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Livro perpetua o trabalho de ARQUIVO PESSOAL. Por Érico Elias

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Academic year: 2021

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ARQUIVO

PESSOAL

Livro perpetua o trabalho de

José Albano

Um dos primeiros brasileiros a estudar fotografia nos EUA, o cearense descobriu

a contracultura e construiu sua obra fotografando a própria experiência de vida

inglês durante seis semanas. Seu irmão mais velho, Joaquim, foi quem insistiu para que ele levasse uma câmera na viagem.

Foi “paixão ao primeiro clique”, como define Zé Albano. Ele voltou 45 dias depois com 600 slides batidos e a certeza de que queria tornar-se fotógrafo. Comprou câmera nova, montou um laboratório p&b e passou Essa relação começou um

pouco tarde. Filho de fotógrafo amador, Zé Albano, como é chamado familiarmente, só foi fazer a primeira fotografia quando tinha 22 anos, a bordo de um Boeing 707 que o levava aos Estados Unidos, em 1966. Cursando Letras, ele havia ganhado uma bolsa para estudar

O

s fotógrafos normalmente se

escondem por trás de suas imagens. São poucos os que transformam em tema os episódios da vida particular. O cearense José Albano, que recentemente completou 40 anos de carreira, é uma das exceções. Sua obra fotográfica confunde-se com sua vida, alimenta-se dela.

Por Érico Elias

A viagem de Albano para a Europa como mochileiro em 1972/73 rendeu uma série de imagens como esta, em Nazaré, Portugal, e a da página ao lado, em Veneza, Itália

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F OTOS : J OSÉ A LBANO

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DICAS

PROFISSIONAIS

No no no no n on on on on o no no n o no no n on on o n on o no no n on o no no no n on no no no n on on on F OTOS : J OSÉ A LBANO

José Albano passou a documentar comunidades alternativas brasileiras nos anos de 1990: esta foto foi feita em Palmeiras, no interior da Bahia

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Integrantes de uma comunidade alternativa de Alto Paraíso, em Goiás, banham-se alegremente em um rio da região

a devorar livros e manuais de fotografia. Depois de formado, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde conseguiu um emprego na revista Manchete, na área de banco de imagens. Ele editava o material enviado pelos fotógrafos e disponibilizava para venda.

A experiência foi interessante no começo. Zé Albano conheceu muitos profissionais, mas não estava satisfeito, pois fazia um trabalho de gabinete, não atuava com a câmera na mão. Inquieto, buscou informações no consulado norte-americano sobre bolsas de estudos nos Estados Unidos.

“Pesquisei as opções de mestrado em fotografia e me inscrevi. O coordenador do programa de bolsas me perguntou porque queria estudar fotografia se havia me formado em Letras. Então, inventei na hora que, já que não havia cursos de graduação em

fotografia no Brasil, resolvi estudar Letras para aprender inglês e tentar estudar nos Estados Unidos. O argumento convenceu e eu consegui a bolsa”, conta.

MESTRADO E CONTRACULTURA

O mestrado na Universidade de Syracuse, com duração de dois anos, deu ao fotógrafo autodidata todo o conhecimento técnico e prático para o domínio de diversas áreas da fotografia. Zé Albano entrou em contato com uma grande estrutura didática e de equipamentos e teve a chance de se aprofundar na prática de estúdio e de laboratório.

O início da década de 1970 era o auge da contracultura e do movimento hippie, da liberação sexual trazida pelas pílulas anticoncepcionais e de uma juventude inquieta que contestava a guerra do Vietnã. O contato com

esses acontecimentos causou em Zé Albano uma profunda mudança de pensamento.

“Eu mudei e muito, não só a minha concepção de vida mas também minhas pretensões profissionais. Fui fazer mestrado pensando que, na volta, iria me radicar em São Paulo e ser uma estrela da fotografia nacional ou coisa parecida... Mas voltei para o Ceará, sem pretensão de fama ou fortuna, onde pude exercer minha profissão, priorizando sempre a qualidade de vida”, recorda.

Antes de voltar a Fortaleza (CE), Zé Albano se aventurou em uma viagem de um ano pela Europa. Ele resolveu realizar o sonho de muitos fotógrafos na época, fazer um “grand Tri-X tour”, como eram chamadas as longas viagens para fazer fotos com o filme p&b Tri-X, da Kodak, comprado em rolo e rebobinado. Dos 200 dólares que

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dispunha, gastou a metade com a passagem aérea de Nova York à Amsterdã, na Holanda.

Mesmo assim, conseguiu viajar por um ano e visitou 12 países. Como fez tanto com tão pouco? Os deslocamentos eram de carona. Com uma mochila e um saco de dormir, repousou nos mais diversos lugares: bancos de praças, estações, debaixo de pontes, em campos, parques e até sobre túmulos.

A refeição era feita à base de pão com manteiga, frutas recolhidas em fim de feira, enlatados, além de sopas, macarrão, batatas, ovos e chá preparados em um pequeno fogareiro a álcool. Como havia levado pouquíssimo dinheiro, Zé Albano chegou a trabalhar por quarenta dias para uma família

Ele se dedicou com especial atenção à concepção e à

construção de sua residência, uma casa-estúdio feita na periferia da cidade, seguindo instruções dadas pelo mestre norte-americano Ansel Adams na célebre trilogia de livros técnicos sobre fotografia.

Construída em taipa e com o uso de materiais reciclados, a casa é um exemplo de adaptação ao clima local e de aproveitamento de técnicas arquitetônicas próprias à região. Além de lar, ela se tornou um espaço de trabalho e de convivência. Inúmeros encontros da comunidade fotográfica cearense se deram ali.

Após o nascimento da filha Emília, que logo se tornou um dos seus temas mais queridos, Zé francesa durante a colheita de uvas.

A aventura rendeu cerca de seis mil fotos com o Tri-X, feitas com uma Nikkormat equipada com as objetivas fixas de 28 mm e 135 mm, além de dois mil slides coloridos feitos com uma Olympus Pen, câmera de meio quadro.

VIDA ALTERNATIVA

De volta a Fortaleza, Zé Albano se estabeleceu como fotógrafo comercial, fazendo trabalhos publicitários e editorais para se manter, mas sem nunca deixar de exercitar o lado alternativo. Em paralelo, deu aulas de fotografia e ajudou a formar uma nova geração de fotógrafos cearenses, graças à enorme generosidade e vontade de compartilhar conhecimentos.

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Albano começou a se distanciar do trabalho comercial. “Decidi que não trabalharia mais do que meio período e isso acabou gerando um afastamento. Ainda faço publicidade, se chamarem, mas eu fui largando naturalmente o mercado, pois vai chegando gente nova e mais disposta”, explica.

O distanciamento do trabalho comercial também foi uma

oportunidade para a intensificação de um modo de vida alternativo. Em 1984, aos 40 anos, Zé Albano comprou uma moto Honda 125 ML e passou a fazer longas viagens pelo Brasil, mais ou menos nas condições em que viajou pela Europa:

acampando na beira da estrada e preparando a própria comida. A partir de 1990, o fotógrafo começou a frequentar e registrar os encontros de comunidades alternativas espalhadas pelo Brasil. Ele mesmo já promoveu encontros em casa. Os encontros são como acampamentos informais, nos quais todos

cooperam nas tarefas comunitárias, trocam vivências e experiências, fazem atividades como canto, dança e meditação e buscam um contato direto com a natureza.

Zé Albano ficou famoso em diversas partes do mundo por desenvolver um modelo de forno solar, sistema de caixas de papelão revestidas de folhas de papel alumínio que permite o cozimento de alimentos com o aproveitamento dos raios solares. Ele já foi

convidado a dar palestras e demonstrações para ensinar a construir o forno solar em diversos lugares. Disponibilizou na internet as instruções de construção em português e inglês.

OS ALBANITOS

Conforme a cidade de Fortaleza foi crescendo, a casa de Zé Albano, que ficava em um local isolado, distante do centro, foi “alcançada” por bairros que surgiram na periferia. Quando Ares, o afilhado do fotógrafo, foi passar férias na casa dele, fez amizade

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PROFISSIONAIS

experiência de vida. “O interesse para mim é humano. Mais do que da fotografia, gosto da vida. Sou um gozador, um bon vivant. O que encontro na vida, vou em busca de fotografar. Quero aproximar a fotografia da vida. Também sou careta, faço fotografia clássica, com um enquadramento certinho. Evito os modismos, tenho horror a isso. Procuro para minhas imagens uma qualidade que chamo de ‘permanência’, a capacidade de vencer a passagem do tempo”, diz.

A história da trajetória do fotógrafo cearense está registrada no livro José Albano: 40 anos de

Fotografia, lançado em 2009 pela

editora Terra da Luz Editorial. Essa história não para por aí, pois Zé Albano descobriu recentemente a fotografia digital e reconquistou com ela o gosto de fotografar, que acreditava perdido com o declínio do processo químico. Em plena forma e com muita disposição, ele continua a fazer as viagens de moto e a confundir o prazer de viver e compartilhar com o prazer máximo de fotografar.

com garotos da vizinhança. Depois de passadas as férias, os meninos continuaram a fazer visitas.

Zé Albano ficou amigo das crianças, que hoje são carinhosamente chamadas de “albanitos”. Ao recebê-las em casa, ele dá ensinamentos básicos de fotografia e de montagem de álbuns. Também empresta o computador para pesquisas na internet e para edição das fotos.

Ao retratá-los, Zé Albano desenvolveu o que chama de fototerapia, que consiste em recuperar a autoestima desses garotos por meio fotografia. Os retratos dos “albanitos” são tocantes, transbordam sensibilidade e exprimem a confiança e a amizade que os

meninos encontraram ao frequentar a casa do fotógrafo.

Assim como os retratos da filha Emília, os registros dos

encontros de comunidades alternativas e das viagens de

moto são imagens que nascem espontaneamente

no decorrer de uma I

Fotos da série Albanitos, que retrata meninos vizinhos à casa de José Albano em Fortaleza (CE): Luiz Carlos (à esq.) e Daniel (à dir.)

O fotógrafo, hoje com 65 anos, e, abaixo, o livro que marca os 40 anos de carreira

J OSÉ A LBANO J R . P ANELA

Referências

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