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Igreja Presbiteriana do Brasil: formação e evolução da rede geográfica potiguar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

RICHERLIDA HELENA TEIXEIRA DA SILVA

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL: FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA REDE GEOGRÁFICA POTIGUAR

NATAL/RN 2018

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RICHERLIDA HELENA TEIXEIRA DA SILVA

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL: FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA REDE GEOGRÁFICA POTIGUAR

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Departamento de Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Edu Silvestre de Albuquerque.

NATAL/RN 2018

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Ao Eterno que me sustenta e que me deu as mulheres mais preciosas da minha vida: Dona Fátima, dona Helena, Gabriela e Maellem.

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AGRADECIMENTOS

Àquele criador de tudo que existe na terra e além dela, dono do tempo e do espaço. Ao poderoso que governa sobre tudo com justiça e poder absoluto, seu território é imensurável, tal como Ele é. Àquele que criou o íntimo do meu ser e o conhece perfeitamente, que me teceu no ventre da minha mãe e até hoje provê tudo que necessito para sobreviver. Ao único Deus, meu amado Salvador. Vendo toda a depravação do meu coração, enquanto ainda estava morta em meus pecados, amou-me com amor que jamais entenderei. A Ele toda a minha gratidão, a Ele toda a glória e louvor. A Ele dedico minha existência, dedico meu curso e à Ele dedico este trabalho. Só o conclui porque fui pega nos braços e recebi consolo e força. Creio, na verdade, que esta foi uma oportunidade preciosa de conhecê-lo ainda mais e de provar de sua grandeza.

Uma das minhas principais "linguagens do amor" é a chamada "Palavras de afirmação" e, por isso, preciso me conter para não tornar meus agradecimentos um capítulo da monografia. Depois que dediquei um parágrafo inteiro de agradecimento a Deus, continuo o fazendo em todo texto. Não se trata de um primeiro lugar que tributo, pois reconheço que está em todos os outros lugares também, de suas mãos provém tudo. Contudo, necessito falar sobre pessoas tão importantes que Ele usou, detalhista como é, para me abençoar neste percurso. Minha mãe, Fátima, é a minha maior incentivadora e, certamente, a pessoa que mais amo em toda a vida. Meu pai, Ricardo, é o homem que me ensinou desde muito nova a importância do estudo, que me deu as broncas e formou consideravelmente meu caráter. Gabriela e Maellem, minhas duas irmãs mais novas, são aquelas que despertaram meu lado materno e que mais me fazem derramar lágrimas em oração para que um dia conheçam o próprio Amor. Ah! Também foram as fornecedoras das melhores massagens quando eu chegava derrubada pela rotina. Helena, minha vó, foi a pessoa que primeiro me apresentou a Cristo e que impediu a minha mãe (Aos 16 anos me colocou no mundo) de me dar danoninhos ao invés de leite. Tios e tias, primos e primas. Muito obrigada a todos vocês, que estão comigo desde o nascimento e que colaboraram para que eu estivesse onde estou, para que eu me tornasse quem sou.

Fazer uma pesquisa com um cunho religioso em uma universidade pública no Brasil é, no mínimo, uma aventura. Encontrar alguém que me orientasse academicamente foi dureza. Este é um motivo que, mais uma vez, leva-me a agradecer imensamente a Deus! O professor Edu foi uma grata surpresa durante minha reta final de curso. Sempre prestativo, flexível e, de fato, interessado em me guiar para que realizasse um bom trabalho. Estendo meus agradecimentos a outros professores que contribuíram direta ou indiretamente em minha formação como geógrafa, especialmente: Professor Edilson, Zuleide, Fransualdo, Maria Pontes, Juliana e Rodrigo. A UFRN me deu bons amigos, parceiros de artigos científicos e nas andanças pelo mundo: Lucas Soares, Matheus Fortunato, Emanoel Wemerson, Pedro Máximo, ao Centro Acadêmico e toda a turma 2015.1 - A Geografia jamais conhecerá um time como o nosso! Uma das melhores experiências vividas nos últimos tempos por mim foi a de lecionar junto à melhor equipe - Aos amigos do Barco Escola Chama-Maré também direciono meu amor e gratidão aqui.

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Aos pastores da Igreja Presbiteriana do Brasil que cooperaram com esta pesquisa, receberam-me em suas igrejas de forma atenciosa, conversaram e me incentivaram - mesmo diante de agendas lotadas e muitas atribuições: Ao meu pastor amado, o Reverendo Diogo Jorge Gonçalo, da Igreja Presbiteriana do Pirangi; Ao Rev. Marcos Tadeu, da Igreja Presbiteriana de Natal; Ao Rev. José Romeu, da Igreja Presbiteriana Memorial; Ao Rev. Marcos Severo, da Igreja Presbiteriana de Mossoró.

O livro de Provérbios fala repetidamente sobre os bons amigos que, nos momentos de angústia, mostram-se como irmãos; que às vezes nos ferem para que possamos continuar a viver e que nos anima quando queremos parar. Tenho experimentado isso como mais uma forma graciosa do Criador de cuidar de mim: Letícia, Nath, Nathércia e Geórgia - Como tem sido bom e intenso crescer com vocês. Larissa, Duda, Thayse - Minhas eternas renovadas, amigas de infância! Marie e Rebeca, com quem tenho dividido a vivência do verdadeiro Discipulado - é um privilégio! Pedro e Cristóvão, minha rede de apoio geográfico. Isaque Guilguer e Mateus, minha rede de apoio da história. Everton, Jamisson, Cleanderson e Daniel Bastos, que exercem TODAS as funções de irmãos mais velhos. Aos amigos das próximas resenhas da vida; aos amados da Assembleia de Deus - Lírio das Serras e setor 16, que me viram crescer e foram também como minha segunda família. Aos meus tão preciosos irmãos da Igreja Presbiteriana do Pirangi: Diego foi meu "guia rápido de consultas presbiteriano" durante os últimos meses; Mariane, a melhor assistente social que o mundo já teve notícias e que me ajudou de tantas formas que nem sei contar; Débora, que confiou a mim seu livro autografado por Franklin Ferreira para que eu tivesse um norte sobre a história da Igreja e à todos os outros queridos que fazem parte da UMP - é muita gente, não dá pra citar todos os nomes. Aos queridos amigos da melhor CRUmunidade: Tem sido maravilhoso viver, junto à vocês, a missão que Deus nos deu também aqui na UFRN - Até que cada estudante conheça alguém que verdadeiramente segue a Cristo.

Encerro aqui, em um misto de alegria infinita e tensão por saber que poderia citar mil nomes importantíssimos para mim e que amo. Eu não mereço nada disso e as palavras jamais serão suficientes para descrever a euforia que sinto agora.

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“Pois todas as coisas foram criadas por Ele, e tudo existe por meio dele e para Ele. Glória a Deus para sempre. Amém!” (Romanos 11:36)

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RESUMO

Este trabalho consiste em uma análise descritiva da formação do território-rede da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) no Rio Grande do Norte, uma das denominações mais antigas no estado. Sua origem remete à Reforma Protestante, no século XVI, estabelecendo assim um tipo de domínio religioso que se desenvolveu em diversas áreas da sociedade. O objetivo deste trabalho é compreender como o território da IPB foi estabelecido no Rio Grande do Norte, desde a fundação da primeira igreja, em 1882, na cidade de Mossoró. Elaboramos cartogramas da distribuição dos templos, seguida da análise da correlação com variáveis demográficas e socioeconômicas. Sabendo que a noção geográfica de território está relacionada ao exercício de algum tipo de poder, o proselitismo da fé protestante se destaca no caso em estudo, razão pela qual também estudamos sua forma de organização interna através de documentos oficiais da igreja. Para que os fins fossem alcançados, utilizamos dados estatísticos dos municípios do estado obtidos junto a órgãos como o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística, e por meio da própria IPB que forneceu as localizações de templos. Entrevistas foram realizadas com lideranças da IPB no RN para esclarecimento sobre pontos importantes da pesquisa, tornando possível uma visualização mais precisa do cenário para o estado.

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ABSTRACT

This paper consists of a descriptive analysis of the formation of the territory of the Presbyterian Church of Brasil (IPD) in Rio Grande do Norte, being one of the most ancient denominations in the State. Its origin goes as far as the Protestant Reformation, in the 16th century, establishing a kind of religious domination that developed in diverse areas of the society. The goal of this paper is to understand how the IPB's territory was established in Rio Grande do Nortem since the foundation of the first church, in 1882, in the city of Mossoró. We draw cartograms of the distribution of the temples, followed by an analysis of the correlation with demographic and socioeconomic variables. Bein aware that the geographic notion of territory is related to the exercise of some kind of power, the proselytism of the evangelical faith stands out in this study, reason why we also study the inner organization of the church through its official documents. In order to fulfill these goals, we use statystical data from the municipalities, obtained from agencies as the Brazilian Institute of Statystical Geography, e from IPB itself, that provided us with location of the temples. We also conducted interviews with the leaders of IPB in the State, to clarify important topics of our research, allowing for a more precise visualization of the scenario for the state.

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LISTA DE SIGLAS

BCW Breve Catecismo de Westminster CE Comissão Executiva

CEPAC Centro Presbiteriano de Apoio à Criança

CGADB Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil CMW Catecismo Maior de Westminster

CNADB Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IPB Igreja Presbiteriana do Brasil

IPN Igreja Presbiteriana de Natal IPP Igreja Presbiteriana do Pirangi IURD Igreja Universal do Reino de Deus JMN Junta de Missões Nacionais PIB Produto Interno Bruto

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPTG Presbitério Potiguar

SAF Sociedade Auxiliadora Feminina SC Supremo Concílio

SPB Sínodo da Paraíba

SPRN Sínodo Paraíba Rio Grande do Norte SRN Sínodo Rio Grande do Norte

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste UMP União da Mocidade Presbiteriana

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LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS Gráfico 01 - Distribuição de fiéis por grupos religiosos no RN - 2010

Gráfico 02 - Distribuição de fiéis por grupos religiosos Pentecostais no RN - 2010

Quadro 01 - Quadro comparativo conceitual entre Território e rede em Rogério Haesbaert (2004)

Figura 01- Organograma de organização interna da Igreja Presbiteriana do Brasil

Figura 02 -Antigo Sínodo Paraíba Rio Grande do Norte da Igreja Presbiteriana do Brasil Figura 03 - Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil em Natal

Figura 04 - Evolução histórica da Igreja Presbiteriana do Brasil no RN

Gráfico 03 - Número de municípios com templos da Igreja Presbiteriana do Brasil no RN 1982/2000

Quadro 02 - Primeiros povoados no RN em 1807

Figura 05 - Carta topográfica das Províncias do RN e Paraíba. J. deVilliers de l’Île d’Adam Quadro 03 - Períodos de criação dos municípios do Rio Grande do Norte

Figura 06 - Presença da IPB nos municípios do Rio Grande do Norte Figura 07 - Mesorregiões do Rio Grande do Norte

Figura 06- Ano de fundação da Igreja Presbiteriana do Brasil nos municípios do Rio Grande do Norte

Figura 07 - Número de implantação de templos da Igreja Presbiteriana do Brasil nos anos no Rio Grande do Norte

Quadro 04 - Anos de Fundação de igrejas em municípios do RN

Figura 08 - Áreas de abrangência dos presbitérios da Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio Grande do Norte

Figura 09 - Relação entre templos da Igreja Presbiteriana do Brasil e IDHM no Rio Grande do Norte

Figura 10 - Graduação para a classificação do Índice de Desenvolvimento Humano Figura 11 - Regiões de Influência do RN (1968)

Quadro 05 - Implantação de templos em municípios de 1945 a 1988

Figura 12 - Relação entre Templos da Igreja Presbiteriana do Brasil e Produto Interno Bruto dos municípios no Rio Grande do Norte

Figura 13 - Relação entre presença de Igrejas Presbiterianas do Brasil e população por município

Quadro 06 - Maiores taxas de crescimento entre municípios do RN

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

1.1 Problemática da Pesquisa 14

1.2 Procedimentos Metodológicos 17

1.3 Referencial teórico 18

2 A FORMAÇÃO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL NO ESTADO 25

3 FORMAÇÃO DA REDE-TERRITÓRIO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL NO ESTADO 30

4 ANÁLISE DE INDICADORES 44 4.1 Índice de Desenvolvimento Humano 44

4.2 Produto Interno Bruto 49

4.3 População 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55

REFERÊNCIAS 58

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1 INTRODUÇÃO

A religiosidade permeia o desenvolvimento da civilização desde os tempos mais remotos por meio da inserção de valores que transpassam a ordem social. É crivo para discernir sobre a moralidade, dá origem às leis civis e ainda atua sobre as transações econômicas e no comportamento dos agentes políticos, direta ou indiretamente. A humanidade carece de algum tipo de espiritualidade e acredita que melhor está quando regida por algum ente superior, sejam deuses, governantes ou ideias. Este correspondente político do plano espiritual pode ser observado não apenas nos Estados Teocráticos, dentro e fora do Ocidente, mas também nos cultos estatais desde a Grécia e Roma Antigas até os Estados Modernos de corte hobbesiano.

Se a fé é inerente ao homem, para quem ou a o que está direcionada a fé, não é algo comum a todos, e nem sua forma de expressão - assim surgem as diferentes religiões e seus segmentos na história. Diversos ramos da ciência têm se debruçado sobre o fenômeno religioso em diferentes perspectivas. A Geografia detém-se nas discussões acerca da identidade e espacialidade do fenômeno religioso através da contribuição de suas principais categorias de análise: Espaço, Território, Paisagem, Região, Lugar.

Pode-se observar que se os eventos relacionados à religiosidade ocorrem em um determinado "tempo", ocorrem necessariamente em um “onde” (ROSENDAHL, 2005). A ideia de que os eventos religiosos ocorrem no espaço geográfico implica no entendimento de que estes são produzidos por diversos agentes, em contextos de cooperação e conflito, considerando as assimetrias das relações de poder. O funcionamento interno de comunidades, seus regimentos, interferem no uso e ocupação do espaço. E, quando esse espaço é observado a partir do poder que um grupo exerce sobre dado lugar, trata-se do estabelecimento de um território (RAFFESTIN, 1993; CLAVAL, 2002).

A religião também envolve diferentes paisagens, como trata Rosendahl (2005). Este autor também considera que a prática social configura um fenômeno de interesse geográfico quando imprime sua marca cultural no espaço. Essas são as “lentes” escolhidas pelos geógrafos que se empenham em compreender o fenômeno religioso. A Geografia Cultural é a vertente que habitualmente estuda as relações entre Geografia e Religião, ainda que não seja a única capaz de fazê-lo. Como afirma Rosendahl (2005), os estudos geográficos objetivam explicar o funcionamento das práticas religiosas, identificar e padronizar seu comportamento espacial. Vê-se que o movimento dado pelas religiões podem ter também uma razão

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instrumental, quando se avalia as capacidades técnicas de cada igreja para apropriarem-se de novos territórios e, assim, modificá-los.

Em suas investigações sobre o “sagrado e profano” os geógrafos ainda remetem à categoria de análise do lugar, pela existência dos simbolismos que manifestam valores e significados àqueles participantes das práticas religiosas. Esse é um avanço da Geografia Cultural em relação ao modelo proposto por Raffestin (1980), quando apenas transpunha as categorias marxistas para estabelecer uma espécie de linguagem econômica do fenômeno religioso, definindo esta como um tipo de “capital religioso” e como um grande mercado.

Sendo assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender a evolução da territorialização em rede da Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio Grande do Norte, em um recorte temporal de 1882 até a atualidade. Para isto, os objetivos específicos envolvem o mapeamento da rede de templos da IPB no estado; a identificação dos possíveis fatores locacionais e populacionais que influenciam a expansão da rede de templos da denominação no estado; e a descrição da estrutura interna da denominação no que for importante à compreensão de suas estratégias espaciais expansivas.

1.1 PROBLEMÁTICA DE PESQUISA

Por muito tempo, o Ocidente foi dominado pela Igreja Católica Romana. Ela ditava cosmovisões e dominava sobre vastas áreas territoriais. Contudo, com a Reforma Protestante e as ideias iluministas, que traziam o homem para o centro das discussões (FERREIRA, 2016), tem-se notado a diminuição de seu poder sobre a intelectualidade e sociedade em geral, consequentemente, o recuo de sua potência. Todavia, o protestantismo também não manteve unidade em suas crenças e políticas internas, ocasionando novos cismas e originando diferentes denominações dentro da religião cristã.

Nas últimas décadas viu-se surgir mais segmentos religiosos decorrentes da proliferação do movimento pentecostal. Conforme Araújo (2018), o entendimento dessas diferenciações religiosas remetem à Teologia e à Antropologia, que estudam mais a fundo os aspectos sociais e bíblicos. Entretanto, não desconsiderando as questões teológicas, a ciência geográfica diferencia tais segmentos a partir da observação das materialidades e imaterialidades particulares das denominações postas nos lugares.

Observando o movimento das denominações religiosas sobre o espaço, nota-se que acontece segundo o desenvolvimento dos locais que estão inseridos. Em sua origem, como afirma Araújo (2018), as igrejas pentecostais atuavam segundo a lógica dos “arquipélagos de

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regiões mercantis”, portanto, um território desarticulado. Então, seus métodos de proliferação de informações se davam por técnicas disponíveis na época que vencessem as barreiras físicas existentes. Para evitar longas viagens em estradas perigosas entre localidades distantes, optava-se por construir locais de cultos em áreas mais centrais e criaram-se zonas de evangelização geridas pelas “igrejas matrizes”. Os dados censitários recentes concernentes a religiões no Brasil mostram a grande multiplicação do número de evangélicos, enquanto a Igreja Católica apresentou certo recuo em número de fiéis. Contudo, no meio evangélico há grande desproporcionalidade, sobretudo nos últimos 30 anos, diante do avanço das vertentes já citadas - Pentecostais e Neopentecostais - em relação às igrejas históricas, primeiras a chegarem ao país:

Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da população evangélica, que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Dos que se declararam evangélicos, 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos demissão e 21,8 %, evangélicos não determinados. (IBGE, 2010, n/d)”1

O IBGE reconhece dois grupos protestantes: os evangélicos “Missionários” e os pentecostais. Os missionários totalizam 59.982 adeptos no Rio Grande do Norte, segundo os dados do Censo 2010. Esta é a primeira edição em que o IBGE faz a contagem segundo diferenciações mais específicas dos protestantes. Incluem-se Presbiterianos, Congregacionais, Batistas, Metodistas, Luteranos e Adventistas.

1Disponível em:

https://censo2010.ibge.gov.br/noticias- censo.html?busca=1&id=3&idnoticia=2170&t=censo-2010-numero-catolicos-cai-aumenta-evangelicos-espiritas-sem-religiao&view=noticia

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Gráfico 01: Distribuição dos fiéis por grupos religiosos no RN - 2010

Fonte: IBGE, Censo demográfico de 2010 Organização: SILVA, R. H., 2018

Em 2010, os Pentecostais figuram em um total de 328.044 adeptos no Rio Grande do Norte, distribuídos entre Comunidade Evangélica, Assembleia de Deus, Deus é Amor, Congregação Cristã no Brasil, Casa da Bênção, Igreja do Evangelho Quadrangular, Maranata, Vida Nova, O Brasil para Cristo, Igreja Universal do Reino de Deus, dentre outras. Contudo, embora oficial, essa não é a única categorização das Igrejas Evangélicas.

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Fonte: IBGE, Censo demográfico de 2010 Organização: SILVA, R. H., 2018

Como mostram os diversos relatos e documentos históricos sobre o protestantismo no Brasil, o presbiterianismo foi uma das primeiras vertentes a implantar suas igrejas no país, junto dos Congregacionais e Batistas2. Localizou-se primeiro nos centros urbanos e expandiu para mais áreas ao longo dos anos, vencendo junto a outras denominações a competição com a Igreja Católica. Porém, apesar de ser uma das mais antigas, não apresenta tanta notoriedade se comparada à linha pentecostal e Neopentecostal.

A Igreja Presbiteriana do Brasil foi fundada em 1859, e é a mais antiga das denominações do presbiterianismo; as outras igrejas são: Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (1903); Igreja Presbiteriana Conservadora (1940); Igreja Presbiteriana Fundamentalista (1956); Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (1975) e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (1978) (IPB, 2018). Contudo, o que ocorre em escala nacional também é visto em escala estadual: Igrejas como Assembleia de Deus, principal expoente Pentecostal e Igreja Universal do Reino de Deus, principal expoente Neopentecostal, possuem maior número de adeptos, maior popularidade e expressividade no Rio Grande do Norte.

A longevidade da Igreja Presbiteriana do Brasil, em uma primeira análise, poderia significar maior poder de influência e abrangência espacial - Como visto, não é o que ocorre. Este é um fenômeno que foge à lógica geralmente vista e pode ser discutido sob a ótica geográfica.

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para representação do território-rede da Igreja Presbiteriana do Brasil no recorte territorial do Rio Grande do Norte, foi realizado levantamento bibliográfico sobre a espacialidade do fenômeno religioso para fundamentar a discussão teórica. Parte dos dados utilizados foram coletados de bancos de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobretudo, informações do Censo de 2010, tendo em vista ser o mais completo quanto as informações necessárias. Sabe-se que o censo brasileiro ocorre a cada dez anos, contudo, a população de fiéis de cada denominação religiosa só aparece em 2010. Junto ao IBGE, foram coletados os seguintes dados: População, Índice de Desenvolvimento

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Todas estas denominações fazem parte do protestantismo histórico, linha reformada influenciada também pelas ideias de João Calvino.

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Humano e Produto Interno Bruto, segundo o Censo 2010 e outras coletas que são feitas periodicamente, para correlação e discussão sobre as possibilidades locacionais. Estes podem ser indicadores importantes para a compreensão de como se configura e funciona no Rio Grande do Norte o território-rede da Igreja Presbiteriana do Brasil. Além das informações já colocadas, os mapas também trazem informações mais detalhadas sobre quantidade de igrejas e congregações em cada município em que a IPB já se instalou. A instituição possui o portal iCalvinus, onde também foram coletadas informações como a localização dos templos no Rio Grande do Norte. Ela ainda contribuiu no fornecimento de fontes históricas, a partir da disponibilização de documentos como atas de relatórios sobre as reuniões do Supremo Concílio a nível nacional, do Sínodo Rio Grande do Norte - a nível estadual - e de Presbitérios - a nível local. Nestas reuniões são discutidos os resultados obtidos pela Igreja Presbiteriana do Brasil, e são traçadas as metas e os procedimentos.

As entrevistas semi-abertas foram direcionadas a clérigos e dirigentes da IPB e estão nos anexos desta monografia. O reverendo Marcos Severo, pastor em Mossoró, e um dos responsáveis pelo avanço da Igreja Presbiteriana do Brasil em direção ao interior do estado, colaborou em especial com nossa pesquisa ao fornecer as datas de fundação e um breve histórico de cada templo no estado, entre outros. As entrevistas com os reverendos Marcos Tadeu, Jose Romeu e Diogo Jorge também trouxeram esclarecimentos importantes ao trabalho, especialmente sobre a história da Igreja Presbiteriana do Brasil em Natal e em Mossoró, sobre a Teologia da denominação e o funcionamento interno; e sobre a questão da IPB como agente político na sociedade, elucidou a organização “externa” das igreja. Obtidas as informações necessárias, foram confeccionados cartogramas a partir da utilização de técnicas de geoprocessamento a fim de melhor compreensão do território-rede da Igreja Presbiteriana. O software livre utilizado foi o Quantum Gis.

1.3 REFERENCIAL TEÓRICO

O espaço geográfico é o produto das interações entre homem e ambiente. Possui dimensões econômicas, sociais, culturais e políticas. Porém, outra categoria geográfica nos auxilia na compreensão da homogeneidade do fenômeno observado nesta pesquisa - o território. Ele já é utilizado em outras áreas da ciência, como na Biologia, para tratar sobre as áreas de vivências dos seres vivos. A diferença aqui está na preocupação com o destino, com a construção do futuro (SANTOS e SILVEIRA, 2001).

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Há discussões sobre uma hierarquização dos conceitos por parte de autores. Santos (1996) os equivale utilizando o conceito de “Território usado”, ao invés de apenas “território”, seria “usado” a partir do acréscimo de ciências e técnicas. Raffestin (1993), por sua vez, assume que o espaço geográfico é anterior ao território.

A produção de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-estradas e rotas aéreas etc. O território, nessa perspectiva, um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a "prisão original'', o território é a prisão que os homens constroem para si. (RAFFESTIN, 1993, p. 2).

Portanto, este é um conceito com múltiplos significados e usos. Emerge, principalmente nas discussões políticas da Geografia, como uma categoria de análise. Entretanto, tem-se visto outras vertentes partindo da perspectiva territorial para a compreensão de seus fenômenos e objetos de estudo, o caso da Geografia Cultural, onde relaciona-se às vivências humanas, implicando em uma “politização do espaço” e sua produção, que projeta interesses econômicos, sociais, culturais e políticos (COSTA, 1992)

Em suma, tem-se o território como projeção de poder em uma área determinada. Seu estabelecimento envolve atores - os que exercem a influência e aqueles influenciados; suas políticas ou crenças - que direcionam suas intenções; as estratégias que utilizam para concretizar seus objetivos; os meios que permitirão isso; os códigos, além do tempo e do espaço em que ocorrerão (RAFFESTIN, 1993). Outros elementos são necessários para manter o controle, que o fazem funcionar sistematicamente, conforme tessituras, nós e redes.

Portanto, para além da discussão de território existe a discussão sobre redes e zonas geográficas. As redes seriam “Um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por certo número de ligações” (CORRÊA, 1997, p. 107 apud ARAÚJO, 2018, p.39), uma infraestrutura que, posta no território, possibilita o transporte de energia, de informação; ligadas em fixos e fluxos, que lhe conferem caráter de mobilidade. Essas próteses territoriais são implantadas em diferentes contextos históricos, algumas permanecem, outras já não existem mais, foram transformados e/ou substituídos.

Sendo assim, o entendimento das mudanças dos limites das áreas de abrangência e dominação de determinado fenômeno, perpassa pela capacidade de determinados atores

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ativarem pontos e linhas ou mesmo de criá-los (SANTOS, 1999). Elas não existem de maneira uniforme em seus traços, na concentração deles nos lugares ou em seus usos, possuem mais de um agente para dirigir, intencionalmente ou não, seu funcionamento. As redes são também cada vez mais globais, pois as técnicas permitem isso a medida que avançam no tempo e no espaço, de forma que não se pode mais compreender totalmente determinado fenômeno considerando apenas um recorte local, esquecendo totalmente o resto. As dinâmicas de uma rede se dão nesses dois âmbitos, e representam o que serve a esse propósito de aumento da fluidez:

“Outro dado indispensável ao entendimento das situações ora vigentes é o estudo do movimento de homens, capitais, produtos, mercadorias, serviços, mensagens, ordens. É também a história da fluidez do território, hoje balizada por um processo de aceleração” (SANTOS, 1996, p. 91).

E para que serve a fluidez? Temos uma “rede social” que se dá em função das pessoas, com mensagens, valores. Ela está no espaço reticulado, aquele cujo está a resposta aos estímulos das produções, seja de forma material ou imaterial. Tal como o território, tal como o espaço, rede é poder. Segundo Taylor e Thrift (1982 apud SANTOS, 1996), ela tem papel importante na construção das estruturas organizacionais. Santos (1996) destaca que as redes são, por vezes, condição para o exercício do poder. Poder em uma rede significa não só a capacidade de gerar determinada coisa, mas colocá-la em movimento, transformar em fluxos. Na atualidade, as informações são transmitidas instantaneamente, de maneira que as coisas se concretizam não mais em um só lugar, na hora em que se considera adequado, tornando mais eficaz e produtivo para aqueles que controlam:

Tanto sua constituição como seu uso exige, todavia, parcelas volumosas de informações que se distribuem segundo métricas diversas. A natureza dessa informação e sua presença desigual entre as pessoas e os lugares tampouco é alheia a esses conteúdos técnico-científicos. (...) A informação [é] como recurso, com áreas de abundância e áreas de carência”. (SANTOS, 1996, p. 93).

Santos (1996) afirma que as redes podem se dar a partir das seguintes situações: da polarização de pontos de atração e difusão, como as ditas “redes urbanas”; numa projeção abstrata, como os paralelos e meridianos do globo ou projeções concretas de ligação, como é o caso das redes hidrográficas. O autor encara a relação de território e rede como algo processual, que está em nossa realidade. Alguns cientistas tendem a separá-los, outros

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identificam suas similaridades e os agrupam criando a noção de “território-rede”, onde cada polo pode articular várias redes. Para Haesbaert (2004), não existe um território sem rede, em “O mito da desterritorialização” ele apresenta um quadro sobre o que seria uma “visão dicotômica” entre estes conceitos:

Quadro 01 - Quadro comparativo conceitual entre Território e Rede em Rogério Haesbaert (2004)

Território Rede

Intrínseco Extrínseca

(Mais introvertido) (Mais extrovertida)

Centrípeto Centrífuga

Áreas, superfícies Pontos (nós) e Linhas

Delimita Rompe limites

(Limites) (Fluxos)

Enraizamento Desenraizamento

Mais estável Mais instável

Espaço areolar Espaço reticular

(“Habitação”) (“Circulação”) (Berque)

Espaço de lugares Espaço de fluxos

Métrica topográfica Métrica topológica, não-euclidiana (J. Levy) Fonte: Adaptado de Haesbaert (2004)

Org.: Silva, R. H., 2018.

Para Haesbaert (2004), cada território, rede ou zona possui uma estratégia espacial que direciona a sua ocupação. O autor define essas estratégias como: zonal, reticular e multiterritorial. Essas estratégias espaciais distinguem-se pelos elementos que incorporam em seus métodos de dominação ou permanência.

Embasando-se também no autor, Araújo (2018) aplica essas definições para a criação de tipologias geográficas a fim de discutir os diferentes momentos de expansão territorial da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil. Percebe-se que não há uma separação bem definida dos diferentes momentos; eles coexistem, porém, em uma maior ênfase em determinada categoria, conforme o período histórico ou recorte territorial.

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Além dos aspectos geográficos, é necessário ainda uma breve apresentação e introdução de conteúdos relevantes para a discussão a ser levantada nesta pesquisa. Originado do judaísmo, o Cristianismo hoje é uma das maiores religiões do mundo. Entretanto, ao longo da história enfrentou diversos problemas em termos de unidade organizacional. Sua primeira grande divisão foi o cisma entre católicos romanos e ortodoxos, ocorrida em 1054. Nova divisão ocorreu em meados do século XVI com a Reforma Protestante, e teve como um de seus principais líderes o monge alemão Martinho Lutero.

Na Reforma encontramos dois principais grupos: os magisteriais, onde houveram relações de apoio entre príncipes, magistrados, conselheiros e reformadores - entre eles luteranos, reformados, anglicanos; e aquela repartição denominada de radicais, com total rejeição da gerência por parte de “seculares” em questões eclesiásticas, representados pelos anabatistas. Seus desdobramentos acarretaram na separação, também no Ocidente, entre a Igreja Católica Apostólica Romana e aqueles que já não comungavam com as mesmas doutrinas e dogmas do catolicismo, como o luteranismo, o calvinismo, o anglicanismo, entre outros. A Reforma Protestante visava trazer uma renovação na doutrina, onde um dos principais termos defendidos era de Justificação pela graça, na ética e na eclesiologia pela Europa Ocidental (FERREIRA, 2013).

O termo “protestante” surge por volta de 1529, quando os príncipes católicos fizeram resoluções para o impedimento da chegada do protestantismo em seus territórios. É impossível falar da história do Brasil sem citar a influência das igrejas cristãs - sobretudo católicas, tanto é que a primeira ação portuguesa no país foi a realização de uma missa dirigida pelo frei Henrique de Coimbra (LYRA, 2013). De certa forma, as ações católicas em terras brasileiras foram uma resposta do Vaticano aos avanços do protestantismo na Europa e no mundo. Já na perspectiva do pensamento criticista, o catolicismo foi retratado como “uma religião transportada por navios de guerra e mosquetes europeus para os nativos vulneráveis da África ou da América do Sul” (LYRA, 2013). Autorizados pela coroa portuguesa, os índios foram catequizados pelos missionários jesuítas, ensinados nos costumes e na religiosidade e, posteriormente, os escravos trazidos do continente africano também o foram. Terras foram desbravadas nessas missões e suas igrejas foram instaladas em diversas capitanias brasileiras. A cultura foi profundamente influenciada pelo catolicismo, acordos foram firmados com o Estado e tal simbiose é um dos motivos para a grande aderência dos brasileiros à tal religião.

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É apenas durante o século XIX que o protestantismo chega ao Brasil.3 Segundo Costa (2009), o país apresentava um cenário onde havia maior possibilidade para a entrada e atuação dos protestantes: a sociedade sofreu transformações e estava em um processo de formação para maiores liberdades políticas e econômicas. Nessa perspectiva, a hegemonia católica era associada a um atraso do alcance das ideias de liberdade por parte de figuras liberais e políticos republicanos4. Existiam também conflitos internos da própria igreja, escândalos públicos que “mancharam” a imagem da ordem religiosa. Sendo assim, pode-se dizer que tivemos duas principais formas de propagação evangélica no país: por missão, aqueles cristãos que vinham objetivamente para pregarem a fé conhecida, e pela imigração. Durante os séculos XVI e XVIII, época das capitanias hereditárias, e depois do governo geral, houveram três tentativas de colonização protestante. De 1555 a 1557, com os franceses calvinistas, no Rio de Janeiro; em 1624, por holandeses, na Bahia; e de 1630 a 1654, novamente com os holandeses (FERREIRA, 2013).

Os alemães trouxeram o pastor luterano Friedrich Sawerbronn, e Johann George (1779-1850), para o Rio Grande do Sul. Eles vieram para trabalhar em suas profissões, e os cultos eram feitos na língua alemã. Os luteranos americanos vieram também em 1900, desta vez em atividades missionárias, e puderam estender seus cultos aos brasileiros, realizando-os em língua portuguesa, e chegando a 226.687 membros 30 anos depois. Os batistas vindos da colônia de Santa Bárbara D’Oeste, de São Paulo, pediram à convenção Batista do Sul dos Estados Unidos da América (EUA) o envio de missionários ao Brasil, originando as Igrejas de São Jorge e São João Batista no Rio de Janeiro. (FERREIRA, 2013)

O missionário metodista americano Fountain Elliot Pitts foi enviado a América do Sul e enviou relatórios sobre as possibilidades de evangelização. Nesse caso, Justin Spaulding foi o responsável por iniciar as ações no Rio de Janeiro. Anos depois, mais missionários das Igrejas Evangélicas Congregacionais e das Igrejas Presbiterianas americanas chegaram ao país. A primeira representada pelo Dr. Robert Reid Kalley (1809-1888), em 1855, que lutou pela liberdade de culto e pela separação entre Igreja e Estado e A segunda por James Cooley Fletcher. Em 1881 a Igreja Batista enviou ao Brasil William e Anne Bagby (LYRA, 2013). O

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No Nordeste, a presença protestante se deu inicialmente pelos holandeses nos estados de Pernambuco e Bahia. A economia açucareira atuava na cena da economia a partir das disputas entre Portugal e Holanda, que na época estava sendo influenciada pelos ideais da Reforma Protestante. O príncipe holandês Maurício de Nassau chegou ao Brasil em 23 de janeiro de 1637 trazendo consigo novas técnicas, com grande comitiva de profissionais e a idéia da liberdade de culto.

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ano de 1859 foi quando os presbiterianos chegaram ao Brasil. Chamam-se “reformadas” aquelas igrejas vindas da segunda onda da Reforma, que tem como líderes principais Ulrico Zuínglio e João Calvino (VICENTE, 2014; FERREIRA, 2013). Abraçam firmemente os famosos “lemas da reforma”: Sola Fide (Somente a Fé), Sola Gratia (Somente a Graça), Solus Christus (Somente Cristo), Sola Scriptura (Somente as Escrituras) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória). Quanto a orientação calvinista, entende-se assim as igrejas que confirmam as discussões teológicas e tratados iniciados e influenciados por João Calvino5.

Durante os séculos XIX e XX as principais discussões teológicas se davam pelas questões doutrinárias das Escrituras, escatológicas e sobre a pessoa do Espírito Santo. Nesta última surge a vertente pentecostal do protestantismo ou os carismáticos, a que possui maior representatividade no cenário atual. Cresceram no Sul do Pacífico, África, Leste Europeu, Sudeste da Ásia e América Latina. Os pentecostais clássicos, influenciados indiretamente por John Wesley e Charles Finney - surgem nos Estados Unidos da América com a “igreja de santidade” dos metodistas. Exigiam a perfeição cristã, em que o fiel receberia uma 2ª bênção, chegando a um nível de não ser mais dominado pelo pecado, evidenciado pelas “línguas estranhas” (texto bíblico retratado nos Atos dos Apóstolos). Ao Brasil chegaram em 1910, com Luigi Francescon, um ítalo-americano, que dividiu a Igreja Presbiteriana do Brás de São Paulo, fundando a Congregação Cristã (FERREIRA, 2013).

A Assembleia de Deus iniciou suas atividades no Brasil em 1911, a partir de uma cisão causada pelos suecos Gunnar Vigren (1879-1833) e Daniel Berg (1884-1963) na Primeira Igreja Batista, de Belém (Pará). Recentemente, novas divisões foram realizadas, onde as principais são: Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e Convenção Nacional das Assembleias de Deus (CNADB). Existem ainda os pentecostais mais centrados nas “curas divinas”, com práticas de exorcismo, uso de músicas mais populares no culto, como as seguintes instituições: Igreja Evangélica Quadrangular (1950); Brasil Para Cristo (1955); Igreja Nova Vida (1960); Igreja Deus é amor (1962); e Casa da Bênção (1964).

5Geralmente resumidas na conhecida “Tulip” - que, em inglês, representaria os cinco pontos do calvinismo: Total depravity (depravação total), Unconditional election (eleição incondicional, limited atonement (expiação limitada), irresistible grace (graça irresistível), perseverance of the saints (perseverança dos santos).

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CAPÍTULO 2

A FORMAÇÃO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A Igreja Presbiteriana do Brasil apresenta-se como uma federação de igrejas com uma história, governo, padrão de culto e vida comunitária comuns e pertence ao grupo de igrejas históricas reformadas (IPB,2018). Tem sua própria Constituição, identificada como pessoa jurídica também submissa às leis brasileiras, representada civilmente pela sua Comissão Executiva que, por meio de Concílios, exerce seu governo (Constituição Presbiteriana, 1950). Existem os chamados “Símbolos de fé” da IPB, que são documentos antigos adotados como aquilo que resume bem a compreensão teológica Presbiteriana: Confissão de fé Westiminster (1646), Breve Catecismo de Westiminster e Catecismo maior de Westiminster (ambos de 1647). Esta adoção remonta aos tempos da reforma, quando era comum as igrejas elegerem credos para a educação dos cristãos sobre os ensinos bíblicos.

O presbiterianismo6 tem suas raízes fincadas na Europa com os chamados puritanos7. Escócia, Irlanda e Inglaterra são os países deste continente que receberam os primeiros trabalhos e que, posteriormente, seguem também para os Estados Unidos (VICENTE, 2014). Já nas Américas, chega ao Brasil através de Ashbel Green Simonton - O americano, aos 26 anos de idade, traz ao Brasil o presbiterianismo, fundando a primeira igreja em 1862. O brasileiro José Manoel da Conceição, um padre convertido ao protestantismo, é o primeiro pastor brasileiro da denominação. Os trabalhos se iniciam no estado de São Paulo e logo seguem para Minas Gerais e outros estados do Brasil. Contudo, a preocupação se dá não só com a implantação de igrejas. Influenciada por sua teologia, a IPB buscou influenciar diversas instâncias sociais e uma delas foi e continua sendo a educação. Notável exemplo disso foi a fundação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, situada em São Paulo, fundada em 1870.

O movimento presbiteriano surge de um contexto político dos países europeus, que inclusive influencia os modelos federativos de governo. Sua regência interna é o que define a

6 “Quando a fé reformada chegou às Ilhas Britânicas, recebeu o nome de presbiterianismo – nome que surgiu com significado teológico, mas também político, a partir do contexto inglês. Os reis escoceses e ingleses eram defensores do episcopalismo, no qual a igreja era governada por bispos, na época, nomeados pelo Estado. Isso favorecia o controle da Igreja pelo Estado. A proposta dos puritanos (calvinistas ingleses) era uma igreja independente do Estado, governada por presbíteros eleitos pelas congregações locais e organizada em concílios. Dessa ideia surgiu o nome presbiterianismo ou Igrejas Presbiterianas, destacando a função dos presbíteros no governo das igrejas locais.” (FERREIRA, 2014).

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Eram chamados de puritanos os calvinistas ingleses que, naquela época, estavam lutando pela separação entre Igreja e Estado.

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denominação de “presbiterianos”. As igrejas são compostas de indivíduos - membros e congregados, os primeiros são aqueles que possuem oficialmente direitos e deveres com a Igreja Presbiteriana do Brasil. Em assembleias, eles elegem ou exoneram a liderança local (presbíteros e diáconos) e discutem sobre outras questões. Na Constituição Presbiteriana (1950), ela reconhece seu poder como “Espiritual e administrativo” entre líderes e membros. Os membros têm sua autoridade ao se reunir em Assembleia quando solicitado pelo Conselho da Igreja para eleição dos pastores ou exoneração deles, para levantamento de críticas sobre gestões e administração, aquisição de bens, de acordo com as regras previamente postas nos regimentos. Na IPB funciona um modelo de governo mais descentralizado do que outras igrejas adotam. O grupo de presbíteros eleitos, regentes e docentes, formam o conselho da igreja, que tem como líder e representante o presbítero docente titular. Além deste são formados outros conselhos, são como agrupamentos unidos por características comuns aos membros deles: União da Mocidade Presbiteriana (UMP), União Presbiteriana de Homens (UPH), Sociedade das Auxiliadoras Femininas (SAF), entre outras.

Estabelecido o funcionamento interno, tem-se a “organização de comunidade locais”, como tratado na Constituição Presbiteriana (1950). E, neste ponto, pode ser visto mais características interessantes à Geografia pois aqui está contida a expressão territorial da Igreja Presbiteriana do Brasil. Com a união de até quatro igrejas é formado um presbitério. Com a união de presbitérios são criados Sínodos. Os Presbitérios e Sínodos são formados, na maioria das vezes, por questões de proximidade geográfica entre as igrejas que os compõem. Contudo, não respeitam divisões de bairros, municípios e estados.8 Com a união dos Sínodos, na junção de suas comitivas, é formado o Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil - que também tem suas organizações particulares.

Figura 01 - Organograma de organização interna da Igreja Presbiteriana do Brasil

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Em escala estadual, hoje, esses limites são respeitados. Era comum a existência de Sínodos entre dois estados, como foi o próprio caso do Rio Grande do Norte unido à Paraíba.

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Fonte: IPB (2018).

Os cultos nas Igrejas Presbiterianas do Brasil não são idênticos, não têm uma mesma ordem de acontecimentos e participações. Isto se dá de acordo com o perfil de cada comunidade. Entretanto, os símbolos de fé da igreja apontam o que chamam de “princípio regulador do culto”, que consiste naquilo que consta ou não na Bíblia sobre o que deve estar inserido neste momento. Eles observam aquilo que é descrito na Bíblia como necessário para que a celebração ocorra: Leitura de textos bíblicos, momento de cânticos, orações, entre outros.Também não há regra sobre quantas vezes na semana ou quais são os dias de cultos públicos, com exceção do dia de domingo que é um ponto muito importante para a IPB:

Deve-se santificar o Domingo com um santo repouso por todo aquele dia, mesmo das ocupações e recreações temporais que são permitidas nos outros dias; empregando todo o

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tempo em exercícios públicos e particulares de adoração a Deus, Exceto o tempo preciso para as obras de pura necessidade e misericórdia. (Breve Catecismo de Westminster, 1643).

Além das reuniões para os cultos públicos, algumas das Igrejas se dedicam à atividades externas de serviço à comunidade que estão inseridos: Escolas de reforço e línguas, escola de costura, disponibilização de serviços médicos. Em Umarizal-RN, há o exemplo do Centro Presbiteriano de Apoio a Criança (CEPAC):

[...] um projeto de ação social em parceria com a New Life PresbyterianCommunity. O projeto atende 90 crianças (creche e reforço escolar). São três salas de aulas, escritório, refeitório, banheiros, oficina e quadra poli esportiva. O trabalho cresceu e teve a organização das sociedades internas: SAF, UMP e UPA. (SEVERO, 2018)9.

No Rio Grande do Norte, a Igreja Presbiteriana do Brasil é uma das principais denominações a enfrentar embates com a igreja católica que, por muito tempo, gozou de total hegemonia nos primeiros séculos de colonização. A primeira igreja de Natal - Igreja de Nossa Senhora da Apresentação - conhecida como antiga catedral, foi construída no ano de 159910, e está localizada no Bairro Cidade Alta, com vistas ao estuário do Rio Potengi. Em praticamente todas as cidades brasileiras, sobretudo costeiras11, é possível observar a seguinte lógica de localização: uma Igreja católica construída sobre sítios geomorfológicos mais altos, que se lançam de forma imponente, destacando-se na paisagem pela desproporção em relação às casas em seu entorno, ou então na frente de praças, próximas dos poderes policiais e/ou da prefeitura municipal. No caso da igreja matriz de Natal, tem-se a Praça André de Albuquerque.

Seguindo a lógica de diversos estados e cidades brasileiras, a disputa entre católicos e protestantes se repetiria por estas terras. O anti catolicismo no Brasil, inclusive no Rio Grande do Norte, decorre também dessa forte dominação e das tentativas católicas de proibição no início da expansão do protestantismo. Segundo Lyra (2013), enquanto o catolicismo ainda

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Informações contidas no relato redigido pelo Reverendo Marcos Severo. 10

Informação disponivel em: http://www.natal.rn.gov.br/natal/ctd-669.html 11

A história aponta para uma preferência de povoamento do litoral brasileiro no início da colonização portuguesa: “Frei Vicente do Salvador, que dizia, em 1627, que os portugueses não se aventuravam no interior, mas se contentavam em “andar arranhando ao longo do mar como caranguejos” (DO SALVADOR, 1885-1886, p. 8 apud TEIXEIRA, 2017, p. 37).

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pensava em termos de monopólio da interpretação bíblica - reservada às missas -, os evangélicos incentivavam a todos – não apenas a uma classe religiosa - o porte da Bíblia e o debruçamento sobre ela. Assim, pouco a pouco pessoas foram aderindo ao protestantismo e criando pequenas comunidades de religiosos. Pessoas de diferentes classes sociais - fazendeiros, professores e empregados - tiveram acesso à Bíblia, dedicaram-se ao seu estudo e passaram a condenar algumas das práticas católicas, chegando a serem batizadas. Estas primeiras comunidades também se situaram no bairro de Cidade Alta, como exemplo a Igreja Presbiteriana de Natal.

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CAPÍTULO 3

FORMAÇÃO DA REDE-TERRITÓRIO DA IPB NO ESTADO

Foi da união de esforços entre as Igrejas Presbiterianas do Brasil nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte que houveram as primeiras implantações de igrejas na Paraíba e no Rio Grande do Norte: a primeira no município de Betânia (PB), e a segunda no município de Mossoró (RN). Tais igrejas formaram os presbitérios que originaram o antigo Sínodo Paraíba - Rio Grande do Norte (SEVERO, 2014).

Figura 02: Antigo Sínodo Paraíba - Rio Grande do Norte da Igreja Presbiteriana do Brasil

Elaboração: SILVA, R. H., 2018.

O território-rede da Igreja Presbiteriana começa a ser tecido em 1879, quando o Rio Grande do Norte é visualizado como uma oportunidade de expansão da Igreja Presbiteriana do Brasil - uma iniciativa dos cristãos pernambucanos, primeiramente. Com o envio missionário de Francisco Filadelfo de Sousa Pontes e João Mendes Pereira Guerra pelo reverendo americano John Rocwell Smith, o trabalho começa a partir da disseminação da mensagem do incentivo à leitura da Bíblia. Em Mossoró que se encontra o registro da primeira igreja implantada no estado, em 1882. Foram cinco anos de insistência diante dos bloqueios levantados por católicos na cidade, relatos como do missionário De Lacey Wardlaw (trabalhava no estado do Ceará) estão guardados na ata da abolição de escravos em Mossoró:

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“Em 1885 organizei uma igreja na Província do Rio Grande do Norte. No ano anterior (1884) aquela congregação estava decrescente e quando fui organizá-la, uma turba me atacou duas noites - a primeira com pedras, a segunda com armas de fogo [...]”. (apud SEVERO, 2008). Apesar das situações de resistência por parte da Igreja Católica aos primeiros protestantes, dos constantes embates públicos e até mesmo violentos, o número de evangélicos continuava a crescer. Por exemplo: em 1893, a Igreja Presbiteriana da Cidade Alta contava com cerca de 50 membros, e em 1895, o número era de aproximadamente 200 pessoas, segundo o historiador Wycleff Souza (2009). Esta é a comunidade da Igreja Presbiteriana do Brasil mais duradoura que, desde 30 de março de 1963, 81 anos depois ainda vigora (SEVERO, 2008). Ao longo dos anos as igrejas passaram a ganhar notoriedade na sociedade, expandindo a mais municípios do Rio Grande do Norte. Os membros pioneiros estavam intencionalmente movidos à fazer com que mais pessoas fossem convertidas à fé cristã protestante, contrastando com a “comodidade missiológica” católica Lyra (2013), aumentando a abrangência do território da Igreja Presbiteriana do Brasil. Pau dos Ferros, Alexandria, Caicó, Jucurutu e Currais Novos, “Eram pólos que de lá se desenvolviam trabalhos ‘pulverizando’ nos entornos”12

, que já não se restringiam ao Rio Grande do Norte.

A história mostra as relações interestaduais das igrejas: templos no RN que eram de responsabilidade da Paraíba (e outras regiões) e, apenas depois, passam a ser geridos pelos potiguares. A igreja no município de José da Penha é um destes casos: fundada em 1956, só em 1972 sai do domínio paraibano. A Igreja Presbiteriana em Natal 13(1896) era apenas uma congregação sob responsabilidade do estado de Pernambuco.

12Este é um relato de Luiz Siqueira, filho do Reverendo Manoel Alves Siqueira Bitu (1940), contido na obra do Rev. Marcos Severo (2008).

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Figura 03 - Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil em Natal

Fonte: Acervo Igreja Presbiteriana do Natal (2018).

Com as informações sobre as datas de fundação das primeiras igrejas nos municípios, o cartograma a seguir foi elaborado. O objetivo é visualizar as principais áreas escolhidas para a implantação dos templos da denominação - Igreja Presbiteriana do Brasil:

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Figura 04 - Evolução histórica da Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio Grande do Norte

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Desde sua chegada ao estado do Rio Grande do Norte, a Igreja Presbiteriana do Brasil apresenta dois principais picos de crescimento quanto ao número de municípios alcançados: por volta da década de 1940 e após nos anos 2000.

Gráfico 03 - Número de municípios com templos da Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio Grande do Norte - 1982/2000

Fonte: IPB (2018). Elaboração: SILVA, R. H., 2018.

A Igreja Presbiteriana do Brasil começa sua atuação em uma localidade marcada por seus contextos históricos-geográficos e estes não podem ser dispensados para a compreensão do início de seu território-rede. Os processos de formação territorial do Rio Grande do Norte estavam ocorrendo quando a IPB inicia sua implantação e compreender isto traz respostas para a localização das primeiras comunidades presbiterianas no estado, pois a mesma acompanha seu progresso.

A religião, primeiramente com o catolicismo, é um dos agentes de ocupação da área estadual, inclusive: “Essas missões estão na origem de algumas das cidades mais antigas do RN: Extremoz, Nísia Floresta, São José de Mipibu, Arez e Vila Flor, todas situadas na região litorânea, de ocupação inicial, e Apodi, no oeste potiguar. “ (TEIXEIRA, 2017, n.d.)14. No século XVII a interiorização se inicia em função de atividades pecuárias que eram

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desenvolvidas, com a construção de fazendas para a criação de gado, sempre próximos aos corpos hídricos para abastecimento humano. Há também aldeamentos e movimentos para catequizar indígenas que já se localizavam no interior. Na época em que o Rio Grande do Norte era ainda a Capitania do Rio Grande, esteve subordinada às capitanias da Bahia e de Pernambuco, em diferentes momentos, até 1817, quando se torna independente.

Quadro 02 - Primeiros povoados no RN em 1807

CIDADE OU VILA LOCALIDADES EXISTENTES NO TERMO POPULAÇÃO

Natal (única cidade) Diversas freguesias e povoações, cujos nomes não são citados.

6 290

Vila de São José de Mipibu

Papari (Nísia Floresta) 5 180

Vila de Extremoz Porto de Touros (cidade de Touros) 6 286

Vila de Arez Povoação de Goianinha 4 729

Vila Flor 2 483

Vila da Princesa (Assu)

Povoação de Guamaré (cidade de Guamaré) e “pequenas povoações”: a ilha de Manoel Gonçalo, Santa Maria do Pé da Serra e Campo Grande.

5 775

Vila de Portalegre (Portalegre)

Com 3 freguesias: Portalegre, Pau dos Ferros, Apodi. A serra de Martins, na segunda freguesia, e as povoações de Apodi e de Santa Luzia, na terceira, são hoje as cidades de Martins, Apodi e Mossoró, respectivamente.

12 592

Vila do Príncipe (Caicó)

Serra do Coité (Macaíba) 5 698

Fonte: Dados adaptados a partir de AHU – RN, Caixa 10, Doc. 629. apud TEIXEIRA (2017).

Em 1848, a configuração do estado começou a apontar para os contornos vistos hoje. Na história veem-se dificuldades de definir rigidamente os limites estaduais que se encontram com os estados da Paraíba e do Ceará. Haviam como municípios: Natal, Mipibu, Assu e Maioridade (que hoje é o município de Martins), 11 vilas: São Gonçalo, Extremoz, Touros, Goianinha, Vila Flor, Vila dos Matos, Angicos, Príncipe, Acari, Portalegre e Apodi.

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Conforme Teixeira (2017), a população potiguar nesta época foi estimada em 200.000 habitantes.

Figura 05 - Carta topográfica das Províncias do RN e Paraíba. J. deVilliers de l’Île d’Adam

Fonte: TEIXEIRA (2017).

Desta época para a atual, o RN passou por um processo acelerado de incremento demográfico: “Com 167 municípios atualmente, o RN tem uma população de 3 450 000 habitantes. A população urbana é de 2 662 000, ou 77,16% do total (dados do IBGE, 2015). Há um salto populacional elevadíssimo de 1 257,67% entre essa população e a de 1900, que totalizava 274 317 habitantes.” (TEIXEIRA, 2017)15

. Observa-se certa relação entre o crescimento demográfico do estado, da criação de municípios, bem como das datas de fundação das primeiras Igrejas Presbiterianas do Brasil, suas localidades e a quantidade de templos instalados nela para atenderem as demandas específicas de cada localidade. Comprova-se pelos relatos históricos que muitas igrejas foram iniciadas em função da

15

“Gênese e formação histórica do território potiguar: uma breve análise a partir da cartografia” de Rubenilson Teixeira, disponível em: https://journals.openedition.org/confins/12355#ftn15

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dinâmica populacional. Famílias que se deslocavam de um município para outro, corroborando com este processo de interiorização e em outros pilares importantes da sociedade, e que, na falta de uma igreja iniciavam um novo trabalho. Segundo Teixeira (2017), é a partir de 1851 que se percebe maior criação de novos municípios, que são oficializados também segundo a autonomia e maturação social e econômica que a comunidade obtém e é justamente esse o período onde há número representativo de fundação de novas igrejas. Essas novas igrejas se localizam em alguns casos no mesmo município a fim de que atenda melhor à demanda populacional que aumentou durante o tempo.

Quadro 03 - Períodos de criação dos municípios do Rio Grande do Norte PERÍODO Nº MUNICÍPIOS 1600 - 1700 1 1700 - 1759 0 1760 - 1800 7 1801 - 1850 7 1851 – 1889 14 1890 – 1950 18 1951 – 2000 19 TOTAL (2017) 167 Fonte: Teixeira, 2017, p. 449.

A consolidação do território-rede da Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio Grande do Norte se deu em 2002, quando houve o desmembramento que deu origem ao Sínodo da Paraíba e Sínodo do Rio Grande do Norte (SRN). Este último é formado inicialmente por três presbitérios: Presbitério Potiguar, Presbitério Oeste Rio Grandense e Presbitério Seridó. O Presbitério Potiguar (PPTG), na verdade, é anterior a consolidação do SRN. Data de 1962 e abarcava a Igreja Presbiteriana de Natal, Igreja Presbiteriana das Rocas e a Igreja Presbiteriana do Alecrim. Todavia, dadas as regras para a criação de novos presbitérios - sobre a quantidade mínima de templos, foi incluída também a igreja de Betânia, situada em Souza, município da Paraíba.

Na IPB as comunidades são classificadas de diferentes formas, segundo seus estágios de desenvolvimento. Podem ser considerados Pontos de pregação ou Congregações quando as

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Juntas Missionárias ou os Concílios assim os definem, são as primeiras formas de expressão de interesse em uma implantação. Segundo o Manual Presbiteriano (1999), os presbitérios ou as Juntas são responsáveis por cuidar destas comunidades até o ponto onde possam se sustentar sozinhas, em quesitos de quantidade de membros, líderes aptos e capacidade de auto-sustento financeiro, e assim serem consolidadas como Igrejas.Desta forma, para análise, foram quantificados apenas as comunidades consideradas congregações e igrejas. Estes dois tipos se apresentam de forma mais preponderante como fixos para o estabelecimento do território-rede no estado, suporte aos maiores fluxos de fiéis.16

16

Tabela com a quantidade de congregações e igrejas por município pode ser encontrada nos anexos deste trabalho.

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Figura 06 - Presença da IPB nos municípios do Rio Grande do Norte - 2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 2010. Organização: SILVA, R. H., 2018.

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O estado do Rio Grande do Norte pode ser analisado segundo as suas mesorregiões. Esta é uma metodologia criada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para otimizar estudos demográficos, estatísticos e geográficos.

Figura 07 - Mesorregiões do Rio Grande do Norte

Fonte: IBGE, Censo demográfico de 2010. Organização: SILVA, R. H., 2018.

São 85 templos - Entre Igrejas e Congregações - Presentes em todo o estado do Rio Grande do Norte. Correlacionando os dois cartogramas, pode-se observar a maior presença da Igreja Presbiteriana do Brasil na mesorregião do Oeste Potiguar e é por lá que é iniciada a Rede, com a chegada em Mossoró no ano de 1882. Esta, na verdade, é uma preferência locacional antiga, dada a observação dos anos de implantação dos templos entres os municípios do estado.

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Quadro 04 - Anos de fundação de templos da IPB em municípios do RN MUNICÍPIOS ANO MESORREGIÃO

MOSSORÓ 1882 OESTE POTIGUAR

NATAL 1896 LESTE POTIGUAR

CAICÓ 1945 CENTRAL POTIGUAR CURRAIS NOVOS 1945 CENTRAL POTIGUAR

JUCURUTU 1945 OESTE POTIGUAR

JOSÉ DA PENHA 1972 OESTE POTIGUAR

IPANGUAÇU 1982 OESTE POTIGUAR

ALEXANDRIA 1988 OESTE POTIGUAR

CARAÚBAS 1995 OESTE POTIGUAR

PARNAMIRIM 1996 LESTE POTIGUAR

AÇU 1998 OESTE POTIGUAR

APODI 1998 OESTE POTIGUAR

UMARIZAL 1999 OESTE POTIGUAR

BARAÚNA 2000 OESTE POTIGUAR

MARCELINO VIEIRA 2002 OESTE POTIGUAR

MARTINS 2002 OESTE POTIGUAR

SÃO MIGUEL 2003 OESTE POTIGUAR

SEVERIANO MELO 2003 OESTE POTIGUAR

ITAÚ 2004 OESTE POTIGUAR

ANTÔNIO MARTINS 2005 OESTE POTIGUAR

AUGUSTO SEVERO 2005 OESTE POTIGUAR

GOVERNADOR DIX-SEPT

ROSADO 2006 OESTE POTIGUAR

PARAÚ 2007 OESTE POTIGUAR

PAU DOS FERROS 2007 OESTE POTIGUAR

CARNAUBAIS 2009 OESTE POTIGUAR

UPANEMA 2009 OESTE POTIGUAR

AREIA BRANCA 2014 OESTE POTIGUAR

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PATU 2018 OESTE POTIGUAR Fonte: IBGE, Censo demográfico de 2010.

Organização: SILVA, R. H., 2018.

Contudo, o esperado seria que a maior concentração de templo da IPB se verificasse na mesorregião Leste Potiguar, pela maior concentração populacional e proximidade com Natal, a capital do estado (Mapa 06). Em lugar de uma territorialização litorânea mais densa, como é comum em diversos processos de diferentes naturezas, é visto uma interiorização da presença dessa denominação. Ainda de acordo com o mapa xx, entre o Litoral e a região Oeste do estado se observa uma lacuna em termos de presença da IPB na porção central potiguar.

Figura 08 - Áreas de abrangência dos presbitérios da IPB no Rio Grande do Norte

Fonte: IBGE e IPB. Organização: SILVA, R. H., 2018.

Os Presbitérios da Igreja Presbiteriana do Brasil representam regionalizações criadas pela própria denominação para fins administrativos, são eles: Alto Oeste, Litorâneo, Metropolitano, Potiguar, Oeste Potiguar, Rumo ao Sertão e Seridó. As nomeclaturas são

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semelhantes àquelas dadas pelo IBGE para as mesorregiões mas não seguem rigidamente as limitações. Esta é a parte mais difícil de ser cartografada pois não há uma delimitação geográfica clara de parte da instituição. É possível que em um mesmo município opere mais de um Presbitério, como é o caso de Natal, possuindo três deles em sua área: Presbitério Metropolitano, Presbitério Litorâneo e Presbitério Potiguar.

Esses Presbitérios que compõem o Sínodo não são formados apenas em função de uma proximidade geográfica entre as igrejas que os constituem, mas também em função de questões financeiras e políticas. Por exemplo: a Igreja Presbiteriana do Pirangi (IPP), em Natal, é responsável por implantar uma igreja no município de Macaíba. Até que esta congregação seja capaz de se sustentar por si só, como a IPP pertence ao Presbitério Potiguar, Macaíba também participará, ainda que existam igrejas mais próximas pertencentes a outro Presbitério.

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CAPÍTULO 4

ANÁLISE DE INDICADORES

4.1 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO POR MUNICÍPIO

O Índice de Desenvolvimento Humano consiste em um indicador significativo para comparar a “qualidade de vida” das comunidades ao levar em conta fatores como renda, escolaridade e longevidade. Inicialmente usado na classificação entre países, depois passou a ser utilizado para escalas municipais. No Brasil isto ocorre em 2012 pelo trabalho do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD Brasil), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João Pinheiro. Essas instituições utilizaram os dados fornecidos pelos Censos do IBGE dos anos de 2010, 2000 e 1991, e adaptaram a metodologia utilizada pela ONU para a realidade brasileira. Todo o cálculo é feito de forma que o município pode alcançar de 0 a 1 na escala - e quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho da localidade.

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Fonte: IBGE, Censo demográfico de 2010. Organização: SILVA, R. H., 2018.

Referências

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