LEILA
SUZANA
f â*HOFSTÃTTER
.CÃSA
DÁ
-DQÍ
Momo
DA
1>i.=;N|TENc1ÁR|A1
Do
"Serviço Social Âlfërñativo” àsNovas
Altemativas
parao
Serviço Social, Q`
À~
P/7?D2
'
Trabalho
de Conduaao de
_ CursoEm
apresentadoao Departamento
de
Serviço
'
Social
da
Universidade Federalde
Santa.Catarina para
obtenção
do
Grau
de
Baãnarelern Serviço Social, orientado pela
~
ñofiessora
Do`_utora Ivete Simíonatto. °`
«-
Catarina Mari S h
S05-Chefe do Depu: d¢cS:Í,flÍgIÊf¡a¡
csa.u¡=sc Ç
4
É _ - › .
2-
...z
‹_ '94 crítica
nao
arranca
as
flores
'I
imaginárias
dos
gfilhões para
q__ueo
homem
.~~os_suporte
sem
fantasiae
íconsolo,
mas
para
que
se
livredeles
e
, . n
colha
a flor
viva .` Y _-:«~r._ › _ - ` K.
Marx.
4AGRADECIMENTOS
ã
meus
pais que,com
muito
esforço e obstinação, lutarambravamente
paraque
nós, seus filhos,pudéssemos
chegar àçUniversidade ~
uma
vez
que
são tantos osque
não vislumbram
essapossibilidade;
C
ao companheiro
Cesar, pela paciência e carinho;à população
do
Morro
da
Penitenciária que,com
sua históriamarcada
de
lutas, garra, utopiase
sonhos, contribuiu para nossa formação;às/aos integrantes
do
Sub-Núcleo
de
Estudosem
Serviço Sociale
Organização Popular, pelo ensaio
da
atuação proñssional nesses doisanos e
meio de
convívio;às mulheres
do
Morro
da
Penitenciária que,como
diz Milton Nascimento,possuem
“essa estranhamania
de
ter féna
vida”;à nossa supervisora Edaléa,
em
especial.,que
foi nos contagiandocom
sua convicção e clareza profissional;à equipe
de
funcionáriosda
Casa
da
Criançaque
nos ajudoumuito
no
p›rocesso_
de
entendimento
da
história construída pelos moradores,em
algunsmomentos
questionando e refletindo nossa prática enoutros
sendo
solidários/as;u
*I
.¬
à
Orientadora desta Ímonografia, Professora Doutora lvete Simionatto,que
nosacompanha
desde
nosso ingressona
Universidade, pelosz
momentos
dedicadosa
refletir .nossa pratica;às amigas/os e professores
da
Universidade,com
quem
convivemos
-1
nesses três anos
em
situaçoes as mais diversas;à lina, pela colaboração organizativa deste trabalho,
grande
amiga e
companheira
de
muitas discussões e indagações sobrenosso
“fazerprofissional ";
às
demais
pessoas que,de alguma
forma, contribuíram para a'\zz
..,,
conclusãodro processo iniciado.
W ' z^
ú
SIGLAS
r
CEBs
Comunidades
Eclesiaisde
Base .CELATS
Centro Latino-Americanode
Trabalho SocialECA
Estatutoda
Criança edo
AdolescenteFUCABEM
Fundação
Catarinensedo
Bem~Estardo
Menor
FUCADESC
_ , 4'7z;(" :|_Fundação
CatarinenseDesenvolvimento
da
Comunidade
FUNABEM
Fundação
Nacionaldo
Bem-Estardo
Menor
GlSGrupo
Irmão Sol *V
ME
Movimento
EstudantilPDS
Partido Democrático SocialPMDB
Partidodo Movimento
Democrático BrasileiroPT Partido
dos
TrabalhadoresPUC/SP
Pontificia Universidade Católicade
São
PauloUF
ECO
União Florianopolitanade
Entidade -Comunitárias ,UFSC
Universidade Federalde
Santa Catarina5-
suMÁRlo
Apresentação
... ..tí“ ... .. 1- II- III IVcoN1ExTo
E
HISTÓRIA
... ..su]Erros
Do
FAZER
PRoHss1oNAL
... ..v1As
DE 1NsERçÃo
Do
SERVIÇO soc1AL
No
1>Ro1ETo
cAsA
DA
CRIANÇA
... ..v
PRESSUPOSTOS
E
CARACTERÍSTICAS
DO
SERVIÇO
SOCIAL
NO
PROJETO
CASA
DA
CRIANÇA
... ..4.1.
_
Serviço
Social Alternativo' ... ..4.2.
Negação
do
Espaço
Institucional ... ..4.3.
Experiência
de
Belo
Horizonte
-BH
... ..4.4.
Teologia
da
Libertação
e
CEBs
... ..4.5. Referencial
Marxista
... .. 4.6..Método
Dialético ... .. 4.7. IntelectualOrgânico
... .. 4.8.Teoria
e
Prática ... .. 4.9.Metodologia
... .. 4.1 O.Ecletismo
... ..4.1 1.
Especificidãde
do
Serviço
SocialX
Agente
de
Base
... ..4.13. Assistente
Socialcomo
fäcilitador, lnstrumentalizaclore
lnformador
... ..4.14.
Cidadania
e
Democracia
... ..cAMlNHos
Possivfils
... .. Bibliografia ... ... .._;¿ ... ..Apêndice
... .. is
=_;. -1
Apresen
tação
O
presente trabalho constitui~senum
dos.: requisitosdo
Cursode
Serviço Social
da
Universidade Federalde
Santa Catarina para obtençãodo
Grau
de
Bacharel
em
Serviço Social. `V
ç
A
preocupação
central desta monografia énão
só resgatar a históriado
Serviço Social junto
ao
Projeto Casada
Criançado Morro
«da Penitenciária,mas
ir além,buscando
identificar e analisar criticamente os pressupostos teórico-metodológicosque
funclamentaram me
fundamentam
sua atuação.O
eixo desse trabalho é apreocupação
sobreo
pensar
e
o
fazerdo
Serviço Social,
entendendo
que o
momento
setoma
oportuno para refletir sobre essaquestão,
uma
vez
que
nos
últimostempos
tem
se constituídocomo
foco centralnos
debates e discussões
da
categoria profissional.H V
Essa
opção
temática é frutode
váriasdimensões
da
vida acadêmica: ozestágio curricular e extracurricular;
o
debatena
academia; a inserção politica nas esferasde
participação naüniversidade.'
As
questõesque
nortearam este trabalho foram basicamente duas: a)ldentificação
dos
pressupostos teórico-metodológicosque embasaram
e
embasam
asações
do
Serviço Social junto àCasa
da
Criança e; b) Identificaçãoe
análise dasestratégias
de
intervenção experienciadas pelo Serviço Socialno
ProjetoCasa
da
Criança.
Ê' oportuno dizer
também
que
esta análise se restringe à atuaçãodo
Serviço Social
na Casa
da
Criançado Morro da
Penitenciária,e
que, portanto,não
pode
9
Para desenvolver este trabalho
buscamos
subsídios atravésde
entrevistas/depoimentos
dos
profissionaisque
atuaram eatuam
juntoao
ProjetoCasa
da
Criançadesde
a sua criação,em
março de
1988,e
de
análisedo
Planode Ação do
Serviço Social elaboradoi
na
suasegunda
fasede
atuação.O
uso .desse instrumental se justifica por dois motivos: 1)A
análiseda
documentação
existente sobreo
Serviço Socialna Casa
da
Criança seria' insuficientepara dar conta das questões
que
nortearam este trabalho; e b) Pela riquezaque
-asentrevistas apresentam
enquanto
coletade
dados
empíricos. Priorizamos, portanto, osdepoimentos
das Assistentes Sociais IldaLopes
Witiuk e -EdaléaM2
Ribeiroda
Silva,e
o
Plano
de Ação do
Serviço Social.. `O
eixo desses depoimentos/entrevistaspode
ser vistono
roteirode
questõesz elaboradas para 'nortear
o
resgateda
inserção profissional junto àpopulação
do Morro da
Penitenciária, mais especificamenteno
Projeto Casada
Criança.'O
presente. trabalho estácomposto
em
quatro capitulos.No
primeirocontextualizamos
o
períodoem
que
surgeo
Projeto Casada
Criança, identificando aconjuntura nacional, estadual le municipal
do
finalda
década
de
70
até adécada
de
80,1que dá
as bases para aemergência
de
novos
atores sociais - dentre esses atores apopulação
do Morro da
Penitenciária.No
segundo
capitulo resgatamos as viasde
inserção
do
Serviço SocialMorro da
Penitenciária, suas ligaçõescom
a Igreja e a buscade
espaços alternativos paracampo
de
estágio. 'No terceiro -objetivamos pontuar aspeculiaridades
que
caracterizam a populaçãodo Morro da
«Penitenciáriae
os usuáriosdo
Serviço Social nessa áreade
periferiade
Florianópolis. Por fim,no
quarto capítulo,buscamos
identificar e analisar os pressupostosque
fundamentaram
a atuaçãodo
Serviço Social
na
sua' primeira (1983-1990)e
segunda
(1990-1995) fases, juntoao
Projeto Casa da' Criança. .
1
Ver 19 Plano» de Ação elaborado pelo Serviço Social. 1993
2 Ver Apêndice:
1
10
E, finalmente,
apresentamos
algumas
considerações sobreo
“fazerprofissional”
que
passado
“Serviço Social Altemativo” às novas altemativas parao
Serviço Social, por entender
que
a ação interventivado
Serviço Social constitui-seem
constante processo
de
avaliação paraque
novos
subsídios sejam incorporadosnuma
trajetória
de
conservação/ superação. 'l
Y
5" r
11
1 -
CONTEXTO
E
HISTÓRIA
Para
compreendermos o
contextoem
que
nasceo
ProjetoCasa
da
Criança
do Morro da
Penitenciária é necessárioque
nos reportemos paraa
década
de
70, bastante estudada por outros autores3
como
sendo
adécada
do
chamado
“milagreeconômico"
brasileiro cristalizadono
Governo
Médici. Foium
períodoem
que
as taxasde
crescimentoda
economia
chegavam
a8%
ao
ano-,marcado
de
discursoscomo:
“é preciso crescero
bolo para depois repartir”.O
periodoque o
sucede
é
caracterizado porum
fortedesaquecimento
da
economia, altas taxasde desemprego
eameaças
de
hiperinflação, -entre outrascoisas.
Outro
fatormarcante na
conjuntura' brasileira dessa época, e'que
vai dara
tônicaã
década
seguinte, é a inversão populacional(campo
vs cidade).Na
origem
dessesfortes
movimentos
migratórios encontram-se basicamente as transformações ocorridasna
«estrutura agrária brasileira va partirda
segunda
metade da
década de
60, atravésda
substituição
de
cultivos,da
incorporaçãodo
progresso técnicoem
larga escala,da
concentração fundiária,
da
não
.priorizaçãode
politicas .agrárias e agrícolasque
permitissem aos
pequenos
agricultoresmanterem-se
no
campo
e, por fim,`da
incisivaveiculação
de
atrativos(empregos)
possíveisde
serem
encontradosnos
centrosurbanos.
A
segunda
metade da
década
de
70, é conhecidacomo
o
períodode
“abertura, lenta, gradual ~e restrita", preconizado pelo
govemo
Geisele
depois pelogovemo
Figueiredo.3 Sobre
este assunto ver: SROUR, 1982.
12
“Abertura” entendida
como
resultantede
estratégiasdos
govemantes
do
regime
militar para aproximaro
govemo
do povo
(popularizaro
Executivo Forte)e
da
emergência
de
“interlocutores populares,na
luta pela construçãode
uma
nova
correlação
de
forças politicas, capazde
porem
questãoo
gravee
postergadoproblema
social brasileiro”(AURAS, 1991 :22).
Mesmo
sendo
Santa Catarina consideradoum
Estado periférico,em
termos
de
decisão política, a realidade vividanos
grandes centros repercutetambém
aqui, ainda
que de
fomia
maisamena,
como
porexemplo no
fato histórico marcante,populamiente
conhecidocomo
“Novembrada”,
e seus desdobramentos4.Com
a' queda-da
leido
bi-partidarismo,em
1979, outros' setoresda
sociedade civil
começam
a ganhar visibilidade e participam ativamentedo
processoeleitoral
de
1982: as forças politicasde
oposiçãono
Estado (quevão
se constituirem
partidos);
o
Movimento
Estudantil -(ME); os -Movimentos Populares, .reivindicandosaneamento
básico, água, luz, entre outros.Nesse ano
ocorre a primeira eleição diretapara
govemadores.
No
Estadode
Santa Catarinavivemos
uma
polarização das forças4
O
Govemo
de Santa Catarina, ]orge Bomhausen, nomeado pelo regime para o pleito de 1979 a 1982
faz parte das oligarquias catarinenses que
vem
ao longo deste século se revezando no poder. Estetendo suas ações intimamente ligadas às estratégias do
govemo
federal de popularizar a figura doexecutivo organiza .uma recepção .homérica para o então Presidente joão B. Figueiredo, conhecido
como
o Presidente da “Conciliação”, que estaria na capital do Estado no- dia 30 de novembro.A
recepção se deu desde o Aeroporto Hercílio Luz .até o Palácio Cruz e Sousa onde Figueiredo falaria a
população presente na Praça
XV
de Novembro. Essahomenagem
ao então presidente teve algumasações que não estavam .previstas no script
como
a presença de estudantes ligados ao da UFSCque organizaram
um
protestocom
carta à População ecom
faixas e cartazes e palavras de ordemcomo
“Abaixo Figueiredo, o povo não tem medo” e “Abaixo a Ditadura". Os organizadores do evento
tentaram de várias fonnas reprimir a manifestação, que inicialmente pequena mas
com
adesão demuitos populares presentes no evento foi impossível não ser notada e deixou o Presidente totalmente
transtomado, que diz para o então govemador Bomhausenz “Agora deixo de ser Presidente da
República para ser
um
cidadão comum. E o senhor que se responsabilize pelo que acontecerem
seuEstado”. (SROUR, z 90-91) Este incidente político não limitou-se ao Estado mas foi amplamente
noticiado pela mídia nos dias seguintes.
No
Estado os rumos foram mais recrudescidos pois o regimetentou identificar as lideranças estudantis e enquadra-las na Lei de Segurança Nacional - LSN.
Novamente a sociedade civil articulou-se para impedir esta ação e para .demonstrar seu repúdio ao
autoritarismo implantado no país. Depois de muita mobilização e pressão das forças pró-democracia os
13
politicas:
de
um
lado as forças situacionistas e conservadoras, defendidas por EspiridiãoAmin, não
obstante seu discursode
"opção pelos pequenos", e, por outro lado, asforças oposicionistas, representadas por jaison Barreto,
que
aglutinavamo que
haviade
novo
em
temiosde
forças sociais estranhas às oligarquias catarinenses.A
campanha
eleitoralé
acirrada evence
o
candidatodo
PartidoDemocrático Social (PDS), Espiridião
Amin,
com
uma
pequena
diferençana
soma
totaldos
votos ecom
uma
sériede
denúnciasde
fraude eleitoral.A
presença políticade
novos
atores sociais, sejam eles partidos políticosde
oposição,o
forteME
ou
o
crescente
Movimento
Popular, obriga as forças oligárquicas, representadas pelo entãogovemador,
a reconhecer aemergência
dessesnovos
sujeitos sociaisno
cenáriocatarinense e,
em
especial,na Grande
Florianópolis.Nos
interessa,em
particular para este trabalho,um
olhar para essesnovos
atores,uma
vez
que
também
osmoradores
do
Morro
da
Penitenciária,no
inicioda década de
80, játêm
um. processo própriode
organização.A
Grande
Florianópolisse
depara
com
um
inchamento
populacional, principalmente ã partirda
segunda
metade da
década
de
70,que
-resultana fonnação
de
várias favelas.Na
primeirametade da
década
de
80
começam
a ter visibilidade sujeitos sociais antesnunca
vistosnessa realidade.
São comunidades
de
periferiaque
se organizambuscando
melhorianas -condições
de
vida. Esse setor,autodenominado
“Periferia”, era constituidode
12comunidades,
dentre. as quais ado
Morro da
Penitenciária, ligadasao
trabalho dasComunidades
Eclesiais -de Base (CEBS).Defendiam
sua autonomia, frenteaos
.partidospoliticos
e
ao
Estado,e
suaopção
pela construçãodo
processo democrático “a partirdas -bases”.
As
reivindicações pleiteadas por -essemovimento eram
aquelas referentesà
melhores condições
de
vida etambém
em
níveis mais amplos, dentre as quaispodem-
se destacar:
o
direito àocupação
do
solo urbano, a regularização das terras,-
14
No
finalda
primeirametade da
década
de
80
começam
também
a tervisibilidade outros atores -
notadamente
os Conselhos Comunitários, criadosem
1977
atrelados
ao
Estado,e
que
jáhaviam há
algum
tempo
rompido
com
as práticastradicionais.
Em
1985
essesmovimentos
de
bairro (oposição)começam
a
mobilizar-seno
sentidode
redefinirnovas
práticasna
sua relaçãocomo
Estado. Articulam-_se paraacriação
da
Federação «Municipal
de
Associaçõesde
Moradores
eConselhos
Comunitários,
que
mais tarde se constituiuna
União Florianopolitanade
EntidadesComunitárias -
UFECO.
Em
novembro do
mesmo
ano
são realizadas as -primeiras eleiçõesdiretas para prefeitos
de
capitais. Florianópolisnovamente
viveuma
polarização dasforças sociais presentes
na
arena política:de
um
ladotemos o
continuismo politico,presente
na
figurade
Franciscode
Assis Filho; ede
outro a oposição, representada pelo candidatodo
Partidodo Movimento
Democrático» Brasileiro(PMDB) Edson Andrino
(vencedor), apoiado por setores
do
Partidodos
Trabalhadores (PT), entidadescomunitárias
que
jáhaviam
aalgum
tempo
rompido
com
as práticasdos
tradicionaisConselhos Comunitários e
o
chamado Grupo de
Periferias.Na
década
de
80
começam
a
emergirnovos
movimentos
popularescom
novos
itensem
suas pautasde
reivindicação, entre os quaisa
questãodos
meninos
emeninas
de
rua. Esse emergirde
novos
interlocutores populares,pode-se
dizer, ê resultante
da
forte pressão aque
foisubmetida grande
parcela -da .populaçãobrasileira
numa
realidadeque
excluia suagrande
maioriado
acessoao
minimo-necessário à sobrevivência.
Sabemos que o
período -quesucedeu
o
“milagreeconômico”
foide
estagnaçãoda
economia,aumento
das taxasde
desemprego
e
cristalização
da
divida extema,com
as conseqüências sociaisque
ela implica.A
questãodos meninos e meninas
de
ruaganha
expressão nesseperíodo.
Segundo
dados
da
Fundação Nacionaldo
Bem-Estardo
Menor
-FUNABEM,
5 Sobre esta
`
. . 1-5
em
1985
existiamno
Brasil36
milhõesde
crianças e adolescentes carentes.A
questãoda
criança edo
adolescente passa achamar a
atençãode
vários setoresda
sociedadecivil e
do
Estado, tantoem
nível nacionalquanto
estadual. Para ilustraro
que
añrmamos
basta saberque
“jáem
1987
aCampanha
da
Fratemidade aborda a questãotendo
como
tema
'Quem
acolheo menor
amim
acolhe', (...)em
1986
é indicado parao
cargode
Presidenteda
FUNABEM
um
nome
apoiado pelas,Movimentos
Populares epela Conferência Nacional
dos
Bispos -do Brasil -CNBB,
(...)Em
Santa Catarina .foi criadaa
Fundação
Catarinensedo
Bem~Estardo
Menor
-FUCABEM,
objetivando cumprir asdiretrizes
da
Política Nacionaldo
Bem-Estardo Menor" (LAHORGUE,
l990:26). Essasinstituições se justificam por
serem a
expressãoda
responsabilidadedo
Estado peranteaquela questão social,
e
vão
se constituindo historicamenteem
espaçosde
controlesocial
e
em
“depósitode
crianças”, poisnão
se originamna
iniciativa dascomunidades
de
origem
das crianças me adolescentes, e suas práticasnão
consideram as reaisnecessidades
dos
sujeitos envolvidose
a realidadeem
que
estão inseridos.No
âmbitoda
sociedade civil organizadaganha
ênfaseo Movimento
Nacional
de
Meninos e Meninas
de
Rua,que de
certa formadá
as diretrizes parauma
infinidade
de
trabalhos realizadoscom
essegrupo
social..Também
outras propostas se constituemem
altemativas às politicasdo
Estado, isto ê, a sociedade civilassume
para sium
trabalhoque
se colocavacomo
deverdo
poder
público.E nesse contexto que,
no
Morro
da
Penitenciária, esta temática -Criança e Adolescente -
começa
a se constituirnum
item das pautasde
discussãoda
-z
populaçao organizada.
Desde
1983
o
Serviço Social esteve presenteno
processode
organização vivido pela população «doMorro da
Penitenciária.Num
primeiromomento
com
a atuaçãode
estagiârias,que buscavam campos
altemativos aos oferecidosna
época
(basicamente Instituições fomrais). Posteriormentecom
a atuaçãode
uma
16
de
luz pelas criançasque ficavam
em
casa, muitas crianças indo para as ruas pediresmolas,
o
acidente seguidode
morte
de
uma
criança) acelerarama
discussãoda
realidade vivida pelas crianças e adolescentes
e
a necessidade urgentede
realizar-se. /
um
trabalhocom
esse grupo.O
processode
discussãodesencadeou
aformação
de
um
grupo
para refletir a questão ‹e ensejou,em
março de
1988, a criaçãoda
Casa
da
Criança
do
Morro
da
Penitenciária, objetivando ser“um
espaço altemativo,onde
osfilhos
pudessem
ficarenquanto
seus paisiam
trabalhar”6.l
\
6
17
Il -
SU]ElTOS
DO
FAZER
PROFISSIONAL
A Para
um
olhar maisconseqüente
da
atuaçãodo
Serviço Social juntoao
Projeto Casa
da
Criançado Morro da
Penitenciária,é
necessárioa
princípio caracterizaressa
comunidade e
os usuáriosdo
Serviço Social. -O
Morro da
Penitenciáriaé
uma
das áreasde
periferiade
Florianópolis.Situado ao» longo
da
R. ÁlvaroRamos,
no
bairroda
Trindade,tem
seu surgimentodatado
do
finalda
década
de
50,com
um
rápidoinchamento
populacional devido,entre outros fatores, ã inversão
campo
vs cidade, ocorrida principalmentenos
anos 70,conforme
situamosna
primeira parte destetrabalho-Sua
populaçãoé
resultante flo fluxo migratório *oriundodo
PlanaltoSerrano, basicamente
dos municipiosde
Lajese
Campo
Belodo
Sul7.Não
tendo
asmínimas
condiçõesde
sobrevivênciano
campo,
buscam
nas cidades,no
casoFlorianópolis, melhores. ç_cond*i_çç_õ_esçw‹_:l”e_çvida (moradia,
emprego,
serviçosmédico-
hospitalares e educação, entre outras).
-_
Essa população é resultante-
da
miscigenação entre negros, índiose
brancos, conhecida
como
“cabocla”.O
caboclo ou 'brasileiro' (termo queusamos
indistintamente) édistinto
do
pescadordo
litoral ou praieiro.O
caboclotem
origem longinqua. Inicialmente ê filho
ou
lúbrico português-que
se cruzou
oom
índio manso,mas
aindaem
São Paulo, originandodaí o 'mameluco' ou 'curiboca'.
Num
caldeamento sucessivo foiadquirindo caracteristicas fisicas ou psicossociais próprias. (...) ele
já se encontra no planalto catarinense desde o inicio
do
séculoXVlll, de
onde
se espalhou até o estremo oeste, e hoje descetambém
a serrarumo
ao litoral.O
termo 'caboclo',que no
começo
designava o índio eque
depois se estendeu ao próprio7
18 branco - que por viver nos matos e sertões, afeiçoado â caça,
- teve a sua face requeimada pelo sol - é melhor
que
se apliqueao mestiço de
ambos
com
possíveis traços de sangue negro.8Segundo
Lahorgue
(1990: 30) “osmoradores
conservam
muitoselementos
da
cultura serrana,'como
amorosidade
paracom
a familia, honestidade,hospitalidade, valentia e fatalidade (são
desconfiados
mas
muito crédulos ne místicos),possuindo crenças e superstições
como
o
medo
das “coisas feitas”, “quebranto”,“simpatia”, feitiços, sortistas, benzeduras”.
A
compreensão
dessa peculiaridade culturalé significativa
na
medida
em
que
pemiite caracterizar fomias.de
vida, hábitos, valores,crenças, etc..
Ainda
que
decorrentede
uma
históriade
organização popularda
comunidade
do Morro da
Penitenciária de___maisde
15 anos,tendo
conquistadouma
serie
de
serviçoscomo
Creche Estadual,Rede
de
Esgoto,gCapela, Escadaria, Luz,Água
e
Depósitode
Lixo, a Casada
Criançaé
partede
um
conjuntode
.áreasde
periferiade
florianópolis
em
que
a população viveem
dificeis condiçõesde
vida (moradia-,emprego,
infra-estrutura, entre outros). V_
As
condiçõesde
vida. desta populaçãopodem
serconfinnadas
com
osdados
que
abaixo relacionamos, veque configuram
a real-idade sócio~econômica destapopulação. '
Segundo
pesquisa realizada pelo Serviço Socialda
Casada
Criança,em
final
de
1993
«o totalde
moradores
épróximo
de
1.500 pessoas, distribuidasem
330
residências, chegando-se. ar
uma
média de
4,5 pessoas por domicílio,sem
contar que,em
alguns casos,não
raromais
de
uma
famíliadividem
uma mesma
casa,uma
no
porão
e outrana
parte térrea.Deste total
792
pessoasfazem
parteda
populaçãoeconomicamente
ativa,
sendo
que
devido à faltade
qualificação profissional e, baixa escolaridade, entre8
O
'
19 outros fatores,
homens
e
mulheres se obrigam,em
sua maioria (55,5°/o),a
ingressarno
mercado
informalde
trabalho.Os homens
tem
suas atividades voltadas para profissõescomo
pedreiro, servente, carpinteiro e vigianotumo,
e as mulheres trabalhamcomo
domésticas, diaristas e faxineirasg.
Um
dado
importanteque
vamos
percebendo nos
últimosanos
nascomunidades
éque
a característicada
família tradicional constituidade
mãe,
paie
filhos
cada
vez
mais vaisendo
substituída poraquelacomposta
por mulher, filhose
outros parentes (pais, tios, sobrinhos, irmãs), relações- -atualmente conhecidas por
monoparentais,
sendo
que
a presença masculinaé
bastante rotativaou
esporâdica... f- 1
\
Quanto
à *fendamensal
percebida Í 'por- es's*a`
população
economicamente
ativa,~‹varia -' entreO
à .3› salários minimos. Se. relacionarmos estes__ ,'\ - 1 \ '
\
valores salariais
com
os valoresda
cesta básica de.p_erceberemosque o
poder
de
, , _
.z f
› _- ,
compra
desses saláriosé
'bastantepequeno.
' ' 'u
( .
Quanto
a essedado
cabe ressaltarque
o
ProjetoCasa
da
criança incluientre seus Programas específicosaviabilidade de›Gera`ção
de
Renda
paraa população
'. ›V- LL..
.-1 -'z›
da
comunidade.
Esse Programa,em
vias de`1mplantaçao, teve seu lnlclocom
um-Grupo de
Mulheresque
se reúnesemanalmente
para desenvolver trabalhosde
tecidoem
pintura e vidro,que
são vendidos,tendo
o
grupo
um
caixa próprio para utilizaçãoda
receita.Cabe
ressaltarque
essegrupo
incluiem
suas atividades discussõesde
temas
diversos sugeridos pelas mulheres.
O
grupo
está discutindoa
possibilidadede
constituir
uma
cooperativade
doces e
ampliaro
grupo
de
pessoas abrangidas peloPrograma.
Nessa
linhao
ProjetoCasa
da. Criança desenvolve outroPrograma
chamado
'Padaria Comunitárial. EssePrograma
objetiva atender as necessidadesde
pão
das crianças atendidas pelo Projetoe
ainda oferecer ãcomunidade
um
produtode
Sobre esse assunto ver relatório final de Pesquisa Sócio-Econômica realizada pelo Serviço» Social da
Casa da Criança.
9
O
20 qualidade a preço inferior
ao
do
mercado.
Para operacionalizar essePrograma
foiconstruído,
numa
área centraldo
Morro,um
Postode Venda de
Pão e Leite,onde
também
sãovendidos
os produtos produzidos peloPrograma
de
Geraçãode
Renda. VContribui
também,
para constituiro
perfilda
comunidade, conhecer
dados
sobre os atores principaisdo
cenário “Casada
Criançado
Morro da
Penitenciária": as Crianças e Adolescentes.
Conforme
determinao
Estatutoda
Criançae
do
Adolescente,em
seu artigo 29, “considera~se criança, para os efeitos desta Lei, apessoa
atédoze
anosde
idade incompletos,e
adolescente aquela entredoze
e dezoitoanos
de
idade”.-V
Em
pesquisa realizadaem
1993
constatamos. que, dentre 'o totalde
moradores
da
referidacomunidade,
696
são crianças e adolescentes,dos
quais411
fazem
partedo
público potencialdo
Programa
de. Atend_irnentoã
Criançase
. , , .
Adolescentes
do
“Projeto Casada
Criança” - estãona
faixa etária entre06
a
13 anos._ _ _ _ ç V _ _ ›` _ :R . `.› ' _
Percebemos
que
as 'atividades' 'desenvolvidas _ pelo' Projetovem
.¡' ^'! `
\' '\
complementar
várias carênciasque
perpassam
o
cotidiano dessas criançase
adolescentes, entre as quais
podemos
ressaltar:_ .as diñculdadesem
preencher oscritérios exigidos pelo processo formal
de
ensino: a não-priorizaçãode
políticaspúblicas para esta ,faixa etária; a desnutrição; a falta
de
espaço para oz lazer;o
não
privilegiamento
do
lúdico... _` ' A
_
_
fifi
O
Projeto atendeí atualmente70
crianças e adolescentes. Esser
atendimento
sedá
atravésde
diversas atividades desenvolvidas diariamente taiscomo
reforço escolar, atividades .de lazer,
grupos
de
trabalho (teatro,macramê,
sucata),conversa
na
roda e 3 (três) refeições diárias. Este atendimento sedá
de forma
regulare
f' _em
regime
de
semi-internato. ~ ' I _ g ` f- 21
Os
dados acima mencionados
podem
fazer surgira
seguinteindagação:
Se
o
totalde
crianças e adolescentesda comunidade
é 411, porque
somente 70
são atendidos pelo Projeto?Qara
responder a esta indagaçãopodemos
recorrer açvárias questõesque
podem
elucidâ-la.Uma
delas, determinante básicado
limite, éa
carênciade
espaço
físico, que. permite at_eQSl§r_n_q_r¿j)á;§j_mo aIZQ
crianças.Podemos,
porém,
listarinúmeros
outros fatoresque configuram
esta realidade:0
Em
seu inicio,segundo
leiturade
alguns moradores,a Casa
tomou~
se “laboratório
de
marginais”,ou
seja, váriosdos
que
usufruíramdos
serviços prestados pelaCasa passaram
a constituiro que
comumente
sechama
“grupodo
fumo”1°;0 Pelo fato
da
crechenão
dar contade
atender suademanda,
algumas
crianças maiores necessitam cuidar dasmenores
paraque
os pais
possam
ir trabalhar;0 Pelo fato
dos
educadoresserem
preferencialmentedo
Morro, algunsmoradores nao colocam
seus filhosna
Casa,demostrando
subestimar a capacidade
dos
mesmos;
e0
Devido
à situaçãode
carênciaeconômica algumas
criançastomam-
se pedintes,
com
istocomplementando
a renda familiar.1
Para concluir, acreditamos ser oportuno apresentar as pautas
de
reivindicação priorizadas por ela atualmente: Regularização
da
Terra;Manutencão da
Rede
de
Esgotos; Construçãode
97 Módulos
Sanitários; Ônibus; Extensãoda Rede de
Água
a todos os Moradores; Recolhimentodo
Lixo; `eManutenção
do
ProjetoCasa
da
Criança. Estão
em
andamento
a conclusãoda
construçãode módulos
sanitários,o
IO
'Serviço Social junto aos moradores da comunidade.
`
22 término
do
calçamentoda
rua para .passagemdo
ônibuse
o
convênio parapagamento
de
educadores,numa
parceriacom
a Prefeitura Municipal. _Após
esta breve tentativade
situaro
leitorquanto
ao
.perfilda
comunidade do Morro da
Penitenciária tentaremos, a seguir, identificar as viasde
inserçãodo
Serviço Social juntoao
ProjetoCasa
da
Criança.Ou
seja,de
que
forma
sedá
essa aproximação, que. influências a. perpassa e quais os pressupostosque
Ú
23,
O
_. _.
111
v1As
DE 1NsERçAo
Do
sERviço
soc1AL
No
1>Ro]ETo
cAsA
DA
CRIANÇA
AO
Serviço Socialcomeça
sua atuação junto à populaçãodo Morro da
Penitenciária
em
abrilde
1983,quando
um
grupo
de
estagiãriasdo
Cursode
ServiçoSocial
da
Universidade Federalde
Santa Catarina -UFSC
- reflete a possibilidadede
buscar
campos de
estágio altemativos aos oferecidos, que,conforme
aparecenos
depoimentos,
eram
todosem
Instituições bastante conservadoras. `Se, por
um
lado,o
grupo
descartou al possibilidadede
fazer estágioem
Instituições, por outro,haviam
ressalvasquanto
às Instituições eclesiais:“algumas
Instituições
que
a gente consideravaeram
instituiçõesde
Igreja”( WITIUK, 1995). Essaaproximação
com
Instituições eclesiaisê
justificada pela apreciação/ identificaçãoque
o
grupo
do
Serviço Social tinhacom
o
trabalho realizado pela igreja, viaComunidades
Eclesiais
de
Base - CEBs. .Para ser reconhecido
como
campo
de
estágiodo
Cursode
ServiçoSocial,
segundo
determinaçõesda
Coordenadoriade
Estágiodo
Departamento
de
Serviço Social
da
UFSC, teriaque
ser referendadopor
uma
Instituição.Aquele grupo
optou, então, por realizar estágio junto â Paróquia
da
Santíssima Trindade,tendo
como
supervisora a Assistente Social voluntária
da Ação
Social Paroquialda
Trindade.Dentre as estagiãrias
haviam algumas
que
participavamde
grupos
de
jovens ligados à Igreja Católica,que
realizavam trabalhosem
periferiasde
Florianópolis.Um
destes grupos, referenciadonumudos
depoimentos, êo
Grupo
Innão Sol -Grupo
GIS -
da
Paróquiada
Santíssima Trindade,do
qualalgumas
das estagiãrias já1 9
24
'Os integrantes desse
grupo atuavam
nascomunidades
da
Serrinhae
Morro
da
Penitenciária.O
trabalho realizado erafundamentado
pelos princípiosnorteadores das CEBs, e foram estes
também
osque
nortearamo
periodo inicialde
atuação
do
Serviço Socialno
Morro da
Penitenciária.Nos
depoimentos
que
analisamospercebemos
que no
períodode
atuação
do
Serviço Social juntoao
-Projeto Casada
Criançado Morro da
Penitenciáriaaparecem
trêsmenções
às atividades desenvolvidas.Num
primeiromomento, ou
seja,com
o
iniciodo
estágiode
quatroalunas
do
Curso de- Serviço Socialda
UFSC, as atividades desenvolvidas pelo Serviçor .
Social
aparecem
vinculadas aos passosmetodológicos
propostos peloMétodo
de
BeloHorizonte,
conforme
segue:Diagnóstico
com
relaçao aAçao
Social Paroquial da Trindade:o
'
que
ela era, relaçãocom
os capuchinhos,onde
se localizava,que
área abrangia;
Desenhamos
omapa
dorMorro, quantas casas tinha e dividimosem
4
(quatro) setores,onde
cadauma
das estagiârilë atuava;Fizemos os conhecimento da realidade,
começamos
a verquem
era
o
pessoal, quantas famílias tinha, porque
tinham vindo, qualera a realidade-social, ou
que
as mulheres ehomens
faziam, qualera a cultura deles, tentamos resgatar as questões culturais, a
nao perda
de
identidadecom
a- vinda para a cidade.E ai nós
fizemos
um
estudo da comunidadeem
que
a genteusou essa metodologia da Leila,
de
a-proximaçao, verificaçao,conhecimento
da
realidade, elaboramos projetoem
cima disso (WITIUK, 1995zO3).Num
segundo momento, quando
uma
das estagiárias,após
formada,(wa
WM
z‹.‹..;z:,Wer.)assume o
trabalhode
Assistente Socialde
fomra efetiva,com
vinculo empregatíciojunto
ã
Ação
Social Paroquialda
Trindade,percebemos
as pautasde
intervenção,que
ficam
melhor
colocadas pelas palavrasda
Assistente Socialno
depoimento
que
segue: Nesse anode
85,como
Assistente Social contratada eu- participava
das reuniões
do
Conselho Administrativo Paroquial. Edepois
o
Conselho quis que a Assistente Social- atuasse nas duas25
Atuasse junto ao Grupo Apostolado
da
Oração, fazer os enxovaispara as crianças e definisse
quem
da comunidade deveriareceber o rancho alimentar, tanto na Serrinha
como
no
Morroda
Penitenciária., e
também
participassedo
grupode
jovensque
fazia
um
trabalhode
periferia., o Grupo Irmão Sol - GlS(Wfl'lUK, l995:09).Dando
continuidade à sua inserção juntoao
ProjetoCasa
da
Criançao
Serviço Social var redefinrndo
novas
atividades aserem
desenvolvidas. Essasaparecem
explrcrtas
no
Planode Ação do
Serviço Social, elaboradoem
199311, 'tantonos
objetivos,
quanto
no
Cronograma
de
atividades,conforme mostraremos
a seguir:Objetivos Específicosz
1. Analisar e sistematizar dados coletados nas Pesquisas Sócio-
Econômicas realizadas
em
1991 e 1993 nacomunidade
do
Morro
da Penitenciária;2. Estimular a participação ativa das mulheres
no
Projeto Casada Criança, através
do
Grupode
Mulheres da Casada
Criança;3. Propiciar o surgimento de
uma
praticade “PUNXIRÃO”
com
os pais e simpatizantes
do
Projeto para preservação econservação
da
Casada
Criança;4. Estimular a participação dos pais nas reuniões mensais,
vivenciando
uma
práticade
parceria: Casa da Criança + Pais; 5. Mediar as relações Casa da Criança ~ Escola ~ Comunidade;6. Contribuir para
o
preenchimento das vagas existentes a cadasemestre; '
7. Contribuir para
que
a Casa da Criança sejaum
espaçode
defesa e denúncia
de
toda forma de opressão, principalmenteno
que diz respeito às crianças e adolescentes;
8.
Acompanhar
meninos e meninas que eventualmente seencontrem
em
situaçãode
risco, garantindoque o
ECA
sejacumprido integralmente;
9.
Acompanhar
os adolescentes encaminhados as oficinasoferecidas pela -Casa da Liberdade - Projeto Cidadão;
10.
Acompanhar
as reuniões mensais -da equipe da Casada
Criança, debatendo e aperfeiçoando a prática cotidiana
da
Casa,a partir dos objetivos
do
Projeto e;li. Participar
de
reuniões/eventos junto a OrganizaçõesGovemarnentais e Não~Govemamentais-, sempre
que
a» Diretoriada Casa entender
como
importantes.12. Contribuir para
que
o
Projeto Casa da Criança adquiracredibilidade e solidariedade junto aos moradores
do
Morroda
Penitenciária,
bem
como
junto à sociedade civil;H Plano de Açao do
0
26
‹ Cronograma
de
Atividades;0 Observação militante da comunidade
0 Visitas Domiciliares
0
Acompanhar o
Grupode
Mulheres/C.C0 Divulgar a prática da Casa da Criança
0 Reuniões mensais
de
avaliação e planejamento0 Mediar a relação Comunidade, 'Escola e Casa
da
Criança0 Propiciar Cursos
de
Formação P/ Diretoria e- Equipeda
C.C0 Organizar práticas de Punxirão
com
os pais e diretoriaEssa atividades
demonstram,
porum
lado,o
processode
redefiniçãoda
atuaçãodo
Serviço Socialda
Casada
Criança e, por outro, ressaltam as diferençasl
entre sua atuaçãó
na
faseem
que
este esteve vinculado â Paróquiada
Trindade daquela- "
À
em
que
passa a vincular-seao
ProjetoCasa
da
Criança,quando
esterompe
com
aParóquia por divergências
na
direçãoda
lnstituição.Cabe
ressaltarque
desde
o
inicioo
Serviço Social atuoude
forma
ininterrupta junto a essa
comunidade
constituindo, portanto,campo
de
estágiocurricular
de
Serviço Social. Inicialmente (1983-1988)o
Serviço Social esteve vinculadoä Paróquia
da
Trindade e, posteriormente .(1988-1995), ligadoao
“ProjetoCasa
da
Criança
do
Morro
da
Penitenciária",onde
atuou ativamenteno
seu
processode
criação,e
atua ainda,na coordenação
geral..`
_ Essa última observação
merece
destaque, poisnos
parece peculiarque
o
Serviço Social tenhaassumido
acoordenação
geral, 'inclusive administrativa,da
entidade durante
todo
o
períodoque
estavem
atuando. Esse destaque deve-seao
fatode que
são raras as situações, das quaistemos
conhecimento,em
que
vemos
o
profissional
ocupando
cargos,também
administrativos, nas OrganizaçõesNão-
Governamentais
-ONGS.
27
IV ~
PRESSUPOSTOS
E
CARACTERÍSTICAS
DO
SERVIÇO
SOCIAL
NO
PROJETO
CASA
DA
CRIANÇA
A
seguirabordaremos
os pressupostos teórico-metodológicosque
fundamentaram, e
fundamentam, a
atuaçãodo
Serviço Socialdo
Morro
da
2 . .
1 .
bt ,
Penitenciária, mais especificamente
no
ProjetoCasa
da
Criança. Estaabordagem
é
fi'utoda
análise dos;depoimentos
das Assistentes Sociaisque
atuarame atuam
juntoao
Projeto,
e
objetiva situar historicamente a trajetóriado
Serviço Social juntoa
essalnstituiçao.
Constatamos
que o
periodo.de
atuaçãodo
Serviço Social juntoao
Projeto
Casa
da
Criançaconstitui-sede
duas
fases distintas: a Primeira,que
vaide
1983
a
1990, e a Segunda,de
1991 até os dias atuais. Essas fasesvsão identificadasa
partirda
análisedos
depoimentos
das Assistentes Sociais. z_. Pode-se dizer portanto
que
a construção históricado
Serviço Socialno
.Morro
da
Penitenciária éfundamentada
por inúmeros. pressupostos e caracteristicas,que
configuram asduas
fases. Porém,na
suasegunda
fase, alguns jáaparecem
reconceituados,
ou
seja, são incorporadosnovos elementos
que passam
a
fazer partedo
conteúdo dos
conceitos, já refletidos,pensados
e reelaborados.Acreditamos
que
a
análise desses pressupostos nos ajuda a
compreender
o
“como'Iãzer”do
ServiçoSocial junto
ao
Projeto Casada
Criança.`
4.1.
Serviço
Social
Altemativo
'
O
primeiro pressuposto, dentre os váriosque
evidenciamosvnos
depoimentos
de
que
nos utilizamos para esta análise, éo
de
“Serviço Social-A
28
Alternativo”
que
aparecequando
as Assistentes Sociais, ainda estagiârias,buscam
lugares altemativos para fazer estágio
onde
a gente realmentepudesse botar
em
prática aquilo que estava aprendendoem
salade
aula (WÍHUK, 11995).Para enriquecer esse debate sobre
o que
constitui esse “Altemativo”na
atuação profissional recorremos à análisede lamamoto que
nos
dizque
essa idéiade
“Serviço Social Altemativo” perpassa pormuito
tempo
a categoria enos
alerta paraalguns limites deste
entendimento
no
conjuntoda
profissão. -_ z,_ F
A
idéiade
“Serviço Social Altemativo" está vinculada auma
propostado
Centro›«;Latino 'Americano de. Trabalho Social -CELATS
- que, a partirde
váriosdocumentos
edos
dilemasque
afligiam os profissionais, buscava vias ecaminhos
que
permitissema
criaçãode
novos
espaçosde
intervençãodo
Serviço Social. Estapreocupação, surgida
no
finaldos
anos 80, buscava,conforme
escrevelamamoto,
novas
prospecções parao
Serviço Socialnas
sociedades latino~americanas.A
essência dessa propostado CELATS
se centravana
determinaçãodo
campo
popularcomo
área privilegiadado
trabalho profissional. Categoriascomo
popular, povo, organização popular, identidade popular são trabalhadas
no
sentidode
propor_~um projeto “Altemativo” para a sociedade”. '
A
propostado
“Serviço Social Altemativo” apresenta os seguinteslimites,
segundo
lamamoto
“(...)O Serviço Social sópode
se proporcomo
'alternativo'à'
medida que
se constituicomo
partede
uma
altemativa popular para aordem
social
_ _'\
(Celats, 1'988.1:12; grifos nossos);
O
Serviço Social Alternãtivovç partedo
reconhecimento
de que
a
'altemativa'é a
que
levanta o» projeto popularem
relaçãoao
projeto social
que
hojeé
dominante; (...), a profissão setoma
altemativana
medida
em
que
articula, lãcilitae
reforçao
desenvolvimento
desse projeto social organizadoem
tomo
dos
interessesdos
setores popularescomo
convocatóriade
uma
nova
Para melhor compreensão desses pressupostos ver
IAMAMOTO,
1992: 131-158.29
hegemonia
(idem; grifos nossos); e,em
suma,
o que
sepode
qualificarcomo
'altemativo' é
o
projeto popular” (idem; grifos nossos).(lANlAMOTO,
1992:154/5).V
Nesse
sentido a
noção
de
“altemativo”vem
aliadaao
trabalhodo
Assistente Social fora
do
âmbito institucional,na compreensão
de que o
trabalhopopular só poderia ser realizado fora deste âmbito. .Essa
mesma
compreensão
estápresente
no
depoimento
da
Assistente Social conforte evidenciamos acima.Ou
seja, as altemativas parao
Serviço Socialeram
visualizadas nas açõesnão
institucionais..I'I› ' '
4.2.
Negação
do
Espaço
InstitucionalOutro
pressuposto, ligadoao
anterior, e que, nos parecedá o
tom
para a atuação
do
Serviço Socialnuma
abordagem-
comunitáriano
iníciodo
primeiroperíodo (1983/84), é a
negação da
atuaçãodo
Serviço Social junto às lnstituições, porentender
que
Era
uma
épocaem
que
EspiridiãoAmin
era governador e asAssistentes Sociais colocavam para nós que as coisas vinham
de
cima em dizia~se: cumpra-se! E você não podia opinar, dizendo
que não combina
com
a realidade ou que para ter realrepercussao na comunidade
tem
que ser feito assim (WITIUK,1995).
“
-=r,
.` lnstituições, parece~nos,
compreendidas
como
govemamentais.
justificava-se
o
desprezo por elas por julgarque
haveria muita “influênciaem
nívelgovemamental,
em
nivelde
politicasde
govemo”
(WITIUK, 1995)no
trabalhorealizado pelo Serviço Social.. . .
Í v M9*
Esse processo
de
negação
do
espaço institucional' se insereno
H,
contexto
da
discussão feita pela categoria profissionalno
conhecidoMovimento de
Reconceituaçãoque
ocorre entre1960
e 1975.As
análises sobreo
fazer profissionalnas lnstituições
compreendiam
estascomo
blocos monolíticos,onde
as rações30
que
perpassa todas as relações dentroda
sociedade capitalista e, inclusive,nos
espaços institucionais.
Para Faleiros “a principal falha
do Movimento
de
Reconceituação talveztenha
sido ade
superestimar a forçada
crítica,sem
terem
conta as resistênciasao
processo
de mudança
institucional” (FALElROS,l.987:30)..A
recusado
espaço institucionalpode
ser identificadacom
acompreensão da noção
de
Estado originário da. vertente marxiana. Tal perspectiva1
_ .
compreendea
conceituaçãode
Estadode
Marx
e
Engelsdo
ManifestoComunista
que
se refere ã
compreensão
do
Estadoem
sentido “r.estrito",ou
seja,enquanto
comitêrepresentativoí
dos
«interessesda
burguesia.Mais
tardeo
Serviço Social passaa
incorporar a
compreensão
de
que o
Estadonão
érum
bloco monolítico e, portanto,nem mesmo
as Instituições por ele dirigidas. E,é a
partir dessesnovos
pressupostos,que
os profissionaispassam
acompreender
que
of Estado é atravessado pela lutade
classes, -o
mesmo
ocorrendono
espaço
institucional.ç Partindo dessa análise
pode-se
dizerque
a profissão foi parao
-outroextremo,
onde
'o“movimento
buscauma
profunda vinculaçãocom
osmovimentos
sociai§`;¿e as lutas populares” (FAl.ElROS,1987 :30). Esta tendência perpassa toda aprimeira fase
do
Serviço Socialda
Casada
Criança.4.3.
-Experiência
de
Belo
Horizonte
--BH
Na
atuaçãodo
Serviço' Social aparecetambém~
a utilizaçãodo
conhecido
“Método de
Belo Horizonte ~ BH”.Um
-dosdepoimentos
deixabem
claroquando
a Assistente Social dizque
A
gentecomeçou
a discutir com(...) qual seriao método que
nós adotariamos (...) lembro que
o
livroque
nós adotamos parafundamentar
no
começo
(...) foi o livro da Leila Lima Santos,que
erade
aproximações sucessivascom
_a realidade (...) Entãoo
livro tinha
como
caracteristicas sete momentos: ao primeiro era aaproximação l
da
realidade, o segundo era a investigação31
era a aproximação ll, por
que
sempre- a gente retomava _aaproximação, por
que
vocêpësava
uma
fase e tinhauma
novavisão da comunidade, por
que
o diagnósticomudava
(Wfl'lUK,1 995)_
Noutro
depoimento
aparecenovamente
como
referencial:O
que
contou mais paramim
achoque
foio que
nóstrabalhamos
com
a Nazare ( ...) que erauma
das alunasque
participou da experiência de
BH
(...)~ elavem
para Curitiba e fazum
trabalhode
comunidade muito interessante (...) e nós iamospara Curitiba
com
certa freqüência.(...) Então a gente estudava:o
“Mito
do
Método, Faleiros, na primeira edição,o
Bóris AlexisLima, o “Modelo de
BH”
(...) que eram as nossas -referências (...)são as idéias
que
me
referendaram.” (SILVA, 1995)Essas citações
expressam
aaproximação
do
Serviço Socialda
Casa
da
Criança
com
a Experiênciade
BH, e esta referendava toda a práticana
primeira fase.A
Experiência
de
BH
deve
ser entendidacomo
um
marco
.na tentativada
profissãode
explicitar seu projeto
de
ruptura às práticas própriasdo
tradicionalismoe
construir.altemativas profissionais
tendo
como
suporte teórico alguns elementosdo
marxismo,
ainda
que
pela via»estruturalista13.Essa Experiência
é
partedo
processoque
Netto (1991 :I 17) identificacomo.
um
dos marcos
de
intençãode
rupturado
Serviço Socialcom
as matrizes norte-americanas. ,
A
propostade
BH
não
passa,no
entanto,sem
críticas, inclusive para os seus formuladores. estrutura teórico~metodológica dessa propostaé
montada
com
baseem
uma
reflexãomarcadamente
epistemológica inspiradana
teoria leninistado
reflexo ena
relação teoria me práticade
inspiração maoista. .' '
Os momentos
do
método, conforme
ídentificadono depoimento
acima,
segundo
Netto (1991:282) “converte-seno
epistemologismo mais formalista,13