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A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E A POLÍTICA DE

MEDICAMENTOS E DE ASSISTÊNCIA

FARMACÊUTICA NO BRASIL

A Indústria Farmacêutica; Contextualização e Importância

Atual

Além de estar inserido em um contexto maior, necessita ser complementado por diversos conceitos e questões que fazem parte da área da Política de Medicamentos como um todo, mas que se refletem na Assistência Farmacêutica em seus diversos níveis e complementarmente na Farmácia Hospitalar.

Para analisar qualquer assunto referente à Política de Medicamentos desenvolvida neste país continental, e considerando qualquer programa de Assistência Farmacêutica desenvolvida no Brasil, é necessário relacionar duas questões importantes, que são representadas pela diversidade das nosologias existentes nas diferentes regiões do país e suas infra-estruturas, que divergem muito de região para região (Laporte, Tognoni & Rozenfeld, 1989), além da participação hegemônica do capital internacional neste mercado de vital importância (Bermudez, 1995).

É lamentável que muitos programas de Assistência Farmacêutica desenvolvidos, em todos os três níveis de governo, nem sempre levem em consideração esses aspectos relevantes. Não podemos deixar de considerar vários parâmetros, entre eles a questão da evolução do medicamento no Brasil e no mundo, que possibilitará entender a essência da problemática atual. Pela sua magnitude, passa a ser um assunto que teremos que abordar para tentar encontrar saídas que sejam compatíveis com os interesses nacionais (Bermudez, 1995).

De acordo com Gerez (1993), no inicio do século XIX, a produção de medicamentos, em nível mundial, estava centralizada em pequenas oficinas de cunho familiar que processavam artesanalmente extratos de origem animal e vegetal. Eram as chamadas Boticas, que produziam medicamentos de valor terapêutico na época, em sua maioria ainda não avaliados.

Na segunda metade do século XIX, com a revolução industrial, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, começaram a surgir empresas produtoras de medicamentos, tais como a Merck, a Eli Lilly, a Upjohn, a Smith Kline, etc., e a Beacham, na Inglaterra, que criaram uma rede de produção, distribuição e comercialização relativamente complexa para esses tipos de produtos (Gerez, 1993).

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Pelo exposto, segundo Gerez (1993), podemos afirmar que o processo de industrialização dos medicamentos, em nível mundial, se iniciou bem antes da comprovação da eficácia dos mesmos.

A comprovação da atividade terapêutica dos medicamentos produzidos em escala industriais, iniciou-se em 1889 com a apresentação, em Paris, durante a exposição do Centenário da Revolução Francesa, da Aspirina (Ácido acetilsalicílico), pela Bayer da Alemanha, e que viria a ser talvez o mais bem sucedido produto farmacêutico de todos os tempos. Em seguida, em 1907, a Hoechst, também da Alemanha, lançou o produto Salvarsan (Composto arsenobenzóico) destinado ao tratamento da sífilis. Em 1935, a Bayer lançou no mercado a Sulfanilamida, que viria a se tornar à cabeça de chave de uma série de antibacterianos (Gerez, 1993).

Em 1940, os cientistas Florey e Chain, de Oxford, divulgaram os primeiros resultados obtidos com um produto experimental, denominado de Penicilina e que viria posteriormente a se constituir na base da Indústria Farmacêutica Mundial de Antibióticos, que nos dias atuais possui grande representatividade em nível mundial para a Indústria Farmacêutica.

A evolução científica e tecnológica continuou aceleradamente, principalmente em função das pesquisas efetuadas durante as duas grandes guerras tendo, sido acelerada pelos vultosos investimentos realizados no setor, principalmente no que se refere à pesquisa e desenvolvimento, o que consolidou a participação no mercado mundial de empresas principalmente originarias da Alemanha, Estados Unidos da América e da Inglaterra, fato esse determinante para o entendimento da oligopolização e monopolização existentes no mercado farmacêutico mundial nos dias de hoje (Gerez, 1993).

Pelo exposto, podemos verificar que, se por um lado, o progresso científico e tecnológico conseguido pela indústria farmacêutica, neste século, contribuiu para a diminuição da mortalidade em função da descoberta de novas drogas de comprovada atividade terapêutica, por outro lado houve também a concentração da produção e da pesquisa e desenvolvimento em poucas indústrias que hoje dominam o conhecimento, a tecnologia e o mercado mundial (Gerez, 1993).

A indústria farmacêutica mundial é bastante concentrada, de acordo com Gerez (1993), e pode ser analisado através de dois cortes, que chamaremos de vertical e horizontal.

O corte vertical pode ser representado pelas diferentes classes terapêuticas que compõem a farmacologia aplicada e, neste caso, podemos classificar o segmento em questão como monopolizado, pois uma determinada classe terapêutica não substitui uma outra. Em outras palavras, podemos exemplificar no sentido de que hormônios não substituem antibióticos, que por sua vez não substituem antiulcerosos e assim sucessivamente.

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O verdadeiro mercado monopolizado é constituído pelo conjunto das diferentes classes terapêuticas, e a competição entre as empresas produtoras ocorre na prática em poucas classes terapêuticas.

Na maioria das classes terapêuticas, o que verificamos é a existência de monopólios internacionais, entre os quais podemos destacar a Roche com cerca de 35% do mercado de vitaminas, a Schering com 44,2% do mercado de corticosteróides, a Johnson com 34,8% do mercado de anti-helmínticos e a Biogalênica com 41,3% do mercado de diuréticos (Bermudez, 1992).

O outro corte em análise seria o horizontal, relacionado a aspectos mercadológicos e ligados à área da ciência e tecnologia, originando dois segmentos. O primeiro segmento está relacionado a um grupo de produtos que podem ser chamados de um modo geral de populares e que são vendidos pelo comércio sem receita médica, e um segundo segmento que engloba um grupo de produtos vendidos pelo comércio, sob receita médica, e que são os denominados pela indústria como medicamentos éticos. Este segundo segmento, por sua vez, pode ser subdividido em dois sub grupos: os produtos que possuem patentes vencidas, e os produtos que possuem patentes vigentes.

Os produtos cujas patentes já estão vencidas, normalmente são comercializados por várias empresas, cada uma delas utilizando uma determinada marca ou mesmo o nome genérico do fármaco.

Os produtos cujas patentes ainda estão vigentes são os comercializados por uma única empresa, que é a detentora da patente, utilizando-se normalmente de uma única marca comercial.

Para que uma determinada empresa farmacêutica consiga colocar no mercado uma nova droga, há necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que em alguns casos podem chegar a centenas de milhões de dólares (Gerez, 1993). Evidentemente, os fatos acima mencionados favorecem a concentração do mercado farmacêutico mundial, pois poucas empresas possuem a estrutura organizacional e condições econômico-financeiras para operar na área de pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos.

Para podermos entender melhor o processo de concentração e internacionalização, verificaremos a hegemonia de indústrias nacionais em alguns países em relação a outros, cuja dependência internacional é marcante. Assim, é diferenciado o percentual de nacionalização das Indústrias farmacêuticas em alguns países do mundo, como Japão (87%), Estados Unidos (85%), Suíça (72%) e Alemanha Ocidental (65%), em contraponto com países dependentes de indústrias estrangeiras, tais como Arábia Saudita (100%), Nigéria (97%), Bélgica (90%) ou Brasil (85%) (Bermudez, 1992).

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Observa-se pela evolução do mercado farmacêutico mundial que, nos últimos vinte anos, o faturamento das indústrias farmacêuticas tem crescido substancialmente, principalmente em regiões desenvolvidas, enquanto cresce paradoxalmente o número de pessoas que não tem qualquer acesso a medicamentos, presentemente estimado em mais da metade da população mundial.

No Brasil a situação é a mesma, ou seja, grande parcela da população brasileira também não tem acesso a medicamentos essenciais.

Segundo diversos autores (Gerez, 1993; WHO, 1988; Unido, 1991; Gazeta Mercantil, 1998; Pinheiro & Bermudez, 1998), o consumo de medicamentos em nível mundial vem crescendo constantemente nas últimas décadas, haja vista o consumo que era de 42,9 bilhões de dólares em 1975, passando para 79,0 bilhões de dólares em 1980, atingindo 93,0 bilhões de dólares em 1985 e chegando a 172,7 bilhões de dólares em 1990, hoje se situando no patamar dos 297,3 bilhões de dólares.

O Brasil atualmente representa um mercado de aproximadamente 10,3 bilhões de dólares anuais e está relacionado entre os cinco mercado mais importante do mundo (Gazeta Mercantil, 1998; Pinheiro & Bermudez, 1998; Sindusfarm, 1997).

Observa-se por dados obtidos em fontes internacionais que há uma tendência de estabilização dos grandes mercados mundiais e crescimento de mercados emergentes. Analisando os dados supra mencionados, verificamos que no ano de 1990, o conjunto que indicava os países centrais representava cerca de 77,5% do consumo global de medicamentos mundial, cabendo ao resto do mundo a parcela aproximada de 22,5%, apesar de sua alta concentração demográfica.

É importante assinalar que as indústrias transnacionais investem grandes somas em pesquisa e desenvolvimento. Pela análise de dez empresas verificamos que o desenvolvimento de novas drogas pode atingir valores que representam cerca de 11,7% a 23,6% do faturamento da empresa. Apesar dos altos custos para o lançamento de novos fármacos no mercado ainda assim é compensador o retorno financeiro para essas empresas, além de permitir o que poderíamos chamar de monopólio do conhecimento no mundo.

BRASIL: Assistência Farmacêutica; Histórico e Situação

Atual

Segundo Cordeiro (1991), em 1966/1967, patrocinado pelo governo militar da época, ocorreu o processo de centralização dos Institutos de Assistência e Pensões (IAPs), surgindo o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

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A Assistência Farmacêutica desenvolvida pelo antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), era levada a efeito por intermédio de farmácias conhecidas como de revendas, pois compravam medicamentos no mercado privado e revendiam os mesmos, a preço de custo, aos beneficiários da previdência social.

Podemos considerar que esse tipo de Assistência Farmacêutica era extremamente focal e excludente pois era dirigido exclusivamente aos previdenciários. Em 1971, houve a criação da Central de Medicamentos (CEME) pelo Decreto 68.806, de 25 de junho de 1971, órgão inicialmente ligado a Presidência da República (Bermudez, 1992; 1995).

Sobre a CEME iremos desenvolver comentários mais adiante e tentaremos demostrar que, apesar da idéia ser muito interessante em especial no que se refere à proposta de autonomia nacional na produção de insumos e medicamentos, houve ao longo do tempo vários fatos que desvirtuaram os ideais da proposta inicial.

No mesmo período, o Ministério da Saúde, paralelamente ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), também desenvolvia alguns programas verticalizados de Assistência Farmacêutica, direcionados para clientelas específicas, como o caso dos tuberculostáticos, hansenostáticos, saúde mental, entre outros.

O sistema mencionado funcionava no Ministério da Saúde de forma tímida e utilizando recursos escassos, de forma paralela e sem qualquer articulação com o programa existente no INPS, que foi desmembrado no inicio de 1977, com a criação do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), surgindo desse desmembramento vários Institutos, destacando-se o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS).

A CEME passou a ser vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência Social, como órgão autônomo pelo decreto 74.000, em 1974 (Bermudez, 1992), além de perder algumas atribuições estabelecidas em seu plano diretor, tais como a de agencia de fomento ao crescimento e da independência tecnológica do setor industrial farmacêutico privado nacional e estatal.

O Programa de Assistência Farmacêutica do antigo INPS, como já foi dito, direcionava suas aquisições para o mercado privado, através de compras efetuadas diretamente dos laboratórios produtores, de seus distribuidores ou de seus representantes legais, funcionando para os previdenciários como uma farmácia ou drogaria privada, portanto oferendo a vantagem somente de aquisições dos medicamentos receitados a preço de custo.

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Para o desenvolvimento desse tipo de assistência, era necessário um grande aparato logístico, incluindo-se um controle orçamentário e financeiro sofisticado com sistema de caixa e tesouraria. Os medicamentos adquiridos no mercado privado, através de licitações e outros dispositivos legais, eram armazenados pelas Centrais Distribuidoras de Medicamentos (CDMs) que centralizavam as aquisições e promoviam a distribuição para as farmácias de revenda, que por sua vez repassavam os mesmos aos segurados da previdência social, a preço de custo, através de receituário médico oriundo das unidades assistenciais da previdência.

Desta forma, o Programa existente tinha a sua lógica alicerçada no sistema de venda da totalidade de especialidades farmacêuticas existentes no mercado, como uma farmácia ou drogaria qualquer, sem controle de qualquer tipo, e da inexistência de padronização, dando margem a desperdícios enormes e outras irregularidade que davam prejuízos enormes à Previdência.

Havia diversas farmácias de revendas no Rio de Janeiro (Postos de Assistência Médica 13 de Maio, Matoso, São Francisco Xavier, entre outros), assim como em outras unidades da Federação, como Minas Gerais e São Paulo.

A partir de 1974, com o esgotamento dessa modalidade de assistência, iniciou-se, ainda no final do antigo INPS, um Programa de Assistência Farmacêutica fundamentado no fornecimento gratuito de um elenco básico de medicamentos, constituído por cerca de 30 especialidades farmacêuticas, denominado de elenco de dispensação (distribuição ambulatorial), e que estava inserido numa relação maior, contendo 150 produtos, denominada de Relação de Medicamentos Básicos (RMB), elaborada pelo Conselho Consultivo da Central de Medicamentos.

A CEME, portanto, iniciou as suas atividades utilizando como braço operacional para o seu sub sistema de distribuição o antigo INPS, e como braço operacional no sub sistema de produção, os laboratórios militares e alguns laboratórios estatais.

Os primeiros produtos distribuídos pela CEME não possuíam nomes genéricos, mas sim a marca adotada pelo laboratório fabricante. Como exemplo podemos citar o Multivitam (Vitaminas e sais minerais) produzido pelo Laboratório Químico Farmacêutico do Exército e o Nasaer (Solução de cloreto de sódio nasal) produzido pelo Laboratório Farmacêutico da Aeronáutica.

Em 1974/1975, foi agilizado o desenvolvimento, em tempo recorde, de um Programa de Assistência Farmacêutica, composto por diversas unidades de dispensação de medicamentos (Unidades de Assistência Farmacêutica - UAFs), que foram montadas e operacionalizadas com rapidez, em várias áreas do Estado do Rio de Janeiro, principalmente na baixada fluminense sob a forma de um projeto piloto.

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Houve no período em questão, investimentos em reformas de áreas físicas para serem utilizadas como unidades distribuidoras de medicamentos (UAFs), além da aquisição de materiais e equipamentos necessários para a implementação do programa, complementada pela contratação de profissionais de nível superior, principalmente farmacêuticos, bem como de nível médio (auxiliares de serviços diversos) para a operacionalização do programa.

Em 1976, iniciou-se ainda no INPS a expansão do programa de Assistência Farmacêutica para todos os Estados da Federação e a estrutura organizacional e de gestão do programa foi ampliada tanto em nível central do INPS como em nível de Superintendências regionais pela Resolução INPS n º 094092 de 16/06/1977, que regulamentou a organização e o funcionamento dos órgãos de assistência médica na sub área de Assistência Farmacêutica.

Pela referida resolução, foi criada uma Coordenação de Farmácia em nível central do INPS ligada a Secretaria de Assistência Médica da Direção Geral do referido Instituto, com a atribuição de planejar e consolidar a elaboração da programação de medicamentos para o desenvolvimento da Assistência Farmacêutica em nível Nacional, elaborar normas e rotinas de trabalho, orientar, acompanhar, supervisionar, inspecionar, controlar e realizar auditagens das atividades dos órgãos de execução.

Pela mesma resolução, foram também criadas Coordenações Regionais de Farmácia, ligadas administrativamente às Secretarias de Assistência Médicas Regionais das Superintendências em cada Estado e tecnicamente subordinado à Coordenação de Farmácia em nível de direção geral do INPS, com atribuições semelhantes às de nível central.

Também foram recriadas as Centrais Distribuidoras de Medicamentos (CDM), ligadas tecnicamente e administrativamente às Coordenações Regionais de Farmácia, com a atribuições de unidade operacional de âmbito local, para realizar as atividades de recebimento, estocagem, controle de qualidade e distribuição de medicamentos recebidos da CEME através de seu sistema próprio de distribuição, que era alicerçado em convênios ou contratos com laboratórios públicos ou privados.

Cabia as CDMs e às Coordenações de Farmácias Regionais programar e acompanhar o cumprimento do cronograma de entrega de medicamentos compactuado com a CEME para atendimento da demanda regional, e principalmente armazenar e distribuir os medicamentos programados para as unidades próprias e conveniadas, ligadas às Superintendências Regionais.

A referida resolução também normalizou a organização das Unidades de Assistência Farmacêutica Ambulatoriais e Hospitalares (UAFs), que foram consideradas unidades operacionais, com atividade de âmbito local, que ficariam encarregadas de realizarem a distribuição de medicamentos aos beneficiários da previdência social.

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Como podemos verificar, a estrutura organizacional da Assistência Farmacêutica Previdenciária era bastante complexa e robusta sendo representada por uma Coordenação de Farmácia em nível central, 23 (vinte e três) Coordenações Regionais de Farmácia nas Superintendências Estaduais e 23 (vinte e três) Centrais distribuidoras de medicamentos (CDMs), além de 41 (quarenta e uma) UAFs hospitalares e 614 (seiscentos e quatorze) UAFs em Postos de Assistência Médica (PAMs) além de UAFs conveniadas.

Nesse período, o convênio assinado com a Central de Medicamentos foi mantido e ampliado, e no final de 1977/1978, já agora no INAMPS, foi delineada uma nova estrutura organizacional para o programa, sem grandes modificações, porém com as seguintes alterações: foram extintas as Coordenações Regionais de Farmácia que passaram a ser chefias de equipes vinculadas as Coordenações de Promoção de Saúde Individual das Superintendências Regionais, mantendo-se as demais estruturas.

Após a reforma da Previdência, com a criação do SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social) e o surgimento do INAMPS, como um Instituto específico para tratar da Assistência Médica, o programa de Assistência Farmacêutica que foi inicialmente criado como piloto no Estado do Rio de Janeiro, começou na época a ter uma estrutura para a gestão do sistema, composta por uma Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF), em nível de Direção geral do INAMPS, que ficou ligada à Secretaria de Medicina Social (SMS).

Também foram reestruturadas nas Superintendências Regionais do INAMPS, as atividades desenvolvidas pelas Chefias de Equipe de Farmácia e pelas Centrais Distribuidoras de Medicamento (CDMs), que funcionavam como almoxarifados intermediários no subsistema de distribuição CEME.

As CDMs possuíam a responsabilidade pelo recebimento e armazenagem dos medicamentos repassados pela CEME e a redistribuição dos mesmos às Unidades de Assistência Farmacêuticas (UAFs), conforme solicitação das mesmas e avaliação de demanda em níveis regionais e centrais.

Entre 1976 e 1978, o programa inicialmente implantado no Rio de Janeiro, como piloto, foi implementado nos demais Estados da Federação, completando-se o processo de implantação entre os anos de 1978/1979.

Em 1980, o programa de Assistência Farmacêutica já tinha uma grande envergadura, crescendo audaciosamente, tanto em número de unidades distribuidoras de medicamentos como também em número de medicamentos dispensados, passando dos 30 produtos da origem do programa para cerca de 90 produtos no início da década de 80.

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A situação supra mencionada persistiu até aproximadamente 1985, sempre acompanhada de um volume cada vez mais substancial de recursos para a manutenção do programa. A antiga relação de medicamentos básica (RMB), inicialmente elaborada pelo Conselho Consultivo da CEME, e que em seu inicio continha apenas 150 especialidades farmacêuticas, já tinha sofrido varias alterações, e em 1985 já apresentava 475 especialidades farmacêuticas.

Nessa época, já era conhecida como Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), e tinha a sua regulamentação e aprovação através de Portaria Inter-Ministerial MS/MPAS/MEC.

No inicio do programa, eram adquiridos pelo INAMPS, somente cerca de 30 especialidades farmacêuticas exclusivamente para a dispensação em suas unidades próprias, que na sua totalidade eram compostas por 614 Postos de Assistência Médica e 41 Hospitais (Cordeiro, 1991), números estes que foram expandidos em função da incorporação ao programa de toda a demanda das unidades próprias em nível ambulatorial como hospitalar, bem como para o atendimento de diversos convênios, o que ocasionou uma situação bastante crítica.

Em 1986, o elenco de medicamentos destinados a dispensação já atingia a 170 especialidades farmacêuticas e o programa de Assistência Farmacêutica tentava cobrir as necessidades de medicamentos de 655 Unidades Próprias do INAMPS (Cordeiro, 1991), além de 3395 Unidades Farmacêuticas convenentes, utilizando praticamente todo o arsenal de medicamentos disponível na RENAME, além da incorporação cada vez mais intensa de novidades terapêuticas que eram lançadas no mercado, principalmente àquelas utilizadas em nível hospitalar e para atendimento de programas especiais.

Apesar das diversas tentativas para minimizar o custo do programa de Assistência Farmacêutica desenvolvido no período compreendido entre 1987 a 1990, poucos foram os resultados obtidos, culminando em 1990 com a transferência do INAMPS do Ministério da Previdência e Assistência Social para o Ministério da Saúde.

Com a passagem do INAMPS para o Ministério da Saúde, aos poucos todo o aparato do programa de Assistência Farmacêutica foi sendo descentralizado para os Estados, culminando com a extinção da Coordenadoria em nível nacional e das estruturas congêneres em nível regional, representadas pelas CDMs e chefias de equipes, entre 1991/1992, sendo finalmente, em 1993, extinto o próprio INAMPS.

Após a extinção da Coordenadoria de Farmácia, e do próprio INAMPS, as responsabilidades pelos programas de Assistência Farmacêutica desenvolvidos em nível central passaram para a esfera estadual e em nível federal só ficaram programas específicos sob a responsabilidade das Coordenações dos Programas verticalizados do Ministério da Saúde, em número de dezesseis, que respondiam

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pelo atendimento de 125 especialidades, cuja responsabilidade pelo suprimento foi mantida na CEME, até a sua desativação em julho de 1997.

O processo de desativação da Central de Medicamentos, encerrado no exercício de 1997, em que pese às críticas à sua atuação e a alocação orçamentaria quase que exclusivamente para a aquisição de medicamentos, acarretou a realocação de suas atividades, a pulverização em diversos órgãos do Ministério da Saúde e uma perda da interlocução por parte das esferas estadual e municipal do Sistema Único de Saúde (SUS).

A questão mais premente e que vem sendo cada vez com maior destaque objeto de inclusão na agenda de discussão no âmbito das três esferas de governo, é o processo de descentralização e a definição das responsabilidades de aquisição de medicamentos (Pinheiro & Bermudez, 1998), conforme iremos discutir mais adiante.

Entre as principais distorções do Programa de Assistência Farmacêutica desenvolvida pela Previdência, destacamos os seguintes:

♦ Investimento muito alto em relação aos resultados obtidos no período de atuação do convênio INAMPS/CEME, que foi muito baixo em relação às necessidades dos programas que estavam em andamento;

♦ Universalização do atendimento de medicamentos sem a devida contrapartida de cobertura orçamentária/financeira necessária, e sem qualquer planejamento;

♦ Não cumprimento dos cronogramas de entrega dos medicamentos pela CEME, que por sua vez repassava a responsabilidade aos laboratórios contratados, o que ocasionava duplicidade dos gastos pela necessidade que possuíam os hospitais e ambulatórios que compunham a rede de saúde de adquirirem medicamentos similares na rede privada diante da ausência física dos produtos da RENAME;

♦ Baixa resolutividade no âmbito da assistência médica ambulatorial, pela inconstância dos estoques para dispensação, ocasionando, entre outros problemas, o aumento das internações hospitalares;

♦ Inadequação da programação anual de medicamentos, elaborada com base em grande número de variáveis e, muitas vezes, não direcionada convenientemente às necessidades reais da clientela, ou mesmo dados epidemiológicos e nosologias prevalentes, levando assim a perdas significativas de medicamentos;

♦ Atrasos significativos dos laudos das amostras enviadas pelos almoxarifados centrais nos Estados ao Controle de Qualidade de Referência da CEME, causando retenção dos estoques nos almoxarifados em questão, como também a distribuição de produtos à clientela que eram considerados reprovados após serem consumidos;

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♦ Carência de Recursos Humanos em número e qualificação em todos os níveis (coordenação, almoxarifados, farmácias hospitalares e ambulatórios, unidades conveniadas);

♦ Falta de pessoal técnico capacitado (farmacêutico) para manter o nível do Programa, principalmente nas unidades de Assistência Farmacêutica do interior do País, onde em quase sua totalidade não existia o profissional responsável. As unidades das capitais e almoxarifados contavam com recursos limitados face aos seus encargos e aos poucos recursos existentes;

♦ Impossibilidade de se manter um programa de supervisão nas unidades de Assistência Farmacêutica hospitalares e ambulatórios da rede de saúde como também, nas unidades os convenentes, forma de se manter o nível de atuação das equipes de base e de acompanhar o desenvolvimento do Programa;

♦ Dificuldade de transporte, tanto para supervisão como para distribuição de medicamentos, em todos os níveis (Estadual e Municipal),

♦ Armazenagem realizada sem levar em consideração as boas práticas de armazenamento;

♦ Deficiência nos Estados de Instâncias gestoras adequadas para a Coordenação do Programa de Assistência Farmacêutica (CMB – Coordenações de Medicamentos Básicos) , e que seriam indispensáveis à continuidade do fluxo de informações emanadas pela Central de Medicamentos e pelo nível central do INAMPS;

♦ Áreas e equipamentos insuficientes dos almoxarifados e Unidades de Assistência Farmacêutica em sua maioria, por falta de planejamento adequado à sua finalidade;

♦ Deficiência de uma estrutura organizacional adequada para gerência e controle de estoque de medicamentos, tanto em nível de almoxarifado central como em nível de Unidades de Assistência Farmacêutica;

CEME: Um Projeto Estratégico Autonomista para o País

A origem da CEME, em 1971, teve como princípio à criação de um projeto autonomista para o país no que tange a produção de medicamentos, fármacos e outros insumos destinados à indústria farmacêutica em função de um processo em curso de desnacionalização do setor.

No Brasil, entre o fim da segunda guerra mundial e o inicio da década de 70, houve um intenso processo de desnacionalização do setor privado de produção de medicamentos no Brasil, caracterizado pela absorção de trinta e três empresas nacionais por suas similares transnacionais. No período supramencionado, foram absorvidos laboratórios importantes, entre os quais podemos destacar :

♦ Laboratório Silva Araújo, absorvido pelo Laboratório Russel, de origem francesa;

♦ Laboratório Fontoura, absorvido pelo Wyeth, de origem Norte Americana;

♦ Laboratório Moura Brasil, absorvido pelo Laboratório Merrel, de origem Norte Americana;

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♦ Laboratório Endochimica, absorvido pelo Laboratório Mead Johnson, de origem Norte Americana;

♦ Laboratório Crino-Seda, absorvido pelo Laboratório Johnson & Johnson, de origem Norte Americana;

Como conseqüência, o mercado farmacêutico brasileiro passou a ser dominado pelo segmento das empresas transnacionais, fato esse que persiste até os dias atuais, com a oligopolização do setor farmacêutico no País, apesar dos esforços realizados pelo Governo Federal para reverter à situação em questão, principalmente nas décadas de 70 e 80 (Bermudez, 1992, 1995; Bermudez & Possas, 1995; Bermudez & Bonfim, 1999).

Em função da situação exposta e da ausência na área Governamental de uma Política de Medicamentos e de Assistência Farmacêutica que viesse efetivamente ao encontro dos interesses Nacionais, em 1971 houve a Criação da Central de Medicamentos (CEME) pelo Decreto 68.806, de 25 de junho de 1971, órgão inicialmente ligado a Presidência da República (Bermudez, 1992; 1995).

O Governo Brasileiro criou a Central de Medicamentos (CEME), com o objetivo de assegurar medicamentos essenciais à população carente brasileira, e tendo como pano de fundo a implementação de uma política de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento e ao fortalecimento do sistema produtivo nacional, tanto estatal como privado, alem da elaboração de um sistema de controle de qualidade de referência que garantisse a alta qualidade dos medicamentos distribuídos à população.

Com a criação da CEME, inicialmente vinculada a Presidência da República por razoes estratégicas, houve alguns avanços, entre os quais a elaboração um plano diretor desenvolvimentista e de uma padronização de medicamentos essenciais (atual RENAME), que serviu como ponto de partida para a definição de uma Política de Medicamentos de âmbito nacional e um Programa de Assistência Farmacêutica mais racionalizado voltado principalmente para o atendimento da população mais carente.

Apesar dos esforços desenvolvidos pelas sucessivas administrações da Central de Medicamentos, e dos avanços conseguidos desde sua criação até a sua extinção em 1997, percebemos que persiste o diagnóstico efetuado em 1970.

No que se refere à importação de matérias-primas e outros insumos a situação também não se modificou substancialmente, apesar de vários fármacos nacionalizados através do incentivo do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da CEME e que já estão sendo comercializados. Este segmento teve avanços consideráveis em função das atividades desenvolvidos pela CODETEC (Companhia de Desenvolvimento Tecnológico), que tinha ligação com a Universidade de Campinas e que foi criada como iniciativa privada, com o apoio financeiro da CEME e que infelizmente também foi extinta.

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O objetivo perspícuo da CODETEC foi o de desenvolver tecnologias de processos e de produtos, havendo recebido incentivos para conferir prioridade ao setor farmacêutico durante vários anos, principalmente para o desenvolvimento de fármacos constantes da RENAME.

Análise da CEME nos 26 anos de sua existência

Desde sua criação, a CEME conviveu com inúmeros problemas, entre os quais, a administração de recursos orçamentários /financeiros escassos para o desenvolvimento de um Programa de Assistência Farmacêutica que atendesse às necessidades básicas da população brasileira.

Além dos recursos escassos, a situação ao longo do tempo se agravou em função da CEME desde seu inicio priorizar como atividade nobre à aquisição e distribuição de medicamentos, o que a tornou uma grande central de compras e de distribuição de medicamentos, relegando a planos inferiores atividades como controle de qualidade, pesquisa e desenvolvimento e modernização de unidades operacionais.

Na realidade, a CEME, no decorrer de sua existência, se tornou uma grande compradora e distribuidora de medicamentos para atendimento de demandas crescentes, distorcendo a finalidade inicial prevista em seu Plano Diretor, e ignorando principalmente que um Programa de Assistência Farmacêutica é composto de aspectos extremamente complexos, tais como elaboração de elencos de medicamentos baseados no tipo de rede existente e das nosologias prevalentes, a necessidade de modernização da rede de armazenamento, treinamento de pessoal, aperfeiçoamento do processo de programação, entre outros.

Outro fator relevante que merece ser destacado, refere-se às fontes de financiamento do órgão, que tinha como receita principal recursos repassados através de convênios firmados com a Previdência social.

Analisando os orçamentos de cada exercício da CEME, podemos verificar que sua maior fonte de financiamento, representada pelo convênio com a Previdência Social, sofria constantes oscilações de exercício para exercício, o que prejudicou o desenvolvimento global do Programa na própria Previdência e mostra uma pequena participação de outros níveis de Governo, tais como Estados e Municípios ou mesmo de outras instâncias federais.

A própria aplicação dos recursos orçamentários e financeiros disponíveis era realizada através de sistema complexo e burocratizado, o que inviabilizava determinadas operações, como as importações de matérias primam que necessitavam de tempo hábil para serem realizadas.

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Outro fator que pode ser destacado como problema eram os eventuais contingenciamentos orçamentários efetuados pelo executivo e que muitas vezes invibiabilizavam o cumprimento do planejamento orçamentário/financeiro, gerando impacto negativo nas operações básicas que eram desenvolvidas.

A elaboração da proposta orçamentária para cada exercício também era bastante complexa, pois tinha sua base em normas e critérios estabelecidos por outras esferas governamentais, como os Ministério da Fazenda e Planejamento e o próprio Congresso Nacional o que demandava negociações sempre difíceis para a obtenção e liberação dos recursos necessários em tempo hábil.

Outro aspecto relevante, que merece ser destacado, é a Relação de Medicamentos Essenciais (RENAME) que foi elaborada como um instrumento de padronização poderoso, pelo Conselho Consultivo do Órgão, para utilização pelos órgãos oficiais, com o objetivo de disciplinar a utilização de medicamentos e regular o consumo dos mesmos, contribuindo desta forma para a existência de uma lista de medicamentos reduzida e que atendesse as necessidades das nosologias mais freqüentes. Entretanto, o que se verificava na prática era a existência de uma RENAME desmoralizada junto à categoria médica e a outros profissionais de saúde, em função principalmente da pouca divulgação e da ausência física dos medicamentos nas Unidades de Saúde e também em função do atrasos ocorridos na revisão da listagem em questão.

Podemos destacar também aspectos problemáticos relativos ao sistema de produção e distribuição da CEME que durante seu período de existência apresentou inúmeras distorções. Este era representado por três segmentos: estatal (oficial), privado nacional e privado transacional. Conforme costa dos relatórios de atividades da Instituição, podemos verificar que entre 1985 e 1989, houve um crescimento substancial da participação do segmento produtivo privado nacional na produção global alocada pela CEME, o que mostra uma tendência bem nítida de privatização do sistema, o que levou em curto prazo os laboratórios estatais a uma situação de insolvência.

A partir de 1985, observa-se uma tendência na Central de Medicamentos de adquirir no mercado privado medicamentos que eram produzidos pelo segmento estatal com a utilização do argumento de que o sistema produtivo oficial não era eficiente e não conseguia atender em tempo hábil a produção alocada pela CEME.

A posição supramencionada é questionável, tendo em vista que o órgão também constantemente atrasava as remessas de matérias primas adquiridas centralizadamente para o sistema estatal, o que evidentemente contribuía para atrasos na produção.

Outra atividade que vinha sendo desenvolvida pela área de produção da CEME era a aquisição de matérias primas para o atendimento da rede oficial de laboratórios.

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As matérias primas em referência eram adquiridas pelo próprio órgão, via INTERBRAS, e também pela Fundação do Remédio Popular (FURP) de São Paulo, e eram entregues ao sistema oficial normalmente com atrasos significativos o que comprometia o atendimento dos planos de produção contratados.

O sistema de controle das aquisições de matérias primas bem como a sua distribuição para a rede de laboratórios oficiais também foi sempre problemática, apesar das tentativas realizadas inclusive com a ajuda de sistemas informatizados.

As matérias primas importadas geralmente demoravam, em média, cerca de 6 meses entre a emissão do pedido e o recebimento do produto nos laboratórios oficiais e são os principais responsáveis pelos atrasos dos planos de produção (Ordens de Produção- OPs) supramencionados. Tanto os contratos efetivados, após licitações, com o setor privado de produção como os convênios firmados com os laboratórios oficiais para produção de medicamentos de programações oriundas das diversas esferas federais consolidadas na CEME eram operacionalizadas através de um documento denominado Ordem de Produção (Ops), acompanhadas de um cronograma de entrega para o setor produtivo, que na maioria das vezes atrasava provocando desabastecimento de medicamentos para população.

A metodologia de distribuição utilizada pela CEME era em parte descentralizada. Os medicamentos adquiridos no sistema produtivo oficial, através dos planos de produção contratados, e no sistema produtivo privado através de licitações eram distribuídos diretamente aos diversos órgãos clientes da CEME, representados pelo INAMPS, Secretarias Estaduais de Saúde, Secretarias Municipais de Saúde, dentre outros convênios. Os laboratórios contratados utilizavam documentos conhecidos como ordens de distribuição (ODs) emitidas pela Central de Medicamentos. Na realidade as ODs eram cópias das Ops e tinham o objetivo de permitir ao cliente o controle dos cronogramas de entrega das produções contratadas pelo sistema. Resumindo, a CEME realizava os contratos e convênios com o setor produtivo e os medicamentos eram distribuídos diretamente aos almoxarifados centrais dos clientes das três esferas governamentais.

Entretanto, a partir de 1988/1989, foram colocados em operação três almoxarifados chamados de reguladores, em Curitiba, Goiás e no próprio Distrito Federal, que foram utilizados para o armazenamento de medicamentos e de matérias-primas. O custo operacional para a manutenção desses almoxarifados era bastante elevado e o benefício ao sistema foi extremamente questionável.

Em relação ao programa de Pesquisa e Desenvolvimento, desde sua criação, em 1971, a CEME tentava perseguir os objetivos assinalados no seu Plano Diretor.

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Entretanto, tímidos avanços foram conseguidos, em função, principalmente, dos recursos escassos em percentuais do orçamento global, aplicados nesta atividade e pela ausência de fluxo orçamentário/financeiro adequado.

A grande maioria das tecnologias na área de síntese de fármacos foram desenvolvidas pela Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (CODETEC) de Campinas, e por vários laboratórios privados nacionais, tais como: Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos, Forgril Química Ltda, Microbiológico, P.V.P. S/A, Vitochem Química e Metais, Billi Farmacêutica, Cazi Química Farmacêutica, IQC, IQT, União Química, e outros sempre financiados pela CEME.

Não existiu nenhum projeto de síntese de fármacos financiado pela CEME no Sistema Oficial de Produção, com exceção de um único operacionalizado pela FIOCRUZ.

O outro programa de pesquisa da CEME, desenvolveu-se na área de plantas medicinais, com o estabelecimento de dois elencos de plantas, num total de sessenta e nove espécies, cujos estudos Toxicológicos, Farmacológicos, Pré-Clínicas e Clínicos eram elaborados por diversos pesquisadores com o objetivo de determinar a atividade terapêutica das plantas em questão, e aplicá-las dentro do possível no tratamento da população carente a um custo mais baixo. Dez plantas tiveram suas atividades terapêuticas comprovadas, entre eles a Espinheira Santa que apresenta atividade semelhante à da Cimetidina.

Outro ponto de estrangulamento era o número insuficiente de recursos humanos qualificados para a implementação do Projeto/Atividade em análise na Instituição. É importante assinalar a ausência no órgão de um Conselho Científico de alto nível que pudesse analisar os projetos apresentados e aprová-los, ou não, de acordo com uma política de auto suficiência em medicamentos básicos.

O Brasil não possuía um Programa de Pesquisa e Desenvolvimento bem estruturado na área de medicamentos. Vários Órgãos no Governo Federal respondiam por atividades nessa área, o que criava paralelismo de ações com conseqüente ineficiência dos Programas.

No que tange ao Controle de Qualidade, este projeto atividade em seu início foi de extrema importância para a evolução dessa área, principalmente nas Universidades Federais que possuíam convênio com a CEME e funcionavam como laboratórios de Controle de Qualidade de Referência.

Foi através do Controle de Qualidade da CEME que diversas Faculdades de Farmácias no Brasil, conseguiram se aparelhar convenientemente para prestar serviço à Instituição, o que indiretamente contribuiu para o aperfeiçoamento da disciplina nas Faculdades conveniadas.

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Apesar da grande importância da atividade de Controle de Qualidade, no que se refere a padronizações de técnicas, garantia dos produtos produzidos e aprimoramento do aperfeiçoamento técnico profissional, acreditamos que a atividade em questão se mostrou ineficiente e improdutiva em função do estabelecimento de rotinas que não sofriam revisões periódicas e dos escassos recursos orçamentários/financeiros alocados à atividade.

Outro projeto/atividade desenvolvido pela CEME era a denominado de Modernização de Unidades Operacionais e que tinha como finalidade dirigir recursos para a modernização das seguintes estruturas:

• Unidade de Distribuição (Almoxarifados);

• Unidades de Produção (Laboratórios Oficiais);

• Laboratórios de Controle de Qualidade do Sistema de referência;

• Informática.

O referido Projeto/Atividade não atendeu a sua finalidade pois não havia uma política global estabelecida para a atividade em questão, e os recursos aplicados, além de escassos, eram distribuídos sem critério e em muitos casos visando à obtenção de dividendos políticos.

A análise dos projetos encaminhados a CEME era extremamente individualista, e visava atender somente solicitações de reformas e de compras de equipamentos de forma isolada e descompromissada com uma política global de modernização das diversas áreas do sistema CEME.

O ponto de estrangulamento principal sempre foi representado pelos escassos recursos alocados ao projeto. Entretanto, outras distorções tais como número reduzido número de técnicos qualificados, clientelismo, personalismo e falta de critérios técnicos para a análise dos projetos, contribuíam muito para o pequeno índice obtido no que se refere ao custo/benefício da atividade.

No que se refere à estrutura organizacional do órgão, o elenco de competência da CEME foi definido pelo Decreto nº 75.985, de 17 de julho de 1975, e sua estrutura organizacional oficial, foi sendo modificada ao longo das diversas administrações com o objetivo de agilizar as atividades da instituição.

Entretanto, tais modificações, em termos estruturais se mostraram ineficientes e provocavam mais distorções e perplexidade nos servidores do órgão do que benefícios.

Uma das metas perseguida insistentemente pelos técnicos da CEME sempre foi à transformação do órgão em Empresa. Pela medida provisória nº 151 de 15 de março de 1990, o Governo Federal autorizou a transformação da CEME, em Empresa Pública, provavelmente considerando o leque de atribuições do órgão, que entretanto não foi regulamentada.

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O processo de desativação da Central de Medicamentos, encerrado no exercício de 1997, em que pese às críticas à sua atuação e a alocação orçamentária quase que exclusivamente para a aquisição de medicamentos, acarretou a realocação de suas atividades, e a pulverização das mesmas em diversas Secretarias do Ministério da Saúde e por isso acreditamos que houve uma perda da interlocução por parte das esferas estadual e municipal do Sistema Único de Saúde (SUS).

Com INAMPS e a CEME Extintos; É possível avançar na

Política de Medicamentos e na Descentralização?

Nos tempos atuais, considerando a política explicita e o processo de descentralização estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a questão mais premente, e que vem sendo objeto de inclusão na agenda de discussão no âmbito das três esferas de governo, é a continuidade do processo de descentralização e a definição das responsabilidade de aquisição de medicamentos (Pinheiro & Bermudez, 1998).

Neste contexto, a Assistência Farmacêutica sempre foi uma atividade relegada a segundo plano e tratada geralmente em caráter individual pelos programas de controle de doenças e outros agravos à saúde.

A desativação da CEME, a pulverização de suas atribuições e a demanda crescente de custos, levou ao Ministério da Saúde a implementar um amplo processo de discussão e de consultas à sociedade, que redundou no documento “Política Nacional de Medicamentos”, regulamentada pela Portaria n º 3.916, de 30 de outubro de 1998 do Ministério da Saúde e que determina as seguintes diretrizes e prioridades (MS, 1999; Pinheiro & Bermudez, 1998):

Diretrizes:

♦ Adoção de relação de medicamentos essenciais;

♦ Regulamentação sanitária de medicamentos;

♦ Reordenação da Assistência Farmacêutica;

♦ Promoção do uso racional de medicamentos;

♦ Desenvolvimento científico e tecnológico;

♦ Promoção da produção de medicamentos;

♦ Garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos;

♦ Desenvolvimento e capacitação de recursos humanos.

Prioridades:

♦ Revisão permanente da RENAME;

♦ Assistência Farmacêutica;

♦ Promoção do uso racional de medicamentos;

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Cabe registro ao Programa Farmácia Básica, implementado pelo Ministério da Saúde a partir de 1997, com o objetivo de possibilitar o acesso das populações de municípios de pequeno porte a um elenco de medicamentos destinados à atenção primária de saúde. Foram selecionados os municípios com menos de 21.000 habitantes, recebendo um elenco de 40 medicamentos, com previsão em uma segunda etapa a descentralização dos recursos correspondentes (MS, 1997a, 1997b, 1997c; Bermudez, Rozenfeld & Portela, 1997; Cosendey et al, 2000).

Esta segunda etapa de descentralização foi implementada a partir de 1999 em todas as unidades da Federação, encontrando-se atualmente em processo de avaliação pelo Ministério da Saúde

É importante assinalar que a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), cuja última revisão oficial havia ocorrido em 1983, foi revista em 1998 pelo Ministério da Saúde e aprovada pela Portaria n º 507 de 23/04/99, e revista em 2000, fato que efetivamente insere o Brasil nas ações propostas pela Organização Mundial da Saúde no que se refere a promover a expansão da população aos medicamentos essenciais.

Conclusões

Finalizando é possível apontar como principais distorções do Programa de Assistência Farmacêutica desenvolvido pela Previdência, várias questões, dentre as quais o investimento muito alto em relação aos resultados obtidos no período de atuação do convênio INAMPS/CEME, e muito baixo em relação às necessidades do programa que estavam em andamento.

Outra questão relevante se refere à universalização do atendimento de medicamentos sem a devida contrapartida de cobertura orçamentária/financeira necessária, e sem o planejamento adequado, bem como o não cumprimento dos cronogramas de entrega dos medicamentos pela CEME, que por sua vez repassava a responsabilidade aos laboratórios contratados, o que ocasionava duplicidade dos gastos pela necessidade que possuíam os hospitais e ambulatórios de adquirirem medicamentos similares na rede privada diante da ausência física dos produtos da RENAME. Pode-se destacar ainda a baixa resolutividade no âmbito da assistência médica ambulatorial, pela inconstância dos estoques para dispensação (distribuição externa), ocasionando, entre outros problemas, o aumento das internações hospitalares.

Outro fator negativo importante era representado pela inadequação da elaboração da programação anual de medicamentos, elaborada principalmente levando em consideração séries históricas e que, na maioria das vezes, não representavam convenientemente as necessidades efetivas prevalentes, o que levava a perdas significativas de medicamentos por expiração de prazo de validade.

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Os atrasos significativos dos laudos das amostras enviadas pelos almoxarifados centrais nos estados ao Controle de Qualidade de Referência da CEME, causavam muitas vezes retenção dos estoques de medicamentos existentes nos respectivos almoxarifados, ocasionando a falta dos produtos nas Unidades de Assistência Farmacêutica (UAFs). Ocorreram casos em que produtos foram liberados para consumo antes do recebimento de laudos do Controle de Qualidade de Referência e que eram considerados reprovados após terem sido consumidos. A carência de recursos humanos em número e qualificação em todos os níveis (coordenação, almoxarifados, farmácias hospitalares e ambulatórios, unidades conveniadas e na própria CEME), também foi sempre uma constante. A falta de pessoal técnico capacitado (farmacêutico) para manter o nível do Programa, principalmente nas unidades de Assistência Farmacêutica do interior do País, onde em quase sua totalidade não existia o profissional responsável, era uma constante. As unidades das capitais e almoxarifados contavam com recursos limitados face aos seus encargos e aos poucos recursos existentes. A impossibilidade de se manter um programa de supervisão nas unidades de Assistência Farmacêutica hospitalares e ambulatórios da rede de saúde, como também nas unidades convenentes, como forma de se manter o nível de atuação das equipes de base e de acompanhar o desenvolvimento do Programa, era um fato comum.

Outro problema crítico era a dificuldade de transporte, tanto para supervisão como para a distribuição de medicamentos, em todos os níveis (Estadual e Municipal). A armazenagem de medicamentos era realizada sem levar em consideração as boas práticas de armazenamento em todos os níveis. A estrutura, deficiente nos estados, de suas Instâncias gestoras para a Coordenação do Programa de Assistência Farmacêutica (CMB – Coordenações de Medicamentos Básicos), e que eram indispensáveis à continuidade do fluxo de informações emanadas pela Central de Medicamentos e pelo nível central do INAMPS, também constituiu um fator de distorção.

As áreas e equipamentos quase sempre não atendiam às necessidades dos almoxarifados e Unidades de Assistência Farmacêutica, em sua maioria por falta de planejamento adequado à sua finalidade e principalmente em função dos escassos recursos orçamentários/financeiros disponíveis.

A deficiência de uma estrutura organizacional adequada para gerência e controle de estoque de medicamentos, tanto em nível de almoxarifado central como em nível de Unidades de Assistência Farmacêutica também foi sempre uma constante.

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