ADMINISTRAR: CIÊNCIA OU ARTE?
INTRODUÇÃO
Existem duas formas de definirmos a administração, completamente antagônicas e controvérsias. De acordo com Mattos (2009) os predicativos “ciência” e “arte” são entendidos como antagônicos por intenções retóricas ou, porque realmente existe uma problemática entre eles. Para ele a administração pode ser considerada ciência por possuir um corpo teórico próprio, que indica a seus seguidores como se comportar em casos específicos, com resultados previstos. E pode ser considerada uma arte por exigir o desenvolvimento de habilidades baseadas na intuição, sem prever os riscos desse comportamento, definindo-a como uma competência para alcançar resultado concreto.
A proposta de administração como ciência pode ser entendida como um processo técnico, racional, uma ciência aprendida mediante formação. Em contrapartida, administração como arte carrega consigo muito mais de intuição e visão, do que técnica. Cabe a nós desenvolver a discussão: Administração é ciência ou arte? Ela está mais alinhada com a razão ou a intuição? Esses predicativos são completamente antagônicos ou são também interdependentes?
Se a administração fosse resumida a uma ciência, como poderíamos explicar os grandes empresários que nunca tiveram acesso aos bancos escolares? Se a administração for apenas uma arte, qual a explicação para o grande índice de mortalidade infantil das nossas empresas? Pois de acordo com o SEBRAE cerca de 80% das empresas criadas fecham no seu primeiro ano de existência. Dentro desse contexto percebe-se que a administração não pode ser resumida a uma coisa ou outra. Ela é uma coisa e também a outra.
O objetivo, portanto, é apresentar a conciliação desses dois predicativos. Com base nisso serão apresentados os conceitos de ciência e arte, e sua aplicação na administração.
ADMINISTRAÇÃO E CIÊNCIA
De acordo com Santana (2009), a ciência tem fins unicamente utilitários: “a ciência é para aquilo a que se destina, pois a sua função está intimamente ligada à sua natureza”. A palavra de ordem para as fontes tidas como científicas é a objetividade. Para as comunidades científicas o grau de objetividade, do método de determinada ciência, está intimamente ligado ao seu grau de veracidade. Pelo culto a objetividade, aquelas comunidades rejeitam qualquer prática cognitiva que não esteja ligada a razão. Os seus métodos estão radicalmente ligados ao exato, isolando totalmente qualquer dedução intuitiva, tudo que se assemelhe ao acaso, ao incerto, ao subjetivo.
Descartes (apud, SANTANA, 2009), entendia que o conhecimento, para ser verdadeiro, precisa passar por provas e comprovações. Procedimento possível nas ciências da natureza – dada a estaticidade de seu objeto – mas totalmente inaplicável à arte.
A administração pode ser entendida como ciência por possuir um corpo teórico. Poderíamos discorrer desde a Administração Científica até a Escola das Relações Humanas para comprovar que ela é uma ciência repleta de teorias. Contudo esse não é nosso objetivo. O que coloca em xeque a administração como ciência é o fato de o resultado dessas teorias não pode ser comprovado de imediato. Não se trata de uma formula química exata em que a junção de moléculas de hidrogênio e oxigênio vai resultar em água. A administração é bem mais complexa que isso. Muitos de seus resultados não podem ser vistos de forma instantânea à aplicação de alguma teoria, pois ela não trata de objetos isolados, a administração lida com pessoa, com a organização e com toda a teia de relacionamentos que isso envolve. Algumas teorias podem ter resultados positivos em uma empresa e negativos em outra. Logo seria incoerente afirmar que a Administração como ciência está ligada ao exato e anula qualquer dedução intuitiva na sua tomada de decisão.
Para Santana (2009) a arte é sempre atual, ela não pode ser repetida ou ultrapassada. Ela tem um caráter particular. Enquanto a ciência tem um caráter universal. Diferente da ciência, que preza pela exatidão e objetividade, “a arte faz a opção pela verossimilhança, pelo fantástico, pelo sonho, pela imaginação criativa”.
Na administração o conceito de arte está intimamente ligado à inovação, ao espírito empreendedor. Não precisamos procurar muito para achar uma empresa está sendo gerenciada sem nenhuma técnica científica. Gestores que não conhecem os princípios básicos da administração, como o de planejar, organizar, dirigir e controlar. Neste caso o executivo é substituído pelo líder que usa da intuição e talento para desenvolver empresas a partir de uma simples ideia.
São gestores que aprendem com o dia-a-dia. Santana (2009) explica que a arte não é criada com o pretexto de ser útil. Ela “assume o que encontra e o celebra na medida em que esse conhecimento a enriquece ontologicamente”.
Contudo não podemos afirmar que a Administração limita-se apenas a um processo artístico. Primeiro porque ela lida com ciências exatas como a matemática, segundo porque isso fosse realmente verdade as empresas não recorreriam tanto a profissionais formados e qualificados e a consultorias como um meio de salvar suas empresas da falência.
ADMINISTRAÇÃO COMO CIENCIA E ARTE
De acordo com Bachelard (apud. MATTOS, 2009) a razão e a imaginação possuem características idênticas, por serem ambas igualmente criadoras, ativas, abertas, realizadoras. O autor a acredita não existir antagonismos radicais nos procedimentos artístico e científico. Afirmando que não existe a supremacia da consciência racional sobre a consciência imaginante, pois, mesmo apresentando diferenças, a experiência e a estrutura racional continuam sendo válidas, cada qual ao seu modo. O homem é,
portanto, uma entidade que atua mediante a interação da razão e da percepção, seria contraditório afirmar que uma basta sem a outra.
Imaginação e razão estão sempre interagindo, mesmo que não estejam necessariamente no plano da interdependência. (MATTOS, 2009)
Dentro desse contexto podemos concluir que Administração não é ciência ou arte, ela é uma interação das duas partes que se unem de forma a criar um objeto de estudo complexo. Objeto esse, que usa de teorias e intuição, do objetivo e subjetivo, da razão e da imaginação. Enfim esses predicativos não se excluem, eles se completam.
CONCLUSÃO
Deste modo algumas correntes de pensamento entende a administração como um processo técnico, fundamentalmente racional, ou seja uma ciência que se aprende mediante uma adequada formação e se aperfeiçoa com o passar dos anos.
Já para outros pensadores, existe um paralelo entre a administração como arte e a administração como ciência. A administração como ciência não pode prescindir da arte da administração construída pelos administradores de empresas. Os administradores e gestores empresariais são artífices em fomentar a criação e a inovação nas organizações, seja mediante novas tecnologias, métodos e processos ou em forma de revolução do ambiente organizacional.
Comumente considera-se que um campo de estudos é uma ciência quando contem um corpo teórico próprio, articulado de forma a mostrar a seus seguidores como se portar em casos específicos, prevendo os resultados desse comportamento. Já a arte é considerada uma habilidade, o desenvolvimento de habilidades ainda baseadas essencialmente na intuição, no risco de serem tomadas sem que seus resultados sejam previsíveis. Arte é a competência para conseguir um resultado concreto desejado. Portanto analisando estes aspectos, podemos dizer que a Administração ainda se encontra em uma fase amalgamada de arte e ciência (MATTOS, 2009).
REFERÊNCIAS
MATTOS, P. L. C. L. “Administração é Ciência ou Arte?” O que podemos aprender com este mal-entendido? Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 49, n. 3, p. 349-360, jul./set. 2009.