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MyFire : desenvolvimento de uma aplicação de crowdsourcing para a prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios em Portugal

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Academic year: 2021

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Resumo

Em Portugal, a intensidade dos incêndios tem vindo a aumentar em dimensão e recorrência, trazendo consequências devastadoras ao país, tanto a nível humano como material. Como tal, neste trabalho-projeto desenvolvemos o protótipo de uma aplicação de crowdsourcing para a prevenção, combate e mitigação dos incêndios em Portugal, com base num estudo

realizado no âmbito do crowdsourcing, das redes sociais, do engagement, da inovação na

gestão de crises e do jornalismo de catástrofe que nos permitisse responder à questão de investigação “Que características deverá ter uma aplicação de crowdsourcing para combater o flagelo dos incêndios?”.

Para o efeito contámos ainda com 504 respostas a um inquérito por questionário sobre a potencial adesão a uma plataforma deste género e com as entrevistas concedidas pelos fundadores e/ou membros das equipas de suporte de quatro das sete plataformas que analisámos no âmbito de um benchmarking.

Daqui surgiu o protótipo da MyFire, uma aplicação de crowdsourcing para smartphones, tablets e computadores com funcionalidades como a partilha e curadoria da informação pelos utilizadores, a tradução dessa informação para outros idiomas, o contacto directo com os stakeholders tradicionais de gestão e resposta a incêndios, a disponibilização de rotas de trânsito rodoviário seguras e livres de incêndios e de listas de formas de prevenção deste tipo de catástrofes naturais e a agregação de conteúdos noticiosos de imprensa sobre o tema.

Palavras-chave: Crowdsourcing; Redes Sociais; Engagement; Inovação na Gestão de Crises; Jornalismo de Catástrofe

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Abstract

In Portugal, the intensity of wildfires has increased when it comes to dimension and recurrence, bringing devastating consequences to the country, at both human and material levels. As such, in this work-project we developed the prototype of a crowdsourcing application for the prevention, combat and mitigation of wildfires in Portugal, based on a study carried out in the fields of crowdsourcing, social networks, engagement, innovation in crisis management and catastrophe journalism that would allow us to respond to the research question "What characteristics should a crowdsourcing application have in order to combat the scourge of wildfires?".

To that end, we also had 504 responses to a questionnaire survey about the potential adherence to such a platform and the interviews provided by the founders and/or support team members of four of the seven platforms we analyzed in the benchmarking section. From here came the prototype of MyFire, a crowdsourcing application for smartphones, tablets and computers with features such as information sharing and curation by users themselves, translation of such information into other languages, the direct contact with the traditional stakeholders of fire management and response, the provision of safe and fire-free road transit routes and lists of ways to prevent such natural disasters and the aggregation of press news content on this subject.

Keywords: Crowdsourcing; Social Networks; Engagement; Innovation in Crisis Management; Catastrophe Journalism

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Muito frequentemente penso na máxima “Deus quer, o Homem sonha, e a obra nasce”. Ainda assim, acredito que há ferramentas essenciais que possibilitam que a obra possa, efetivamente, nascer. Afinal, o que seria de mim e deste projeto sem elas? Não passávamos de gesso ou argila disformes.

Por isso, este projeto é da minha Família. Obrigada à minha Mãe, que é a minha melhor amiga e que consegue ser tudo e tanto ao mesmo tempo. Obrigada ao meu Pai, de quem tenho tantas saudades e que se torna cada vez mais presente naquilo que sou. Obrigada à minha querida Irmã, o meu maior exemplo em tantos aspectos desde que me conheço. Obrigada à minha Avó, minha segunda Mãe e uma enorme força. Obrigada ao meu Cunhado, ou melhor, ao meu Irmão Manel. Obrigada também ao Manelinho, o meu querido afihado, que mesmo quando não me deixava dedicar a este trabalho, me reconfortava a alma com uma gargalhada e me relembrava de que um dia ia conseguir terminá-lo e fazer deste um país melhor para ele. Todos me fizeram acreditar que era capaz e, se fui, foi graças a eles! Muito obrigada!

Obrigada aos meus Amigos, ou à Família que escolhi. Meus queridos Amigos... Quem sou eu para tentar traduzir em meia dúzia de linhas o que significam para mim? Este projeto também é vosso, é nosso e para os nossos filhos, que um dia vão ser tão amigos e felizes como nós somos. Obrigada meus queridos!

Obrigada ainda à minha Orientadora, delineadora dos meus desvaneios e impulsionadora de grandes projetos – “great minds think alike”! Este projeto também é seu.

Um dia a obra vai nascer, prometo-vos a todos!

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Índice

Introdução... 1

1. Revisão de literatura ... 5

1.1. A transformação dos media, a relação com os utilizadores e o impacto no jornalismo de catástrofe ... 5

1. 2. O papel disruptivo das redes sociais na resposta às situações de emergência ...11

1. 3. Engagement - o que leva os cidadãos a participar em iniciativas de crowdsourcing? ...15

1. 4. O papel do crowdsourcing na gestão de emergências geradas por catástrofes...20

1. 5. Respostas inovadoras no processo de gestão de catástrofes naturais ...26

2. Objetivo do projeto e abordagem metodológica ...33

2. 1. Inquérito por questionário – análise das respostas e preferências dos portugueses ...36

2. 1. 1. Perfil dos inquiridos ...36

2. 1. 2. Grau de propensão das diferentes regiões de Portugal aos incêndios ...38

2. 1. 3. Tipologia de comportamentos face aos incêndios ...39

2. 1. 4. Potencial adesão da amostra a uma plataforma digital para a prevenção, combate e atenuação das consequências dos incêndios ...41

2. 1. 5. Preferências dos inquiridos relativamente ao conteúdo de uma plataforma digital para a prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios em Portugal...42

2. 2. Benchmarking – análise ao que já foi feito...51

a) Fogos.pt ...52

b) Global Forest Watch Fires (GFWF)...53

c) MicroMappers ...53

d) Safe & The City ...54

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f) Standby Task Force ...55

g) Wildfire Tracker...55

2. 2. 1. Em que suporte se desenvolve cada plataforma? ...55

2. 2. 2. Para que serve cada uma destas plataformas? ...63

2. 2. 3. Quais as plataformas que exigem registo de utilizador? ...66

2. 2. 4. A que fontes de informação recorrem as plataformas analisadas? ...67

2. 2. 5. De que forma se mantêm estas plataformas? ...67

2. 2. 6. A que tipo de parceiros se associa cada plataforma? ...69

2. 2. 7. Quais os canais de distribuição utilizados? ...69

2. 2. 8. Que catástrofes cobrem e de que forma o fazem estas plataformas? ...70

2. 2. 9. A partir de que plataformas podem os utilizadores receber alertas? ...71

3. MyFire – desenvolvimento de uma aplicação para a prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios em Portugal ...75

3. 1. Proposta de valor, ou a resposta à pergunta “O quê?”...76

3. 2. Infraestrutura, ou a resposta à pergunta “Como?” ...79

3. 3. Público-alvo, ou a resposta à pergunta “Para quem?” ...85

3. 4. Parcerias, ou a resposta à pergunta “Com quem?” ...86

3. 5. Financiamento, ou a resposta à pergunta “Quanto?” ...89

Conclusão ...91

Referências Bibliográficas ...94

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Índice de Figuras e Tabela

Figura A - Gráfico do Sexo dos Respondentes ... 36

Figura B - Gráfico da Faixa Etária dos Respondentes ... 37

Figura C - Gráfico dos Distritos de Portugal mais Seleccionados pelos Respondentes ... 38

Figura D - Gráfico da Propensão a Incêndios nos Distritos Assinalados pelos Respondentes ... 39

Figura E - Gráfico do Grau de Atuação dos Respondentes perante Incêndios... 39

Figura F - Gráfico dos Tipos de Atitudes dos Respondentes perante Incêndios ... 41

Figura G - Gráfico do Grau de Potencial Adesão a uma Plataforma Digital para o Efeito . 42 Figura H - Gráfico da Relevância da Apresentação Apelativa ... 42

Figura I - Gráfico da Relevância da Navegação Acessível ... 43

Figura J - Gráfico da Relevância da Gratuidade ... 43

Figura K - Gráfico da Relevância da Agregação de Conteúdos ... 44

Figura L - Gráfico da Relevância da Visualização da Informação em Mapas ... 44

Figura M - Gráfico da Relevância da Criação de Mapas de Informação pelos Utilizadores ... 45

Figura N - Gráfico da Relevância do Crowdsourcing ... 46

Figura O - Gráfico da Relevância do Contacto Direto com Autoridades ... 47

Figura P - Gráfico da Relevância do Contacto Direto com Organizações de Ajuda Humanitária ... 47

Figura Q - Gráfico da Relevância das Sugestões dos Utilizadores de Formas de Prevenção de Incêndios ... 48

Figura R - Gráfico da Relevância da Partilha de Informações nas Redes Sociais dos Utilizadores ... 48

Figura S - Gráfico da Relevância da Obtenção de Informações de Trânsito... 49

Tabela A - Descrição das Variáveis de Análise do Benchmarking ... 52

Figura T - Logotipo e screenshot da app da plataforma MicroMappers ... 56

Figura U - Logotipo e screenshot da app da plataforma Fogos.pt ... 56

Figura V - Screenshot do website da plataforma Fogos.pt ... 57

Figura W - Screenshot do website da plataforma GFWF ... 57

Figura X - Screenshot do website da plataforma MicroMappers ... 57

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Figura Z - Screenshot do website da plataforma Sahana Foundation ... 58

Figura AA - Screenshot do website da plataforma SBTF... 58

Figura BB - Screenshot do website da plataforma Wildfire Tracker ... 59

Figura CC - Screenshot da conta Twitter da plataforma MicroMappers ... 59

Figura DD - Screenshot da conta Twitter da plataforma Wildfire Tracker ... 60

Figura EE - Screenshot da página Facebook da plataforma Fogos.pt ... 60

Figura FF - Screenshot da conta Twitter da plataforma Sahana Foundation ... 60

Figura GG - Screenshot da conta Instagram da plataforma GFWF ... 61

Figura HH - Screenshot da conta LinkedIn da plataforma SBTF ... 61

Figura II - Screenshot da conta Instagram da plataforma SATC ... 61

Figura JJ - Screenshot do fórum Google Groups da plataforma GFWF ... 62

Figura KK - Screenshot do fórum Google Groups da plataforma MicroMappers ... 62

Figura LL - Screenshot do blogue da plataforma GFWF ... 62

Figura MM - Screenshot do blogue da plataforma MicroMappers ... 63

Figura NN - Screenshot do blogue da plataforma Sahana Foundation ... 63

Figura OO - Screenshot do blogue da plataforma SBTF ... 63

Figura PP - Screenshot do template de criação de mapas da plataforma GFWF ... 65

Figura QQ - Screenshot do template de criação de mapas da plataforma Sahana Foundation ... 65

Figura RR - Screenshot do template de criação de mapas da plataforma SBTF ... 65

Figura SS - Screenshot do template de visualização de mapas da plataforma Fogos.pt ... 66

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Introdução

Em Portugal, a problemática dos incêndios tem vindo a aumentar em dimensão e recorrência, trazendo consequências devastadoras ao país, tanto a nível humano como material. Como tal, são das catástrofes naturais mais graves em Portugal, considerando que além de prejuízos económicos e ambientais, criam uma fonte de perigo para a população e os seu bens.

O facto de os incêndios florestais serem considerados catástrofes naturais depende mais do facto de se desenvolverem na Natureza e da sua possibilidade de deflagração e características de alastramento decorrerem de fatores naturais, do que propriamente por serem causados por fenómenos naturais. Contudo, a intervenção humana pode ter um papel crucial, tanto na sua origem, como na limitação do seu desenvolvimento e, ainda, na mitigação das suas consequências. Este é, portanto, o fator que diferencia os incêndios das restantes catástrofes naturais, uma vez que não pode ser o Homem a causar todas as outras, nem a impedir que aconteçam ou limitar os seus efeitos.

Assim sendo, e considerando que os dados recolhidos dos Relatórios Anuais de Áreas Ardidas e Ocorrências da Autoridade Florestal Nacional do Ministério da Agricultura, pode afirmar-se que o ano de 2017 foi o mais intenso no que diz respeito aos incêndios em Portugal desde 1980, deixando cerca de 440 mil hectares de povoamentos e floresta ardidos, o correspondente a quatro vezes mais do que a média registada nos dez anos anteriores. Entre as chamas, cerca de 50 pessoas perderam a vida, outras 70 ficaram feridas e dezenas de casas e indústrias foram destruídas.

Como tal, e uma vez que o Homem pode, efetivamente, ter um papel ativo no que diz respeito a este tipo de catástrofe natural, acreditamos que este papel pode ser desempenhado

através da Comunicação, que é das formas de expressão mais antigas, não só para o ser

humano transmitir as suas ideias, pensamentos e sentimentos, mas também para tomar atitudes e fazer a diferença. A introdução do digital e das novas tecnologias de informação e comunicação têm vindo a modificar a forma como nos relacionamos e aquilo que fazemos, anunciando inúmeras vantagens que vêm facilitar o normal funcionamento da vida humana e que podem desempenhar um papel igualmente importante na gestão de situações de catástrofe.

Através destes meios que, apesar de recentes no que diz respeito à História dos meios de comunicação, já não vão sendo assim tão novos, a distância física e geográfica

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suaviza-se e esbate-suaviza-se no Tempo e no Espaço. Sendo assim, suaviza-se podemos falar em tempo real com alguém que se encontra noutro continente, o que nos impede de ajudar a combater um incêndio que se encontra noutro distrito?

Esta questão levou-nos a considerar o desenvolvimento do protótipo da MyFire, uma aplicação de crowdsourcing para smartphones, tablets e computadores que permitiria aos seus utilizadores participar na prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios em Portugal. Enquanto ferramenta de recolha, interpretação e verificação de informação coletiva, acreditamos que juntos, enquanto crowd, os utilizadores podem fazer a diferença e contribuir para esta causa. Além disso, o crowdsourcing permite uma mais rápida e eficiente compreensão de grandes quantidades de informação, o que facilita o trabalho da equipa de suporte de uma plaforma deste género.

Assim, este pretende ser o projeto para a criação de uma aplicação que reúna funcionalidades de crowdsourcing já existentes noutras plataformas, tais como recolha e partilha de informação em texto e multimédia com partilha simultânea de georreferenciação pelos utilizadores. É o protótipo de uma aplicação que possibilitaria ainda a tradução das informações, não apenas pela equipa de suporte, mas principalmente pelos próprios utilizadores, da mesma forma da curadoria da informação. A questão da tradução torna-se pertinente na medida em que cada vez mais Portugal recebe turistas e pessoas de outras nacionalidades trocam o seu país para residir no território português. Como tal, e com a intenção de incluir qualquer pessoa que se sinta incentivada a participar nesta iniciativa, criar-se-ia esta funcionalidade para que todos pudessem ter acesso à informação. Foi também este o motivo que levou à opção por uma designação em inglês, um idioma considerado universal.

Esta aplicação permitiria, assim, associar a voz dos cidadãos aos tradicionais responsáveis por gerir e dar resposta a estas situações de emergência, uma vez que poderiam entrar em contacto diretamente com as mesmas. Teria ainda uma profunda ligação às organizações de ajuda humanitária dedicadas àqueles que viram as suas vidas e o seu quotidiano afectados pelos incêndios.

Parte das funcionalidades desta plataforma seria também a disponibilização das rotas de trânsito mais eficientes no âmbito de focos de incêndios ativos, na medida em que remetiria os seus utilizadores para a aplicação de trânsito rodoviário Waze, onde seria aplicado o filtro para incêndios. Assim, os condutores-utilizadores teriam a possibilidade de

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viajar longe dos percursos afetados ou condicionados pelas chamas, mantendo-se em segurança, uma vez que a junção das plataformas indicaria as rotas mais eficientes nestes termos. Seriam ainda disponibilizadas notícias de imprensa sobre a temática, bem como listas de formas de prevenção de incêndios criadas por especialistas neste tema.

Para chegar à conclusão de que seriam estas as funcionalidades que fariam da MyFire uma aplicação inovadora e que acrescentaria valor ao panorama nacional, não só no âmbito da prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios, mas também da inovação tecnológica, digital e de comunicação, foram realizados alguns processos.

Em primeiro lugar, como consta no capítulo da Revisão de Literatura, foram analisadas centenas de artigos e livros criados após estudos e investigações de autores de referência neste âmbito. Para o efeito, foram escolhidas como palavras-chave de pesquisa o crowdsourcing, as redes sociais, o engagement, a inovação na gestão de situações de crise e o jornalismo de catástrofe. Deste feito, foram despoletadas as primeiras ideias e teorias para a criação deste protótipo, uma vez que mesmo nestes estudos eram apresentadas plataformas para efeitos semelhantes, assim como as suas características, as vantagens e desvantagens da sua utilização.

No capítulo seguinte, dedicado à Metodologia, segue-se a vertente mais prática do trabalho. Esta metodologia, que é composta por investigações quantitativas e qualitativas, veio solidificar algumas teorias provenientes da Revisão de Literatura e eliminar outras.

A nível quantitativo, foi realizado um inquérito por questionário a 504 respondentes, partilhado nas redes sociais e no âmbito de um Instituto Politécnico, para aferir sobre o quão interessada estaria a população inquirida em aderir a uma plataforma de crowdsourcing para a prevenção, combate e mitigação das consequências dos incêndios. Aqui, foram feitas questões que permitissem traçar o perfil dos respondentes, e conhecer quais as funcionalidades que considerariam mais relevantes numa plataforma deste género.

Qualitativamente, foi feito um benchmarking a sete plataformas que, de alguma forma, se identificavam com aquela cujo protótipo nos propusemos desenvolver. Destas, apenas uma é portuguesa, uma vez que todas as outras são de outras nacionalidades. O estudo foi feito com base em nove variáveis de análise, que permitiram aferir características destas plataformas, tais como o suporte em que se desenvolvem, quais as suas principais funcionalidades, que modelo de negócio utilizam, a que tipo de parceiros se associam, entre outros. Para completar estas informações, foram feitas entrevistas aos fundadores e a outros

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membros das equipas de suporte de quatro destas plataformas, uma vez que não foi possível entrar em contacto com as restantes por motivos diversos.

Por fim, foi apresentado o trabalho projeto da MyFire, com base no Modelo de Osterwalder ou Business Model Canvas, que contempla questões como o suporte, os parceiros, o público-alvo, a relação com esse público, o modelo de negócio, os canais de distribuição, e outros. Este processo permitiu compreender qual a viabilidade do projeto em termos de aplicabilidade e responder à questão de investigação “Que características deverá ter uma aplicação de crowdsourcing para combater o flagelo dos incêndios?”, com funcionalidades inerentes ao crowdsourcing não apenas como a partilha de informações pelos utilizadores, através de texto, imagens e vídeos, mas também a sua verificação e tradução para outros idiomas. Ainda o contacto directo com os tradicionais detentores do processo de gestão e resposta a incêndios, a disponibilização de rotas de trânsito rodoviário seguras e livres de incêndios e de listas de formas de prevenção deste tipo de catástrofes naturais, bem como a agregação de conteúdos noticiosos de imprensa sobre o tema se revelaram essenciais para uma plataforma deste género.

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1. Revisão de literatura

1.1. A transformação dos media, a relação com os utilizadores e o impacto no jornalismo de catástrofe

A investigação que tem sido feita em torno da integração de práticas inovadoras nos planos de resposta às situações de crise derivadas de desastres naturais passa também, naturalmente, pelo impacto que esta integração teve – e tem – na forma como é feito o jornalismo de catástrofe. Afinal, tanto as organizações tradicionais de produção noticiosa, como o próprio público deparam os seus papéis numa fase de transformação, graças ao surgimento do prosumer - o novo paradigma da comunicação que consiste no utilizador que é simultaneamente consumidor e criador de conteúdos, e que transcende o jornalismo e o leva a rever as suas práticas (cf. Rennie, 2007).

Além do impacto no jornalismo de catástrofe em si, têm sido abordadas questões como as possíveis formas de envolvimento dos cidadãos na produção noticiosa através das cada vez mais arrojadas ferramentas online disponibilizadas pelos stakeholders tradicionais. Para tal, torna-se essencial explicar a diferença entre o conteúdo resultante do trabalho das organizações e aquele produzido pelos utilizadores. Segundo Landert, a distinção consiste, por um lado, no facto de o conteúdo editorial, como os artigos, ser produzido por jornalistas e consumido pelo público, onde a comunicação é de apenas um sentido e o texto é sujeito a um processo de edição antes de ser publicado, tal como acontece na imprensa (cf. Landert, 2014); por outro lado, o conteúdo criado pelos utilizadores surge da contribuição de membros do público, ainda que possa, em alguns casos, ser sujeito a edição por parte dos jornalistas (cf. Landert, 2014).

Assim sendo, e dado o passo galopante a que a tecnologia se desenvolve, jornalistas e utilizadores com acesso a Internet e a algumas outras ferramentas têm, hoje em dia, o necessário para trabalhar em conjunto. Exemplo deste fenómeno é o caso de Andy Carvin, jornalista da rádio norte-americana NPR (National Public Radio) que, durante a Primavera Árabe em 2011, se serviu da sua conta da rede social Twitter (@acarvin) para agregar e verificar informações sobre os desenvolvimentos da onda revolucionária no Médio Oriente. Aquele que se considerava “another flavor of journalist” (Farhi, 2011: para. 11) utilizava a sua conta Twitter para, não apenas fornecer informações aos seus seguidores, mas também para lhes pedir que colaborassem ao enviar dados, imagens, e vídeos provenientes da Internet e de outras redes sociais como o Facebook e o Youtube, para que juntos pudessem verificar

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a fiabilidade dessas informações e criar um fórum de ideias e soluções sobre o tema (cf. Hermida et al., 2014).

Foram abordadas as vantagens e desvantagens da adoção de mobile multimedia na prática do jornalismo, de onde se concluiu que a maioria dos jornalistas se sentia confortável com a utilização de smartphones para o desenvolvimento do seu trabalho jornalístico, desde que beneficiassem dessa utilização, em termos de uma aproveitação mais eficiente do tempo, por exemplo (cf. Koponen e Vaataaja, 2009). Outros motivos que levariam à adesão a estas tecnologias por parte dos jornalistas seriam não apenas a possibilidade de uma mais rápida publicação das notícias, uma maior facilidade na captura de imagem e vídeo na ausência de uma câmara de qualidade superior, a possibilidade de redação de notícias em qualquer local, mas também a leveza dos dispositivos e a possibilidade de seguir os acontecimentos online em tempo real (cf. Koponen e Vaataja, 2009).

Esta posição foi reiterada por Thorsen que indicava que, anos antes da sua investigação, seria inconcebível a publicação de notícias online antes da sua partilha nos meios de comunicação tradicionais, mas que esta se tem vindo a tornar uma prática cada vez mais popular por parte dos jornalistas em ambientes noticiosos online em tempo real (cf. Thorsen, 2013), uma vez que “journalists monitor social media for insight into polical processes and as instant indication of ‘public sentiment’, rather than waiting for press releases and opinion polls” (Thorsen, 2013: 123).

Por este motivo, os valores profissionais pelos quais os jornalistas se regiam têm vindo a alterar-se, principalmente no que toca à relação entre eles, as fontes, e os cidadãos (cf. Thorsen, 2013). Este novo paradigma da comunicação e do jornalismo levou a que o público se tornasse ativo e participativo na resposta a situações de crise, por exemplo, como sugeria Orgeret “may happen as the media texts invite the audiences towards the centre of the circular model and let them see themselves as part of a more complex structure than a binary sufferer-audience relationship” (Orgeret, 2016: 14). Thorsen, contudo, alertava para os desafios que alguns jornalistas enfrentam devido a estas transformações, especialmente no âmbito da verificação da informação e das fontes, enquanto aproveitam as oportunidades oferecidas pelo imediatismo, transparência e natureza interativa da comunicação feita através da Internet (cf. Thorsen, 2013).

Considerando a particular relevância dos meios de comunicação social nos planos de comunicação de crise antes, durante e depois de uma catástrofe natural, é de destacar a

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imparcialidade como fator-chave do seu papel uma vez que, além de reportarem os fatos ao público de forma isenta, os media são também responsáveis por fornecer informação aos esforços de combate à crise (cf. Saunders, 2016).

Ao estudar o papel dos jornalistas como comunicadores estratégicos e citizen stakeholders na recuperação de catástrofes naturais, Perreault defendia que os jornalistas e as organizações de produção noticiosa podem ter um papel na distribuição da informação que concerne à assessoria do risco e à resposta a situações de catástrofe, bem como a fornecer um fórum de debate e discussão de ideias relativamente à cooperação, compreensão e formação para crises vindouras (cf. Perreault, 2016). De acordo com o modelo de social mediated crisis communication enunciado pela autora, com a crescente disponibilidade de tecnologia móvel no deflagrar e decorrer de crises, as estruturas sociais têm a capacidade de transcender as barreiras da utilização dos media tradicionais para partilhar informação com o público (cf. Perreault, 2016) e, para o efeito, tanto jornalistas como cidadãos utilizam redes sociais como o Facebook, Twitter, Instagram e outras plataformas de partilha de informação (cf. Perreault, 2016).

No âmbito das catástrofes naturais e, mais especificamente do deflagrar de incêndios, o reconhecimento coletivo do que ainda é necessário ser feito para remediar uma dada situação no presente e no futuro, com base no que se aprendeu com o passado, é um papel fulcral dos meios de comunicação social, enunciado como collective prospective memory (cf. Kroepsch et al., 2017). Afinal, quando grandes catástrofes como os incêndios se tornam mediáticas, têm a força de promover alterações políticas: “media play an important agenda-setting function in these windows of opportunity by focusing public attention on disaster-related issues and maintaining those issues on the public agenda (cf. Kroepsch et al., 2017). Além disso, tendem a moldar o discurso em torno desses fenómenos ao enfatizar determinados problemas políticos e possíveis soluções, estabelecendo relações de causa-efeito, e atribuindo responsabilidades (cf. Kroepsch et al., 2017). Assim sendo, frequentemente, os jornalistas se servem desta prática “to bridge the temporal orientations in a ‘mission-oriented’ form of remembrance that served to actively maintain the unresolved issue” na agenda dos meios de comunicação social (cf. Kroepsch et al., 2017: p. 5).

Durante desastres naturais, é cada vez mais frequente que os outrora considerados tradicionais detentores de informação (jornalistas, órgãos de proteção civil, e outros) procurem informação nas redes sociais, partilhada por testemunhas dos fenómenos ou por

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outras pessoas que, de alguma forma, estejam relacionadas com as vítimas ou envolvidas em alguma atividade que possa servir de fonte de informação (cf. Tong, 2017). Uma vez que “journalism tailors the use of technology – in particular social media technologies – to meet its needs” (Tong, 2017: 25), o autor acreditava que diversas alterações se fariam sentir a nível das práticas jornalísticas e dos seus valores. Tendo em conta que as redes sociais e ferramentas semelhantes permitem aos utilizadores a comunicação, interação e partilha instantânea de dados (cf. Tong, 2017), o autor considerava que, ao diluir o seu conteúdo nas reportagens dos meios de comunicação tradicionais, as redes sociais tornar-se-ão numa fonte noticiosa habitual, alvo de investigação e verificação jornalística (cf. Tong, 2017).

O jornalismo de catástrofe tem ainda um papel na criação de um envolvimento entre as audiências e as vítimas de um determinado desastre natural. A sua função, aqui, é a possibilidade de dar origem a ações de solidariedade, tendo em conta que o ato de assistir ao sofrimento alheio, através dos media, pode levar o público a prestar atenção, a preocupar-se e a atuar relativamente ao que sucede àqueles que sofrem, mas que não fazem parte das comunidades em que os espectadores se inserem (cf. Orgeret, 2016). De acordo com a autora, “the role of journalism in proucing connectivity between audiences and victims within and across national borders” (Orgeret, 2016: 2), tendo em conta que a distância envolve a imaginação de existência de uma relação de proximidade moderada com os afetados por determinada circunstância, sem esquecer tudo aquilo que os distancia (cf. Orgeret, 2016). Desta forma, o jornalismo pode afastar aquilo que nos é demasiado próximo, para que melhor possamos compreender, e aproximar aquilo de que estamos distantes, permitindo que nos envolvamos e melhor percebamos a situação dos que sofrem (cf. Orgeret, 2016).

Quanto ao impacto do crowdsourcing no jornalismo, os autores da investigação brasileira “O Impacto do Crowdsourcing no Jornalismo: plataformas colaborativas como ferramentas de interação” viam esta integração como algo positivo, uma vez que “além dos veículos agregarem valor aos seus sites, eles tornam o público mais próximo dos próprios jornalistas e inclusive das próprias instituições” (Vieira et al., 2011: 1). De acordo com Vieira et al., a introdução do crowdsourcing no jornalismo impõe a sua caraterística fundamental de transferência e reciprocidade de funções, levando à cedência, por parte do jornalista, de uma parcela do seu papel de repórter oficial dos acontecimentos, que é transferida para aqueles que compõem o público (cf. Vieira, et al., 2011). Segundo os

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autores, em casos de jornalismo participativo, o crowdsourcing pode assumir as formas de observação (recolha de dados), manchetes (partilha de informação) e investigação (cruzamento de informações entre utilizadores) (cf. Vieira et al., 2011).

Sobre a possibilidade de os jornalistas serem vistos como crowdsourcerers e trabalharem em conjunto com a população para dar resposta àquelas situações de emergência, Dharma Dailey e Kate Starbird estudaram a forma como o jornalismo de catástrofe se tem vindo a adaptar a novas soluções e tecnologias. Considerando que os jornalistas haviam “negotiated a new role for themselves, transforming their journalistic practice to serve in a new capacity as leaders of an online volunteer community” (Dailey e Starbird, 2014: 445), verifica-se que as tecnologias da informação e comunicação têm vindo a transformar a forma como tradicionalmente se atua em situações de catástrofe, “changing not only how things are done, but also what kinds of tasks are necessary and who does them” (Dailey e Starbird, 2014: 445). Desta forma, as autoras norte-americanas acreditavam que os jornalistas podiam atuar em colaboração com a população, ao moldar conjuntamente o comportamento de partilha de informação e ao catalisar e apoiar uma colaboração multifacetada (cf. Dailey e Starbird, 2014), podendo executar funções desde o recrutamento e agrupamento de colaboradores, à formação dos novos voluntários na forma como devem desempenhar as suas tarefas dentro daquela comunidade (cf. Dailey e Starbird, 2014).

A atuação dos jornalistas como crowdsourcerers surge naturalmente, tendo em conta que possuem o know-how e “were embedded in and connected to other key infrastructures, e.g. emergency response, other regional journalists, and had preexisting relationships with actual audiences” (cf. Dailey e Starbird, 2014). Além disso, como uma mais-valia da introdução de membros do público na produção noticiosa, Daniela Landert frisava o facto de a utilização de conteúdos gerados pelos utilizadores permitir “a highly personalised perspective on the catastrophe by focussing on the personal experiencies” (cf. Landert, 2014).

Além de Andy Carvin, outros jornalistas optaram por adotar as novas tecnologias, incluindo as redes sociais, para uma melhor performance do seu trabalho. Entre eles, Burt Herman, outrora membro da agência norte-americana de notícias Associated Press, e fundador da plataforma Storify (http://www.storify.com), que permite a agregação de informações provenientes de outras redes sociais, como o Facebook, Twitter, e Youtube, ao organizar e contextualizar dados, imagens, gravações e vídeos numa só plataforma, e

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mostrando-se útil a diversas agências de notícias, como The Washington Post ou BBC North West (cf. Santos Silva, 2016). Outro exemplo seria Mark Little, o fundador da Storyful, conhecida como a primeira agência noticiosa a funcionar a partir de uma rede social e que, agrega e contextualiza conteúdos para fornecer aos seus media partners como The New York Times, Aljazeera, BBC e MSN (cf. Santos Silva, 2016).

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1. 2. O papel disruptivo das redes sociais na resposta às situações de emergência

As situações de catástrofe são determinadas por eventos esporádicos, dão origem a comportamentos invulgares e, como tal, pedem medidas extraordinárias (cf. Sutton, et al., 2008). Por este motivo, tanto a população, como as organizações, tendem a fugir à rotina e a improvisar, para se adaptarem às novas circunstâncias (cf. Sutton et al., 2008). No caso das organizações, até aquelas cujas estruturas parecem mais enraizadas recorrem, por vezes, a meios alternativos para dar resposta a eventos inesperados, como as catástrofes naturais; quanto aos membros da população, são diversas as situações em que se servem das suas redes sociais para encontrar e fornecer informações diferentes daquelas que podem encontrar nos órgãos oficiais de resposta às crises, ou ainda para divulgar pedidos, avisos e fazer planos (cf. Sutton et al., 2008).

Até então, o papel que os cidadãos podiam ter na resolução de catástrofes naturais através das redes sociais era tido como backchannel activity (cf. Sutton et al., 2008), mas a crescente presença e procura por informações nas redes sociais quando algum destes fenómenos ocorre, veio tornar cada vez mais visível, necessário e influente o papel do esforço conjunto dos utilizadores das redes sociais (cf. Sutton et al., 2008). Na verdade, estas ferramentas de comunicação secundárias, como eram vistas, dão ao público a oportunidade de se envolverem ativamente na produção da informação, e não apenas no seu consumo (cf. Sutton et al., 2008). Além disso, não é apenas a população em risco que recorre a estes meios, uma vez que também agências de notícias e outros esforços da resposta às situações de emergência utilizam os seus serviços por as considerarem fontes de informação úteis e viáveis (cf. Sutton et al., 2008), e por se sentirem cada vez mais confortáveis com estes meios e com a utilização da Internet em geral (cf. Jaeger, et al., 2007).

Sendo as redes sociais plataformas baseadas na Internet, que permitem a indivíduos e grupos a construção de um perfil público, ou semi-público, dentro de um sistema delimitado, bem como a articulação de listas de outros utilizadores a quem se encontram conectados e a visualização dessas listas e das suas conexões e atividades, surgem como mais-valias na resposta às situações de crise (cf. Boyd e Ellison, 2008). Além disso, questões como a velocidade de propagação da informação e a possibilidade de “keep in touch with the world after a disaster” (Gao, et al., 2011: 10), tornam-nas mais-valias para a mitigação das consequências de uma catástrofe.

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Tendo em conta que estas plataformas se tratam, basicamente, de relações humanas com caraterísticas de participação, abertura, conversação, comunidade e conexão, acredita-se que são diversos os benefícios da sua integração na resposta às catástrofes naturais (cf. Veil et al., 2011). Entre eles, destaca-se a possibilidade de apelar à candidatura de voluntários para apoiar os esforços de emergência, a promoção do diálogo para a mitigação das consequências da crise, e a formação dos cidadãos para a prevenção de futuras ocorrências (cf. Veil et al., 2011). Ainda neste âmbito, as redes sociais dão acesso a informações de cidadãos diretamente envolvidos no desastre, o que permite ter uma melhor noção geográfica da extensão do evento, algo que os stakeholders tradicionais podem extrair das redes sociais destes utilizadores e redistribuir de forma mais estruturada (cf. Veil et al., 2011).

A esta pauta de vantagens, David E. Alexander acrescentava a possibilidade de escuta e monitorização do evento, a capacidade de integração das informações obtidas nas redes sociais nos planos de gestão de crise dos órgãos oficiais de resposta à ocorrência, e o contributo dos cidadãos através de modelos como o crowdsourcing e outras formas de colaboração gerenciadas através das redes sociais (cf. Alexander, 2014).

Graças ao desenvolvimento das novas tecnologias de informação e da comunicação na última década, ferramentas como a Internet têm sido de extrema relevância na forma como as organizações comunicam com o público em tempos de crise, e em especial as redes sociais, onde são os utilizadores e não os habituais gatekeepers a controlar a criação, utilização, e distribuição da informação e serem, por este motivo “recognized in crisis communication research as facilitating both the spread and mitigation of crisis” (Fuehrer e Smith, 2015: 620-621). Assim, ao integrarem as redes sociais nos planos de comunicação de crise, as organizações de resposta às catástrofes naturais estão “proactively providing citizens with preparedness and readiness information, issuing warnings, providing news and updates, and soliciting feedback on public-safety related topics” (Fuehrer e Smith, 2015: 621). Além disso, esta interação entre as organizações e os utilizadores das redes sociais pode estabelecer uma relação positiva entre eles que pode ser utilizada para a distribuição de mensagens positivas, para o diálogo, para a tomada de conhecimento de vulnerabilidades existentes e de possíveis soluções (cf. Fuehrer e Smith, 2015).

Isto significa, portanto, que o fortalecimento do papel das redes sociais como parte integrante na suavização das consequências de uma catástrofe natural facilita a tomada de

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decisões por parte das organizações, bem como o auxílio aos afetados pelo fenómeno, uma vez que “response agencies will be able to keep pace with real-time information sharing” (Dailey e Starbird, 2014: 447).

Todavia, a investigação feita em torno do paradigma da adoção das redes sociais na resposta às situações de crise também revela desvantagens, tais como a “shift from producer-controlled gatekeeping to consumer-controled gatewatching” (Fuehrer e Smith, 2015: 622), cujos efeitos se refletem numa sobrecarga de informação que deve ser organizada e constantemente monitorizada para garantir a credibilidade, uma vez que podem ser partilhadas informações erradas, intencionalmente ou não, que confundem e induzem em erro os esforços de resposta à emergência (cf. Fuehrer e Smith, 2015).

Ou seja, quando a fonte não é tida como fiável, a informação pode ser ignorada, independentemente da relevância que possa ter (cf. Jaeger et al., 2007: 595). Ainda que tenham ferramentas que possibilitam a recolha, filtragem e divulgação da informação, as redes sociais podem não ter a capacidade de distinguir a informação verdadeira dos rumores, ainda que “information that turned out to be false, was much more questioned than information that ended up being true” (Castillo et al., 2011: 675).

Outras desvantagens da adoção das redes sociais como elemento de resposta às situações de crise são, por exemplo, o facto de diversas vezes, quem mais precisa de ajuda, ser quem mais dificuldade tem em aceder às redes sociais; e questões técnicas como a duração da bateria dos dispositivos (cf. Alexander, 2014). E mais, nem todas as redes sociais “provide an inherent coordination capability for easily coordinating and sharing information, resources, and plans among disparate relief organizations” (Gao et al., 2011: 10).

Para combater alguns destes inconvenientes, podem ser aplicados, através das redes sociais, modelos como o crowdsourcing. O termo foi cunhado em 2006 por Jeff Howe, editor da revista Wired, e indica que os cidadãos são, simultaneamente, fonte de informação e produtores de conteúdos (cf. Santos Silva, 2016). Dailey e Starbird (2014) narravam esta relação, conectando-a ao conceito de citizen reporting de Gilmor (2006), que leva os indivíduos que se encontram no local da ocorrência, a partilhar informações sobre as condições no terreno, motivados por distintas razões e que os tornam desde “watchers and supporters to helpers and exploiters” (Dailey e Starbird, 2014: 447). Para o efeito, o crowdsourcing permite, por exemplo, que os utilizadores criem, de forma colaborativa, mapas interativos do fenómeno, contribuindo para um mais preciso conhecimento do

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desenrolar dos acontecimentos no terreno (cf. Gao et al., 2011). Além disso, “social media as a crowdsourcing mechanism provides aggregate situational awareness, important and new communications pathways, and some opportunities for assistance on an individual level” (Gao et al., 2011: 12), o que pode levar a que muitas vidas sejam poupadas, à medida que as instituições e as ONG vão encontrando melhores formas de integrar as redes sociais, o crowdsourcing e ferramentas de colaboração em sistemas de resposta às crises (cf. Gao et al., 2011).

A nível da utilização do crowdsourcing nas redes sociais, há três formas distintas de a população ser fonte de informação para conteúdos noticiosos, de acordo com a ideia de que um grupo vasto de indivíduos não necessariamente experiente na matéria pode superar o conhecimento de grupos inferiores de profissionais: a observação de factos, a partilha de informações, e a investigação (cf. Santos Silva, 2016).

No âmbito das catástrofes naturais, surgia, em 2011, pelas mãos de Patrick Meier, a plataforma de mapeamento de catástrofes naturais Ushahidi (www.ushahidi.com), ferramenta que será abordada posteriormente em maior detalhe, e os seus derivados Sahana, Eden, Vesuvius, Swift River e Mayon, no âmbito de um terramoto no Haiti, como “exemples of the use of social media to create and disseminate methods and good practices, and to form social capital” (Alexander, 2014: 722).

No caso português, a plataforma Fogos.pt (www.fogos.pt) agrega informação sobre o estado dos focos de incêndio existentes no país, e sobre os meios empregues para combater a sua propagação. O seu fundador João Pina, ou @tomahock como também é conhecido, utiliza informação da página web da Associação Nacional de Proteção Civil (ANPC), que agrega no seu website sob a forma de mapa, onde identifica os focos de incêndio, e que disponibiliza também através do Facebook, Twitter e da aplicação para smartphones. Também a página Ocorrências Ativas (www.ocorrenciasativas.pt) agrega informação sobre incêndios, acidentes, meteorologia adversa e outras ocorrências, proveniente da ANCP e do Centro Nacional de Operação de Socorros (CNOS), e está também disponível via Facebook. Ambas as plataformas permitem que os utilizadores partilhem informação, através das redes sociais ou contactando a equipa de suporte, para que possa ser verificada e agregada a estas ferramenta.

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1. 3. Engagement - o que leva os cidadãos a participar em iniciativas de crowdsourcing?

A opção pela utilização do conceito em inglês explica-se pelo facto de, na língua portuguesa, não haver uma tradução literal que ilustre convenientemente o seu significado. Com origem na expressão francesa engagé, tem o significado de compromisso e pode ser aplicado a qualquer contexto pelo qual alguém se sinta afetivamente vinculado, comprometido ou envolvido. Após o surgimento desse envolvimento, o destinatário de dado produto acaba por se fidelizar a ele, não sendo apenas um simples consumidor.

Tendo em conta que “the digital media revolution is changing both the scope and the nature of public engagement activities” (McNutt, 2014: 49), os stakeholders tradicionais voltam-se para a Internet e para as redes sociais em busca de novas formas de motivar os utilizadores a participar nas suas iniciativas, mostrando-lhes que a sua participação é valorizada, e que adotariam as tecnologias digitais para aumentar a eficiência em termos de administração através, por exemplo, de modelos como o crowdsourcing para motivar essa participação, como se de uma “caça” conjunta a um objetivo comum se tratasse (cf. McNutt, 2014).

As redes sociais estão onde estão os seus utilizadores, o que significa que o envolvimento com o público através destas plataformas deve ser uma prioridade para as organizações dos meios de comunicação social, dado que a presença nas redes sociais tende a aumentar, enquanto as visitas às páginas web dessas organizações têm vido a decrescer (cf. Santos Silva, 2016). Contudo, “exploring new ways to engage with the public through the opportunities given by social media goes far beyond being ‘just there’” (Santos Silva, 2016: 114).

A investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa dá exemplos de formas de engagement adotadas por meios de comunicação social, tais como o caso do The Wall Street Journal que, em 2013, criou uma audience engagement team na redação do jornal com os editores das redes sociais e os cientistas de dados para serem encontradas as melhores formas de divulgar notícias, de modo a envolver o público (cf. Santos Silva, 2016: 114). Outro exemplo de engagement dado pela autora seria a exposição, por parte dos jornalistas, de quais os blogues que seguem habitualmente, estabelecendo uma relação mais informal com o público (cf. Santos Silva, 2016: 115).

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Sobre o envolvimento ou a motivação que levam à participação ativa dos cidadãos em iniciativas de crowdsourcing, através da recolha, produção e disseminação de informação em situações de crise, sabe-se que “technology can enable deeper levels of engagement between people and governments, particularly through the medium of the Web” (Brabham, 2009: 257). O autor destacava ainda o crowdsourcing como o modelo de maior sucesso na prossecução deste engagement entre os cidadãos e as organizações, uma vez que gera inteligência coletiva e permite o surgimento de soluções criativas através das redes que compõem uma determinada comunidade e que, quando devidamente organizadas, podem servir as necessidades dos responsáveis pelo planeamento da resposta a situações de crise (cf. Brabham, 2009).

Tratando-se o engagement da natureza das intenções específicas e da experiência interativa de cada indivíduo das comunidades online, Marian García-Martinez (2015) definia-o como uma visão mais ampla do próprio utilizador, considerando o investimento de energias cognitivas, emocionais e físicas nos projetos de crowdsourcing (cf. García-Martinez, 2015). Explicava que os avanços da Internet, das ferramentas de colaboração e das novas tecnologias Web 2.0 davam sustento e facilitavam o aparecimento de novas e melhoradas formas de experiência interativa, permitindo aos participantes o envolvimento na partilha de conhecimento e de criatividade (cf. García-Martinez, 2015). A investigadora da Universidade de Kent traduzia o conceito de engagement como algo que serve “to describe the nature of participants’ specific interactions and/or interactive experience’ in online communities” e que, quando a perceção de competência dos participantes é elevada, estes tendem a estar mais envolvidos e propensos a criar novas iniciativas e a ter novas ideias (García-Martinez, 2015: 1420).

Relativamente às motivações que levam os utilizadores a participar em ações de crowdsourcing, os incentivos financeiros destacam-se como uma das mais fortes razões para o envolvimento da população neste tipo de iniciativas (cf. Brabham, 2009). Também o apelo visual, a organização, a facilidade de navegação e de utilização podem ser tidos em conta por quem pretende colaborar nestas atividades (cf. Brabham, 2012). Outras motivações seriam, ainda, a sensação de contribuição para um esforço coletivo, o prazer retirado da prossecução de um objetivo comum, o sentimento de pertença a uma comunidade, a aprendizagem de novas aptidões e conhecimentos, a esperança de reconhecimento social,

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diversão, a parecença com hobbies, ou motivos altruístas, como a partilha e a generosidade (cf. Brabham, 2012; Starbird, 2011; Ridge, 2013).

As motivações extrínsecas e intrínsecas interagem de modo a que as motivações extrínsecas, por vezes, abalam as intrínsecas e, em casos concretos, os participantes podem envolver-se numa determinada atividade por inúmeras razões, motivadas tanto intrínseca como extrinsecamente (cf. Brabham, 2012). Para melhor ilustrar este ponto, o investigador da University of Southern California citava Perry e Wise (1990, p. 368):

“Rational motives involve actions grounded in individual utility maximization. Norm-based motives refer to actions generated by efforts to conform to norms. Affective motives refer to triggers of behavior that are grounded in emotional responses to various social contexts” (cf. Brabham, 2012).

Isto significa, portanto, que para as organizações nem sempre é uma tarefa fácil conjugar as motivações extrínsecas e intrínsecas das audiências de forma a envolvê-las e a levá-las a participar nas suas iniciativas de crowdsourcing (cf. Seltzer e Mahmoudi, 2013). Como principais motivações extrínsecas, distinguem-se fatores como a disponibilização de uma remuneração e a perspetiva de reconhecimento social, assim como do lado das motivações intrínsecas, se destacam os fatores associados às necessidades e desejos individuais, das quais é exemplo o desejo de se envolver num hobby (cf. Seltzer e Mahmoudi, 2013).

A compreensão de quais os motivos que levam à adesão dos cidadãos é algo crucial a ter em consideração quando se desenvolve uma tarefa de crowdsourcing, uma vez que “any kind of engagement requires time and resources” (Seltzer e Mahmoudi, 2013: 14). Assim, a entrega e compromisso para com a comunidade, a expetativa de reconhecimento financeiro, a oportunidade de desenvolver capacidades, a sensação de desafio, a procura por estatuto social, diversão ou qualquer outra sensação que combata o aborrecimento são destacados pelos autores norte-americanos como possíveis motivações de engagement que levam a população a envolver-se proactivamente em iniciativas de crowdsourcing (cf. Seltzer e Mahmoudi, 2013).

No âmbito da relação entre engagement e crowdsourcing, considera-se que o primeiro se trata de um método e o segundo de um processo, uma vez que o crowdsourcing surge como uma forma de engagement “that contributes toward a shared, significant goal or research area, by asking the public to undertake tasks that cannot be done automatically, in

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an environment where the tasks, goals (or both) provide inherent rewards for participation” (Ridge, 2013: 437). Este envolvimento pode, então, categorizar-se em quatro tipos: attending, isto é, intencionalmente prestar atenção aos conteúdos; participating, ou seja, a interação que contribui para a criação de conteúdos; deciding, a tomada de decisões sobre a distribuição de recursos para a criação de conteúdo; e producing, a criação de conteúdos que causem impacto para o projeto em si (cf. Ridge, 2013).

Estando a nova geração de organizações mais focada em funções sociais e políticas, bem como num engagement democrático, com um maior foco na reorganização dos processos de administração e numa maior abrangência das oportunidades de participação, colaboração e abertura (cf. McNutt, 2014), devem criar-se novos incentivos para motivar a população a participar nas atividades de crowdsourcing, isto é, a administração deve ser capaz de gerir estrategicamente os objetivos clássicos de participação através das novas tecnologias digitais (cf. McNutt, 2014), sendo o crowdsourcing umas das formas de engagement que a autora considera mais populares no âmbito da Web 2.0. (cf. McNutt, 2014), já que os millennials, considerados nativos do âmbito digital, “have now come of age, and understanding their preferences and values is imperative for galvanizing their interest” (McNutt, 2014: 67).

Todavia, parte da Academia refere o engagement do público em projetos de crowdsourcing nas redes sociais como um território inexplorado, indicando que, de modo geral, as organizações não têm experiência nem conhecimento suficiente sobre como implementar esses projetos, nem sobre como levar os utilizadores a aderir (cf. Lee e Kwak, 2011). Para combater essa falha, os investigadores da American University de Washington DC e da George Washington University School of Business apresentaram um modelo de implementação de open government, com o qual pretendiam fazer aumentar o engagement dos cidadãos através de uma maior abertura e transparência nos dados das agências de governo e da progressiva promoção da participação e colaboração do público nas suas atividades, visto que “given the emergence of social media, the changes in the general public’s expectation, government agencies not only have a right or need to engage the public, but a responsibility to do so” (Lee e Hoon Kwak, 2011: 254-255).

Para a execução de semelhante plano é, contudo, necessário distinguir entre participação e colaboração: por um lado, a participação seria o engagement do público em interações relativamente simples tais como ações de blogging, microblogging, ou através

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das redes sociais, da partilha de fotografias e vídeos, ou da criação de documentos específicos; por outro lado, a colaboração refere-se ao engagement dos cidadãos em tarefas e projetos mais complexos, cujo objetivo é a produção de outputs específicos, tais como a redação e edição de documentos escritos de forma coletiva, o desenvolvimento de aplicações Wiki, de softwares de fonte aberta, ou ainda a organização de eventos (cf. Lee e Kwak, 2011).

No âmbito da gestão de emergências, Sophia B. Liu criava, em 2014, um enquadramento conceptual de estratégias de configuração para uma plataforma de crowdsourcing, de onde destacava o facto de que “perceptions around public engagement and user-generated content are evolving with the formalization of crowdsourcing, citizen science, and online collaboration projects in general” (Liu, 2014).

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1. 4. O papel do crowdsourcing na gestão de emergências geradas por catástrofes

O ecossistema em que se desenvolve a gestão das respostas às situações de emergência tem vindo a transformar-se, devido não apenas à forma como são dadas as respostas, mas também ao tipo de tarefas que são desempenhadas e a quem as desempenha. Como tal, e tendo em conta que as novas tecnologias de comunicação e informação apresentam um papel extremamente importante nesta transformação, foi feito um enquadramento teórico da temática do crowdsourcing adaptado à resposta a catástrofes naturais, classificação onde se podem inserir os incêndios florestais.

Grande parte dos autores que se debruça sobre o crowdsourcing (cf. Silva, 2015; Ridge, 2013; Dailey e Starbird, 2014; Liu, 2014; Alves, 2014 e Poblet et al., 2017) identifica Jeff Howe, jornalista e editor da revista Wired, como pai do termo ilustrado como “a distributed problem-solving model where the task of solving a challenge or developing an idea gets ‘outsourced’ to a crowd” (Howe, 2006).

O conceito crowdsourcing, “which means the crowd as a news source but also implying the crowd as a content producer” (Santos Silva, 2016: 112), tem vindo a ter diversas interpretações e formas de adaptar à resposta a situações de emergência despoletadas por catástrofes naturais.

Um dos pontos abordados nestas investigações foi a relação eficiente tempo-custos de entregar o processo a um maior e mais diversificado grupo de talentos, algo que viria também a alterar o papel passivo dos cidadãos, e a transformá-los em participantes ativos (cf. Norheim-Hagtun e Meier, 2010). Sob esta perspetiva, o crowdsourcing torna-se numa ferramenta essencial dos processos inovadores que permitem dar resposta a situações de catástrofe, uma vez que possibilita a obtenção de informação privilegiada, proveniente daqueles cuja vida ou sobrevivência depende dessa informação (cf. Norheim-Hagtun e Meier, 2010). Além disso, características do crowdsourcing como a abertura, a transparência, a colaboração, a rápida velocidade de partilha e a escala que pode atingir, bem como a estrutura dinâmica de tomada de decisão, são elementos cruciais para processos inovadores de resposta a situações de emergência geradas por catástrofes naturais (cf. Norheim-Hagtun e Meier, 2010).

Algo que se afigura também uma mais-valia nestes processos é o facto de estar incluída uma maior percentagem da comunidade, ao contrário do que ocorre em abordagens mais

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tradicionais, onde a inovação é considerada mais eficiente e com maior potencial de ser bem-sucedida quando se encontra sob a tutela e gestão de especialistas (cf. Norheim-Hagtun e Meier, 2010).

Este é, então, um modelo que permite às massas a participação em diversas tarefas, desde a validação de informações ou fotografias, à gestão de ações a tomar, tarefa habitualmente desempenhada pelos stakeholders tradicionais (cf. Gaoet al., 2011). Dentro das particularidades do crowdsourcing, os investigadores salientam “social activism and public accountability to collectively contribute information, visualize incidents, and enable cooperation among various organizations” (Gao et al., 2011: 11), já que os cidadãos podem participar ativamente na reportagem de notícias online através da publicação de testemunhos, de comentários, ou da curadoria da informação (cf. Thorsen, 2013).

Por estes motivos, “as iniciativas de crowdsourcing têm vindo a assumir uma importância cada vez maior no apoio prestado às comunidades em situações de desastre/crise ou perante a ocorrência de um outro evento perturbador, contribuindo para uma maior resiliência das mesmas” (Alves, 2014: v) e, por isso, é crescente o momentum dado a esta ferramenta pelo apoio positivo prestado aos stakeholders tradicionais e àqueles direta ou indiretamente afetados pelas catástrofes.

A crescente imposição do crowdsourcing foi demonstrada através da ilustração de caraterísticas apelativas como o facto de ser um modelo de baixos custos e de se tratar de uma solução escalável que dá acesso a uma qualidade e quantidade de informação a que, de outra forma, seria proibitivamente difícil ou custoso de aceder (cf. McDaniel, et al., 2011).

A crescente facilidade de acesso à Internet leva à possibilidade de transformar o modo como se responde às situações de emergência devido a fatores como a passagem da escassez de informação ao excesso e, a propósito desta questão, pode utilizar-se o crowdfiltering “through verification, finding trusted sources, and weighing the importance of different information, becomes as important as crowdsourcing” (Norheim-Hagtun e Meier, 2010: 83). Por isso, como parte integrante dos sistemas de socorro em casos de emergência despoletados por catástrofes naturais, a utilização do crowdsourcing enquanto rede social “offer a powerful capability for collecting information from disaster scenes and visualizing data for relief decision making” (Gao, et al., 2011: 10).

Assim, crowdsourcing entende-se como “a crowd of people, connected through technology, working together in a self-organizing fashion on the problem of collating,

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filtering, synthesizing and routing information” (Dailey e Starbird, 2014: 474), uma ferramenta tecnológica que precisa essencialmente de infraestruturas humanas que reúnam especialistas com conhecimento no âmbito deste tipo de plataformas e capacidade de recrutamento e liderança para coordenar os voluntários, bem como a compreensão das atitudes a tomar num sistema de verificação de informação (cf. Dailey e Starbird, 2014).

Por um lado, são apresentadas as vantagens da utilização desta ferramenta na resposta às catástrofes naturais, como o facto de os dados de crowdsourcing, incluindo solicitações de utilizadores e atualizações do estado em que se encontram, serem recolhidos quase de imediato através das redes sociais após uma catástrofe, o que permite acelerar o processo de tomada de decisões; o facto de as ferramentas das plataformas de crowdsourcing terem a capacidade de recolher informação de e-mails, formulários, tweets, e outros métodos desestruturados e de conseguirem, a partir dessa informação, criar análises básicas através de tag clouds, tendências e outros filtros, permitindo categorizar a informação e, por sua vez, que as organizações foquem os seus esforços nos pedidos mais urgentes; e, por fim, que os utilizadores incluam informações de georreferenciação nas mensagens enviadas para estas plataformas, através de determinadas redes sociais e dispositivos, o que possibilita não só às organizações, como a qualquer voluntário, localizar com minúcia a origem dos pedidos de socorro (cf. Gao et al., 2011).

A confiança nos dados fornecidos pelos voluntários online através do crowdsourcing pode ser atestada “deploying trustworthy infrastructure into the environment or trustworthy hardware on consumer sensing platforms”, “applying statistical analysis to a data stream to separate the good data from the bad” (McDaniel et al., 2011: 75-76), ou ainda através de incentivos monetários ou o acesso a conteúdos premium a quem se dedique a verificar a informação (cf. McDaniel et al., 2011). Além disso, o crowdsourcing permite o apoio, em tempo real, aos esforços empregues em situações de catástrofe (cf. Dailey e Starbird, 2014). Deste feito, alguns autores destacavam funcionalidades interessantes para as organizações de ajuda humanitária, tais como funções de alerta que permitem às agências estruturar um mural de informações de acordo com a proveniência dos dados, seja de acordo com a localização, ou por tópicos, ou a prevenção da sobreposição de ajudas a uma determinada área afetada ou incidente por diversas agências ao ser indicado que dada situação já está a ser gerida (cf. Norheim-Hagtun e Meier, 2010).

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Celeste J. Chan corroborava as referidas vantagens e definia este modelo como uma ferramenta de recolha de dados e partilha de informação que beneficia dos serviços e modelos participativos das redes sociais e que é cada vez mais popular, na medida em que “more heads are better than one” (cf. Chan, 2015). Argumentava que este é um modelo que pode permitir a ligação entre diferentes stakeholders dentro e fora de uma comunidade que enfrente uma situação de calamidade (cf. Chan, 2015), uma vez que o processo de crowdsourcing se pode estender ao de crowdmapping para criar mapas em tempo real, à medida que se desenrolam os acontecimentos, e que integra dados de conhecimento local no processo de mapeamento, uma vez que são fornecidas ideias e informações relevantes sobre o âmbito físico e social em que se desenvolvem os incidentes (cf. Chan, 2015).

Um estudo feito à utilização do crowdsourcing em tarefas de processamento de informação durante catástrofes naturais explica que foi algo que resultou da junção de duas forças: uma delas tecnológica, onde as redes sociais, a Internet e as tecnologias móveis permitem que as pessoas partilhem informações, que se conectem e trabalhem em conjunto; a outra, uma força social, frequentemente referida como convergência, que se trata de um fenómeno da sociologia das catástrofes (cf. Starbird, 2011).

Se, durante as catástrofes a população tende a convergir espontaneamente para o local de ocorrência do fenómeno para oferecer ajuda aos esforços tradicionais, também aqueles que estão distantes do acontecimento, têm a possibilidade e sentem a necessidade de convergir através das ICT e das redes sociais, de modo a partilhar informações e a oferecer assistência (cf. Starbird, 2011). Ao criar uma plataforma online para o efeito (Tweak-the-Tweet), Starbird classificou como voluntweeters as pessoas que atuam, à distância, ajudando a processar, verificar e direcionar a informação (cf. Starbird, 2011) durante as catástrofes. Estes indivíduos e grupos podiam também servir-se da plataforma para se conectarem com aqueles que desempenhavam papéis similares e, assim, criar uma rede de voluntários em todo o mundo (cf. Starbird, 2011).

O surgimento de grupos de indivíduos que, através do crowdsourcing recolhem, verificam e analisam a informação digital para proporcionar uma imagem clara dos acontecimentos aos esforços de resposta às emergências foi estudado por diversos autores. De acordo com a investigadora norte-americana Wendy Norris, estes indivíduos procuram criar listas das organizações, recursos e informações de contacto que respondam às questões “Quem?”, “O quê?” e “Onde?” através da análise feita ao conteúdo partilhado nas redes

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Tabela A - Descrição das Variáveis de Análise do Benchmarking
Figura U - Logotipo e screenshot da app da plataforma Fogos.pt

Referências

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