? Facilmente se responde a esta questão se se tiver em consideração que o percurso do sinal electromagnético de x0 (acontecimento P ) até xxA (acontecimento A ) leva o mesmo tempo que o percurso inverso de xxA
(acontecimento A ) até x0 (acontecimento Q ). Logo
1 2
xA ctct .
Porém, como A e R pertencem à mesma «equitemp» de
O
, facilmente se infere que
1 2
yAyByR ct ct .
Recorda-se, aqui, que xPxQxR0.
Falta, portanto, determinar os valores de c t e c t para se poder, finalmente, calcular as
coordenadas A
xA,yA
do ponto de vista deO
.O problema é que a unidade de comprimento ao longo da «equiloc»
O
não é idêntica à unidade de comprimento do LAB. Porém, o comprimento unitário ao longo deO
deverá valer um valor (desconhecido) em termos da unidade do LAB.Prof. Carlos R. Paiva Página 5
Assim, vem sucessivamente
2 2 2 2 , , c t x y c t x y P P Q Q
2 2 2 2
0, 1 , 2 2 x y c t c t c t x y x y R R R Q Q P P
2 2 2 2 2 2 2 2 1 , 2 2 1 . 2 2 x c t c t x y x y y c t c t x y x y A Q Q P P A Q Q P PPara os valores numéricos considerados, vem:
2 2 2 2 5 10 , 4 10 . 8 c t x y c t x y Q Q P P
Para calcular o coeficiente há que ter em consideração a hipérbole de calibração que passa pelo acontecimento A . A equação desta hipérbole, no referencial do LAB, é dada por
2 2 2 2 2 2 2
c t x y x
H
.Para calcular o valor de basta substituir na equação anterior as coordenadas do acontecimento A dadas para o referencial do LAB:
1 5 3 2 2 x y A A .
Esta hipérbole intersecta a linha de universo
O
, dada por y 1x, no acontecimento
,
S xS yS
Prof. Carlos R. Paiva Página 6 2 1 2 2 2 2 1 1 1 2 1 , 1 . 1 x x x y x S S S S S
Calculando numericamente, obtém-se:
2 2 2 1 2 LAB LAB 1 1 5 1 5 4 2 1 4 3 5 4 2 S S x x y y S S OS OS .
Mas, por outro lado, tem-se – na verdadeira métrica de Minkowski – o valor
2 2 1 1 2 2 LAB 1 1 1 1 1 1 OS OS
que, numericamente, corresponde a
2 5 . Assim, obtém-se: 9 2 , 8 11 2 . 8 x y A A
Note-se que, portanto, esta métrica depende exclusivamente do declive 1. Naturalmente, este
factor de conversão só faz sentido quando 11. Para 11 (sinal electromagnético) vem 0.
No outro extremo, quando 1 (caso do LAB), obtém-se 1.
De seguida vai-se analisar, geometricamente, o significado do acontecimento S sobre a linha de universo
O
. Para isso, porém, há que considerar a Fig. 3.Prof. Carlos R. Paiva Página 7
Em primeiro lugar considera-se um novo observador (inercial)
P
a que pertence o acontecimento A das Figs. 1 e 2. O acontecimento O resulta da intersecção entreO
eP
. Faremos, doravante,
0,0O para todos os observadores incluindo o referencial do LAB. Note-se que a linha de universo do observador
P
corresponde, no referencial do LAB, à equação2
y x.
Para os valores numéricos considerados, vem
2 3 2 y x A A .
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Há ainda a necessidade de introduzir um terceiro observador – o referee – que se designará por
R .
Este terceiro observador árbitro está sempre colocado a «meio» caminho entre os dois observadoresO
eP
no seguinte sentido: os sinais electromagnéticos emitidos pelo árbitroR
, num certo instante (acontecimento U da Fig. 3), em direcção quer aO
quer aP
são reflectidos (acontecimento S deO
e acontecimento A deP
) e voltam simultaneamente ao observador árbitroR
(acontecimento V da Fig. 3).Do ponto de vista do observador
P
o acontecimento A tem coordenadas A
0, c
. Além disso, como se viu anteriormente, do ponto de vista do observadorO
tem-se, por outro lado,
0, ct
P , R
0, ctR
, S
0, e Q
0, ct
. Então, introduzindo o factor de Bondi, facilmente se verifica quet t t t t t .
Note-se, também, que
2 1 t t t t .
Analogamente, sendo o factor de Bondi entre
O
eP
e o factor de Bondi entreO
eR
,vem ainda 2 x x x x x x t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t t
onde se considerou que, do ponto de vista de
O
, se tem S
0,ctx
e, do ponto de vista deR
, se tem U
0, ct
e V
0, ct
. Mas então, infere-se quex
t t t
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Este último resultado expressa o chamado teorema de Minkowski: o comprimento OA é, na métrica não euclidiana do espaço-tempo de Minkowski, idêntico ao comprimento OS .
Seja v c a velocidade normalizada relativa do observador
P
em relação ao observadorO
. Logo, como
v x y c t c A A A , vem 2 2 1 1 1 1 t x c t c t t t y c t c t t A A .Daqui infere-se que, inversamente,
1 1 .
Para os valores numéricos considerados, vem 9 10 , 11 ct ct .
Na página seguinte representam-se os vários observadores, o LAB, a hipérbole de calibração e os acontecimentos S e A : Fig. 3. Note-se que, no LAB, o acontecimento U
x yU, U
temcoordenadas
1 2 1 2 x y y x x y y y x x U S P S P U S P S PProf. Carlos R. Paiva Página 10 3 , 3 y y x x U U .
Para os valores numéricos considerados, vem:
3 1 5 1 4 2 5 2 5 2 1 5 1 4 2 x y x y U U U U .