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Academic year: 2021

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TÍTULO: A AQUISIÇÃO DE PROCESSOS FONOLÓGICOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: A AFRICATIZAÇÃO DAS OCLUSIVAS CORONAIS

TÍTULO:

CATEGORIA: CONCLUÍDO CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS ÁREA:

SUBÁREA: Letras SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO(ÕES): UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS INSTITUIÇÃO(ÕES):

AUTOR(ES): THAIS REZENDE DE ABREU AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): GRAZIELA PIGATTO BOHN ORIENTADOR(ES):

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1 RESUMO

O presente projeto de pesquisa investiga como se dá a aquisição do processo de palatalização do português brasileiro através da análise quantitativa de dados naturalísticos de três crianças nativas da língua. Uma vez que a palatalização das coronais oclusivas /t/ e /d/ é desencadeada apenas pela vogal coronal alta /i/, buscamos neste estudo traçar sua aquisição baseados em teorias que explicam a estrutura dos fonemas da língua com base em uma geometria de traços. Com isso, procuramos determinar se o processo ocorre de forma gradual, acompanhando a aquisição da geometria dos inventários fonológicos. Partimos da hipótese, portanto, de que a palatalização só poderá ser desencadeada uma vez que a estrutura interna da vogal /i/ tenha sido adquirida. Com isso, esperamos que a criança não passe por um período de experimentação no qual poderia produzir palatalização com outras vogais senão /i/. Os resultados mostram que, de fato, a aquisição da palatalização ocorre de forma gradual e é livre de experimentações.

Palavras-chave:​ Aquisição fonológica. Palatalização. Português brasileiro.

2 INTRODUÇÃO

O processo de aquisição da linguagem é universal e rápido, uma vez que, por volta de 4 anos, quase toda a complexidade de uma língua é aprendida. E, apesar da diversidade entre línguas, o processo de aquisição é o mesmo em todas elas (GROLLA, 2006).

Sabemos que a criança lida com um número grande de informações gramaticais, sejam elas fonológicas, sintáticas ou semânticas. Na fonologia, além de adquirir processos tais como a palatalização, ela também precisa adquirir a estrutura interna dos sons da língua, ou seja, a forma como os traços que os compõem se organizam internamente. Uma vez que se trata da aquisição de um processo que envolve a

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camada segmental da língua (camada dos sons), é de se esperar que o processo dependa dessa aquisição; caso contrário, a criança não teria informação estrutural suficiente para desencadeá-lo.

Quanto à sequência de estágios pelos quais as crianças passam, observou-se que crianças aprendendo uma mesma língua seguem um padrão quase idêntico; embora a velocidade das transições entre estágios varia entre crianças, os estágios e a ordem são os mesmos para todas elas. Dessa forma, o melhor indicador sobre o desenvolvimento linguístico de uma criança é o seu estágio, e não a sua idade.

Através da análise quantitativa de dados naturalísticos de três crianças nativas da língua, buscamos investigar como se dá a aquisição do processo de palatalização do português brasileiro e traçar esse processo a fim de determinar se o processo ocorre gradualmente, acompanhando a aquisição da geometria dos inventários fonológicos.

3 OBJETIVOS

Neste estudo, tivemos como principal objetivo investigar como se dá a aquisição do processo de palatalização do português brasileiro e traçar esse processo a fim de determinar se o processo ocorre gradualmente, acompanhando a aquisição da geometria dos inventários fonológicos. Para os propósitos deste projeto, foram analisados dados naturalísticos de três crianças adquirindo o português brasileiro no período de 1;0 à 2;11 (ano;mês) de idade.

Esperamos também que este estudo seja de grande relevância para estudos futuros da área de Aquisição da Linguagem, contribuindo para a ampliação de investigações acerca do conhecimento linguístico das crianças.

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4 METODOLOGIA

O estudo fez uso de dados naturalísticos de três crianças adquirindo o português brasileiro no período de 1;0 à 2;11 (ano;mês). Os dados são provenientes do banco de dados Aquisição do Ritmo do Português Brasileiro (SANTOS, 2005), do Departamento de Linguística da Universidade de São Paulo. Ao todo foram computadas 4.364 produções das crianças com as vogais /t/ e /d/ em ataque silábico inicial ou medial seguido das vogais /a/, /e/, /ɛ/, /i/, /o/, /ɔ/ e /u/.

Em seguida, os dados foram classificados de acordo com a variável dependente, aplicação ou não aplicação do processo, e três variáveis independentes: consoante alvo (t, d), vogal desencadeadora (a, e, ɛ, i, u, o, ɔ), e faixa etária. Os dados foram, então, submetidos a uma análise computacional realizada pelo Pacote GoldVarb (​RAND; SANKOFF, 1990​), cujo objetivo é o de implementar um modelo logístico que computa quantitativamente os fatores que compõem uma regra linguística variável. É importante salientar que quando um fator ​i ​é equivalente a ​p​i = 1 ​(aplicação categórica na presença do fator) ou ​p​i= 0 ​(não-aplicação categórica na presença do fator) temos knockouts​. A análise desses fatores torna-se, desse modo, estatisticamente inútil, sendo necessário identificá-los e removê-los (ROUSSEAU; SANKOFF, 1978, p. 66).

Portanto, antes de realizarmos a primeira rodada, foi necessária a identificação e remoção de ​knockouts​. Ao todo, foram seis ​knockouts envolvendo ​/a/, /e/, /ɛ/, /o/, /ɔ/ e /u/ devido a não-aplicação categórica envolvendo essas vogais ​. ​Devido a retirada de knockouts​, nosso arquivo de dados ficou reduzido a 952 ocorrências, todas com a combinação /ti/ e /di/, ou seja, a única vogal em que a aplicação ou não-aplicação da regra não foi categórica. Após o tratamento estatísticos dos dados, partimos para a descrição e análise dos resultados obtidos, descritas na seção que segue.

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5 DESENVOLVIMENTO

A criança já tem acesso à estrutura de sua língua antes mesmo de nascer e lida com muitas informações ​– gramaticais, fonológicas, sintáticas e semânticas – ​desde muito nova. No âmbito fonológico, além de adquirir processos tais como a palatalização, ela precisa também adquirir a estrutura interna dos sons da língua, ou seja, a forma como os traços que os compõem se organizam internamente.

Clements & Hume (1995) propõem que a estrutura interna dos sons seja organizada em uma Geometria de Traços (GT), que dispõe de nós ordenados de forma hierárquica, a fim de representar diferentes níveis dentro da representação de cada unidade sonora. Segundo tal classificação, o traço [sonoro] encontra-se dentro do nó laríngeo, pois a sonoridade, resultante da vibração das cordas vocais, é produzida na laringe. Já o traço [contínuo] e o traço de ponto situam-se dentro do nó Cavidade Oral, pois é na boca que esses traços são articulatoriamente ativados. Sob o nó Cavidade Oral encontramos, ainda, os traços de ponto [labial], [dorsal] e [coronal]. O traço [coronal], que determina os sons produzidos com a lâmina da língua acima da posição neutra, tem ainda um traço secundário, [anterior], que representa os sons produzidos com obstrução na frente da região palato-alveolar da boca (BISOL, 2001, p. 22). Tanto /t/ quanto /d/ são coronais anteriores, pois são produzidas com a elevação da parte mais frontal da língua.

A palatalização das coronais oclusivas do português brasileiro é um fenômeno linguístico que afeta essas consoantes quando seguidas da vogal [i] ou do glide [j], tornando-se um segmento africado /tʃ/ e /ʤ/, respectivamente. O processo de palatalização da coronal oclusiva está em distribuição complementar, pois as consoantes /tʃ, ʤ/ ocorrem apenas quando a coronal oclusiva /t, d/ precede uma vogal alta coronal /i/, enquanto que a oclusiva coronal ocorre com outras vogais (CRISTÓFARO-SILVA et al, 2012).

Podemos assumir, portanto, que a palatalização das oclusivas coronais /t, d/ ocorre apenas quando seguidas de /i/ devido à qualidade [coronal] desta vogal,

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observada no ponto vocálico (pontos de V). Mas se apenas o traço [coronal] fosse relevante, deveríamos esperar que a palatalização ocorre antes de outras vogais coronais, como /e/ e /ɛ/. A diferença está também na altura vocálica, ou seja, apenas a vogal coronal /i/ é produzida com o dorso da língua próximo ao palato, o que explica a influência que ela exerce nas coronais oclusivas /t/ e /d/: a palatalização, ou seja, a retração de língua de forma que ela se aproxime do palato, assim como a vogal /i/. Isso explica o fato de as outras vogais não participarem do processo, pois, apesar serem coronais, elas não são altas.

6 RESULTADOS

Considerando que a palatalização das oclusivas coronais /t, d/ ocorre apenas quando seguidas de /i/, como vimos anteriormente, esperamos, neste estudo, que as crianças não produzam formas palatalizadas diante de outras vogais senão aquela. Devido aos ​knockouts ​encontrados nas células estatísticas, podemos dizer que a criança já tem a estrutura vocálica adquirida no momento em que começa a produzir a palatalização da língua, pois com as vogais /a/, /e/, /ɛ/, /o/, /ɔ/ e /u/ a não-aplicação foi categórica.

Comparamos, também, neste estudo se há uma diferença entre a coronal oclusiva surda /t/ e /d/ sonora. Apesar de termos encontrado uma diferença, ela não é estatisticamente significativa, como mostram os pesos relativos na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Palatalização na fala infantil Consoante

Fator Apl/Total % Peso Relativo

/t/ → [tʃ] 305/347 87.9% 0.511

/d/→ [dʒ] 533/615 86.7% 0.481

Total de aplicação 838/962 87.1% -

Input: 0.893 Significância: 0.003

Log ​likelihood da rodada: -327.234 Valor máximo​: -306.812

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Em relação à faixa etária, vemos na Tabela 2 que a aplicação do processo ganha impulso à medida que a faixa etária das crianças aumenta. Observamos também que os pesos relativos acompanham o aumento da distribuição das formas palatalizadas comparadas às formas não palatalizadas (apresentada aqui em valores relativos na terceira coluna). Vale lembrar que, apesar de 60%, por exemplo, ser uma distribuição alta, no dialeto ao qual essas crianças estão expostas, o de São Paulo, o índice de aplicação é categórico, pois se trata de um dialeto que palataliza /t/ e /d/ antes de /i/. O que concluímos, portanto, é que a aquisição desse processo é gradual. Em um estudo futuro olharemos a aquisição da geometria de traços de /t/, /d/ e /i/ de cada criança individualmente a fim de estabelecermos uma correlação entre a aquisição do nível segmental desses sons e do processo que os afeta. Os exemplos que trazemos aqui mostram a evolução do processo:

Produção Fala adulta Faixa Etária Glosa

a. [‘ti.ɐ] [‘tʃi.ɐ] 1;8 tira ( tirar imp.2p.sg) b. [a’ʃedɪ] [a.’ʃedʒɪ] 1;10 acende

c. [sa’u.dɪ] [sa’u.dʒɪ] 1;11 saúde

d. [‘pɔdɪ] [‘pɔdʒɪ] 2;0 pode (poder pres.ind. 2p. sg) e. [dɪ’fisɐ] [dʒɪ’fisiw] 2;0 difícil

f. [‘tʃi.ɐ] [‘tʃi.ɐ] 2;10 tira ( tirar imp.2p.sg) g. [a.’ʃedʒɪ] [a.’ʃedʒɪ] 2;4 acende

h. [‘pɔdʒɪ] [‘pɔdʒɪ] 2;0 pode

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Tabela 2 – Palatalização na fala infantil Faixa Etária

Fator Apl/Total % Peso Re

ativo 1;1 A - - - 1;2 B - - - 1;3 C - - - 1;4 D 3/5 60% 0.152 1;5 E 3/5 60% 0.152 1;6 F 10/10 100% knockout 1;7 G 4/4 100% knockout 1;8 H 8/12 66.7% 0.195 1;9 I 35/47 74.5% 0.263 1;10 J 35/40 87.5% 0.465 1;11 K 48/75 64% 0.178 2;0 L 82/101 81.2% 0.353 2;1 M 95/116 81.9% 0.362 2;2 N 86/88 97.7% 0.842 2;3 O 36/36 100% knockout 2;4 P 84/88 95.5% 0.725 2;5 Q 62/64 96.9% 0.794 2;6 R 50/50 100% knockout 2;7 S 57/63 90.5% 0.546 2;8 T 24/25 96% 0.756 2;9 U 8/8 100% knockout 2;10 V 96/111 86.5% 0.444 2;11 W 12/14 85.7% 0.428 Total 838/962 87.1% Input: 0.893 Significância: 0.003

Log ​likelihood da rodada: -327.234 Valor máximo​: -306.812

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de toda a complexidade de uma língua, a aquisição da linguagem se dá de forma rápida e natural (GROLLA, 2006). Considerando tais aspectos, buscamos saber como essa aquisição ocorre. Neste estudo, fizemos um pequeno recorte desse processo e, como objeto de investigação, elegemos a palatalização, um processo desencadeado pela vogal coronal alta /i/ que afeta as consoantes oclusivas /t/ e /d/ da língua. O processo é aplicado categoricamente na fala adulta dos dialetos aos quais as crianças são expostas. Observamos que a criança já inicia a aplicação do processo seguindo as mesmas condições linguísticas da língua adulta, isto é, sem experimentações. Isso é um indício de que a criança está atenta à estrutura interna dos segmentos, pois é a partir dessa estrutura que o processo é desencadeado. Vimos também que o uso da palatalização na fala da criança não se dá bruscamente, mas sim gradualmente. Em um estudo futuro, pretendemos relacionar esses resultados com a aquisição dos sons /t/, /d/ e /i/, a fim de confirmar nossos achados.

8 FONTES CONSULTADAS

BISOL, L. (Org.). ​Introdução a Estudos da Fonologia do Português Brasileiro. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2ª ed, 2001.

CALLOU, D., LEITE, Y. ​Iniciação à fonética e à fonologia. ​Rio de Janeiro. Jorge Zahar

Editor, 2003.

CLEMENTS, G. N; HUME, E. ​The internal organization of speech sounds. In: GOLDSMITH, J. (ed.). The Handbook of Phonological Theory. Cambridge: Blackwell, 1995, p. 245-306.

CRISTÓFARO-SILVA, T. ​Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012.

DUTRA, A. ​Aquisição do Português como Língua Estrangeira: Fenômenos de Variações no Âmbito Fonológico.​ Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2008.

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GROLLA, E. ​Aquisição da linguagem. Material didático do curso de Letras-LIBRAS à distância, Florianópolis: UFSC, 2006.

RAND, D; SANKOFF, D. ​Goldvarb 2.0​. Montréal: Université de Montréal, 1990.

SANTOS, R. S. ​Adquirindo a fonologia de uma língua: produção, percepção e representação fonológica. Alfa: Revista de Linguística (UNESP. São José do Rio Preto. Impresso), v. 52, 2008, p. 465-481.

Referências

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