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O benzeno e a saúde humana: A normatização para sua utilização

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Academic year: 2021

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS FORENSES

O benzeno e a saúde humana: A normatização para sua utilização

Rafael Pereira de Souza (1); Janaína do Nascimento Lima Matias de Paula (2). (1) Autor. Graduado em Ciências Biológicas. Faculdade da Terra de Brasília. rafaelpereir@gmail.com

(2) Orientadora. Mestre em Patologia Molecular pela Universidade de Brasília – UnB. Orientadora do Curso de Pós-Graduação em Biociências Forenses pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PuC/GO. janaina23@gmail.com

Resumo

O benzeno, um composto reconhecidamente carcinogênico, é uma substância presente no ambiente devido às contribuições de emissões naturais e especialmente antropogênicas. Por essa propriedade não existe um limite de exposição segura a ele. Para algumas emissões antropogênicas, aquelas provenientes de indústrias que produzem ou manuseiam o benzeno, o controle deste poluente tem sido feito regularmente, entretanto, para outras não se têm o conhecimento de suas concentrações e implicações ambientais. É considerada a quinta substância de maior risco, segundo os critérios do Programa das Nações Unidas de Segurança Química. Contudo, estratégias para reduzir o nível de exposição têm sido feitas para assegurar uma melhoria na qualidade de vida desses trabalhadores, como a melhoria de tecnologia dos meios de produção e a pressão das políticas de vigilância à saúde ocupacional.

Palavras-chave: benzeno, intoxicação, exposição ocupacional, hidrocarbonetos.

Abstract

The benzene, a known carcinogenic compound, is a substance in the environment due to the contributions of natural emissions and, especially, anthropogenic. Due to this there is no safe exposure to it. For some anthropogenic emissions, those from industries that produce or handle benzene, control of this pollutant has been done regularly, however, not to others if they haven’t knowledge of their concentrations and environmental implications. It is considered the fifth substance of greatest risk, according to the criteria of the Joint United Nations Program on Chemical Safety. However, strategies to reduce the level of exposure have been made to ensure a better quality of life of these workers, such as improved technology and the means of production, the pressure of political surveillance to occupational health.

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1. Introdução

A intoxicação pelo benzeno ou benzenismo é o conjunto de sintomas e/ou sinais laboratoriais compatibilizados com os efeitos da exposição ao benzeno, em usuários de produtos que o contenham ou trabalhadores de empresas que o produzem, transformem, distribuem, manuseiem ou consumam (BRASIL, 1993).

O benzeno é um hidrocarboneto cíclico aromático, líquido, incolor, volátil, com odor agradável e altamente inflamável. É produzido, principalmente, pela destilação do petróleo ou na siderurgia (como produto secundário do coque, um tipo de carvão utilizado desde o século XVIII como combustível). É empregado nas indústrias químicas como matéria-prima para produção de plásticos e outros elementos orgânicos e, nas indústrias da borracha e de tintas e vernizes como solvente. Nas indústrias de álcool e açúcar, o benzeno é empregado para a produção do álcool anidro. Pode ser encontrado, também, como constituinte de vários derivados de petróleo e aditivo da gasolina em alguns países (BRASIL, 2002).

São três as principais vias de absorção do benzeno que provocam a intoxicação humana: respiratória (inalação de vapores), cutânea e digestiva. A via respiratória é a principal, do ponto de vista toxicológico, sendo retido 46% do benzeno aspirado. Uma vez absorvido, quase instantaneamente é eliminado em 50% pelos pulmões. O benzeno que continua no corpo difunde-se por diversos tecidos. Na intoxicação aguda, grande parte é retida no sistema nervoso central, enquanto que na intoxicação crônica conserva-se na medula óssea (40%), no fígado (43%) e nos tecidos adiposos (10%). Após sua absorção, parte do benzeno distribuído pelo organismo é metabolizado pelos microssomos do fígado e cerca de 30% é transformado em fenol e em derivados como pirocatecol, hidroquinona e hidroxiquinona, os quais são eliminados pela urina nas primeiras horas até 24 horas após cessada a exposição (CAMARGO, 2008).

A exposição por um longo período ao benzeno provoca diversos efeitos no organismo humano, destacando-se entre eles a mielotoxidade, a genotoxidade e a sua ação carcinogênica. São conhecidos, ainda, efeitos sobre diversos órgãos como sistema nervoso central, sistemas endócrino e imunológico. No entanto, não existem sinais ou sintomas típicos da intoxicação crônica pelo benzeno. As manifestações neurológicas são leves e bem admitidas. Pode ocorrer, também, toxicidade hepática e renal, mas os efeitos sobre os tecidos sanguíneos são os mais importantes (CAMARGO, 2008).

Existe ainda uma relação causal evidenciada entre a exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemia, especialmente a leucemia mielóide aguda e suas variantes, entre elas

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a eritroleucemia e a leucemia mielomonocítica. (CAMARGO, 2008). Além de leucemogênica, a toxicidade do benzeno está também associada à ocorrência de outras formas de patologias onco-hematológicas, como Linfomas não-Hodgkin, Mieloma Múltiplo e Mielofibrose, embora em menor frequência (ARCURI et al., 2005).

O benzeno é um dos hidrocarbonetos mais estudados devido seus efeitos na saúde, assim este trabalho visa apresentar as diversas formas de contaminações pelo benzeno, suas consequências para a saúde, com o objetivo de contribuir para a discussão sobre a eliminação ou redução da utilização desse composto.

2. Metodologia

O presente trabalho foi realizado por meio de revisão bibliográfica, utilizando artigos publicados desde a década de 60 até o ano de 2007, pesquisados em base de dados, por meio dos serviços da Medline, Scielo, Lilacs, Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) dentro do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Também foram acessadas as bibliotecas virtuais das Universidades Federias de: Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. As publicações foram selecionadas mediante busca com os seguintes descritores: contaminação por benzeno, intoxicação por benzeno, exposição ocupacional, hidrocarbonetos.

3. Benzeno

O benzeno é um hidrocarboneto aromático que se apresenta como um fluido incolor, lipossolúvel, volátil, inflamável, de aroma característico, perceptível a concentrações da ordem de 12 ppm (partes por milhão), cuja fórmula molecular é C6H6 (FUNDACENTRO,

1993).

Os petróleos e seus derivados são formados, basicamente, por uma combinação de milhares de compostos orgânicos do grupo dos hidrocarbonetos, isto é, de compostos formados unicamente pelos elementos carbono e hidrogênio combinados quimicamente (MARTINS, 2007).

Em geral, os hidrocarbonetos são divididos em duas famílias, alifáticos e aromáticos (POTTER E SIMMONS, 1998) e a proporção de cada categoria de hidrocarbonetos depende do tipo de derivado de petróleo (WATTS et al., 2000).

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Os alifáticos, por apresentarem um ou mais anéis benzênicos como componentes estruturais, são classificados como monoaromáticos, diaromáticos e policíclicos aromáticos (POTTER E SIMMONS, 1998) Representando os compostos monoaromáticos citam-se o benzeno e seus derivados simples, nos quais um ou mais átomos de hidrogênio são substituídos por grupos metila ou etila. Como exemplos têm-se o tolueno, como um grupo metila, e os xilenos, com três isômeros contendo dois grupos metila. Em conjunto, os compostos da gasolina benzeno, tolueno, xileno, além do etil-benzeno são denominados de BTEX (WATTS et al., 2000).

O benzeno é o mais perigoso por sua propriedade carcinogênica, além da lenta degradação que chega a ser recalcitrante, sob condições redutoras sulfatantes, rápida evaporação, não se depositar significativamente em sedimentos, não ser bioconcentrado em organismos marinhos e nem hidrolisado. O tempo de meia vida varia conforme o compartimento ambiental, sendo de 13,4 dias no ar; 5 a 16 dias em águas superficiais; 10 dias a 24 meses em águas profundas; 7,2 dias em solo com espessura de um centímetro (cm) e 38,4 dias com espessura de 10cm (SANTOS; DUTRA, 2010).

No ambiente, o benzeno pode ser encontrado no ar, na água e no solo. Uma das propriedades mais importantes desta substância, com grande repercussão na contaminação atmosférica, é seu elevado poder de volatilização, devido à alta pressão de vapor, na ordem de 75 mmHg a 20ºC (ATSDR, 2007). As demais propriedades que podem influenciar transporte e destino da substância no ambiente são descritas na Tabela 1.

Tabela1 – Propriedades Físicas e Químicas do Benzeno

Peso Molecular 78,11

Estado físico (CNTP) Líquido, incolor

Ponto de Fusão 5,5ºC Ponto de Ebulição 80,1ºC, a 760 mmHg Ponto de Fulgor - 11,1ºC Ponto de Autoignição 498ºC Densidade a 15ºC, g/cm3 0,8787 Pressão de Vapor 75 mmHg, a 20ºC Limites de odor Ar Água - 4,9 mm/m3 2,0 mm/m3

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Solubilidade Água

Solventes Orgânicos

-

1800 mg/L, a 25ºC

Álcool, clorofórmio, éter, Acetona, óleos, dissulfetos de carbono, ácido acético. Coeficiente de Partição

Log Kow (água)

Log Koc (carbono orgânico)

2,13 1,8 – 1,9

Constante de Henry a 25ºC 5,5x10-3 atm/m3 por mol

Limite de imflamabilidade 1,2% (limite inferior), 7,8% (limite superior).

Fator de conversão 1 ppm=3.26 mg/m3, a 20 °C e 1 atm;

1 mg/m3 =0.31 ppm Fonte: (ATSDR, 2007).

3.1 Formas de exposição ao Benzeno

O benzeno pode ser liberado para o ambiente através de fontes naturais e/ou antropogênicas. Por ser um componente do petróleo ele pode ocorrer facilmente, na concentração aproximada de 0,8 μg/L, nas proximidades de depósitos naturais de petróleo e gás natural. A ocorrência de queimadas em florestas também contribui para sua presença no ambiente. Já a contribuição das fontes antropogênicas, estimada em mais de 90%, é proveniente da exaustão e do abastecimento de veículos, das emissões industriais e da fumaça do cigarro (IPCS, 1993).

Para REIS (2004), a exposição humana ao benzeno se dá principalmente através do ar, sendo a via inalatória a responsável por 98 a 99 % da quantidade de benzeno presente no corpo humano.

Além da exposição ambiental, que acomete a população geral, a exposição pode se dar também ocupacionalmente, em ambientes industriais que utilizam a substância em seus processos produtivos. A magnitude da exposição ocupacional ao benzeno é bem superior àquela observada para a população geral. As principais fontes desta exposição são: siderurgias; indústrias do petróleo; indústrias petroquímicas; indústrias químicas que utilizam o benzeno em processo de síntese química; laboratórios de análise química; postos de gasolina e mecânicos de automóveis e atividades que usam gasolina como solvente (BRASIL, 2003).

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Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), as usinas de álcool anidro formavam o campo industrial que mais utilizava o benzeno, fora aqueles que o utilizam como matéria-prima. Sua utilização neste setor foi proibida no Brasil a partir de maio de 2000; deve-se ter em conta que em 28 de abril de 2004, foi publicada a Portaria Interministerial dos Ministérios da Saúde e do Trabalho que resolve: “proibir em todo o território nacional a fabricação de produtos que contenham benzeno em sua composição, admitida, porém, a presença dessa substância como agente contaminante com percentual não superior a 0,01% em volume”.

O benzeno também pode ser encontrado, em concentrações acima do permitido por lei, em solventes e produtos formulados utilizados em indústrias gráficas, de calçados e couros, de tintas e vernizes, em oficinas mecânicas e serviços de pintura (BRASIL, 2003).

Segundo a Comissão Estadual do Benzeno do Paraná, o benzeno é um subproduto na indústria siderúrgica, presente no gás de coqueria, fornos para queima do carvão coque, que também é utilizado como fonte energética, ampliando em muito seu potencial de contaminação; estando também presente em combustíveis derivados do petróleo. A regulamentação brasileira permitia de 1 a 1,5% na gasolina de automóveis. Ocorriam achados de quantidades bem maiores (até 8%) em gasolinas adulteradas. A Portaria Interministerial de 2004 permite benzeno como contaminante no percentual de 0,1% em volume, em produtos acabados a partir de 1 de Dezembro de 2007 (SESA-PR, 2011).

3.2 Sintomas de Intoxicação com Benzeno

Segundo o Ministério da Saúde (2003), benzenismo é o conjunto de sinais, sintomas e complicações, decorrentes da exposição aguda ou crônica ao hidrocarboneto aromático, benzeno. As complicações podem ser agudas , quando de exposição a elevadas concentrações com apresentação de sinais e sintomas neurológicos, ou crônicas, com sinais e sintomas clínicos múltiplos, podendo ocorrer complicações a médio ou em longo prazo situadas principalmente no sistema hematopoiético.

Os sinais e sintomas ocorrem em aproximadamente 60% dos casos. São eles: astenia, mialgia, sonolência, tontura e sinais infecciosos de repetição. As informações laboratoriais hematológicas mais relevantes são representadas pela manifestação de neutropenia, leucopenia, eosinofilia, linfocitopenia, monocitopenia, macrocitose, pontilhado basófilo, pseudo Pelger e plaquetopenia (CAMARGO, 2008).

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O diagnóstico de Benzenismo, de caráter ocupacional, é eminentemente clínico e epidemiológico, baseando-se na história de exposição e na observação de sintomas e sinais clínicos e as informações laboratoriais citadas anteriormente (COSTA, 2005).

Para ARCURI e colaboradores (2005) em pessoas potencialmente expostas ao benzeno, todas as alterações hematológicas devem ser valorizadas, investigadas e justificadas. A toxicidade do benzeno é dividida em aguda ou crônica. Para cada um dos casos há sinais e sintomas clínicos, descritos a seguir:

Efeitos Agudos

O benzeno provoca irritações das mucosas e quando inalado em elevadas concentrações pode provocar edema pulmonar. Os gases são, também, irritantes para as mucosas oculares e respiratórias. A absorção do benzeno provoca efeitos tóxicos para o sistema nervoso central, causando, de acordo com a quantidade assimilada, narcose e excitação precedida de sonolência, tonturas, cefalalgia, enjoos, taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsões, perda da consciência e morte (BRASIL, 2003).

Efeitos Crônicos

Os principais efeitos crônicos da exposição ao benzeno são: as alterações hematológicas, alterações neuro-psicológicas e neurológicas, alterações cromossômicas numéricas e estruturais, alterações dermatológicas e diversos tipos de câncer (BRASIL, 2003).

Segundo Arcuri e colaboradores (2005), vários tipos de alterações hematológicas, isoladas ou integradas, estão associadas à exposição ao benzeno. Em virtude da lesão do tecido da medula óssea, onde são produzidas as células da linhagem sanguínea, essas modificações correspondem, sobretudo, a hipoplasia, displasia e aplasia.

A hipoplasia da medula óssea na maioria das vezes leva a um quadro de citopenia no sangue periférico. A leucopenia consequente à neutropenia exprime a principal repercussão hematológica da hipoplasia secundária ao benzeno e, com menor constância, plaquetopenia isolada ou associada à neutropenia. Análises realizadas em medulas ósseas de trabalhadores expostos ao benzeno e seus derivados, comprovaram relação entre neutropenia periférica e hipoplasia granulocítica, após, em média quatro anos de exposição (RUIZ et al., 1991; RUIZ

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da exposição, demonstrou-se um período médio de cinco anos para a recuperação hematológica periférica (AUGUSTO, 1992).

Existe uma relação de causa e efeito confirmada entre a exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemias, sobretudo a leucemia mielóide aguda e suas variantes, entre elas a eritroleucemia e a leucemia mielomonocítica. Além de leucemogênica, a toxicidade por benzeno está ainda vinculada ao surgimento de outras formas de patologias onco-hematológicas, como Linfomas não-Hodgkin, Mieloma Múltiplo e Mielofibrose, embora em menor frequência (CAMARGO, 2008).

3.3 Alterações Neuropsicológicas e Neurológicas

São observadas alterações neuropsicológicas e neurológicas, como efeitos consequentes à exposição crônica ao benzeno, tais como: déficits de atenção, percepção, memória, habilidade motora, mudança viso-espacial, viso-construtiva, na função executiva, raciocínio lógico, linguagem, aprendizagem e humor. Além dessas funções cognitivas, surgem outras alterações que incluem astenia, cefaléia, depressão, insônia, agitação e alterações de comportamento. Além de quadros de polineuropatias periféricas e centrais, perdas auditivas neurossensoriais, zumbidos, vertigens e dificuldades no processo auditivo (BRASIL, 2006b).

3.4 Alterações Cromossômicas, Numéricas e Estruturais

Segundo Arcuri et al. (2005), diferentes alterações também têm sido observadas dentre elas, as alterações cromossômicas numéricas e estruturais em linfócitos e células da medula óssea de trabalhadores expostos ao benzeno, verificadas através de técnicas citogenéticas, assim como a ocorrência de problemas dermatológicos, tais como eritema e dermatite irritativa de contato por exposições repetidas e prolongadas ao benzeno. Diferentes formas de câncer podem ser notadas devido à associação da exposição do benzeno com gás de coqueria e de vazamentos em indústrias que manuseiam correntes de naftas ou produtos petroquímicos.

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Para a investigação diagnóstica dos casos suspeitos de leucopenia secundária à toxicidade benzênica, deve-se considerar alguns fatores: as doenças ou os casos clínicos e fisiológicos que cursam com leucopenia, como, por exemplo, doenças do tecido conjuntivo, viroses, alcoolismo, exposição a medicamentos e a outros agentes mielotóxicos, que devem ser pesquisados. As neutropenias constitucionais e as situações anteriormente descritas devem ser objeto de análise metódica, sem, contudo, permitir que sua verificação seja suficiente para afastar a presunção de associação com a toxicidade benzênica (BRASIL, 2003).

Para casos suspeitos de intoxicação por benzeno deve-se seguir um protocolo de investigação contendo uma serie de informações e procedimentos como: histórico clínico atual, histórico ocupacional, exames complementares (hemogramas, transaminases, prova de atividade reumática e hepatite), biopsia da medula óssea e mielograma, dentre outros como a análise sobre o Sistema Nervoso Central (ARCURI et al., 2005).

O diagnóstico de benzenismo, de caráter ocupacional, é de modo eminente clínico e epidemiológico, fundamentando-se na história da exposição ocupacional e na observação de sinais e sintomas clínicos e laboratoriais. Em trabalhadores potencialmente expostos ao benzeno, todas as alterações hematológicas devem ser valorizadas, pesquisadas e explicadas (BRASIL, 2006a).

3.6 Tratamento

4. Não existe tratamento medicamentoso específico para os casos de intoxicação pelo benzeno. O acompanhamento médico para os casos confirmados de intoxicação deve ser regular e em longo prazo. As intercorrências clínicas devem ser tratadas com precocidade. As perturbações de ordem psíquica e social causadas aos indivíduos devem merecer atenção especializada em programas de saúde integrados sob o enfoque do trabalho (ARCURI et al., 2005). Dispositivos Legais Relacionados à Exposição Humana ao Benzeno

O benzeno por ser uma substância de elevada toxicidade e utilizado em diversos setores da Indústria e que também se expande para ambientes não ocupacionais, necessitava de uma regulamentação para sua utilização. O marco inicial da sua normatização tem como fundamento a Constituição Federal Brasileira de 1988, artigo 198 que diz “A saúde é direito

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redução do risco de doença e de outros agravos...”, e artigo 200 inciso I que fala que cabe ao

Sistema Único de Saúde “controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de

interesse para a saúde...” e inciso II “executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador.” (BRASIL, 1988).

Segundo a Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990, entende-se que a vigilância sanitária é um conjunto de ações capaz de extinguir, atenuar ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, compreendendo: o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, envolvidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde (BRASIL, 1990).

O anexo 13-A da Portaria Nº 14 de 20/12/1995 do MTE, obriga as empresas a elaborarem um “Programa de prevenção da exposição ocupacional a benzeno” onde devem estar relacionadas todas suas as ações, visando à proteção e a saúde do trabalhador. Este programa deve conter todas as áreas onde podem estar presentes o benzeno ou suas misturas (BRASIL, 1995).

A legislação institui para a exposição ocupacional ao benzeno uma concentração máxima no ar, o valor de referência tecnológico (VRT), definido como concentração de benzeno no ar considerada possível do ponto de vista técnico, que foi estabelecido após um processo de negociação tripartite Ministério do Trabalho, Fundacentro e Ministério da Saúde. O mesmo deve ser considerado como referência para os programas de melhoria continuada das condições dos ambientes de trabalho, e sua efetivação é obrigatória, mas não exclui o risco à saúde, descrito no Acordo Benzeno (2005).

O VRT não pode ser considerado como um limite de tolerância nem limite de exposição, mas sim um valor de referência para concentração ambiental, visto que, nenhuma exposição do trabalhador é permitida. O Anexo 13A da portaria Nº 14 de 1995 define VRT-MTP, valores de referência tecnológica, em uma média ponderada pelo tempo, para uma jornada de 8 horas, obtida na zona respiratória. Os valores instituídos foram de: 2,5 ppm para as indústrias siderúrgicas e 1,0 ppm para as outras empresas abrangidas pelo acordo, devido ao fato de serem dois tipos de segmentos industriais com níveis tecnológicos distintos. Para a averiguação da sua execução há necessidade de se fazer uma avaliação quantitativa. A instrução normativa n.º 1 do Ministério do Trabalho de 1995 traz as exigências técnicas para efetuar esta avaliação.

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Os dispositivos legais brasileiros que preconizam valores para a exposição humana ao benzeno são as referentes à qualidade da água para consumo humano para garantir sua potabilidade e à exposição ocupacional e é de 0,005 mg/L, segundo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 357, de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005) e a Portaria do Ministério da Saúde n.º 1.469, de 29/12/2000 (BRASIL, 2000).

O Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2001) estabeleceu normas específicas para o procedimento de verificação da exposição feita através da análise do ácido trans, trans mucônico na urina dos trabalhadores. Valores deste ácido acima dos padrões de normalidades, ou seja, acima da população não exposta, demostra a existência de exposição. Esta alteração, contudo, não representa comprometimento da saúde, que pode existir, mas deve ser confirmado através de exames médicos.

Depois de ter vigorado o acordo benzeno, foi criada uma Comissão Nacional Permanente do benzeno (CNP-benzeno), assim como comissões estaduais e regionais para acompanhamento da execução do acordo. Estas comissões debatiam sobre os problemas associados ao benzeno, bem como, efetuar visitas nas fábricas das regiões, que resultaram em negociações locais e levantamento de casos, sobre os quais existem vários relatórios, comprovando as condições das empresas, os avanços e retrocessos na implantação de medidas de controle da exposição, barreiras às negociações, etc. O texto “Protocolo para intervenção nas empresas” orienta sobre a composição e atuação dessas comissões, que pode ser encontrado no “Repertório Brasileiro do Benzeno – 2002 do Ministério da Saúde” (MS, 2006).

A Portaria Interministerial n° 775, de 28 de Abril de 2004 no seu artigo 01 “Proíbe a

comercialização de produtos acabados que contenham “benzeno” em sua composição, admitindo, porém, a presença desta substância, como agente contaminante, em percentual não superior a 0,1% (zero vírgula um por cento), em volume, a partir de 1° de dezembro de 2007.” E no inciso primeiro determina que aos combustíveis derivados de petróleo é admitido

um percentual não superior a 1% (um por cento), em volume. O artigo segundo desta mesma portaria estabelece a obrigatoriedade de que o rótulo de qualquer produto acabado que contenha mais de 0,01%, em volume, de benzeno, deve indicar a presença e a concentração máxima deste composto aromático (BRASIL, 2004).

Com relação à legislação internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em suas diretrizes para a qualidade do ar na Europa, reconhece que o benzeno é carcinogênico para humanos e não há níveis seguros à sua exposição. Para fins de orientação, decidiu-se usar o cálculo de risco de Crump (1994), que produziu medias geométricas de analises de

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estimativas. As estimativas do excesso de risco de leucemia em populações expostas, durante toda a vida, a uma concentração atmosférica de 1µg/m3 de benzeno é de 6,0 × 10-6. As concentrações de benzeno no ar associada a um risco de vida superior a 1/10000, 1/100000 e 1/1000000 são, respectivamente, 17, 1,7 e 0,17 µg/m3 (WHO, 2000).

A Agência Americana de Proteção Ambiental (US EPA) segue o mesmo julgamento

da OMS e precisa o risco de patologias por leucemia da ordem de 2,5 x 10

-6

a 7,1 x 10

-6

, para

a exposição humana continuada ao benzeno à concentração de 1μg/m

3

(US EPA, 1998; IIA, 1998).

5. Conclusão

São necessários estudos para avaliar os riscos reais e potenciais à saúde humana, esclarecer dúvidas dos diferentes segmentos envolvidos, bem como orientar possíveis populações expostas atualmente.

Os estudos demonstram o elevado poder carcinogênico do benzeno, causando intoxicação da população por via respiratória, cutânea e digestiva.

É fundamental a capacitação dos profissionais de saúde para a realização de diagnóstico diferencial, visando identificar casos de exposição e intoxicação aguda e crônica.

Além disso, é necessária a conscientização social do setor empresarial, pois muitos trabalhadores desconhecem o exposto ocupacional ao benzeno e os malefícios que tal aromático pode causar, e tampouco conhecem os dispositivos legais como leis, portarias e resoluções. Não esquecendo que, no Brasil, os malefícios à saúde dos trabalhadores expostos ao benzeno são reconhecidos por meio do Acordo Benzeno (2005), do Protocolo Câncer Relacionado ao Trabalho (2006) e do Programa Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde Relacionada a Substâncias Química (2009).

Em processos industriais, o benzeno deve ser substituído por substâncias químicas menos nocivas. Na impossibilidade de substituição imediata, deve-se reduzir sua utilização que somente deve ser feita em locais planejados, visando o acesso restrito de trabalhadores naquela área, sempre com a utilização de equipamentos de proteção individual.

A comunidade científica mundial reconhece que o benzeno é um contaminante extremamente nocivo à saúde humana. Assim, vários países estão implementando uma série de medidas de gerenciamento e, até mesmo, o banimento do benzeno (AKSOY, 1989).

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Portanto, as decisões que envolvam o benzeno devem ser tomadas em conjunto - Sociedade, Estado e Empresas, já que se trata da quinta substância de maior risco segundo o Programa das Nações Unidas de Segurança Química. Além disso, deve-se dar continuidade nas estratégias para redução da exposição, como a melhoria das tecnologias de produção e das politicas de vigilância química e saúde ocupacional e não ocupacional.

6. Referências

ARCURI, A.; COSTA, D.; MACHADO, J.; CARDOSO, L.; MAGRINI, R.; MARRA, V. Vigilância do risco químico módulo do Benzenismo. Versão para consulta pública. Área técnica de Saúde do Trabalhador, Ministério da Saúde, p,1-38, 2005.

AKSOY, M. Hematotoxicity and Carcinogenicity of Benzene. Environmental Health Perspectives. Vol. 82, pp. 193-197, 1989.

AUGUSTO, L.G.S. Estudo longitudinal e morfológico (medula óssea) em pacientes com neutropenia secundária à exposição ocupacional crônica ao Benzeno. Dissertação de Mestrado. Universidade de Campinas, Unicamp, 1992.

ATSDR (2007) - Agency for Toxic Substances and Disease Registry. Toxicological Profile For Benzene. Disponível em http://www.atsdr.cdc.gov/toxprofiles/tp3.pdf Acesso em 12/02/2011.

BRASIL. Constituição, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

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BRASIL. Ministério do Trabalho Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho. Portaria N.º 14, de 20 de dezembro de 1995. Diário Oficial da União de 22 de dezembro de 1995 – Seção 1 – págs. 21.865 e 21.866.

BRASIL. Ministério de Estado do Trabalho e Emprego e da Saúde, Portaria Interministerial N° 775, de 28 de Abril de 2004.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Portaria nº 34, de 20 de dezembro de 2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde - FUNASA. Portaria nº 1.469/2000, de 29 de dezembro de 2000.

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Referências

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