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A recepção e a permanência de migrantes e refugiados na Universidade Federal do Paraná

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Academic year: 2021

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A RECEPÇÃO E A PERMANÊNCIA DE MIGRANTES E REFUGIADOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ1

Elaine Cristina Schmitt Ragnini2 Graziela Lucchesi Rosa da Silva3 Luana Lubke de Oliveira4 Manuela Busato5

INTRODUÇÃO

Os movimentos migratórios constituem-se como fenômeno social presente no curso da história e da cultura humana, não sendo, portanto, um fenômeno exclusivo da atualidade. Certamente, em cada momento histórico em que aparece como fenômeno, possui contornos particulares, como aqueles referentes aos “padrões espaciais, causas e consequências, formas e tipos de movimento, duração e grupos que migram” (VENDRAMINI, 2018, p. 243). Em certa medida, pode-se dizer que está ligado às condições materiais, sociais e políticas de seu tempo e contexto. No cenário mundial atual, a pauta das migrações atinge dimensões globais e passou a ocupar um lugar de importância no desenvolvimento de políticas públicas de diversos países, na medida em que há um crescente número de pessoas que precisam migrar de seus países de origem devido a conflitos sociais, desastres naturais ou violação dos direitos humanos.

Nos últimos anos, o Brasil tem se inserido nas rotas desses fluxos migratórios: segundo dados do CONARE (2019), até dezembro de 2018 o país recebeu 161.057 solicitações de reconhecimento da condição de refúgio, além de haver 11.231 mil pessoas residentes nos país reconhecidas enquanto refugiadas. A questão que emerge diante disso é se as instituições brasileiras refletem, política e socialmente, uma prática interna de acolhimento que de fato propicie a tais sujeitos condições dignas de existência e de permanência no território. Afinal, o processo de entrada do fluxo de migrantes6 no país não foi acompanhado de uma mudança

1

Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

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Professora do Departamento de Psicologia da UFPR. E-mail: elaineschmitt@hotmail.com

3

Professora do Departamento de Psicologia da UFPR. E-mail: grazielaluc@hotmail.com

4

Graduanda em Psicologia na UFPR. E-mail: luanalubke@gmail.com

5

Graduanda em Psicologia na UFPR. E-mail: manucobusato@gmail.com

6 Vale comentar sobre os termos “imigrantes”, “emigrantes” e “migrantes”. O primeiro deles se refere

a pessoa que migra do ponto de vista do país de destino e o segundo do país de origem. Já o termo migrante parte da perspectiva do próprio sujeito que migra e, por isso, será o utilizado neste trabalho.

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significativa, humana e necessária na legislação referente às políticas migratórias (FRIEDRICH; GEDIEL, 2014).

Nesse cenário de escassez de políticas públicas governamentais efetivas voltadas à população de migrantes e refugiados no Brasil, a atuação da sociedade civil e das universidades públicas tornam-se relevantes para o desenvolvimento de atividades de acolhimento, bem como para debates sobre a revisão e reformulação de dispositivos normativos que contemplam – ou não – esse público. Foi nesse contexto que, em 2013, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) firmou acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR-BRASIL) para o desenvolvimento da Cátedra Sérgio Vieira de Mello na instituição. Por ser signatária da cátedra, a UFPR comprometeu-se com o desenvolvimento de ações de ensino, pesquisa e extensão abordando a questão das migrações internacionais (FRIEDRICH et al., 2018). O Programa de Extensão e Pesquisa Política Migratória e Universidade Brasileira (PMUB) foi estruturado com o objetivo de promover “ações e projetos de extensão realizados conjuntamente por diversos cursos e direcionados ao atendimento de demandas de migrantes e refugiados, residentes na cidade de Curitiba e região metropolitana” (FRIEDRICH et al., 2018, p. 73).

O PMUB é hoje composto por cinco projetos de extensão: Projeto Português

Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH – Letras); Projeto de Extensão

Migrações, Refúgio e Hospitalidade (Direito); Projeto de Extensão Desenvolvimento de Cursos de Capacitação em Informática para Imigrantes (Informática); Projeto de

Extensão Migração e Processos de Subjetivação: Psicologia, Psicanálise e Política

na Rede de Atendimento aos Migrantes (Psicologia); e Projeto de Extensão Os caminhos do SUS (Medicina). Além desses projetos, ações do Curso de Sociologia

(Observatório das Migrações), História (Curso de História do Brasil para migrantes) e Comunicação Social, compõem o PMUB.

A partir da experiência da equipe de Psicologia no PMUB com a população de migrantes e refugiados residentes em Curitiba e região metropolitana, o artigo em questão visa contribuir para a discussão acerca do atendimento em rede a essa população, especialmente no que se refere a uma política de acesso e permanência dos migrantes na Universidade.

A relevância e necessidade de uma análise crítica sobre as políticas e as práticas de acolhimento e de permanência na Universidade se faz evidente na medida em que grande parte das demandas trazidas em atendimentos realizados

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durante o plantão da equipe do PMUB se referem a questões de acesso e de inserção no meio acadêmico. De fato, das 273 demandas registradas entre janeiro e agosto de 2019, 120 se referiam a questões de acesso ao Ensino Superior e 4 ao Programa de Mestrado; 21 dos atendimentos diziam respeito à permanência no meio acadêmico; 69 consistiram em inscrições para a revalidação de diploma pela UFPR; 18 atendimentos orbitavam questões de acesso ao Ensino Médio público de educação e a aulas gratuitas de português. Isso põe em relevo o valor que é atribuído por essa população ao espaço acadêmico e escolar, por vezes associados, em seus relatos, como principais meios de adquirir uma boa qualidade de vida no país.

Por outro lado, a experiência da equipe de Psicologia na tutoria dos alunos (re)ingressos na UFPR faz constatar que essa expectativa frente à instituição, bem como a permanência nesta, são permeadas por dificuldades que não são de todo contempladas por editais e pela política interna da universidade. Há, portanto, contratempos e limites para a inserção e manutenção dos estudantes no meio acadêmico, o que reporta tanto à dinâmica institucional da Universidade como às condições individuais e contextuais da vida de cada migrante. Reconhecer e refletir sobre esses limites é essencial para o trabalho com essa população, especialmente porque as intervenções se dão a partir de equipes multiprofissionais e em rede. Ainda, deve-se estar advertido que não se deve reduzir a questão ao fato de tais migrantes “serem de fora” ou pelas diferenças que representam.

Diante do interesse crescente dessa população nos processos de revalidação de diploma e de ingresso na UFPR – e na educação como um todo –, faz-se necessário analisar as condições de inserção e de permanência dos estudantes propostas pela instituição, de tal forma a levar em consideração também as singularidades do ensino e da inclusão no âmbito da migração. Tal análise será realizada ao discutirmos tanto a prática de atendimentos psicossociais quanto da tutoria com sujeitos migrantes e refugiados. Enfim, apontamos para a importância de possibilitar espaços para que expressem suas vivências enquanto sujeitos, para que relatem suas histórias de vida e de migração – para que ocupem ativa e simbolicamente os âmbitos político, jurídico e social da realidade. Afinal, a gestão ou (re)formulação de políticas públicas que de fato propiciem condições dignas de existência e de permanência no país envolvem (ou deveriam envolver) a participação ativa dessa população enquanto corpos políticos. Neste sentido, na

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primeira parte do texto, relativa aos atendimentos psicossociais realizados em plantão pela equipe, abordamos uma análise das demandas com as quais nos deparamos em nossa práxis. Na segunda parte, trazemos ao conhecimento um estudo dos relatos de estudantes (re)ingressos na instituição, que são acompanhados pela equipe de psicologia pelo programa de tutoria, apontando para as questões que nos trazem a partir de suas vivências na Universidade - que são atravessadas também por questões de inserção no campo social como um todo.

METODOLOGIA

Como exposto, a população-alvo do PMUB é constituída pelos migrantes e refugiados residentes na cidade de Curitiba e região metropolitana. Para atender a esta população, o programa conta com uma sala de portas abertas situadas no prédio histórico da UFPR, conhecida como Sala 28. Nesta, os estudantes extensionistas se revezam em uma escala de plantão de modo que a sala permaneça aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h. Sendo assim, migrantes desta região chegam ao espaço com demandas das mais variadas, que são acolhidas e encaminhadas por graduandos, pós-graduandos e docentes dos cursos de Psicologia e de Direito. Faz-se importante ressaltar que alguns destes atendimentos ocorrem de maneira conjunta pela equipe, havendo por vezes uma troca de conhecimentos e informações entre alunos, professores e mestrandos das diferentes áreas do conhecimento para a fundamentação de um encaminhamento singular ao caso. Portanto, o atendimento na Sala 28 é dinâmico, inter e multidisciplinar, e objetiva trabalhar o caso-a-caso, contextualizando a demanda e identificando encaminhamentos pertinentes a cada situação.

Com o propósito de quantificar e apontar para as demandas trazidas pela população à equipe do PMUB, foi realizado uma codificação temática (FLICK, 2009) dos dados, em que as 273 demandas referentes ao período de janeiro à agosto de 2019 identificadas no registro do Projeto foram selecionadas, codificadas e agrupadas em 13 temas diferentes de demandas. Cabe ressaltar que algumas demandas foram trazidas em um mesmo atendimento, por uma mesma pessoa, mas contabilizadas separadamente conforme o tema. Além disso, é importante indicar que alguns dos dados coletados são referentes a atendimentos realizados e registrados pela equipe de Psicologia em conjunto com a equipe do Direito do

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Programa, principalmente os que se referem a inscrição em processos seletivos da instituição.

Também foi realizado um estudo de caso, como proposto por Bardin (2010), a partir de atendimentos individuais e em grupo realizados pela equipe de Psicologia nas atividades de tutoria com os estudantes migrantes (re)ingressos na UFPR. Realizou-se, então, a sistematização e categorização dos dados, com posterior análise dos mesmos.

OS ATENDIMENTOS PSICOSSOCIAIS COMO MEIO DE CONTATO COM AS DIFICULDADES DIÁRIAS DE MIGRANTES E REFUGIADOS EM CURITIBA

Com o objetivo de apontar para as questões que nos são trazidas e de situá-las nos contextos social, cultural e político brasileiro, realizamos uma codificação temática (FLICK, 2009) das demandas trazidas em atendimentos registrados pela equipe do PMUB. Foram 273 demandas identificadas, classificadas e agrupadas em 13 temas diferentes.

Fonte: Relatórios do PMUB registrados em atendimentos realizados na sala 28.

Constata-se uma prevalência de demandas sobre os processos especiais de (re)ingresso na UFPR: foram 67 atendimentos para a inscrição no Vestibular

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Especial para refugiados e 51 para o Processo de Reingresso. A Revalidação de Diploma pela instituição também é muito procurada, contabilizando 69 vezes em que a equipe trabalhou essa questão. As 21 demandas agrupadas em “Tutoria” consistem em questões de permanência no âmbito acadêmico levadas à equipe de Psicologia por alunos migrantes e refugiados da UFPR – como dificuldades em matérias e na elaboração de textos acadêmicos, dificuldade para realizar trabalhos em grupo, questões emocionais e interpessoais, por exemplo. Ademais, ainda sobre questões acadêmicas, foram 4 demandas para informações sobre o Programa de Mestrado da UFPR.

Outro serviço do PMUB muito buscado pela população é a aula de Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH). Foram 17 vezes em que o serviço foi procurado, o que se explica pelo fato de trabalharmos frequentemente com migrantes recém-chegados no Brasil, que buscam o conhecimento linguístico para uma maior autonomia e maiores possibilidades de conseguir um emprego e de retomar seus estudos.

A categoria CONARE, contabilizada em 15 vezes, diz respeito a agendamentos de entrevistas para a concessão do visto de refúgio e é uma das demandas mais recorrentes trazidas à Sala 28, uma vez que essas entrevistas ocorrem em mutirões mensais realizados na sala. Também é notável a quantidade de pessoas que solicitam informações sobre o mercado de trabalho (9), sendo que, dentro desta classificação, estão em grande parte demandas por auxílio na elaboração de currículos. Isto se explica pelo fato de que nos deparamos com muitos migrantes desempregados ou com empregos autônomos e que, pela diferença cultural entre os processos de elaboração de currículo, ou pela dificuldade na tradução de informações, levam à equipe do PMUB a necessidade de auxílio e de maiores informações sobre a questão. É importante ressaltar que já atendemos desde migrantes que eram grandes empresários no país de origem, a pessoas com breve experiência laboral, demonstrando mais uma vez o caráter diverso e hegemônico do perfil do público-alvo. Ademais, no âmbito do trabalho, também lidamos com questões de violação de direitos trabalhistas (2), o que constatamos ser recorrente na trajetória laboral de migrantes e refugiados no Brasil.

O tema “Violência Doméstica” diz respeito às duas vezes em que nos foi solicitado pela Delegacia da Mulher o contato de intérpretes para o acompanhamento do caso de violência doméstica contra uma mulher haitiana,

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recém chegada no Brasil. A equipe de Psicologia acompanhou a intérprete nas duas ocasiões e salientamos a importância de atentar para a questão, na medida em que casos de violência (doméstica ou não) contra mulheres migrantes no Brasil são frequentes. Nem sempre tais casos chegam até o PMUB, pelo fato de que há situações em que a vítima não fala bem o português, ou tem algum conhecido próximo para intermediar os encaminhamentos da situação.

Já a Institucionalização de Associações (2) se refere a reuniões realizadas para fins de discussão sobre a burocracia de institucionalizar uma associação – no caso, de estudantes haitianos e de mulheres nacionais da República Democrática do Congo. Organizações como estas se mostram importantes por fomentar o fortalecimento do grupo e de sua autonomia frente a questões de vida no Brasil.

Enfim, na categoria “Outros” estão agrupadas 13 demandas, a saber: duas demandas para o curso de informática oferecido pelo PMUB; informação sobre acesso ao SUS; atendimento psicológico oferecido pelo Projeto; informação sobre cadastro em bolsa de estudos para Iniciação Científica; interesse em participar dos plantões da sala 28 para monografia; informação sobre o protocolo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR); solicitação para visto de estudante; informação sobre visto de permanência; inscrição no Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE); informação sobre Ensino Fundamental público; inscrição na revalidação de diploma pela plataforma Carolina Bori7 ; inscrição em processo seletivo da UNILA.

Observa-se, a partir dos dados, que as demandas mais recorrentes na sala 28 são referentes ao interesse nos processos de ingresso na UFPR, tanto pela graduação quanto pela pós-graduação: dos 273 atendimentos realizados em plantão pela equipe de psicologia entre janeiro e agosto de 2019, cerca de 45% são referentes a essa questão. Alguns dos que procuram o (re)ingresso na instituição, inclusive, têm mais de uma graduação no currículo e tinham um bom cargo profissional antes do processo migratório. Isto corresponde aos resultados da primeira pesquisa sobre o perfil socioeconômico dos refugiados no Brasil (2019), em que se constatou que os refugiados apresentam elevado capital linguístico e capital escolar acima da média brasileira (ACNUR, 2019).

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Esta plataforma refere-se ao sistema do Ministério da Educação para gestão e controle de processos de revalidação e reconhecimento de diplomas estrangeiros no Brasil.

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Contudo, um bom nível de qualificação não implica maiores oportunidades no campo do trabalho, o que se evidencia pelo número de atendimentos que realizamos sobre mercado de trabalho e questões de violação de direitos trabalhistas – que representam 4% das demandas contabilizadas entre janeiro e agosto de 2019. Faz-se importante ressaltar que é frequente o relato, por parte de migrantes e refugiados, de situações de racismo e de xenofobia sofridas no ambiente de trabalho, assim como situações de longas jornadas de trabalho sem carteira assinada e com um salário inferior ao salário mínimo. Diante de uma grande demanda de empregabilidade, muitos migrantes acabam se sujeitando a tais condições, e, por vezes, permanecem nesse ambiente por escassez de oportunidades trabalhistas. Isto reforça a necessidade de se discutir o acolhimento e o atendimento em rede dessa população, na medida em que essas problemáticas são facilitadas pela falta de acesso à educação pública brasileira e pelos empecilhos que enfrentam no processo de revalidação de diploma no Brasil.

De fato, segundo o perfil socioeconômico dos refugiados no Brasil (ACNUR, 2019), apenas 14 refugiados residentes no país já revalidaram seus diplomas – sendo que a UFPR revalidou 11 pedidos. O serviço de revalidação de diplomas pela UFPR é muito procurado, em detrimento da plataforma Carolina Bori, pelo fato de que migrantes com visto humanitário ou de refúgio têm a possibilidade de justificar a ausência de certos documentos, devendo compensá-la pela realização de provas aplicadas pelas coordenações dos cursos. Não ao acaso, a busca pelo serviço representa 25% das demandas contabilizadas. Mesmo diante de um avanço importante na diminuição de burocracias para a revalidação de diplomas, o número de aprovados no processo não é expressivo.

Ademais, também houve demanda para a revalidação de diplomas técnicos (2 atendimentos), no entanto, para cursos que não são ofertados pela Universidade. Não há muitas instituições brasileiras que revalidam diplomas técnicos e, mesmo quando há, muitas vezes não abarcam uma grande variedade de cursos – o que gera frustração aos que, mesmo diante de uma experiência laboral na área, vêem-se impossibilitados de exercer a profissão no Brasil.

Os migrantes e refugiados, tal como bem aponta Jardim (2017), possibilita-nos um maior conhecimento sobre as rotinas burocráticas que os orientam e sobre o funcionamento de instituições nacionais, de modo muito mais explícito do que sabemos enquanto “nacionais”. Constatamos, através de suas experiências de

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migração, que as materialidades, leis e exigências documentais são condições que não só interferem em suas decisões no processo migratório, mas que persistem em suas vidas cotidianas no país enquanto atravessamentos que demandam deles – e de seus interlocutores não migrantes – diversos esforços e mobilizações (JARDIM, 2017). De fato, a metodologia interdisciplinar e o trabalho em rede do Projeto no atendimento à comunidade de migrantes e refugiados abre possibilidades para um acolhimento muito abrangente de demandas e dificuldades, o que faz com que constatemos a forma como dispositivos normativos, somado à invisibilização das questões da migração, impactam diretamente nos fluxos e qualidade de vida dessa população.

Mas a equipe também se depara com desmistificações de estigmas construídos socialmente quanto à imagem do indivíduo migra. É por vezes concebido como um aventureiro sem estudo, um “ladrão de empregos nacionais” – ou como sujeitos deslocados, órfãos de suas culturas, como se a perda do lugar coincidisse com a dissolução da identidade (PUSSETI, 2017). Na prática, constata-se que são sujeitos articulados, cientes de constata-seus direitos enquanto migrantes no Brasil e com projetos de vida a serem reconstruídos e construídos no país.

A TUTORIA E AS VIVÊNCIAS DE MIGRANTES NO ÂMBITO ACADÊMICO

Os movimentos migratórios contemporâneos apresentam múltiplas determinações que se referem tanto à motivos singulares quanto às particularidades de cada país no contexto capitalista. Estas determinações refletem nas formas de inserção do migrante no país de destino e as atividades de trabalho e de estudo representam importante possibilidade de integração e reformulação de projetos de vida (MARTINS-BORGES, 2018 apud FERREIRA, 2019).

No contexto universitário, Ferreira (2019) comenta que encontramos diferentes perfis de alunos migrantes de acordo com as características do movimento migratório. No âmbito da migração voluntária, há aqueles que migram de maneira autônoma possuindo recursos financeiros próprios para financiar os estudos no exterior; e aqueles que tiveram acesso à bolsas de estudos de cooperação educacional entre países. Há também os estudantes que saíram de seus países de origem devido a vulnerabilidade econômica e reformulam seus planos acadêmicos no país de destino. Em muitos casos de migração voluntária ela é temporária e o estudante retorna a seu país de origem após o término da graduação ou

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pós-graduação. Já no âmbito da migração involuntária, os refugiados ou imigrantes humanitários – que foram forçados a migrar para sua própria proteção – a universidade representa uma possibilidade de recomeçar suas vidas no país de acolhimento. Estas migrações involuntárias muitas vezes são caracterizadas pela escassez – ou mesmo ausência – de preparo para a saída do país e chegada no destino (MARTINS-BORGES, 2017).

Devido às características dos tipos de deslocamento forçado, a Lei do Refúgio (Lei 9474/97) determina que as condições de ingresso em instituições acadêmicas devem ser facilitadas, considerando inclusive a possibilidade da ausência de alguns documentos devido à saída do país de origem em condições desfavoráveis. Neste sentido, em 2014 a UFPR aprovou as normas para acesso de migrantes portadores do status de refúgio ou do visto de migração humanitária nesta instituição8. Através desta política de acesso, desenvolveu-se o processo seletivo conhecido como Reingresso, ou seja, estudantes que precisaram interromper a graduação no país de origem devido à migração forçada, podem concorrer a vagas remanescentes em cursos compatíveis na UFPR.

Outra forma de ingresso desses migrantes na instituição ocorre por um processo seletivo especial (vestibular) anual exclusivo para migrantes com visto humanitário e refugiados, instituído em 20189 pela Resolução 63-18 – CEPE. Conforme esta resolução, são previstas para 10 vagas suplementares anuais nos cursos de graduação e nos cursos técnicos de nível pós-médio. Tais vagas são preenchidas por escolha dos candidatos conforme a ordem de classificação no processo seletivo em questão.

Deste modo, atualmente são cinquenta e três haitianos, onze venezuelanos, cinco congoleses (três da República do Congo e dois da República Democrática do Congo), nove sírios, três guineenses, três beninenses, dois peruanos, um iraniano, um jordano e um angolano que estudam na UFPR10, totalizando 89 alunos migrantes humanitários e refugiados. Deve-se ressaltar que a presença destes estudantes enriquece o ambiente universitário em diversidade cultural, no entanto, a partir da

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Resolução 13/14-CEPE, UFPR. Disponível em: http://www.soc.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2016/07/resolucao_cepe_09072014-902.pdf. Acesso em: set. 2019.

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Resolução 63/18-CEPE, UFPR. Disponível em: http://www.soc.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2018/11/cepe-63-18-vagas-suplementares-migrantes.pdf. Acesso em: set. 2019.

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Estes dados se referem a estudantes que ingressaram pelos sistemas de ingresso mencionados. Além destes há também estudantes estrangeiros ingressos pelo vestibular próprio da UFPR e pelo convênio PEC-G.

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atuação do projeto da psicologia junto a estes estudantes, constata-se que o processo de integração neste contexto pode ser acompanhado de dificuldades e especificidades que não são contemplados pelas políticas de acolhimento da instituição. Neste sentido, cabe pontuar questões referentes às normativas e políticas de acesso que estão envolvidas no processo de integração dos estudantes migrantes na universidade.

A resolução que regulamenta o processo de reingresso determina que o colegiado do curso elabore uma proposta de percurso acadêmico na UFPR,

caracterizado por duas fases: a fase de adaptação – que deve considerar a

possibilidade de dificuldades iniciais com o idioma português – e outra de

regularização e periodização do estudante. Apesar disto, a resolução não especifica que tipo de apoio cabe às coordenações, tampouco clarifica o que deveria compor esta fase inicial. A resolução também determina que haverá um professor tutor e estudante(s) instrutor(es) designados pela coordenação do curso para apoiar o estudante. As funções destes tutores também não são especificadas e eles não são figuras recorrentes no relato dos estudantes reingressos na tutoria, o que possivelmente indica que não estão presentes no cotidiano de estudo destes.

Ademais, faz-se importante ressaltar que muitos estudantes migrantes acompanhados na tutoria concluíram um número variado de semestres da graduação em seus países de origem configurando-se, portanto, como um grupo heterogêneo. Deste modo, é necessário um acompanhamento no que concerne, por exemplo, à orientação em relação à solicitação de equivalências e matrículas em disciplinas semestrais. Este plano de percurso acadêmico precisa ser elaborado de maneira individualizada e em conjunto com o estudante considerando suas condições atuais de estudo, suas dificuldades e potencialidades. Nas palavras de Gunter e Gunter (1986 apud ANDRADE; TEIXEIRA, 2009), o estudante nesta condição ”precisa aprender uma grande variedade de papéis culturalmente definidos e não familiares num curto período de tempo, sob considerável estresse”. Ante tal situação, faz-se necessário investigar quais são os elementos envolvidos no processo de integração de estudantes refugiados e migrantes humanitários no contexto universitário brasileiro, de modo a planejar ações que facilitem este processo.

Em relação a estudantes estrangeiros, alguns autores (SEDIYAMA, 2012; OLIVENCIA, 2014; RUEBELT, 2011 apud FERREIRA, 2019) apontam que o

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processo de preparação para a imigração tem influência direta na integração deste estudante no novo contexto universitário e a ausência de informações sobre este pode intensificar as dificuldades enfrentadas inicialmente. No cotidiano universitário ficam evidentes diferenças referentes a estrutura da universidade brasileira e a da

universidade do país de origem – grades curriculares, organização de departamento,

dentre outros – sendo fundamental, portanto, investigar as expectativas,

conhecimentos e dúvidas que cada um dos estudantes tem em relação à universidade na qual ingressou.

Durante uma destas atividades focadas no acolhimento de calouros, o Acolhimento Linguístico de 201911, foram discutidas as motivações de cada um para retomar os estudos no Brasil. A partir desta atividade podemos pontuar o caráter involuntário da migração destes estudantes, provocada por conflitos e desastres de diversas ordens. Sendo assim, a universidade não consiste somente em um local de apropriação de conhecimentos visando a melhores condições de vida, mas apresenta-se como um espaço para que o sujeito possa existir e reconstruir seus referenciais na nova pátria. No contexto migratório, a universidade também representa uma oportunidade de retomar ou reformular projetos de vida.

Uma vez iniciado o curso, esses estudantes podem se deparar com a contradição entre as expectativas que tinham em relação à universidade e à realidade vivenciada nela, o que pode culminar na evasão do estudante. Em revisão à literatura científica brasileira sobre o tema da evasão no ensino superior, constata-se que boa parte dela remete este fenômeno aos próprios estudantes, desconsiderando questões institucionais e relacionais que estão envolvidas neste processo (ROCHA et al., 2017). Deste modo, torna-se urgente refletir tanto sobre os aspectos institucionais envolvidos na evasão universitária quanto realizar ações de diversos agentes institucionais para a garantia da permanência estudantil, especificamente dos alunos migrantes – coordenação de curso e outras instâncias da universidade, professores, alunos e o próprio PMUB.

Vale destacar que o direito ao acesso diferenciado e os auxílios financeiros são insuficientes para a “persistência na permanência”, ou seja, a adesão dos estudantes universitários ao ensino superior até a conclusão do curso (ROCHA et al., 2017). É inegável a importância de se garantir condições materiais de existência

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Mais informações sobre a tutoria realizada pela equipe de Psicologia do PMUB com os estudantes migrantes e refugiados serão descritas no próximo tópico do artigo.

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aos estudantes pois muitos deles estudam em cursos de turno integral, o que inviabiliza a possibilidade de ter um emprego. Na UFPR, praticamente todos os estudantes reingressos e ingressos pelo vestibular especial recebem o auxílio permanência da Universidade, no valor de R$ 400 e alguns recebem bolsas como as de extensão e iniciação científica – e para a maioria destes, estas se configuram como suas únicas fontes de renda. Apesar disto, o auxílio permanência não é o suficiente para garantir a permanência no contexto universitário.

Além das dificuldades financeiras para a permanência na universidade, os estudantes migrantes trazem como demanda para a tutoria da psicologia questões que dizem respeito ao cotidiano no contexto universitário. Neste aspecto, a relação com professores é, comumente, tida como problemática, sendo corriqueiro o relato de manifestações de incompreensão destes para com as dificuldades específicas dos alunos em questão. Como exemplo, pode-se citar situações em que professores, diante da dificuldade de estudantes que não têm o português como língua materna, recusam os pedidos para falar mais alto ou mais devagar durantes as aulas. Ferreira (2019) aponta que a não proficiência no idioma do país de acolhimento – frequentemente gerada pelo pouco tempo de preparo para a migração – dificulta a inserção do estudante migrante no contexto universitário a medida em que gera a necessidade de maior tempo para leitura e compreensão de textos ou conteúdos ministrados em sala de aula ou cobrados em atividades avaliativas.

Ademais, a presença de estudantes com nacionalidades diferentes e culturas diversas em sala de aula evidencia o caráter padronizado de práticas de ensino que são pouco permeáveis à diversidade. As situações relatadas pelos estudantes migrantes ressaltam que, na prática, a atividade de ensino não é posta em questão diante das especificidades de estudantes, que são vistos como responsáveis pelo seu rendimento nas disciplinas. Rocha et al. (2017) alertam para a ideologia de valorização do alto índice de reprovação em disciplinas como mérito do trabalho do professor. Tal como afirmam as autoras, este índice indica problemáticas na profissão docente que, se não discutidas, reforçam a ideia de que o aluno é o único responsável por sua aprendizagem. Não à toa, os estudantes migrantes trazem para seus tutores da psicologia a frustração com o rendimento em atividades avaliativas e, em muitos casos, as maiores dificuldades são vivenciadas nestas disciplinas com alto índice de reprovação na universidade – inclusive entre estudantes brasileiros. É neste sentido que as notas insatisfatórias precisam ser

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entendidas de maneira contextualizada de modo a evitar a culpabilização do estudante.

Em relação às avaliações, são relatadas para os tutores dificuldades com atividades que desconsideram esta especificidade em relação ao idioma e à necessidade de tempo maior para completá-la. Também é importante atentar para o que Ferreira (2019) denomina como “etnocentrismo acadêmico”, ou seja, a supervalorização de conhecimentos produzidos em certas instituições com prestígio na universidade em questão, em detrimento de conteúdos produzidos em instituições de países que não são valorizados ou considerados “em desenvolvimento”. Segundo Santos (2007 apud FERREIRA, 2019, p. 36) “tal posicionamento acaba por produzir um verdadeiro „epistemicídio‟, que consiste no assassinato do conhecimento do outro”, ou seja, o aprendizado anterior do migrante não é considerado na universidade. Durante o acompanhamento da tutoria, alguns reingressos comentam que não encontram espaço para expor o que já aprenderam no curso iniciado no país de origem.

Em relação às dificuldades com os conteúdos de disciplinas do curso, os estudantes migrantes mencionam sentirem diferenças em relação ao ensino básico que cursaram nos países de origem e o cursado pelos estudantes brasileiros. Além disto, alguns estudantes migrantes comentam dificuldades com matérias que já cursaram na universidade anterior, indicando diferenças em relação ao conteúdo trabalhado no país de origem e na UFPR. Ao longo das atividades da tutoria, percebeu-se que os (re)ingressos desconhecem sobre temas como eventos históricos do Brasil, sobre o Sistema Único de Saúde, e legislações profissionais específicas. Deste modo, podemos afirmar a importância de serem pensadas ações que visem a trabalhar estas diferenças em relação a conteúdos do ensino básico (como matemática, química, física) especialmente nos semestres iniciais do curso.

Ainda sobre estas atividades que mensuram o desempenho dos estudantes no Ensino Superior, muitos migrantes universitários sofrem com expectativas e pressão da família e comunidade de origem em relação a seu sucesso acadêmico (FERREIRA, 2919). Isto remete ao fato de que muitos destes estudantes têm a oportunidade de estudar que seus familiares e conhecidos não tiveram, portanto seu sucesso – ou fracasso – representa o sucesso de toda a comunidade de origem. Neste sentido, muitos estudantes relatam aos tutores da psicologia que enviam dinheiro para familiares que ficaram no país de origem – pais, filhos, cônjuges – e

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que pretendem trazê-los para morar consigo quando se formarem. Esta distância física entre o estudante migrante e sua rede de apoio os leva a enfrentar de maneira solitária os problemas e eventos estressores com os quais se deparam no contexto universitário (MEEKUMS, 2014; TITOV, 2015; PAN; WONG; YE, 2013 apud FERREIRA, 2019).

Além das dificuldades concernentes aos conteúdos acadêmicos, são relatadas aos tutores da Psicologia dificuldades quanto às relações interpessoais e, além dos professores, a relação com colegas de turma. Muitos verbalizam o sentimento de não estarem de fato incluídos na turma, o que se evidencia na dificuldade para conseguirem grupos para realização de trabalhos e seminários. No âmbito da tutoria está muito presente o relato de não serem aceitos em grupos ou, quando aceitos, não se sentirem envolvidos no processo de elaboração do trabalho. A dificuldade com o idioma do país de acolhimento limita a capacidade de expressão verbal e, consequentemente, o desenvolvimento de vínculos e relações interpessoais (FERREIRA, 2019). É constante na literatura (PANDIAN, 2008; BROWN, 2009; CUSHNER; KARIM, 2004; UKCOSA, 2004; DESIDÉRIO, 2006 apud GARCIA; GOES, 2010) a afirmação de que uma das maiores dificuldades encontradas por migrantes na vida universitária no Brasil é o desenvolvimento de amizades com brasileiros. Em uma atividade coletiva realizada com reingressos e ingressos na UFPR, no início do segundo semestre de 2019, contatos mais frequentes e encontros em situações informais e de lazer foram sugeridos por alguns estudantes como melhorias na tutoria realizada pela equipe de Psicologia. Portanto, fica evidente que muitos dos estudantes acompanhados pela tutoria não se sentem verdadeiramente incluídos entre os colegas de curso e não tem grande rede de interações com brasileiros.

Estudos (ALENCAR-RODRIGUES; STREY, 2010; OLIVENCIA, 2014 apud FERREIRA, 2019) apontam que quanto maior a diferença entre a cultura nativa e a cultura do país de origem, maiores são os desafios na interação entre o migrante e seus colegas e professores. Neste sentido, um estudante reingresso relatou à tutora da psicologia que, durante uma confraternização de sua turma, não se serviu de comida, pois em sua cultura são as mulheres que servem os homens. Alencar-Rodrigues e Strey (2010 apud FERREIRA, 2019) reforçam que um dos elementos culturais que mais podem impactar nesta interação são as concepções de gênero e

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sexualidade. Este fragmento de relato ressalta que diferenças relativas ao modo de se relacionar estão presentes e precisam ser trabalhadas.

Alguns estudantes migrantes consideram que as dificuldades de estabelecer vínculos com colegas brasileiros está relacionada, por um lado, ao fato das dificuldades que eles próprios apresentam com o idioma e conteúdos, e outros, por outro lado, percebem que fatores como racismo e xenofobia estão presentes. Cabe ressaltar que, no caso de estudantes migrantes negros, a discriminação racial é um importante fator dificultador do desenvolvimento de amizades (GARCIA; GOES, 2010). Subuhana (2016) entrevistou estudantes universitários negros vindos de países lusófonos da África e o preconceito racial foi apontado como a principal causa de mal-estar destes. Apesar disto, o autor pontuou que dentre os estudantes entrevistados alguns expressaram dificuldade em identificar situações de racismo.

Importante pontuar que o racismo é componente estruturante na sociedade brasileira, embora seja presente o “mito da democracia racial”, ideologia que nega a existência do racismo no Brasil e por vezes impede discussões sobre o assunto. Além disto, segundo Ferreira (2019), no caso de migrantes universitários, é importante atentar para a intersecção entre o preconceito racial e o de classe, já que muitos destes são oriundos de países considerados subdesenvolvidos.

Diante de todas estas questões apontadas diretamente pelos estudantes migrantes reingressos e ingressos na UFPR e aquelas percebidas pela equipe de Psicologia ao longo das atividades de tutoria, podemos afirmar que a integração destes – como é proposta na resolução – é permeada por dificuldades e obstáculos que não são contemplados nessa mesma resolução. Apesar dessa abertura da burocracia, constatou-se que o ambiente acadêmico não reflete um preparo para acolher a diversidade, de modo que a presença de estudantes vindos de culturas diferentes impõe desafios a todas as instâncias institucionais da universidade: coordenadores de curso, professores, instâncias administrativas e demais estudantes. Sendo assim, no próximo tópico comentaremos brevemente as ações desenvolvidas pela equipe de Psicologia do PMUB no âmbito da tutoria com os estudantes migrantes.

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PROGRAMA DE TUTORIA: AÇÕES DE ENFRENTAMENTO ÀS DIFICULDADES RELATADAS

Conforme relatado, a partir de 2015, com a entrada dos estudantes do primeiro edital de reingresso, as principais barreiras institucionais e interpessoais que impõem dificuldades a esta população passaram a ser percebidas no acompanhamento realizado pelos projetos integrantes do PMUB. Em 2017, o projeto de Psicologia – Migração e Processos de Subjetivação: psicologia, psicanálise e

política na rede de atendimento a migrantes, começou a trabalhar e encaminhar

essas demandas através do Programa de Tutoria. Para tal, são realizadas atividades coletivas – como encontros semestrais com os estudantes reingressos e o Acolhimento Linguístico (recepção aos calouros) – e acompanhamento individual de cada um dos estudantes. Estas atividades são constantemente (re)pensadas e (re)estruturadas de acordo com as demandas trazidas pelos estudantes acompanhados.

Uma das primeiras atividades a ser desenvolvida foi o Acolhimento Linguístico, organizado pelo PBMIH visando ao nivelamento do português entre os calouros e orientá-los sobre o funcionamento da universidade. O projeto da Psicologia participa de alguns dias deste acolhimento tendo como objetivo principal apresentar a tutoria e desenvolver vínculo entre a equipe e os estudantes. Esta também é uma oportunidade para discutir acerca das significações atribuídas a esta área do conhecimento e possíveis demandas à Psicologia no ensino superior. Estas elaborações são mediadas pela discussão sobre situações que possivelmente passarão em suas vidas acadêmicas – relatadas por reingressos veteranos - e soluções para estas situações.

Em relação às significações atribuídas à Psicologia, nos três anos de atuação no acolhimento linguístico, os participantes verbalizaram que esta área do conhecimento estuda a mente, o comportamento e a vida em sociedade. Como possibilidades de atuação da Psicologia no Ensino Superior, os calouros reingressos citaram principalmente o aconselhamento e orientação aos estudantes. Também fez-se notar que em algumas culturas as significações atribuídas à Psicologia são permeadas por preconceitos e tabus como por exemplo o discurso segundo o qual apenas pessoas “loucas” ou com “problemas mentais” precisam de suporte psicológico. Portanto, é importante a contraposição destas concepções ao longo dos

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semestres exemplificando como a tutoria da Psicologia pode contribuir no cotidiano universitário.

Este acolhimento inicial é de suma importância, já que a desinformação é um dos principais fatores dificultadores da inserção em um novo contexto universitário. Apesar disto, ao longo do cotidiano na universidade novos desafios e necessidades são vivenciados pelos estudantes migrantes e por isso faz-se indispensável o acompanhamento durante os semestres letivos. Assim sendo, os estudantes são divididos em grupos compostos por estudantes migrantes matriculados no mesmo curso ou em cursos de áreas semelhantes, sendo que cada grupo tem um aluno extensionista do projeto da Psicologia como tutor.

O objetivo desta divisão é que o tutor seja uma referência para o estudante migrante e que este se sinta confortável para comentar sobre suas dificuldades e avanços no contexto universitário. Nesta relação de tutoria os estudantes acompanhados falam sobre demandas em relação a disciplinas e atividades avaliativas específicas, relacionamento com professores e colegas, atrasos de auxílio permanência que geram falta de dinheiro para comprar alimentos, sendo que as estratégias de enfrentamento são pensadas de acordo com cada caso. Porém, também são trazidas à tutoria demandas que escapam ao ambiente acadêmico como, por exemplo, questões relativas à visto de permanência no Brasil, dificuldades no acesso a serviços de saúde e queixas escolares referentes aos filhos.

Ao longo destes acompanhamentos individualizados, percebeu-se que algumas questões são relatadas por mais de um estudante migrante, configurando-se como demandas coletivas que remetem a questões institucionais e interpessoais. Pan e Zonta (2017) pontuam que, para atuação da Psicologia no Ensino Superior, são recomendadas estratégias de cunho coletivo que considerem as características sociais da população com quem se trabalha. Estas intencionam ampliar o alcance das intervenções considerando as características coletivas do grupo de estudantes.

Neste sentido, são promovidos encontros semestrais de alunos reingressos e ingressos pelo vestibular especial da UFPR para proporcionar espaços de discussão coletiva sobre as dificuldades e potencialidades encontradas por eles no meio acadêmico. Nestas ocasiões a proposta da tutoria é debatida entre os reingressos e os alunos extensionistas do projeto, de modo a avaliar a aplicação desta. Estes eventos coletivos também configuraram-se como estratégia para

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fortalecimento do vínculo entre os estudantes reingressos e os extensionistas e professoras do projeto.

Tanto nestas atividades coletivas quanto nos acompanhamentos individuais é possível perceber que para o manejo das dificuldades apontadas pelos estudantes reingressos e ingressos pelo vestibular especial é necessário um trabalho em rede envolvendo, além dos projetos do PMUB, coordenações, Pró-Reitoria de Assuntos estudantis, corpo docente e discente. Portanto, o desafio imposto à tutoria para migrantes é o de fomentar esta rede de atendimento a estudantes migrantes e trabalhar em sua articulação, uma vez que se configura como a instância que acolhe e encaminha as demandas destes.

Em relação ao próprio PMUB, os profissionais da área de Letras são fortes aliados no processo de integração dos estudantes já que a proficiência no idioma português é indispensável para a permanência na universidade. Neste sentido, desde 2018 é ofertada por integrantes do PBMIH uma disciplina optativa conhecida como Português Acadêmico que, no viés do ensino do idioma como estratégia de acolhimento, instrumentaliza os estudantes para o português formal exigido no ambiente acadêmico. Alguns tutores da Psicologia acompanham estas aulas e eventualmente realizam intervenções nestas, promovendo espaços de discussão sobre as vivências na Universidade. Além do PBMIH, frequentemente trabalhamos em conjunto com o projeto Hospitalidades, principalmente em casos de demandas relacionadas a vistos de permanência no Brasil e demais questões jurídicas e burocráticas.

No tocante a estas últimas, a prática com os estudantes migrantes mostrou ser indispensável a parceria com a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), pois esta instância universitária trabalha diretamente com estratégias de permanência estudantil. Além dos auxílios financeiros, a PRAE tem o programa de tutoria por pares, no qual estudantes que tiveram bom rendimento em disciplinas de alto índice de reprovação na UFPR ministram aulas de reforço a estudantes que estão cursando esta mesma disciplina. Muitos estudantes acompanhados pela tutoria da Psicologia são encaminhados para a tutoria por pares da PRAE.

Além destes assuntos relacionados a disciplinas específicas, o trabalho técnico e político junto à PRAE é de extrema importância, no sentido de expor as demandas específicas do grupo de estudantes migrantes que são relatadas ao PMUB. Além disto, a PRAE, devido a abrangência de suas ações no contexto

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universitário, tem possibilidades de realizar atividades que visem a sensibilização dos demais estudantes à presença de estudantes migrantes.

Outra parceria que iniciamos a estreitar no ano de 2019 é com as coordenações dos cursos que recebem estudantes reingressos e ingressos pelo vestibular especial, visando a estruturação da tutoria prevista nas resoluções que regulamentam estas modalidades de ingresso. Em alguns destes cursos já foi possível convidar estudantes interessados em serem tutores dos estudantes migrantes no curso, trabalhando em conjunto com o tutor da Psicologia. Este trabalho coletivo é importante pois há especificidades em cada curso de graduação, que são desconhecidas pelos estudantes tutores da Psicologia.

Além destas atividades de tutoria mencionadas, a prática também aponta para a necessidade de avançar em outros aspectos, como por exemplo, o desconhecimento sobre a história do Brasil, sistemas públicos de saúde e educação, além da defasagem em conteúdos do ensino médio. Estas demandas se configuram como desafios que vêm sendo trabalhados no âmbito da tutoria da Psicologia no sentido de estabelecer parcerias com outros projetos da universidade de modo estruturar atividades que as acolham.

Por fim, vale ressaltar que o acompanhamento realizado pelo PMUB aos estudantes migrantes da UFPR evidencia a importância da promoção de espaços de trocas culturais e protagonismos destes estudantes enquanto sujeitos que trazem consigo histórias singulares permeadas por elementos culturais e potencialidades. Neste sentido, no início de 2019 foi realizado o Seminário de Reingressos, no qual cada um apresentou sobre um tema de interesse em um evento aberto a toda a comunidade da UFPR.

Em sua revisão bibliográfica, Ferreira (2019) apontou para a importância de expressar e preservar elementos da cultura de origem dos migrantes, inclusive suas práticas religiosas. Portanto, é importante possibilitar espaços para, além de conhecer elementos da cultura brasileira, compartilhar sua própria cultura de modo que esta seja valorizada no ambiente acadêmico.

Sendo assim, apesar dos avanços no fortalecimento da rede de atendimentos e assistência aos estudantes migrantes da UFPR, a realidade constantemente impõe desafios ao Programa de Tutoria desenvolvido pelo projeto da Psicologia. Por conta disto, as atividades são repensadas a partir da promoção

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de espaços nos quais a equipe do projeto possa estar em contato direto com os estudantes acompanhados e as vivências comunicadas por estes.

CONCLUSÃO

A universidade não é apenas um espaço para a pesquisa, para o contato com o social e com as áreas de saber que embasam uma práxis. Trata-se de um espaço político e cultural em que a realidade é (re)pensada e, assim, também o são as possibilidades jurídicas, psíquicas e sociais que constituem essa realidade. É nesse sentido que “a educação das populações e o conhecimento científico são centrais para as economias nacionais, porque são responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento econômico e social‟‟ (MACHADO; BIANCHETTI, 2011, p. 247). Nesse sentido, a inserção de migrantes e refugiados no contexto acadêmico implica não somente a inserção na sociedade, mas também a possibilidade de protagonismo referente à elaboração de políticas públicas e a (re)construção de uma vida no outro país. Mais ainda, os conhecimentos que esses sujeitos trazem consigo representam um enriquecimento aos ambientes cultural, escolar e profissional brasileiros.

Ademais, apesar de tais estudantes representarem um potencial de enriquecimento do ambiente universitário em diversidade cultural, observa-se que as políticas internas da instituição pouco fomentam práticas de interculturalidade entre os alunos migrantes e os demais da comunidade acadêmica, dificultando a viabilização do protagonismo desses sujeitos e contribuindo para a manutenção de um modelo de ensino homogeneizador e padronizante – por conseguinte, excludente. Ou seja, a presença dessa população no contexto universitário torna mais evidentes problemas negligenciados ou pouco debatidos pela comunidade. É neste sentido que defendemos que não se deve reduzir essa questão ao fato de tais migrantes “serem de fora” ou pelas diferenças que representam.

Faz-se evidente que, apesar de ser um grande e importante avanço, a política de acolhimento amparada pela lei e por editais da instituição, os documentos que amparam essa política não contemplam muitas das dificuldades de inserção que os estudantes migrantes e refugiados enfrentam em suas vivências universitárias. Além disso, constatamos que, na prática, a atividade de ensino não é posta em questão diante das especificidades desses estudantes, vistos como os únicos responsáveis pelo seu rendimento nas disciplinas – ainda que estas apresentem

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problemas institucionais também para brasileiros. Por isso, sustentamos neste artigo que as dificuldades que nos trazem os estudantes migrantes e refugiados dizem respeito também à dinâmica institucional já existente, e não somente às condições singulares e contextuais de cada migrante.

Através do contato com os migrantes e refugiados que estudam na UFPR, observa-se que os ambientes acadêmicos e social por vezes não viabilizam o protagonismo desses sujeitos, inserindo-os em um modelo de ensino e de cultura homogeneizador e padronizante, em que práticas e iniciativas interculturais não são fomentadas. Nesse sentido, é preciso reconhecer que as dificuldades que essa população enfrenta em seus processos de inserção e de permanência na universidade também dizem respeito a uma dinâmica institucional interna já existente e construída histórica e materialmente. Essa reflexão sobre o status quo da instituição é importante na medida em que o espaço universitário se apresenta, para tais estudantes, como uma possibilidade para que possam reconstruir seus referenciais na nova pátria e retomar ou reformular projetos de vida. Também apontamos para a importância de possibilitar espaços para que migrantes e refugiados expressem suas vivências enquanto sujeitos, para que relatem suas histórias de vida e de migração – para que ocupem ativa e simbolicamente os âmbitos político, jurídico e social da realidade. Assim, se por um lado a universidade se apresenta como reprodutora de uma prática de exclusão do diferente, ela também tem em si a possibilidade de aberturas para que o novo e o diferente se insiram nas relações ali instituídas. Nesse sentido, cabe destacar a importância de um trabalho em rede na própria universidade, para que as diferentes demandas desses alunos migrantes e refugiados possam ter lugar e serem trabalhadas, cada uma em sua especificidade, mas também recolhendo o que se repete nessas demandas e criando um trabalho que tenha lugar no campo coletivo.

Conclui-se que para uma política de acolhimento ser efetiva é preciso medidas de permanência construídas junto aos estudantes e que propiciem condições dignas de existência e de permanência na Universidade, pois apesar de haver uma política de acolhimento amparada pela lei e por editais da instituição, estes mesmos “documentos que abrem portas” não contemplam muitas das dificuldades de inserção que tais estudantes enfrentam ao iniciar os estudos. Afinal, a gestão ou (re)formulação de políticas públicas que de fato propiciem condições dignas de existência e de permanência no país envolvem (ou deveriam envolver) a

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participação ativa dessa população enquanto corpos políticos. Pensamos que práticas de sensibilização da comunidade acadêmica e social que os recebe quanto a questões de raça, gênero, interculturalidade e migração são essenciais em uma intervenção que se paute pela desconstrução da xenofobia e do racismo e a favor do multiculturalismo. Por fim, ouvir e valorizar o que trazem de suas culturas – principalmente no que concerne a como se dão as vivências acadêmicas, profissionais e culturais em seus países de origem - parece ser uma postura essencial nesse tipo de atuação. Aposta-se numa rede interna à universidade que dê lugar de fato e simbólico aos migrantes e refugiados e, quem sabe, que possa se expandir para a cidade: de um acolhimento acadêmico na universidade para um acolhimento na cidade.

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