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Evidências dos Efeitos Neurotóxicos por Exposição ao Agrotóxico:
Uma revisão Integrativa
Nathalia Freitas Dos Santos1, Luciana Contrera,1 Elen Ferraz Teston¹, Patricia Moita Garcia Kawakame¹, Laura Elis Aguero Reis¹ e Kelven Jones de Oliveira Amarilha².
1 Programa de Pós Graduação em Enfermagem; Instituto Integrado de Saúde. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, Brasil.
enfnathaliafreitas@gmail.com ;lucontrera@gmail.com ;elen.ferraz@ufms.com; patriciamoita.ufms@gmail.com; laura_elis@hotmail.com.
2Graduação em Enfermagem. Instituto Integrado de Saúde. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, Brasil. gutooliveiraenf@gmail.com
Resumo. Os agrotóxicos impactam na saúde humana, produzindo efeitos que variam. O estudo explorou por meio de uma revisão de literatura em base de dados, se a exposição ao agrotóxico pode causar alterações neurológicas e no desempenho neurocomportamental. Foram incluídos artigos originais, teses e dissertações, publicação em português, inglês, espanhol, que estudaram os efeitos agudos ou crônicos dos agroquímicos de uso ocupacionais no sistema nervoso central. Oito estudos atenderam aos critérios de elegibilidade. Optou-se por análise de conteúdo com fundamento em Bardin. Nesse sentido emergiram dos resultados brutos duas categorias para discussão, são elas: Transtornos Psiquiátricos, suicídio e Agrotóxicos e Alterações Neurológicas e Agrotóxicos. A exposição a agrotóxicos de uso ocupacional tem determinado intoxicações crônicas identificadas, pelos transtornos psiquiátricos menores e pela polineuropatia tardia. Faz-se necessário reforçar discussão nacional, no que diz respeito a legalização, vigilância e controle dos agentes. Considerou-se como limitação nesse estudo o corte em agrotóxicos exclusivo ocupacional. Palavras-chave: Agrotóxicos; Saúde do Trabalhador; Síndromes Neurotóxicas; Intoxicação por Organofosfatos
Evidence of Neurotoxic Effects by Exposure to Pesticide
Abstract. Agrochemicals impact on human health, producing effects that vary. The study explored through a literature review in the database, whether exposure to pesticides can cause neurological and neurobehavioral changes. Were included original articles, theses and dissertations, in Portuguese, English and Spanish, which studied the acute or chronic effects of occupational use agrochemicals in the central nervous system. Eight studies were selected. We opted for content analysis based on Bardin. In this sense, two categories emerged from the raw results: Psychiatric Disorders, Suicide and Agrochemicals, and Neurological and Agrochemical Alterations. Exposure to pesticides for occupational use has determined chronic intoxications identified by minor psychiatric disorders and late polyneuropathy. It is necessary to strengthen national discussion, regarding the legalization, surveillance and control of agents. The limitation in this study was the use occupational pesticides only.
Keywords: Pesticides; Occupational Health; Neurotoxicity Syndrome; Organophosphate Poisoning.
1 Introdução
No Brasil, são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas de agrotóxicos, sendo que nos últimos 40 anos houve um aumento de 700% no seu consumo. Devido à sua toxicidade intrínseca, os agrotóxicos impactam na saúde humana, produzindo efeitos que variam conforme o princípio ativo,
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a dose absorvida e a forma de exposição (WHO, 2010). A principal classe de inseticidas envolvidas nos casos de intoxicação é representada pelos organofosforados (OF) e os carbamatos, estes possuem o mesmo mecanismo de ação, porém os primeiros, causam inibição irreversível das colinesterases e os segundos, causam inibições consideradas reversíveis (Pires et al. 2015). O mecanismo de ação comum a todos os OF é a fosforilação da enzima acetil-colinesterase (AChE). Ao bloqueá-la, há um acúmulo do neurotransmissor acetilcolina (ACh) nas sinapses, o que leva a um estímulo aumentado do órgão efetor (Prado et al. 2002), (revisado por Ribeiro et al. 2006).
Esse aumento resulta nos sinais e sintomas de ação muscarínica (em músculos lisos, fibras cardíacas e glândulas exócrinas) e nicotínica (em músculos esqueléticos e gânglios autônomos). Além da ação de fosforilação da AChE, alguns OF, como os ésteres de fosfato, fosfonato e fosforamidatos apresentam também a ação de inibir uma esterase chamada neuropathy target esterase (NTE), presente no sistema nervoso central (SNC), quanto no periférico e em outros tecidos como músculos e linfócitos (Vasconcellos, Leite & Nascimento, 2008).
Destaca-se entre as alterações neurológicas, a fraqueza muscular, as fasciculações e tremores. Além disso, paralisia e convulsões também podem ocorrer e se devem principalmente à hiperestimulação autonômica que causa dessensibilização dos receptores colinérgicos, levando à paralisia flácida e consequente disfunção do 2º neurônio motor (Massaro,2002). De acordo com o Protocolo de Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos a Agrotóxicos, elaborado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2006), as patologias relacionadas à intoxicação crônica por agrotóxicos podem entre outros impactos causa transtornos mentais, como alterações cognitivas e episódios depressivos; doenças do sistema nervoso como distúrbios do movimento, polineuropatias e encefalopatia tóxica; oculares, como neurite óptica e distúrbios da visão e ainda auditivas, circulatórias, respiratórias, digestivas e dermatológicas.
Há uma consciência crescente do problema, expressa em estudos sobre as condições em que ocorre a exposição de agricultores brasileiros a agrotóxico como explora Neto, Andrade e Felden (2018). É necessário que as pesquisas sejam catalogadas e analisadas como forma de revisar essas produções realizadas para fomentar as discussões sobre o uso de agroquímicos ocupacionais, principalmente os OF e os seus danos à saúde humana. O estudo tem como objetivo investigar o que a literatura tem apontado sobre a exposição ao agrotóxico e a ocorrência de alterações neurológicas.
2 Método
Trata-se de uma revisão de literatura dos trabalhos publicados a respeito dos efeitos neurológicos e alterações no desempenho neurocomportamental em trabalhadores que utilizam agroquímicos no ambiente de trabalho, em estudos publicados entre janeiro de 2007 a abril de 2018.
Para desenvolver esse trabalho foi utilizada a seguinte estratégia de busca com auxílio de um protocolo de revisão de literatura baseado na estratégia PICOS (Santos, Pimenta & Nobre, 2007): formulação da questão de pesquisa – Existe evidências cientificas, por meio da revisão da literatura, que confirmem a relação negativa entre uso continuo de agrotóxicos e alterações neurológicas?- E objetivo, formatação de critérios de inclusão e exclusão de artigos, análise e seleção das informações a serem extraídas dos artigos selecionados, categorização dos dados, elaboração dos resultados, discussão e as percepções como conclusão finalizando o estudo. Nesse estudo foi utilizado de uma abordagem qualitativa para expor de forma sistemática os principais enfoques das pesquisas que abordaram a temática proposta. Para isso, foram seguidas as etapas fundamentais para esse desenho metodológico, apresentadas por Bardin (2011), citados por Silva, et al., (2005) são elas: a pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. Na primeira fase é estabelecido um esquema de trabalho que deve ser preciso, com procedimentos bem definidos, embora flexíveis. A
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segunda fase consiste no cumprimento das decisões tomadas anteriormente, e finalmente na terceira etapa, o pesquisador apoiado nos resultados brutos procura torná-los significativos e válidos. Optou-se por esta análise, pois se compreende como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.
A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro a novembro de 2018. Os bancos de dados utilizados foram: MEDLINE; Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Scientific Electronic Library Online (SciELO); Web of Science, Science Direct e Repositório Institucional. Por sua vez, os descritores selecionados foram combinados entre si: agroquímicos, intoxicações por organofosforato, saúde do trabalhador, neurotoxicidade. Foram utilizados operadores booleanos AND e OR para restringir a pesquisa e realizados cruzamentos entre os termos e sinônimos, se houvesse.
Foram incluídos artigos originais, teses e dissertações, publicação em português, inglês, espanhol, que estudaram os efeitos agudos ou crônicos dos agroquímicos de uso ocupacionais no sistema nervoso central. Não houve restrição com relação ao sexo e idade das populações estudadas, nem ao tempo de exposição, contudo os estudos deveriam ser exclusivamente sobre trabalhadores. Os critérios de exclusão foram: artigos que não estivessem na íntegra, população sem distinção de trabalhadores e estudos que relacionassem o uso de agroquímicos e outros efeitos a saúde. Por ser um estudo de revisão de publicações é dispensado de autorização do comitê de ética.
3 Resultados e Discussão
Foram identificados através do método 38 trabalhos, desses 15 na base de dados SciELO, 10 na LILACS, oito na Science Direct, cinco nas bases MEDLINE e um na PubMed contudo, cinco não estavam dentro do período estabelecido, 13 se repetiam em mais de uma base de dados, cinco não estavam disponíveis na íntegra, sete não abordavam intoxicações ocupacionais, restaram somente 08 artigos que contemplavam os critérios de inclusão. As estratégias de busca utilizadas nas respectivas bases de dados e os motivos da exclusão foram apresentadas no fluxograma (Figura 1), como recomendado pelo grupo PRISMA (Moher, Liberati, Tetzlaff & Altman, 2015).
Fig. 1 - Fluxograma, segundo Prisma, para seleção dos estudos, Campo Grande – MS, Brasil, 2018.
Fonte: Própria.
Com a análise dos oito artigos selecionados, foi possível observar a predominância de estudos que abordam a toxicodinâmica do agroquímico e como estas são descritas na literatura quanto alterações
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neurológicas e neurocomportamentais. Ademais alguns autores apresentaram sobre a letalidade de agrotóxicos de uso ocupacional do tipo organanofosforado, que apresentam intensa neurotoxicidade comprovada e os riscos para os trabalhadores que são expostos a esses agentes, mas que permanece em uso legalizado no país.
Quadro 1. Artigos selecionados para o estudo. Campo Grande, MS. 2018.
Titulo Autores Ano Base de Dados Objetivo
Alterações bioquímicas e toxicológicas de agricultores familiares da região do Alto Jacuí, Rio Grande do Sul
Mori, N.C, Horn,R.C e Oliveira, C. et al
2015 Scielo Avaliar possíveis alterações de marcadores bioquímicos e toxicológicos oriundas da exposição aos agroquímicos em trabalhadores rurais da região do Conselho Regional de Desenvolvimento Alto Jacuí, no Rio Grande do Sul.
Análise dos níveis séricos de
colinesterase plasmática dos agricultores de JI- Paraná- RO expostos aos
agrotóxicos.
Prates, G.A, Gois, R. Pereira, G.C.A. e Alves, H.N.
2017 Scielo Analisar os níveis séricos de colinesterase plasmática dos agricultores de Ji-Paraná-RO expostos aos agrotóxicos. Association between pesticide exposure
and suicide rates in Brazil
Faria, N.M.X. Fassa, A.C.G e Meucci, R.D.
2014 Science Direct Investigar a associação entre agroquímicos e casos de suicídio.
Occupational exposure to pesticides, nicotine and minor psychiatric disorders among tobacco farmers in southern Brazil Faria, N.M.X. Fassa, A.C.G Meucci, R.D. Fiori, N.S. e Miranda, V.I.
2014 Science Direct Identificar a prevalência de transtornos psiquiátricos menores entre os cultivadores de tabaco, e fatores associados principalmente exposição a nicotina e agroquímicos. Incidência de suicídios e uso de
agrotóxicos por trabalhadores rurais em Luz (MG), Brasil
Meyer, T.N, Resende, I.L.C. e Abreu, J.C.
2007 Lilacs Avaliar a incidência e as características de suicídios e das intoxicações por agrotóxicos no município de Luz, bem como a situação da utilização desses agentes por um grupo de moradores da zona rural Associação entre exposição por longo
prazo a baixas doses de agrotóxicos e neurotoxicidade crônica humana
Ramos, M.M.R.V.
2007 Repositório.UNI CAMP
Analisar a relação da exposição ao longo prazo aos agrotóxicos e a ocorrência de efeitos neurotóxicos crônicos. A importância da avaliação das dosagens
das colinesterases em casos de intoxicações por organofosforados
Marques, P.V. e Caixeta, B.T.
2016 Scielo Desenvolver um estudo sobre a importância da avaliação dos níveis séricos das colinesterases em casos de intoxicações por inseticidas.
Intoxicação crônica por agrotóxicos em fumicultores Murakami, Y. Pinto, N.F, Albuquerque, G.S.C. Perna, P.O. e Lacerda, A.
2017 Lilacs Pesquisar as intoxicações crônicas por agrotóxicos e a Relação com o processo de trabalho na fumicultura, no sentido de dar maior visibilidade à questão e de fornecer subsídios ao planejamento de intervenções de prevenção desses agravos e à promoção da saúde. Fonte: Própria, 2018
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A pesquisa cientifica em nível nacional e internacional, a várias décadas já discutem a associação entre a exposição aos agrotóxicos e danos à saúde humana e muitos desses danos têm como alvo o sistema nervoso. Após leitura dos oito artigos selecionados, foi possível observar o desvelar de duas vertentes nos estudos, sendo elas as que abordavam os efeitos neurotóxicos e os neurocomportamentais da população observada. Nesse sentido emergiram dos resultados brutos duas categorias para discussão, são elas: Transtornos Psiquiátricos, suicídio e Agrotóxicos; Alterações Neurológicas e Agrotóxicos.
3. 1 Alterações Neurológicas e Agrotóxicos
É evidenciado por Ramos (2007) que os agrotóxicos poderiam sozinhos, ou em combinação com outras toxinas ambientais serem fatores causais ou facilitar a progressão para diversas neuropatias. Em uso ocupacional, existem vários agroquímicos que têm uma conhecida ação neurotóxica no tecido alvo, tais como os organofosforados e carbamatos (acetilcolinesterase), além de outros que afetam receptores de GABA (emamectina) e da acetilcolina (nicotínicos). Prates, Vieira, Goes e Alves, (2017) atestam que, os organofosforados, causam efeitos neurotóxicos de forma crônica: distúrbios psiquiátricos, cognitivos e neuropatia periférica. Para Marques e Caixeta (2016), deve-se levar em consideração que os agrotóxicos organofosforados possuem, como principal mecanismo de ação a inibição da enzima acetilcolinesterase, fazendo com que acetilcolina não sofra lise e consequentemente se acumulando na fenda sináptica. Corroborando com Mori, et al. (2015) que salientam ainda que o mecanismo de ação e os efeitos tóxicos são determinados pela inibição da colinesterase, resultando no acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas do sistema nervoso central, periférico e autônomo, e no aparecimento das manifestações clínicas da síndrome colinérgica, podendo surgir quadros clínicos, sendo estes a síndrome intermediária e neurotoxicidade, devido ao acúmulo de acetilcolina nos tecidos nervosos e órgãos efetores.
Acetilcolina é um neurotransmissor que possui a responsabilidade no organismo de conduzir impulsos nervosos. Prates, et al. (2017) explicam que as vesículas compostas pelos neurotransmissores acetilcolinas são rompidas por meio de impulsos nervosos que chegam à placa motora, onde ocorre também a passagem de potencial de ação através da membrana do terminal axônio para permitir o rompimento das membranas do terminal, sendo esvaziado na fenda sináptica, localizada entre o terminal axônio e a fibra muscular. É discutido por Mori, et al. (2015) que seu estudo evidenciou uma redução da atividade da enzima butirilcolinesterase nos trabalhadores rurais. Prates, et al. (2017) atestam que em seu estudo, após as análises dos resultados dos níveis séricos de colinesterase plasmática dos 24 agricultores estudados, pôde-se observar que 41,67% apresentaram os resultados dos níveis séricos de colinesterase abaixo dos valores de referência. As perturbações neurológicas em relação a exposição contínua aos agroquímicos, predominantemente organofosforado, Marukami, Pinto, Albuquerque e Lacerda, (2017) expõem que nessa população é notado maior prevalência de sintomas neurológicos e alterações no desempenho neurocomportamental, como as disfunções cognitiva e psicomotora, além de aumento do risco para a doença de Parkinson. Ademais, Marukami, et al. (2017) ainda discorrem que a polineuropatia tardia induzida por organofosforado é uma síndrome que ocorre após 7 a 21 dias da exposição a um agrotóxico organofosforado e afeta, predominantemente, nervos longos do sistema nervoso, causando fraqueza simétrica dos músculos periféricos de braços e pernas, com alterações sensoriais variáveis. A fosforilação da enzima neuropathy targe esterase é considerada responsável pela disfunção, cuja deficiência pode ser permanente.
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De acordo com as considerações de Marukami, Pinto, Albuquerque & Lacerda, (2017) o resultado de seu estudo demonstrou que três manifestações mais comuns nas intoxicações crônicas por exposição a múltiplos agrotóxicos encontradas foram: transtornos psiquiátricos menores (90%), perda auditiva neurosensorial (15%) e polineuropatia tardia induzida por organofosforados (10%).
3.2 Transtornos Psiquiátricos, Suicídio e Agrotóxicos
De acordo Santos e Menta (2016) estudos de diversos desenhos metodológicos que contribuem com a discussão da temática intimamente com a vertente de alterações neurocomportamentais, sendo os distúrbios psiquiátricos menores e casos de suicídios. Como mostra o estudo transversal desenvolvido por Faria, Fassa, Meucci e Miranda (2014) mostra evidências da associação entre intoxicações por agrotóxicos e transtornos mentais. Também aponta para o aumento do risco de transtornos mentais comuns em trabalhadores com frequente exposição dérmicas a pesticidas e exposição a organofosforados. Faria, Fassa e Meucci, (2014), definem ainda que os organofosforados podem produzir agravos neurocomportamentais, afetando as funções intelectuais, cognitivas, de memória, comportamento, processamento de informações, coordenação motora fina, levando à ansiedade e à irritabilidade.
A utilização prolongada de diferentes agrotóxicos pode ocasionar neuropatias tardias, síndromes neurocomportamentais e distúrbios neuropsiquiátricos, com alta incidência de suicídio. (Faria, Fassa & Meucci, 2014).
Com abordagem ecológica os autores supracitados evidenciaram que as taxas de suicídio foram maiores nas microrregiões do Brasil, com maior proporção de fazendas, mulheres trabalhadoras. Com isso, os autores discorreram que todas as análises do estudo mostraram que, em consonância com publicações internacionais (Quandt et al., 2000 ; Arcury et al., 2003 ; Widmaier et al., 2003) houve uma associação ainda mais forte entre as intoxicações por agrotóxicos e as taxas de suicídio. De acordo com Neto, Andrade e Felden (2018), estudos epidemiológicos já mostraram que há um risco maior de problemas psiquiátricos, principalmente depressão, em pessoas expostas a pesticidas Porém o estudo afirma que os agroquímicos organofosforados não são apenas um agente suicida (método), mas podem fazer parte do caminho causal. Contudo, estudo descritivo desenvolvido em Luz- MG apresentou resultados preocupantes, uma elevada incidência de suicídios na cidade, em conjunto com os fatos de que apenas um dos dezenove casos não ocorreu em trabalhador rural, sendo que mais da metade dos suicídios deveu-se à auto-administração de agrotóxicos. (Meyer, Resende & Abreu, 2007).
Nesse sentido, destaca-se a necessidade de prevenção e/ou promoção a saúde dessa população abordada, por meio do maior emprego de normas de segurança, como a utilização de EPI`s durante o manuseio dos produtos, fortalecimento nos sistemas de notificações e informações aos agricultores sobre os organofosforados, realização de monitoramento dos níveis das colinesterases de agricultores, por meio de exames laboratoriais, para prevenção, diagnóstico e melhoramento de qualidade de vida, relacionada à saúde dos trabalhadores, evitando possíveis complicações (Marques & Caixeta, 2016). Corroborando com os autores Mori, et al. (2015) que atestam que agroquímicos agrícolas alteram o status oxidativo dos trabalhadores rurais, evidenciando a importância do monitoramento das condições de saúde do trabalhador e o incentivo à utilização dos EPI.
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4 Conclusões
Efeitos neurotóxicos em decorrência da utilização de agroquímicos ocasionam preocupação cada vez maior aos profissionais de saúde, pois constitui um problema de saúde pública.
Esse modo de vida e o trabalho impactam diretamente na saúde desses trabalhadores. A exposição continuada a agrotóxicos de uso ocupacional tem determinado intoxicações crônicas identificadas, pelos transtornos psiquiátricos menores e pela polineuropatia tardia induzida por organofosforados. A análise demonstrou que os acompanhamentos da saúde mental desses trabalhadores devem ser realizados de forma vigilante, para garantir que agravos psiquiátricos e doenças crônicas oriundas do sistema nervoso possam ser controladas. Considerou-se como limitação nesse estudo a exclusão de outros tipos de agroquímicos, que não fossem de uso exclusivo ocupacional.
A escolha de um analise de dados de abordagem qualitativa se fez eficaz nesse tema porque quando foi possível houve o desvelar das categorias, notou-se que as vertentes que mais se produz e geram preocupação da comunidade cientifica de um lado é a abordagem fisioneurológica e a neurocomportamental, percebeu-se portanto que através desse percurso metodológico foi possível evidenciar não só o quanto os agrotóxicos podem causar sindromes neurotóxicas, mas também a qualidade dessas informações para planejamento de intervenções.
Além disso faz-se necessário reforçar que essa temática deve ter um espaço para discussão nacional no cenário brasileiro no que diz respeito a legalização, vigilância e controle dos agentes defensivos agrícolas, bem como o acompanhamento da saúde do trabalhador.
Os estudos considerados, evidenciam que a exposição em longo prazo aos agrotóxicos pode estar associada à ocorrência de alterações neurológicas e comportamentais. Contudo, futuros estudos que analisem exposição continua sem o recorte da população em só trabalhadores, devem ser realizados.
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