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São Luís! É esse o nome da minha terra natal: no mundo não tem igual. Minha cidade gentil, das agoas nasce risonha, sempre alegre e vecejante, a quem saúda o navegante do seio do mar de anil [...]. A aurora quando desponta vem cercada de primores, e harmônicos cantores, festejam seu despontar: tudo goza alma alegria, nessa terra abençoada quando amanhã desejada no mundo se vem nos mostrar [...]. Os lírios cheios de orvalho exalam doces perfumes, cantão sentidos queixumes, as tristes aves nos moinhos saúdam o nascer do dia. No seu galho o sabia canções elevão a Jehovat, nos ramos os passarinhos [...]. Nas nossas terras do norte maior brilho tem o sol: tem da manhã o arrebol Mas cortejo de cantores – A nossa lua he mais bella que a dos mares do sul, tem o mais brilhante azul como seu manto de mil cores [...]. He uma terra bendicta a terra de São Luís. Não há no mundo paiz que abunde em mais primores. Quem me dera verte já oh minha pátria querida, quero em ti perder a vida o terra de meus amores. (Poesia de Ferreira Valle no Jornal O

Progresso de 1850).

no de 1800. O Maranhão colhe os frutos da atuação do Marquês de Pombal3, que ainda no século anterior, cria a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão4. Na capital São Luís, é incentivada a vinda de portugueses, principalmente açorianos, e com isso, aumentou o tráfico de escravos e o comércio de produtos para a região. De outro lado, foi possibilitada a ida de jovens maranhenses (ainda que bem poucos) para estudarem nos centros universitários europeus, principalmente na Universidade de Coimbra.

A Província do Maranhão entra no século XIX, incluída no sistema agroexportador, ocupando lugar de destaque na economia brasileira por causa do

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Primeiro-Ministro em Portugal , no período de 1750 a 1777.

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Criada em 1755, pelo Marquês de Pombal, em Portugal, destinava-se a controlar e fomentar a atividade comercial com o Estado do Grão-Pará e Maranhão, fortalecendo a prática do mercantilismo no Reino. A Companhia teve a sua origem numa petição, encaminhada em 1752, pela Câmara Municipal de São Luís do Maranhão ao governador e capitão-general, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para que fosse criada uma sociedade autorizada a explorar o comércio de importação de escravos africanos. A Companhia foi extinta em 1788.

desenvolvimento da cultura do algodão (SALDANHA, 2008), que perdurou até 1868, período que ficou conhecido como “Ouro Branco” (MEIRELES, 2001).

A Praça do Comércio5 era a referência do centro econômico de São Luís. Ali eram vendidos produtos alimentícios, como o azeite português e a cerveja da Inglaterra, além de tecidos, móveis e livros.

Figura1: Praça do Comércio, centro comercial de São Luís no século XIX. Fonte: http://www.panoramio.com/photo/32683694.

Mas, a educação escolar era quase inexistente. Em 1804, D. Antonio de Saldanha da Gama6 noticia que, pela primeira vez, em 23 de junho, retornavam a São Luís os iates dos Alunos Práticos da costa do Maranhão. A Escola dos Alunos Práticos que eles frequentavam ficava no Pará, fundada neste mesmo ano de 1804, no mês de fevereiro.

Em 1808, o Brasil recebia a família real portuguesa que vinha fugindo de Portugal, devido às guerras napoleônicas. Segundo Meirelles (2001), com a abertura dos portos brasileiros às nações amigas, instalou-se em São Luís um forte comércio,

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Foi construída em 1780.

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Português (1778 - 1839), nasceu em Lisboa. Foi um aristocrata, militar, político, governador e capitão-general do Maranhão (1802), vogal do Conselho do Ultramar (1806) e governador-geral de Angola (1807). Foi sócio honorário da Academia Real das Ciências de Lisboa e membro da Maçonaria. Também conhecido como Conde de Porto Santo.

principalmente exportador, o que fez do porto do Maranhão o quarto mais importante do país, depois do Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

Ainda no ano de 1808, a Imprensa Régia foi instituída no país, expandindo a imprensa nas Províncias. Segundo Saviani (2013, p.113), “nessa nova fase as ideias pedagógicas oriundas do pombalismo continuaram inspirando as iniciativas de Dom João, ainda que sua motivação principal tenha sido de caráter administrativo”.

No Maranhão, a educação escolar caminhava a passos curtos. Sobre o ano de 1810, Lacroix (2000, p.59) menciona que a cidade de São Luís contava “aproximadamente com 12 mil habitantes, dos quais 71% eram escravos e 29% livres e, desses últimos, nem todos eram ricos ou cultos”. Desse contingente, a maioria dos excluídos das escolas era de negros, o que era compreensível já que a escravidão estava estabelecida. Fica evidente a quem era destinada a pouca educação oferecida.

No ano de 1811, o Piauí se separa do Maranhão e o Capitão Francisco de Paula Ribeiro também conclui a demarcação de limites com Goiás.

Figura 2: Mapas do Brasil, anos de 1810 e 1811.

Ainda nesse ano, visitou São Luís, Henry Koster7 que, ao retratar a cidade em seu livro “Viagens ao nordeste do Brasil”, publicado em Londres em 1816, escreve:

A proporção das pessoas livres é pequena. Os escravos têm muita preponderância, mas essa classe necessita de pouca cousa, no tocante aos gastos, quando o clima dispensa o luxo. Existe uma grande desigualdade de posição em São Luiz. As principais riquezas da região estão nas mãos de poucos homens, possuidores de propriedades prósperas, com extensões notáveis, grupos de escravos, e ainda são negociantes. (...) Como porto de comércio com a Europa, São Luiz é apontada em quarto lugar, e na classe de importância, segue Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. (KOSTER, 1942, p. 234-235)

Em 1815, Eleutério Lopes da Silva Varela e Estêvão Gonçalves Braga8, que moravam em São Luís, começaram a construir um teatro nos moldes das casas de óperas da Europa. Com o nome de Teatro União (homenagem à elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarve), foi inaugurado somente no dia 1º de junho de 1817. O teatro passou a ser um dos espaços culturais mais frequentados da cidade.

Em 1821, no dia 15 de abril, chega às ruas o primeiro jornal do Maranhão “O Conciliador”, tornando São Luís a quarta capital do Brasil a ter imprensa. Segundo Jorge (1998), esta foi a primeira edição impressa, pois as edições anteriores foram escritas a bico de pena.

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Henry Koster (1793-1820) era português, filho do comerciante inglês e membro da Real Academia de Ciências de Lisboa, Sir John Theodore Koster. Também possuía naturalidade inglesa. Viveu grande parte de sua vida em Portugal. Entre 1809 e 1820 foi proprietário de engenho e terras no Brasil.

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Figura 3: Capa do Jornal “O Conciliador”, 1821, Ano 1, Num 1. Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=749524&PagFis=1

O Conciliador tinha editores portugueses9, o que reforçava o seu caráter tendencioso à Constituição portuguesa10, como podemos observar no tratamento dado ao rei D. João VI em suas páginas:

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Antônio Marques da Costa Soares e o padre José Antônio Ferreira Tezinho, portugueses, conduziram os primeiros trabalhos junto ao jornal.

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Neste período, acontecia a reunião das Cortes em Lisboa para escrever uma nova constituição. Alguns deputados do Brasil participaram. Alguns quando retornaram ao Brasil se envolveram no movimento pela Independência, em 1822.

[...] o nosso compacivo, e Paternal Monarcha hade ver com jubilo o Manifesto sagrado da Nossa obediência e amor a sua Real pessoa, e da nossa adhesao aos Princípios Constitucionais dos nossos Irmãos da Europa, e do Brazil. Cidadãos, concórdia, e submissão as Leis existentes, em quanto outras não forem promulgadas; seria delírio alluir o edifício, que nos abriga sem haver levantado nova habitação. Viva El Rey, a Religião, a Pátria, e a Constituição[...]. (O CONCILIADOR, 1821, nº 2)

O jornal contou com 210 números, e circulou até o dia16 de julho de 1823.

Ainda na década de 1820, o Maranhão se viu afetado por dois movimentos, aos quais teve que aderir: a Revolução do Porto11 e a Independência do Brasil. Nesse período, foi necessário administrar revoltas e pensar em mudanças na sua economia que se refletissem de forma positiva sobre o desenvolvimento da Província. A política começou a sentir reflexos da ação conservadora da classe dominante, influenciando a imprensa, que sentia a falta de liberdade para se expressar.

Cabe ressaltar que, para o Maranhão, foi difícil pensar em aderir à Independência do Brasil12, pois as elites agrícolas e pecuaristas maranhenses eram muito ligadas à Metrópole. Na capital, a facilidade de acesso a Lisboa era justificada pela maior proximidade com a Europa, o que facilitava o intenso tráfego marítimo com fim nas trocas comerciais (SOARES; SILVA, 2016). Mesmo assim, a Adesão aconteceu no dia 28 de julho de 1823.

Nos primeiros anos do Império, vemos se expandirem na capital, São Luís, tipografias, jornais, biblioteca e escolas. Estas últimas foram fortemente influenciadas pela Lei de 15 de outubro de 1827, que determinou a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos mais populosos. O número de escolas no Maranhão saltou de 14 para 24.

Do final da década de 20 para o início da década de 30 dos oitocentos, o comércio de livros começa a ter circulação maior nas livrarias, lojas e boticas, assim como as tipografias começam a intensificar seu trabalho de impressão.

Em 1838 foi fundado o Liceu Maranhense13, escola pública secundária que educava os meninos para entrarem no ensino superior. Nesse ano, a obrigatoriedade escolar já era discutida. Vicente Tomás Pires de Figueiredo, presidente da Província, ao pensar na instrução pública, “afirmava que uma das soluções possíveis seria garantir a todos os meninos

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Movimento militar que começou em 1820, na cidade do Porto e se alastrou pelo resto de Portugal. Acarretou consequências na história de Portugal e esteve intimamente ligada aos rumos da história brasileira no século XIX.

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O Maranhão foi obrigado a aderir à independência do Brasil em 28 de julho de 1823.

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uma instrução básica de primeiras letras, independente do desejo e da vontade dos pais e tutores” (CASTRO, 2013, p. 104). Nos dois anos seguintes, essa tese foi reforçada tanto por Manoel Felizardo e Melo quanto por Antonio de Miranda, que destacavam que outras medidas para a garantia da instrução deveriam ser pensadas, desde os métodos de ensino até os materiais que deveriam ser utilizados em sala de aula.

O início da década de quarenta, após o término da revolta da Balaiada14, encontra um Maranhão com sequelas desse movimento, o que mexeu com sua reorganização política, econômica e educacional, diminuindo sua riqueza, paralisando a indústria, desmontando a máquina social.

Procurando, então, investir na educação (ou seria investir em mão-de-obra?), o governo cria em 1841 a Casa dos Educandos Artífices15, com a justificativa de oferecer um ofício aos meninos pobres e desvalidos. Ainda nesse ano, é criada a Inspetoria Geral da Instrução Pública, que só veio funcionar de fato, em 1844.

Em 1849, a obrigatoriedade escolar é novamente discutida, quando o então Presidente da Província, Herculano Ferreira Pena, junto a uma comissão, organiza um plano de reforma para a instrução pública maranhense, com as seguintes medidas:

a) gratificar os professores proporcionalmente ao número de alunos que frequentava a cada mês as aulas, até no máximo de 40; b) remover os professores de um lugar para outro, onde a ausência de alunos era evidenciada pelos mapas escolares, e c) deixava claro, que a obrigatoriedade seria uma condição indispensável para a conservação e funcionamento das escolas. (CASTRO, 2013, p.105)

Foi também na década de 1840 que a educação feminina teve uma representante, Dona Martinha Abranches, que funda em São Luís a primeira instituição escolar particular para meninas, o Colégio Nossa Senhora da Glória16.

Na década de 1850 o Maranhão conhece um período de paz e de prosperidade, que se estende pela década seguinte, tornando-se um dos beneficiários econômicos da guerra civil americana17, pois a Província ainda é produtora de algodão, e a capital, São Luís, muito se enriquece com isso.

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Revolta popular ocorrida no Maranhão entre os anos de 1838 e 1841, ocasionada pela insatisfação da população pobre da Província contra o monopólio político de um grupo de fazendeiros da região que usavam a força e violência para atingirem seus objetivos políticos e econômicos.

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Ver capítulo 4.

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Ver capítulo 4.

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Esta guerra destruiu a economia americana, principal fornecedora de algodão para a Inglaterra – que era a mais importante economia industrial no período em que a indústria têxtil era o primeiro ramo da indústria. Com a Guerra os ingleses precisam de novos fornecedores de algodão, e o Maranhão é um deles.

O primeiro regulamento governamental que buscou organizar o ensino foi aprovado em 02 de fevereiro de 1854. Através dele, o ensino primário público foi dividido em escolas de primeiro grau e de segundo grau. Para este regulamento, os escravos continuavam excluídos das escolas e as meninas, do ensino público primário de segundo grau. Segundo Castro (2013), ainda que a obrigatoriedade do ensino estivesse presente nas discussões de que se ocupavam os inspetores de ensino e os Presidentes da Província, antes desta data não foram encontradas leis específicas que a regulamentasse de fato.

Em 1855, o inspetor Caetano José da Silva traz à tona novamente a discussão sobre a obrigatoriedade do ensino no Maranhão, chegando a citar as experiências estrangeiras, como as da Alemanha, Áustria, Holanda e Prússia, para reforçar, por exemplo, que assim como nestes países, todas as pessoas deveriam saber ler, escrever e contar.

A década de 1860 é de suma relevância para o desenvolvimento de São Luís. A cidade se torna conhecida como “Atenas Brasileira”, por reunir um grande número de intelectuais do país, como Antonio Gonçalves Dias18, Francisco Sotero dos Reis19, Manuel Odorico Mendes20 e João Francisco Lisboa, que faziam parte do “Grupo Maranhense21”.

Figura 4: Parte do Grupo Maranhense:Gonçalves Dias, Sotero dos Reis, Odorico Mendes e João Lisboa. Fonte: Livros da Biblioteca Pública Benedito Leite.

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Maranhense (1823 – 1864), nasceu em Caxias. Foi poeta, advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo. Famoso por ter escrito a "Canção do Exílio" (um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira). Foi um dos expoentes do romantismo brasileiro.

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Maranhense (1800 – 1871), nasceu em São Luís. Foi jornalista, poeta e escritor. Tornou-se o primeiro gramático maranhense e o primeiro diretor do Liceu Maranhense.

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Maranhense (1799 – 1864), nasceu em São Luís. Foi político, tradutor, poeta, publicista e humanista brasileiro. Traduziu para o português obras de Virgílio e Homero, sendo precursor da moderna tradução criativa.

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Referência ao grupo de grandes literários maranhenses do século XIX, que contava ainda com Trajano Galvão, Joaquim Gomes de Souza, Joaquim Serra, Gentil Braga, Pedro Nunes Leal, César Augusto Marques, Antônio Henriques Leal, Antônio Marques Rodrigues, Luís Antônio Vieira da Silva, Candido Mendes, Frederico José Corrêa, Francisco Dias Carneiro, Antônio Joaquim Franco de Sá.

Este grupo conseguiu produzir e colocar em circulação obras de literatura não apenas no Maranhão, mas no Brasil:

Não houve como negar que, de algum modo, os letrados da Província na primeira metade do século XIX no Maranhão, a exemplo de Gonçalves Dias, João Lisboa, Odorico Mendes e Sotero dos Reis, não tenham cumprido o seu papel de elite intelectual, ou seja, como indivíduos a quem foi atribuída a tarefa de elaborar uma determinada visão de mundo, de transmitir um ideário de conhecimentos que acabaram por se consolidar como um sistema explicativo de determinada época. Em outras palavras, foi a ação específica de personalidades como as do chamado Grupo Maranhense que possibilitou a elaboração, a posteriori, da simbologia da “Atenas Brasileira”. (RESENDE, 2007, p. 77)

É ainda na década de 1860 que a cidade de São Luís recebe o conjunto arquitetônico da Praia Grande. Foram construídos grandes casarões em estilo europeu, com azulejaria portuguesa e calçadas com pedra de cantaria, onde viviam os grandes comerciantes e ricos fazendeiros (VIVEIROS, 1953).

Figura 5: Casarões de São Luís construídos no século XIX. Fonte: Cartão Postal antigo de São Luís, 1915.

A elite maranhense ostentava títulos de Barão e Baronesa e passou a ser reconhecida pelo requinte e boas maneiras (MEIRELES, 2001).O largo da Igreja do Carmo22 era ocupado por grupos de pessoas que se reuniam todos os dias para comentar sobre a vida da cidade. Eram poetas, estudiosos, comerciantes e jornalistas que se deslocavam de seus casarões por ladeiras, becos e ruas, e se encontravam para discutir arte, literatura e política.

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Em 1901 passou a ser chamado de Praça João Lisboa, em homenagem à memória do jornalismo maranhense de mesmo.

Figura 6: Largo do Carmo ou Praça João Lisboa, centro cultural de São Luís no século XIX. Fonte: http://jornalpequeno.blog.br/dinacycorrea/category/historia-do-maranhao/

Em 1868, inicia-se o ciclo do açúcar que perdura até 1894. Na década de 1870, a cidade de São Luís ainda continuava a crescer, mas lentamente, em sua economia. Surgem mais escolas e são criadas instituições que se preocupavam com a melhoria da educação, tais como a Sociedade Onze de Agosto23.

Em 1871, o Jornal “Publicador Maranhense” dá espaço a artigos24

que, novamente, trazem informações sobre a obrigatoriedade escolar em outros países, como a Alemanha, a Prússia e a Áustria, com o intuito de deixar a sociedade maranhense a par do que estava sendo discutido, pois nesses países, “escolas eram construídas e firmavam-se como um espaço privilegiado para combater ‘o mal de todos os males’, a ignorância” (CASTRO, 2013, p. 101). O objetivo era conscientizar o governo e sociedade sobre a importância da obrigatoriedade da educação escolar.

Em 1874, surge outro regulamento da Instrução Pública, através da Lei nº 1.091 de 17 de junho, que avança no sentido de não mais proibir os escravos de frequentarem a escola e cria pela primeira vez um Conselho de Instrução, formado por lentes do Liceu, sob a presidência do inspetor da Instrução. Sobre essa lei, destacamos que o ensino primário era obrigatório e os pais, tutores, curadores ou protetores responsáveis pelos meninos maiores de sete anos que não os permitissem a educação escolar estariam sujeitos a multas. E ainda, sobre esse ensino, manteve-se,

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Ver capítulo 4.

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[...] dividido em escolas primárias de 1º grau, que ofereciam um ensino bastante elementar, e escolas primárias de 2º grau, que previam conteúdos mais ricos; a educação feminina permanecia restrita às escolas do primeiro tipo; mantinha a obrigatoriedade do ensino; estabelecia entre os meios disciplinares castigos que excitem o vexame; determinavam penas a serem impostas aos professores que não cumprissem com suas obrigações; regulamentavam o provimento das cadeiras através de concurso e concedia vitaliciedade aos professores concursados com mais de cinco anos de exercício. (SALDANHA, 2008, p.134-135)

No final da década de 1880, a produção de algodão no Maranhão começa a decair em decorrência da recuperação da produção pelos norte-americanos, após o fim da Guerra Civil dos Estados Unidos da América. O Maranhão entra em colapso, a capital São Luís foi fortemente afetada, entrando em crise devido a essa situação, agravada ainda pela abolição da escravatura.

Com a Lei Áurea (1888), o Maranhão se viu desestabilizado, pois sua economia agrário-exportadora enfrentou a queda de sua mão-de-obra, essencialmente escravagista.

Cerca de 70 por cento dos engenhos de cana e 30 por cento das fazendas algodoeiras, fecharam as portas. As nossas propriedades agrícolas sofreram uma desvalorização instantânea de 90 por cento e os nossos grandes latifundiários, perdidos o enorme capital na escravatura [...]. (MEIRELES, 2001, p.259)

A educação passou por dificuldades, pois as escolas se viram obrigadas a mudarem sua constituição para que os trabalhadores livres fossem incluídos no processo de escolarização. Essa inserção não foi fácil.

No ano de 1889, quando foi proclamada a República do Brasil, a própria população ludovicense destruiu a espiral de mármore do pelourinho que ainda ficava em frente à Igreja do Carmo, mesmo após a libertação dos escravos.

Uma das soluções para tentar resolver toda essa crise foi investir na indústria têxtil em detrimento da produção agrícola. Entre 1890 e 1892, período conhecido como loucura industrial, segundo Meireles (2001), os ricos fazendeiros tentaram transformar o Maranhão, escravocrata e agrícola, num parque industrial de trabalho livre. O movimento desse setor contribuiu para o crescimento geográfico de São Luís, com o surgimento de novos bairros.

Figura 7: Prédio da Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil, fundada em 1893. Fonte: Gaudêncio Cunha, 1908.

Mas, com o quadro de decadência já iniciado, o projeto de industrialização do Maranhão não trouxe os resultados esperados. Segundo Saldanha (2008, p. 40), “o parque fabril maranhense enfrentou dificuldades logo depois de sua criação, por não dispor do consumo para sua produção e pela dificuldade em dispor de matéria-prima, uma vez que, com a alta do algodão, era mais rendoso para os fazendeiros exportá-lo”.

No âmbito geral, as últimas décadas do Império e as primeiras da República no Brasil são marcadas por um movimento intenso de debates e iniciativas no âmbito da

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