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P ro t a g o n i s t a s na sociedade e na Igreja

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANO

EDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊS

Non praevalebunt

Ano LI, número 47 (2.692) Cidade do Vaticano terça-feira 24 de novembro de 2020

P ro t a g o n i s t a s

na sociedade e na Igreja

P ro t a g o n i s t a s

na sociedade e na Igreja

Na mensagem aos jovens economistas reunidos em Assis

A responsabilidade dos cristãos na visão de Francisco

para um desenvolvimento plenamente humano

CO N T I N UA NA PÁGINA8

O Papa concluiu o encontro online «The Economy of Francesco»

e confiou à juventude de Lisboa a Cruz da Jmj 2023

«Ou estais envolvidos ou a história passará por cima de vós». O Papa não usa meios-termos para dirigir o apelo aos jovens, a fim de que sejam artífices do presente e do futuro da sociedade e da Igreja. Protagonistas de dois encontros com o Pontífice os

jovens do mundo inteiro ouviram a sua mensagem em vídeo na tarde de 21 de novembro, por ocasião do evento internacional online «The Economy of Francesco» e, no do-mingo, uniram-se aos seus coetâneos do Panamá, que na basílica de São

Pedro, na presença do bispo de Ro-ma, entregaram aos de Lisboa a cruz e o ícone mariano, símbolos da Jmj, em vista do encontro internacional agendado na capital portuguesa em 2023. Um encontro aguardado an-siosamente, adiado por um ano

devi-do à pandemia, que em março já ti-nha causado o adiamento do encon-tro marcado em Assis com econo-mistas, empresários, trabalhadores e dirigentes empresariais “under 35”. Sem desanimar, os organizadores re-pensaram a sua fórmula e assim, de 19 a 21 de novembro, centenas de milhares de jovens de 115 nações li-garam-se com a cidadela franciscana para receber o testemunho do Papa, conscientes de que «as consequên-cias das nossas ações e decisões afe-tarão» precisamente os jovens, que por isso não podem «permanecer fo-ra dos lugares» decisórios. «É tempo — disse-lhes — de ousar o risco de fomentar e estimular modelos de de-senvolvimento, progresso e sustenta-bilidade em que as pessoas, e espe-cialmente os excluídos, deixem de ser uma presença meramente nomi-nal». Palavras que parecem ressoar nas que pronunciou na homilia do-minical, com a exortação a não re-nunciar «aos grandes sonhos», a não se contentar «com o que é devido», pois «o Senhor não nos quer esta-cionados nas margens da vida».

PÁGINAS2-3 E6/7

ANDREAMONDA

O

cristão destaca-se porque

tem boas notícias, um

“evangelho” a anunciar a outros homens; o cristão compro-metido na economia, ou seja, na atividade de transformar o mundo para o tornar cada vez mais huma-no, é também o portador de uma boa notícia que tem um conteúdo preciso: «A perspetiva do desenvol-vimento humano integral é uma boa notícia a profetizar e a imple-mentar — e estes não são sonhos: este é o caminho». Eis uma das passagens-chave da mensagem que o Santo Padre enviou no sábado passado aos jovens economistas reunidos durante três dias em Assis para o grande evento da “Economia de Francisco” juntamente com ou-tros grandes nomes das ciências

económicas de todo o mundo. Por-tanto, o feliz anúncio de que os jo-vens economistas cristãos devem comunicar a todo o mundo é o que está relacionado com o desenvolvi-mento humano integral, um tema querido ao Papa que, em agosto de 2016, criou um novo dicastério ao serviço deste desenvolvimento.

Para explicar melhor e mais cla-ramente o que é o “desenvolvimen-to”, Francisco citou as palavras da

Populorum progressio de São Paulo

VIna sua mensagem vídeo: «O

de-senvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Pa-ra ser autêntico, deve ser integPa-ral, quer dizer, promover todos os ho-mens e o homem todo [...] — cada homem e o homem todo! — não aceitamos que o económico se sepa-re do humano; nem o desenvolvi-mento das civilizações em que ele

se incluiu. O que conta para nós, é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até se chegar à humani-dade inteira».

Não se trata apenas de profetizar o desenvolvimento humano inte-gral, mas também de o implemen-tar: a responsabilidade que o Papa indica aos economistas cristãos é tanto grande quanto urgente, é pre-ciso agir (“incidir”, diz Francisco) em profundidade e não amanhã, porque «a gravidade da situação atual, que a pandemia de Covid tornou ainda mais evidente, exige uma consciência responsável de to-dos os atores sociais, de toto-dos nós, entre os quais tendes um papel pri-mordial: as consequências das nos-sas ações e decisões afetar-vos-ão pessoalmente, pelo que não podeis

Mensagem do Papa Francisco ao superior dos escolápios

A tarefa educativa

da vida consagrada

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página 2

L’OSSERVATORE ROMANO

terça-feira 24 de novembro de 2020, número 47

L’OSSERVATORE ROMANO

EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Cidade do Vaticano redazione.p ortoghese.or@sp c.va

w w w. o s s e r v a t o re ro m a n o .v a ANDREAMONDA d i re t o r Giuseppe Fiorentino v i c e - d i re t o r Redação

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Convite do Papa na homilia da missa

Não renunciemos aos grandes sonhos

O Sumo Pontífice presidiu na manhã de domingo, 22 de novembro, no altar da Cátedra na basílica do Vaticano, à santa nissa na solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. No final da concelebração eucarística, os jovens do Panamá entregaram a cruz e o ícone da “Salus populi ro m a n i ” — símbolos da Jornada mundial da juventude — aos seus coetâneos portugueses. A próxima Jmj terá lugar em Lisboa, no verão de 2023.

A página que acabamos de ouvir é a última do evangelho de Mateus an-tes da Paixão: anan-tes de nos dar o seu amor na cruz, Jesus transmite-nos as últimas vontades. Diz-nos que o bem que fizermos a um dos seus ir-mãos mais pequeninos — esfomea-dos, sedentos, forasteiros, necessita-dos, doentes, reclusos — será feito a Ele (cf. Mt 25, 37-40). Deste modo o Senhor entrega-nos a lista das pren-das que deseja para as núpcias eter-nas connosco no Céu. São as obras de misericórdia que tornam eterna a nossa vida. Cada um de nós pode interrogar-se: Coloco-as em prática? Faço alguma coisa por quem tem necessidade, ou pratico o bem so-mente para as pessoas queridas e os amigos? Ajudo alguém que não me pode restituir? Sou amigo duma pessoa pobre? E podíamos conti-nuar com tantas outras perguntas, postas a nós mesmos. «Eu estou ali — diz-te Jesus — espero por ti ali, onde não imaginas e para onde tal-vez nem quererias olhar: ali… nos pobres». Eu estou ali, onde não vê qualquer interesse o pensamento do-minante, segundo o qual a vida vai bem, se for bem para mim. Eu estou

ali: diz Jesus também a ti, jovem

que procuras realizar os sonhos da vida.

Eu estou ali: disse Jesus, séculos atrás, a um jovem soldado. Era um jovem de dezoito anos, ainda não batizado. Um dia viu um pobre que pedia ajuda às pessoas, sem a obter, porque «todos passavam adiante». E aquele jovem, «vendo que os outros não se sentiam movidos à compai-xão, compreendeu que aquele pobre estava reservado para ele». Mas não tinha nada consigo, apenas o seu uniforme de serviço. Então cortou o seu manto e deu metade ao pobre, suportando o riso escarninho de al-guns ao redor. Na noite seguinte, te-ve um sonho: viu Jesus, te-vestido com a parte do manto com que envolvera o pobre. E ouviu-O dizer: «Marti-nho cobriu-me com este manto» (cf. SULPÍCIOSE V E R O, Vita Martini,III). São Martinho era um jovem que te-ve aquele sonho porque o vite-vera, embora sem o saber, como os justos do Evangelho de hoje.

Queridos jovens, queridos irmãos e irmãs, não renunciemos aos g ra n

-des sonhos. Não nos contentemos em fazer apenas o que é devido. O Se-nhor não quer que restrinjamos os

horizontes, não nos quer estaciona-dos nas margens da vida, mas cor-rendo para metas altas, com júbilo e ousadia. Não fomos feitos para so-nhar os feriados ou o fim de sema-na, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo. Ele tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida. E as obras de miseri-córdia são as obras mais belas da vi-da. As obras de misericórdia cen-tram-se diretamente nos nossos so-nhos grandes. Se tens soso-nhos de ver-dadeira glória — não da glória passa-geira do mundo, mas da glória de Deus —, esta é a estrada. Lê a passa-gem do evangelho de hoje, reflete nela. Porque as obras de misericór-dia dão mais glória a Deus do que qualquer outra coisa. Ouvi isto com atenção: as obras de misericórdia dão mais glória a Deus do que qual-quer outra coisa. No fim, é sobre as obras de misericórdia que seremos julgados.

Mas, donde se começa para reali-zar grandes sonhos? Das opções

gran-des. Hoje, o Evangelho também nos

fala disto. Com efeito, no momento do juízo final, o Senhor baseia-Se nas nossas escolhas. Quase parece que não julga: separa as ovelhas dos cabritos, mas ser bom ou mau de-pende de nós. Ele limita-Se a tirar as consequências das nossas esco-lhas, trá-las à luz e respeita-as. As-sim a vida é o tempo das escolhas vigorosas, decisivas e eternas. Esco-lhas banais levam a uma vida banal; escolhas grandes tornam grande a vida. De facto, tornamo-nos naquilo que escolhemos, tanto no bem como no mal. Se escolhemos roubar, tor-namo-nos ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se escolhemos odiar, torna-mo-nos rancorosos; se escolhemos passar horas no telemóvel, tornamo-nos dependentes. Mas, se

escolher-mos Deus, vamo-nos tornando dia a dia mais amáveis e, se optarmos por amar, tornamo-nos felizes. É assim, porque a beleza das opções depende do amor: não o esqueçais! Jesus sabe que, se vivermos fechados e na indi-ferença, ficamos paralisados; mas, se nos gastarmos pelos outros, torna-mo-nos livres. O Senhor da vida quer-nos cheios de vida e dá-nos o segredo da vida: só a possuímos, se a dermos. Esta é uma regra de vida: a vida só a possuímos — agora e eternamente —, se a dermos.

É verdade que existem obstáculos que tornam difícil escolher: com fre-quência, são o medo, a insegurança, os porquês sem resposta… tantos porquês. Contudo o amor pede para os ultrapassar, não ficar agarrados aos p o rq u ê s da vida, esperando que chegue do Céu uma resposta. A res-posta chegou: é o olhar do Pai que nos ama e nos enviou o Filho. O amor impele a passar dos p o rq u ê s ao

para quem: do porque vivo, ao para quem vivo; do porquê me acontece isto, ao para quem posso fazer bem. Para quem? Não só para mim; a vi-da já está cheia de escolhas que fa-zemos para nós mesmos: ter um di-ploma, amigos, uma casa; satisfazer os nossos próprios interesses, os nos-sos passatempos. De facto, corremos o risco de passar anos a pensar em nós mesmos, sem começar a amar. Manzoni deu um bom conselho: «Devia-se pensar mais em fazer bem do que em estar bem; e acabaríamos assim por estar melhor» (I Promessi

Sposi, cap. 38).

Mas não temos apenas as dúvidas e os porquês a insidiar as escolhas grandes, generosas; existem muitos outros obstáculos, todos os dias. Há a febre de consumir, que narcotiza o coração com coisas supérfluas. Há a obsessão pelo divertimento, que pa-rece a única via para escapar dos

problemas, quando, ao invés, é ape-nas um adiamento do problema. Há a fixação nos próprios direitos a rei-vindicar, esquecendo o dever de aju-dar. E, depois, há a grande ilusão do amor, que parece algo a ser vivido ao som de emoções, quando amar é principalmente dom, escolha e sacri-fício. Sobretudo hoje, escolher é não se fazer domesticar pela homogenei-zação, é não se deixar anestesiar pe-los mecanismos do consumo, que desativam a originalidade, é saber renunciar às aparências e à exibição. Escolher a vida é lutar contra a mentalidade do u s a - e - d e i t a - f o ra e do

tudo-e-imediatamente, para orientar a existência rumo à meta do Céu, ru-mo aos sonhos de Deus. Escolher a vida é viver, e nós nascemos para vi-ver, não para vegetar. Disse-o um jo-vem como vós [o Beato Pier Giorgio Frassati]: «Eu quero viver, não vege-tar».

Todos os dias se apresentam mui-tas opções no coração. Gostaria de vos dar um último conselho para vos treinardes a escolher bem. Se olhar-mos dentro de nós, vereolhar-mos que muitas vezes surgem aí duas pergun-tas diferentes. A primeira: o que me

apetece fazer? É uma pergunta que engana frequentemente, porque insi-nua que o importante é pensar em si mesmo e satisfazer todos os desejos e impulsos que me vêm. Mas a per-gunta que o Espírito Santo sugere ao coração é outra: não aquilo que te

apetece,mas aquilo que te faz bem. A opção diária situa-se aqui: escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior, podem nascer escolhas banais ou es-colhas vitais. Depende de nós. Olhe-mos para Jesus, peçaOlhe-mos-Lhe a cora-gem de escolher o que nos faz bem, de caminhar atrás d’Ele pela via do amor. E encontrar a alegria. Para vi-ver, e não para vegetar.

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número 47, terça-feira 24 de novembro de 2020

L’OSSERVATORE ROMANO

página 3

O Papa Francisco anunciou que a partir do pró-ximo ano a celebração diocesana da Jmj será transferida do Domingo de Ramos para o Do-mingo de Cristo Rei. Eis as suas palavras no fi-nal da missa.

No final desta celebração eucarística, saúdo cordialmente a todos vós aqui presentes e quantos nos acompanham através dos meios de comunicação social. Dirijo uma saudação particular a vós jovens, jovens panamenses e portugueses, aqui representados por duas de-legações que, em breve, realizarão o gesto sig-nificativo da passagem da Cruz e do Ícone de Maria Salus Populi Romani, símbolos das Jor-nadas Mundiais da Juventude. É um passo importante na peregrinação que nos levará a Lisboa, em 2023.

E enquanto nos preparamos para a próxi-ma edição intercontinental daJ M J, gostaria de relançar também a sua celebração nas Igrejas locais. Passados trinta e cinco anos da insti-tuição da J M J, depois de ter ouvido o parecer de várias pessoas e o Dicastério para os Lei-gos, a Família e a Vida, que é competente no que se refere à pastoral juvenil, decidi transfe-rir, a partir do próximo ano, a celebração

dio-cesana daJMJdo Domingo de Ramos para o

Domingo de Cristo Rei. No centro, continua a estar o Mistério de Jesus Cristo Redentor do homem, como sempre destacou São João Paulo II, iniciador e patrono da J M J.

Queridos jovens, gritai com a vossa vida que Cristo vive, que Cristo reina, que Cristo é o Senhor! Se vos calardes, garanto-vos que gritarão as pedras! (cf. Lc 19, 40).

Certeza de ressurreição

MARCORUSSO

Certamente, quando ainda frequen-tava os bancos da minha escola diri-gida pelos Padres Jesuítas, nunca pensei que um dia me encontraria a representar os jovens ex-alunos da escola católica em todo o mundo pe-rante a Igreja Universal, contribuin-do assim para o diálogo apostólico em união com os delegados das vá-rias conferências episcopais e movi-mentos internacionais.

No entanto, a experiência sinodal que vos vou contar, posso lê-la clara-mente graças à forma inaciana de proceder que nos convida a «procu-rar e encont«procu-rar Deus em todas as coisas». Também no atual momento histórico, na presença desta grave pandemia.

Nos últimos dias, o evento «Do Panamá a Lisboa — chamados à si-nodalidade missionária» promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Fa-mília e a Vida da Santa Sé realizou-se virtualmente para estimular o diá-logo entre jovens de todo o mundo e em particular para comemorar o último dia mundial da juventude e para dar voz aos desejos que cada um tem dentro de si, na expetativa do Dia de Lisboa em 2023.

Quatro dias intensos marcados pe-la oração, testemunhos, partilha de ideias mas sobretudo pela consciên-cia de saber que somos irmãos. Uma consciência que transpareceu através dos ecrãs, porque embora não nos fosse possível encontrarmo-nos em presença, fizemo-lo espiritualmente, cada um na própria casa e, portanto, de facto, estávamos todos próximos. Ouvimo-nos e olhámos uns para os outros, encontrámos novos amigos e revimos os que já tínhamos, fizemos uma pausa para o café e trocámos algumas piadas. Fomos generativos na nossa relação e unidos pelo dese-jo de encontrar novas formas de transformar positivamente o mundo. Fomos simplesmente Igreja.

Entre as maiores emoções, gosto de recordar o momento da partilha pessoal no primeiro dia, quando emergiram as várias experiências apostólicas desenvolvidas em cada país durante a pandemia. Apesar das dificuldades, as atividades do apos-tolado juvenil, também graças ao apoio da tecnologia, não só não pa-raram como, embora sob novas for-mas, aumentaram. Estivemos ali uns para os outros, as comunidades de jovens continuaram a encontrar-se para irem juntas rumo ao que será. Algo que certamente não podemos

prever em pormenor, mas que temos a certeza de que estaremos juntos e na companhia de Cristo.

E refletindo sobre o impulso para o futuro, os nossos pensamentos vol-tam vol-também aos momentos em que nos confrontamos sobre o tema do próximo dia mundial da juventude. Em particular, gostaria de partilhar convosco o sabor da esperança que experimentei quando imaginei Lis-boa 2023. De facto, neste momento dramático para toda a humanidade, nem sempre é fácil imaginar o futu-ro, mas fizemo-lo e fizemo-lo com um projeto comum em mente, uma síntese de muitas ideias, mas uma expressão da vontade de um único corp o.

Os receios são inevitavelmente muitos e em numerosas frentes e por vezes o mais fácil parece ser desistir e render-se a uma condição de

de-missão. Infelizmente, isto pode

acontecer, mas apenas na medida em que optamos por não depender de outros. E de facto, nestes mesmos dias em que basicamente confiamos uns nos outros, apercebi-me de que não há espaço para ficar para trás mas, pelo contrário, haverá sempre espaço para dar um passo em frente. Basta manter um olhar “em grande

angular” para ver quem está ao nos-so lado.

Portanto, não se trata de negar a existência de problemas, mas de en-contrar a força para reconhecer que se os problemas de outra pessoa se tornarem também meus, e portanto, se carregarmos o fardo em dois, em vez de estarmos sozinhos, ainda se-remos capazes de encontrar a beleza da vida. Pode parecer paradoxal pensar que assumir os problemas do próximo também nos pode ajudar, mas é uma experiência interessante, porque ao deslocar o centro de refle-xão do problema enquanto tal para a necessidade de cada um ter com-panheiros com quem partilhar algo, abriremos a possibilidade de novas questões. E a partir de novas ques-tões, surge sempre uma nova vida.

Estes dias de encontro virtual fra-terno, seguidos da passagem simbó-lica da cruz e da cópia do Ícone

Sa-lus Populi Romanientre os jovens do Panamá e os portugueses na Basílica de São Pedro, sob o olhar paterno e tranquilizador do Papa, lembram-nos verdadeiramente que estamos destinados à eternidade. Pois, se es-tivermos unidos no amor, até as cru-zes mais pesadas, tais como a cruz desta terrível pandemia, podem reve-lar-se certeza de ressurreição.

Anúncio de Francisco

A celebração diocesana da Jmj terá lugar na

solenidade de Cristo Rei

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página 4

L’OSSERVATORE ROMANO

terça-feira 24 de novembro de 2020, número 47

Sabedoria e responsabilidade na informação

Para comunicar, como cristãos

ANDREAMONDA

O texto da encíclica Fratelli tutti pu-blicada a 4 de outubro, graças à lei-tura prolongada, necessária também pela sua extensão e densidade, pode ser comparado com uma verdadeira mina rica de tesouros a descobrir, conhecer, saborear.

Há um parágrafo no primeiro ca-pítulo que não pode deixar indife-rente quem trabalha no mundo da comunicação e da informação; trata-se do trecho intitulado A ilusão da

comunicação que se desenvolve do ponto 42 ao 50. Trata-se de um pa-rágrafo que impressiona pelo realis-mo da reflexão e pela lucidez do olhar com que o Papa Francisco aborda o tema da comunicação, que lhe é muito querido. Devemos consi-derar que esta reflexão está inserida no contexto do primeiro capítulo da encíclica, intitulado As sombras dum

mundo fechado, dedicado precisamen-te a descrever as sombras que envol-vem a sociedade contemporânea, que se tornou surda à exigência da fraternidade, e por isso o olhar seve-ro que não faz descontos no exame dos limites de uma comunicação que pode revelar-se uma “ilusão”. Preci-samente no primeiro ponto, o 42, o Papa alerta para o risco de que «tu-do se torne uma espécie de espetá-culo que pode ser espiado, observa-do, e a vida acaba exposta a um controle constante. Na comunicação digital, quer-se mostrar tudo, e cada indivíduo torna-se objeto de olhares que esquadrinham, desnudam e di-vulgam, muitas vezes anonimamen-te. Dilui-se o respeito pelo outro e, assim, ao mesmo tempo que o apa-go, ignoro e mantenho afastado, posso despudoradamente invadir até ao mais recôndito da sua vida». A abordagem do outro ser humano torna-se instrumental, não está à al-tura da dignidade de cada pessoa, mas transforma-se num terrível ato de violência contra o qual é pratica-mente impossível defender-se.

Esta foi a sugestão que levou, há menos de um ano, a 29 de novem-bro de 2019, este jornal a organizar uma mesa redonda intitulada «Li-vres, porque responsáveis» sobre o tema da responsabilidade dos jorna-listas e de todos os agentes da co-municação. A intenção era fazer dele um encontro anual onde o mundo da informação, sempre pronto a rei-vindicar a sua liberdade e direitos, com razão, parasse por um momen-to para refletir sobre os seus limites e os riscos de exercer esses direitos e liberdades de uma forma indigna do ser humano. Este ano, dada a ex-traordinária e dramática situação mundial ligada à propagação da pandemia de Covid-19, será difícil repetir a experiência do ano passa-do, com tantos diretores de jornais à volta da mesma mesa, e precisamen-te por esta razão é ainda mais apre-ciada a “vinda em socorro” do texto do Papa, inserido na Fratelli tutti e

dedicado à delicada e crucial ques-tão da comunicação.

Os pontos levantados pela refle-xão do Sumo Pontífice são muitos: a perda de contacto com o outro devi-do à “desmaterialização” que o mun-do digital traz consigo, a agressivida-de social frequentemente provocada ou instrumentalizada por «interesses económicos gigantescos» (n. 45), o risco de confundir a quantidade de informação com a qualidade, de mo-do que perdemos de vista a sabemo-do- sabedo-ria: «A acumulação esmagadora de informações que nos inundam, não significa maior sabedoria. A sabedo-ria não se fabrica com buscas

impa-cientes na internet, nem é um soma-tório de informações cuja veracidade não está garantida. Desta forma, não se amadurece no encontro com a ver-dade. As conversas giram, em última análise, ao redor das notícias mais re-centes; são meramente horizontais e cumulativas» (n. 50).

Sobre estes e outros temas é justo refletir, como comunicadores e ainda mais como comunicadores cristãos. Já o fazemos hoje com um “p r i m e i ro plano” nas páginas internas deste jornal, relatando uma intensa refle-xão do padre Giulio Albanese que medita sobre a frequência com que a informação é drogada, ambígua,

pe-lo que seleciona as notícias apenas com base em critérios político-eco-nómicos, deixando fora áreas inteiras do mundo que passam por aconteci-mentos dramáticos quase nunca nar-rados pelos principais meios de co-municação social. Ao lado desta re-flexão queremos, contar uma história de boa comunicação, de uma comu-nicação que não cria ilusões mas ge-ra, regenera vida.

Esta é a tarefa daqueles que, como cristãos, trabalham no mundo da co-municação, para oferecer uma pala-vra fecunda contra a conversa funes-ta que sufoca e polui o ar que todos nós respiramos diariamente.

A primeira forma de solidariedade

GIULIOALBANESE

Há já vários meses que o mundo da informação está absorvido pela pandemia de Covid-19. Um interesse que, devido a forças maiores, teve então que dar espa-ço às eleições presidenciais nos Estados Unidos da América e à trágica espiral de violência jihadista que atingiu a França e a Áustria. Ao mesmo tempo, no en-tanto, uma grande sombra está a encobrir cada vez mais o restante dos acontecimentos em escala planetá-ria. Antes de mais, porque os mecanismos dos meios de comunicação, no perímetro do mundo como aldeia global, tornaram-se tão seletivos que a grande maioria dos acontecimentos que atingem as periferias acabam pontualmente no esquecimento.

Basta pensar no que aconteceu recentemente no Afe-ganistão quando um comando invadiu a sede da Uni-versidade de Cabul, onde se realizava um evento com a participação das autoridades locais e iranianas. Três homens armados massacraram 22 estudantes e profes-sores antes de serem mortos pelas forças de segurança. Na noite do mesmo dia, o Estado islâmico reivindicou a responsabilidade pelo ataque. Esta notícia foi capta-da por alguns jornais sem a devicapta-da ressonância.

Sem deixar de mencionar o que aconteceu na sexta-feira 30 de outubro em Butembo, no sector oriental da República Democrática do Congo. Nesse local, um grupo de homens armados, cuja identidade ainda hoje não é clara, atacou um bairro inteiro na periferia da ci-dade congolesa. Durante o assalto, que durou cerca de duas horas, 19 pessoas perderam a vida, incluindo um catequista chamado Richard Kisusi.

O problema básico é que do sul do mundo, não im-porta de que continente se trate, geralmente só se fala em referência à mobilidade humana, quer em relação à possibilidade de que entre os migrantes se escondam terroristas de matriz islâmica quer de sujeitos portado-res de doenças perniciosas.

E dizer que haveria histórias para contar, positivas ou negativas, todos os factos e acontecimentos que pontualmente permanecem escondidos na gaveta, num

contexto profundamente marcado pelo desinteresse ge-ral em relação a dinâmicas consideradas geografica-mente demasiado distantes.

Uma atualidade, por assim dizer de série “B”, da

qual voltamos a falar, de uma forma por vezes até sabi-chona e polémica, apenas quando certos acontecimen-tos interessam diretamente a nossa opinião pública, por exemplo, em referência aos temas da hospitalidade e da integração.

Muitas pessoas objetam que uma informação inter-nacional robusta não tem mercado e que, portanto, certas notícias não são vendidas porque não interessam a ninguém. Os apoiadores desta tese esquecem que a informação tem um valor educativo indiscutível e que a sua utilização, deontologicamente, não pode ser instru-mental.

Como o Papa Francisco escreveu na sua última encí-clica Fratelli tutti, «a verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade. Hoje, porém, tudo se pode produzir, dissimular, modificar. Isto faz com que o en-contro direto com as limitações da realidade se torne insuportável. Em consequência, implementa-se um me-canismo de “seleção”, criando-se o hábito de separar imediatamente o que gosto daquilo de que não gosto, as coisas atraentes das desagradáveis».

Na Idade Média, como muitos saberão, os alquimis-tas estavam em constante busca da “pedra filosofal”, ou seja, daquela substância catalisadora capaz de curar a matéria para alcançar a imortalidade e transformar o vil metal em ouro precioso. Hoje não podemos certa-mente esperar que a informação, por si só, possa pro-vocar a mudança desejada, mas não há dúvida de que o conhecimento abre o horizonte e que a informação internacional é a primeira forma de solidariedade num mundo globalizado e interligado, no qual só nos pode-mos salvar juntos. Este é, aliás, o motivo inspirador do Documento sobre a fraternidade humana assinado pelo Papa Francisco e o Grão-Imame de al-Azhar em feve-reiro de 2019. Um compromisso urgente que também diz respeito aos agentes da informação.

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número 47, terça-feira 24 de novembro de 2020

L’OSSERVATORE ROMANO

página 5

A oração acalma

e torna disponíveis

Maria, mulher orante e modelo de humildade

C AT E Q U E S E

Prosseguindo na audiência geral a reflexão sobre a oração, a 18 de novembro, o Papa Francisco falou da Virgem Maria como a mulher orante e modelo de humildade. Publicamos a seguir o texto da catequese proferida pelo Pontífice na Biblioteca particular do Palácio apostólico do Vaticano.

Prezados irmãos e irmãs, bom dia! No nosso caminho de catequeses sobre a oração, hoje encontramos a

Virgem Maria como Mulher orante. Nossa Senhora rezava. Quando o mundo ainda não a conhece, quan-do é uma simples quan-donzela, noiva de um homem da casa de David, Maria reza. Podemos imaginar a jovem de Nazaré, recolhida em si-lêncio, em diálogo contínuo com Deus, que em breve lhe teria con-fiado a sua missão. Ela já é cheia de graça e imaculada, desde a con-ceção, mas ainda nada sabe sobre a sua vocação surpreendente e ex-traordinária, e sobre o mar tempes-tuoso que terá de sulcar. Uma coi-sa é certa: Maria pertence ao gran-de exército dos humilgran-des gran-de cora-ção, que os historiadores oficiais não incluem nos seus livros, mas com quem Deus preparou a vinda do seu Filho.

Maria não governa autonoma-mente a sua vida: espera que Deus tome as rédeas do seu caminho e a guie para onde Ele quer. É dócil, e com esta sua disponibilidade pre-dispõe os grandes acontecimentos que envolvem Deus no mundo. O

Catecismo recorda-nos a sua presen-ça constante e atenciosa no desíg-nio benévolo do Pai e ao longo da vida de Jesus (cf. CIC, 2617-2618).

Maria encontra-se em oração, quando o arcanjo Gabriel lhe vai levar o anúncio a Nazaré. O seu “Eis-me!”, pequeno e imenso, que naquele momento faz saltar de ale-gria toda a criação, na história da salvação tinha sido precedido por muitos outros “eis-me!”, por muitas obediências confiantes, por tantas disponibilidades à vontade de Deus. Não há melhor maneira de rezar do que colocar-se, como Ma-ria, em atitude de abertura, de co-ração aberto a Deus: “Senhor, o que Tu quiseres, quando Tu quise-res e como Tu quisequise-res!”. Ou seja, o coração aberto à vontade de Deus. E Deus responde sempre. Quantos fiéis vivem assim a sua oração! Quem é mais humilde de coração, reza assim: digamos com humildade essencial; com humilda-de simples: “Senhor, o que Tu

qui-seres, quando Tu quiseres e como Tu quiseres!”. Reza assim, sem se zangar porque os dias estão cheios de problemas, mas indo ao encon-tro da realidade e consciente de que é no amor humilde, no amor oferecido em cada situação, que nos tornamos instrumentos da gra-ça de Deus. Senhor, o que Tu qui-seres, quando Tu quiseres e como Tu quiseres! Uma oração simples, mas que consiste em pôr a nossa vida nas mãos do Senhor: que Ele nos guie! Todos nós podemos orar desta forma, quase sem palavras.

A oração sabe acalmar a inquie-tação: mas nós estamos inquietos, queremos sempre as coisas antes de as pedirmos, e queremo-las imedia-tamente. Esta inquietação fere-nos, e a oração sabe acalmar a inquieta-ção, sabe transformá-la em disponi-bilidade. Quando estou inquieto, rezo e a oração abre o meu cora-ção, tornando-me disponível à von-tade de Deus. Nos poucos instan-tes da Anunciação, a Virgem Maria soube rejeitar o medo, embora te-nha previsto que o seu “sim” lhe teria causado provações muito du-ras. Se na oração compreendermos que cada dia concedido por Deus é uma chamada, então dilataremos o

coração e acolheremos tudo.

Aprende-se a dizer: “O que quise-res, Senhor. Promete-me apenas que estarás presente em cada passo do meu caminho”. Isto é importan-te: pedir ao Senhor a sua presença em cada passo do nosso caminho: que não nos deixe sozinhos, que não nos deixe cair em tentação, que não nos abandone nos mo-mentos difíceis. Conclui-se assim o Pai-Nosso: a graça que o próprio Jesus nos ensinou a pedir ao Se-n h o r.

Com a oração, Maria acompa-nha toda a vida de Jesus, até à morte e ressurreição; e no final continua, e acompanha os primei-ros passos da Igreja nascente (cf.

At 1, 14). Maria reza com os discí-pulos que atravessaram o escândalo da Cruz. Reza com Pedro, que su-cumbiu ao medo e chorou de re-morso. Maria está ali, com os discí-pulos, no meio dos homens e das mulheres que o seu Filho chamou para formar a sua Comunidade. Maria não age como sacerdote en-tre eles, não! É a Mãe de Jesus que reza com eles, em comunidade, co-mo um membro da comunidade. Reza com eles e por eles. E, mais uma vez, a sua oração precede o futuro que está prestes a

cumprir-se: por obra do Espírito Santo, tor-nou-se Mãe de Deus, e por obra do Espírito Santo, torna-se Mãe da Igreja. Orando com a Igreja nas-cente, torna-se Mãe da Igreja, acompanha os discípulos nos pri-meiros passos da Igreja, em oração, à espera do Espírito Santo. Em si-lêncio, sempre em silêncio! A prece de Maria é silenciosa. O Evangelho só nos narra uma oração de Maria: em Caná, quando pede ao seu Fi-lho, por aquelas pobres pessoas, que estão prestes a fazer má figura na festa. Mas, imaginemos: ofere-cer uma festa de casamento e ter-miná-la com leite, porque não ha-via vinho! Mas que vergonha! E Ela suplica e pede ao seu filho que resolva aquele problema. A presen-ça de Maria é por si só oração, e a sua presença entre os discípulos no Cenáculo, à espera do Espírito Santo, é orante. Assim, Maria dá à luz a Igreja, é Mãe da Igreja. O

Catecismo explica: «Na fé da sua humilde serva, o Dom de Deus — ou seja, o Espírito Santo — encon-tra o acolhimento que Ele esperava desde o princípio dos tempos» (Catecismo, n. 2617).

Na Virgem Maria, a natural in-tuição feminina é exaltada pela sua união singular com Deus na ora-ção. Por este motivo, lendo o Evangelho, observamos que às ve-zes Ela parece desaparecer, para depois reaparecer nos momentos cruciais: Maria está aberta à voz de Deus que guia o seu coração, que orienta os seus passos onde a sua presença é necessária. Presença si-lenciosa de mãe e de discípula. Maria está presente porque é Mãe, mas está presente também porque é a primeira discípula, aquela que melhor aprendeu as coisas de Je-sus. Maria nunca diz: “Vinde, re-solverei os problemas”. Mas diz: “Fazei o que Ele vos disser”, indi-cando sempre com o dedo Jesus. Esta atitude é típica do discípulo, e

ela é a primeira discípula: reza co-mo Mãe, ora coco-mo discípula.

«Maria conservava todas estas palavras, ponderando-as no seu co-ração» (Lc 2, 19). Assim o evange-lista Lucas retrata a Mãe do Se-nhor no Evangelho da infância. Tudo o que acontece ao seu redor acaba por ter um reflexo no fundo do seu coração: tanto os dias cheios de alegria, como os momen-tos mais sombrios, quando até Ela tem dificuldade de compreender por que caminhos deve passar a Redenção. Tudo acaba no seu co-ração, para poder ser joeirado me-diante a oração e por ela transfigu-rado. Quer sejam as dádivas dos Magos, quer a fuga para o Egito, até à tremenda sexta-feira da pai-xão: a Mãe conserva tudo, apresen-tando-o a Deus no seu diálogo com Ele. Alguém comparou o co-ração de Maria com uma pérola de esplendor inigualável, formada e li-mada pela aceitação paciente da vontade de Deus, através dos mis-térios de Jesus meditados na ora-ção. Que bom se também nós pu-déssemos assemelhar-nos um pou-co à nossa Mãe! Com o pou-coração aberto à Palavra de Deus, com o coração silencioso, com o coração obediente, com o coração que sabe receber a Palavra de Deus, deixan-do-a crescer com uma semente do bem da Igreja.

No final da audiência geral o Pontífice pronunciou ainda, entre outras, as seguintes palavras.

Dirijo uma cordial e afetuosa sau-dação aos ouvintes de língua por-tuguesa. Aprendamos com a nossa Mãe Santíssima a levar ao Senhor na oração as nossas alegrias e espe-ranças, as nossas preocupações e angústias, enfim, tudo aquilo que

conservamos no coração. Que

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número 47, terça-feira 24 de novembro de 2020 L’OSSERVATORE ROMANO página 6/7

É tempo de ousar um novo modelo

de desenvolvimento

Os pobres têm dignidade suficiente para participar nos nossos encontros e debates

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passos de São Francisco. Do Crucifi-xo de São Damião e de outros rostos — como o do leproso — o Senhor foi ao seu encontro, chamou-o e confiou-lhe uma missão; despojou-o dos ído-los que o isolavam, das perplexidades que o paralisavam e fechou-o na fra-queza habitual do “sempre se fez as-sim” — esta é uma fraqueza! — ou da tristeza adocicada e insatisfeita da-queles que vivem apenas para si pró-prios e deu-lhe a capacidade de en-toar um canto de louvor, expressão de alegria, liberdade e doação de si. Portanto, para mim este encontro vir-tual em Assis não é um ponto de chegada, mas o impulso inicial de

«Chegou a hora, queridos jovens economistas, empresários, trabalhadores e dirigentes empresariais, chegou a hora de ousar o risco de fomentar e estimular modelos de desenvolvimento, progresso e sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos deixem de ser uma presença meramente nominal», exortou o Pontífice numa mensagem de vídeo na tarde de 21 de novembro, no encerramento do Encontro internacional «The Economy of Francesco — o Papa Francisco e os jovens do mundo para a economia do futuro», que teve lugar em Assis, em streaming, a partir do dia 19. O encontro, que inicialmente estava previsto para março mas fora adiado devido à pandemia, contou com a participação de mais de dois mil jovens “under 35” e centenas de milhares de seus coetâneos de 115 países do mundo.

um processo que somos convidados a viver como vocação, como cultura e como pacto.

A vocação de Assis “Francesco vai, repara a minha ca-sa que, como vês, está em ruínas”. Estas foram as palavras que moveram o jovem Francisco, tornando-se um apelo especial a cada um de nós. Quando vos sentis chamados, envol-vidos e protagonistas da “normalida-de” a ser construída, sabeis dizer

atual sistema mundial é insustentável de vários pontos de vista»1e fere a

nossa irmã terra, tão maltratada e despojada, e ao mesmo tempo os mais pobres e os excluídos. Cami-nham juntos: a terra é despojada e há muitos pobres excluídos. Eles são os primeiros prejudicados... e tam-bém os primeiros esquecidos.

Mas tende cuidado para não vos deixardes convencer de que se trata apenas um lugar-comum recorrente. É muito mais do que um “ru m o r ” su-perficial e transitório que pode ador-mecer e narcotizar ao longo do tem-po. Se não quisermos que isto acon-teça, sois chamados a incidir concre-tamente nas vossas cidades e univer-sidades, no trabalho e no sindicato, nas empresas e nos movimentos, em gabinetes públicos e privados com inteligência, esforço e convicção, para chegar ao núcleo e ao coração, onde os temas e os paradigmas são elabo-rados e decididos.2Tudo isto me

le-vou a convidar-vos a fazer este pacto. A gravidade da situação atual, que a pandemia de Covid tornou ainda mais evidente, exige uma conscienti-zação responsável de todos os atores sociais, de todos nós, entre os quais vós tendes um papel primordial: as consequências das nossas ações e de-cisões afetar-vos-ão pessoalmente, pe-lo que não podem permanecer fora dos lugares onde se gera não o vosso futuro, mas o vosso presente. Não podeis ficar fora do lugar onde o presente e o futuro são gerados. Ou estais envolvidos ou a história passa-rá por cima de vós.

Uma nova cultura Precisamos de uma mudança, que-remos uma mudança, procuramos uma mudança.3 O problema surge

quando nos damos conta de que, pa-ra muitas das dificuldades que nos afligem, não temos respostas adequa-das e inclusivas; pelo contrário, sofre-mos de uma fragmentação na análise e no diagnóstico que acaba por blo-quear todas as soluções possíveis. Afinal, falta-nos a cultura necessária para permitir e estimular a abertura de diferentes visões, baseadas num ti-po de pensamento, ti-política, progra-mas educacionais, e até de uma espi-ritualidade que não se deixe fechar numa única lógica dominante.4Se é

urgente encontrar respostas, é indis-pensável crescer e apoiar grupos diri-gentes capazes de desenvolver a cul-tura, iniciar processos — não vos es-queçais desta palavra: iniciar proces-sos — traçar caminhos, ampliar hori-zontes, criar pertenças... A fim de ser

significativo, cada esforço para admi-nistrar, cuidar e melhorar a nossa ca-sa comum exige uma mudança «dos estilos de vida, dos modelos de pro-dução e de consumo, das estruturas consolidadas de poder, que hoje re-gem as sociedades».5Se não o

fizer-des, nada fareis!

Precisamos de grupos dirigentes comunitários e institucionais que possam enfrentar os problemas sem ficar prisioneiros deles e das próprias insatisfações, e assim desafiar a sub-missão — muitas vezes inconsciente — a certas lógicas (ideológicas) que aca-bam por justificar e paralisar todas as ações perante as injustiças. Recorde-mos, por exemplo, como bem obser-vou Bento XVI, que a fome «não de-pende tanto de uma escassez mate-rial, como sobretudo da escassez de recursos sociais, o mais importante dos quais é de natureza institucio-nal».6Se fordes capazes de resolver

isto, tereis o caminho aberto para o futuro. Repito o pensamento do Pa-pa Bento: a fome não depende tanto da escassez material, como sobretudo da escassez de recursos sociais, o mais importante dos quais é de natu-reza institucional.

A crise social e económica, que muitos sofrem na própria carne e que hipoteca o presente e o futuro no abandono e na exclusão de tantas crianças, adolescentes e famílias intei-ras, não tolera que privilegiemos os interesses setoriais em detrimento do bem comum. Devemos voltar um pouco à mística [ao espírito] do bem comum. Neste sentido, permiti-me assinalar um exercício que experi-mentastes como metodologia para uma resolução de conflitos sadia e re-volucionária. Durante estes meses, partilhastes várias reflexões e impor-tantes quadros teóricos. Conseguistes concordar sobre 12 temas (as “al-deias”, como lhes chamastes): 12 te-mas para debater, discutir e identifi-car caminhos viáveis. Experimentas-tes a tão necessária cultura do

encon-t ro , que é o oposto da cultura do

des-carte, que está na moda. E esta cultu-ra do encontro permite que muitas vozes estejam ao redor da mesma mesa para dialogar, pensar, debater e criar, de uma perspetiva poliédrica, as diferentes dimensões e respostas aos problemas globais que dizem res-peito aos nossos povos e democra-cias.7Como é difícil progredir rumo

a soluções reais, quando é desacredi-tado, difamado e descontextualizado o interlocutor que não pensa como nós! Este desacreditar, difamar ou descontextualizar o interlocutor que não pensa como nós é um modo de “sim”, e isto infunde esperança. Sei

que aceitastes esta convocação ime-diatamente, porque sois capazes de ver, analisar e experimentar que não podemos continuar deste modo: o ní-vel de adesão, inscrição e participa-ção neste pacto, que foi além das ca-pacidades, demonstrou-o claramente. Vós manifestais uma especial sensibi-lidade e preocupação em identificar as questões cruciais que nos interpe-lam. Fizeste-lo de uma perspetiva particular: a economia, que é o vosso campo de investigação, estudo e tra-balho. Sabeis que é urgente uma

nar-ração económica diferente, é urgente re-conhecer responsavelmente que «o

se defender desprezivelmente contra as decisões que eu deveria tomar para resolver muitos problemas. Nunca es-queçamos que «o todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas»,8e que «a mera

soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade».9

Este exercício de encontro para além de todas as diferenças legítimas é o passo fundamental para qualquer transformação que ajude a dar vida a uma nova mentalidade cultural e, portanto, económica, política e so-cial; pois não será possível compro-meter-se em grandes projetos apenas a partir de uma perspetiva teórica ou individual, sem um espírito que vos anime, sem algumas motivações inte-riores que deem sentido, sem uma pertença e um enraizamento que de-em fôlego à ação pessoal e comunitá-ria.10

Assim, o futuro será um tempo es-pecial, em que nos sentiremos cha-mados a reconhecer a urgência e a beleza do desafio que se nos depara. Uma época que nos recorda que não estamos condenados a modelos eco-nómicos que centram o seu interesse imediato nos lucros, como unidade de medida, e na busca de políticas públicas semelhantes que ignoram o seu custo humano, social e ambien-tal.11 Como se pudéssemos contar

com uma disponibilidade absoluta, ilimitada ou neutra de recursos. Não, não somos obrigados a continuar a admitir e a tolerar em silêncio, no nosso comportamento, «que alguns se sintam mais humanos que outros, como se tivessem nascido com maio-res direitos»,12ou privilégios para o

gozo garantido de certos bens ou ser-viços essenciais.13Também não basta

concentrar-se na busca de cuidados paliativos no terceiro setor ou em modelos filantrópicos. Embora a sua obra seja crucial, nem sempre são ca-pazes de enfrentar estruturalmente os

desequilíbrios atuais que atingem os mais excluídos e, involuntariamente, perpetuam as injustiças que procu-ram combater. Com efeito, não se trata apenas nem exclusivamente de satisfazer as necessidades mais essen-ciais dos nossos irmãos. É necessário aceitar estruturalmente que os pobres têm dignidade suficiente para partici-par nos nossos encontros e debates, e levar o pão para as suas casas. E isto é muito mais do que assistencialismo: referimo-nos uma conversão e trans-formação das nossas prioridades e do lugar do outro nas nossas políticas e na ordem social.

Em pleno século XXI, «já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à so-ciedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem po-der já não está nela, mas fora».14

Prestai atenção a isto: com a exclu-são, é atingida na sua raiz a pertença à sociedade em que se vive, uma vez que não se vive nas favelas, na perife-ria ou sem poder, mas fora. É a cul-tura do descarte, que não só descarta, como também obriga a viver no pró-prio descarte, tornado invisível para além do muro da indiferença e do conforto.

Lembro-me da primeira vez que vi um bairro fechado. Não sabia que eles existiam. Foi em 1970. Tive que ir visitar alguns noviciados da Com-panhia, e cheguei a um país, e de-pois, passando pela cidade, disseram-me: “Não, não se pode ir ali, porque este é um bairro fechado”. Dentro havia muros, no interior havia casas, ruas, mas fechadas: ou seja, um bair-ro que vivia na indiferença. Surpreen-deu-me muito ver isto. Mas depois isto cresceu, cresceu... e estava em to-da a parte. Mas pergunto-te: o teu coração é como um bairro fechado?

O pacto de Assis Não podemos continuar a adiar certos assuntos. Esta tarefa enorme e inadiável exige um compromisso ge-neroso na esfera cultural, na forma-ção académica e na investigaforma-ção cien-tífica, sem nos perdermos em modas intelectuais nem em poses ideológicas — que são ilhas — que nos isolam da vida e do sofrimento concreto do po-vo.15É tempo, queridos jovens

econo-mistas, empresários, trabalhadores e dirigentes empresariais, é tempo de ousar o risco de fomentar e estimular modelos de desenvolvimento, pro-gresso e sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos (e entre eles, também a irmã terra), deixem de ser — no melhor dos casos — uma presença meramente nominal, técnica ou funcional para se tornar protagonistas das suas vidas, assim como de todo o tecido social.

Isto não seja algo nominal: há os pobres, os excluídos... Não, não, que a presença não seja nominal, nem técnica, nem funcional. É hora que eles se tornem protagonistas da sua vida, assim como de todo o tecido social. Não pensemos por eles, pense-mos com eles. Recordai o legado do Iluminismo, das elites iluminadas. Tu-do pelo povo, nada com o povo. E is-to não funciona. Não pensemos por eles, pensemos com eles. E deles aprendamos a fazer progredir mode-los económicos que beneficiem todos, porque a abordagem estrutural e de-cisória será determinada pelo

desen-volvimento humano integral, tão bem elaborado pela doutrina social da Igreja. A política e a economia não devem «submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje pre-cisamos imperiosamente que a políti-ca e a economia, em diálogo, se colo-quem decididamente ao serviço da vi-da, especialmente da vida humana».16

Sem esta centralidade e esta orienta-ção, continuaremos prisioneiros de

uma circularidade alienante que per-petuará apenas dinâmicas de degra-dação, exclusão, violência e polariza-ção: «Qualquer programa feito para aumentar a produção não tem, afinal, razão de ser, senão colocado ao servi-ço da pessoa. Deve reduzir desigual-dades, combater discriminações, li-bertar o homem da servidão [...] Não basta aumentar a riqueza comum, pa-ra que ela seja repartida equitativa-mente — não, isto não é suficiente — não basta promover a técnica, para que a terra possa ser habitada de ma-neira mais humana».17Nem sequer

is-to é suficiente!

A perspetiva do desenvolvimento

hu-mano integral é uma boa notícia a profetizar e implementar — e não se trata de sonhos: este é o caminho — uma boa notícia a profetizar e imple-mentar, pois propõe que nos encon-tremos como humanidade com base no melhor de nós mesmos: o sonho de Deus, que aprendamos a cuidar do nosso irmão, e do nosso irmão mais vulnerável (cf. Gn 4, 9). «A grandeza da humanidade determina-se esdetermina-sencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre — a grandeza da humanidade. Isto vale tanto para o indivíduo como para a so ciedade»;18uma medida que deve

encarnar-se inclusive nas nossas deci-sões e modelos económicos.

Como é bom deixar ressoar as pa-lavras de São PauloVIquando, no desejo de que a mensagem evangélica permeasse e guiasse todas as realida-des humanas, escreveu: «O realida- desenvol-vimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser au-têntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o ho-mem todo [...] — todo o hoho-mem e o homem todo! - não aceitamos que o económico se separe do humano; nem o desenvolvimento das civiliza-ções em que ele se incluiu. O que conta para nós é o homem, cada ho-mem, cada grupo de homens, até chegar à humanidade inteira».19

Neste sentido, muitos de vós terão a oportunidade de agir e influenciar as decisões macroeconómicas, onde está em jogo o destino de muitas na-ções. Estes cenários necessitam tam-bém de pessoas preparadas, «pruden-tes como as serpen«pruden-tes e simples como as pombas» (Mt 10, 16), capazes de «velar pelo desenvolvimento susten-tável dos países, evitando uma sujei-ção sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclu-são e dependência».20Sozinhos, os

sistemas de crédito são um caminho para a pobreza e a dependência. Este protesto legítimo apela ao estímulo e

Caros jovens, as consequências das nossas ações e decisões afetarão a vós em primeira pessoa. Não permaneçais fora dos lugares onde o presente e o futuro são gerados. Ou vos envolveis ou a história passará por cima de vós. #FrancescoEconomy (@Pontifex_pt)

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Estimados jovens, boa tarde! Obrigado por estardes ali presentes, por todo o trabalho que realizastes, pelo esforço destes meses, apesar das mudanças de programa. Não vos de-sanimastes, pelo contrário, constatei o nível de reflexão, a qualidade, a se-riedade e a responsabilidade com que trabalhastes: nada excluístes do que vos dá alegria, do que vos preocupa, do que vos indigna e do que vos im-pele a mudar.

A ideia original era encontrar-se em Assis para nos inspirarmos nos

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L’OSSERVATORE ROMANO

terça-feira 24 de novembro de 2020, número 47

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA6

acompanhamento de um modelo de solidariedade internacional que reco-nheça e respeite a interdependência entre as nações, favorecendo meca-nismos de controle capazes de evitar qualquer tipo de submissão, bem co-mo de supervisionar a proco-moção dos países mais desfavorecidos e em de-senvolvimento; cada povo é chama-do a tornar-se artífice chama-do próprio destino e do mundo inteiro.21

* * *

Caros jovens, «Hoje temos à nos-sa frente a grande ocasião de expres-sar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de

fo-mentar ódios e ressentimentos».22

Um futuro imprevisível já está em gestação; cada um de vós, partindo do lugar onde trabalha e decide, po-de fazer muito; não escolhais ata-lhos, que vos seduzem e impedem de vos misturardes para ser fermento onde vos encontrais (cf. Lc 13, 20-21). Evitar atalhos, levedura, sujar as mãos. Após a crise sanitária que atravessamos, a pior reação seria cair ainda mais no consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. Não vos esqueçais, de uma crise nunca saímos da mesma forma: ou saímos melhores ou piores. Faça-mos crescer o que é bom, aproveite-mos a oportunidade e coloquemo-nos todos ao serviço do bem co-mum. Queira o Céu que no final já não haja “os outros”, mas que apren-damos a amadurecer um estilo de

vi-da em que saibamos dizer “nós”.23

Mas um grande “nós”, não um pe-queno “nós” e depois “os outros”, não, isto não funciona!

A história ensina-nos que não existem sistemas nem crises que

pos-sam anular completamente a capaci-dade, o engenho e a criatividade que Deus não cessa de suscitar nos cora-ções. Com dedicação e fidelidade aos vossos povos, ao vosso presente e futuro, podeis unir-vos aos outros para tecer um novo modo de fazer a história. Não tenhais medo de vos envolver e de tocar a alma das cida-des com o olhar de Jesus; não te-nhais medo de habitar corajosamen-te os conflitos e as encruzilhadas da história, para os ungir com o aroma das bem-aventuranças. Não tenhais medo, pois ninguém se salva sozinho. Ninguém se salva sozinho! A vós jo-vens, provenientes de 115 países, diri-jo o convite para reconhecer que precisamos uns dos outros para dar vida a esta cultura económica, capaz de «fazer germinar sonhos, suscitar

profecias e visões, fazer florescer a espe-rança, estimular confiança, faixar feri-das, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros, e criar um imaginário positivo

que ilumine as mentes, aqueça os co-rações, restitua força às mãos e ins-pire aos jovens — a todos os jovens, sem excluir nenhum — a visão de um futuro repleto da alegria do Evangelho».24

O brigado!

1) Carta Encíclica Laudato si’ (24 de maio de 2015), 61. Doravante, L S. 2) Cf. Exortação Apostólica

Evan-gelii gaudium (24 de novembro de 2013), 74. Doravante, EG.

3) Cf. Discurso no Encontro

Mun-dial dos Movimentos Populares, Santa Cruz de la Sierra, 9 de julho de 2015.

4) Cf. LS, 111.

5) São João Paulo II, Carta Encí-clica Centesimus annus (1 de maio de 1991), 58.

6) Carta Encíclica Caritas in

veri-tate (29 de junho de 2009), 27. 7) Cf. Discurso no Simpósio “Novas

formas de fraternidade solidária, inclu-são, integração e inovação”,o rg a n i z a -do pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais (5 de fevereiro de 2020). Recordemos que «a verdadei-ra sabedoria, fruto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso en-tre as pessoas, não se adquire com uma mera acumulação de dados que, numa espécie de poluição men-tal, acabam por saturar e confundir» (LS, 47).

8) EG, 235.

9) Carta Encíclica Fratelli tutti (3 de outubro de 2020), 105. Doravan-te, F T.

10) Cf. LS, 216.

11) Favorecendo, se for necessário, a evasão fiscal, o desrespeito dos di-reitos dos trabalhadores, bem como «a possibilidade de corrupção por parte de algumas das maiores corpo-rações do mundo, não raro em con-sonância com algum setor político dominante» (Discurso no Simpósio

“Novas formas de fraternidade solidá-ria, inclusão, integração e inovação”,

cit.)

12) LS, 90. Por exemplo, «culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e seleti-vo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas. Pretende-se, assim, legitimar o atual modelo dis-tributivo, no qual uma minoria se julga com o direito de consumir nu-ma proporção que seria impossível generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal consumo» (LS, 50).

13) Embora todos sejamos dotados da mesma dignidade, nem todos partem da mesma posição e com as mesmas possibilidades, quando se

considera a ordem social. Isto ques-tiona-nos e pede-nos que pensemos em modalidades em que a liberdade e a igualdade não sejam apenas um dado nominal que se preste a fo-mentar a injustiça (cf. F T, 21-23). Far-nos-á bem interrogar-nos: «O que acontece sem uma fraternidade conscientemente cultivada, sem uma vontade política de fraternidade, tra-duzida numa educação para a frater-nidade, para o diálogo, para a des-coberta da reciprocidade e do enri-quecimento mútuo como valores?» (F T, 103).

14) Num mundo de virtualidade, mudança e fragmentação, os direitos sociais não podem ser somente exor-tações nem apelos nominalistas, mas devem ser farol, bússola do cami-nho, pois «o estado de saúde das instituições de uma sociedade tem consequências no meio ambiente e

na qualidade de vida humana» (LS,

142).

15) Cf. Constituição Apostólica

Veritatis gaudium (8 de dezembro de 2017), 3.

16) LS, 189.

17) São Paulo VI, Carta Encíclica

Populorum progressio (26 de março de 1967), 34. Doravante, PP.

18) Bento XVI, Carta Encíclica Spe

salvi (30 de novembro de 2007), 38. 19) P P, 14.

20) Discurso na Assembleia Geral

da ONU(25 de setembro de 2015).

21) Cf. P P, 65. 22) F T, 77. 23) ibid., 35.

24) Discurso no início do Sínodo

de-dicado aos jovens (3 de outubro de 2018).

Concluído em Assis o encontro «The Economy of Francesco»

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA1

Na mensagem aos jovens economistas reunidos em Assis

permanecer fora dos locais onde é gerado, não digo o vosso futuro, mas o vosso presente. Não podeis fi-car fora do local onde o presente e o futuro são gerados. Ou estais envol-vidos ou a história irá passar por ci-ma de vós».

A implementação deste projeto tem um alcance “re v o l u c i o n á r i o ”: é urgente elaborar respostas e novas propostas para nos opormos a essa «única lógica dominante» à qual o Papa nos lembra que «não estamos condenados». Ele refere-se aos mo-delos económicos que concentram «o interesse imediato nos lucros co-mo unidade de medida e na procura de políticas públicas semelhantes que ignoram o custo humano, social e ambiental. Como se pudéssemos contar com uma disponibilidade ab-soluta, ilimitada ou neutra de recur-sos». Face a uma economia mera-mente extrativa, o Papa indica o ca-minho de uma economia generativa que, contudo, não pode ser uma es-colha emocional e sentimental, mas o resultado de uma elaboração cul-tural séria e sólida.

Cultura é outra palavra-chave na mensagem: «Afinal, falta-nos a cul-tura necessária para permitir e esti-mular a abertura de diferentes vi-sões, baseadas num tipo de pensa-mento, de política, de programas educacionais, e até de espiritualidade que não se deixe fechar por uma única lógica dominante. Se há uma necessidade urgente de encontrar respostas, é indispensável crescer e apoiar grupos dirigentes capazes de elaborar cultura, iniciar processos — não esqueçais esta palavra: iniciar processos — traçar caminhos, alargar horizontes, criar pertenças...».

Estes grupos dirigentes, inspirados por uma cultura aberta à espirituali-dade, serão capazes de desafiar e contrastar «certas lógicas (ideológi-cas) que acabam por justificar e pa-ralisar cada ação face às injustiças» e aqui Francisco recorda a Cáritas in

Ve r i t a t e de Bento XVI, segundo a qual a fome «não depende tanto da escassez material como da escassez de recursos sociais, o mais importan-te dos quais é de natureza institucio-nal» e acrescenta: «Se fordes capa-zes de resolver isto, tereis o caminho aberto para o futuro».

Eis a terceira palavra-chave da mensagem: o futuro, ou seja, a espe-rança, a esperança de uma fraterni-dade renovada. A realização do pro-jeto de um desenvolvimento humano integral permite que cada homem «se encontrar a si mesmo como hu-manidade com base no melhor de si: o sonho de Deus de que aprenda-mos a cuidar do irmão, e do irmão mais vulnerável (cf. Gn 4, 9)». A resposta irada de Caim («Sou por-ventura o guarda do meu irmão?») indica a verdade do homem e aquele sonho de Deus efetivamente expres-so no texto da Spe salvi de Bento

XVIque o Papa oportunamente cita:

«A medida da humanidade é deter-minada essencialmente na relação com o sofrimento e com o sofredor -a medid-a d-a hum-anid-ade. Isto - apli-ca-se tanto ao indivíduo como à so-ciedade», acrescentando «uma medi-da que também deve ser encarnamedi-da nas nossas decisões e modelos eco-nómicos». Portanto, a medida da humanidade é plenamente expressa pelo Bom Samaritano que assume o drama e a dor do outro, do diferen-te; esta é a “re v o l u ç ã o ”, a contesta-ção das estruturas estabelecidas que

é exigida a cada cristão e que abre um futuro novo e surpreendente. Neste ponto Francisco conclui a sua mensagem propondo uma grande vi-são: «Um futuro imprevisível já está em gestação», uma passagem que re-corda a profecia de Isaías «Eis que vou realizar uma obra nova, a qual já começa: Não a vedes?», mas tam-bém a intuição de São Paulo «toda a criação geme e sofre até hoje as dores do parto» e contudo revela uma grande confiança na obra de Deus na história da humanidade, porque, conclui o Papa: «A história ensina-nos que não existem sistemas ou crises capazes de anular comple-tamente a capacidade, o engenho e a criatividade que Deus nunca cessa de suscitar nos corações. Com dedi-cação e fidelidade aos vossos povos, ao vosso presente e ao vosso futuro, podeis unir-vos a outros para tecer uma nova forma de fazer história. Não temais envolver-vos e tocar a al-ma das cidades com o olhar de Je-sus; não temais habitar corajosamen-te nos conflitos e encruzilhadas da história para os ungir com o aroma das Bem-aventuranças. Não temais, pois ninguém se salva sozinho».

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número 47, terça-feira 24 de novembro de 2020

L’OSSERVATORE ROMANO

página 9

Mensagem do Papa Francisco ao superior dos escolápios

A tarefa educativa

da vida consagrada

A tarefa educativa da vida consagrada foi relançada pelo Papa Francisco numa mensagem enviada ao superior dos escolápios por ocasião de uma iniciativa online ligada ao pacto educativo global — que teve lugar de 12 a 14 de novembro.

Ao Reverendo Padre PEDRO AGUAD O C U E S TA

Prep ósito-Geral da Ordem dos Clérigos Regulares

Pobres da Mãe de Deus das Escolas Pias Reverendo Padre!

Agradeço o convite para o evento promovido pela União dos Superio-res-Gerais e pela União Internacio-nal das Superioras-Gerais sobre o desafio da reconstrução do pacto educativo global que, devido à pan-demia, terá lugar online de 12 a 14 de novembro próximo. Saúdo os responsáveis dos vários Institutos de Vida Consagrada que participarem e todos os que tornaram este seminá-rio possível.

A Vida Consagrada esteve sempre na vanguarda da tarefa educacional. Um exemplo disto é o vosso funda-dor, São José Calasanzio, que cons-truiu a primeira escola para crianças, mas também o são os religiosos que o educaram em Estadilla, e muito antes os mosteiros medievais, que preservaram e difundiram a cultura clássica. A partir destas fortes raízes, surgiram diferentes carismas em to-das as épocas da história que, pelo dom de Deus, foram capazes de se adaptar às necessidades e desafios de cada tempo e lugar. Hoje, a Igreja convida-nos a renovar este propósito a partir da nossa própria identidade, e estou-vos grato por assumirdes es-te es-teses-temunho com tanto empenho e entusiasmo.

Como sabeis, existem sete com-promissos fundamentais do pacto educativo global a ser promovido. Sete compromissos que gostaria de resumir em três linhas de ação con-creta: concentrar-se, acolher e e n v o l v e r.

Concentrar-se no que é importante significa colocar a pessoa no centro, “o seu valor, a sua dignidade, para realçar a sua especificidade, beleza, singularidade e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de estar em relação com os outros e com a realidade que a rodeia”. A valorização da pessoa faz da educação um meio para que as nossas crianças e jovens cresçam e amadureçam, adquirindo as compe-tências e os recursos necessários para construir juntos um futuro de justiça e paz. É essencial garantir que não se perca de vista o objetivo e que não se disperce nos meios, projetos e estruturas. Trabalhamos pelas pes-soas, são elas que formam socieda-des, são elas que estruturam uma única humanidade, chamada por Deus para ser o seu povo escolhido.

Para o conseguir, é necessário um

acolhimento. Isto pressupõe ouvir o outro, os destinatários do nosso ser-viço, as crianças e os jovens. Implica que pais, estudantes e autoridades —

os principais agentes da educação — ouçam outro tipo de som, que não é simplesmente o do nosso círculo educativo. Isto evitará que se fechem na sua autorreferencialidade, abrin-do-os ao grito que brota de cada ho-mem e da criação. Temos necessida-de necessida-de motivar as nossas crianças e jovens a aprender a relacionar-se, a trabalhar em grupo, a ter uma atitu-de empática que rejeite a cultura do desperdício. Do mesmo modo, é im-portante que aprendam a salvaguar-dar a nossa casa comum, protegen-do-a da exploração dos seus recur-sos, adotando estilos de vida mais sóbrios e promovendo a utilização integral de energias renováveis que respeitem o ambiente humano e na-tural, de acordo com os princípios de subsidiariedade e de solidarieda-de, e da economia circular.

A última linha de ação é decisiva:

e n v o l v e r. A atitude de ouvir, definida em todos estes compromissos, não pode ser entendida como mera audi-ção e esquecimento, mas deve ser uma plataforma que permita a cada um participar ativamente nesta obra educativa, cada um com a própria especificidade e responsabilidade.

Envolvere envolver-nos pressupõe tra-balhar para dar às crianças e aos jo-vens a possibilidade de ver com um

olhar crítico este mundo que lhes deixamos como herança, capaz de compreender os problemas da eco-nomia, da política, do crescimento e do progresso, e de propor soluções que estejam verdadeiramente ao ser-viço do homem e de toda a família humana, na perspetiva de uma eco-logia integral.

Queridos irmãos, acompanho com a minha oração os esforços de todos os Institutos representados neste evento, e de todos os consagrados e leigos que trabalham no campo da educação, pedindo ao Senhor que,

como Ele sempre fez, também neste momento histórico a vida consagra-da seja uma parte essencial do pacto educativo global. Confio-vos ao Se-nhor e peço a Deus que vos abençoe e à Santíssima Virgem que vos am-p a re .

E por favor não vos esqueçais de rezar por mim.

Fr a t e r n a l m e n t e ,

Roma, São João de Latrão, 15 de outubro de 2020.

FRANCISCO

Por ocasião dos 500 anos da primeira missa celebrada no Chile

Deus veio do sul

Em vista do quinto centenário da celebração da primeira missa em terra chilena, o Papa enviou ao bispo de Punta Arenas a carta que a seguir publicamos.

A Sua Excelência Reverendíssima D.BERNARD O BASTRES FLORENCE,S.D.B.

Bispo de Punta Arenas Amado irmão!

Saúdo-te cordialmente, bem como todos os demais irmãos bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis leigos de to-das as dioceses do Chile, quando “fizerem memória” da celebração da primeira Eucaristia em terra chilena, no próximo dia 11 de novembro. Trata-se de uma data histórica, não somente para a diocese de Punta Arenas, mas também para toda a Igreja católica que está no Chile, pois há 500 anos, a 11 de novembro de 1520, a Divina Providência quis que, no Cerro Monte Cruz, no Estreito de Magalhães o sacerdote Pedro de Valderra-ma, capelão da expedição de Fernão de Magalhães, oferecesse pela primeira vez o sacrifício da Santa Missa naquelas terras.

Como nos recorda o Concílio VaticanoII, é sobretu-do da Eucaristia que «brota em nós, como da sua fon-te, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus» (Constituição Sacrosanctum concilium, 10). Portanto, neste centenário podemos dizer com razão, como recorda o lema da diocese de Punta Arenas, que “Deus veio do sul”, pois aquela primeira Missa celebra-da com fé, na simplicicelebra-dade de uma expedição numa terra então desconhecida, deu início à Igreja que conti-nua a peregrinar nessa amada nação.

Como Igreja particular, preparais-vos há muito tem-po para esta data especial. Mas a pandemia, que atinge o mundo inteiro e é causa de sofrimento e morte a mi-lhões de nossos irmãos e irmãs, impede-vos de celebrar

o 500º aniversário da primeira Eucaristia com gestos li-túrgicos de massa, como teríeis desejado. No entanto, apesar desta limitação, não há obstáculo que possa fa-zer silenciar a gratidão que brota do coração de todos vós, filhos e filhas da Igreja que peregrina no Chile, que com fé e amor renovais a vossa dedicação ao Se-nhor, com a esperança certa de que Ele continuará a acompanhar o vosso caminho no devir da história. En-corajo-vos a viver a celebração do Mistério Eucarístico, que nos une a Jesus, com espírito de adoração e ação de graças ao Senhor, pois para nós é princípio de vida nova e de unidade, que nos impele a crescer no serviço fraternal aos mais pobres e deserdados da nossa socie-dade.

Uno-me espiritualmente a todos vós, diletos pastores e fiéis do santo povo de Deus, na vossa ação de graças ao Senhor que na Eucaristia continua a tornar-se “pão” que sacia a fome mais profunda de cada homem e de cada mulher, reunindo todos no seu amor para viver uma fraternidade solidária e eficaz, que não exclui, que não oprime, que não ignora.

Nossa Senhora do Carmo, Modelo da Igreja e Auxí-lio dos Cristãos, vos ensine a confiar no Senhor e a cumprir a sua vontade, no amor e na justiça, para dar testemunho ao mundo da alegria do Evangelho.

Acompanho-vos com a recordação na oração, e en-quanto invoco o amparo da Mãe de Deus sobre a ama-da Igreja que está no Chile, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.

E, por favor, não vos esqueçais de orar por mim! Fr a t e r n a l m e n t e ,

Roma, São João de Latrão, 9 de novembro de 2020.

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