Efeito do Bioestimulante na Qualidade Fisiológica de Sementes Colhidas em Diferentes Épocas
Patrícia M. da Conceição1, Camilla A. Z. Sediyama1, Maria Lita Padinha Corrêa1, Juliane Karsten2, Elaine Heberle1 e João C. C. Galvão1
1 UFV, Departamento de Fitotecnia, 2 UFV, Departamento de fisiologia vegetal, CEP: 36571-000, Viçosa, MG, patymarluci@yahoo.com.br, csediyama@gmail.com,
litapc10@hotmail.com, julika4@yahoo.com.br, naniengel@yahoo.com.br, jgalvao@ufv.br
Palavras chave: bioestimulante, milho, qualidade fisiológica, stimulate Revisão bibliográfica
O surgimento de novos produtos para a incorporação de aditivos às sementes aumenta a cada ano. Cultivos tecnológicos como o milho absorvem enormemente inovações no sistema produtivo, mas deve-se atentar para os reais ganhos com a incorporação desses produtos às sementes, que são o principal insumo da agricultura moderna, pois são responsáveis por todo o potencial genético e produtivo que garantem o sucesso do empreendimento (Ferreira et al., 2007).
Segundo Castro e Vieira (2001), o termo bioestimulante se refere à mistura de reguladores vegetais, ou de um ou mais reguladores vegetais com outros compostos de natureza bioquímica diferente (aminoácidos, nutrientes, vitaminas etc.). O emprego de reguladores vegetais como técnica agronômica para se otimizar a produção em diversas culturas tem crescido nos últimos anos.
Os hormônios, assim como as enzimas, o DNA e as vitaminas têm a propriedade de exercer efeitos, por vezes de capital importância morfofisiológica, mesmo quando presentes em baixas concentrações (Castro e Vieira, 2001).
Conforme Taiz e Zeiger (2004), seis grupos de substâncias são considerados hormônios vegetais: auxinas, giberelinas, citocininas, etileno, ácido abscísico e brassinoesteróides. Esses grupos atendem às premissas relativas ao conceito atual de hormônios vegetais. Esses autores destacam, ainda, que as giberelinas atuam ativamente na germinação das sementes por induzirem, via ação gênica, a síntese de enzimas de lise que promovem a quebra e a mobilização de substâncias de reserva no endosperma das sementes.
As citocininas possuem grande capacidade de promover divisão celular por atuarem no ciclo celular, participando no processo de diferenciação celular e alongamento, principalmente quando interagem com as auxinas (Taiz e Zeiger, 2004).
Quanto às auxinas, elas têm como principal efeito fisiológico a indução do alongamento celular pela ativação da bomba de prótons (ATPase), promovendo, dessa forma, a acidificação da parede celular, possibilitando a ação das enzimas hidrolíticas sintetizadas pela ação das giberelinas (Taiz e Zeiger, 2004).
Pouco sabe-se sobre o real efeito dos bioestimulantes a base de hormônios, micronutrientes, aminoácidos e vitaminas na qualidade fisiológica das sementes e na produtividade das culturas (Ferreira et al., 2007).
Em relação à qualidade fisiológica das sementes, entre os fatores que podem diminuí-la são o atraso na época de colheita, a alta temperatura de secagem e os danos mecânicos (Vieira et al., 1994).
A colheita realizada logo após a maturação fisiológica das sementes possivelmente reduz a perda de sua qualidade fazendo com que plantas originadas a partir delas apresentem melhor desempenho, assim avaliações do desempenho de sementes de milho colhidas em diferentes épocas têm sido realizadas pela avaliação da qualidade das sementes em laboratório e desempenho destas sementes no campo.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito dos biostimulante Stimulate na qualidade fisiológica de sementes de milho UFV-M100 Nativo submetidas a diferentes épocas de colheita.
Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Sementes e casa de vegetação do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa, MG. Foram utilizadas sementes de milho da variedade UFV-M100 Nativo.
As espigas foram colhidas manualmente na Estação Experimental de Coimbra, Coimbra-MG, pertencente à Universidade Federal de Viçosa- UFV, com sementes na maturidade fisiológica com teor de água em torno de 25 % (base úmida) (T1). Foram realizadas outras colheitas 10 (T2), 20 (T3) e 30 dias (T4) após a primeira colheita. Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com três repetições.
As sementes foram debulhadas manualmente e secas ao sol, até as sementes apresentarem em torno de 13 % (base úmida) de água. Depois de secas, as sementes foram passadas em peneiras para uniformização do tamanho e foram acondicionadas em sacos de papel e conservadas em câmara fria (20 °C) até o momento das avaliações da qualidade fisiológica e avaliações no sistema radicular.
O teor de água das sementes foi determinado pelo método da estufa (105 ± 3°C, durante 24 h), conforme as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009).
Antes das avaliações de qualidade fisiológica, parte das sementes foi previamente tratada com o bioestimulante Stimulate® (12,5ml/kg/semente). O Stimulate® tem a seguinte formulação: 0,0009% de cinetina (citocinina), 0,005% de ácido giberélico (giberelina) e 0,005% de ácido indolbutírico (auxina). Assim, os tratamentos foram avaliados com e sem o tratamento do Stimulate.
Para a avaliação da qualidade fisiológica das sementes, estas foram submetidas aos seguintes testes: Teste de germinação – realizado conforme critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009). Foram utilizadas duas replicatas de 50 sementes. Utilizou-se como substrato rolo de papel germiteste umedecido com volume de água equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco. Após a semeadura, os rolos foram mantidos em germinador a 25°C. As avaliações foram feitas no 4º e 7º dia após a semeadura, quando foi anotada a porcentagem de plântulas normais (Brasil, 2009); primeira contagem
de germinação – foi realizado concomitantemente com o teste de germinação,
computando-se a porcentagem de plântulas normais obtidas na primeira contagem do referido teste; teste
frio sem solo – foram utilizadas duas replicatas de 50 sementes distribuídas em papel
Análise de Sementes (Brasil, 2009); teste de envelhecimento acelerado – realizado utilizando 2 replicatas de 50 sementes, sendo distribuídas sobre tela de arame no interior de caixas gerbox contendo 40 ml de água destilada. As caixas foram acondicionadas em BOD a 45ºC por 72 horas. Após esse período as sementes foram submetidas ao teste de germinação, conforme descrito anteriormente; emergência de plântulas em areia – conduzido em bandejas plásticas com areia, utilizando duas replicatas de 50 sementes distribuídas em sulcos com 2 cm de profundidade e distantes 2 cm entre si. O substrato foi umedecido sempre que necessário e a avaliação final das plântulas foi realizada até a estabilização da emergência das plântulas; índice de velocidade de emergência - para sua determinação foram realizadas contagens diárias do número de plântulas a partir da emergência da primeira plântula. Foram consideradas emergidas as plântulas com plúmulas visíveis e com 2 cm de parte aérea. O índice foi calculado conforme Maguire (1962).
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e análises de regressão.
Resultados e discussão
Não foi observada interação significativa entre o tratamento das sementes com bioestimulante e as diferentes épocas de colheita. Não houve efeito também do tratamento das sementes com bioestimulante (Tabela 1).
Com esses resultados observa-se que o tratamento das sementes com o bioestimulante Stimulate não melhorou a qualidade fisiológica das sementes em relação aos tratamentos onde as sementes não foram tratadas.
Tabela 1 - Análise de variância dos dados referente à primeira contagem da germinação (PC), germinação (GERM), teste frio sem solo (TF), envelhecimento acelerado (EA), emergência de plântulas em casa de vegetação (EMERG) e Índice de velocidade de emergência (IVE) obtidos em sementes de milho da variedade UFV-M100 Nativo em sementes tratadas e não tratadas com estimulante e colhidas em diferentes épocas.
Quadrados Médios Fontes de variação GL
PC GERM TF EA EMERG IVE
Estimulante (E) 1 32.67 NS 15.04 NS 130.67 NS 0.97 NS 5.06 NS 0.37 NS Época colheita (C) 3 587.44* 510.37* 586.72* 223.97* 217.42* 3.27*
Interação (E x C) 3 17.44 NS 40.81 NS 73.00 NS 16.23 NS 38.91 NS 0.34 NS Resíduo 16 139.87 57.33 98.42 32.35 17.16 0.17
CV (%) 15.10 8.62 11.30 6.38 4.47 4.62
* Significativo a 5% de probabilidade, pelo teste F.
Em relação ao efeito das épocas de colheita na qualidade fisiológica das sementes foi observado que com atraso da colheita, menor a qualidade fisiológica das sementes (Figura 1).
Figura 1 - Primeira contagem da germinação (PC), germinação (GERM), teste frio sem solo (TF), envelhecimento acelerado (EA), emergência de plântulas em casa de vegetação (EMERG) e Índice de velocidade de emergência (IVE) obtidos em sementes de milho da variedade UFV-M100 Nativo colhidas em diferentes épocas.
Conclusões
O tratamento das sementes com o bioestimulante Stimulate não melhorou a qualidade fisiológica das sementes em relação aos tratamentos onde as sementes não foram tratadas.
Agradecimentos
À CNQq, à Capes e à Fapemig.
Literatura citada
BRASIL. Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. Regras para análise de
sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 2009. 395p.
CASTRO, P. R. C.; VIEIRA, E. L. Aplicações de reguladores vegetais na
FERREIRA, L.A.; OLIVEIRA, J.A.; PINHO, E.V.R.V.; QUEIROZ, D.L. Bioestimulante e fertilizante associados ao tratamento de sementes de milho. Revista
Brasileira de Sementes, v. 29, n. 2, p.80-89, 2007.
MAGUIRE, J.D. Speed of germination-aid selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science. Madison, v.2, p.176-177, 1962.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 719 p. VIEIRA, R.D., CARVALHO, N.M. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, 1994. 164 p.