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A oferta de crédito na economia brasileira no pós plano real ( 1995-2004)

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Academic year: 2021

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(1)THIAGO REIS GÓES. A OFERTA DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA PÓS-PLANO REAL (1995-2004). SALVADOR 2005.

(2) THIAGO REIS GÓES. A OFERTA DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA PÓS-PLANO REAL (1995-2004). Versão definitiva da monografia apresentada no curso de graduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito á obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.. Orientador: Prof.Luiz Alberto B. Petitinga. SALVADOR 2005.

(3) Ficha elaborada por Joana Barbosa Guedes CRB5- 707. G598. Góes, Thiago Reis A oferta de crédito na economia brasileira no pós plano real ( 1995-2004) / Thiago Reis Góes. – Salvador: T. R. Góes, 2005. 59 p. tab. Monografia (Graduação em Economia) – UFBA, 2005 Orientador: Prof. Luiz Alberto B. Petitinga 1.Sistema Financeiro 2.Crédito. 3.Setor bancário. Teoria pós-keynesiana. I Título. ________________________________________________________CDD 330.981___.

(4) Folha de aprovação. Thiago Reis Góes. A oferta de crédito na economia brasileira pós-Plano Real (1995-2004) Aprovada em julho de 2005.. Orientador: ___________________________ Prof. Luiz Alberto B. Petitinga Faculdade de Economia da UFBA. _________________________________ Prof. Antônio Plínio Pires de Moura Faculdade de Economia da UFBA. __________________________________ Prof. Dr. Bouzid Izerrrougene Faculdade de Economia da UFBA.

(5) RESUMO. O presente trabalho tem como objetivo analisar a tendência da oferta de crédito na economia brasileira tanto setorialmente quanto por categoria de bancos no período pós-Plano Real (19952004). Para tanto se faz uma discussão teórica sobre o comportamento dos bancos segundo algumas visões do pensamento econômico, sobretudo a visão clássica e a visão pós-keynesiana da firma bancária, e seu efeito sobre a oferta de crédito na economia. Analisam-se também as limitações históricas à oferta de crédito na economia brasileira e a reestruturação do Sistema Financeiro Nacional. Por fim, a luz do referencial teórico pós-keynesiano, busca-se uma explicação para o comportamento da oferta de crédito durante o período analisado.. Palavra – chave: Setor bancário, crédito, sistema financeiro, teoria pós-keynesiana.

(6) LISTA DE FIGURAS. Figura 01 -. Figura 02 –. Operações de crédito do sistema financeiro total: saldos em final de período (1995 a 2004).. 33. Proporção dos saldos das operações de crédito em atraso e em liquidação (jul/1994 a jan/1997).. 34. Figura 03 – Operações de crédito do sistema financeiro como proporção do PIB (1995 a 2004).. 38. Operações de crédito do sistema financeiro - recursos livres: saldo em final de período(1995 a 2004).. 40. Figura 05 –. Taxa média de juros, Selic (jul/96 a dez/2004).. 41. Figura 06 –. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro privado: saldo em final de período (1995 a 2004).. 42. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro privado como proporção do PIB(1995 a 2004).. 43. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro público: saldo em final de período (1995 a 2004).. 44. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro público como proporção do PIB (1995 a 2004).. 45. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro ao setor privado (1995 a 2004).. 46. Operações de crédito concedidas ao setor privado segundo categorias de tomador (1995 a 2004).. 47. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro público e privado ao setor rural: saldo em final de período (1995 a 2004).. 48. Operações de crédito concedidas pelo sistema financeiro privado e público ao setor habitacional: saldo em final de período (1995 a 2004).. 49. Figura 14 -. Crédito como proporção do PIB em dezembro de 2004. 51. Figura 15 -. Evolução da dívida líquida do setor público como proporção do PIB. 60. Figura 04 -. Figura 07 –. Figura 08 –. Figura 09 –. Figura 10 –. Figura 11 –. Figura 12 –. Figura 13 –.

(7) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 –. Estrutura dos ativos do sistema financeiro nacional em % (1995 a 2004) 59. Tabela 2 –. Alavancagem das operações de crédito – razão empréstimos e financiamentos por patrimônio líquido (1995 a 2004). 60.

(8) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO. 2. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A TEORIA DO CRÉDITO BANCÁRIO A TEORIA DA FIRMA BANCÁRIA. 10 15. O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E AS LIMITAÇÕES HISTÓRICAS À OFERTA DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA. 21. 2.2 3. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO VOLUME DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA 4.1 METEODOLOGIA, ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E PERÍODO DE ANÁLISE 4.2 ANÁLISE DA TENDÊNCIA DO CRÉDITO TOTAL DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 4.3 ANALISE DA TENDÊNCIA DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO POR CATEGORIAS DA BANCO E SEGMENTO DE MERCADO 4.3.1 Operações de crédito do Sistema Financeiro público e privado 4.3.2 O crédito Setorial –Participação do setor produtivo privado no crédito total. 7. 4. 5. 5.1. 6. 31 31 32 41 41 46. OS DETERMINANTES DA EVOLUÇÃO RECENTE DO VOLUME DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA: UM ENFOQUE PÓS-KEYNESIANO PREFERÊNCIA DOS BANCOS POR OPERAÇÕES DE TESOURARIA E O CARÁTER CONSERVADOR DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. 52. CONCLUSÕES. 62. REFERÊNCIAS. 65. 51.

(9) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 –. Estrutura dos ativos do sistema financeiro nacional em % (1995 a 2004) 59. Tabela 2 –. Alavancagem das operações de crédito – razão empréstimos e financiamentos por patrimônio líquido (1995 a 2004). 60.

(10) 7 1 INTRODUÇÃO. O crédito é um grande indutor do crescimento econômico. Para que o crescimento econômico seja sustentável é necessário dentre outros aspectos a elevação da relação crédito/PIB o que requer a ampliação da demanda expressa nas várias necessidades de financiamento. É consenso a necessidade de mecanismos eficientes de financiamento à produção e ao consumo para viabilizar o desenvolvimento econômico.. A insuficiência de crédito é um problema que por muito tempo, no Brasil, esteve associado à instabilidade macroeconômica, em especial às taxas de inflação elevadas. Com a estabilidade de preços trazida pelo Plano Real e o estabelecimento de um ambiente econômico mais propício ao planejamento esperava-se que houvesse modificações consideráveis no sistema financeiro brasileiro e, conseqüentemente, um aumento da oferta de crédito, uma vez que com a estabilização da economia todas as instituições deixariam de ganhar com a inflação. Deste modo, os bancos ao perderem a vantagem financeira proporcionada pela inflação teriam que se adaptar a uma nova estratégia operacional para recompor a perda de lucratividade. Para muitos estudiosos, a alternativa seria a elevação da oferta de crédito por parte do setor bancário.. Muitos estudos se preocuparam em constatar se houve, realmente, uma elevação do volume de crédito na economia brasileira após a implantação do Plano Real. Ressaltam-se os estudos de Mendonça de Barros e Almeida Junior (1997) e o de Fernando Puga (1999), dentre outros. Quanto ao primeiro, os autores afirmavam que com a estabilização da economia os bancos perderam sua principal fonte de receita, a receita inflacionária. Para os autores o crédito aumentou com a estabilização, compensando assim, a perda da receita oriunda da alta inflação. No estudo os autores mostram, segundo dados do Banco Central, que durante o primeiro ano após a implantação do real houve um crescimento de 58,7% dos empréstimos totais do sistema financeiro para o setor privado. No estudo de Puga (1999), o mesmo faz uma análise semelhante a de Barros e Almeida Junior no que se refere ao efeito da estabilização da economia sobre o crédito bancário. Para ele, a perda da receita inflacionária foi compensada pelo aumento das.

(11) 8 operações de crédito concedido pelos bancos. O estudo mostra que durante o período de junho de 1994 a junho de 1996 o crescimento do volume de crédito foi de 81%. Ou seja, ambos os estudos evidenciam que na transição para o Real houve aumento na oferta de crédito. Ressalta-se que nesses dois estudos a análise do volume de crédito foi feita em termos nominais.. O objetivo desta monografia é examinar se o crescimento da oferta de crédito, verificado após a implantação do Real se manteve depois de passados dez anos de implementado o Plano Real. Busca-se também, neste trabalho, uma explicação, com base no referencial teórico póskeynesiano, para o comportamento do crédito no período. A análise da evolução do crédito será feita pela ótica da tendência, utilizando séries de tempo a preços constantes de dezembro de 2004. Pretende-se, assim, examinar se os saldos das operações de crédito no período 1995/2004 cresceram mais que a inflação desse período. Analisar-se-á a oferta tanto do crédito setorial quanto a evolução do crédito por categoria de bancos (públicos e privados).. A fim de entender o objetivo proposto, procura-se mostrar nesse trabalho, através do enfoque pós-keynesiano, o comportamento e as estratégias dos bancos, objetivando assim uma melhor compreensão das forças que determinam a demanda e a oferta de crédito.. O estudo foi organizado em seis capítulos, incluindo este. O segundo capítulo aborda a questão teórica com relação à firma bancária e a oferta de crédito. Nesse capítulo é exposta a visão da firma bancária (em algumas escolas do pensamento econômico), a teoria da preferência pela liquidez e o motivo finanças (demanda por crédito) incorporado por Keynes em sua demanda por moeda. No terceiro capítulo são discutidas as limitações históricas à oferta de crédito no Brasil e uma revisão bibliográfica dos principais problemas à expansão do crédito no Brasil. Ainda neste capítulo, se faz uma breve análise da reestruturação recente do Sistema Financeiro Brasileiro. O quarto capítulo procura identificar a tendência da evolução do crédito total e setorial, bem como a evolução do crédito por categoria de bancos durante o período de análise. No quinto capítulo busca-se uma explicação para o comportamento do crédito, no período, com base nas estratégias.

(12) 9 adotadas pelos bancos. No último capítulo são expostas as constatações e as conclusões do trabalho bem como algumas sugestões para possíveis estudos do tema..

(13) 10 2 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A TEORIA DO CRÉDITO BANCÁRIO. Sendo o objetivo do presente estudo analisar a evolução do volume de crédito na economia brasileira durante o período 1995-2004, se faz necessário uma análise teórica das forças que determinam a demanda por crédito bem como o papel dos agentes econômicos que os cedem, especificamente os bancos, visto o papel fundamental que os mesmos desempenham no estabelecimento das condições de financiamento da economia. O capítulo pretende analisar a dinâmica do comportamento dos bancos e seus efeitos sobre a oferta de crédito na economia bem como os determinantes da demanda por saldos bancários.. A incorporação do motivo finanças na teoria da demanda por moeda de Keynes a partir de acirrados debates entre este e os clássicos nos anos 1930 e, conseqüentemente, o papel dado aos bancos, foi de fundamental importância para a ruptura deste com os clássicos.. As instituições financeiras – especialmente os bancos – são consideradas fontes fundamentais de fundos para as empresas e depositárias de “aplicações financeiras” (em vez de poupança) dos agentes econômicos superavitários. São de importância crucial para a ruptura de Keynes com a Teoria dos Fundos de Empréstimos. Esta era uma tentativa de preservar a tradição clássica de explicar os juros como fenômeno real, como prêmio pela “espera”, que igualava as forças da parcimônia (poupança) e da ganância (investimento), embora adaptando essa teoria à economia creditícia (COSTA, 1999, p. 241).. Nos anos 1930 observou-se um amplo debate entre Keynes e os Clássicos (dentre eles Ohlin e Robertson) sobre os determinantes da taxa de juros. Para o primeiro a taxa de juros seria determinada no mercado monetário, por intermédio da função de demanda e oferta da moeda. Entretanto, para os Clássicos a taxa de juros seria determinada no mercado de fundos de empréstimos..

(14) 11 A Teoria da Preferência pela Liquidez, de Keynes, apresenta a taxa de juros como sendo determinada pelos estoques demandados e ofertados de ativos líquidos, moeda, ao passo que a Teoria dos Fundos de Empréstimos, defendida pelos Clássicos, apresenta a taxa de juros como sendo determinada pelos fluxos de demanda e oferta dos referidos ativos.. Como destaca Oreiro (1999) o que estava em jogo no debate em consideração não era em qual mercado a taxa de juros é determinada, e muito menos na dicotomia fluxo e estoques, mas sim o papel que a produtividade do capital e a propensão a poupar tinham sobre a taxa de juros. Na verdade o ponto importante da discussão entre Keynes e os clássicos era a definição do mecanismo de transmissão das variações da produtividade do capital e da propensão a poupar sobre a taxa de juros.. Keynes (1998) defendia que a produtividade do capital e a propensão a poupar só teriam influência indireta sobre a taxa de juros. Flutuações daquelas variáveis afetariam, inicialmente, a renda e o emprego e só assim poderiam afetar as taxas de juros. Entretanto os clássicos afirmavam que tais variáveis afetam a taxa de juros de forma direta, pois as mesmas são determinantes do investimento e da poupança.. Na visão clássica a poupança seria a fonte de financiamento, ou seja, o financiamento do investimento pressupunha poupança prévia. No entanto, como destaca Studart (1999, p. 155) “tal tradição foi muito criticada por Keynes não só na Teoria Geral, como em escritos posteriores. Ele apresenta uma visão diametralmente oposta à teoria convencional, com base no circuito financiamento-investimento-poupança-funding”. Keynes (1988) argumenta que a taxa de juros é determinada independente da poupança e do investimento. Para o mesmo, a taxa de juros é determinada pela preferência da liquidez e pela oferta de moeda..

(15) 12 Em sua teoria Keynes afirma que os indivíduos só estão dispostos a reterem ativos ilíquidos se lhes forem oferecidos uma recompensa (taxa de juros) pela renúncia à posse da moeda (ativo de máxima liquidez). Para ele, os motivos pelos quais os indivíduos demandam ativos líquidos são os seguintes; motivo transação (para efetivarem seu consumo), motivo precaução (devido a incertezas) e o motivo especulação (objetivando realizar lucros com os diferenciais da taxa de juros).. Segundo Keynes (1988) a demanda por moeda para atender aos motivos transação e precaução é função direta do nível de renda, no entanto a demanda por moeda para atender o motivo especulação seria uma função inversa da taxa de juros. Ressalta-se que Keynes considera que a oferta de moeda é exógena, ou seja, está sob controle das autoridades monetárias. Assim a função da taxa de juros é compatibilizar a demanda por moeda a sua oferta, que é dada. É importante ressaltar que em sua teoria, Keynes supõe a separação entre as decisões de consumo-poupança e a composição de portifólio.. No capitulo 13 da Teoria Geral, Keynes faz uma distinção entre a decisão de consumopoupança e a decisão de composição de portifólio. A primeira seria governada pela propensão a consumir, ou seja, o conjunto de fatores objetivos e subjetivos que determinam a parcela da renda corrente que os indivíduos alocam para o gasto com bem de consumo. A Segunda seria governada pela preferência pela liquidez, isto é, pelo desejo dos indivíduos em manter a sua riqueza sob a forma de ativos líquidos (KEYNES apud OREIRO, 1999, p. 228).. Partindo desse pressuposto, Keynes afirmava que a única forma pela qual a produtividade do capital e a propensão a poupar afetariam a taxa de juros seria através do impacto sobre o nível de renda e emprego, ou seja, de forma indireta.. Contrapondo à teoria de Keynes os Clássicos argumentavam que a produtividade do capital e a propensão a poupar seriam fatores que determinariam a oferta e a demanda por fundos de empréstimos, visto que as decisões de poupança e investimento seriam determinadas por tais variáveis..

(16) 13 Para os Clássicos, Keynes não admitia a existência de um mecanismo direto pelo qual a produtividade do capital e da propensão a poupar poderia influenciar a taxa de juros por não ter levado em conta as relações existentes entre as decisões de poupar e investir. Na verdade os economistas clássicos tentaram demonstrar que o mecanismo indireto de Keynes só seria válido num contexto em que não houvesse nenhuma relação entre os planos de compra e venda de ativos e os planos de poupança e investimento.. A partir deste debate, Keynes incorporou o motivo finanças na sua teoria de demanda por moeda (demanda por moeda para financiamento) “contudo, ele aceita que a análise apresentada na Teoria Geral era incompleta. Isto porque ela nada dizia a respeito da forma como os empresários financiam a compra de bens de capital”. (OREIRO, 1999, p. 236).. O motivo finance foi apresentado por Keynes como a demanda por liquidez necessária para concretização do investimento, isto é, que sugere entre a decisão de investir e a sua efetivação. Portanto, é a condição monetária anterior (em antecipação) para a realização do gasto discricionário (distintos dos gastos rotineiros) planejado que representa uma demanda adicional por saldos “inativos” (COSTA, 1999, p.243). Ao introduzir o motivo finanças, Keynes afirmava que quando o empresário decidisse investir em capital fixo poderia causar uma pressão temporária na demanda por moeda causada pela necessidade por parte dos empresários de obterem recursos antes da realização dos gastos com investimento. Entretanto, apesar da incorporação do motivo finanças de demanda por moeda, nem a produtividade do capital nem a propensão a poupar seriam determinantes da taxa de juros, apesar da relação direta destas variáveis com o investimento. Na verdade tal fato só iria ocorrer segundo Keynes, se o investimento estivesse aumentando ao longo do tempo.. Ele (Keynes) afirma que a pressão adicional sobre a demanda por moeda devido às necessidades impostas pelo motivo finanças pode produzir um aumento da taxa de juros. Entretanto, diz ele, isto só irá ocorrer no caso em que o investimento estiver aumentando ao longo do tempo. Em estado estacionário, o finance que é exigido pelos planos correntes de investimento é fornecido pelo finance que foi liberado pela realização dos gastos de investimento planejado no período anterior. (OREIRO, 1999, p.237).

(17) 14 A demanda por moeda para o motivo finanças se justificava pela retenção temporária de moeda tendo em vista algumas despesas discricionárias, como o investimento em bens de capital. Chick (1993, p.219) trata o investimento em bens de capital como sendo não financiado pela renda corrente, são gastos não rotineiros e vultuosos (gastos excessivos) apresentando características do motivo finanças.. Como destaca Costa (1999, p.243) “os fundos para atender o motivo finanças estariam num fundo rotativo do sistema bancário que, segundo Keynes, recompor-se-ia à medida que os gastos com investimento fossem realizados. Está ai a noção de que investimento ex-post origina-se de finanças para investimento ex-ante”.. A teoria keynesiana contraria a teoria clássica no sentido em que o investimento independe da poupança prévia, visto a capacidade do sistema financeiro em ofertar crédito No motivo finanças, Keynes reforça sua idéia de que o investimento independe de poupança prévia; na realidade, implica uma demanda adicional por liquidez que pode ser suprida com a expansão da oferta de moeda creditícia. Portanto, o nível de investimento efetivo vai depender da disposição do sistema bancário em sancioná-lo, criando crédito (COSTA, 1999, p.242).. O motivo finanças da demanda por moeda de Keynes reforça a importância da atividade bancária que segundo o mesmo afeta o nível dos investimentos e do crescimento econômico. Ou seja, os agentes econômicos requerem aquisição prévia de moeda seja para motivos transacionais, de precaução e para realização dos gastos planejados de investimento.. Ao introduzir o motivo finanças na sua teoria sobre o demanda por moeda, Keynes confere aos bancos um poder de influência extremamente relevante, contrapondo assim, à visão clássica da firma bancária, propondo dessa forma, a teoria do circuito monetário. Conforme define Studart (1999, p. 152) “com base no circuito financiamento-investimento-poupança-funding, o papel do.

(18) 15 sistema financeiro é mais complexo e essencial do que o de simples intermediador entre investidores e poupadores”.. Keynes, ao empregar o conceito de fundo rotativo para designar o finance, reconhece o poder de influência dos bancos no processo de controle de financiamento, dado a capacidade dos mesmos de controlar a oferta de moeda através do controle da liquidez via suas decisões referentes aos refinanciamentos. Keynes empregou o termo fundo rotativo para designar a liquidez que, sem interrupção, as empresas despejam sobre o mercado de bens e serviços e recuperam no mercado de crédito. Deve-se advertir que, mesmo se esses fundos rotativos parecerem funcionar de uma forma regular e automática, dependem sempre da vontade dos bancos em renovar os empréstimos. (COSTA, 1999, p.240).. 2.2 A TEORIA DA FIRMA BANCÁRIA. Na visão clássica de intermediação financeira os bancos ao criarem moeda estão apenas intermediando a transferência de recursos das unidades superavitárias para as unidades deficitárias. Na síntese clássica o comportamento dos bancos não afeta as condições de financiamento da economia. O papel dos mesmos, segundo tal corrente, é prover serviços de pagamentos. Tal visão é explicada devido ao fato do investimento depender de uma poupança prévia, sendo os bancos meros intermediadores.. Conforme Studart (1999, p.153) “a teoria dos fundos emprestáveis também estabelece a visão convencional sobre o papel do sistema financeiro, qual seja, intermediação de poupanças”. De.

(19) 16 acordo com a concepção “clássica” de intermediação financeira, os bancos, ao criarem moeda, estão apenas intermediando a transferência de recursos (poupanças) das unidades superavitárias para unidades deficitárias. Deste modo, as firmas bancárias são meros intermediários neutros na transferência de recursos reais na economia.. A teoria ortodoxa da firma bancária considera que o problema decisório fundamental enfrentado pelo banco consiste na escolha entre o conjunto de ativos ilíquidos e rentáveis ou ativos líquidos e menos rentáveis, como os ativos defensivos.. Para os pós-keynesianos, a teoria ortodoxa da firma bancária é um arcabouço teórico insatisfatório para a análise do comportamento dos bancos porque, por um lado, desconsidera o fato de que os diferentes ativos possuem diferentes graus de liquidez. Dessa forma, o problema decisório do banco não pode ser apresentado como simplesmente uma escolha entre ativos líquidos e ilíquidos, mas entre graus de liquidez associados aos diversos ativos que o banco pode manter em carteira (OREIRO, 2005 p.102 apud Carvalho). Contrapondo a visão clássica, para Keynes, os bancos agem de forma ativa gerenciando seus ativos bancários tentando conciliar a busca pelo lucro e sua preferência pela liquidez (por exercer sua atividade num ambiente de incerteza). Os bancos, ao tomarem suas decisões com relação a composição de seu portifólio, levam em consideração sua preferência pela liquidez justamente por suas atividades serem de caráter especulativo, necessitando assim, um certo grau de proteção.. Tal como no capítulo 17 da Teoria Geral, pode-se expressar a preferência pela liquidez de um banco numa cesta especifica de ativos escolhidos por ele, de acordo com os diferentes graus de liquidez associados aos vários ativos ao seu alcance. Neste sentido, Keynes (1971, 2, p.67), no Treatise on Money, já havia assinalado que o problema dos bancos, no que se refere ao gerenciamento bancário no lado do ativo, dizia respeito à composição do portifólio de aplicações (PAULA, 1999, p.176)..

(20) 17 No que se refere às estratégias bancárias para escolha dos seus portifólios, os bancos buscam conciliar dois objetivos antagônicos, rentabilidade e liquidez. Segundo Paula (1999, p. 177) a tentativa de conciliar estes dois objetivos “resulta a expansão ou a contração da oferta de moeda, uma vez que esta é criada quando os bancos compram ativos financiados pela emissão de uma obrigação particular destas instituições – depósitos à vista”.. A percepção dos bancos quanto ao ambiente econômico influencia diretamente a oferta de crédito na economia. Fato explicado pela forma de como tais agentes irão formar seu portifólio de ativos, seja preferindo a liquidez ou a rentabilidade. Quando as expectativas dos bancos são otimistas, os mesmos compõem seus ativos buscando uma maior rentabilidade (como os empréstimos de mais longo termo) em detrimento aos ativos mais líquidos, consequentemente de menor risco. Entretanto quando as expectativas dos bancos não são as mais favoráveis eles buscam na composição de seus ativos uma maior segurança (como os títulos do governo) expressando sua preferência pela liquidez. Tal atitude faz diminuir a oferta de crédito na economia. Como destaca Studart (1999, p. 157):. A visão de Keynes sobre o papel do sistema de crédito (como agente central no financiamento do investimento) na Teoria Geral tem suas raízes no Tratado (...). No Tratado, ele mostra como a evolução do sistema monetário transforma os bancos, de simples cofres privados e intermediários de poupança, em principais supridores de meios de pagamentos, capazes de criar crédito independente de depósitos prévios.. Na abordagem pós-keynesiana da firma bancária o enfoque será dado com base na teoria de Hyman Minsky. Segundo o mesmo, as firmas bancárias montam seus portifólios de modo a conciliar lucratividade com sua preferência pela liquidez (assim como a visão keynesiana). Ressalta-se que a partir da composição do portifólio cria-se o crédito e os depósitos bancários afetando diretamente na oferta de crédito na economia..

(21) 18 Para Minsky (1986) os bancos são agentes ativos, administram os dois lados do balanço patrimonial (tanto os ativos quanto os passivos) buscando maximizar seus lucros. Dessa forma, o comportamento da firma bancária implica nas condições de financiamento da economia. Minsky parte do ponto que:. Antes do início dos anos 60 os bancos procuravam aumentar a lucratividade gerenciando o portifólio de aplicações (ativo bancário) – por exemplo, substituindo empréstimos por aplicações em títulos de dívida pública, ou vice-versa – depois de meados de 1960, eles passaram a almejar lucros buscando efetuar alterações na estrutura das obrigações (passivos) e aumentando a razão de alavancagem. (MINSKY apud PAULA, 1999, p.179). Os bancos não tomam seus passivos como dados, eles agem do lado das obrigações. Essa capacidade de atuar ativamente no lado dos passivos implica que os fundos que financiam seus ativos sejam condicionados pelo seu próprio comportamento. Dessa forma, com vista a aumentar suas aplicações, os bancos passam a se utilizar ativamente de técnicas de administração do passivo podendo, inclusive, aumentar o volume de recursos captados junto ao público e direcionar a composição de seus passivos visando uma maior rentabilidade.. Portanto, mais que receber de forma passiva os recursos de acordo com as escolhas realizadas pelo público, os bancos procuram interferir nessas escolhas das mais diferenciadas formas, promovendo alterações nas obrigações para que possam aproveitar-se de possíveis oportunidades de lucro (PAULA,1997, p.179).. As formas como os bancos modernos agem a fim de administrar o perfil de suas obrigações são diversas, vão desde manipulação das taxas de juro de depósitos até a indução do direcionamento do público para o tipo de obrigação que deseja (via publicidade, oferecimento de prêmios, etc) como também, introduzem novas técnicas de captação de recursos (as inovações financeiras). Devido a capacidade dos bancos de exercerem forte influência sobre o montante e o perfil dos.

(22) 19 recursos por eles captados, os mesmos possuem a capacidade de atender uma expansão na demanda por crédito.. Dado o caráter ativo dos bancos na administração de seus passivos, a oferta de crédito bancário é uma resposta à demanda por financiamento. Aquela não é totalmente controlada e estabelecida pela autoridade monetária.. As técnicas de administração de passivos e a possibilidade de introdução de inovações financeiras – como, por exemplo, a criação de novas obrigações financeiras sob forma de quase-moedas – podem conferir ao sistema bancário a capacidade de contornar as restrições impostas pelas autoridades monetárias sobre a disponibilidade de reservas por força de uma política monetária restritiva, permitindo que os bancos tornem-se mais responsivos à demanda por crédito do público (PAULA, 1999, p.180).. Em síntese, a atividade bancária é um negócio dinâmico e inovativo de fazer lucro. Banqueiros procuram ativamente construir suas fortunas ajustando seus ativos e obrigações, o que significa, em suas linhas de negócio, tirar vantagem das oportunidades de lucro que lhes são oferecidas. Este ativismo do banqueiro afeta não somente o volume e a distribuição do financiamento, mas também o comportamento cíclico dos preços, da renda e do emprego (MINSKY, 1986, apud PAULA, 1999, p.171).. De fato, os bancos modernos, são agentes econômicos ativos e inovadores que inseridos na lógica capitalista visam lucros focando tanto suas aplicações quanto a administração de suas obrigações para atender este fim. As estratégias dos bancos, que possuem preferência pela liquidez, podem não responder a demanda dos outros agentes econômicos por crédito, justamente porque eles são capazes de direcionar suas aplicações para os ativos que lhes proporcionem maior retorno aliado a sua preferência pela liquidez. Os bancos são capazes de racionar crédito, isto é, a.

(23) 20 disponibilidade de adiantamentos na economia está subordinada às estratégias adotadas por esses agentes financeiros..

(24) 21 3 O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E AS LIMITAÇÕES HISTÓRICAS À OFERTA DE CRÉDITO A ECONOMIA BRASILEIRA. Examinar o comportamento do crédito requer analisar as limitações históricas à oferta de crédito bem como as transformações recentes do sistema financeiro nacional, visto que essas transformações afetaram tanto as estratégias quanto a estrutura do setor bancário brasileiro. Assim, o objetivo deste capítulo é apresentar uma resenha seletiva do sistema financeiro brasileiro, descrevendo suas principais características, analisando as tendências recentes da transformação de sua estrutura, bem como as limitações históricas da oferta de crédito na economia brasileira.. Desde a primeira metade da década dos 60 diversas reformas trataram de aperfeiçoar as instituições do mercado financeiro a fim de torná-las mais forte permitindo um melhor desempenho das suas funções, dentre elas possibilitar um maior fluxo de crédito para os agentes econômicos. Por outro lado, o desenvolvimento da própria economia, e em particular a presença constante da inflação no cenário econômico, levou o sistema financeiro a se adaptar às oportunidades lucrativas que apareceram, acumulando um bom número de distorções no processo de intermediação financeira.. O problema da oferta de crédito na economia brasileira, sobretudo o crédito de longo prazo, o funding, se manifesta com a aceleração da industrialização brasileira nos anos 30 que só foi permitido, a princípio, pela transferência de recursos do setor cafeeiro para o setor industrial, visto que o capital privado nacional era frágil, a capacidade financeira do Estado era baixa e não existia um sistema financeiro capaz de financiar o setor industrial que emergia.. No governo de Juscelino Kubitschek tornou-se evidente a promoção do desenvolvimento industrial pelo Estado, sendo este peça chave para viabilização dos investimentos. Observou-se,.

(25) 22 até então, a importância do estado desenvolvimentista para o processo de industrialização em detrimento ao sistema financeiro brasileiro que se mostrava incapaz de prover recursos financeiros, pois o sistema financeiro privado nacional não era efetivo, necessitava da criação de mecanismos institucionais capazes de captar os recursos reais e financeiros.. É comum analisar que o problema do financiamento da expansão da capacidade produtiva da economia brasileira, no período do pós-guerra, se devia a baixa taxa de poupança interna o que, conseqüentemente, forçava a economia brasileira a recorrer à poupança externa. No entanto, para Tavares (1977), o problema principal do financiamento na economia brasileira não estava nesta visão estática. A mesma considerava que em uma economia em franca expansão, como a brasileira na época, não se aproveitava da poupança interna que crescia continuamente, isto é reflexo das restrições de natureza institucional, herdada do modelo primário-exportador.. Voltando ao financiamento do ponto de vista interno e admitindo um potencial de poupanças em expansão, coloca-se, de imediato, o problema de uma adequada estrutura financeira. Esta deveria ser capaz não só de suprir a atividade real com um montante global de poupança efetiva satisfatória, como também permitir as transferências intersetoriais requeridas pelo processo de desenvolvimento. Para isso ter-se-ia que forjar instrumentos financeiros que possuíssem os padrões de liquidez exigidos pela demanda de recursos financeiros por parte das empresas e as garantias de rentabilidade e segurança exigidas para ampliar e diversificar a oferta de poupanças no mercado financeiro, além de criar canais institucionais capazes de orientar os fluxos financeiros para os setores que se pretendesse desenvolver. (TAVARES, 1997, p. 129).. Ressalta-se que no pós-guerra intensificou-se o ritmo de urbanização e industrialização o que implicou num acelerado processo de mudança da estrutura produtiva brasileira, levando os vários setores a competirem por recursos financeiros. Dada a inexistência de instrumentos e mecanismos institucionais capazes de transferir os recursos intersetoriais, a inflação apresentou-se como mecanismo de transferência destes recursos, ou seja, funcionou como mecanismo de financiamento que possibilitou a acumulação de capital..

(26) 23 A inflação parece ter funcionado, no contexto de desenvolvimento brasileiro, até alguns anos atrás, não só como um mecanismo de poupança forçada (em sentido global), mas principalmente como uma força capaz de dissolver uma certa rigidez da institucionalidade financeira e de proporcionar brechas e canais subterrâneos para transferência intersetorial de recurso. (TAVARES, 1997, p. 131).. Segundo Guerra (1999), durante todo período que precedeu a reforma financeira de 1964, o sistema financeiro manteve-se reduzido, quando comparado a outros setores econômicos. Ele baseava-se, fundamentalmente, nas atividades dos bancos comerciais, que concentravam suas operações no curto prazo, devido à inflação e ao impedimento de se aplicar correção monetária aos títulos de maior prazo, à lei da usura, que proibia juros acima de 12%, e à lei cláusula-ouro, que vedava a possibilidade dos contratos serem expressos em divisas estrangeiras. Os bancos não possuíam dimensão, operavam captando, basicamente, depósitos à vista e as operações ativas, de curto prazo, eram praticamente desconto de duplicatas.. A rentabilidade real negativa dos ativos financeiros devido a alta inflação e a lei da usura implicou na restrição da poupança financeira voluntária, sendo estes inibidores de instrumentos de créditos. Não estavam assegurados, assim, os pré-requisitos mínimos para financiar o investimento via crédito, independentemente da acumulação prévia de poupança.. Até então, o aparato financeiro tradicional, destorcido por anos de inflação crônica em condições de uma taxa de juros máxima de 12%, contava para multiplicar o crédito, basicamente, com a expansão de meios de pagamento e com o aumento de depósitos nos bancos comerciais (TAVARES, 1977, p. 219).. O golpe militar em 1964, que se deu em meio a uma profunda crise econômica (elevadas taxas de inflação), e a posse da nova equipe econômica representou um marco na reestruturação do sistema financeiro brasileiro. A nova equipe econômica afirmava que se fazia necessário a adoção de políticas econômicas firmes e consistentes a fim de estimular a produtividade, a poupança e o investimento. Para os ministros Campos e Bulhões, o desenvolvimento econômico requeria instituições adequadas e políticas econômicas condizentes com a estabilidade, redução.

(27) 24 da inflação. A reforma financeira de 1964-65 era parte integrante e necessária para implantação de um novo modelo de crescimento econômico.. As principais medidas tomadas na reforma monetário-financeira de 64 foram no sentido de possibilitar o controle monetário e os efeitos da inflação sobre o sistema financeiro, visto que em ambiente inflacionário as aplicações financeiras de longo prazo se tornam desprotegidas. Para tanto se instituiu a correção monetária que tornava o valor dos ativos financeiros indexados, assegurando uma remuneração real a seus proprietários.. A reforma financeira-monetária de 1964-65 obteve êxito em alguns dos seus objetivos, principalmente, no que diz respeito ao desenvolvimento do setor financeiro brasileiro, permitindo maior agilidade do financiamento (intermediação entre os agentes), embora o mesmo tendo caráter de curto prazo. “No tocante ao financiamento de médio e longo prazo, orientado para as atividades produtivas, a reforma não conseguiu estimular a criação de instituições e instrumentos privados de suporte à formação de capital das empresas” (GUERRA, 1999, p.89).. Guerra (1999) define bem os resultados da reforma financeira durante o período (1964 – 1980), destacando a falta de oferta de crédito, sobretudo de longo prazo. Conforme o mesmo:. Em síntese, não obstante a nova estrutura do sistema financeiro-monetário ter ampliado a intermediação financeira ao longo do período (1964 – 1980), o financiamento de longo prazo continuou a ser sua grande lacuna. Foram os empréstimos externos e o de origem pública que viabilizaram, de forma destacada, a formação de capital fixo no Brasil (GUERRA, 1999, p.95). A conjuntura econômica do início dos anos 80 foi marcada pela crise financeira do estado brasileiro e pelo sepultamento do modelo de substituição de importações. A fragilidade financeira do setor público, decorrente dos desequilíbrios financeiros (gastos governamentais excessivos), dos desequilíbrios nos balanços de pagamentos e da crise da dívida (transformação da dívida.

(28) 25 externa em dívida pública interna), esgotou o padrão de financiamento no qual o Estado estava no centro do desenvolvimento. A partir daí, cessaram os recursos externos e aumentou a fragilidade financeira do setor público.. A crise financeira dos anos 1980 deu início a um processo de ajustamento financeiro das empresas (na maioria de grande porte) que não operavam na área financeira. Essas empresas buscaram, a priori, enxugar o endividamento e passaram a priorizar o autofinanciamento por meio de elevação dos seus mark-ups. Tal artifício era possível graças a estrutura de monopólio dessas empresas atrelado a um contexto inflacionário. Esse processo de reestruturação das empresas não financeiras desajustou o setor bancário, pois houve uma permuta de situação das empresas não financeiras de devedora líquida para credoras líquidas do setor financeiro.. A crise econômica da primeira metade dos anos 80 produziu o aparente paradoxo de haver, simultaneamente, grande instabilidade e maiores lucros. Como visto, o grande capital privado aumentou a margem bruta de lucro, com aumento inflacionário dos markups, e fez sua reestruturação patrimonial de devedor para credor. A fonte de lucro extraordinária para o sistema bancário foi justamente a alta inflação, que possibilitou a alta arbitragem entre diferenciais de taxas (spread inflacionário), especialmente, entre a taxa de aplicação com correção monetária e o “custo zero” da captação de saldos disponíveis. As rendas e os lucros financeiros, com aplicação dos float em títulos da dívida pública com taxas de juros reais positivos, ultrapassaram, largamente, as receitas com operações de crédito. No Brasil tornou-se inexpressiva a intermediação financeira convencional: captação de recursos – concessão de empréstimos. (COSTA, 1999, p.289).. A conjuntura econômica dos anos 1980 influenciou o comportamento do setor bancário. Segundo Guerra (1999, p.106) o comportamento do sistema bancário ao longo da década de 80 foi fortemente condicionado pela conjugação dos três seguintes fatores, a saber:. A retração nas operações de crédito, devido ao risco crescente associado ao cenário recessivo e ao aumento da inadimplência; a queda na demanda por crédito por parte dos principais agentes econômicos privados, pois as grandes empresas fugiram do endividamento bancário e os altos ganhos auferidos no jogo da especulação financeira, alimentada pela alta rentabilidade dos títulos lançados pelo governo federal, estaduais e até municipais [a chamada ciranda financeira]..

(29) 26 A Resolução 1524/88, do Bacen, transformou a estrutura do setor bancário brasileiro ao eliminar o documento necessário para abertura de novas agências, a carta patente. Tal resolução permitiu a criação dos chamados bancos múltiplos. Na verdade se desfez a especialização da reforma de 64/65 que criava os grandes conglomerados financeiros, transformando-os em uma única empresa.. O movimento de desintermediação financeira, que no Brasil ganhou força na década de 1990, proporcionou o surgimento de novos agentes financeiros e a possibilidade de novos instrumentos de captação de recursos dentre às quais se destacam as securities (como bônus, títulos e notas). Com o desenvolvimento do mercado de securites, o crédito bancário ficou cada vez mais posto em segundo plano. O desenvolvimento desse mercado secundário de títulos foi responsável pela formação de um novo padrão de financiamento internacional, caracterizado por maior liquidez, menores custos operacionais, e embasado em capitais de curto prazo.. O alto giro da dívida pública, verificado a partir da segunda metade da década de 1980, mudou as estratégias dos bancos no Brasil. A opção estratégica dos bancos pelas posições de tesouraria, que se acentuaram nos anos 1990 com a desregulamentação financeira, impactou negativamente no crédito direcionado ao setor produtivo.. Nos períodos de alta inflação e desequilíbrios macroeconômicos (anos 1980 e início dos anos 1990) as receitas inflacionárias se constituíam como a principal fonte de receita dos bancos. O objetivo dos bancos era maximizar as captações de depósitos e aplicações, para tanto, necessitavam de um grande número de agência.. A implantação do Plano Real implicou profundas mudanças no Sistema Financeiro Brasileiro. O ambiente de estabilização conquistado a partir do Plano Real provocou alterações substanciais tanto nas estratégias quanto na estrutura do setor bancário brasileiro. Mudanças estas, causadas pela perda da principal fonte de receita do setor bancário no período inflacionário. Para Barros.

(30) 27 (1997, p.3) “os ganhos inflacionários eram propiciados pela perda do valor real dos depósitos à vista e/ou pela correção dos depósitos bancários em valores abaixo da inflação”.. A perda desta importante fonte de receita impôs a necessidade do sistema financeiro brasileiro se adequar ao novo ambiente, buscando novas formas de financiamento de suas atividades como, por exemplo, crescimento dos serviços de intermediação financeira, administração de portfólio, custódia e emissão de títulos, custódia de ações, etc.. O novo ambiente de estabilização macroeconômica não seria condizente com a dimensão que o sistema bancário havia alcançado, fruto de vários anos de inflação alta e desequilíbrios macroeconômicos. Esses anos levaram à constituição de um número elevado de instituições financeiras que, para se beneficiar das receitas inflacionária, faziam uso de um número elevado de agências para captação de depósitos e aplicações, com custos elevados. Diante do quadro de estabilidade macroeconômica, o sistema financeiro brasileiro teve de passar por profundas modificações, sendo redimensionado além de reorientado para novas formas de financiamento de suas atividades. (BARROS; JÚNIOR, 1997, p. 5).. No primeiro momento após a estabilização a principal fonte de receita que os bancos buscaram foi a expansão das operações de crédito. Alguns estudos sobre o tema comprovam a elevação das operações de crédito logo após a implantação do Real é o caso, por exemplo, dos trabalhos de Puga (1999) e de Mendonça de Barros e Almeida Jr. (1997). O crescimento das operações de crédito, no entanto, ocorreu sem uma análise de risco mais rigorosa por parte dos bancos, não houve uma maior seletividade por parte dos credores. O resultado do crescimento indiscriminado do crédito foi o aumento da inadimplência e, conseqüentemente, maior vulnerabilidade do sistema financeiro brasileiro, que naquela época, 1995, poderia apresentar sérios problemas para a estabilidade econômica conquistada com o Plano Real. Ressalta-se que um fator de agravamento da crise foi o rigor da política monetária após a crise do México, centrado no aperto da liquidez e no contingenciamento do crédito bancário..

(31) 28 A perda da receita inflacionária e o aumento da inadimplência provocaram problemas de liquidez em alguns grandes e médios bancos, a exemplo, o Banco Econômico, o Nacional e o Bamerindus, sendo necessário, neste contexto, a intervenção do Banco Central. A fim de evitar uma crise bancária sistêmica o Governo Federal participou de forma direta, através de várias medidas preventivas voltadas à reestruturação e ao fortalecimento do sistema financeiro nacional.. Além das medidas institucionais se fez necessário mudanças na legislação a fim de permitir ao Banco Central agir de forma preventiva quando os bancos não estivessem cumprindo as normas exigidas ou estivessem com sérios problemas financeiros. O processo de reestruturação do Sistema Financeiro Brasileiro envolveu um amplo processo de fusões, liquidações e intervenções por parte do Banco Central além de transferências de controle acionário.. Dentre as principais medidas adotas pelo Bacen a fim de reestruturar o Sistema Financeiro Brasileiro (SFB) destaca-se o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional). A operação de salvamento do setor bancário brasileiro ocorreu por meio de subsídios fiscais, e incentivos creditícios do Proer.. O Proer teve como objetivo facilitar a reorganização administrativa, operacional e societária de instituições bancárias, incluindo a transferência de controle acionário, mediante a compra e incorporação de instituições com dificuldade de liquidez, por intermédio de concessão de crédito subsidiado e certas vantagens fiscais (HILLBRECHT, 1999, p.110).. No âmbito do movimento de reestruturação do setor bancário nacional intensificou-se, no Brasil, seguindo a tendência mundial, o processo de desregulamentação e liberalização financeira. Segundo Vasconcelos, Strachman e Fucidji (2003, p. 104) tais fenômenos desencadearam forças que impulsionaram um acentuado processo de consolidação do setor de serviços financeiros, via uma série de negócios de aquisições e fusões, envolvendo tanto empresas bancárias nacionais como de países diferentes. Desde então, vários bancos estrangeiros entram no Brasil..

(32) 29 A motivação dos bancos estrangeiros em entrar no país foi, principalmente, o spread creditício e os elevados custos operacionais dos bancos brasileiros que davam aos bancos estrangeiros uma vantagem competitiva.. Entretanto os argumentos favoráveis à liberalização e desregulamentação do setor bancário nacional da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (SPE-MF), da época, eram de que os bancos estrangeiros ampliariam o leque e a qualidade de oferta de produtos financeiros e, desta maneira, aumentariam a eficiência de todo o sistema bancário. Em suma, o argumento favorável à entrada de bancos estrangeiros no país seria o aumento da eficiência do sistema bancário e a possibilidade da elevação da oferta de crédito na economia.. As medidas governamentais, tais como as privatizações de bancos públicos com problemas de solvência e a abertura do setor ao capital estrangeiro, tinham como objetivo estimular a reestruturação do sistema bancário brasileiro, intensificar a busca por economias de escala e poder de mercado ocasionando, como descrito anteriormente, um amplo processo de fusões e aquisições, impactaram profundamente a estrutura concorrencial do setor.. Observou-se, nos últimos anos, uma evolução da concentração bancária no Brasil. Ressalta-se que esta tendência à concentração vai justamente de encontro ao argumento da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, da época, que tinha como objetivo a busca pelo aumento da concorrência no setor. Os bancos no Brasil são pouco competitivos e funcionam em uma estrutura de mercado oligopólica em que poucas instituições controlam o mercado.. O processo de reajuste do sistema bancário a fim de garantir uma maior solidez ao mesmo, provocou um processo de desnacionalização do setor e o aumento da concentração bancária, permitindo, assim, que as instituições financeiras cobrem altos spreads nas operações de crédito tornando-as custosas..

(33) 30 Constata-se nesse período, fim dos anos 1980 e na década de 1990, uma acentuada alteração do comportamento bancário que passou a financiar o endividamento público (devido o alto giro da dívida pública). Farhi (2003) destaca que tal fato ocorreu primeiro em função do contingenciamento de crédito interno, mas que foi mantida depois por opção estratégica reforçada pelas incertezas macroeconômicas.. Agravando ainda mais a situação da oferta de crédito na economia brasileira, a redução por parte dos bancos do crédito às empresas não foi acompanhada pelo crescimento dos mercados de capitais a fim de permitirem que os investimentos fossem financiados por colocação de títulos de dívida privada (securitização) ou por lançamento de ações.. Em síntese, os problemas históricos relacionados à oferta de crédito na economia brasileira resultaram, primeiramente, da falta de um arcabouço institucional que propiciasse a intermediação financeira. Posteriormente, uma vez “solucionado” a questão institucional, o problema da oferta de crédito se deslocou para as estratégias adotadas pelo sistema financeiro nacional que reduziram a oferta de créditos para as empresas e passaram a privilegiar as posições de tesouraria, em função do processo inflacionário e da “ciranda financeira”.. É importante observar que na década de 1980 e 1990 houve uma desarticulação do sistema financeiro com o sistema produtivo, fato justificado pela nova lógica do setor bancário, sobretudo o brasileiro, de atuar no curto prazo em detrimento do financiamento de longo prazo. Na década de 1990, a integração aos fluxos financeiros internacionais privados desorganizou ainda mais o sistema de financiamento doméstico, ao invés de assegurar o desenvolvimento de fontes de financiamento de médio e longo prazo, destinadas à acumulação produtiva (TAVARES, BELLUZZO apud FARHI, 2003, p.41)..

(34) 31 4 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO VOLUME DE CRÉDITO NA ECONOMIA BRASILEIRA. A análise do crédito foi realizada em três seções. Na primeira, indicam-se as fontes dos dados, o período de análise, a sistemática adotada para deflacionar os dados assim como a metodologia empregada para explicar a análise da tendência das operações de crédito. Na segunda seção analisa-se o comportamento do crédito total ofertado pelo sistema financeiro nacional. Na última seção será abordada a oferta de crédito por categorias de bancos: públicos e privados, e a análise do crédito setorial, especialmente ao setor industrial, agrícola, de serviços, às pessoas físicas e ao setor habitacional.. 4.1 METEODOLOGIA, ORGANIZAÇÃO DOS DADOS E PERÍODO DE ANÁLISE. Sendo o objetivo do trabalho analisar a trajetória temporal do volume de crédito ofertado pelo sistema financeiro, tanto setorialmente quanto por categorias de bancos, pós-Plano Real, faz-se necessário descrever a metodologia adotada para tal análise.. Na discussão da trajetória das operações de crédito durante o período de 1995/2004 utilizou-se os saldos consolidados das operações de crédito, concedido pelo Sistema Financeiro Nacional, em final de período, expressos em valores de dezembro de 2004 Os dados foram extraídos do Banco Central do Brasil (2005).. Para verificar a tendência dos saldos das operações de crédito, seus valores foram expressos em termos constantes de dezembro de 2004 a fim de eliminar o efeito da inflação. Para tanto utilizou-.

(35) 32 se o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), cuja base é outubro de 1994, como deflator, cuja fonte foi o IPEA DATA.. A metodologia escolhida para indicar a oferta do crédito é a que mostra a tendência do período. Dessa maneira, evitou-se medir o crescimento pela variação do crédito entre dois pontos, ou seja, em duas datas, em que o crédito pode estar ou não com comportamento normal. Identifica-se a tendência mediante gráficos que mostram a evolução do crédito total e setorial (indústria, agricultura, comércio e pessoas físicas) no período de 1995 a 2004, concedidos pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN).. 4.2 ANÁLISE DA TENDÊNCIA DO CRÉDITO TOTAL DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. O comportamento do crédito total, em valores reais, está representado na Figura 01. Tal comportamento contradiz o argumento utilizado de que em um ambiente econômico mais estável (estabilidade monetária), associado à abertura do setor ao capital estrangeiro, as operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) tenderiam a aumentar. Observamos, entretanto, através da tendência do crédito ofertado pelo SFN, explicitado na figura 01, que não houve a mudança esperada no padrão de crescimento do crédito..

(36) 33 700. R$ bilhões. 600 500 400 300 200 100 jan/04. jan/03. jan/02. jan/01. jan/00. jan/99. jan/98. jan/97. jan/96. jan/95. 0. Operações de crédito do sistema financeiro total Linear (Operações de crédito do sistema financeiro total). Figura 01 - Operações de crédito do sistema financeiro total: saldos em final de período (1995 a 2004). Fonte: Banco Central do Brasil. Analisar a trajetória dos saldos das operações de crédito concedidos pelo Sistema Financeiro Nacional requer uma simultânea análise concomitante da conjuntura econômica do período. Esse requerimento se faz necessário porque os bancos, ao atuarem em um ambiente de incertezas nãoprobabilísticas, conformam suas aplicações baseados nas suas expectativas em relação ao ambiente econômico. Assim, o comportamento das operações de crédito é fortemente influenciado por acontecimentos de caráter conjuntural.. No período imediato do pós-Plano Real observou-se uma elevação nos saldos das operações de crédito. Esse fato foi justificado pelo direcionamento das aplicações ativas das firmas bancárias para os empréstimos, visto a perda da receita inflacionária. Entretanto esse aumento na concessão de crédito não foi acompanhado de uma avaliação de risco mais profunda, desencadeando assim, a crise bancária de 1995/1996. A Figura 02 mostra a evolução da proporção dos saldos das operações de crédito em atraso e em liquidação em relação ao crédito total durante o período de julho de 1994 a janeiro de 1997. O comportamento ascendente da referida proporção evidencia o problema enfrentado pelos bancos causado pela elevação dos empréstimos sem as devidas avaliações de risco..

(37) 34. 20 15. %. 10 5. ju l/9 se 4 t/9 no 4 v/ 9 ja 4 n/ m 95 ar /9 m 5 ai /9 5 ju l/9 se 5 t/9 no 5 v/ 9 ja 5 n/ m 96 ar /9 m 6 ai /9 6 ju l/9 se 6 t/9 no 6 v/ 9 ja 6 n/ 97. 0. Proporção dos saldos das operações de crédito em atraso e em liquidação em relação ao crédito total Linear (Proporção dos saldos das operações de crédito em atraso e em liquidação em relação ao crédito total). Figura 02 – Proporção dos saldos das operações de crédito em atraso e em liquidação em relação ao crédito total (jul/1994 a jan/1997)1. Fonte: Banco Central. A crise refletiu nas operações de crédito a partir do segundo semestre de 1995 quando os bancos passaram a adotar uma postura mais conservadora, sendo mais prudentes na concessão de novos créditos. A trajetória decrescente se reverteu em 1996, permanecendo estável nesse ano. A crise bancária impediu a tendência crescente das operações de crédito. Ressalta-se que os efeitos de crise mexicana sobre a economia brasileira provocaram um aperto na política monetária afetando o volume das operações de crédito, a partir de março de 1995.. O processo de ajustamento e a maior confiança no sistema bancário verificada a partir do primeiro semestre de 1997 justificaram o comportamento crescente das operações de crédito. Contudo, no quarto trimestre, do referido ano, a crise financeira do sudeste asiático e os desdobramentos de seus efeitos causaram incertezas quanto à estabilidade econômica dos países emergentes.. 1. A Resolução nº2.682 de 21/12/1999 promoveu a revisão dos procedimentos para classificação das operações de crédito e regras para constituição de provisão para créditos e liquidação duvidosa. É importante estabelecer que com a mudança na metodologia de apuração não é possível manter compatibilidade com a série anterior..

(38) 35 O agravamento das tensões no mercado financeiro levou o Banco Central a apertar a política monetária elevando a taxa de juros. Deste modo, ambiente de incertezas e elevação das taxas de juros, retrairam à oferta de crédito na economia brasileira.. A contração da oferta de crédito no último trimestre de 1997 foi reforçada pela retração dos saldos das operações de crédito do sistema financeiro público, dado o esforço do governo federal em reduzir o déficit público restringindo a oferta de crédito aos estados e municípios. Esse procedimento se enquadra basicamente no processo de renegociação da dívida bancária do governo dos estados e municípios. Nesse ano houve uma retração de 32,5%,em valores nominais, das operações de crédito ao setor público em conseqüência da liquidação de parte da dívida bancária dos estados e municípios por meio de securitização. É importante destacar a Resolução nº 2.443 de 14/11/97 do Conselho Monetário Nacional (CMN) que limitava os saldos das operações de crédito por Antecipação de Receita Orçamentária.. O recrudenciamento da crise nos países asiáticos e a reversão da tendência de alta das taxas de juros deram início ao movimento de recuperação da atividade econômica no primeiro semestre de 1998, após a queda verificada em novembro e dezembro do ano precedente. O ambiente favorável foi responsável pela estabilidade das operações de crédito verificadas nos primeiros meses daquele ano.. A partir do segundo semestre de 1998, com a crise russa, as expectativas de ajustes quanto a possíveis aumentos na taxa de juros para fazer frente ao quadro de deterioração do cenário internacional levou a um posicionamento defensivo por parte dos agentes econômicos e os bancos continuaram a manter a mesma postura conservadora observada ao longo do ano sendo mais seletivos na concessão de novos empréstimos.. No período a elevação da taxa básica de juros não foi suficiente para assegurar o prêmio de risco esperado, ante a escalada das incertezas, combinada com o regime de câmbio fixo. Nestas.

(39) 36 circunstâncias, O Banco Central, para manter a taxa de câmbio, frente a fuga de capitais, teve que efetuar grandes compras de reais, implicando em esterilização monetária.. No ano de 1999 o sistema financeiro manteve a postura conservadora em suas operações ativas, por meio da seletividade do crédito e da preferência por operações de tesouraria. Esse comportamento que já vinha de períodos anteriores, foi reforçado pela mudança do regime cambial e pelas variações na trajetória das taxas de juros. Assim sendo, observou-se um declínio do volume de concessão de créditos.. È importante ressaltar que nesse ano foram adotadas algumas medidas visando à redução de custo de intermediação financeira e à ampliação da oferta de crédito. Nesse sentido, devem ser destacadas as reduções nos recolhimentos compulsórios por meio de circulares do Banco Central2. Ainda dentro do contexto de estímulo às operações de crédito foi criada, por intermédio da Medida Provisória nº1.925 de 14/10/1999, a Cédula de Crédito Bancário. Trata-se de um título de crédito emitido por pessoa física ou jurídica em favor de instituições financeiras ofertantes do crédito representando promessa de pagamento em dinheiro. Destacou-se também, a criação da sociedade de crédito ao microempreendedor por meio da resolução nº2.627 de 03/08/1999.. No ano de 2000 observou-se uma trajetória crescente dos saldos das operações de crédito que se estendeu até o primeiro quadrimestre de 2001. Tal fato é explicado pela política creditícia direcionada no sentido de ampliar a disponibilidade de recursos para o tomador final3, a redução das taxas de juros e pela recuperação do setor real da economia expresso em um crescimento do PIB de 4,2%.. 2. Circular nº 2.927 de 8/09/1999 reduziu a alíquota de recolhimento compulsório sobre depósitos à vista de 75% para 65% e a Circular nº 2.939 de 14/10/1999 que tornou nula a alíquota de recolhimento compulsório em títulos exigidos sobre os recursos a prazo..

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