AULA DE
DIREITO CONSTITUCIONAL I
Profª Lúcia Luz Meyer
atualizado em 02.2010PONTO 02 – CONSTITUIÇÃO
Roteiro de Aula (10 fls)
SUMÁRIO:
2.1. Conceito. 2.2. Classificação.
2.3. Objeto e conteúdo. 2.3.1. Objeto. 2.3.2. Conteúdo.
2.4. Elementos. 2.5. Supremacia da Constituição.
A palavra Constituição abrange toda uma gradação de significados,
desde o mais amplo, possível – a Constituição em sentido etimológico, ou seja,
relativo ao modo de ser das coisas, sua essência e qualidades distintivas – até este
outro em que a expressão se delimita pelo adjetivo que a qualifica, a saber,
a Constituição política, isto é, a Constituição do Estado, objeto aqui de exame.
(
PAULO BONAVIDES
, Curso de Direito Constitucional,
14ª ed, São Paulo: Malheiros, 03-2004, p. 80).
2.1. CONCEITO:
Existem vários significados para a palavra constituição, mas aqui vale a concepção jurídica,
que em termos mais resumidos significa a lei fundamental de um Estado, ou seja, a lei que serve
de fundamento, de base a todas as outras leis e atos normativos, que dela não podem se afastar ou
contra ela se dispor.
MÁRCIO SATURNINO DE OLIVEIRA
, no artigo intitulado ‘Controle de
Constitucionalidade: um breve ensaio’ , à p. 1 ( TEXTO Nº 0017), leciona que:
Numa sociedade, o bem-estar é mantido tendo em vista a observância de alguns fatores de ordem interpessoal, vale dizer, assegurando o convívio dos diversos indivíduos que a compõem. Assegura-se o convívio na medida em que se dá a cada um, ou mesmo a cada classe dessa sociedade, condições iguais de subsistência. O contrato social convencionado pelos homens e que deu início à sociedade foi o marco para a história da humanidade. Foi a partir desse momento histórico que se fez sentir uma elevada disparidade entre as classes sociais. O surgimento da propriedade também agravou sobremaneira essa diferença. Dizia Rousseau que o aparecimento da propriedade foi maléfico, pois instigou nos homens a ganância, a inveja, a luxúria e, por conseguinte, a guerra. Para esse filósofo, o homem no seu estado natural era pacífico e a propriedade é que veio corroer o seu ser . O fato é que, com o surgimento de toda essa desigualdade social, fez-se necessário estruturar e organizar toda a sociedade para que fosse mantida a normalidade e a paz. As revoltas das classes menos abastadas eram inúmeras e a disparidade entre elas e as classes superiores era gritante. Para contornar essa situação, foi que se criou um sistema jurídico que ordenava toda a vida em comunidade. Surgiu a
lei, como ato geral e abstrato, para controlar a conduta de cada indivíduo. Surgiu ainda um
documento político que ordenava toda a vida estatal: a Constituição, cuja meta é regular a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua atuação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Esse documento se sobrepõe a todas as demais legislações e está situado no pico da pirâmide
hierárquica, onde abaixo dela encontram-se de leis ordinárias, leis complementares e decretos a medidas provisórias.
JOSÉ AFONSO DA SILVA
(Curso de Direito Constitucional Positivo, 23ª ed. São
Paulo: Malheiros, 01.2004. p. 39/40) entende que:
A Constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua ação. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado.
Por oportuno, relembra-se aqui que um Estado contitue-se de três elementos básicos:
território + população + governo (soberania). Esses elementos são 'organizados' pelo Texto
Constitucional,
MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO
(Curso de Direito Constitucional, 24ª
ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 11) considera que:
Aplicado ao Estado, o termo ‘Constituição’ em sua acepção geral pode designar a sua organização fundamental total, quer social, quer política, quer jurídica, quer econômica. E na verdade tem ele ido empregado – às vezes – para nomear a integração de todos esses aspectos – a constituição total ou integral (...) Por organização jurídica fundamental, por Constituição em sentido jurídico, entende-se, segundo a lição de Kelsen, o conjunto das normas positivas que regem a produção do direito. Isto significa, mais explicitamente, o conjunto de regras concernentes à forma do Estado, à forma do governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos, aos limites de sua ação.
No magistério de
RODRIGO CÉSAR REBELLO PINHO
(Teoria Geral da
Constituição e Direitos Fundamentais – Sinopses Jurídicas - 17, 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
p. 10):
A Constituição é a lei fundamental do Estado, ao estruturar e delimitar os seus poderes políticos. Dispõe sobre os principais aspectos de sua estrutura. Trata das formas de Estado e de governo, do sistema de governo, do modo de aquisição, exercício e perda do poder político e dos principais postulados da ordem econômica e social. Estabelece os limites de atuação do Estado, ao assegurar respeito aos direitos individuais.
NELSON DE SOUZA SAMPAIO
(O Poder da Reforma Constitucional, Bahia: Livraria
Progresso Editora, 1954, p. 9– grifo original) aduz que:
Aplicado às unidades políticas, e em especial ao Estado, o termo ‘constituição’ possui mais de um significado. Essa multivocidade da palavra dá margem a que se distingam, em primeiro lugar, dois sentidos mais gerais: o sociológico e o jurídico. No primeiro sentido, a constituição significa o modo de ser real ou efetivo de uma entidade política; no segundo, representa certo conjunto de
preceitos jurídicos.
Diz
TERCIO SAMPAIO FERRAZ JÚNIOR
(Introdução ao estudo do direito: técnica,
decisão, dominação, 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 229) que:
Entendemos usualmente por Constituição a lei fundamental de um país, que contém normas respeitantes à organização básica do Estado, ao reconhecimento e à garantia dos direitos fundamentais do ser humano e do cidadão, às formas, aos limites e às competências do exercício do Poder Público (legislar, julgar, governar).
Segundo
MICHEL TEMER
(Elementos de Direito Constitucional, 19ª ed. São Paulo:
Malheiros, 03.2003, p. 17):
Em sentido mais estrito, Constituição significa o ‘corpo’, a ‘estrutura’ de um ser que se convencionou denominar Estado. Por ser nela que podemos localizar as partes componentes do Estado, estamos autorizados a afirmar que somente pelo seu exame é que conheceremos o Estado.
Define
ALEXANDRE DE MORAES
(Constituição do Brasil Interpretada – e legislação
constitucional, São Paulo: Atlas, 2002, p. 83) que:
Constituição, latu sensu, é o ato de constituir, de estabelecer, de firmar; ou ainda o modo pelo qual se constitui uma coisa, um ser vivo, um grupo de pessoas; organização, formação. (...) Juridicamente, porém, Constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Além disso, é a Constituição que individualiza os órgãos competentes para a edição de normas jurídicas, legislativas ou administrativas.
Para
CELSO RIBEIRO BASTOS
(Curso de Direito Constitucional, São Paulo: Celso
Bastos Editora, 2002, p. 73):
A Constituição é um sistema normativo aberto, dinâmico. Ela não é, nem pode ser um documento fechado, estático. Se é próprio da vida social estar em constante mutação, o fenômeno jurídico, que pretende fundamentalmente regular a vida em sociedade, não poderia deixar de sofrer alteração. Mesmo quando ele não tenha condições de se antecipar, ou de propiciar essa evolução, ele não pode deixar de, ao menos, acompanhá-la.
Colocados esses conceitos de diversos doutrinadores, vejamos que uma Constituição pode
ser classificados em três concepções distintas:
a) concepção sociológica: Constituição é, em essência, a soma dos fatores reais do
poder que regem esse país.
O mais expressivo representante dessa concepção sociológica é
Ferdinand
Lassalle
(1946), que sustentou que “a Constituição pode representar o efetivo
poder social ou afastar-se dele; na primeira hipótese ela é legítima; na segunda,
ilegítima, nada mais que uma folha de papel”.
b) concepção política: nessa concepção Constituição é a decisão política
fundamental.
Seu principal representante é
Carl Schmitt
(1957), para quem “a Constituição é a
decisão concreta de conjunto sobre o modo e forma de existência da unidade
política; é tudo fruto da decisão política tomada em certo momento”.
c) concepção jurídica: Constituição, pela concepção jurídica, é a norma hipotética
fundamental, o vértice de todo sistema jurídico.
É representada por
Hans Kelsen
, que entende que “Direito, como outras Ciências
Sociais, pertencem ao mundo de dever-ser, onde as coisas se passam segundo a
vontade racional no homem, diferentemente do mundo das leis naturais (mundo do
ser); a sustentação da Constituição encontra-se no plano jurídico”.
Pode-se classificar as Constituições quanto a oito diferentes aspectos, quais seja, quanto ao
conteúdo, à forma, ao modo de elaboração, à origem, à estabilidade, ao modelo, ao tamanho (ou
extensão) e à dogmática, conforme a seguir apontado:
a) Quanto ao conteúdo:
a.1) materiais (ou substanciais): em sentido amplo, identifica-se com a
organização total do Estado, e em sentido estrito, significa as normas
constitucionais escritas ou costumeiras, vale dizer, inseridas ou não no texto
constitucional; o conteúdo – ou a matéria - é constitucional. Ou seja, uma
norma que trata de matéria constitucional mas que não está inserida no texto
da Constituição.
Ensina
ALEXANDRE DE MORAES
(2002:84 - grifo original) que:
As regras materialmente constitucionais são aquelas que em face de seu conteúdo se destinam a disciplinar a forma de Estado, forma de governo, modo de aquisição e exercício de poder, estruturação dos órgãos de poder, e limites às suas ações.
a.2) formais: referem-se ao próprio documento estabelecido pelo Poder
Constituinte, as normas inseridas no texto escrito e solene; estão no texto
constitucional, mas o conteúdo não é, necessariamente, constitucional. Ou
seja, a norma é formalmente constitucional, pois está na Constituição, mas
não necessariamente se trata de matéria constitucional.
Ainda, diz
ALEXANDRE DE MORAES
(2002:84 - grifo original):
Regras formalmente constitucionais não dizem respeito à matéria constitucional,
não possuem conteúdo constitucionais, porém por constarem no texto da Constituição são consideradas formalmente constitucionais, para atingir-se a seguinte finalidade, como salienta Manoel Gonçalves Ferreira Filho: ‘sublinhar a sua importância’, e ‘fazê-las gozar de estabilidade’.
b) Quanto
à forma
:
b.1) escritas: elaborada e sistematizada num único texto, elaborada por um
órgão constituinte;
b.2) não escritas: as normas não constam de um instrumento único e solene,
baseando-se primordialmente nos costumes, na jurisprudência, em
convenções e textos constitucionais esparsos. Ex. a Constituição Inglesa.
c) Quanto
ao modo de elaboração
:
c.1) dogmáticas: é a escrita, elaborada por um órgão constituinte,
sistematizando os ‘dogmas’ ou em idéias políticas dominantes no momento;
pode estar num único texto (codificada) ou em vários textos (não codificada);
c.2) históricas: ou costumeira, não-escrita, resulta de lenta formação
histórica, baseando-se em costumes, convenções, precedentes jurisprudenciais
e textos esparsos.
d) Quanto à origem:
d.1) promulgadas, ou democráticas, ou populares, ou votadas: originam-se
de um órgão Constituinte composto de representantes do povo; no Brasil, as
Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988;
d.2) outorgadas: imposta pelo governante, ou derivada da concessão do
chefe de Estado, que age como titular do poder constituinte, sem a
participação popular; no Brasil, as de 1824, 1937, 1967 e 1969.
e) Quanto à estabilidade
:
e.1) rígidas: somente alterável mediante processo solene, atendidas as
formalidades exigidas, mais rigorosas. Ex. a CF/88 para sofrer uma Emenda
precisa de maioria de 3/5 (art. 60, § 2º);
e.2) semi-rígidas, ou semiflexíveis: contém uma parte rígida e outra flexível;
vide Constituição Imperial (art. 178);
e.3) flexíveis ou plásticas: modificada pelos mesmos processos da legislação
ordinária.
Vale observarf que isso não significa que existam Constituições ‘imutáveis’.
f) Quanto ao modelo
:
f.1) constituições-garantia: modelo clássico, estrutura, delimita e estabelece
a divisão dos poderes, assegurando os direitos individuais;
f.2) constituições-balanço: modelo soviético, registra e descreve a ordem
política, refletindo a luta de classes, a cada novo estágio, uma nova
Constituição é promulgada;
f.3) constituições-dirigentes: estrutura e delimita o poder, além de inscrever
um plano de evolução política e diretrizes a serem seguidas por esse plano.
Ex.CF/88.
g) Quanto ao tamanho e extensão:
g.1) sintéticas, ou concisas: poucos artigos, dispondo apenas sobre aspectos
fundamentais. Ex. a CF americana, com 34 artigos (7 originários e 27 de
emendas);
g.2) analíticas, ou prolixas: dispõem sobre diversas questões, abrangendo
aspectos que poderiam ser objeto de lei ordinária Ex. CF/88 (com 250 artigos
– afora o de n° 29-A, 103-A, 103-B, 111-A, 130-A, 146-A e 149-A, - + 96
artigos do ADCT - e 62 emendas).
JOSÉ LUIZ QUADROS DE MAGALHÃES
no artigo “A Constituição
Tradicionalmente tem-se dividido as Constituições em sintéticas e analíticas, no que se refere a extensão do texto. Desta forma, texto sintético é aquele que se reduz às normas essenciais de organização e funcionamento do Estado, e ainda a declaração e garantia de alguns direitos fundamentais. Ao contrário, Constituição
analítica é aquela que, além das matérias que nos referimos anteriormente,
desenvolvidas com maior detalhamento que no caso anterior, traz no seu texto regras que poderiam ser deixadas para serem tratadas em normas infraconstitucionais, pois a perspectiva de permanência destas normas, é inferior à da norma tipicamente constitucional, que não pode nunca ser considerada imutável, uma vez que muda através de um processo apenas interpretativo, não passando pelo processo formal de alteração do texto constitucional, por emenda ou revisão, mas que de qualquer forma tem uma expectativa maior de sobrevivência, do que uma norma que desce a um grau de especificidade muito grande, desaconselhando-se a sua inclusão no texto constitucional, principalmente em um texto onde o processo de alteração, seja mais complexo, caracterizando-se uma constituição rígida.
h) Quanto à dogmática:
h.1) ortodoxas, ou simples: uma única ideologia. Ex. soviética;
h.2) ecléticas, ou complexas, ou compromissórias: sofre influência de
ideologias de tendências diferentes. Ex. CF/88.
Assim, a Constituição Federal de 05.10.1988 é formal, escrita, dogmática, democrática,
rígida, dirigente, analítica e eclética.
2.3. OBJETO e CONTEÚDO:
2.3.1. 0bjeto:
No precioso ensinamento de
JOSÉ AFONSO DA SILVA
(2004:44):
As constituições têm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação, assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins sócio-econômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e culturais.
2.3.2. Conteúdo:
Quanto ao conteúdo, este é variável no tempo e no espaço.
Ainda para o mestre
JOSÉ AFONSO DA SILVA
(2004:44/45):
A ampliação do conteúdo da constituição gerou a distinção, já vista, entre constituição em sentido material e constituição em sentido formal. Segundo a doutrina tradicional, as prescrições das constituições, que não se refiram à estrutura do Estado, à organização dos poderes, seu exercício e aos direitos do homem e respectivas garantias, só são constitucionais em virtude da natureza do documento a que aderem; por isso, diz-se que são constitucionais apenas do ponto de vista formal.
Os elementos de uma Constituição podem ser:
a) orgânicos: são as normas que tratam da estrutura do Estado e do poder, sua
organização e funcionamento. Ex. Títulos III, IV – Capítulos I e II, V e VI.
b) elementos limitativos: referem-se às normas que tratam dos limites de atuação do
Estado, consubstanciando o elenco dos direitos e garantais fundamentais,
resguardando direitos da pessoa humana; limitam a ação dos Poderes estatais e dão a
tônica do Estado de Direito. Ex. Título II (exceto Capítulo II).
c) elementos sócio-ideológicos: normas que revelam compromissos com
determinados princípios ideológicos. Ex. Título II, Capítulo II, Títulos VII e VIII.
d) elementos de estabilização constitucional: são as normas que visam garantir a
solução de conflitos constitucionais, de defesa do Estado e das instituições
democráticas. Ex. Título V - Capítulos II e III.
e) elementos formais de aplicabilidade: normas que estatuem regras de aplicação
das constituições, p. ex., o Preâmbulo, o dispositivo das cláusulas de promulgação e
disposições constitucionais transitórias, e o § 1º do art. 5º.
Quanto às espécies normativas pode-se diter que as normas não exercem função idêntica
dentro do texto constitucional; umas mais se aproximam às do direito comum, e outras não
apresentam esse aspecto funcional face ao nível de abstração e indeterminação das circunstâncias
em que devem ser aplicadas. Elas podem ser: regras e princípios.
2.5. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO:
A Constituição é a lei maior de um Estado, contém suas normas fundamentais e todos estão
sujeitos ao seu comando, tanto os governantes quanto os governados. Todos os Poderes estatais são
legítimos apenas na medida em que a Constituição os reconheça, pois é nela que se encontram as
Normas Fundamentais do Estado.
Essa supremacia da Constituição decorre de sua própria origem, vale dizer, de um Poder
Constituinte originário, e de sua característica de rigidez, sobrepondo-se a todas as demais normas
em vigor no país.
É também conhecida ou denominada de: Carta Magna, Lei Maior, Lei Fundamental,
Código Supremo, Lei Máxima, Carta Política, Texto Constitucional, dentre outros.
JOSÉ AFONSO DA SILVA
(20004:47) esclarece que:
Nossa Constituição é rígida. Em conseqüência, é a lei fundamental e suprema do Estado brasileiro. Toda autoridade só nela encontra fundamento e só ela confere poderes e competências governamentais. Nem o governo federal, nem os governos dos Estados, nem os dos Municípios ou do Distrito Federal são soberanos, porque são todos limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivas daquela lei fundamental. Exercem suas atribuições nos termos nela estabelecidos. Por outro lado, todas as normas que integram a ordenação jurídica nacional só serão válidas se se conformarem com as normas da Constituição federal.
LUIZ WANDERLEY DOS SANTOS
, em artigo de sua autoria intitulado “Normas
Constitucionais e seus efeitos’ (TEXTO Nº 0035) diz que:
Com respeito às normas constitucionais é importante definirmos a sua importância dentro do ordenamento jurídico, principalmente a sua superioridade em relação às demais normas. A supremacia da norma se faz necessária para que tenhamos segurança e estabilidade no seio da sociedade, mediante esta superioridade e imutabilidade.
Também
ALEXANDRE DE MORAES
(2002:73) ensina com clareza que:
A existência de escalonamento normativo é pressuposto necessário para a supremacia constitucional, pois, ocupando a Constituição a hierarquia do sistema normativo, é nela que o legislador encontrará a forma de elaboração legislativa e seu conteúdo. Além disso, nas constituições rígidas verifica-se a superioridade da norma magna em relação àquelas produzidas pelo Poder Legislativo, no exercício da função legiferante ordinária. Dessa forma, nelas o fundamento do controle é o de que nenhum ato normativo, que lógica e necessariamente dela decorre, pode contrariá-la, modificá-la ou suprimi-la.
ROBÉRIO NUNES DOS ANJOS FILHO
(Direito Constitucional, 2ª ed, Bahia: Jus
Podium, 2003, pp. 34/35 – grifo original), na mesma esteira, diz que:
Da rigidez, decorre a supremacia constitucional, que coloca a constituição no vértice do sistema jurídico. Assim, todas as normas do ordenamento jurídico só são válidas se não contrariarem a Lei Maior. É o princípio da compatibilidade vertical, pelo qual as normas inferiores só valem se compatíveis com as superiores. A supremacia constitucional, sob o ângulo político-jurídico, compreende dois aspectos diferentes: a supralegalidade de suas regras e a imutabilidade relativa de seus preceitos. Só é possível falar em rigidez e supremacia se houver a previsão de mecanismos de controle de constitucionalidade.
Finalmente, vale também citar
LUÍS CARLOS MARTINS ALVES JÚNIOR
, quando diz
no artigo sobre ‘A supremacia e a rigidez da constituição - O controle de constitucionalidade nas
Constituições de 1891, 1934 e 1946: breve anotação acerca da evolução do processo
constitucional brasileiro’, (TEXTO Nº 0042), que:
Não obstante se tenha dito que o objeto de uma constituição são as condutas humanas possíveis e que repercutam na vida e nas condutas de outros homens, deve-se precisar que no corpo de um texto constitucional estão contidas as normas relativas às condutas que o poder constituinte de uma sociedade política erigiu à categoria de fundamentais para si. Contidas em uma constituição estão as normas que o poder constituinte recolheu da vida social e as timbrou como as mais importantes, as supremas. Por esta razão, alguns aspectos importantes derivam do conceito normativo de constituição: o caráter fundacional e a primazia normativa. Para uma melhor compreensão desses aspectos seguem-se alguns entretrechos extraídos de Gomes Canotilho: "A Constituição é uma lei dotada de características especiais. Tem um brilho autônomo expresso através da forma, do procedimento de criação e da posição hierárquica das suas normas. Estes elementos permitem distingui-la de outros atos com valor legislativo presentes na ordem jurídica. Em primeiro lugar, caracteriza-se pela sua posição hierárquico-normativa superior relativamente às outras normas do ordenamento jurídico. (...) a superioridade hierárquico-normativa apresenta três expressões: (1) as normas constitucionais constituem uma lex superior que recolhe o fundamento de validade em si própria (autoprimazia normativa); (2) as normas da constituição são normas de normas (normae normarum) afirmando-se como fonte de produção jurídica de outras normas (leis, regulamentos, estatutos); (3) a superioridade normativa das normas constitucionais implica o princípio da conformidade de todos os atos dos poderes públicos com a Constituição". Dessa sorte, é dizer que em um ordenamento jurídico as normas constitucionais são as supremas porque não encontram outras que lhes sejam superiores, salvo se elas mesmas assim o disserem (caso de Estados que adotam o princípio da superioridade do direito internacional sobre o nacional). Nessa linha, a constituição é o parâmetro de validade das demais normas jurídicas, na medida em que para terem validade, estas normas devem conformar-se aos ditames das normas constitucionais. Ou seja, todas as normas (dever-ser) produzidas (provimentos legislativos, provimentos administrativos e
provimentos judiciais), autorizadas (atos privados de particulares ou de grupos, etc.) ou reconhecidas (costumes, direito canônico, outros ‘sistemas jurídicos’, etc.) pelo Estado devem se adequar às normas da Constituição, ao dever-ser constitucional. Eis o cânon vital da supremacia da Constituição e, por conseguinte, do próprio sistema jurídico. Por seu turno, a rigidez constitucional existe em face da supremacia axiológica das normas constitucionais em relação às demais normas jurídicas. No plano estritamente jurídico, só se pode falar em supremacia constitucional em vista da rigidez de suas normas. Isto é uma conseqüência da distinção entre o poder constituinte originário dos poderes constituídos ou instituídos. Por rigidez constitucional entenda-se a maior dificuldade para a modificação das normas da Constituição do que para a produção ou alteração das demais normas jurídicas do ordenamento estatal. Em rigor, no mundo dos valores, a Constituição é suprema por conter as normas fundamentais de uma determinada comunidade política; no plano jurídico, a Constituição é suprema porque suas normas são rígidas, requerem um procedimento especial e qualificado para sofrer qualquer modificação.