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Visibilidade do patrimônio documental do ensino superior no Espírito Santo

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Academic year: 2021

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Visibilidade do patrimônio documental do ensino superior no Espírito Santo

Margarete Farias de Moraes∗

Resumo

A Universidade Federal do Espírito Santo apresenta uma história de constituição e formação singular. Constituída da agregação de diversos institutos e escolas superiores públicas e privadas criadas no Espírito Santo a partir a década de 1930, escondeu por muitas décadas, um importante legado documental, que por não mais se relacionar com a atual estrutura administrativa e acadêmica esteve invisível aos interessados, pesquisadores e público em geral. O presente trabalho apresenta o projeto de tratamento arquivístico deste acervo invisível, baseado na técnica arquivística da descrição documental. O projeto objetiva dar tratamento arquivístico, organização e preservação de fonte documental histórica para contribuir assim para produção de conhecimento histórico sobre educação superior no Espírito Santo.

Palavras Chaves: Descrição documental; UFES; Arquivística.

Abstract

The Federal University of Espírito Santo has a history of natural formation and training. Consists of the aggregation of several institutes and public and private schools established in the Espírito Santo from the 1930s, hidden for decades, a important legacy document, which no longer relate to the current administrative structure and academic was invisible to those concerned researchers and the general public. This paper presents the design of this collection unseen archival treatment technique based on the description of archival documents. The project aims to archival processing, organization and preservation of historical source material

Doutorando do Programa de Pós Graduação em Educação/UFES – Linha: História da Educação. Professora Assistente do curso de Arquivologia/UFES.

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so as to contribute to the production of historical knowledge about higher education in the Espírito Santo.

Keywords: Description document; UFES; Archivist.

Introdução

A oferta de ensino superior no Espírito Santo inicia-se efetivamente a partir da década de 1930 com a criação da Faculdade de Direito do Espírito Santo1, apesar de iniciativas anteriores, como a criação do Instituto de Belas Artes em 1909, cujo fechamento precoce se deu em 1916.

Na mesma década foi criada a Escola de Educação Física do Espírito Santo. Em 1951 foi criada a Escola Politécnica, com oferta de cursos de engenharia. No mesmo ano seria criada (ou recriada) a Escola de Belas Artes, com cursos de gravura, decoração e professorado de desenho.

Em 1954, na gestão do governador Jones dos Santos Neves (1951-1955) foi criada a Universidade do Espírito Santo, uma entidade mantida pelo governo estadual que congregou antigos institutos superiores privados e seus cursos, como Odontologia, Direito e Educação Física.

Em 1961, no governo de Juscelino Kubitschek, a Universidade do Espírito Santo, já com novos cursos agregados se transforma, por ato administrativo, em Universidade Federal do Espírito Santo. Este ato ainda manteve as antigas Escolas e Institutos em seus espaços físicos e com certa autonomia, até que em 1968, através do decreto nº 63.577 de 08 de novembro de 1968, são extintas as escolas de ensino superior, e foram criados oito centros acadêmicos na Universidade Federal, como o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, o Centro de Artes, o Centro de Educação Física e Desportos, o Centro de Ciências Exatas, etc. Foi neste momento também que os recém criados centros acadêmicos são fisicamente agrupados em um

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A Faculdade de Direito do Espírito Santo foi criada pelo decreto 1302 de 09/06/1931. Em 1935 se torna Instituto Estadual de Ensino Superior, se federalizado em 1948. Em 1954 é absorvida, entre outras, para criação da Universidade Federal do Espírito Santo.

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campus universitário, a partir da desapropriação do Victoria Golf & Country Club, no bairro de Goiabeiras na cidade de Vitória/ES.

A UFES apresenta uma história de muitas apropriações/desapropriações e sobre posições de instancias administrativas e mantenedoras. Até sua instalação definitiva, no campus universitário Goaiabeiras, cada instituto, escola e curso regiam de forma muito peculiar sua vida administrativa e acadêmica. Esta característica de constituição e formação deixou um legado documental disperso e invisível.

Disperso na medida em que, a partir da criação da Universidade Federal, cada instituto e/ou escola passou a ser regida pelas normas administrativas e acadêmicas federais, modificando assim, em muito, sua forma de gerir-se e consequentemente sua forma de documentar-se. Com o passar dos anos, os documentos produzidos pelas regras antigas foram sendo negligenciados, visto que pouco se referenciavam à nova estrutura administrativa e acadêmica.

Pouco a pouco a dispersão trouxe a invisibilidade ao montante de documentos produzidos em uma época que não existia a Universidade Federal do Espírito Santo, mas já existiam décadas de história do ensino superior no estado. Documentos que nem foram transferidos para a instância custodiadora de documentos históricos do estado, o Arquivo Público do Estado do Espírito Santo – APE/ES, muito menos foram organizados para uso e memória da própria universidade.

Hoje estes documentos estão guardados, os que ainda restam, sem critério, sem organização, sem acesso, sem uso. Parte da história do ensino superior no Espírito Santo está enterrada nos porões dos diversos centros acadêmicos da Universidade Federal do Espírito Santos.

Em 2010, o Departamento de Arquivologia da UFES foi convidado a participar do projeto de reestruturação da gestão de documentos da universidade, continuação do projeto SIGA2. As atividades decorrentes do projeto revelaram uma massa documental acumulada em diversos

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“O Decreto nº 4.915, de 12 de dezembro de 2003, criou o Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo - SIGA, da Administração Pública Federal, pelo qual se organizam, sob a forma de sistema, as atividades de gestão de documentos de arquivo no âmbito dos órgãos e entidades da administração pública federal.” http://www.siga.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm, acessado em 20/05/2012.

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centros referentes a períodos que não estavam previstos no projeto, visto que o projeto visava o tratamento documental da fundação da universidade em diante, ou seja, a partir de 1961. Como não podendo deixar uma vasta documentação sem possibilidade de acesso foi desenvolvido outro projeto. Este novo projeto foi apresentado à universidade como extensão e iniciou-se no centro mais antigo, o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas - CCJE, onde estava o curso de Direito, oriundo da antiga Faculdade de Direito do Espírito Santo. O acervo existente no CCJE/UFES preserva documentos das antigas Faculdades de Direito e Ciências Contábeis, ainda quando estas eram da iniciativa privada.

Em um segundo momento e já com verba, pois o projeto foi contemplado no Edital MEC PROEXT de 2011, foi possível ampliá-lo para todos os centros que mantinham documentos até 1961, data da criação da UFES.

O projeto tem como objetivo dar tratamento arquivístico, organização e preservação de fonte documental histórica para contribuir assim com a produção de conhecimento histórico sobre educação superior no Espírito Santo. O projeto vai produzir no seu interior uma pesquisa histórica a partir da fonte de informação/documento tratada e organizada arquivisticamente. No decorrer do projeto alunos de vários cursos participaram de todas as suas etapas, bem como o projeto está a disposição dos cursos de Arquivologia e História para práticas de ensino. Com os produtos finais, o instrumento de pesquisa, a exposição e o livro, toda a comunida interna e externa à universidade estará articulada na apreciação e uso destes produtos.

Este acervo é único, e apesar de estar custodiado/arquivado na UFES, pertence ao povo capixaba, na medida em que testemunha a história do surgimento do ensino superior no Espírito Santo. O acervo deve ser tratado e devolvido ao povo capixaba através de instrumentos de pesquisa, produções históricas e também através de possibilidade irrestrita de acesso ao público em geral. O tratamento do acervo permitirá maiores possibilidades de pesquisa, além de permitir o aperfeiçoamento de alunos dos cursos de Arquivologia, Biblioteconomia e História.

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O tratamento Arquivístico dos documentos

A Arquivística é a ciência que tem como objeto o tratamento e organização de informações/documentos produzidos nas organizações, com o objetivo de torná-los de fácil acesso para seus produtores, que com elas tomam decisões e preservam sua história deixando sua marca para o futuro. Entretanto nem todo conjunto de informações/documentos foram alvo de métodos arquivísticos adequados impossibilitando as gerações atuais o conhecimento pleno dos acontecimentos do passado. Boa parte do conhecimento histórico é produzida com base nas fontes documentais e se estas estiverem desorganizadas, mal preservadas, destruídas e invisíveis, o entendimento do passado está comprometido.

Para visibilizar um acervo de informações/documentos, a Arquivologia procede com análises de contexto da produção da informação/documento, descreve-as para geração de instrumentos de pesquisa, organiza-as para facilitar o acesso, aplica técnicas de restauração para preservação de seu conteúdo e divulga-as para devolver ao cidadão um legado de informação/documentos que pertence a todos.

Para o projeto de tratamento dos acervos invisíveis da UFES foi aplicado uma técnica chamada descrição arquivística. A descrição arquivística é a base fundamental para produção de instrumentos de pesquisa3 de acervos documentais históricos.

Um arquivo ou mesmo um único acervo sem um instrumento de pesquisa não permite aos interessados um pleno acesso, na medida em que seu conteúdo se esconde por trás de uma frágil organização física, que mesmo que exista, não possibilita o entendimento total do funcionamento, muito menos suas ligações com os interesses sociais atuais.

Para construção de instrumento de pesquisa de fontes documentais históricas é de fundamental importância a aplicação da técnica de descrição, que de acordo com o dicionário arquivístico (ARQUIVO NACIONAL, 2005:67) é entendido como “conjunto de

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Entende-se como instrumento de pesquisa uma forma que possibilite a identificação, localização ou consulta a

documentos ou a informações contidas neles. Os instrumentos de pesquisa podem ser do tipo catálogo, guia, índice, inventário, listagem descritiva do acervo, repertório e tabela de equivalência (ARQUIVO NACIONAL, 2005).

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procedimentos que leva em conta os elementos formais e de conteúdo dos documentos para elaboração de instrumentos de pesquisa”.

A metodologia usada para a descrição dos acervos invisíveis da UFES foi baseada na Norma Brasileira de Descrição Arquivística – NOBRADE, cujas diretrizes se baseiam na Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística - ISAD (G). Diretrizes estas que garantem o intercâmbio e facilitam o acesso de informações em âmbito nacional e internacional.

Para a descrição do acervo foi desenvolvido uma ferramenta via Web, para que os bolsistas pudessem realizar suas tarefas de identificação e descrição do acervo de forma compartilhada e ao mesmo tempo. Além disso, esta ferramenta possibilita que a coordenação do projeto possa acompanhar o trabalho e detectar falhas e orientar nas correções.

Foram identificadas e registradas as seguintes informações nas descrições dos acervos invisíveis: • Gênero/espécie documental • Formato • Estado de preservação • Acondicionamento • Produtor • Data início • Data término • Assunto • Dimensão • Localização física

• Indicação de relevância para exposição documental

Etapas do projeto

Foram planejadas cerca de 10 etapas para o atingimento dos objetivos e conclusão dos produtos definidos. As etapas envolvem, além do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas, o Centro de Artes, O Centro de Ciências Humanas e Naturais, o Centro Tecnológico e o Centro de Educação Física. Para o desenvolvimento das etapas do projeto, cinco bolsistas

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foram contratados, além do envolvimento de dois professores, que coordenam e também participam de algumas etapas específicas. Seguem na ordem cronológica as etapas planejadas:

1) Inventário sumário do acervo CCJE Etapa concluída

2) Coleta de documentos em outros centros do período 1930 a 1961 Etapa concluída

3) Inventário sumário do acervo coletados em outros centros Etapa concluída

4) Descrição de todos os acervos coletados usando a Norma Brasileira de Descrição Arquivística

Em andamento.

5) Coleta de História Oral e outros documentos externos ao acervo Não iniciado.

6) Organização física dos acervos no Arquivo Geral da UFES Não iniciado.

7) Criação de instrumento de pesquisa, a partir da descrição dos acervos. Não iniciado.

8) Pesquisa histórica a partir do acervo coletado, inventariado, descrito e organizado. Não iniciado.

9) Exposição de documentos Não iniciado.

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10) Publicação de livro sobre história do ensino superior no Espírito Santo no período de 1930 a 1961

Não iniciado.

Dificuldades encontradas

Uma das maiores dificuldades encontradas foi a articulação com os diretores dos centros acadêmicos para liberação do acesso aos documentos. Muitos, na verdade, desconheciam a antiguidade das massas documentais que custodiavam, outros simplesmente tinham medo de perder o controle sobre os documentos e acarretar problemas futuros decorrentes disto. Entretanto todos, de uma forma ou de outra, foram sensibilizados com o fato que havia um legado documental que não pertencia à UFES, mas sim ao povo capixaba. Outra dificuldade foi o acesso a alguns acervos, pois estavam tão mal preservados que sua manipulação era insalubre para o trabalhador. Os acervos encontrados neste estado estão sendo identificados como de “péssimo estado de conservação” e serão, quando oportuno, tratados dentro das técnicas de higienização e/ou restauração.

Depois de concluída a etapa de descrição, os acervos deverão ser transferidos definitivamente para um local adequado, pois se voltarem para as mãos de seus custodiares originais podem vir a se desorganizarem e o instrumento de pesquisa que será produção perderá suas referências de localização. Entretanto a retirada definitiva destes acervos de seus centros será uma nova etapa de negociação, pois não há ainda credibilidade no processo de gestão documental atual da universidade fazendo com que os diretores temam perder seus acervos para sempre.

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Muitas séries documentais interessantes foram reveladas até o momento, administrativas ou acadêmicas. Nas séries administrativas constatam-se as atas de reuniões de conselhos, os documentos de pessoal, correspondências internas e externas, regimentos de funcionamento dos institutos/faculdades/escolas, controle patrimonial, portarias, projetos arquitetônicos, entre outros.

Nas séries acadêmicas a riqueza é surpreendentemente maior. Observa-se como eram feitos os processos seletivos para ingresso nos cursos, a programação dos cursos, as atas de prova de alunos, os históricos, diplomas, os boletins de frequência, os processos de criação e regularização dos cursos, dossiês de alunos, processos seletivos para docentes, trabalho de conclusão de curso, entre muitos outros.

O que se conclui é que o vasto acervo visibilizado pode subsidiar muitas pesquisas nas áreas de história da educação, das instituições, do Espírito Santo, das políticas públicas, entre outras. Na verdade, ao iniciarmos o manuseio destes acervos invisíveis, nos deparamos com um mundo de possibilidades de pesquisa. Nossos olhos brilharam literalmente. E continuam brilhando a cada descoberta e esperamos que ao final tenhamos contribuído um pouco mais no árduo trabalho de localização e acesso às fontes históricas.

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Referências

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