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Autoatendimento no transporte público de Fortaleza e as relações consumeristas: dilemas e perspectivas

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

JONH LENON PEREIRA DA SILVA

AUTOATENDIMENTO NO TRANSPORTE PÚBLICO DE FORTALEZA E AS RELAÇÕES CONSUMERISTAS: DILEMAS E PERSPECTIVAS

FORTALEZA 2019

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AUTOATENDIMENTO NO TRANSPORTE PÚBLICO DE FORTALEZA E AS RELAÇÕES CONSUMERISTAS: DILEMAS E PERSPECTIVAS

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito do Consumidor.

Orientador: Prof. William Paiva Marques Junior.

FORTALEZA 2019

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AUTOATENDIMENTO NO TRANSPORTE PÚBLICO DE FORTALEZA E AS RELAÇÕES CONSUMERISTAS: DILEMAS E PERSPECTIVAS

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito.

Área de concentração: Direito do Consumidor.

Aprovada em 25/11/2019.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________ Prof. Dr. William Paiva Marques Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________________ Profª. Msc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

___________________________________________________ Marla Monise Campos de Castro Veras

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À minha mãe, Maria Luiza da Silva Costa.

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Primeiramente a Deus, que nos deu o dom da vida e me possibilitou chegar até aqui, sempre me abençoando em tudo que me proponho a fazer.

Aos meus pais, Francisco Pereira e Maria Luiza, que sempre fizeram o possível e o impossível para que esse momento se concretizasse.

Aos meus irmãos, Alan, Cícero e Francisco, que devido às circunstâncias da vida não tiveram a mesma oportunidade de concluir um curso de nível superior, mas que estão representados em cada conquista que eu obtive e que ainda obterei.

À minha segunda família que conquistei aqui em Fortaleza quando me mudei pra cá há alguns anos atrás, comandada pela Dona Neide, uma das mulheres mais fortes que conheci, me abraçando como um “agregado”, nas palavras dela.

À Universidade Federal do Ceará que abriu as portas para mim desde 2010, à Faculdade de Direito que me permitiu viver momentos incríveis e conhecer pessoas que vou levar comigo pelo resto da vida e, em especial, ao Restaurante Universitário, que saciou a minha fome biológica para que a fome do conhecimento me permitisse conquistar todos os meus objetivos.

Aos professores desta Casa, que apesar dos percalços que são obrigados a enfrentar, estão sempre dispostos a ajudar, a mostrar o mundo, a contribuir para que cada um consiga descobrir o talento que existe dentro de si. Em especial ao Professor Dr. William Paiva Marques Júnior, que me orientou na produção desse Trabalho e me proporcionou momentos de muitas risadas nas suas aulas, já que com ele a gente aprende além das disciplinas curriculares, as extracurriculares, momentos que deixam a rotina de estudo menos pesada e mais divertida.

À Professora Msc. Fernanda Cláudia Araújo da Silva por aceitar o convite de fazer parte da minha banca. Vou deixando a Faculdade de Direito com um sentimento de incompletude, pois o destino não me permitiu ser aluno dessa professora que só tenho boas referências.

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contribuições ao presente trabalho.

Aos amigos que conheci na Faculdade de Direito, meus “ilibados”: Jorge, Pedro Ivo, Emilly, Fernando, Dênis, Renan, Viviane, Bruna, Graciele, Tales, Letícias (Marques e Fontenelle) e Joathan. E, em especial, Monaliza Lima, a nossa Mona, a quem tenho um carinho imensurável, pessoa que tem um coração maior que ela, que vai está ao meu lado em todas as conquistas que ainda teremos.

Ao Fabricio Miguel, o irmão que a vida me deu, que está comigo em todos os momentos, ao Cristiano Freitas, que divide apartamento comigo, dividindo as despesas para que a conta consiga fechar, à Bárbara Kis, a amiga que deve ter tido alguma ligação comigo em vidas passadas, poie a sintonia da gente é incrível.

Ao Jonathan Santos, que chegou recentemente, mas já conquistou seu lugar especial em minha vida.

E a todos aqueles que contribuíram e contribuem para o meu desenvolvimento pessoal, profissional, me ajudando, a ser sempre uma pessoa melhor.

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“O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação.”

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A pesquisa intitulada “Autoatendimento no transporte público de Fortaleza e as relações consumeristas: dilemas e perspectivas aborda o serviço de autoatendimento nos transportes públicos no Município de Fortaleza e sua afronta aos direito do consumidor, no tocante aos seus direitos de ir e vir como cidadão-usuário. Nesse sentido, busca-se analisar os princípios da vulnerabilidade, da informação, da gestão democrática participativa e da boa-fé objetiva, corolário da defesa dos consumeristas. Reforça ainda na reflexão às políticas públicas de mobilidade urbana, na qual a participação do usuário é imprescindível para a construção de um serviço de transporte público de qualidade para todos e, especialmente, que os usuários tenham voz ativa na gestão do serviço. Nesse sentido, apesar de reduzidas referências bibliográficas, o debate centra-se nas Leis nº 10.231/2014, nº 12.587/2012 e no Código de Defesa do Consumidor. A pesquisa busca analisar a imposição do autoatendimento no transporte coletivo de Fortaleza. Dessa forma, reafirma-se que os direitos dos cidadãos-usuários devem reafirma-ser protegidos, reafirma-sendo necessário ser revisto esse novo sistema para servir ao usuário-cidadão e não apenas às empresas de transporte público detentora do grande capital, em detrimento do consumidor, usuário do transporte público.

Palavras-chave: autoatendimento, transporte público, código de defesa do

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The research titled “Self-service in Fortaleza's public transport and consumer relations: dilemmas and perspectives” discusses the self-service in public transport in the city of Fortaleza and its affront to the consumer's rights, regarding their rights to come and go as a user-citizen. Therefore, we seek to analyze the principles of vulnerability, information, participatory democratic management and objective good faith, a corollary of consumer protection. It also reinforces the reflection on public policies of urban mobility, in which user participation is essential for the construction of a quality public transport servisse for all, and especially that users have an active voice in service management. Therefore, despite the limited bibliographic references, the debate focused on Laws n°10.231/2014, n° 12.587/2012 and the Consumer Protection Code. The research seeks to analyze the imposition of self-service in the public transport of Fortaleza. Thus, it is reaffirmed that the rights of citizens-users must be protected, and this new system needs to be revised to serve the citizen-user and not just the public transport companies that own the big capital, to the detriment of the consumer, public transport user.

Keywords: self-service, public transport, consumer protection code, democratic and participative management.

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1 INTRODUÇÃO ... 11

2. O SISTEMA DE DEFESA DO CONSUMIDOR: EVOLUÇÃO HISTÓRICO-JURÍDICA ... 14

2.1 A Defesa do consumidor e sua evolução histórico-jurídica. ... 14

2.2 O conceito de consumidor ... 18

2.3 A relação de consumo entre usuários do serviço de transporte púbico e os princípios consumeristas ... 20

2.4 Os princípios norteadores da relação consumerista ... 21

2.4.1 Princípio da Vulnerabilidade ... 22

2.4.2 Princípio da transparência ... 25

2.4.3 Princípio da confiança ... 28

2.4.4 Princípio da boa-fé ... 29

3 AUTOATENDIMENTO NO TRANSPORTE PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA: DILEMAS E PERSPECTIVAS... 31

3.1 O Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano (lei nº 10.231/2014) ... 31

3.2 Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012) ... 39

4. O AUTOATENDIMENTO NOS TRANSPORTES COLETIVOS DE FORTALEZA E SUA CONTRADIÇÃO COM AS RELAÇÕES CONSUMERISTAS ... 45

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho intitulado “Autoatendimento no transporte público de Fortaleza e as relações consumeristas: dilemas e perspectivas” busca abordar a afronta à tutela do usuário-cidadão no tocante à defesa do consumidor. O serviço de transporte público é considerado essencial para o bem-estar da coletividade, imperativo do Estado Democrático de Direito presente na ordem jurídica brasileira.

O sistema de autoatendimento abarca as novas tecnologias por meio do valor já creditado no bilhete único, no “passecard” ou na carteira de estudante. Contudo o debate ora em apreço não é de tolher o avanço tecnológico, mas refletir acerca do uso exclusivo do referido sistema, haja vista restringir a circulação da moeda nacional e, especialmente, o direito de ir e vir assegurados ao cidadão pela Constituição Federal de 1988.

Nesse sentido, a problematização dá-se em compreender as nuances do avanço tecnológico, no caso, o autoatendimento nos transportes públicos de Fortaleza, e a patente violação aos direitos do consumidor, embasada nos princípios da vulnerabilidade do consumidor, da informação, da confiança, da boa-fé contratual e da gestão democrático-participativa, bem como na restrição da moeda nacional.

O Poder Público simplesmente ignorou a voz do usuário-cidadão ao privilegiar os interesses das empresas de ônibus que visivelmente lucram com a implantação de tal sistema de pagamento.

O trabalho se justifica, à medida que, é recorrente a insatisfação dos usuários do transporte coletivo com o sistema de autoatendimento. Nesse sentido, os usuários se sentem constrangidos e obrigados a se adaptarem às novas regras do pagamento exclusivo via crédito eletrônico. Além disso, há clara percepção que tal imposição fere de pronta os preceitos do Código de Defesa do Consumidor.

No tocante à metodologia, a pesquisa pautou-se na revisão bibliográfica e jurisprudencial dos assuntos correlacionados ao tema em apreço, contudo, infelizmente, não há um aparato bibliográfico significativo em relação aos

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aspectos jurídicos, econômicos e sociais do sistema de autoatendimento nos transportes públicos, impossibilitando, em certa medida, uma discussão mais aprofundada nesses aspectos.

Dessa forma, a pesquisa em apreço é dividida em três capítulos a fim de aprofundar e refletir acerca do sistema de autoatendimento implantado no transporte público do Município de Fortaleza e a flagrante violação aos direitos do cidadão-usuário. Veja-se:

O capítulo 2 intitulado “O sistema de defesa do consumidor: Evolução histórico-jurídica” reflete o longo percurso que os Estados percorreram para conseguir tutelar os direitos dos mais vulneráveis nas relações consumeristas, no caso o consumidor que devido a sua vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica, encontra-se numa posição, de inferioridade em comparação aos fornecedores dos produtos e serviço. Reflete também, a existência da relação de consumo na perspectiva do transporte público por meio da análise dos princípios da tutela do consumidor. Assim, os princípios da vulnerabilidade, da confiança, da informação, da boa-fé contratual e da gestão democrático-participativa contribuem para compreender como o sistema de autoatendimento foi violador do direito dos passageiros que se deslocarem utilizando o transporte público no Município de Fortaleza.

O capítulo 3: “Autoatendimento no transporte público de Fortaleza: dilemas e perspectivas”, ressalta as políticas públicas de mobilidade urbana tanto em âmbito local como nacional. Nesse sentido, aprofundou-se na análise da Lei n°. 12.587/2012, instituidora da Política Nacional de Mobilidade Urbana e da Lei Municipal nº. 10.231/2014, responsável por dispor acerca do Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano. Essas leis são relevantes na medida em que estabelecem as diretrizes para os transportes públicos, no qual a voz do cidadão-usuário é imprescindível para toda e qualquer alteração no serviço de transporte público.

Já o capítulo 4: “O autoatendimento nos transportes coletivos de Fortaleza e sua contradição com as relações consumeristas” busca aprofundar a reflexão acerca das nuances da tutela jurídica aos consumidores perante o sistema de autoatendimento. O capítulo trabalha no intuito de explorar a concepção de violação à proteção do consumidor diante do autoatendimento.

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As considerações finais são relevantes na sua despretensão de encerrar o debate, mas, sobretudo, avança na reflexão por meio da construção de mecanismos jurídicos que possam equilibrar avanços tecnológicos com os direitos dos consumidores.

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2. O SISTEMA DE DEFESA DO CONSUMIDOR: EVOLUÇÃO HISTÓRICO-JURÍDICA

A consolidação dos direitos dos consumidores foi uma conquista alcançada ao longo de um processo de transformação histórica, social, econômica e, especialmente, jurídica. Essa conquista conseguiu ampliar o fortalecimento da rede de proteção a esses sujeitos de direito, fruto do desenvolvimento e consolidação dos direitos fundamentais, garantindo a dignidade da pessoa humana.

2.1 A Defesa do consumidor e sua evolução histórico-jurídica

A vida em sociedade sempre foi baseada em relações com necessidades recíprocas. Essas relações nem sempre terminam de maneira favorável a todos os envolvidos, criando situações de conflito. Nessas situações faz-se necessário uma forma de solucionar o conflito criado. Ao longo do tempo diversas maneiras de solução de conflitos foram utilizadas, quais sejam: autotutela, autocomposição e heterocomposição. A autotutela ocorre quando o próprio sujeito, unilateralmente, busca seu interesse, impondo-se aos demais envolvidos na situação. Já na autocomposição, o conflito é solucionado pelas partes, elas mesmas buscam chegar à uma solução consensual, sem a intervenção de outros agentes. A heterocomposição ocorre quando o conflito é solucionado através da intervenção de um agente exterior à relação conflituosa original, um agente estatal.

Spréa (2019, p. 2) aborda no tocante à evolução histórico-jurídica do direito do consumidor:

A relação de consumo entre pessoas é um dos mais antigos meios de sobrevivência, visto que, desde muito antes do nascimento do cristianismo, já havia(sic) relações de troca de alimentos entre pessoas, quase sempre nômades, trocavam parte do seu alimento, proveniente de plantações ou de caça, por outros produtos do qual necessitava.

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A defesa do consumidor apresenta como palco histórico, a Europa do século XVIII envolta aos movimentos sociais, contrários ao Absolutismo, bem como, ideais liberais cujo escopo centrava-se na liberdade dos indivíduos para dispor de seus bens patrimoniais. Silva e Santos (2012, p. 262) sistematizam esse fenômeno da seguinte forma:

Com as transformações sociais advindas do final do século XIX, e com a crescente massificação dos meios de produção, dá-se o surgimento da denominada sociedade de consumo (mass consumption society), na qual a produção manual dos bens (produtos) passa a ser exceção, pela introdução da mecanização, produção em série etc.

O aumento da produção apresenta como consequência o anseio pelo consumo, especialmente, numa sociedade capitalista, na qual a expansão do lucro é importante na construção do grande capital. Nas palavras de Alcará (2013, p. 2):

As relações de consumo comuns a todos os seres humanos apresentam-se como habitual na sociedade contemporânea, indiferentemente à classe social a que pertença o consumidor, destinando-se a atender as necessidades básicas – quando da obtenção de produtos indispensáveis à sobrevivência – ou mesmo para a aquisição e consumo de objetos que lhes satisfaçam os desejos.

Conforme se analisa, as relações de consumo, em sua essência, são constantemente alteradas para adequar as transformações da sociedade de consumo. Os fornecedores dos produtos e dos serviços sempre visam ao lucro, já os consumidores buscam a satisfação pessoal após aquisição do referido bem ou serviço.

Nesse sentido, assevera Alcará (2013, p. 3):

Tornou-se, portanto, necessário (sic) a regulação das relações de consumo advindas da oferta de produtos do fornecedor ao consumidor, que antes eram por escambo ou simples operações mercantis, evoluindo para as modalidades atuais de compra e venda, arrendamento, financiamentos, para que atendam ao consumo em massa e, ao mesmo tempo, respeitem o consumidor, que se apresenta cada vez mais fragilizado.

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No percurso histórico-jurídico, o Código de Hamurabi, na Babilônia, já tutelava incipientemente a defesa do indivíduo nas relações consumeristas, tendo em vista regras voltadas para questões familiares, sucessória, patrimonial, bem como preço, qualidade e quantidade dos produtos, conforme assevera Alcará (2013, p.4).

Nesse cenário de transformações sociais, econômicas e jurídicas a defesa do consumidor se fortaleceu para tutelar os considerados vulneráveis nessa relação jurídica. Nos estudos de Alcará (2019, p. 5), a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão é o marco histórico do Direito do Consumidor, haja vista valorizar o ser humano como titular de direitos individuais, responsáveis pela mudança de visão legislativa na tutela do consumidor.

No tocante ao Brasil, a defesa do consumidor foi impulsionada pelo Constituição de 1988 que assevera no seu art. 5°, inciso XXXII, que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor, bem como no art. 170, inciso V, que incluiu a defesa do consumidor dentre os princípios gerais da atividade econômica, além do art. 48 das Disposições Constitucionais Transitórias, que impôs ao Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, a elaboração do Código de Defesa do Consumidor. Com isso, percebe-se que o aparato legislativo, a fim de assegurar os direitos dos consumidores mostra-se relevante para ampliação da rede de proteção destes sujeitos.

O Estado Democrático de Direito efetivado no Brasil a partir do processo de redemocratização contribuiu para a busca constante da isonomia material, ao compreender na dignidade da pessoa humano o motor de valorização das particularidades dos indivíduos, assegurando o bem-estar da coletividade de diferentes vieses. Dessa forma, os múltiplos anseios da sociedade são postos em evidência para que o legislador possa efetivar políticas públicas nas referidas áreas. Esse bem-estar coletivo vem sendo ampliado desde a promulgação da Constituição da República de 1988, que veio com a função de ampliar a isonomia formal, trazendo várias normas programáticas e exigindo que o legislador atue efetivamente na criação de normas de cunho social, no

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intuito de se criar uma sociedade mais justa, que atenda aos anseios populares, principalmente dos indivíduos mais vulneráveis.

De acordo com Marques, (1993, online):

O Código de Defesa do Consumidor é uma destas leis de função social, as quais têm o mérito de positivar as novas noções valorativas orientadoras da sociedade, procurando, assim, assegurar a realização dos modernos direitos fundamentais (direitos econômicos e sociais) previstos nas Constituições. Leis típicas do intervencionismo do Estado Social, elas nascem com a difícil e específica função de servir de parâmetro, de nova orientação, de efetivo instrumento para alcançar o equilíbrio social que o legislador moderno pretende realizar.

O consumo realizado por essa sociedade deve ser operacionalizado por meio de uma legislação capaz de equilibrar e harmonizar a relação entre consumidores e fornecedores de produtos e serviços a fim de contribuir para a pacificação social.

Nas palavras de Spréa (2019, p. 5):

A necessidade do nascimento do Direito do Consumidor teve origem com o surgimento do chamando “movimento consumerista” que mostrou a real situação dos consumidores removendo-os do patamar de “reis do sistema” para “vítimas” ou “servos” desse sistema.

Com isso, fica evidente que no ordenamento jurídico a defesa de um sistema deve sempre buscar, além da isonomia formal, principalmente a isonomia material. Essa isonomia está sempre se aperfeiçoando após a edição do Código de Defesa do Consumidor, haja vista, ser uma legislação protecionista, que junto com outras constituem o que se convencionou chamar de micro sistema multidisciplinar.

Ele traz regras de Direito Constitucional, como a dignidade da pessoa humana, de Direito Civil, como a responsabilidade civil do fornecedor, Direito Penal, a exemplo dos tipos penais, de Direito Processo Civil, como a inversão do ônus da prova e de Direito Administrativo, através das sanções administrativas. Além disso, trata-se de uma Lei principiológica, apresentando disposições básicas, fundamentais, que visam reequilibrar uma

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relação jurídica desigual, assegurando o respeito aos direitos da parte mais vulnerável, qual seja o consumidor.

2.2 O conceito de consumidor

As relações de consumo encontram-se intrínsecas à sociedade capitalista, haja vista, o intenso fluxo de mercadoria a fim de gerar lucro para o grande capital. Contudo, na ótica do ordenamento jurídico, devem-se proteger os consumidores de todo e qualquer arbitrariedade impetrada pelo fornecedor do produto ou do serviço. Percebe-se a existência na relação de consumo nos dois polos, o primeiro sendo o consumidor, e o segundo, o fornecedor, cada um almejando direitos e obrigações que necessitam da defesa jurídica.

Ao se reportar aos transportes públicos, verificam-se de um lado os usuários do referido serviço e de outro a permissionária do serviço, ou seja, as empresas de ônibus que por meio da permissão por parte do Poder Público Municipal estabelece regras para o pleno desenvolvimento da atividade, isto é, deslocamento dos usuários para seu destino final. Nesse sentido, a relação de consumo é bilateral, haja vista se configurar em dois lados antagônicos de interesse conforme ora mencionado. Esse vínculo é imprescindível para a responsabilização daquele que, injustamente, age contrário às regras e princípios da defesa do consumidor.

Nas palavras de Amaral (2010, p. 91):

A relação jurídica de consumo é assim uma relação social que foi juridicizada e em que há como sujeitos (individuais ou coletivos, pessoas naturais ou jurídicas, de direito privado ou público, nacional ou estrangeira), em cada polo, os chamados de consumidor e fornecedor e que se relacionam a propósito de objeto (objeto da relação jurídica), um bem da vida, ou seja, bens ou serviços alvos do interesse, do ato de consumo (ato/negócio jurídico de consumo).

O Código de Defesa do Consumidor estabelece no caput do art. 2° a definição para consumidor. Então, veja-se: “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”, ou seja, há uma relação jurídica intrínseca entre consumidor e fornecedor do

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produto ou serviço. Pode-se dizer que, o termo consumidor é uma definição ampla, quando analisamos o seu alcance material, pois a definição trazida pelo Código de Defesa do Consumidor amplia esse conceito e garante a tutela de todos aqueles que se encontram numa posição de vulnerabilidade econômica, técnica e jurídica, o que inclui os usuários do serviço de transporte público.

Assim, constata-se a relação de consumo entre usuários do serviço de transporte público e as empresas de ônibus, consideradas permissionários do serviço pelo Poder Público. O usuário do transporte público busca o deslocamento de forma segura e em menor tempo para suas atividades laborais, de lazer ou pessoas, já as empresas de ônibus almejam a remuneração por tal serviço, buscando o lucro, ou seja, verificam-se direitos e obrigações entre esses referidos sujeitos.

De acordo com Marques Junior (2018, online):

O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor é enquadrado como um dos fundamentos da política nacional de relações de consumo, conferindo feição instrumental à proteção da defesa do consumidor e, prontamente, da dignidade da pessoa humana.

Ele vai além, na análise do conceito de vulnerabilidade do consumidor, analisando esse sujeito na ótica da hipervulnerabilidade. Nas palavras dele, “a questão da hipervulnerabilidade nas relações consumeristas vem, paulatinamente, fazendo parte das discussões em torno da solidariedade e da dignidade da pessoa humana”.

O serviço de transporte público enquadra-se na relação de consumo, pois, verificam-se claramente, de um lado os prestadores do serviço, as empresas de ônibus, e de outro, os usuários-consumidores, que pagam pelo serviço prestado.

Dessa forma, os usuários do transporte público necessitam da tutela jurídica como sujeitos vulneráveis, haja vista ocupar uma posição de inferioridade técnica, jurídica e econômica em comparação às permissionárias do transporte público.

Ao usuário deve ser oferecido um transporte público de qualidade por meio de padrões de segurança e de desempenho. Em contrapartida, o usuário

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retribui o serviço por meio do pagamento da tarifa estabelecida pelo poder público em parceria com as permissionárias.

Nessa ótica, a relação de consumo encontra-se perpetuada na operação estabelecida entre os sujeitos envolvidos na prestação do serviço de transporte público, empresas de ônibus e os usuários-consumidores desse serviço.

2.3 A relação de consumo entre usuários do serviço de transporte púbico e os princípios consumeristas

O ordenamento jurídico brasileiro estabelece um conjunto de proteção às relações de consumo, tendo em vista a condição de vulnerabilidade econômica, técnica e jurídica do consumidor em relação ao fornecedor de produtos ou serviços. Ao se reportar aos usuários do serviço público, constata-se que esconstata-ses constata-se enquadram na categoria de consumidores, conforme preleciona o art. 22 do Código de Defesa do Consumidor, que nos diz:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

O parágrafo único do citado artigo corrobora para o enquadramento dos usuários de serviço público como consumidores:

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Na prática, observam-se de um lado as empresas públicas, permissionários do Poder Público Municipal, como fornecedores do serviço, e do outro os passageiros que diariamente se deslocam de suas residências para os mais diversos destinos, como trabalho, estudo, lazer, dentre outros.

Assim, a análise da relação de consumo entre usuários do transporte público é importante para compreender a imposição do autoatendimento nos

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transportes públicos coletivos do Município de Fortaleza como divergente aos ditames da gestão democrática do serviço. Faz-se necessário uma reflexão em torno dos princípios norteadores da relação consumerista, aplicando-se cada um deles ao momento vivido pelos usuários consumidores do serviço.

2.4 Os princípios norteadores da relação consumerista

A proteção ao consumidor vem estampada no viés da ordem pública e no interesse social, ou seja, normas obrigatórias insusceptíveis de renúncia, devendo obter sempre a tutela jurisdicional.

Carvalho (2019, online) é enfático:

O novo no código de Defesa do Consumidor tem a função de identificar sujeitos, o consumidor, construir um sistema de normas e princípios orgânicos para protegê-los e efetivar seus direitos, preocupado com a promoção de valores humanitários de dignidade humana, igualdade e justiça.

Nesse sentido, os preceitos da proteção ao consumidor encontram fundamento na Constituição Federal, mais especificamente, no art. 5°, inciso XXXII, art.170, inciso V e art. 48 do Ato das Disposições Transitórias, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...)

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

V - Defesa do consumidor; (...)

Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.

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Consoante às normas supramencionadas, assevera-se a defesa do consumidor como preceito para a sua proteção, devendo o Estado construir mecanismo para avançar na defesa desses sujeitos de direitos. Não é à toa que o Congresso Nacional foi incumbido de, no prazo de 120 dias, elaborar o Código de Defesa do Consumidor, tornando-se realidade, apenas no ano de 1990. Contudo, o Código em apreço muito veio a contribuir na ótica de salvaguarda dos consumidores em relação aos fornecedores de produtos ou de serviços.

Carvalho (2019, online) corrobora:

Como se vê, o Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11.09.1190, encontrou sustentação na própria Constituição. A lei do consumidor resultou de quase dois anos de elaboração legislativa, em cujo projeto inicial sofreu diversos aperfeiçoamentos proporcionados pela participação de importantes segmentos da sociedade, como comércio, indústria, cidadãos, além da contribuição de juristas e especialistas de reconhecida postura cultural.

Assim, os princípios norteadores das relações de consumo devem ser aprofundados para prosseguir no estudo da problemática ora objeto de reflexão, ou seja, se afronta ou não ao direito do consumidor a implantação do autoatendimento nos transportes públicos sem a possibilidade de pagamento da tarifa com dinheiro corrente.

2.4.1 Princípio da Vulnerabilidade

O inciso I do art. 4° do Código de Defesa do Consumidor - Lei nº. 8078/1990 assevera a vulnerabilidade como princípio norteador das relações consumeristas, considerando-se o consumidor em sua situação de vulnerabilidade diante do peso econômico, técnico e jurídico dos fornecedores de produtos e serviços.

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Paluto (2005, p. 9) acentua:

O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado na suposição de que nas relações de consumo há predominância da situação jurídico do fornecedor com relação ao consumidor, o que se deve ao fato de que, na maioria das vezes, o fornecedor detém e exercita o poder econômico, e, assim, por ser profissional no mercado de consumo, a prática acaba proporcionando-lhe conhecimento profundo das técnicas de negociação, conhecendo todas as possíveis consequências do negócio jurídico, sendo que com o objetivo de resguardar seus interesses cria cláusulas que diminuem para si os riscos do negócio, o que, geralmente, vem em prejuízo do consumidor.

A vulnerabilidade encontra-se justamente no fato do consumidor não ter a força econômica, técnica e jurídica dos fornecedores e prestadores do serviço. Ao se reportar aos usuários do transporte coletivo, a vulnerabilidade é bastante evidente, tendo em vista que o único intuito do usuário do transporte público é chegar ao seu destino final em segurança e no tempo hábil para atender sua demanda de trabalho, lazer ou atividades pessoais.

Nesse sentido, o autoatendimento nos ônibus do Município de Fortaleza enfraquece o direito do consumidor no tocante ao seu direito de ir e vir submetendo a imposição do sistema de transporte público que limite o acesso do usuário sem bilhete único, carteira de estudante ou “passecard”, ou seja, o dinheiro, como moeda corrente, simplesmente torna-se inconsumível na rede de transporte público.

Em relação aos usuários do transporte coletivo, patente é a vulnerabilidade desses, em comparação às empresas de ônibus, permissionários do referido serviço público. Melhor explicando, há extrema desvantagem econômica, técnica, financeira e jurídica em torno desses dois sujeitos de direito.

Nesse contexto, o princípio da vulnerabilidade do consumidor torna-se necessário para avaliar a participação dele no processo de tomada de decisão,

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que conforme a gestão democrática instituída pelo Estado Democrático de Direito deve ser corolário da tutela dos direitos dos consumidores.

Ao reportar a implantação do autoatendimento nos transportes coletivos do Município de Fortaleza pelas empresas permissionárias, foi irrelevante a opinião do usuário, acarretando um processo de adaptação destes aos ditames das empresas de ônibus. Essa situação configura-se como evidente afronta ao princípio da vulnerabilidade nas relações consumeristas.

Ainda nas palavras de Carvalho (2019, p.12):

Com o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor, efetiva-se o princípio constitucional da isonomia, tratando-se de forma desigual os desiguais, certo que na dúvida, a melhor interpretação a ser dado, no caso concreto deve ser a proteção do consumidor, parte constitucionalmente reconhecida como mais fraca.

O princípio da vulnerabilidade das relações de consumo se mostra imprescindível para coibir práticas que deixem o consumidor em situação de desvantagem, especialmente, no tocante aos conhecimentos técnico, jurídico e econômico. A força do usuário dos transportes públicos é irrisória em comparação aos detentores do grande capital, sendo reconhecida hipervulnerabilidade do usuário-consumidor

Nesse sentido, Marques Junior(2018,online) assevera que:

Na contemporaneidade, verifica-se uma nova fase no percurso interpretativo do Direito do Consumidor, no qual se revela a proteção de grupos vulneráveis que, ao atuarem como consumidores, sob o prisma da solidariedade constitucional inclusiva que reverbera no reconhecimento da hipervulnerabilidade.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já se debruçou na análise do assunto, conforme se observa no julgado seguinte:

“RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PROPAGANDA ENGANOSA. COGUMELO DO SOL. CURA DO CÂNCER. ABUSO DE DIREITO. ART. 39, INCISO IV, DO CDC. HIPERVULNERABILIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL COMPROVADO. 1. Cuida-se de ação por danos morais proposta por consumidor ludibriado por propaganda enganosa, em ofensa a direito subjetivo do consumidor de obter informações claras e precisas acerca de produto medicinal vendido pela recorrida e destinado à cura de doenças malignas, dentre outras

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funções. 2. O Código de Defesa do Consumidor assegura que a oferta e apresentação de produtos ou serviços propiciem informações corretas, claras, precisas e ostensivas a respeito de características, qualidades, garantia, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, além de vedar a publicidade enganosa e abusiva, que dispensa a demonstração do elemento subjetivo (dolo ou culpa) para sua configuração. 3. A propaganda enganosa, como atestado pelas instâncias ordinárias, tinha aptidão a induzir em erro o consumidor fragilizado, cuja conduta subsume-se à hipótese de estado de perigo (art. 156 do Código Civil). 4. A vulnerabilidade informacional agravada ou potencializada, denominada hipervulnerabilidade do consumidor, prevista no art. 39, IV, do CDC, deriva do manifesto desequilíbrio entre as partes. 5. O dano moral prescinde de prova e a responsabilidade de seu causador opera-se in re ipsa em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo consumidor. 6. Em virtude das especificidades fáticas da demanda, afigura-se razoável a fixação da verba indenizatória por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). 7. Recurso especial provido.” (STJ- REsp 1329556 / SP, Relator: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgamento: 25/11/2014. Fonte: DJe 09/12/2014). (Grifou-se)

No mesmo sentido, Paluto (2005, sem paginação) apregoa:

O CDC pressupõe a vulnerabilidade do consumidor partindo do princípio de que nas relações de consumo existe uma desigualdade fática entre fornecedor e consumidor, razão pela qual, ao estabelecer vantagens e direitos ao consumidor, tenta igualar sua posição jurídica na relação contratual.

Dessa forma, ao constatar inúmeros relatos de insatisfação dos usuários do transporte público em relação à implantação do serviço de autoatendimento, limitando o pagamento da tarifa apenas aos meios eletrônicos, sem a possibilidade do uso do dinheiro corrente, observa-se a vulnerabilidade vivida por esses sujeitos em relação aos grandes empresários do transporte público no Município de Fortaleza.

2.4.2 Princípio da transparência

O sistema de autoatendimento implantado nos ônibus de Fortaleza viola o princípio da transparência, tendo em vista que de forma inesperada foi anunciada a mudança da forma de pagamento no transporte público. A princípio tal sistema seria projeto piloto, contudo atualmente, conforme dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará – Sindiônibus, apresentados em reportagem do Jornal Diário do Nordente, de

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19 de setembro de 2019, “apenas 689 coletivos da frota inteira da Capital ainda recebem o pagamento da passagem em dinheiro. Isso corresponde a 39,7% (trinta e nove, vírgula sete) do número total de ônibus”1, ou seja, a tendência é uma redução dos ônibus que aceitem dinheiro corrente.

O princípio da transparência encaixa-se no da informação, devendo os usuários dos transportes públicos deveriam ser informados de toda e qualquer forma de alteração no referido serviço. Assim, nas palavras de Silva (2004, p.68):

O princípio da transparência, essencialmente democrático ao reconhecer que na sociedade o poder não é exercido só no plano da política, mas também no da economia, adquiriu importância especial no Código de Defesa do Consumidor, para controlar o abuso do poder econômico, de quem passou a exigir visibilidade e lisura nas relações jurídicas de consumo.

Dessa forma, a transparência transfigura-se com o dever de cuidado das relações consumeristas, no qual o consumidor tem o direito de ser informado sobre toda e qualquer alteração que possa interferir direta ou indiretamente na prestação de um serviço ou na aquisição de um produto. Conforme Paluto (2005, p.2):

Baseando-se neste princípio, o consumidor tornou-se detentor do direito subjetivo de informação e o fornecedor sujeito de um dever de informação. Dizer que o silêncio do consumidor traduz-se em aceitação não pode prevalecer, trazendo a nulidade de tal cláusula de acordo com o art. 51, IV, do CDC.

O princípio da informação em sintonia com o da transparência encontra-se disposto no inciso III do art. 6° do Código de Defesa do Consumidor, ou seja, ‘“a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”, ao se reportar aos serviços de transporte público, a informação efetiva-se no esclarecimento da mudança da rota da linha do ônibus, da alteração dos preços das passagens e, até mesmo, da forma de pagamento

1

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do serviço ora prestado, mais especificamente, do dinheiro para uso exclusivo de bilhete único, “passecard” e carteira estudantil já com crédito. A transparência na forma de prestação e nas eventuais alterações realizadas no serviço público corrobora para sua melhoria e para a satisfação do usuário-consumidor, que se sente sujeito participativo na gestão democrática do referido serviço.

Com isso, percebe-se que para se alcançar o princípio da informação é necessário clareza, objetividade e, especialmente, no processo de conscientização do consumidor dos seus direitos frente aos fornecedores dos produtos ou serviço, informar é, sem dúvida, tornar o usuário integrado de toda e qualquer alteração a influenciar na esfera econômica. Acrescenta-se também que Código de Defesa do Consumidor elenca diferentes dispositivos2 para

2 Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das

necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

(...)

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...)

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

(...)

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

(...)

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. (...)

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. (...)

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

(...)

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os

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assegurar a efetivação do princípio da transparência e, consequentemente, da informação.

Depreende-se na leitura dos dispositivos ora mencionados a relevância do princípio da transparência para a proteção do direito do consumidor. Ao ser informado, o consumidor pode exigir seus direitos, caso contrário aos ditames consumeristas. Assim, sigamos, para o princípio da confiança, também de forte influência nos princípios da transparência e da informação.

2.4.3 Princípio da confiança

O deslocamento de um local para o outro é a finalidade do serviço de transporte público, ou seja, os usuários do transporte coletivo transferem para os permissionários o valor da passagem de ônibus, almejando o deslocamento em segurança para determinado local a fim de realizar suas atividades laborais, de lazer ou pessoais.

Nesse sentido, o princípio da confiança fundamenta-se no corolário da efetiva prestação do serviço ora em apreço. O Código de Defesa do Consumidor no caput do art. 30 assevera que o princípio da confiança se traduz no cumprimento da obrigação assumida entre consumidor e fornecedor do produto ou do serviço, ou seja, há uma corresponsabilidade entre os sujeitos da relação consumeristas.

respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

(...)

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

(...)

§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres

ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

(...)

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

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Acentua Carvalho (2019, p. 15) “(...) a justiça contratual só é possível de ser alcançada se for obtida desde o início até o fim, o equilíbrio de deveres e obrigações”, isto é, a cooperação entre ambos os sujeitos. A confiança efetiva-se na satisfação do consumidor diante do efetiva-serviço ou do produto oferecido pelo fornecedor.

2.4.4 Princípio da boa-fé

Assevera-se que o princípio da boa-fé se encontra interligado ao da confiança, tendo em vista a solidariedade entre os sujeitos da relação consumerista. Há Confiança porque há presunção da boa-fé.

O art. 422 do Código Civil consagra o princípio da boa-fé objetiva, obrigando as partes contratantes a agirem de boa-fé quando da celebração de um contrato. Observa-se que, mesmo não mencionado expressamente no art. 422 do Código Civil, a boa-fé deve nortear o comportamento dos contratantes até mesmo antes da proposta, fato que não se verificou no momento em que as empresas de ônibus alteraram, sem consultar o usuário-consumidor, as regras para o pagamento da tarifa.

O princípio da boa-fé encontra-se também disposto na leitura do inciso III do art. 4° do Código de Defesa do Consumidor ao prever a boa-fé como imprescindível para harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo, cujo escopo é a proteção ao consumidor.

Corrobora nesse percurso reflexivo Carvalho (2019, sem paginação):

O princípio da boa-fé objetivo descrito no ar. 4°, III, é visto não só como defesa do vulnerável, mas também atua como critério auxiliar na viabilização dos ditames constitucionais sobre a ordem econômica, compatibilizando interesses contraditórios. Dentro desta sistemática, verifica-se que a boa-fé objetiva não é apenas conceito ético, mas também, econômico, ligado à funcionalidade pecuniária das interações sociais e contratuais do mercado.

A boa-fé situa-se no plano abstrato do não lesar diante de uma determinada relação jurídica. Nas palavras de Paluto (2005, p.3) a boa-fé se

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traduz na transparência, respeito entre os sujeitos da relação consumerista, no dever de ser real um para o outro, honrando com suas respectivas obrigações.

Moraes (2019, p.158) acentua:

A boa-fé traduz a necessidade de que as condutas sociais estejam adequadas a padrões aceitáveis de procedimentos que não induzam a qualquer resultado danoso para o indivíduo, não sendo perquirido da existência de culpa ou de dolo, pois o relevante na abordagem do tema é a absoluta ausência de artifícios, atitudes omissivas, comissivas, que possam alterar a perfeita manifestação da vontade dos envolvidos em um negócio jurídico ou dos que sofrem reflexos advindos de uma relação de consumo.

Dessa forma, o princípio da boa-fé mostra-se como um freio para condutas totalmente díspares na lógica moral, ou seja, prima pelo comportamento leal entre os sujeitos consumeristas.

No aprofundamento do direito do consumidor, os princípios embasam a estrutura de compreensão da tutela jurídica envolta aos consumidores, resguardando seus direitos e tornando, mais harmônica e equilibrada, a relação entre consumidores e fornecedores dos produtos e serviços.

O princípio da vulnerabilidade, da transparência, da informação, da confiança e da boa-fé revelam imprescindíveis para a compreensão da tutela dos consumidores, entretanto outros princípios também corroboram para o aprofundamento da proteção desses sujeitos de direitos. Nesse sentido, reforça-se a reflexão desses princípios voltada para o objeto da análise dos serviços de transporte público no Município de Fortaleza e a implantação do autoatendimento nos ônibus da capital, em flagrante afronta os referenciados princípios.

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3 AUTOATENDIMENTO NO TRANSPORTE PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA: DILEMAS E PERSPECTIVAS

O cidadão é o principal interessado na prestação dos serviços públicos de qualidade. Ele é a pessoa mais indicada para participar da gestão dos serviços disponibilizados pelos entes públicos. Com o intuito de atender às necessidades desse público-usuário foram criados mecanismos para que a participação seja efetiva e que os serviços públicos possam garantir a efetivação de todos os direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e por toas as leis infraconstitucionais garantistas. No entanto, essa participação, muitas vezes, não se concretiza, como observado na implantação do autoatendimento no transporte público do Município de Fortaleza.

3.1 O Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano (Lei nº 10.231/2014)

O transporte público no Município de Fortaleza é regulamentado, dentre outras, pela Lei Municipal nº. 10.231 de 2014, que dispõe sobre o Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano e dá outras providências, demonstrando a importância dos usuários na tomada de decisões acerca do transporte público. Apesar da referida norma, não se observa a efetiva participação do usuário do transporte pública nas decisões implantadas pelo executivo municipal, conforme se depreende na imposição do autoatendimento na frota de ônibus da Capital cearense.

O caput do art. 1° da Lei Municipal nº. 10.231/2014 institui a criação do Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano, vinculado à Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza, doravante denominada ETUFOR. A referida criação volta-se para a participação do cidadão como principal interessado na melhoria do transporte coletivo, tendo em vista, ser o cidadão afetado direta ou indiretamente por qualquer alteração no serviço ofertado pelas empresas particulares por meio da permissão ora concedida pela Prefeitura de Fortaleza.

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Reforça ainda que o inciso V do art. 30 da Constituição Federal de 1988 dispõe sobre as competências municipais.

Art. 30. Compete aos Municípios: (...)

V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;

Percebe-se que os municípios são responsáveis pela dinâmica do transporte público, haja vista seu caráter essencial no fluxo da cidade.

Assim, o caput do art. 2° da Lei Municipal nº. 10.231/2014 é bastante claro ao afirmar que o Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano é um órgão colegiado, permanente, de caráter consultivo e fiscalizador da política de transporte público coletivo no Município de Fortaleza e de participação direta da comunidade.

Depreende-se ainda, a relevância desse órgão como importante canal de participação dos usuários do serviço de transporte público ao contribuir para despertar o interesse do cidadão na efetiva cobrança de um transporte público de qualidade. Ressalta-se que, a finalidade do órgão é garantir a participação da sociedade organizada, especialmente dos usuários do transporte coletivo, ampliando a possibilidade de estes influenciarem no processo de planejamento do transporte coletivo da cidade, fato que não se verificou na implantação do serviço de autoatendimento no sistema de transporte público municipal.

A participação dos usuários do transporte público no referido Conselho Municipal encaixa-se na ótica do Estado Democrático de Direito, ao primar pela participação do cidadão na construção do bem-estar da coletividade.

Portanto, observa-se que a finalidade da lei em apreço é a efetiva participação dos usuários do transporte público na cobrança de melhorias. Nesse sentido, a Lei Municipal nº 10.231/2014 estabelece em seu art. 4° os objetivos do referido Conselho:

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Art.4º. O Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo

Urbano tem por objetivos:

I - viabilizar a participação da sociedade nos processos de planejamento da política de transporte coletivo, na sua avaliação e na proposição de medidas que visem à melhoria da qualidade da prestação do serviço de transporte público.

II - viabilizar a participação da sociedade nos processos de fiscalização e controle na prestação dos serviços de transporte público.

III - ampliar os canais de participação da comunidade no encaminhamento das recomendações, reclamações e denúncias referentes à operação e execução da política do serviço de transporte público.

Percebe-se a relevância da participação dos usuários dos transportes coletivos no processo de efetividade do serviço prestado, tendo em vista serem os principais interessados na prestação de um serviço de qualidade. Contudo, apesar da lei prezar pela participação do usuário do transporte público, infelizmente, a maioria dos usuários do transporte público fortalezense desconhece o referido conselho e, consequentemente, ficam impossibilitados de buscar melhorias para o serviço com o amparo da legislação protetiva.

Logo em seguida aos objetivos do Conselho, tem-se a competência, conforme Artigo 5° da Lei nº 10.213/2014:

Art. 5º Compete ao Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano:

I. Participar da formulação de prioridades e metas que deverão orientar a elaboração do planejamento da prestação do serviço de transporte coletivo;

II. Acompanhar e fiscalizar a execução das prioridades e metas estabelecidas no planejamento referente à prestação do serviço de transporte coletivo;

III. Acompanhar a gestão financeira da prestação do serviço de transporte coletivo;

IV. Realizar consultas públicas junto aos usuários para avaliar o serviço prestado e identificar demandas não atendidas; V. Participar da análise dos problemas relacionados com as

demandas dos usuários e contribuir par a sua superação. VI. Propor ao poder público concedente normatização pertinente

a prestação de serviço de transporte coletivo;

VII. Organizar anualmente a Conferência Municipal dos usuários de transporte Coletivo;

VIII. Divulgar amplamente as suas deliberações, os resultados aferidos nos procedimentos de avaliação e fiscalização, bem como as ações relativas ao transporte coletivo que sejam de interesse da comunidade.

IX. Elaborar e aprovar normas próprias de funcionamento e um calendário de reuniões do referido conselho, com a finalidade de dinamizar sua atuação e facilitar sua organização.

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X. Aprovar o seu regimento interno, bem como eventuais alterações.

XI. Convocar assembleias gerais ordinárias, uma vez por mês, e extraordinárias sempre que forem necessárias, e divulgar com antecedência a data e o horário das reuniões ou assembleias.

XII. Analisar a substituição dos conselheiros em caso de perda de mandato de acordo com o previsto no regimento interno. XIII. Buscar intercâmbio e integração com outros conselhos

implantados no Município.

O Conselho Municipal de Usuários de Transporte Coletivo Urbano apresenta competências atreladas à efetiva participação do usuário na construção de um transporte público de qualidade, haja vista a necessidade de adequá-lo às inúmeras necessidades daqueles que utilizam diariamente o transporte público.

Maia (2013, p. 31) assevera:

Atualmente, o problema de transporte público é tratado como um conjunto bastante complexo de vários outros problemas que se inter-relacionam entre si. Estes problemas se resumem basicamente em congestionamentos, baixa qualidade de serviços de transporte público, falta de adequação para certos grupos, problemas financeiros e impactos ambientais.

Nesse sentido, busca-se com a participação dos usuários a transformação da realidade da mobilidade urbana ao incentivar o deslocamento em massa por meio do transporte coletivo de qualidade atendendo aos anseios dos usuários.

O inciso I do art. 5º da referida lei, garante aos representantes dos usuários a participação na formulação de prioridades e metas que deverão orientar a elaboração do planejamento da prestação do serviço de transporte coletivo. Isso mostra que a formulação de prioridades e metas no transporte coletivo é dever dos integrantes do Conselho, ou seja, dos seus usuários. Essa participação é corolário de uma nova visão da Administração Pública voltada para a constante participação do cidadão nas decisões do planejamento urbano das cidades.

Outro instrumento de participação do cidadão na construção do transporte público de plena efetividade seria a realização de consultas públicas junto aos usuários para avaliar o serviço prestado e identificar demandas não atendidas conforme dispõe o inciso IV do art. 5° da lei em apreço.

(36)

Em sintonia com a efetiva participação do usuário do transporte público tem-se o inciso V, que garante participação na análise dos problemas relacionados com as demandas dos usuários e sua superação, ou seja, constantemente, o usuário do transporte público é instigado a fazer-se presente no processo de construção do referido serviço. Entretanto, apesar desse canal de participação do usuário, percebe-se o desconhecimento do Conselho por parte dos usuários, o que impossibilita a sua efetiva participação. Assim, um dos princípios da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano do Ministério das Cidades (2004, online) é o da gestão democrática e controle social ao dispor:

Devem ser garantidos mecanismos de gestão descentralizada e democrática, bem como o acesso à informação, à participação e ao controle social nos processos de formulação, tomada de decisão, implementação e avaliação da política urbana. A gestão democrática deve reconhecer a autonomia dos movimentos sociais, sem discriminação, e estar sempre comprometida com o direito universal à educação, saúde, moradia, trabalho, previdência social, transporte, meio ambiente saudável, cultura e lazer.

Ao longo da leitura dos incisos do artigo 5° depreende-se a pertinência do Conselho na estruturação da mobilidade urbana da cidade de Fortaleza, apesar da participação deficiente dos usuários. Corroboram nessa concepção os ensinamentos de Indi, Maha e Taco (2019, online):

Devido à pressão social no Brasil, o que tem havido para ampliação da participação popular por parte do poder público é a abertura de algumas instâncias participativas, audiências públicas, conferências, conselhos e comitês, embora os meios do controle do poder continuem com a classe política dominante.

A participação popular, especialmente, nos transportes públicos atrela-se ao direito de ir e vir do cidadão, estampado no ordenamento jurídico brasileiro. Não é à toa que o transporte se encontra no caput do art. 6° da Constituição Federal, como direito fundamental social a ser garantido pelo Estado.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Grifo-se)

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O Conselho Municipal de usuários do transporte coletivo conforme o caput do art. 6° da lei nº 10.213/2014 é composto de 44 (quarenta e quatro) membros, sendo seus integrantes de diferentes segmentos da sociedade3. Essa composição possibilita espaço de diálogo e reflexão no transporte público de qualidade, desde que, os usuários do serviço, efetivamente participem das deliberações.

Conforme análise da composição do Conselho verifica-se a diversidade dos membros integrantes, especialmente, dos que direta, ou indiretamente, são usuários do serviço público de transporte coletivo, passando por estudantes de nível médio, superior, representantes da construção civil, dos trabalhadores domésticos e das instituições públicas como Defensoria Pública e Ministério Público.

Ressalta o parágrafo 1° do art. 6° da Lei Municipal nº 10.213/2014 que:

3 I- 1 (um) Especialista, de notório saber, para cada uma das áreas, de trânsito, transporte coletivo urbano,

mobilidade urbana e urbanismo, indicadas pela Universidade Federal do Ceará. II- 1 (um) Representante popular de cada uma das 7 (sete) regionais. III - 1 (um) representante do Conselho Municipal do Idoso. IV - 2 (dois) representantes do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. V - 1 (um) representante do Conselho Municipal de Transportes Públicos. VI - 1 (um) representante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano. VII - 1 (um) representante do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará. VIII - 1 (um) representante da Câmara de Dirigentes Lojistas. IX - 1 (um) representante de Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza. X - 1 (um) representante do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Ceará. XI - 1 (um) representante da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. XII - 1 (um) representante do Sindicato das Empresas de Turismo do Estado do Ceará. XIII - 1 (um) representante do Sindicato da Empresa Organizadora de Eventos e afins. XIV - 1 (um) representante do Sindicato dos Comerciários de Fortaleza. XV - 1 (um) representante do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado de Ceará. XVI - 1 (um) representante do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. XVII - 2 (dois) representantes dos estudantes secundaristas, os quais deverão ser indicados pelas entidades representativas da categoria; XVIII - 1 (um) representante da Câmara Municipal de Fortaleza, mediante indicação de seu presidente. XIX - 1 (um) representante do Diretório Estudantil da Universidade Federal do Ceará. XX - 1 (um) representante do Diretório Estudantil da Universidade Estadual do Ceará. XXI - 1 (um) representante do Diretório Estudantil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará. XXII - 1 (um) representante do Diretório Estudantil das Universidades Particulares de Fortaleza. XXIII - 1 (um) representante da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará. XXIV - 1 (um) representante do Ministério Público Estadual. XXV - 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Ceará. XXVI - 1 (um) representante do Departamento Estadual de Trânsito. XXVII - 1 (um) representante da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania. XXVIII - 1 (um) representante da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza. XXIX - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente. XXX - 1 (um) representante da Coordenadoria de Participação Popular. XXXI - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de Infraestrutura. XXXII - 1 (um) representante da Companhia Cearense de Transporte Metropolitano. XXXIII - 1 (um) representante da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará. XXXIV - 1 (um) representante da Secretaria Municipal de

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Os representantes dos Poderes Públicos, e seus respectivos suplentes, serão indicados pelos titulares dos órgãos representados e os representantes da sociedade civil e seus suplementes serão indicados pelas entidades representadas.

Nessa lógica, o canal de diálogo e integração no conselho se amplia e possibilita o avanço das discussões em torno do transporte público de qualidade. Para a efetividade dos trabalhos, os conselheiros serão indicados para mandato de 2 (dois) anos, admitindo-se uma única recondução conforme disciplina o parágrafo 2º do art. 6° da lei nº 10.213/2014.

A relevância do trabalho desenvolvido pelo Conselho encaixa-se na ótica do voluntariado, sendo a atividade desenvolvida de importante contribuição para o serviço público. Os conselheiros trabalham almejando a efetiva transformação do transporte público, direcionando os anseios da sociedade para o Poder Público, que é responsável pela implantação das políticas públicas na área de mobilidade urbana no tocante ao transporte coletivo. A fim de facilitar as discussões, as deliberações do Conselho devem ser aprovadas por maioria simples dos votos dos conselheiros titulares presentes ou no exercício da titularidade conforme disciplina o parágrafo 4° do art. 6° da lei nº 10.213/2014.

Acrescenta-se também o princípio da transparência nas Assembleias do Conselho, tendo em vista a previsão do parágrafo 8° do art. 6° da lei nº 10.213/2014, ao asseverar que “as assembleias do Conselho Municipal de Usuários do Transporte Coletivo Urbano serão públicas e abertas”, tendo direito à voz todos os participantes, de acordo com a organização da assembleia.

Em termos de organização interna, observa-se que o Conselho é composto da seguinte forma: Coordenador, Vice Coordenador e Secretaria Executiva, no qual os primeiros são eleitos de forma direta e secreta pelos conselheiros, por maioria simples de votos. Salienta-se que a Secretaria executiva é exercida por integrantes do poder público municipal indicado pelo diretor presidente da ETUFOR.

Com isso, constata-se a pertinência da construção de um canal de diálogo entre os usuários do transporte público e o Poder Público, haja vista

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