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Uma história da matemática escolar na cidade de São Luís do século XIX : livros, autores e instituições

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Física Gleb Wataghin

WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES

UMA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ESCOLAR NA CIDADE DE SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX: LIVROS, AUTORES E INSTITUIÇÕES

CAMPINAS 2017

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WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES

UMA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ESCOLAR NA CIDADE DE SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX: LIVROS, AUTORES E INSTITUIÇÕES

Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Doutor(a) em Ensino de Ciências e Matemática, na Área de concentração de Ensino de Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA WALÉRIA DE JESUS BARBOSA SOARES, ORIENTADA PELA PROFA. DRA. SILVIA FERNANDA DE MENDONÇA FIGUEIRÔA.

CAMPINAS 2017

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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Física Gleb Wataghin

TESE DE DOUTORADO

UMA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ESCOLAR NA CIDADE DE SÃO LUÍS DO SÉCULO XIX: LIVROS, AUTORES E INSTITUIÇÕES

Autora: Waléria de Jesus Barbosa Soares

Orientadora: Profa. Dra Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa

COMISSÃO JULGADORA:

Profa. Dra Circe Mary Silva da Silva Prof. Dr César Augusto Castro

Prof. Dr André Luiz Paulilo Prof. Dr Dario Fiorentini

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica da aluna.

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AGRADECIMENTOS

É atribuída a Isaac Newton a seguinte frase: “Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei nos ombros de gigantes”. Então, dedico este espaço, aos gigantes que comigo sonharam e me ajudaram a construir essa pesquisa. A ordem dos agradecimentos não indica sua relevância, pois todos, sem exceção, são importantes para mim.

Primeiramente, agradeço a Deus e à Maria, pois acredito Neles como Pai e Mãe eternos, que me protegem em todos os momentos.

Agradeço também:

Aos meus pais, Benedita e Wilson, e aos meus queridos irmãos, Wanessa e Wyrllenson, por entenderem esses quatro anos de distância física e, ainda assim, continuarem a fazer tudo por mim.

Aos meus avós Alberto Bayma (in memorian), Maria Negreiros (in memorian) e Graça Barbosa, pela ternura existida em qualquer dimensão.

Ao meu noivo, André Bogéa, por estar ao meu lado, em cada noite não dormida, em cada sonho desejado, sempre me ajudando neste trabalho.

Aos meus cunhados Carol Abreu Soares e Rildenir Silva, pelo apoio e confiança que sempre dedicaram a mim.

À toda minha família Negreiros, Soares e Barbosa, meus tios e tias, primos e primas, pela torcida em todos os momentos.

Às Secretarias de Educação, Estadual e Municipal, de São Luís, em especial aos colegas professores: Moacir Feitosa, Áurea Prazeres, Ilma de Jesus, Ana Champoudry, Márcia Pinheiro, Rosinete Furtado, Eliana Lapis, Pedro de Alcântara, Marcos Souza, Silvana Machado, Alex Corrêa, Fran Farias, Telma Ramos, Simone Paiva, Luiz Segundo, Patrícia Gilmar, Joseana Lisboa, Arsênia Sousa, Alice Bogéa, Deurivan Sampaio, pelo incentivo em toda a minha pesquisa.

Aos amigos do tempo de graduação, do mestrado, do doutorado, da vida e do mundo, em especial: Conceição Miranda, Simone Pintos, Doriene Reis, Raquel dos Santos, Lucilene Reis, Wenderson Teixeira, Addson Chagas, Roberval Nunes, Fátima Bogéa, Zenália Cordeiro, Arão Cordeiro, Rosa Lina Souza, Fátima Caldas, Zita Silva, Antonia Costa, Lucimar Melo, Erika Verde, Valdenice Verde, Conceição Reis, Marcelo Setúbal, Felix Barbosa, Andressa Cesana, Moyses Siqueira, Zionice Martos, Neiva Boeno, Alessandra de Almeida, Luciana Palharini, Diana Ruth, Alaim Moreira, Núbia Fernandes, Evelin Soares,

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Nelcilene Araújo, Marineude Alves, Marinilza Garcia, Marinilde Pereira, Nicole Soares, Silvana Rolim, por sempre me impulsionarem com pensamentos positivos.

Ao pesquisador Luiz de Mello, por sempre e prontamente me receber, todas as vezes que precisei.

À profa Dra Margarida Louro Felgueiras e ao prof Dr Óscar Felgueiras, por toda orientação no Doutorado Sanduíche junto à Universidade do Porto, em Portugal.

Ao prof Dr Henrique Guimarães e à prof Dra Margarida Rodrigues, por toda recepção junto à Universidade de Lisboa.

À profa Dra Adair Mendes Nacarato, por todo carinho e confiança em mim. A todos os professores do Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Unicamp, em especial, aqueles com quem tive oportunidade de aprender: Dr Maurício Compiani, Dr Jorge Megid, Dr Pedro Cunha, Dra Cristina Zancul, Dr André Paulilo, Dra Adriana Vitorino e Dra Maria José Mesquita.

Aos professores: Dr André Luiz Paulilo, Dr César Augusto Castro, Dra Circe Mary Silva da Silva, Dr Dario Fiorentini, Dr Jorge Megid Neto e Dr Wagner Rodrigues Valente, por participaram de minha qualificação e/ou aceitarem participar da minha banca de defesa.

E como gratidão é reconhecimento, sou imensamente grata àquela que foi a primeira a acreditar em mim: Profa Dra Silvia de Mendonça Figueirôa. Obrigada pela orientação, pelos ensinamentos, pelos conselhos. Esse trabalho é nosso!

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“Houve uma época em que o Maranhão refulgiu de glórias literárias. A sede de saber acordou na mocidade as faculdades da inteligência, conduzindo-a aos estabelecimentos de ensino que se gloriavam do rigor da disciplina.” (Frederico Figueira)

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RESUMO

A presente pesquisa investiga a matemática escolar na cidade de São Luís, durante o século XIX. A metodologia qualitativa, de abordagem documental, consta de revisão de literatura e análise documental. Analisa a partir de aportes teóricos de Bloch, Certeau, Le Goff, D’Ambrósio, entre outros, documentos de fontes primárias do século XIX, da capital da província do Maranhão, São Luís, do Rio de Janeiro e de Portugal, a saber: livros, jornais, revistas, cartas, leis, regulamentos, falas dos Presidentes da Província do Maranhão, documentos de universidades. Considera o contexto histórico na qual a matemática escolar pesquisada foi construída, onde procura responder à pergunta: como se deu a constituição do ensino de matemática na cidade de São Luís durante o século XIX? Para isso, busca compreender a produção e circulação de livros didáticos de matemática em São Luís, ao identificar e analisar as obras publicadas nesta cidade ou publicadas por maranhenses no século XIX; construir biografia dos autores dos livros identificados; e, apresentar as instituições escolares em que estiveram envolvidos esses professores/autores, e o ensino de matemática. Esta pesquisa busca contribuir com a escrita de um novo capítulo da História da Educação do Brasil, ao escrever sobre a Matemática Escolar na cidade de São Luís oitocentista.

Palavras-chave: História da Educação Matemática, Matemática Escolar, São Luís

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ABSTRACT

This research investigates school mathematics in the city of São Luís during the 19th century. The qualitative methodology, from a documentary approach, consists of literature review and documentary analysis. It analyzes from theoretical contributions of Bloch, Certeau, Le Goff, D'Ambrósio, among others, documents of primary sources of 19th century, of the capital of the province of Maranhão, São Luís, of Rio de Janeiro and of Portugal, namely: books, newspaper, magazines, letters, laws, regulations, statements of the Presidents of the Province of Maranhão, university documents. It considers the historical context in which the researched school mathematics was constructed, in which it seeks to answer the question: how was the constitution of mathematics teaching in the city of São Luís during the 19th century? To this, it seeks to understand the production and circulation of mathematical textbooks in São Luís, by identifying and analyzing works published in this city or published by born in Maranhão in the 19th century; Build biography of the authors of the books identified; And, present the school institutions in which these teachers/authors were involved, and the teaching of mathematics. This research seeks to contribute to the writing of a new chapter in the Brazil´s History of Education, when writing about School Mathematics in the city of São Luís in the eighteenth century.

Keywords: History Mathematical of Education, School Mathematics, São Luís in the

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LISTA DE FIGURAS

Figura X: Identificação de livros de matemática por temática

Figura Y: Rede de relações entre os professores de matemática investigados Figura Z: Instituições escolares e professores/autores envolvidos

Figura1: Praça do Comércio, centro comercial de São Luís no século XIX. Figura 2: Mapas do Brasil, anos de 1810 e 1811.

Figura 3: Capa do Jornal “O Conciliador”, 1821, Ano 1, Num 1.

Figura 4: Parte do Grupo Maranhense: Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, Odorico Mendes e João Lisboa.

Figura 5: Casarões de São Luís construídos no século XIX.

Figura 6: Largo do Carmo ou Praça João Lisboa, centro cultural de São Luís no século XIX. Figura 7: Prédio da Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil, fundada em 1893.

Figura 8: Antiga fachada da Santa Casa de Misericórdia, sede da primeira tipografia de São Luís.

Figura 9: Prédio da Biblioteca Pública de São Luís, final do século XIX. Figura 10: Capa do livro “A Metafísica da Contabilidade Commercial”. Figura 11: Definição de matemática segundo Carvalho.

Figura 12: Definição de factos segundo Carvalho. Figura 13: Exemplo no livro de Carvalho.

Figura 14: Resolução de um exemplo no livro de Carvalho.

Figura 15: Exemplo utilizando produtos vendidos em São Luís, no livro de Carvalho. Figura 16: Capa do livro “Primeiras Noções de Arithmetica”.

Figura 17: Exemplo utilizando situação da prática comercial em São Luís, no livro de Cardoso Homem.

Figura 18: Exemplo 2 - utilizando situação da prática comercial em São Luís, no livro de Cardoso Homem.

Figura 19: Exemplo 3 - utilizando situação da prática comercial em São Luís, no livro de Cardoso Homem.

Figura 20: Exemplo utilizando o termo negociante, no livro de Cardoso Homem. Figura 21: Exemplo 2 utilizando o termo negociante, no livro de Cardoso Homem. Figura 22: Capa do livro “Tratado de Arithmetica”.

Figura 23: Definição de Aritmética segundo Coqueiro.

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Figura 25: Exercício resolvido no livro de Coqueiro. Figura 26: Exercício para resolver no livro de Coqueiro.

Figura 27: Exercício com ênfase na álgebra no livro de Coqueiro.

Figura 28: Exercício utilizando o contexto parisiense no livro de Coqueiro. Figura 29: Exercício utilizando a mistura de vinhos no livro de Coqueiro. Figura 30: Pós-capa do livro “Tabella de Câmbio - Página Íntima”. Figura 31: Exercício utilizando situação comercial no livro de Moreira.

Figura 32: Guia Geral para contagem da nova moeda cobre por meio do peso no livro de Moreira.

Figura 33: Exemplo utilizando produtos comercializados em São Luís, no livro de Moreira. Figura 34: Exemplo utilizando venda por quilo ou litro no livro de Moreira.

Figura 35: Nota de rodapé no livro de Moreira.

Figura 36: Questionamentos do autor Roberto Moreira em seu livro. Figura 37: Reflexões sobre política no livro de Moreira.

Figura 38: Reflexões sobre as relações de mercado entre países no livro de Moreira. Figura 39: Metodologia para resolução de exercício no livro de Moreira.

Figura 40: Explicações sobre termos matemáticos no livro de Moreira. Figura 41: Explicação sobre sinais matemáticos no livro de Moreira. Figura 42: Capa do livro “Mélanges de Calcul Integral”.

Figura 43: Capa do livro “Resumo de Álgebra”. Figura 44: José Maria Correia Costa Frias. Figura 45: Definição de Álgebra segundo Corrêa. Figura 46: Representação de percurso segundo Corrêa.

Figura 47: Representação sobre o problema dos correios no livro de Corrêa. Figura 48: Exemplo resolvido no livro de Corrêa.

Figura 49: Exercícios para responder pelos alunos no livro de Corrêa. Figura 50: Exercícios 2 - para responder pelos alunos no livro de Corrêa. Figura 51: Capa do livro “Tratado de Geometria Differencial”.

Figura 52: Exemplo de metodologia utilizada pelos autores Moraes Rego. Figura 53: Exemplo respondido no livro dos autores Moraes Rego.

Figura 54: Sobre máximos e mínimos segundo os autores Moraes Rego. Figura 55: Sobre história da matemática no livro dos autores Moraes Rego. Figura 56: Representações gráficas no livro dos autores Moraes Rego. Figura 57: Capa do livro “Questões Práticas de Aritmética”.

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Figura 58: Exercício sobre Regra de Três Simples Direta no livro de Machado. Figura 59: Exercício sobre Regra de Três Simples Inversa no livro de Machado. Figura 60: Exercício sobre Regra de Três Composta no livro de Machado.

Figura 61: Exercício sobre Regra de Companhia no livro de Machado. Figura 62: Estevão Rafael de Carvalho.

Figura 63: Casa de Brito, Rua do Sol, nº 83, Centro.

Figura 64: Notícia sobre aprovação de Brito como professor. Figura 65: Certidão de batismo de Cardoso Homem.

Figura 66: Nomeação de Cardoso Homem como professor de Filosofia. Figura 67: Casa de Cardoso Homem, Rua Oswaldo Cruz, nº 26, Centro. Figura 68: Alexandre Theóphilo de Carvalho Leal.

Figura 69: Capa e pós-capa do livro “Últimos Cantos” de Gonçalves Dias dedicado a Leal. Figura 70: Membros funcionários da Associação Litteraria Maranhense.

Figura 71: Anúncio de curso de geometria oferecido por Leal. Figura 72: Anúncio sobre diploma de Leal no Pará.

Figura 73: Joaquim Gomes de Souza.

Figura 74: Solar de Joaquim Gomes de Souza, Rua do Sol, nº 302, Centro. Figura 75: Nota sobre nomeação de Souzinha como deputado.

Figura 76: João Antonio Coqueiro. Figura 75: João Antonio Coqueiro. Figura 77: Casa de Coqueiro, Rua do Machado, nº 27, Centro.

Figura 78: Anúncio de mudança de residência de Coqueiro. Figura 79: Anúncio da morte de Coqueiro

Figura 80: Anúncio de venda do livro “Resumo de Arithmetica”. Figura 81: Anúncio do retorno de Padre Cyrillo a Codó.

Figura 82: Anúncio de venda do livro “Metrologia do Povo”. Figura 83: Anúncio da publicação do livro “Metrologia do Povo”. Figura 84: Nota sobre aposentadoria de João Miguel da Cruz.

Figura 85: Anúncio da 5ª edição da Taboada de João Miguel da Cruz. Figura 86: Fernando Luiz Ferreira.

Figura 87: Anúncio de venda das obras de Fernando Luiz Ferreira. Figura 88: Anúncio de doação de livros de Fernando Luiz Ferreira. Figura 89: Anúncio de futura publicação de Roberto Moreira.

Figura 90: Anúncio do livro “Guia Prática e Methodica de Contabilidade”. Figura 91: Anúncio de Aulas Noturnas por Moreira.

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Figura 92: Anúncio do livro Francez elementar – 1ª série de Moreira. Figura 93: Anúncio de venda da “Taboa Synoptica de Cambio”. Figura 94: Sobre o livro “Memorandum Commercial”.

Figura 95: Anúncio da morte de Roberto Moreira

Figura 96: Capa do livro “Estudinhos da Língua Portuguesa”. Figura 97: Venda do livro “Pontos de Arithmetica”.

Figura 98: Anúncio sobre o aniversário de Corrêa.

Figura 99: Anúncio de condecoração dos irmãos Moraes Rego. Figura 100: Nota sobre o livro “Elementos de Álgebra”.

Figura 101: Domingos Affonso Machado.

Figura 102: Convite para aniversário de Machado. Figura 103: Nota sobre aniversário de Machado. Figura 104: Anúncio sobre o Instituto São José. Figura 105: Temístocles da Silva Maciel Aranha.

Figura 106: Casa de Temístocles da Silva Maciel Aranha, Rua 28 de Julho, nº 51, Centro. Figura 107: Jornal “O Commercio”, 1861, Ano I, Num. 1.

Figura 108: Construção do Prédio definitivo do Liceu Maranhense.

Figura 109: Recorte da ata da sessão da congregação do Liceu Maranhense, 1846. Figura 110: Exame de admissão do Liceu Maranhense, 1890.

Figura 111: Exame de admissão do Liceu Maranhense, 1890.

Figura 112: Exame de admissão de matemática, do aluno Manuel Ribeiro de Almeida Braga, atestado pelo professor José Augusto Corrêa, em 1879.

Figura 113: Exame de admissão de matemática, do aluno Francisco Herculano da Silva Ramos, atestado pelo professor João Antonio Coqueiro, em 1890.

Figura 114: Atestado do professor Alexandre dos Reis Rayol de que seu aluno Eduardo Martins Trindade estaria habilitado a prestar exame de Geometria no Liceu, em 1885.

Figura 115: Casa dos Educandos Artífices do Maranhão.

Figura 116: Prédio do Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo, um dos locais em que funcionou a Escola Normal.

Figura 117: Decreto de auxílio ao Curso Normal. Figura 118: Artigo 5º, do Plano do Curso Normal. Figura 119: Horário das Aulas do Curso Normal. Figura 120: Primeira sede da Escola Modelo.

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Figura 121: Nota sobre abertura da Escola Popular Onze de Agosto. Figura 122: Regulamento da Escola Popular Onze de Agosto.

Figura 123: Primeira sede do Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios. Figura 124: O Recolhimento e a Capela de Nossa Senhora de Anunciação e Remédios, e à direita, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.

Figura 125: Prédio do Colégio Nossa Senhora da Glória.

Figura 126: Placa de inauguração do novo prédio do Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios.

Figura 127: Caminho grande, ponte de madeira sobre o Rio Cutim, 1856. Figura 128: Resultado do aluno Manuel Moreira.

Figura 129: Resultado dos alunos Angelo e Joaquim Muniz. Figura 130: Anúncio do Collégio de São Sebastião.

Figura 131: Anúncio de mudança de endereço do Collégio de São Sebastião. Figura 132: Artigo 1º do Regulamento da Escola Agrícola do Cutim.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Livros de (sobre) Matemática publicados no Maranhão ou por maranhenses no século XIX.

Quadro 2: Obras raras de Matemática publicadas no Maranhão ou por maranhenses no século XIX com exemplares ainda existentes.

Quadro 3: Conteúdos do livro “A Metafísica da Contabilidade Commercial”, de Estevão Rafael de Carvalho.

Quadro 4: Conteúdos do livro “Primeiras Noções de Arithmetica”, de Ayres de Vasconcellos Cardoso Homem.

Quadro 5: Conteúdos do livro “Tratado de Arithmetica”, de João Antonio Coqueiro. Quadro 6: Conteúdos do livro “Tabella de Câmbio – Página Íntima”, de Roberto Moreira. Quadro 7: Conteúdos do livro “Mélanges de Calcul Integral”, de Joaquim Gomes de Souza. Quadro 8: Conteúdos do livro “Resumo de Álgebra”, de José Augusto Corrêa.

Quadro 9: Conteúdos do livro “Tratado de Geometria Differencial”, de Alfredo Cândido de Moraes Rego e Antonio Gabriel de Moraes Rego.

Quadro 10: Conteúdos do livro “Questões Práticas de Arithmetica”, de Domingos Affonso Machado.

Quadro 11: Autores e/ou professores envolvidos com o ensino de Matemática na cidade de São Luís durante o século XIX.

Quadro 12: Instituições escolares na cidade de São Luís do século XIX, investigadas no presente trabalho.

Quadro 13: Primeiros professores do Liceu maranhense.

Quadro 14: Conteúdos de Matemática para o 1º ano da Escola Normal da Sociedade Onze de Agosto – 1874.

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SUMÁRIO

LEMBRANÇAS DE MIM ... 20

INTRODUÇÃO ... 26

PERCURSOS METODOLÓGICOS E APORTES TEÓRICOS ... 28

1 SOCIEDADE LUDOVICENSE OITOCENTISTA, SUA CULTURA E A EDUCAÇÃO ... 39

2 PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA EM SÃO LUÍS DURANTE O SÉCULO XIX ... 54

2.1 A Metafísica da Contabilidade Comercial (1837) ... 65

2.2 Primeiras Noções de Arithmetica (1846) ... 72

2.3 Tratado de Arithmetica (1860) ... 78

2.4 Tabella de Câmbio - Página Íntima (1874) ... 87

2.5 Mélanges de Calcul Intégral (1882) ... 96

2.6 Resumo de Álgebra (1886) ... 99

2.7 Tratado de Geometria Differencial (1891) ... 107

2.8 Questões Práticas de Arithmetica (1895) ... 114

Tecendo considerações sobre as obras ... 118

3 SOBRE AUTORES E PROFESSORES OITOCENTISTAS: HISTÓRIAS DE VIDA ENVOLVIDAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA DA CIDADE DE SÃO LUÍS ... 121

3.1 Estevão Rafael de Carvalho: o político e a matemática para o comércio ... 128

3.2 João Nepomuceno Xavier de Brito: o primeiro professor de matemática do Liceu Maranhense ... 131

3.3 Ayres de Vasconcellos Cardoso Homem: um português em solo ludovicense... 135

3.4 Alexandre Theóphilo de Carvalho Leal: o matemático amigo de Gonçalves Dias... 139 3.5 Joaquim Gomes de Souza: o “maior” ou o “mais” conhecido

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matemático maranhense? ... 144

3.6 João Antonio Coqueiro: entre a matemática e a poesia ... 149

3.7 Cyrillo dos Reis Lima: entre a religião, a educação e a matemática ... 155

3.8 João Miguel da Cruz: uma tabuada para a matemática ... 159

3.9 Fernando Luiz Ferreira: um militar revolucionário e o ensino de matemática ... 163

3.10 Roberto Antonio Moreira: um caixeiro e as aulas particulares de matemática ... 170

3.11 José Augusto Corrêa: entre a matemática e a língua portuguesa ... 177

3.12 Alfredo Cândido de Moraes Rego e Antonio Gabriel de Moraes Rego: militares e o ensino de matemática ... 183

3.13 Domingos Affonso Machado: um incentivador da educação e a matemática para o comércio ... 187

3.14 Temístocles Aranha: um professor de matemática admirado por seus alunos ... 193

Tecendo considerações sobre as relações entre os autores/professores.. 198

4 INSTITUIÇÕES ESCOLARES NA CIDADE DE SÃO LUÍS OITOCENTISTA E O ENSINO DE MATEMÁTICA ... 202

4.1 Liceu Maranhense: ensino de matemática para a elite rumo à universidade ... 206

4.2 Casa dos Educandos Artífices: o ensino de matemática para meninos pobres e desvalidos ... 212

4.3 Escola Normal: a formação de professores e o ensino de matemática .. 217

4.4 Escola de Aprendizes Marinheiros: o ensino de matemática para a guerra ... 226

4.5 Sociedade Onze de Agosto e a Escola Popular Onze de Agosto: o ensino de matemática para adultos ... 229

4.6 Recolhimentos, Asilos e Colégios: o ensino de matemática para meninas ... 235

4.7 Escola Prática de Aprendizes Agrícolas ou Escola do Cutim: o ensino de matemática para a agricultura ... 240 4.8 Da Escola Particular de Roberto Moreira ao Collégio de São

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mocidade ludovicense ... 244 4.9 Educação escolar de negros: algumas considerações ... 250

Tecendo considerações sobre as instituições escolares e o ensino de

matemática ... 254

CONCLUSÕES ... 257 Referências ... 267

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LEMBRANÇAS DE MIM

a escrita deste texto, procuro apresentar um pouco das minhas vivências e experiências obtidas em minha trajetória profissional, que não deixa de ser minha história de vida. Seria então, um memorial de formação, que segundo Prado e Soligo (2005, p.61), “é uma forma de registro de vivências, experiências, memórias”. Ele ainda está em desenvolvimento e sempre estará, pois acredito que ser professora é estar em constante aprendizagem.

Procuro obedecer a uma sequência de narrativas de forma cronológica que envolve ao mesmo tempo o meu trabalho enquanto aluna que aprende e professora que ensina, e vice-versa. Apresento as minhas escolhas, que me fizeram chegar até esse trabalho final. Então, para isso, apresento “as lembranças de mim”.

Nasci no dia 1º de junho de 1977, em São Luís do Maranhão, onde estudei toda a minha educação básica. As minhas mais antigas lembranças da educação escolar remetem ao cheiro de massinha e aos desenhos feitos com lápis de colorir, que eu adorava. Até o 1º ano do magistério estudei na Escola São Vicente de Paulo, uma instituição coordenada por freiras, e que, na época, era frequentada só por meninas. Desse período lembro-me de três coisas: das freiras rígidas, da disciplina escolar e do meu medo de perguntar alguma coisa (ia para casa com dúvidas, jamais perguntava. As freiras diziam que não podíamos conversar com os professores). Depois fiz os 2º e 3º anos (do científico) no Colégio Cipe (eu nunca soube o que significava Cipe). O meu objetivo era fazer vestibular e não ser professora, por isso adorei a ideia de ter saído do magistério. Nesta escola não aprendi nada de disciplina (era uma bagunça), mas aprendi a perguntar aos professores quando tinha uma dúvida. Então, juntei a disciplina da primeira escola com as relações interpessoais que desenvolvi na última (associada com o trabalho que desenvolvia em grupos de jovens na igreja católica) e melhorei enquanto aluna e pessoa.

Queria fazer teatro e não associava o Curso de Educação Artística (nome do curso na época) às Artes Cênicas. Não tive orientações nem na escola nem em casa sobre o que significava cada curso, fui a primeira da família a entrar para uma universidade. Então por influência dos meus professores de Matemática e Química – que diziam que eu era “boa de matemática” – fiz vestibular para Matemática. E olha que nem passava pela minha cabeça que ao escolher esse curso eu caminhava para ser professora.

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Então passei no meu primeiro vestibular, no ano 1995, para a Universidade Federal do Maranhão. Era uma turma de trinta e dois meninos e três meninas, contando comigo. O meu primeiro desafio foi enfrentar essa turma masculina, em sua maioria, que via a matemática como “coisa de menino”. Parecia que tinha que provar a todo tempo que eu era capaz. Com o tempo, fomos nos entendendo, fiz grandes amizades e tive a oportunidade de trabalhar posteriormente com alguns.

O curso sempre foi muito técnico e tradicional. As “gias”, como são “carinhosamente” chamadas as disciplinas de caráter pedagógico, que eu fiz (em número de cinco: Filosofia; Psicologias Geral, I e II, Sociologia e Didática), foram os contatos mais próximos que eu tive para uma possível sensibilização/humanização da matemática.

O meu desafio maior foi quando resolvi fazer minha monografia na área de Educação Matemática. Nesta época, eu já atuava como professora dos ensinos Fundamental e Médio, nas redes públicas da cidade de São Luís (trabalhava como professora contratada das duas redes, desde 1999), e já frequentava o Curso de Educação Artística na UFMA (pois já tinha compreendido que existia a habilitação em Arte Cênicas). Depois de várias recusas de orientações de professores do Curso de Matemática, o que fez com que mudasse de tema por três vezes e atrasasse minha formação, consegui a orientação do professor Raimundo Luna para desenvolver o trabalho que almejava.

Desenvolvi a pesquisa “Temas Transversais e a Matemática - uma experiência pedagógica no ensino médio”. Através dela, desenvolvi projetos em uma turma do 2º ano do ensino médio, por meio de um ensino de matemática interdisciplinar. Constatei que a matemática significativa traz mais resultados para a aprendizagem dos alunos.

Formei-me em 2001. A graduação mostrou-me que faltava muito para que o professor que, da universidade sai “formado”, esteja de fato, “preparado”. Assim, o meu questionamento continuava: como levar a matemática de forma significativa aos meus alunos?

Em 2002, passei para o concurso da Rede Municipal de Educação de São Luís. Fui trabalhar com as séries finais do Ensino Fundamental. Abandonei o Curso de Educação Artística, no último período, por que coincidia com o horário do concurso que assumi.

Em agosto de 2003, para aperfeiçoar meus conhecimentos, ingressei no curso de Especialização em Ensino de Matemática, pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UEVA; uma das primeiras especializações nesta área oferecida em São Luís. Foi durante este curso que tive meus primeiros contatos com os aspectos históricos da Matemática e do seu ensino, encantando-me. Como professora, comecei a introduzi-los em minha prática, o que melhorava minha atuação enquanto educadora e o rendimento de meus alunos na disciplina de

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Matemática. Eu me perguntava por que vários professores continuavam a reproduzir em salas de aula da educação básica o mesmo caráter técnico aprendido nas universidades, se eles reclamavam tanto. Acreditava que este era um fator, dentre tantos outros, que levava ao alto índice de reprovação na Matemática. Desenvolvi como produto final de minha especialização, o trabalho intitulado: “A Adaptação da Matemática no Projeto de Regularização do Fluxo Escolar de 5ª a 8ª séries”, sob orientação da professora Déa Nunes Fernandes, onde pude analisar como a matemática era trabalhada com os alunos que se encontravam em distorção idade-série, na Rede Municipal de Educação de São Luís.

Em 2004, passei para o concurso da Rede Estadual de Educação de São Luís, passando a trabalhar com o Ensino Médio. Nesse mesmo ano, comecei a trabalhar em uma escola particular. E ainda, através do meu trabalho com projetos na Rede Municipal, chamaram-me para ser formadora de professores. Passei a trabalhar nos três turnos.

Esse trabalho de formadora de professores tinha como objetivo também, construir a primeira Proposta Curricular da Rede Municipal de Educação de São Luís. Tive formação, junto com os outros integrantes da equipe de formadores de Matemática, com as professoras Rosaura Soligo, Célia Maria Carolino Pires e Edda Curi. Após me “formar”, fui “formar” outros professores.

Começava uma nova etapa da minha vida profissional. Fiz tantos cursos quanto os que ministrei, tanto em São Luís, quanto no interior do Estado e em outros estados. Paralelamente às minhas atividades de professora e formadora de professores, participei da implementação de alguns projetos educacionais, junto à Secretaria Municipal de Educação de São Luís, como: o Projeto de Regularização do Fluxo-escolar do Ensino Fundamental, São Luís te quero lendo e escrevendo, Pró-letramento em Matemática, Gestar em Matemática e o Projeto Mais Educação.

O ano de 2008 me proporcionou várias experiências. Entrei como aluna regular do Mestrado em Matemática Profissional oferecido pela Unicamp, sendo que já era aluna especial desde 2007. Também voltei a fazer vestibular para a UFMA e passei para o curso de Artes Visuais (que só começou em 2009). Fui chamada para coordenar a Equipe de Avaliação da Rede Municipal de Educação de São Luís e passei a trabalhar com foco no IDEB, Saeb, Prova Brasil e Provinha Brasil. Comecei a participar de vários congressos com apresentação de comunicação oral. Entrei para a Universidade Estadual do Maranhão como professora contratada da disciplina de História da Matemática. Fiz o Curso de Tutoria, e fui tutora do Curso de Gênero e Diversidade na Escola, também na Universidade Estadual do Maranhão.

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No Mestrado tive a oportunidade de ser aluna de grandes professores, dentre estes, destaco um em especial, Eduardo Sebastiani, que ministrou a disciplina de História da Matemática. Foi durante essa disciplina que posso dizer que me encontrei no mestrado. Vi que muitos estudos ainda me seriam necessários para responder aos meus anseios, mas esta disciplina me abria as portas para a pesquisa. Aprendi que livros, textos, documentos, leis, ajudar-me-iam na busca pela compreensão de como o ensino de matemática se tornou o que é hoje, principalmente em meu Estado.

Assim, cresceu em mim, a vontade de desenvolver minha dissertação na linha de pesquisa História da Matemática e de seu ensino. Essa vontade remodelou-se em desejo quando tive como orientadora a professora Circe Mary Silva da Silva Dynnikov, que através de seus ensinamentos enriqueceu meus conhecimentos. Por meio de sua orientação desenvolvi a dissertação “Juros em livros didáticos de Matemática no Maranhão do Século XIX” e a partir de minhas pesquisas comecei a descortinar um Maranhão, até então desconhecido por mim. Defendi minha dissertação em 2009 e na banca estavam, além da professora Circe e do professor Sebastiani, o professor Wagner Rodrigues Valente, que tive o prazer de conhecer.

Em 2011, ingressei em outra especialização: MBA em Gestão Escolar pelo IBMEC do Rio de Janeiro. O curso resultou de uma parceria entre esta instituição e a Universidade Virtual do Maranhão. Como trabalho de conclusão de curso desenvolvi a temática “O papel do Gestor Escolar da Rede Municipal de Educação de São Luís na avaliação de aprendizagem em larga escala”, fruto de minhas considerações sobre o acompanhamento de meu trabalho como coordenadora da Equipe de Avaliação. Também desenvolvi, nesse ano, atividades como Tutora do Curso de Licenciatura em Matemática-PROFEBPAR, oferecido pela Universidade Federal do Maranhão. Orientei as disciplinas de Geometria, Tópicos de Matemática, Redação em Matemática e História da Matemática, em três cidades do interior do Maranhão.

Em 2012, concluí o curso de Artes Visuais, com o tema: Instalações Artísticas e Geometria: possibilidade de um trabalho interdisciplinar entre Arte e Matemática. Fiz uma Pós-graduação à distância em Cinema e Linguagem Audiovisual, pela Universidade Gama Filho, cujo tema de trabalho final foi: O cinema nas aulas de matemática. Sempre procurei encontrar uma forma de trabalhar envolvendo a Matemática e a Arte, pois as vejo como complementares. Ainda nesse ano, ministrei a disciplina Avaliação de Aprendizagem e Teorias da Educação, em turmas de pós-graduação na Faculdade Santa Fé, em São Luís. E também, comecei uma parceria com a Editora Moderna para palestrar em diversos encontros e seminários no Maranhão e Piauí. Em uma dessas, fui convidada pela Escola São Vicente de

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Paulo (mesma escola que estudei), para fazer a conferência de abertura do Seminário das Escolas Vicentinas do Brasil. Foi muito bom voltar àquele espaço, em outra conjectura. Foi um ano de muitas participações em eventos.

Foi também em 2012, que fiz o seletivo para o Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Unicamp, turma que iniciou em 2013. O desejo pelo desenvolvimento de uma tese surgiu no dia da defesa do mestrado, quando a minha banca sugeriu ir além da dissertação e assim passei a me questionar: o que se sabe sobre a matemática escolar na cidade de São Luís do século XIX? Afinal, eu era professora da rede pública de São Luís e pouco sabia, além do meu trabalho no mestrado, sobre a história desse ensino em minha cidade. Fui aprovada para o doutorado e, a partir de então, comecei a desenvolver o meu tema: “Uma história da Matemática Escolar na cidade São Luís do Século XIX”, sob a orientação da professora Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa. Uma nova etapa da minha vida se iniciava.

Durante o Doutorado, nos anos de 2013 e 2014, frequentei as disciplinas: História e Filosofia das Ciências da Natureza e da Matemática, ministrada pela professora Silvia Figueirôa; Metodologia da Pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática, ministrada pelo professor Maurício Compiani; Tópicos Especiais no Ensino de Matemática, ministrada pelos professores Pedro Cunha e Cristina Zancul; História e Historiografia da Educação Brasileira, ministrada pelo professor André Paulilo; Escalas, ministrada pelo professor Maurício Compiani; e, Educação Não-Formal no Ensino de Ciências e Matemática, ministrada pelas professoras Adriana Vitorino e Maria José de Mesquita. Também frequentei o PED, através da disciplina Estágio Supervisionado, oferecida aos alunos do curso de graduação em Biologia, ministrada pela professora Silvia Figueirôa. Posso dizer que, com cada disciplina, aprendi um pouco. Foram as leituras realizadas durante as disciplinas, que me permitiram embasar teoricamente o meu projeto de pesquisa e contribuíram para o aprimoramento dos meus conhecimentos. Também em 2013, tive a oportunidade de trabalhar com a disciplina de Matemática para a turma de pedagogia da PUC de Campinas.

Em 2015, dediquei-me integralmente à minha pesquisa. A escrita começou a se consolidar. Entre idas e vindas, estive nos vários arquivos de São Luís e do Rio de Janeiro. Em São Luís, na Universidade Federal do Maranhão, tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o professor César Castro, minha referência de pesquisador sobre a História da Educação do Maranhão. Foram o professor César Castro e a professora Silvia Figueirôa que me incentivaram a fazer o doutorado Sanduíche em Portugal.

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Assim, no segundo semestre de 2015, embarquei para a cidade de Porto. Sob orientação da Professora Margarida Louro Felgueiras, da Universidade do Porto, debrucei-me sobre os arquivos portugueses. Era o que faltava para a minha pesquisa. Estive em várias cidades, e destaco os arquivos das Universidades de Lisboa, de Coimbra e do Porto. Participei de vários congressos e seminários sobre educação e educação matemática, inclusive em Salamanca e Roma. Nesta, nunca esquecerei a palestra de encerramento do Congresso Mundial de Educação Católica proferida pelo Papa Francisco aos professores.

Em 2016, de volta ao Brasil, integrei a equipe de formadores de professores que trabalhou com a Formação Continuada de Professores que ensinam matemática da Rede Municipal de Educação de Campinas. Neste ano, publiquei junto com a professora Circe Dynnikov, meu primeiro livro “Uma história sobre o ensino de juros”, fruto do trabalho de mestrado.

O trabalho de escrita da minha tese foi chegando ao fim. Era tempo de revisar e chegar ao produto final que aqui apresento. Enfim, encerro esse pequeno memorial dizendo que não contei tudo, mas o que achei necessário saber sobre mim. Segundo Larrosa, (2002) conto aquilo que me passou, que me aconteceu e me tocou. E para que não reste dúvidas: eu adoro ser professora.

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INTRODUÇÃO

fim que gerou um novo começo. Essa frase representa significativamente para mim como surgiu a ideia da escrita desta tese, pois foi a partir da minha dissertação de mestrado1, que novas perguntas surgiram, necessitando de respostas.

Do trabalho do mestrado consegui uma constatação: havia uma forte influência do contexto da sociedade sobre o ensino de matemática desenvolvido no Maranhão oitocentista. Isto porque o desenvolvimento comercial fez surgir um ensino voltado para um ofício: o do comerciante. Coube à matemática escolar dar sua contribuição, preparando os alunos para esse fim.

A dissertação de mestrado me oportunizou algumas respostas específicas sobre o ensino de um determinado conteúdo matemático, fundamental para os alunos-futuros comerciantes: o estudo dos juros. Mas ficou uma lacuna e outras perguntas surgiram sem respostas.

O ensino de matemática não é feito apenas do ensino de um conteúdo. Então, quais seriam os outros elementos necessários à matemática escolar no Maranhão oitocentista? Onde estariam? Como eram tratados?

Para responder a esses questionamentos, destaco que esse trabalho parte de um problema central: como se deu a constituição do ensino de matemática na cidade de São Luís durante o século XIX?

Chego à conclusão de que preciso partir dos livros, aquilo que de mais concreto desse passado posso encontrar no presente. Ao analisar as obras percebo que as suas indicações envolviam sujeitos, os alunos. E estes alunos, por sua vez, frequentavam um espaço educacional, seja em nível primário, secundário ou superior. Esses livros também foram escritos por outros sujeitos, os autores. Ou trabalhados por outros, os professores. Emendo então, mais dois questionamentos ao problema: como eram os ensinamentos de matemática nas instituições escolares e quem eram os sujeitos responsáveis por esse ensino (seja como autor ou como professor)?

Tenho como objetivo principal nesta tese escrever uma história sobre a matemática escolar na cidade de São Luís, durante o século XIX. Para isso, “viajo” à cidade de São Luís oitocentista. No primeiro capítulo, percorro os caminhos que envolvem a

1

Dissertação intitulada “Juros em Livros Didáticos de Matemática no Maranhão do Século XIX”, defendida em 2009, pela Universidade Estadual de Campinas.

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“Sociedade Ludovicense2

oitocentista, sua Cultura e a Educação”. Apresento as minhas subidas e descidas pelas ladeiras, visitas a casarões, passeios pelo comércio, conversas com personalidades. Tomo conhecimento das decisões políticas, observo as leis e regulamentos referentes à educação, leio as notícias nos jornais. Conheço grandes literatos e entendo porque São Luís era chamada de “Atenas brasileira”. Foi essa literatura tão comentada que me fez organizar um novo “tour” em direção aos livros. Mas, preferencialmente, os livros didáticos de matemática.

A viagem continua e, no Capítulo 2, busco vestígios desses livros. Subo e desço ladeiras novamente, entro em livrarias, boticas, casas de bebidas, bibliotecas, tipografias, casas particulares e espaços escolares. Procuro anúncios em jornais, em revistas, e até na contracapa de vários livros. E os encontro! Os livros didáticos de matemática estiveram presentes na sociedade maranhense oitocentista. Seleciono alguns. Apresento aqueles que eram de autoria maranhense ou foram publicados na cidade de São Luís, através de uma análise que não desconsidera o contexto no qual foram escritos e para quem foram escritos estes livros.

Não era tempo de parar. Os livros foram escritos e utilizados por alguém. No Capítulo 3, busco conhecer sobre os sujeitos que contribuíram para que o ensino de matemática acontecesse: os professores e os autores de livros didáticos de matemática Apresento assim, biografias. Para isso, adentro nas casas desses personagens e passo a conhecer suas vidas, formações, influências, produções, para então entender por quais mãos foram escritas as obras que encontrei ou por quem o ensino de matemática era ministrado.

No momento seguinte, no Capítulo 4, conheço as instituições escolares da cidade de São Luís oitocentista e observo como se dava o ensino de matemática nas mesmas. Apresento um resgate sobre a criação, fundação, leis de funcionamento, objetivos e a quem se destinava cada instituição pesquisada, para então investigar sobre o ensino de matemática nas mesmas.

Após percorrer todos esses espaços, conhecer pessoas e trocar ideias, construo um mapa, o qual, sempre que quisesse, poderia me fazer recordar por onde andei, e por fim, exponho as considerações sobre a minha viagem. Sim, aqui ela é minha viagem e, portanto, apresento o meu olhar.

2

Relativo à cidade de São Luís, capital do Maranhão. Mas no século XVII já estava em circulação outra forma (mais popular): “são-luisense”. Ambas são consideradas corretas.

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PERCURSOS METODOLÓGICOS E APORTES TEÓRICOS

história que aqui apresento procura resgatar indícios de como a matemática escolar esteve inserida na sociedade ludovicense durante o século XIX, de forma que possamos percebê-la como um campo de pesquisa favorável à construção da história da educação no Brasil, inclusive da científica, a partir das marcas que foram deixadas.

Na perspectiva de que esta pesquisa venha contribuir para as discussões atuais sobre a importância do reconhecimento da história da Educação Matemática como parte integrante da própria Matemática, concordo com Miguel e Miorim (2002) quando incluem nesse campo de pesquisa,

[...] todo estudo de natureza histórica que investiga, diacrônica ou sincronicamente, a atividade matemática na história, exclusivamente em suas manifestações em práticas pedagógicas de circulação e apropriação do conhecimento matemático e em práticas sociais de investigação em educação matemática do modo como concebemos esse campo em todas as dimensões dessa forma particular de manifestação da atividade matemática [...]. (MIGUEL; MIORIM, 2002, p.187)

Após definir o meu objeto de estudo como “a construção do ensino de matemática na cidade de São Luís do século XIX”, passo aos percursos metodológicos. O desenvolvimento destes partiu do meu olhar inquieto sobre as informações obtidas, e foram norteados pelos objetivos e orientados pelos aportes teóricos. Tento alcançar uma totalidade que sei ser inatingível.

Posso dizer então, que esse trabalho se assemelhou ao de um detetive, pois cada documento encontrado me mostrava em suas entrelinhas vestígios de uma realidade cheia de pequenos detalhes, ao ponto de concordar com Ginzburg (2002, p.177) e perceber que “se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la”. E foi atrás desses sinais que me enveredei.

A pesquisa se caracteriza como documental, a qual, segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 102) é “aquela que se faz preferencialmente sobre documentação escrita”. E esses documentos só conversam comigo a partir do momento que eu aprendo a interrogá-los (BLOCH, 2001).

Para isso, foi necessário, primeiramente, fazer uma revisão de literatura tendo por objetivo levantar as informações relevantes sobre a educação e o ensino de matemática na

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sociedade ludovicense do século XIX, permeando, entre outros, aspectos socioeconômicos, políticos e culturais.

Assim, segui Bloch (2001) e me recoloquei, primeiramente, banhada pela atmosfera mental de um tempo, face a problemas que não pertencem à sociedade maranhense de hoje, pelo menos não na mesma conjectura e, inspirada em Ginzburg (2002, p.152) “a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remont[ei] a uma realidade complexa não experimentável diretamente” que, de alguma forma, me fez acreditar que “alguém passou por lá”. Ou seja, construí a narrativa histórica que apresento nos capítulos seguintes.

Para a revisão de literatura, foram importantes os livros, jornais, revistas, artigos, entre outros, que tratavam da educação e do ensino de matemática no Maranhão, durante o século XIX. Nesse sentido, Sad e Silva (2008, p.33) reforçam que “é muito importante que se cerque o tema, lendo toda ou quase toda a bibliografia disponível sobre ele, fazendo um rastreamento historiográfico de fontes encontradas em livros, artigos de pesquisa, teses ou mesmo textos gerais publicados em enciclopédias”.

O corpus documental básico constou de cartas, leis, documentos, regulamentos e falas dos Presidentes da Província do Maranhão. Nesse instante, foi de suma importância o texto de Castro (2009), que apresenta um trabalho minucioso de organização de todas as leis e regulamentos sobre a instrução pública no Maranhão no período entre 1835 e 1889. Pude ter em mãos um direcionamento sobre o que regia as práticas educativas na capital e em todo o Maranhão. Restou-me investigar, ainda, o período anterior a 1835 e posterior a 1889, percorrendo todo o século de meu interesse.

A metodologia de pesquisa e as orientações teóricas estão embasadas nas ideias de Gatti Júnior (2002, p.29), ao observar que “a orientação teórica presente atualmente defende que o processo de construção de interpretações do passado se faz no diálogo necessário entre nossas ideias e concepções e os indícios que conseguimos agrupar para corroborar nossas assertivas”. Também me apoio nas ideias de Le Goff (1996, p.477), quando afirma que “a memória onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro”.

Outro autor importante que tomo como referência é Schubring (2003), ao conceber que o saber matemático é transmitido por dois caminhos: pela comunicação pessoal ou oral e por textos escritos, e, sendo meu caminho o segundo, utilizo vários acervos. A princípio, pesquiso nos acervos da cidade de São Luís, como: a Biblioteca Pública Municipal de São Luís – Benedito Leite, a Biblioteca Josué Montelo, a Biblioteca da Universidade Federal do Maranhão, a Biblioteca da Universidade Estadual do Maranhão, a Academia

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Maranhense de Letras, o Arquivo do Liceu Maranhense, o Arquivo Público do Estado do Maranhão, o Arquivo da Igreja do Carmo, o Arquivo do Museu dos Capuchinhos. Como a capital do Brasil império abarcou muitas informações sobre o que regia a educação e o ensino de matemática no país, encontro no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro um acervo com mais fontes de informação. Ainda, à medida que fui percebendo que a história da educação em São Luís no período oitocentista teve, também, certa influência/apropriação de Portugal sobre seus escritos, circulação de ideias e formação dos professores, busco outros acervos com fontes riquíssimas, como, principalmente, a Biblioteca Pública do Porto, com seu conjunto de manuais desde o século XVIII, no Fundo Antigo da Reitoria da Universidade, além das Bibliotecas da Universidade de Coimbra, Biblioteca Nacional e Museu das Ciências em Lisboa (FELGUEIRAS; COSTA; CORREIA, 2008).

Acredito que investigar e escrever sobre a educação matemática numa determinada época, ao mesmo tempo em que instiga, é uma tarefa que exige método e persistência. Utilizo, na maioria da pesquisa, documentos de fontes primárias (textos impressos, manuscritos e outros documentos originais), o que caracteriza a pesquisa como de “estudos tipicamente históricos” (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 103).

Para a escrita dessa história, é de fundamental importância que os documentos escritos que tomo como minhas principais fontes de pesquisa, fossem, como lembra Le Goff (1996),

[...] o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento que ele traz devem ser em primeiro analisados, desmistificando-lhe o seu significado aparente. (LE GOFF, 1996, p.548)

Isto porque entendo que toda pessoa que se ocupe de historiografia reconhece o quanto é importante o recurso ao documento, principalmente o escrito. Segundo Febvre (1949, apud LE GOFF, 1996), se existem documentos escritos, a história faz-se a partir deles. Portanto, entre quem trabalha com a historiografia e os documentos há uma estreita relação, que leva à tentativa de veracidade de escrita da história, resultante da relação entre os componentes do passado, seus vestígios documentais e a capacidade de reconstrução da escrita. Quem busca escrever uma história deve ter a sua criticidade aguçada e entender que não lhe cabe,

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[...] apenas o relato dos grandiosos antecedentes e consequentes das grandes descobertas científicas e tecnológicas, mas sobretudo a análise crítica que revela acertos e distorções nas fases que preparam os elementos essenciais para essas descobertas e para sua expropriação e utilização pelo poder estabelecido. (D’AMBRÓSIO, 2007 apud BICUDO, 1999, p.104)

Organizo as informações por meio de fichamentos dos materiais encontrados, de forma que busco sistematizar os registros. A organização leva em consideração o processo de categorização, no qual as informações foram classificadas “em classes ou conjuntos que contenham elementos ou características comuns” (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p.134). As categorias me ajudam a perceber a existência de relações entre as informações encontradas.

Para análise das informações, tomo em alguns momentos a análise de conteúdo, pois segundo Rizzini, Castro e Sartor (1999, p.91), essa modalidade “teria como função básica a observação mais atenta dos significados de um texto, e isso pressupõe uma construção de ligações entre as premissas de análise e os elementos que aparecem no texto. Essa atividade é, assim, essencialmente interpretativa”. Esse tipo de interpretação está presente, principalmente, quando analiso os livros didáticos e os documentos textuais que compõem o corpus deste trabalho.

Porém, ressalto que quando tomo as falas dos Presidentes da Província ou os textos sobre os autores e professores investigados, tomo a análise de discurso em minha interpretação. Nesse ponto, concordo com Bakhtin (1997):

O texto é a expressão de uma consciência que reflete algo. Quando o texto se torna objeto de cognição, podemos falar do reflexo de um reflexo. A compreensão de um texto é precisamente o reflexo exato de um reflexo. Através do reflexo do outro, chega-se ao objeto refletido. (BAKHTIN, 1997, p. 341)

Assim, ao refletir sobre os discursos sobre os biografados, tento construir imagens, indo além da aparente transparência das linguagens textuais.

Ressalto que para toda a interpretação das informações documentais, a constituição de algumas concepções teóricas (ou pressupostos) foi necessária, de forma que o meu caminho metodológico teve que ser embasado teoricamente. Tais concepções são explicitadas a seguir.

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Concepção inicial: não é justo olhar o passado com os olhos do presente.

Mas é possível fazer o contrário? Mesmo sabendo que essa história que está sendo construída não é “a história”, mas “uma história”, é difícil dizer que o meu olhar de hoje não irá interferir em como vejo o passado. Ainda assim, tento esquecer o que sei sobre a educação e o ensino de matemática na cidade de São Luís no século XXI, e busco conhecê-la em outro tempo: o século XIX.

Esse período me revela um Maranhão, mesmo entre altos e baixos, em destaque no que diz respeito à economia brasileira, principalmente por que sua capital, São Luís, foi marcada fortemente pelo desenvolvimento do comércio. A literatura foi outro setor que mereceu reconhecimento. Houve um grande número de escritores na cidade no período oitocentista que produziu vários livros, estimulando o desenvolvimento cultural. O conceito de cultura é por mim associado ao conceito de sociedade, seguindo D’Ambrósio (1999, apud Bicudo, 1999, p.98), que entende “sociedade como um agregado de indivíduos (todos diferentes) vivendo num determinado tempo e espaço, compartilhando valores, normas de comportamento e estilo de conhecimento, isto é, cultura, e empenhados em ações comuns”.

Tomo, então, a matemática como um tipo de produção cultural. Concordo com Burke (2005) e concebo que tudo tem história: logo, reconheço que o ensino de matemática teve um passado na cidade de São Luís. “Viajar” para o século XIX fez-me encontrar com autores e professores que me falam sobre o ensino de matemática através dos livros didáticos e me apresentam instituições escolares onde acontecia esse ensino.

Ao interpretar essas relações, concordo com Certeau (1974, p. 4-5) quando diz que “toda interpretação histórica depende de um sistema de referência e que esse sistema abriga uma filosofia implícita particular”. Então, ficou claro que não poderia descartar os acontecimentos nacionais relativos à educação. Entendo que sou capaz de reconstituir “uma possível história” sobre essas relações, por isso, foi importante considerar os aspectos sociais também da sociedade ludovicense, no século XIX:

Supor uma antinomia entre uma análise social da ciência e sua interpretação, em termos de história das ideias, representa a duplicidade daqueles que acreditam que a ciência é autônoma, e que, a título dessa dicotomia, consideram como não pertinente a análise de determinações sociais e, como estranhas ou acessórias, as imposições que ela desvela. (CERTEAU, 1974, p. 12)

Tenho, então, a possibilidade de redescobrir não só os livros de matemática, seus autores, professores e instituições escolares, mas também redescobrir as tipografias e os

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tipógrafos, os jornais, as revistas, as leis e regulamentos, as falas dos Presidentes; enfim, muito do que envolve a história da própria educação e ensino de matemática da sociedade ludovicense oitocentista.

Concepção segunda: a escola é um lugar de produção de conhecimentos matemáticos.

Acredito na escola como um lugar de produção de conhecimentos. Estes, por sua vez, estão compreendidos entre o que se almeja ensinar, o que se ensina e o que se aprende.

Segundo Bittencourt (2008), o saber a ser ensinado está difundido através das disciplinas escolares distribuídas pelos programas e currículos, e só se transforma em saber ensinado, nas salas de aula, por meio dos professores. Quando esse saber é incorporado e utilizado pelos alunos, alcança status de saber aprendido. Portanto, reconheço que a matemática escolar também está envolta nessa relação entre os saberes. Concebo a matemática escolar como teorias para o ensino/aprendizagem da matemática, em que os conhecimentos encontram-se organizados para serem ensinados num determinado período (VALENTE, 1999). Esta teoria seria a responsável pela organização dos conteúdos em cada disciplina, orientando o trabalho do professor e a aprendizagem do próprio aluno.

Assim, pergunto-me: Que tipo de teoria para o ensino de matemática era utilizada nas escolas da cidade de São Luís oitocentista? Como os professores lidavam com a prática em sala de aula? Será que existia aprendizagem por parte dos alunos?

Numa pesquisa de caráter histórico é difícil fazer afirmações com alto grau de veracidade com relação à prática de ensino e aprendizagem. Porém, investigar a matemática escolar na cidade de São Luís oitocentista me permite produzir conhecimentos sobre alguns aspectos que poderiam influenciar o ensino-aprendizagem de matemática no século XIX.

Nessa produção dos conhecimentos sobre a matemática escolar, vou além da investigação de ideias educacionais, busco também conhecer,

[...] modos de constituição e transformação em qualquer época, contexto e práticas; a constituição de suas comunidades de adeptos e/ou de suas sociedades científicas; os métodos de produção e validação dos conhecimentos gerados por essa atividade; os processos de abandono e incorporação de objetos de investigação por essa atividade; a natureza e os usos sociais dos conhecimentos produzidos nessa atividade; os produtores de conhecimentos que se envolveram com essa atividade; as obras nas quais esses conhecimentos foram expostos; as instituições sociais que promoveram e/ou financiaram essa produção, etc. (MIGUEL; MIORIM, 2002, p.187)

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Escrever sobre a matemática escolar ajudará na produção de conhecimentos da própria história do ensino de Matemática no Brasil. Isto porque, dentro dos aspectos que pretendo investigar,

Com relação aos itens c) biografias, d) organizações institucionais e h) análise e crítica de fontes literárias, pode-se dizer que [ainda] há um campo totalmente aberto e inexplorado, naquilo que diz respeito à História do desenvolvimento da Matemática no Brasil. (BARONI, NOBRE apud BICUDO,1999, p. 131-132)

Ressalto ainda que, para refletir sobre a matemática escolar apresentada nesta pesquisa, foi necessário que a tomasse como um saber constituído dentro de um contexto amplo e abrangente. Foi esse contexto o responsável por entender que o saber escolar é um tipo de conhecimento institucionalizado e legitimado, capaz de nos fazer entender sobre a matemática que foi ensinada.

Concepção terceira: a matemática escolar se materializa também a partir do livro didático.

Entendo que o livro didático tem papel importante na configuração da matemática escolar, mas ele, por si só, não determina a matemática escolar. Pois ele é apenas uma das formas de ver a matemática escolar como cultura material. É justamente essa forma que aqui busco.

Compreendo, aqui, um livro didático tal qual Bittencourt (2008), podendo ser uma mercadoria ou o fruto de uma edição ou um depositário de conteúdos, mas podendo ser tudo isso e ainda ir além, pois ele tem uma função. Por isso, definir um livro escolar está associado diretamente a sua funcionalidade.

Para aprofundar a concepção da função de um livro didático, encontro em Choppin (2000) reflexões que muito me auxiliam, pois esse autor me fez perceber o livro didático como um instrumento de ensino, carregado de tradições, justamente por ter sido escrito em determinados local e tempo. Assim, a sua função está intrinsicamente ligada à sua própria história, envolvendo relações e representações. No século XIX, os livros didáticos foram vistos como suporte das verdades e a sociedade acreditava que a transmissão destas deveria acontecer de geração a geração. Ainda assim, os livros didáticos eram passíveis de críticas.

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O que me dizem os livros de matemática aqui investigados? Quais as relações entre autores, professores e leitores dos mesmos? De que tratavam? O que representavam essas obras para a sociedade ludovicense oitocentista?

Esses questionamentos me fizeram analisar as obras seguindo Schubring (2003). Após definir o livro didático e conhecer a sua função, considero a hermenêutica, defendida pelo autor, como necessária à análise de uma obra por meio de todo o contexto que a envolve. Levo em consideração, então, os três aspectos defendidos pelo autor: a história social das ideias, a instituição como coautor e a propriedade comum. Sobre a história social das ideias, analiso os livros não como objetos isolados, mas envolvidos em todo um contexto de desenvolvimento da matemática escolar na cidade de São Luís oitocentista. Sobre a instituição como coautor, analiso os livros levando em consideração que no século XIX havia compilação quase completa de outras obras, logo os livros poderiam ser elaborados a partir de outros já existentes. Sobre a propriedade comum, analiso os livros a partir da prosopografia, ou seja, busco conhecer ou mesmo construir a biografia de seus autores, e tomá-los em conjunto.

Desta forma, ao analisar os livros didáticos, percebo tal qual Bittencourt (2008, p.14), que “o livro didático e sua história inserem-se, assim, em uma complexa teia de relações e de representações, [...] é um veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura”. Pude, assim, encontrar nos livros didáticos de matemática pesquisados, ideias, interesses, experiências de vida e até perspectivas da sociedade ludovicense, fazendo com que percebesse o quanto os fatores institucionais ou sociais influenciam na escrita e publicação de uma obra.

Concepção quarta: por trás de todo livro didático existe uma voz que convém ser ouvida.

Parto do pressuposto de que as mensagens embutidas nos textos dos livros didáticos estão carregadas de vínculos contextuais de seus autores, e que segundo Franco (2005, p. 12), mostram-me “as condições que envolvem a evolução histórica da humanidade; as situações econômicas e socioculturais nas quais os emissores estão inseridos”.

Os autores de livros didáticos de matemática do século XIX são reconhecidos como uma coletividade devido ao contexto em que atuavam. As restrições quanto à escrita e as exigências institucionais e sociais também estavam nas entrelinhas de uma obra,

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evidenciando as pressões às quais eram submetidos os autores. Mas quem eram os autores maranhenses de livros didáticos de matemática publicados na cidade de São Luís oitocentista? Os autores maranhenses publicaram somente em São Luís? Existiram autores estrangeiros que publicaram em São Luís? De onde vieram, onde estudaram? Eram formados? O que sabemos sobre as suas vidas?

Para responder a esses questionamentos, busco construir biografias. A necessidade de construir essas biografias (algumas foram literalmente construídas) deve-se à concepção de que a escrita de um gênero literário está intrinsicamente relacionada com o contexto de uma produção. Logo, como falar de um livro sem me perguntar quem o escreveu? Quem o utilizou? Como falar de um ensino de matemática num determinado local, por meio de uma determinada materialidade, sem tecer comentários sobre quem faria a ação-ensino acontecer – ou seja, os sujeitos? É nesse ponto em que concordo com Bloch e Le Goff ao afirmarem que “a história não é a ciência do passado”, mas a “ciência dos homens no tempo”.

Reconstruo a vida de personagens que muitos, hoje, nem conhecem ou tampouco ouviram falar. Percebo que alguns dos autores foram também professores que dedicaram parte de suas vidas à educação ludovicense. Nesse sentido, para este trabalho, assumo que,

Interessa não apenas a história de famosos matemáticos, mas também a daqueles professores – mesmo que não-produtores de novidades na Matemática – e autores de livros didáticos que desempenharam um papel relevante porque contribuíram para a divulgação do conhecimento e, portanto, como docentes, auxiliaram na formação intelectual de milhares de indivíduos. (SAD; SILVA, 2008, p. 43)

Seja como autor e/ou professor, é inegável que a história da matemática seja feita por sujeitos e suas contribuições ao longo dos tempos. Concordo com Farago (2003), para quem,

A História da Matemática constitui um dos capítulos mais interessantes do conhecimento. Permite compreender a origem das ideias que deram forma à nossa cultura e observar também os aspectos humanos do seu desenvolvimento: enxergar os homens que criaram essas ideias e estudar as circunstâncias em que elas se desenvolveram. (FARAGO, 2003, p.17)

De uma maneira geral, entendo que, mesmo enfrentando críticas sobre suas obras, além da aprovação ou não das mesmas, enfrentando dificuldades em suas publicações e vendas, foram os autores que fizeram com que a produção de livros didáticos de matemática se expandisse no século XIX.

Referências

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