Como citar este artigo: Monteiro P, et al. Efeito da empagliflozina para além do controlo glicémico: bene-fício cardiovascular em doentes com DMT2 e doenc¸a cardiovascular estabelecida. Rev Port Cardiol. 2019.
https://doi.org/10.1016/j.repc.2019.02.008
ARTICLE IN PRESS
+ModelREPC-1422; No.ofPages15
RevPortCardiol.2019;xxx(xx):xxx---xxx
www.revportcardiol.org
Revista
Portuguesa
de
Cardiologia
Portuguese
Journal
of
Cardiology
ARTIGO
DE
REVISÃO
Efeito
da
empagliflozina
para
além
do
controlo
glicémico:
benefício
cardiovascular
em
doentes
com
DMT2
e
doenc
¸a
cardiovascular
estabelecida
Pedro
Monteiro
a,∗,
Carlos
Aguiar
b,
Pedro
Matos
c,
José
Silva-Nunes
d,
Rita
Birne
e,
Patrícia
Branco
e,
Joaquim
Calado
f,
Miguel
Melo
g,
Jorge
Polónia
haServic¸odeCardiologiaA,CentroHospitalareUniversitáriodeCoimbra,FaculdadedeMedicinadaUniversidadedeCoimbra,
Coimbra,Portugal
bServic¸odeCardiologia,HospitaldeSantaCruz,CentroHospitalardeLisboaOcidental,Lisboa,Portugal
cDepartamentodeCardiologia,Associac¸ãoProtectoradosDiabéticosdePortugal;CentrodoCorac¸ão,HospitalCUFInfante
Santo,Lisboa,Portugal
dServic¸odeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismodoHospitaldeCurryCabral,CentroHospitalardeLisboaCentral;Escola
SuperiordeTecnologiadaSaúdedoInstitutoPolitécnicodeLisboa;NOVAMedicalSchool/FaculdadedeCiênciasMédicas daUniversidadeNovadeLisboa,Lisboa,Portugal
eDepartamentodeNefrologia,Associac¸ãoProtetoradosDiabéticosdePortugal;Servic¸odeNefrologia,HospitaldeSantaCruz,
CentroHospitalardeLisboaOcidental,Lisboa,Portugal
fServic¸odeNefrologia,HospitaldeCurryCabral,CentroHospitalardeLisboaCentral;CentreforToxicogenomicsandHuman
Health(ToxOmics),Genetics,OncologyandHumanToxicology,NovaMedicalSchool/FaculdadedeCiênciasMédicasda UniversidadeNovadeLisboa,Lisboa,Portugal
gServic¸odeEndocrinologia,DiabeteseMetabolismo,CentroHospitalareUniversitáriodeCoimbra,FaculdadedeMedicina
daUniversidadedeCoimbra,Coimbra,Portugal
hDepartmentodeMedicina,CentrodeInvestigac¸ãoemTecnologiaseServic¸osdeSaúde,FaculdadedeMedicina
daUniversidadedoPorto;UnidadedeHipertensão,UnidadeLocaldeSaúdedeMatosinhos,Porto/Matosinhos,Portugal
Abreviaturas:ADA,Associac¸ãoAmericanadeDiabetes;AI,Anginainstável;arGLP-1,AgonistadorecetordoGLP-1;AVC,Acidentevascular cerebral;CV,Cardiovascular;CVOT,Ensaiosdeoutcomescardiovasculares;DAP,Doenc¸aarterialperiférica;DCV,Doenc¸acardiovascular;DM, Diabetesmellitus;DMT1/2,Diabetesmellitustipo1/2;DRC,Doenc¸arenalcrónica;EAM,Enfarteagudodomiocárdio;EMA,AgênciaEuropeia doMedicamento;FDA,AgênciadeControlodeAlimentoseMedicamentos;GLP-1,Peptídeo-1similaraoglucagon;HR,HazardRatio;HTA, Hipertensãoarterial;IC,Insuficiênciacardíaca;IC95%,Intervalodeconfianc¸aa95%;iDPP-4,Inibidoresdadipeptidilpeptidase4;iSGLT2, Inibidordocotransportadortipo2desódio/glicose;MACE, Eventoscardiovascularesmajor;NHE,Permutadorsódio-hidrogénio;PPAR-␥, Recetoresativadosporproliferadordeperoxissomagama;eGFR,Taxadefiltrac¸ãoglomerularestimada.
Abbreviations: ADA,AmericanDiabetesAssociation;AI,Unstableangina;arGLP-1,GLP-1receptoragonists;AVC,Stroke;CV, Cardiovas-cular;CVOT,CardiovascularOutcomeTrials;DAP,Peripheralarterialdisease;DCV,Cardiovasculardisease;DM,Diabetesmellitus;DMT1/2, Type1/2Diabetesmellitus;DRC,Chronickidneydisease;EAM,Acutemyocardialinfarction;EMA,EuropeanMedicinesAgency;FDA,Food andDrugAdministration;GLP-1,Glucagon-likepeptide1;HR,HazardRatio;HTA,Hypertension;IC,Heartfailure;IC95%,95%Confidence interval;iDPP-4,Dipeptidilpeptidase4inhibitors;iSGLT2,Sodium-glucosecoTransporter2inhibitors;MACE,MajorAdverse Cardiovascu-larEvents; NHE,Sodium-hydrogenantiporter;PPAR-␥,Peroxisomeproliferator-activatedreceptorgamma;eGFR, EstimatedGlomerular FiltrationRate.
∗Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:pedromontei@gmail.com(P.Monteiro). https://doi.org/10.1016/j.repc.2019.02.008
0870-2551/©2019SociedadePortuguesadeCardiologia.PublicadoporElsevierEspa˜na,S.L.U.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸a CCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
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2 P.Monteiroetal. PALAVRAS-CHAVE Empagliflozina; Diabetes; Doenc¸a cardiovascular; Insuficiênciacardíaca
Resumo A prevalência da diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) continua a aumentar e a sua associac¸ão com a doenc¸a cardiovascular (CV) tem levado à incorporac¸ão e valorizac¸ão de
endpointsCVnosensaiosclínicossobreotratamentodaDMT2.
Esteartigofaz umarevisão dosvários ensaiosjá realizadoseemdesenvolvimento,neste âmbito,comespecialenfoquenoestudoEMPA-REGOUTCOME.Nesteestudo,aempagliflozina, um inibidordocotransportador tipo2desódio/glicose(iSGLT2), demonstrouefeitos benéfi-cosnareduc¸ãodoriscoCVemdoentescomDMT2edoenc¸a CVestabelecida,paraalémde seguranc¸aCVediminuic¸ãodosvaloresdeHbA1c,representandoumamudanc¸adeparadigma comimpacto aonível das recomendac¸õesinternacionais para otratamentodaDMT2. Estes resultadosmantiveram-seemanálisesdesubgruposposteriores,nomeadamentena insuficiên-ciacardíaca,doenc¸arenalcrónicaedoenc¸aarterialperiférica,aindaquemuitasquestõesse coloquemsobreosmecanismosenvolvidosnestesefeitos---seefeitoshemodinâmicos,efeitos metabólicosouseadiminuic¸ãodasconcentrac¸õesdesódiocitoplasmáticonomiocárdio.
Comadiminuic¸ãodoriscode eventosCVmajorem doentescomDMT2,osresultados do estudoEMPA-REGOUTCOMEdemonstraram,pelaprimeiravez,protec¸ãoCVassociadaaoefeito deumfármacoanti-hiperglicémicoeiniciaramumanovaeranotratamentoegestãodaDMT2. Esteestudolevouaodesenvolvimentodeoutrosensaios,aindaadecorrer,quepermitirão esta-belecerquaisosdoentesquemaisbeneficiarãodestaterapêutica,nomeadamentenarelac¸ão àexistênciadecomorbilidades.
©2019SociedadePortuguesadeCardiologia.PublicadoporElsevierEspa˜na,S.L.U.Este ´eum artigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/). KEYWORDS Empagliflozin; Diabetes; Cardiovascular disease; Heartfailure
Effectofempagliflozinbeyondglycemiccontrol:Cardiovascularbenefitinpatients withtype2diabetesandestablishedcardiovasculardisease
Abstract Theprevalenceoftype2diabetes(T2D)continuestoincrease,anditsassociation withcardiovascular(CV)diseasehasledtotheinclusionofCVendpointsinclinicaltrialsonthe treatmentofT2D.
Thisarticleexploresthevarioustrialsalreadyperformedandunderdevelopmentinthisfield, withparticularfocusontheEMPA-REGOUTCOMEtrial.In thistrial,empagliflozin,a sodium-glucoseco-transporter2inhibitor,demonstratedareductioninCVriskinpatientswithT2Dand establishedCVdisease,inadditiontoCVsafetyandadecreaseinglycatedhemoglobin.This representsaparadigmshiftthathasledtochangesintheinternationalguidelinesforthe treat-mentofT2D.Theseresultsweremaintainedinsubsequentsubgroupanalysisforheartfailure, chronickidneydiseaseandperipheralarterialdisease,althoughtherearemanyquestions con-cerningthemechanismsinvolvedintheseeffects,includingwhethertheyarehemodynamic, metabolicorduetodecreasedmyocardialcytoplasmicsodiumconcentrations.
WiththisreductioninriskformajorCVeventsinpatientswithT2D,theEMPA-REGOUTCOME trialdemonstratedCVprotection fromahypoglycemicdrugforthefirsttime,andopeneda newerainthetreatmentandmanagementofT2D.Thisstudyhasledtothedevelopmentof ongoingtrialsthatwillestablishwhichpatientswillbenefitmostfromthistherapy,particularly withregardtocomorbidities.
©2019SociedadePortuguesadeCardiologia.PublishedbyElsevierEspa˜na,S.L.U.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão:
doenc
¸a
CV
e
diabetes
Adiabetesmellitus(DM)éumadasdoenc¸as crónicascom maiorimpactoanívelmundialdevidoàsuaelevada preva-lênciaeaoselevadoscustoseconómicosdiretoseindiretos motivados, em grande parte, pelo desenvolvimento de complicac¸ões micro e macrovasculares. Apesar dos vários
esforc¸os ao nível de políticas desaúde e de educac¸ão, a prevalênciadaDMtipo1(DMT1)e,sobretudo,daDMtipo2 (DMT2)continuaaaumentar1.
Existe uma associac¸ão entre a DM e a doenc¸a cardi-ovascular (DCV), nomeadamente no que diz respeito ao enfarteagudodomiocárdio(EAM),acidentevascular cere-bral(AVC),doenc¸aarterialperiférica(DAP),cardiomiopatia
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Efeitodaempagliflozinaparaalémdocontrologlicémico 3
einsuficiênciacardíaca(IC)1.ADCVéaprincipalcausade morbilidadeemortalidadeempessoascomdiabetes, espe-cialmente noque concerne o EAMe AVC,em relac¸ão aos quais são reportados valores de prevalência quatro vezes maiselevadosnaspessoascomdiabetes1---3.EmPortugal,de acordocomoProgramaNacionalparaaDiabetes,cercade umterc¸odosinternamentosporEAMeAVCforamdepessoas comDM,sendo amortalidadepor EAM,nestesindivíduos, superioràdapopulac¸ãonãodiabética4.
AICtemtambémumaelevadaprevalênciaempessoas comDM,sendo2,5vezessuperiornestesindivíduos5;umem cadacincodiabéticoscommaisde65anostemIC6.Doentes comDMeICapresentampiorprognóstico,comumataxade mortalidadedecausaCVsuperioreumnúmeroe durac¸ão dehospitalizac¸õesmaiselevados5,7.Contudo,embora aIC sejareconhecidamentepartedoseventoscardiovasculares
majorrelacionadoscomaDMT2,éfrequentemente subva-lorizada enquanto alvo terapêutico nos múltiplos estudos desenvolvidos7.
Considerandoesteelevadoimpacto,adiabetesé atual-menteconsideradaumfatorderiscomajoreindependente deDCV,apardoconsumodetabaco,dahipertensãoarterial (HTA)edadislipidemia,devendootratamentodaspessoas comdiabetesserfocadonamelhoriadoriscocardiovascular (CV)2,8.Aabordagemterapêuticanadiminuic¸ãoeprevenc¸ão decomplicac¸õesCVnaDMT2devecontemplarocontroloda glicemia,masdevetambémsercadavezmaismultifatorial, incluindoocontrolodapressãoarterial,doperfillipídicoe dopesocorporal,ocombateaosedentarismoeacessac¸ão tabágica9.Contudo,a reduc¸ão deeventosCVna diabetes éumaáreaparticularmentedesafianteecomplexa,jáque outrosfatoresderiscoCVestãotambémpresentesnos indi-víduoscomDMT21.
O paradigma clássico relaciona a génese do risco car-diovascular associado à DMT2 ao estado permanente de hiperglicemia,sugerindoumarelac¸ãoquaselinearentreas perturbac¸õesmetabólicaselesãovascular10.Esteparadigma foi contrariado pelos resultados de fármacos que, apesar de otimizarem o controlo glicémico, não têm conseguido demonstrarosefeitosbenéficosesperadosnadiminuic¸ãodo riscocardiovascular,comofoiocasodageneralidadedos ini-bidoresdadipeptidilpeptidase4-iDPP4,dassulfonilureias edainsulina10.
Atualmente, os ensaios clínicos têm vindo a incorpo-rare avalorizarendpointsCVnotratamento daDMT2em adic¸ãoaosendpointsrelacionadoscomocontrolo metabó-lico,nomeadamenteocorrênciadeEAMe deAVCemorte porcausaCV11.
Estado
da
arte
nos
estudos
de
outcomes
CV
na
DMT2
Têm sido muitos os esforc¸os para encontrar agentes far-macológicos que demonstrem benefícios inequívocos nos
outcomesCV em doentes comDMT2, com inúmeros estu-dos de diferentes classes farmacológicas. No entanto, os resultados têm sido, em muitas situac¸ões, inconsistentes oupoucosignificativos,especialmentenoqueconcerneas complicac¸õesmacrovasculares12.
Historicamente, cinco grandes estudos avaliaram de forma pioneira o efeito do controlo glicémico intensivo
comparativamente ao controlo standard no risco CV em doentescomDMT2---osestudosUKPDS13,UGDP14,VADT15, ADVANCE16 e ACCORD17. Embora estes estudos tenham incluído doentes com diferentes estádios de DCV e por períodos de follow-up distintos, globalmente podem ser retiradasalgumasconclusões18.
Os dados disponíveis sugerem que a reduc¸ão inten-siva da glicose tem efeitos benéficos sobre o risco microvascular13,15,16;noentanto,pararesultados macrovas-cularesemortalidade,aevidêncianãofoiconcordante14---17. Considerandoos indivíduos comexcesso de peso, ocorreu umareduc¸ãodamortalidadeportodasascausas,da mor-talidade associada à diabetes e da ocorrência de EAM13. Adicionalmente,umaanáliseretrospetiva,alongoprazo,ao grupodedoentesincluídosnoestudoUKPDS19 e noestudo VADT15 revelou uma reduc¸ão nos eventos CV com terapia intensivaversusotratamentopadrão.
Após uma meta-análise ter associado a rosiglitazona, daclasseterapêuticadastiazolidinedionas,aumaumento significativodeeventosCVedemortalidadequando com-parada a outros antidiabéticos orais, foi desencadeada umadiscussão sobre a necessidade de avaliar mais deta-lhadamente as terapias antidiabéticas de uma perspetiva cardiovascular20.
DadaaincertezasobreosefeitosCVdosantidiabéticos,a
FoodandDrugAdministration(FDA)21em2008eaEuropean MedicinesAgency(EMA)22em2012emitiramumaorientac¸ão paraaindústriafarmacêuticasobrearealizac¸ãodeensaios clínicosparanovosfármacosnotratamentodaDMT2,com enfoquenosresultadosCV.Desdeentão,váriosestudostêm sidodesenvolvidos paraavaliar orisco-benefício de novas terapêuticas anti-hiperglicémicas. Estes estudos --- CVOT (CardiovascularOutcomeTrials)---têmsidodesenhadospara demostrac¸ãode seguranc¸a CV e dobenefício da terapêu-tica antidiabética, maioritariamente na DMT2, e incluem nosseusendpointsamortalidadeporcausaCV,EAM,AVC, hospitalizac¸ões por síndromecoronária aguda ou procedi-mentosurgentesderevascularizac¸ão, em populac¸õescom maiorriscoCV,maisidosasecomalgumgraude insuficiên-ciarenal23,24.ATabela1apresentaumresumodosensaios realizadosdesde2008,apósaemissãodaorientac¸ãodaFDA. A primeira classe a reportar resultados, após esta alterac¸ão, foi a classe dos iDPP-4. Os estudos com saxagliptina25, alogliptina26 e sitagliptina27 mostraram seguranc¸a CV, ainda que com efeitos neutros no end-pointcardiovascular primário. Adicionalmente, no estudo com saxagliptina, verificou-se um aumento do risco de hospitalizac¸ão por IC25. Aguardam-se os resultados dos ensaiosCAROLINA(linagliptinaversusglimepirida)28e CAR-MELINA(linagliptinaversus placebo)29 que poderão trazer informac¸ãoadicionalsobreosefeitosdestaclasse terapêu-ticanoriscoCV.
Apósapublicac¸ãodestesestudos,gerou-sealgum desâ-nimona comunidadecientífica,poispareciaquenenhuma terapêuticaantidiabéticaeracapazdemelhoraro prognós-ticocardiovascular.Noentanto,verificou-seumamudanc¸a deparadigmacomaapresentac¸ãodosresultadosdoestudo EMPA-REGOUTCOME30.Nesteestudo,aempagliflozina,um inibidordocotransportadortipo2desódio/glicose(iSGLT2), demonstrou,paraalémdeseguranc¸aCV,efeitos benéficos na reduc¸ão do risco CV em doentes com DMT2e doenc¸a CV estabelecida. Este benefício foi observado logo após
Como citar este artigo: Monteiro P, et al. Efeito da empagliflozina para além do controlo glicémico: bene-fício cardiovascular em doentes com DMT2 e doenc ¸a cardiovascular estabelecida. Re v P ort Cardiol. 2019. https://doi.org/10.1016/j.repc.2019.02.008
AR
TICLE IN PRESS
+Model REPC-1422; No. of P ages 15 4 P. Monteiro et al.Tabela1 CVOTsrealizadosapósaorientac¸ãodaFDAde2008
Ensaio Situac¸ão Fármaco Classe
terapêutica
Intervenc¸ão Endpointprimário N Identificac¸ãono
Clinicaltrials.gov
EXAMINE Finalizado Alogliptina iDPP-4 Alogliptinavs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 5.380 NCT00968708
SAVOR-TIMI53 Finalizado Saxagliptina iDPP-4 Saxagliptinavs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 18.206 NCT01107886
EMPA-REG OUTCOME
Finalizado Empagliflozina iSGLT2 Empagliflozina10mgvs.
Empagliflozina25mgvs.
Placebo
MorteCV,EAM,ouAVC 7.064 NCT01131676
ELIXA Finalizado Lixisenatido arGLP-1 Lixisenatidovs.Placebo MorteCV,EAM,AI,ouAVC 6.068 NCT01147250
TECOS Finalizado Sitagliptina iDPP-4 Sitagliptinavs.Placebo MorteCV,EAM,AI,ouAVC 14.671 NCT00790205
LEADER Finalizado Liraglutido arGLP-1 Liraglutidovs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 9.340 NCT01179048
SUSTAIN-6 Finalizado Semaglutido arGLP-1 Semaglutido0.5mgvs.
Semaglutido1.0mgvs.
Placebo
MorteCV,EAM,ouAVC 3.297 NCT01720446
FREEDOM-CVO Finalizado Exenatidovia
DUROS®
arGLP-1 ITCA650(exenatidovia
DUROS®)vs.Placebo
MorteCV,EAM,AVCou
hospitalizac¸ãoporAI
4.156 NCT01455896
CANVAS Finalizado Canagliflozina iSGLT2 Canagliflozina100mgvs.
Canagliflozina300mgvs.
Placebo
MorteCV,EAM,AI,ouAVC 4.418 NCT01032629
EXSCEL Finalizado Exenatido arGLP-1 Exenatidosemanalvs.
Placebo
MorteCV,EAM,ouAVC 14.752 NCT01144338
CARMELINA Ongoing
(2018)
Linagliptina iDPP-4 Linagliptinavs.
Placebo
MorteCV,EAM,AI,ouAVC 8.000 NCT01897532
PIONEER Ongoing
(2018)
Semaglutido arGLP-1 Semaglutidovs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 3.176 NCT02692716
TOSCA-IT Ongoing (2018) Pioglitazona Agonistado PPAR-␥ Pioglitazonavs. Sulfonilureia
MorteCV,EAM,AVC,ou
revasculizac¸ãocoronária
Como citar este artigo: Monteiro P, et al. Efeito da empagliflozina para além do controlo glicémico: bene-fício cardiovascular em doentes com DMT2 e doenc ¸a cardiovascular estabelecida. Re v P ort Cardiol. 2019. https://doi.org/10.1016/j.repc.2019.02.008
AR
TICLE IN PRESS
+Model REPC-1422; No. of P ages 15 Efeito da empagliflozina para além do controlo glicémico 5 Tabela1 (Continuação)Ensaio Situac¸ão Fármaco Classe
terapêutica
Intervenc¸ão Endpointprimário N Identificac¸ãono
Clinicaltrials.gov HARMONY
Outcomes
Ongoing
(2019)
Albiglutido arGLP-1 Albiglutidovs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 9.400 NCT02465515
REWIND Ongoing
(estimada-2019)
Dulaglutido arGLP-1 Dulaglutidovs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 9.622 NCT01394952
VERTISCV Ongoing
(2019)
Ertugliflozina iSGLT2 Ertugliflozinavs.Placebo MorteCV,EAM,ouAVC 8.000 NCT01986881
DAPA-HF Ongoing
(2019)
Dapagliflozina iSGLT2 Dapagliflozina
vs.Placebo
MorteCV,hospitalizac¸ãopor
EAM,ouconsultadeurgência
porEAM
4.500 NCT03036124
CAROLINA Ongoing
(2019)
Linagliptina iDPP-4 Linagliptinavs.
Glimepiridavs.Placebo
MorteCV,EAM,AI,ouAVC 6.072 NCT01243424
DECLARE-TIMI58 Ongoing
(2019)
Dapagliflozina iSGLT2 Dapagliflozina10mgvs.
Placebo
MorteCV,EAM,ouAVC 17.276 NCT01730534
CREDENCE Ongoing
(2019)
Canagliflozina iSGLT2 Canagliflozina300mgvs.
Placebo
DRC+MorteCVe
hospitalizac¸ãoporIC
4.331 NCT02065791
EMPEROR Preserved
Ongoing
(2020)
Empagliflozina iSGLT2 Empagliflozinavs.
Placebo
MorteCVouhospitalizac¸ão
porIC
4.126 NCT03057951
EMPERORReduced Ongoing
(2020)
Empagliflozina iSGLT2 Empagliflozinavs.
Placebo
MorteCVouhospitalizac¸ão
porIC
2.850 NCT03057977
DAPA-CKD Ongoing
(2020)
Dapagliflozina iSGLT2 Dapagliflozina
vs.Placebo
DeclíniodaeGFR≥50%,ou
Doenc¸aRenalEstádio5,Morte
CV,ou
MorteRenal
4.000 NCT03036150
AI:anginainstável;arGLP-1:agonistadorecetordoGLP-1;AVC:acidentevascularcerebral;CV:cardiovascular;DRC:doenc¸arenalcrónica;EAM:enfarteagudodomiocárdio;eGFR:taxa defiltrac¸ãoglomerularestimada;IC:insuficiênciacardíaca;PPAR-␥:recetoresativadosporproliferadordeperoxissomagama.
Como citar este artigo: Monteiro P, et al. Efeito da empagliflozina para além do controlo glicémico: bene-fício cardiovascular em doentes com DMT2 e doenc¸a cardiovascular estabelecida. Rev Port Cardiol. 2019.
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+ModelREPC-1422; No.ofPages15
6 P.Monteiroetal.
trêsmeses deestudo e ampliou-seao longodotempode seguimento,comumareduc¸ãosignificativade38%norisco relativodemorteCV30.
Este ensaio clínico aleatorizado, em dupla ocultac¸ão, pretendeu avaliar a não inferioridade, mas com a possi-bilidadedetestarsuperioridade, daempagliflozina(10mg ou 25mg, uma vez por dia) comparativamente a pla-cebo, ambos em associac¸ão com o tratamento standard
(antidiabéticos,anti-hipertensoreseantidislipidémicos),na ocorrênciadeumcompósitodeMACE(MajorAdverse Car-diovascularEvents)---morteporcausaCV,AVCnãofatalou EAMnãofatal30.
Os resultados demonstraram uma reduc¸ão significativa do risco de ocorrência de eventos CV no grupo a fazer empagliflozina,independentementedadoseutilizada,face aplacebonaocorrênciadoendpointprimário(10,5%versus
12,1%;p=0,04),reduc¸ãoemgrandeparteimpulsionadapela reduc¸ão damortalidade cardiovascular(3,7% versus5,9%; p<0,001)30.Adicionalmente,verificou-seumasignificativa reduc¸ãode32%nonúmerodemortesporqualquercausae de35%nashospitalizac¸õesporICnosdoentessob terapêu-ticacomempagliflozina(respetivamente5,7%versus8,3%; p<0,001e2,7%versus4,1%;p=0,002)30.
Posteriormente, o Programa CANVAS31 demonstrou um benefíciodeumoutroinibidordaiSGLT2,acanagliflozina, nareduc¸ãodeeventosCVedashospitalizac¸õesporIC, mos-trandoumaconsistênciadentrodaclassedosiSGLT2.Este ProgramaincluiudoentescomDMT2diabetestipo2e ele-vadoriscoCV(DCVestabelecidaoumúltiplosfatoresderisco CV)emtratamentocomcanagliflozinaversusplacebo31.Foi definidocomooutcomeprimárioumcompósitodeMACE ---morteporcausaCV,EAMnãofatalouAVCnãofatal---e,como
outcomessecundários,morteporqualquercausa,mortepor causaCVeumcompósitodedoispontos---morteporcausa CVehospitalizac¸ãoporIC31.Verificou-se umadiminuic¸ão, estatisticamentesignificativa,deeventosnocompósitode trêspontosMACE:26,9nogrupocanagliflozinaversus31,5 nogrupoplacebopor1000doentes/ano(hazardratio,HR, 0,86;intervalodeconfianc¸a,IC,95%0,75-0,97; p <0,001 para não inferioridade e p = 0,02 para superioridade)31. Contudo,excetuandoamenorocorrênciadehospitalizac¸ões porICnogrupoafazertratamentocomcanagliflozina,esta nãofoi estatisticamente superior a placebo nosrestantes eventosCVavaliados,nomeadamentena morteCV,EAMe AVCfatalenãofatal---apesardareduc¸ãoapresentada nes-tesparâmetros31.Nosdoentestratadoscomcanagliflozina, verificou-seumaumentodonúmerodeamputac¸ãonos mem-brosinferiores,metatarsos,pésepernasedefraturas31que, apardareduc¸ãonãosignificativademorteCV,foramas prin-cipaisdiferenc¸asentreesteestudoeoensaioclínicocoma empagliflozina30,32.
Na classe dos iSGLT2, aguardam-se os resultados dos ensaios em curso com outras moléculas (dapagliflozina e ertugliflozina) para esclarecer possíveis efeitos de classe33,34.
Naclassedosagonistasdorecetordopeptídeo1 seme-lhante ao glucagon (arGLP-1 --- glucagon-like peptide 1), o liraglutido35 e o semaglutido36 vieram confirmar o novo paradigma no tratamento para diminuic¸ão do risco de complicac¸õesCVnaDMT2,emboracomresultadossóaofim decercade12meses.Osensaiosdemostrarambenefícios nooutcomeprimário,ocompósitodemorteporcausaCV,
EAM nãofatal ouAVC nãofatal, mascom resultados dis-tintosemalgunsendpointsquandoavaliadosisoladamente, nomeadamenteaocorrênciadeEAMnãofatal35,36.
Mais recentemente, o ensaio com exenatido (EXSCEL) nãoapresentoudiferenc¸assignificativasfaceaplacebonos vários endpoints CV avaliados37, tal como havia aconte-cidonoestudoELIXA38,emqueolixisenatidonãomostrou superioridadeemrelac¸ãoaplacebonaocorrênciade even-tos CV em doentes recém-diagnosticados com síndrome coronária aguda,confirmando que asmoléculas da classe dosarGLP-1apresentamcaracterísticasdiferentesentresi, sendoporissodifícilfalarnumefeitodeclasse. Aguardam--seaindaosresultadosdeseguranc¸aCVdodulaglutido39e doalbiglutido40,quepoderãotrazermaisinformac¸ãosobre osarGLP-1.
Benefício
CV
da
empagliflozina
em
doentes
com
DMT2
e
doenc
¸a
CV
estabelecida
OutcomesCVdoEMPA-REGOUTCOME
Oensaio clínicoEMPA-REGOUTCOME30 incluiu 7020 indiví-duos com DMT2 (HbA1c entre 7,0 e 9,0% para indivíduos não medicados e 7,0 a 10% nos indivíduos com terapêu-tica anti-hiperglicemiante prévia), com DCV estabelecida (doenc¸a arterial coronária,DAP ouhistória deEAM oude AVC),taxadefiltrac¸ãoglomerularestimada(eGFR)superior a30mL/min/1,73m2eíndicedemassacorporal(IMC)igual ouinferiora45kg/m2.
Foidefinidocomooutcomeprimárioocompósitodetrês pontos MACE (morte por causa CV, EAMnão fatal ouAVC nãofatal) e,comooutcome secundário,aconjugac¸ão dos
outcomesprimárioscomhospitalizac¸ãoporanginainstável; adicionalmentepretendeu-seavaliaraocorrênciaisoladade morteporcausaCV,EAMnãofatal,AVCnãofatal, interna-mentodevidoaICemortalidadeporqualquermotivo30.
Osresultados(Figura1)mostraramumareduc¸ão signifi-cativadoriscoparaaocorrênciadooutcomeprimárioparao grupoareceberempagliflozina,comparativamenteaogrupo placebo (HR 0,86; IC 95% 0,74-0,99; p < 0,001 para não inferioridade e p = 0,04 para superioridade)30. Adicional-mente, houveumareduc¸ãosignificativadorisco demorte porcausaCV(HR0,62;IC95%0,49-0,77;p<0,001)namorte porqualquercausa(HR0,68;IC95%0,57-0,82;p <0,001) e donúmerohospitalizac¸õespor ICnogrupo tratadocom empagliflozina(HR0,65;IC95%0,50-0,85;p=0,002)30.
Verificou-se, também, uma diminuic¸ão ao nível dos valoresdeHbA1cnogrupotratadocomempagliflozina com-parativamente ao grupo placebo, bem como do peso, da circunferênciaabdominal,ácidoúricoplasmáticoeda pres-sãoarterialsistólicaediastólica30.
Aempagliflozinamostrouumbomperfildeseguranc¸ae detolerabilidade,comumaincidênciadeeventosadversos comparávelao grupoplacebo, excec¸ãofeitaàmaior inci-dênciadeinfec¸õesgenitais,porémsemdiferenc¸asnoque concerneainfec¸õesurinárias30.
Adiminuic¸ão,comdiferenc¸aestatísticasignificativa,de 38%doriscorelativo(RR)demorteporcausaCV,de35%de hospitalizac¸ãoporICede32%demorteporqualquercausa demonstradapeloestudoEMPA-REGOUTCOMEfoi surpreen-denteemtermosdemagnitudeedaprecocidadecomque
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Efeitodaempagliflozinaparaalémdocontrologlicémico 7
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B
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20 15 10 5 0 15 10 5 0 0 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 7 6 5 4 3 2 1 0 6 12 18 24 30 36 42 48 0 6 12 18 24 30 36 42 48 0 6 12 18 24 30 36 42 48 0 6 12 18 24 30 36 42 48 Tempo (meses)Tempo (meses) Tempo (meses)
Tempo (meses) HR 0,86 (IC 95% 0,74-0,99) p = 0,04 HR 0,62 (IC 95% 0,49-0,77) p < 0,001 HR 0,68 (IC 95% 0,57-0,82) p < 0,0001 Placebo (n = 2333) Placebo (n = 2333) Empagliflozina (n = 4687) Placebo (n = 2333) HR 0,65 (IC 95% 0,50-0,85) p = 0,002 Placebo (n = 2333) Empagliflozina (n = 4687) Empagliflozina (n = 4687) Empagliflozina (n = 4687) Doenntes com o e v ento (%) Doentes com o e v ento (%) Doentes com o e v ento (%) Doentes com o e v ento (%)
Figura1 Outcomes primárioesecundáriodoestudo EMPA-REGOUTCOME(adaptadode30).(A)Endpointprimário(mortepor causaCV,AVCnãofatalouEAMnãofatal),(B)MorteporcausaCV,(C)Morteporqualquercausa,(D)Hospitalizac¸ãoporIC.HR:
Hazardratio;IC95%:intervalodeconfianc¸aa95%.
severificouoafastamentodascurvasdosbrac¸osdoestudo (come sem empagliflozina), coma diferenc¸anos resulta-dos entre grupo tratado com empagliflozina e placebo a verificar-seseisa12semanasapósoiníciodoestudo30.
Considerando a elevada prevalência de IC associada a diabetes e a inexistência de fármacos antidiabéticos que tenhamdemostradoumareduc¸ãodosoutcomes relaciona-doscomIC(ocorrência,hospitalizac¸õesemorte)5,foifeita uma análise posterior do EMPA-REG OUTCOME em que se pretendeuavaliar,emmaiordetalhe,osresultados referen-tes à insuficiência cardíaca dividindo os participantes em subgrupos,incluindodoentescomesemICprévia41.
Cerca de 10% (n = 706) dos participantes do EMPA--REG OUTCOME apresentavam IC na avaliac¸ão inicial. Nesta subanálise, considerou-se o outcome compósito de hospitalizac¸ãoporICemorteCV,tendo-severificadomenor ocorrênciadesteseventosnogrupomedicadocom empagli-flozina(5,7%versus8,5%nogrupoplacebo;HR0,66;IC95% 0,55-0,79;p<0,001;Figura2)41.Estareduc¸ãomanteve-se apósoajustedosresultadosporsexoesubgruposdeidade, etnia,eGFR,ICprévia,classesdemedicamentospara con-troloderiscoCV,pressãoarterialetratamentopréviopara adiabetes,demonstrandoqueoefeitodaempagliflozinaé consistenteentresubgrupos(Tabela2)41.Comumareduc¸ão globaldehospitalizac¸ãoporICemorteCVde34%(28%nos doentes com IC estabelecida e 37% nos doentes sem IC à datadeiníciodaterapêutica),deacordocomestaanálise, bastariatratar36doentes durantetrês anosparaevitar a ocorrênciadeumdesteseventos41.
15 10 5 0 0 6 12 18 24 30 36 42 48 Tempo (meses) HR 0,66 (IC 95% 0,55-0,79) p < 0,0001 Placebo (n = 2333) Empagliflozina (n = 44687) Doentes com o e v ento (%)
Figura 2 Tempo para a primeira hospitalizac¸ão por IC ou
morteCV,doestudoEMPA-REGOUTCOME(adaptadode42).HR:
HazardRatio;IC95%:Intervalodeconfianc¸aa95%.
Outra subanálise do EMPA-REG OUTCOME avaliou se o benefício da empagliflozina se mantinha, independente-mentedoriscoestimadodeIC,nosparticipantessemesta patologianaavaliac¸ãoinicial,deacordocomoscorederisco deICHealthABC42.Nosdoentesafazerempagliflozinasem ICpréviahouveumareduc¸ãodonúmerodehospitalizac¸ões oumortepor IC,independentemente dasuacategoria de risco,contrariamente aogrupo placebo,em quese verifi-couumaumentodonúmerodehospitalizac¸õesoumortepor ICcomoaumentodoriscocalculadodeIC42 (Figura3).Os efeitosfavoráveisdaempagliflozinamantiveram-sequando foiavaliado o endpoint demorte por causaCV, com uma
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8 P.Monteiroetal.
Tabela2 OutcomesCVemdoentescomeseminsuficiênciacardíacanoiníciodoestudo(adaptadode42)
PlaceboN(%) EmpagliflozinaN(%) Hazardratio(IC95%)
Hospitalizac¸ãoporICoumorteCV
Todososdoentes 198(8,5) 265(5,7) 0,66(0,55-0,79)
ComICnabaseline 149(7,1) 190(4,5) 0,63(0,51-0,78)
SemICnabaseline 49(20,1) 75(16,2 0,72(0,50-1,04)
Hospitalizac¸ãoporIC
Todososdoentes 95(4,1) 126(2,7) 0,65(0,50-0,85) ComICnabaseline 65(3,1) 78(1,8) 0,59(0,43-0,82) SemICnabaseline 30(12,3) 48(10,4) 0,75(0,48-1,19) MorteCV Todososdoentes 137(5,9) 172(3,7 0,62(0,49-0,77) ComICnabaseline 110(5,3) 134(3,2) 0,60(0,47-0,77) SemICnabaseline 27(11,1) 38(8,2) 0,71(0,43-1,16)
Morteportodasascausas
Todososdoentes 194(8,3) 269(5,7) 0,68(0,57-0,82)
ComICnabaseline 159(7,6) 213(5,0) 0,66(0,51-0,81)
SemICnabaseline 35(14,3) 56(12,1) 0,79(0,52-1,20)
CV:cardiovascular;IC:insuficiênciacardíaca;IC95%:intervalodeconfianc¸aa95%.
Nota:Foiconsideradoumvalordep<0,05paraainterac¸ãoentreosdossubgruposnosdiversosoutcomes
Hospitalização por IC ou morte CV
Hazard ratio (IC 95%) Hazard ratio (IC 95%)
0,71 (0,52-0,96) 0,52 (0,36-0,75) 0,55 (0,30-1,00) 0,65 (0,45-0,94) 0,57 (0,38-0,88) 0,49 (0,24-1,02) 0,71 (0,44-1,14) 0,42 (0,24-0,73) 0,61 (0,26-1,45) 0,125 0,25
Favorece empagliflozina Favorece placebo
0,5 1 2 4 Hospitalização por IC Morte CV Baixo a mediano (< 10%) Baixo a mediano (< 10%) Elevado (10-20%) Elevado (10-20%) Muito elevado (> 20%) Muito elevado (> 20%) Baixo a mediano (< 10%) Elevado (10-20%) Muito elevado (> 20%)
Figura3 ResultadosporriscodeICacincoanosdeacordocomoscorederiscodeICHealthABCnaavaliac¸ãoinicial(adaptado de43)
CV:cardiovascular;DAP:doenc¸aarterialperiférica;IC:insuficiênciacardíaca;IC95%:intervalodeconfianc¸aa95%;MACE:eventos cardiovascularesmajor.
Nota:Foiconsideradoumvalordep<0,05paraainterac¸ãoentreosdossubgruposnosdiversosoutcomes.
reduc¸ãodorisco absolutodemorte CVde4,9% nos doen-tescomICpreviamenteestabelecidaouincidenteduranteo ensaioede1,5%nosquenãotinhamnemdesenvolveramIC42
(Tabela3).Verificou-seumamaiorpercentagemdeeventos
adversosnosdoentescomICpréviacomparativamenteaos
que nãoapresentavam IC,quer nosdoentes tratados com empagliflozina,quernaquelesquefizeramplacebo42.
Outra análise dos dados do EMPA-REG OUTCOME inci-diusobreoefeitodaempagliflozinanos2250participantes queapresentavamdoenc¸arenalcrónica(DRC)naavaliac¸ão
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Tabela3 MortesCVemsubgruposdedoentescomICnaavaliac¸ãoinicialouincidenteduranteoestudoEMPA-REGOUTCOME (adaptadode43)
SubgruposdeIC Placebo Empagliflozina HR(IC95%) Percentagemtotal
demortesCV
ICnabaseline(n=706) 11,1% 8,2% 0,71(0,43-1,16) 21,0%
Hospitalizac¸ãoporIC(n=221) 24,2% 14,3% 0,65(0,35-1,22) 13,3%
ICreportadacomoEApeloinvestigador (n=347)
26,6% 17,6% 0,73(0,46-1,16) 23,9%
Doentescomocorrência deeventosdeIC(n=958)
15,3% 10,4% 0,67(0,47-0,97) 37,9%
DoentessemocorrênciadeeventosdeIC (n=6.062)
4,2 2,7% 0,63(0,48-0,84) 62,1%
EA:eventoadverso;IC:insuficiênciacardíaca.
Hazard ratio (IC 95%)
0,62 (0,49-0,77) 0,71 (0,52-0,98) 0,53 (0,38-0,73) 0,65 (0,50-0,85) 0,61 (0,42-0,87) 0,71 (0,48-1,05) 0,68 (0,57-0,82) 0,76 (0,59-0,99) 0,61 (0,47-0,79) 0,89 (0,82-0,96) 0,81 (0,72-0,92) 0,93 (0,84-1,03)
Favorece empagliflozina Favorece placebo
0,25 0,5 1 2 4
Morte CV
Hospitalização por IC Todos os doentes
Com doença renal prevalente Sem doença renal prevalente Morte por todas as causas
Todos os doentes
Com doença renal prevalente Sem doença renal prevalente Hospitalização por todas as causas
Todos os doentes
Com doença renal prevalente Sem doença renal prevalente
Todos os doentes
Com doença renal prevalente Sem doença renal prevalente
Hazard ratio (IC 95%)
Figura4 MorteCV,hospitalizac¸ãoporIC,morteportodasascausasehospitalizac¸ãoportodasascausasemdoentescomesem DRC(eGFR<60mL/min/1,73m2e/oumacroalbuminúria[UACR>300mg/g])naavaliac¸ãoinicialdoestudoEMPA-REGOUTCOME (adaptadode44)
CV:cardiovascular;IC:insuficiênciacardíaca;IC95%:intervalodeconfianc¸aa95%.
Nota:Foiconsideradoumvalordep<0,05paraainterac¸ãoentreosdossubgruposnosdiversosoutcomes.
inicial43. Também neste grupo de doentes, comparativa-menteaplacebo,aempagliflozinareduziuoriscodemorte porcausaCV em 29%(HR0,71;IC 95%0,52-0,98), orisco de morte por todas as causas em 24% (HR 0,76; IC 95% 0,59-0,99), o risco de hospitalizac¸ão por IC em 39% (HR 0,61; IC 95% 0,42-0,87) e o risco de hospitalizac¸ão por todas as causas em 19% (HR 0,81; IC 95% 0,72-0,92)43
(Figura4).Aocorrênciadeeventosadversosfoisemelhante
entreossubgrupos com diferentesníveis de func¸ão renal à entrada no estudo, sem se ter verificado um aumento de eventos adversos como infec¸ão urinária, insuficiência renal, hipercaliémia, fraturas, amputac¸ões ou hipoglice-miasnogrupo tratadocom empagliflozina versuso grupo placebo43.
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Morte CV
Hazard ratio (IC 95%)
0,62 (0,49-0,77) 0,64 (0,49-0,82) 0,57 (0,37-0,88) 0,68 (0,57-0,82) 0,70 (0,57-0,87) 0,62 (0,44-0,88) 0,86 (0,74-0,99) 0,88 (0,73-1,02) 0,84 (0,62-1,14) 0,89 (0,78-1,01) 0,87 (0,75-1,02) 0,93 (0,70-1,24) 0,65 (0,50-0,85) 0,68 (0,49-0,93) 0,56 (0,35-0,92) 0,66 (0,55-0,79) 0,65 (0,52-0,81) 0,65 (0,45-0,93) 1,00 (0,70-1,44) 1,30 (0,69-2,46) 0,84 (0,54-1,32) 0,61 (0,53-0,70) 0,63 (0,54-0,73) 0,54 (0,41-0,71) 0,25
Favorece empagliflozina Favorece placebo
0,5 1 2 4
Morte por todos as causas
Endpoint MACE de 3 pontos
Endpoint MACE de 4 pontos
Hospitalização por IC
Hospitalização por IC ou morte CV
Amputação dos membros inferiores
Nefropatia incidente ou agravamento Todos os doentes Todos os doentes Todos os doentes Todos os doentes Todos os doentes Todos os doentes Todos os doentes Com DAP na baseline
Com DAP na baseline
Com DAP na baseline
Com DAP na baseline
Com DAP na baseline
Com DAP na baseline
Com DAP na baseline Todos os doentes Com DAP na baseline Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Sem DAP na baseline
Figura5 ResultadosCV,morteportodasascausas,amputac¸õesdosmembrosinferioresenefropatiaincidenteouagravadapor DAPnaavaliac¸ãoinicialdoestudoEMPA-REGOUTCOME(adaptadode45)
CV:cardiovascular;DAP:doenc¸aarterialperiférica;IC:insuficiênciacardíaca;IC95%:intervalodeconfianc¸aa95%;MACE:eventos cardiovascularesmajor.
Nota:Foiconsideradoumvalordep<0,05paraainterac¸ãoentreosdossubgruposnosdiversosoutcomes.
TambémnaanálisedosubgrupodedoentescomDAPdo EMPA-REGOUTCOME(n=1.461),aempagliflozina demons-troureduc¸ãonosoutcomesCV,quernoscompósitosde3e4 pontosMACE(respetivamente16%,HR0,84;IC5%0,62-1,14; e7%,HR0,93;IC95%0,70-1,24),quernosendpoints indivi-duais,comumareduc¸ãode43%damorteporcausaCV(HR 0,57;95% 0,37-0,88),de38%damorteporqualquercausa (HR0,62;IC95%0,44-0,88),de44%nahospitalizac¸ãoporIC (HR0,56;IC95%0,35-0,92)ede46%naincidênciaou agrava-mentodenefropatia(HR0,54;IC95%0,41-0,71),deforma consistentecomosresultadosnogruposemDAP44(Figura5). Areduc¸ãodamorteporcausaCVtraduz-senanecessidade detratar29doentescomDAPeDMT2durante3,1anospara evitarumaocorrência44.Em termosdeseguranc¸a,ogrupo sobterapêuticacomempagliflozinafoisemelhanteaogrupo
placebonosdoentescomesemDAPnaavaliac¸ãoinicial,sem aumentodoriscodeocorrênciadeamputac¸ão44.
Todasestas análises parecemdemonstrar queos resul-tados benéficos da empagliflozina nos outcomes CV se estendemparasubgruposdepopulac¸ãomaisvulneráveise emmaiorriscodemorbilidadeCVemortalidade.Contudo, muitasquestõesaindasecolocamsobrequaisosmecanismos quelevamaestesefeitos.
PossíveismecanismosparaobenefícioCV daempagliflozina
Os resultadosdo estudo EMPA-REGOUTCOME levantaram, desde cedo, muitas questões sobreos mecanismos subja-centesaosbenefíciosCVdemonstradospelaempagliflozina.
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Efeitodaempagliflozinaparaalémdocontrologlicémico 11
Embora estesmecanismosestejamporcomprovar,as pro-postasavanc¸adas apontamparaa possibilidadedeefeitos hemodinâmicos, efeitos metabólicos e a diminuic¸ão das concentrac¸ões de sódio intracelular estarem na origem destebenefício45,46.
Os efeitos imediatos hemodinâmicos de deplec¸ão de volume e aumento do hematócritopoderão fazer sentido para explicar a precocidade dos benefícios observados. Aliás, o efeito hemodinâmicoparece ser o mecanismo de ac¸ão mais consensualmente apontado como responsável pelo benefício CV precoce da empagliflozina, suportado pelareduc¸ãonapressãoarterialedovolumeintravascular e induc¸ão de diurese osmótica47---49. O aumento da diu-rese poderá resultar na diminuic¸ão de volume circulante e na consequentereduc¸ão dapré- epós-carga cardíacae aumento da hemoconcentrac¸ão, com maior libertac¸ão de oxigénionostecidos,traduzindo-senumareduc¸ãodorisco deICemorteCV50.
Osresultadosinesperados nareduc¸ãodehospitalizac¸ão porICsuscitaraminteressenomecanismodeac¸ãocardíaca daempagliflozina51.Emalgunsestudosdeinvestigac¸ão fun-damental,foidemonstradaumadiminuic¸ãonainstalac¸ãoe progressãodahipertrofiacardíacaecardiomiopatia--- expli-cadacomoresultadodasalterac¸õesnareabsorc¸ãodesódio a nível gastrointestinal ou eventual otimizac¸ão no meta-bolismocardíaco47.Sabendo-seque umadascomplicac¸ões fisiopatológicas que ocorrem na ICresulta daacumulac¸ão desódioe cálcio nocitoplasma edadiminuic¸ãodecálcio mitocondrial nos cardiomiócitos45,51,foi demonstrado, em roedores,acapacidadedaempagliflozinaemmodificara ati-vidadedopermutadordesódio-hidrogénio(NHE)cardíaco ---umdosprincipaistransportadoresdesódio---comresultante diminuic¸ãodesódioe cálciocitoplasmáticoe aumentode cálciomitocondrial,sendoqueestemecanismoprovouser independente daac¸ão daempagliflozinasobre o SGLT245, sugerindoefeitosadicionaisdestefármaco.
Outrosautoresteorizaramqueasmudanc¸asmetabólicas cardíacasresultantesdaac¸ãodaempagliflozina(alterac¸ão metabólicacom reduc¸ãodeutilizac¸ãodelípidos eglicose e maior consumo de corpos cetónicos) resultariam num aumentoda eficácia doprocesso metabólico cardíaco, da contratilidade miocárdica e eficiência cardíaca, tendo-se admitido que esta mudanc¸a poderia verificar-se, igual-mente,notecidomuscularerenal52.
Significativamente, a diferenc¸a no controlo glicémico não pode justificar as diferenc¸as observadas. A reduzida variac¸ão de HbA1c entre grupos no EMPA-REG OUTCOME, com diminuic¸ão de 0,4% nos grupos sob empagliflozina comparativamente ao grupo placebo, a semelhanc¸a aos resultados metabólicos encontrados nos iDPP425,27,53, a diferenc¸a precoceentregrupos nosendpoints CV(notória algumassemanasapósoiniciodoestudoquando,em estu-dosanteriores,adiminuic¸ãodoriscoCVsurgiaapósvários anosdefollow-up),todosenfraquecemahipótesedos efei-tosencontradossedeveremaocontrolometabólicoinduzido pelofármaco54.
Outrahipótesequetemganhadoformacomomecanismo determinante na ac¸ão daempagliflozinaprende-se com a mudanc¸a metabólica resultante da inibic¸ão mantida dos iSGLT2,combenefícios cardio-renais52.A constanteperda de glicose, por diminuic¸ão mantida dareabsorc¸ão de gli-cose no túbulo contornado proximal, pode resultar numa
readaptac¸ão fisiológica de diferentes mecanismos como: a sobreativac¸ão dos cotransportadores SGLT1 a jusante, compensandoparte das perdas de glicose; o aumento da produc¸ãodeglicoseendógenaatravésdoaumentode gluca-gonediminuic¸ãodosníveisdeinsulinasérica;umamudanc¸a metabólica sistémica com aumento da oxidac¸ão lipídica e reduc¸ão da dependência de oxidac¸ão de glicose; e o aumentodoconsumo dehidratos decarbono nocontexto dadiminuic¸ãodeglicemia,insulinaemassacorporal52,55,56. Temsidocolocadaahipótesedequemecanismos adju-vantes ao nível mitocondrial, para além dos registados noestudoEMPA-REGOUTCOME, possamserdeterminantes paraosefeitosbenéficosobtidos57.Estahipótesepressupõe que em estados de hipercetonémia ligeira mas persis-tente, tal como acontece com a influência dos iSGLT2, o consequente aumento de -hidroxibutirato circulante oferec¸a cardioprotec¸ão, podendo, cumulativamente, oti-mizaro metabolismo de outros órgãos, nomeadamente o metabolismo renal57. Desta forma, os efeitos da empa-gliflozina parecem induzir umaalterac¸ão metabólica com produc¸ãodeumsistemaenergeticamentemaiseficiente ---atravésdeumamudanc¸adeconsumodeglicose/ácidos gor-dospara umsistemaqueprivilegia autilizac¸ão decorpos cetónicos,otimizandoodesempenhocardíaco erenal.Tal poderiaexplicarosefeitosbenéficosCVobservadosno EMPA--REGOUTCOMEapenastrêsmesesapósoiníciodoestudo54. Todasestasteoriasnecessitam,porém,deserainda com-provadasparaquemelhorsecompreendaquemecanismos contribuemparaobenefícioCVdaempagliflozina.
Seguranc¸aetolerabilidade
AanálisedosdadosdoestudoEMPA-REGOUTCOMEeassuas subanálises,bemcomoadeensaiosclínicosdefaseI,IIeIII comdoentesmedicadoscomempagliflozina,têm demons-tradoqueestaébemtolerada,tantonasobdosagemde10 comode25mgdiários30,58.
Numa meta-análise recente que analisou 15 ensaios e quatro estudos de extensão, incluindo o EMPA-REG OUT-COME,envolvendomaisde15000doentesmedicadoscom empagliflozina,verificou-sequeestaapresentaumperfilde risco benefício favorável58. Nestameta-análise, verificou--sequeonúmerodeeventosadversosnãofoisuperiornos doentestratados com empagliflozina, independentemente dasuagravidadeoudelevaremounãoàdescontinuac¸ãodo tratamento58.
Nãose verificou umrisco superior dehipoglicemia nos doentestratados com empagliflozina, quandocomparados ao grupoplacebo, com a excec¸ão dedoentes medicados, concomitantemente,comsulfonilureiasouinsulina48,58, jus-tificandoaadvertênciaparaquesejaconsideradooajuste dadosagemdesulfonilureiae/ouinsulinaquandoiniciadoo tratamentocomempagliflozina59.
Em eventos adversos relacionados com deplec¸ão de volume, foi demonstrado semelhante perfil de seguranc¸a e tolerabilidade da empagliflozina, comparativamente ao grupoplacebo,comaexcec¸ãodedoentescomidade supe-riora 75anosoua recebertratamentocom diuréticosda ansa58.
Acompanhando o perfil de seguranc¸a da sua classe, a empagliflozina demonstrou uma incidência superior de
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infec¸ões micóticas genitais, comparativamente ao grupo placebo,maisacentuadonogrupocomidadesuperiora65 anos. Relativamentea infec¸õesurinárias, nãose verifica-ramdiferenc¸asentreosgrupostratadoscomempagliflozina e o grupo tratadocom placebo em termos daincidência, gravidadeousituac¸õesque levassemà descontinuac¸ão do tratamento, bem como no número ou prolongamento de hospitalizac¸ões58.
A empagliflozina demonstrou, ainda, resultados seme-lhantes ao grupo placebo no que diz respeito a fraturas ósseas, neoplasias, eventos adversos renais, lesão hepá-ticaoupancreática,cetoacidosediabéticaeamputac¸ãode membrosinferiores58.
Aliás,umaanáliseposteriordasamputac¸õesdemembros inferioresocorridasdurante oestudo EMPA-REGOUTCOME mostrouquenãosóa incidênciadestes eventosfoi seme-lhanteentreogrupoafazertratamentocomempagliflozina eo grupoplacebo,como tambémotempoatéà ocorrên-ciadoprimeiroevento,sendoestesresultadostransversais à análise de subgrupos de existência de fatores de risco préviosparaamputac¸ão60.Taldemonstraqueaocorrência deamputac¸õesdosmembrosinferioresnãoéumasituac¸ão decorrentedeumefeitodeclassedosiSGLT2.
Oposicionamentodaempagliflozinanotratamento dadiabetes
OsresultadospositivosdoestudoEMPA-REGOUTCOME30, ali-ados a resultados positivos da canagliflozina31, levaram a alterac¸õesdasrecomendac¸õesparaotratamentoda hiper-glicemiana DMT2,sugerindoa utilizac¸ãomaisprecocede umiSLGT2notratamentodedoentescomDMeDCV8,9.Na atualizac¸ãodasrecomendac¸õesdasAssociac¸õesAmericana eEuropeia daDiabetes9, de2015,a classedos iSGLT2foi apresentadacomoagrandealterac¸ãoàsrecomendac¸õesde 2012.OsiSGLT2quesurgiramcomo umanova opc¸ão tera-pêuticaparaareduc¸ãodaglicose,devidoaoseumecanismo deac¸ãoserindependentedainsulina,podiamserutilizados emqualquerestádiodaDMT2,comvantagensadicionaisao níveldareduc¸ãodepesoepressãoarterial9.
Naúltimaatualizac¸ãodas guidelinesdetratamento da DM da Associac¸ão Americana de Diabetes (ADA)61, publi-cadaem2018,aempagliflozinaéoiSGLT2recomendadoem segundalinhaassociadoametforminaealterac¸õesdoestilo devida,emdoentescomDMT2,porterdemonstradoforte evidência na reduc¸ão de eventos CV major e na reduc¸ão demortalidade CV. A empagliflozinaé apresentada como tendobenefícioemdoentescomDCVaterosclerótica,com ICcrónicaenefropatiadiabética61.
Futuras
linhas
de
investigac
¸ão
da
empagliflozina:
estudos
EMPEROR
(insuficiência
cardíaca)
e
EMPA-Kidney
(doenc
¸a
renal
crónica)
O carácter pioneiro do estudo EMPA-REG OUTCOME ficou estabelecido através de uma significativa reduc¸ão do risco para eventos CV major em doentes com DMT2 e por esta mesma reduc¸ão se verificar na comparac¸ão da empagliflozina com os restantes fármacos antidiabéticos,
sejam da mesma, sejam de outras classes de agentes antidiabéticos49,50,57.
Poroutrolado,estesresultadoslevantamquestõessobre os mecanismos responsáveis pelos efeitos observados e que seguramente ultrapassam o mero controlo da glice-mia. É agora fundamental identificar quais os doentes quemaisbeneficiarãodainibic¸ãofarmacológicadeSGLT2, considerando quer o tempo de durac¸ão da doenc¸a, quer comorbilidades existentes. Também será importante con-firmar se o benefício da empagliflozina é extensível ao importantecapítulodaprevenc¸ãoprimária10.
A reduc¸ão da hospitalizac¸ão por insuficiência cardíaca parece legitimar umpapel daempagliflozinana alterac¸ão da fisiopatologia doeixo/síndroma cardio-renal. Os resul-tadosdosestudosEMPEROR(EMPagliflozinoutcomEtRialin PatientsWithchrOnicheaRtFailure)62,queincluemdoentes comICcomfrac¸ãodeejec¸ãoreduzida(EMPEROR-Reduced)e doentescomICcomfrac¸ãodeejec¸ãopreservada (EMPEROR--Preserved), com e sem diabetes, poderão revelar-se particularmente esclarecedoresneste contexto. No segui-mento destes estudos foram, recentemente, anunciados dois ensaios clínicos funcionais que irão avaliar o efeito daempagliflozinanacapacidadederealizac¸ãodeexercício físicoenossintomasdeIC,emdoentescomICcrónicacom frac¸ãodeejec¸ãoreduzida(EMPERIAL-Reduced)ecomfrac¸ão de ejec¸ão preservada (EMPERIAL-Preserved)63, no qual se prevê a participac¸ãode centrosportugueses. Aguarda-se, igualmente,adefinic¸ãodaeficáciaeseguranc¸ada empagli-flozinanaDRC,comoestudoEMPA-Kidney,jáanunciado,e queiráenvolveraproximadamente5000doentescomDRC, comesemdiabetestipo264.
OprimeiroestudopublicadodeoutcomesCV pós-EMPA--REGOUTCOME,oestudoCANVAS31,conseguiudemonstrar efeitosbenéficossimilares,emborasemevidenciaromesmo alcance dos resultados observados com a empagliflozina. São esperados para breve os resultados de dois outros estudos com iSGLT2, o CREDENCE (canagliflozina)65 e o DECLARE TIMI58 (dapagliflozina)66,que podem vira clari-ficaralguma das teorias propostas.Adicionalmente,estão em fase de recrutamento três ensaios adicionais com a dapagliflozina, dois incluindo doentes com IC (Dapa-HFe PRESERVED-HF)67,68eumdedoentescomDRC(Dapa-CKD)69. Podendoseraindaprecoceafirmaraexistênciadeumefeito declasse,existeumacadavezmaisfundadaexpetativada existênciadeummecanismocomumsubjacenteàreduc¸ão deriscocardiorrenalassociadoàinibic¸ãofarmacológicado cotransportadordetipo2desódio/glicose.
Conclusão
É inequívoco o papel da empagliflozina, e do pioneirismo doestudoEMPA-REGOUTCOME,naalterac¸ãodoparadigma de tratamento dos doentes com DMT2, tendo-se iniciado umanovaeranotratamentoegestãodestapatologia.Com a possibilidade de existência de protec¸ão CV, para além doefeitoanti-hiperglicémicodosfármacos,hojee futura-mente,semprequeescolhermosumfármacoantidiabético comevidênciadeprotec¸ãocardiovascularestaremosa pre-venir amorbilidade CVassociada àdiabetes, maisdoque apenasatratá-la,oqueviráaterrepercussõesbenéficasao níveldaepidemiologiadestadoenc¸a.
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Efeitodaempagliflozinaparaalémdocontrologlicémico 13
Financiamento
EstetrabalhoteveoapoionãorestritivodaBoehringer Inge-lheimedaLilly.
Conflitos
de
interesse
Pedro Monteiro --- Investigador do estudo EMPA-REG Out-come;Carlos Aguiar---Recebeuhonorários porservic¸osde consultoriaprestadosàsseguintesentidades:AstraZeneca, Bial Portela, Boehringer Ingelheim, Novo Nordisk, Tecni-mede;
PedroMatos--- AdvisoryBoard:MSD,AstraZeneca; Spea-kerhonoraria:MSD,AstraZeneca,NovoNordisk,Boehringer Ingelheim;JoséSilva-Nunes---Auferiuhonorários da Boeh-ringerIngelheim/Lillyporac¸õesdeformac¸ão/consultoria; Rita Birne --- Consultoria a AstraZeneca, Boehringer Inge-lheim, Eli Lilly, Gilead, Novartis e Sanofi; PatríciaBranco ---SemconflitosdeinteressescomaBoehringerIngelheim; JoaquimCalado --- Recebeu nosdois últimos anos honora-riareferenteaatividadedeconsultoriacientíficaemédica dasseguintesentidades:BoheringerIngelheim,Lillye Astra-Zeneca; Miguel Melo --- Financiamento para projetos de investigac¸ão e honorários como consultor ou palestrante: Bial,BoehringerIngelheim,Lilly, Eisai,Janssen,Novo Nor-disk, Sanofi/Genzyme; Jorge Polónia --- Sem conflitos de interesse.
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