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Diagnóstico da pesca artesanal marinha do município de Garopaba (SC): potencialidades e obstáculos para a gestão adaptativa para o ecodesenvolvimento

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Academic year: 2021

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(1)ANA CARLA LEÃO FILARDI (oceanóloga). DIAGNÓSTICO DA PESCA ARTESANAL MARINHA DO MUNICÍPIO DE GAROPABA (SC): POTENCIALIDADES E OBSTÁCULOS PARA A GESTÃO ADAPTATIVA PARA O ECODESENVOLVIMENTO. Florianópolis,SC 2007.

(2) i Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-graduação em Geografia. Ana Carla Leão Filardi. DIAGNÓSTICO DA PESCA ARTESANAL MARINHA DO MUNICÍPIO DE GAROPABA (SC): POTENCIALIDADES E OBSTÁCULOS PARA A GESTÃO ADAPTATIVA PARA O ECODESENVOLVIMENTO. Orientador: Jarbas Bonetti Co-orientador: Paulo Freire Vieira. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Área de concentração: Utilização e Conservação de Recursos Naturais. Florianópolis/SC, setembro de 2007..

(3) ii AGRADECIMENTOS. O presente trabalho contou com a ajuda sincera de diversas pessoas, mas creio que devo um especial agradecimento a todos os pescadores com os quais tive a oportunidade de conversar, que confiaram em mim e tiveram a boa vontade e a paciência de me explicar um pouco os seus saberes, sua cultura, sua arte. Além de me darem a honra de compartilhar do peixe pescado e da acolhida dos seus ranchos de pesca. Gostaria de destacar, em especial, Seu Peduca e Seu Mingote, da Gamboa; o Adilson, do Siriú; Seu Paulinho, do Morrinhos; o João e sua equipe, da Garopaba – com os quais tive a honra de embarcar e acompanhar a colocação do espinhel de fundo –; Seu Aniseto e o Jóca, do Silveira; Seu Lelo, Seu Alcino e Seu Hilário, da Ferrugem; Seu Anastácio e Seu Virgínio, do Ouvidor e Porto Novo; Lédio e Seu Domingos, Tóga, Nilto, Veronês, Joãozinho, Tarso, Lilo e todos os outros pescadores da equipe do Portinho e da Vermelha.. Gostaria de agradecer ao Prof. Jarbas Bonetti, orientador, por ter acolhido o projeto de pesquisa desde o início, apoiando ativamente suas diferentes fases. Agradeço-lhe ainda por sua compreensão, sua atenção, suas sugestões e sua confiança; mas, principalmente, pela parceria com a qual pude contar em todos os momentos, em especial nos mais difíceis.. Ao Prof. Paulo Freire Vieira, co-orientador, que acolheu minhas idéias, desde os primeiros contatos, ajudando-me a aperfeiçoá-las e transformá-las em pesquisa. Agradeço pelo apoio incondicional ao desenvolvimento da pesquisa e pelos equipamentos disponibilizados. Sou-lhe grata ainda por me abrir as portas para a teoria dos recursos comuns e do ecodesenvolvimento. Aprendi muito com nossas reuniões, discussões e aulas. E com as atividades desenvolvidas no âmbito do NMD. Agradeço por toda a confiança, atenção e, especialmente, pela amizade.. À CAPES, pela bolsa de estudo no segundo ano do curso. Ao Prof. Norberto Horn Filho, pelo auxílio prestado na identificação visual das características.

(4) iii oceanográficas das praias. E à Prof. Andréa Freire, pelo material emprestado para a identificação das espécies de pescado.. Agradeço também aos amigos que me ajudaram muito com ensinamentos e orientações para o trabalho com o SIG: o engenheiro ambiental Rodrigo Chiesa e o oceanógrafo Msc. Renato Lélis.. Agradeço ainda àqueles que contribuíram durante as saídas de campo. Em especial, ao pescador Lédio da Silveira e sua família, que me acolheram diversas vezes na sua casa. Ao Dolizete, à Silvana, ao Franco e à Andreza Martins da Fundação Gaia/Werlang, que colaboraram muito com o trabalho me hospedando no centro de Garopaba, inúmeras vezes. Ao motorista da UFSC, Francisco Assis de Souza, que se tornou um parceiro de trabalho, sempre disposto, interessado e paciente.. Agradeço à Dete (Maria Elizabeth Carvalho da Rocha), chefe da APA da Baleia Franca e à sua equipe – Patrícia Serafini e Marcos Taniwaki –, pelo apoio e interesse na pesquisa. Ao Zé Luís, da Secretaria do Patrimônio da União, pela atenção e informações disponibilizadas. À Delegacia de Polícia do Município de Garopaba pela pesquisa de boletins de ocorrência relativos aos conflitos envolvendo pescadores.. A todos os colegas do Núcleo de Meio Ambiente e Desenvolvimento, que de um modo ou de outro também contribuíram, em especial o Caio Martins e o Lucas Canestri. E aos colegas do Laboratório de Oceanografia Costeira, especialmente a Bianca Martins.. À minha família e aos meus pais, em especial, que me apoiaram com amor e de forma incondicional em mais essa jornada... e mantiveram a remessa das especiarias da Bahia, sem as quais esse trabalho não seria possível!. Ao Gabriel, meu eterno companheiro e porto seguro, onde pude me abrigar em todas as tempestades e evitar possíveis naufrágios....

(5) iv RESUMO. Esse trabalho apresenta um diagnóstico sócio-ecológico da pesca artesanal marinha no município de Garopaba (SC), procurando reconhecer os principais condicionantes da crise pesqueira e identificar os potenciais e os obstáculos locais para a gestão adaptativa para o ecodesenvolvimento. Os dados e informações necessários foram obtidos por meio de pesquisa documental, entrevistas, conversas temáticas informais, observação em campo, registros fotográficos, identificação de espécies de peixe e um sistema de informações geográficas. Foram identificados 11 núcleos pesqueiros, distribuídos em 9 praias na área de estudo; as principais espécies pescadas; as embarcações; as artes e os sistemas de pesca. Foram também identificadas as principais relações sociais que permeiam o trabalho da pesca local e as instituições formais de gestão do setor pesqueiro. Utilizando o modelo de análise. do. enfoque. da. gestão. dos. recursos. comuns. para. o. ecodesenvolvimento, o trabalho avaliou as relações entre o modelo formal de gestão da pesca artesanal e as práticas destrutivas de uso dos recursos pesqueiros e a ocorrência de conflitos e competições entre os usuários. Avaliou ainda as relações entre as instituições formais de gestão e as características biofísicas, tecnológicas e sociais dos sistemas de pesca locais..

(6) v ABSTRACT. This thesis presents a social-ecological appraisal of small-scale marine fishery of Garopaba (SC) district searching for the major forcing factors of fisheries crisis and looking for local potentialities and barriers for adaptive management for ecodevelopment. Methodology included documental research, interviews, informal thematic talking, observation, photographs, fish species identification and geographic information system. It was recognized 11 fishing communities distributed in 9 beaches at the study area. It was also identified the most important fishing species, types of boats, and fishing gear and systems. Characteristic social relations of local fisheries systems and formal fishery management institutions were described. Relations between formal small-scale fishery management plan and destructive practices associated with the use of fishing resources and the occurrence of conflicts and competition between resource users were analyzed using the analytical framework of common resources management for ecodevelopment. Relations between formal management. institutions. and. biophysical,. technological. characteristics of local fisheries systems were also investigated.. and. social.

(7) vi LISTA DE FIGURAS. Figura 1: Localização da área de estudo...................................................... Figura 2: Modelo de análise dos recursos comuns....................................... Figura 3: Distribuição dos núcleos pesqueiros na área de estudo................ Figura 4: Vista da Gamboa............................................................................ Figura 5: Praia da Gamboa........................................................................... Figura 6: Vista da Praia do Siriú e do cordão de dunas................................ Figura 7: Praia do Siriú.................................................................................. Figura 8: Enseada da Praia da Garopaba..................................................... Figura 9: Praia da Garopaba, Prainha e Praia da Vigia................................ Figura 10: Praia da Vigia............................................................................... Figura 11: Praia do Silveira vista do canto norte........................................... Figura 12: Praia do Silveira........................................................................... Figura 13: Vista da Ferrugem........................................................................ Figura 14: Praia da Ferrugem e da Barra..................................................... Figura 15: Praia da Barra (esquerda) e Ilhote da Barra................................ Figura 16: Canto norte da Praia do Ouvidor................................................. Figura 17: Praia do Ouvidor, Portinho e Praia Vermelha.............................. Figura 18: Portinho........................................................................................ Figura 19: Vista da Praia Vermelha.............................................................. Figura 20: Urophysis brasiliensis................................................................... Figura 21: Pomatomus saltator..................................................................... Figura 22: Micropogonias furnieri.................................................................. Figura 23: Cynoscion jamaicensis................................................................. Figura 24: Peprilus paru................................................................................ Figura 25: Cynoscion striatus........................................................................ Figura 26: Chloroscombrus chrysurus........................................................... Figura 27: Trachinotus carolinus................................................................... Figura 28: Kyphosus incisor.......................................................................... Figura 29: Scomberomorus brasiliensis........................................................ Figura 30: Mugil liza...................................................................................... Figura 31: Mugil platanus.............................................................................. Figura 32: Outras espécies........................................................................... Figura 33: Canoa a remo, lancha e bote....................................................... Figura 34: Distribuição das embarcações no litoral da área de estudo........ Figura 35: Bote.............................................................................................. Figura 36: Lancha baleeira............................................................................ Figura 37: Barco cabinado. .......................................................................... Figura 38: Caíco............................................................................................ Figura 39: Canoa........................................................................................... Figura 40: Rede de palmo............................................................................. Figura 41: Distribuição das redes por tipo..................................................... Figura 42: Rede de caceio de superfície....................................................... Figura 43: Cerco flutuante-fixo...................................................................... Figura 44: Rede arrastão de praia (Siriú)...................................................... Figura 45: Tripulação em ação (Gamboa).................................................... Figura 46: Distribuição de petrechos com anzol e de tarrafas....................... 9 39 59 60 61 63 64 65 67 68 69 70 72 73 75 76 77 78 79 81 82 83 85 86 86 87 88 88 89 90 91 94 97 98 100 101 101 102 103 105 106 110 113 116 118 121.

(8) vii Figura 47: Balaios de espinhel de fundo iscado (Garopaba)........................ Figura 48: Linha de mão (esquerda)............................................................. Figura 49: Tarrafa (Vermelha)....................................................................... Figura 50: Distribuição das principais pescarias........................................... Figura 51: Rancho da Gamboa..................................................................... Figura 52: Arrastão de praia na Gamboa...................................................... Figura 53: Despesca da anchoveta na Gamboa........................................... Figura 54: Espinhel de praia na Gamboa...................................................... Figura 55: Ranchos do Siriú.......................................................................... Figura 56: Tainha no Siriú............................................................................. Figura 57: Canoa e rancho do Morrinhos...................................................... Figura 58: A Cancha e seus barcos.............................................................. Figura 59: Galpões da Garopaba.................................................................. Figura 60: Barcos da Garopaba.................................................................... Figura 61: Colocação de espinhel de fundo.................................................. Figura 62: Retirando barcos do mar com e sem guincho (direita) na Garopaba....................................................................................................... Figura 63: Rancho da Vigia........................................................................... Figura 64: Canoa e rancho do Silveira.......................................................... Figura 65: Ranchos da Ferrugem (esquerda) e da Barra............................. Figura 66: Rancho do Ilhote da Barra........................................................... Figura 67: Rancho do Ouvidor...................................................................... Figura 68: Ranchos do Portinho.................................................................... Figura 69: Bote saindo do Portinho para pescar enchova............................ Figura 70: Pescadores no rancho da Vermelha............................................ Figura 71: Distribuição dos principais sistemas de pesca da enchova......... Figura 72: Distribuição dos principais sistemas de pesca da tainha............. Figura 73: Separação dos quinhões (Garopaba).......................................... Figura 74: Doação de peixe.......................................................................... Figura 75: Comercialização do pescado (Garopaba).................................. Figura 76: Caminhão de comprador do pescado (Garopaba)....................... Figura 77: Peixarias no centro histórico........................................................ Figura 78: Colônia de Pescadores Z12......................................................... Figura 79: Guincho para puxar barcos (Garopaba)...................................... Figura 80: Placa de alerta aos surfistas........................................................ Figura 81: Representação da abundância / escassez de pescado................ 122 124 126 128 129 129 131 132 133 133 136 138 139 140 142 144 146 147 149 150 153 155 156 157 159 160 171 172 174 174 175 190 192 192 209.

(9) viii LISTA DE QUADROS. Quadro 1: Categorias e dimensões da pesca. ................................................. 20 Quadro 2: Prováveis espécies que compõem as pescarias da área de estudo. .................................................................................................................. 92 Quadro 3: Espécies pescadas na área de estudo por núcleo pesqueiro. ........ 95 Quadro 4: Calendário de pesca da área de estudo.......................................... 97 Quadro 5: Síntese do histórico dos órgãos envolvidos na gestão formal da pesca no Brasil........................................................................................ 188 Quadro 6: Alguns instrumentos legais de controle do uso dos recursos pesqueiros na costa de Santa Catarina. ................................................. 199 Quadro 7: Produção pesqueira do Município de Garopaba. .......................... 206 Quadro 8: Produção comparativa da pesca industrial e da pesca artesanal em Santa Catarina. ....................................................................................... 207.

(10) ix. SUMÁRIO 1. PROBLEMÁTICA .......................................................................................... 1 1.1. SITUAÇÃO-PROBLEMA.......................................................................... 1 1.2. ÁREA DE ESTUDO.................................................................................. 5 1.2.1. A zona costeira do Estado de Santa Catarina: o contexto ambiental e socioeconômico da pesca ........................................................................... 5 1.2.2. O Município de Garopaba ................................................................. 8 1.2.3. A questão da gestão da pesca artesanal: o cenário institucional .... 13 1.3. ENFOQUE ANALÍTICO.......................................................................... 16 1.3.1. Conceitos ........................................................................................ 16 1.3.1.1. Pesca Artesanal........................................................................ 16 1.3.1.2. Recursos Comuns e Regimes de Propriedade......................... 22 1.3.1.3. Sistemas sócio-ecológicos, sistemas de pesca, sistemas de gestão de pesca .................................................................................... 23 1.3.2. Gestão do uso de Recursos Pesqueiros ......................................... 25 1.3.2.1. Enfoques convencionais de gestão dos recursos pesqueiros: uma visão sinóptica ............................................................................... 28 1.3.2.2. Gestão adaptativa de recursos pesqueiros .............................. 31 1.3.3. Ecodesenvolvimento ....................................................................... 34 1.3.4. Modelo de Análise........................................................................... 38 2. HIPÓTESES DE TRABALHO...................................................................... 41 3. OBJETIVOS................................................................................................. 41 4. METODOLOGIA .......................................................................................... 42 4.1. TÉCNICAS E MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE DADOS ......................... 43 4.1.1. Definição da amostra ...................................................................... 45 4.1.2. Entrevistas ...................................................................................... 46 4.1.3. Conversas temáticas informais ....................................................... 49 4.1.4. Observações e registros fotográficos .............................................. 50 4.2. SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)............................... 52 4.3. TRATAMENTO, INTEGRAÇÃO, SÍNTESE E ANÁLISE DE DADOS...... 53 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 55 5.1. ATRIBUTOS BIOFÍSICOS E TECNOLÓGICOS .................................... 57 5.1.1. O litoral, as praias e os núcleos pesqueiros.................................... 57 5.1.2. As principais espécies de pescado e o calendário de pesca .......... 80 5.1.2.1. Abrótea Urophycis brasiliensis.................................................. 81 5.1.2.2. Enchova Pomatomus saltator ................................................... 82 5.1.2.3. Corvina Micropogonias furnieri ................................................. 83 5.1.2.4. Goete Cynoscion jamaicensis................................................... 85 5.1.2.5. Gordinho Peprilus paru............................................................. 86 5.1.2.6. Pescada-olhuda Cynoscion striatus.......................................... 86 5.1.2.7. Palombeta Chloroscombrus chrysurus ..................................... 87 5.1.2.8. Pampo Trachinotus carolinus ................................................... 88 5.1.2.9. Pigirica Kyphosus incisor .......................................................... 88 5.1.2.10. Sororoca Scomberomorus brasiliensis ................................... 89 5.1.2.11. Família Mugilidae.................................................................... 89 5.1.2.11.1. Tainha Mugil liza ......................................................................... 90.

(11) x 5.1.2.11.2. Tainha Mugil platanus................................................................. 91. 5.1.2.12. Outras espécies...................................................................... 91 5.1.2.13. Calendário de pesca............................................................... 96 5.1.3. As embarcações.............................................................................. 97 5.1.3.1. Bote ........................................................................................ 100 5.1.3.2. Lancha baleeira ...................................................................... 101 5.1.3.3. Barco cabinado....................................................................... 101 5.1.3.4. Voadeira ................................................................................. 102 5.1.3.5. Caíco / Batera......................................................................... 102 5.1.3.6. Canoa ..................................................................................... 103 5.1.4. As artes e os métodos de pesca ................................................... 103 5.1.4.1. Redes de Espera .................................................................... 105 5.1.4.1.1. Rede de palmo, rede de sarna ou malhão.................................. 105 5.1.4.1.2. Feiticeira ou tresmalho................................................................ 107 5.1.4.1.3. Rede de espera de fundo para papa-terra e pescadinha ........... 108 5.1.4.1.4. Rede de espera de fundo para corvina....................................... 108. 5.1.4.2. Redes de Caceio .................................................................... 109 5.1.4.2.1. De fundo ..................................................................................... 110 5.1.4.2.2. De superfície para enchova ........................................................ 110 5.1.4.2.3. Caça-de-malha ........................................................................... 111. 6.1.4.3. Redes de Cerco...................................................................... 112 5.1.4.3.1.Traineira....................................................................................... 112 5.1.4.3.2. Cerco flutuante............................................................................ 113. 5.1.4.4. Redes de Arrasto.................................................................... 116 5.1.4.4.1. Arrastão de praia ........................................................................ 116 5.1.4.4.2. Arrasto feiticeira .......................................................................... 119 5.1.4.4.3. Picaré.......................................................................................... 120. 5.1.4.5. Aparelhos com Anzóis ............................................................ 120 5.1.4.5.1. Espinhel de fundo ....................................................................... 122 5.1.4.5.2. Espinhel de praia ........................................................................ 123 5.1.4.5.3. Linha de mão .............................................................................. 124 5.1.4.5.4. Molinete ...................................................................................... 125 5.1.4.5.5. Caniço......................................................................................... 126. 5.1.4.6. Tarrafa .................................................................................... 126 5.1.5. Distribuição dos sistemas de pesca nos núcleos pesqueiros........ 127 5.1.5.1. Gamboa .................................................................................. 127 5.1.5.2. Siriú ........................................................................................ 133 5.1.5.3. Morrinhos................................................................................ 136 5.1.5.4. Cancha ................................................................................... 138 5.1.5.5.Garopaba................................................................................. 139 5.1.5.6. Vigia........................................................................................ 146 5.1.5.7. Silveira.................................................................................... 147 5.1.5.8. Ferrugem / Barra .................................................................... 149 5.1.5.9. Ouvidor ................................................................................... 153 5.1.5.10. Portinho ................................................................................ 155 5.1.5.11. Vermelha .............................................................................. 157 5.1.6. Relações ....................................................................................... 158 5.2. PADRÕES DE INTERAÇÃO ................................................................ 163 5.2.1. Tradição, aprendizado, experiência e conhecimento .................... 163 5.2.2. Ocupacionalidade e unidades de trabalho .................................... 166 5.2.3. Partilha, hierarquia e divisão do trabalho ...................................... 171 5.2.4. Comercialização............................................................................ 173.

(12) xi 5.2.5. Relações com a pesca industrial................................................... 176 5.2.6. Conflitos ........................................................................................ 180 5.2.7. Organização e cooperação ........................................................... 186 5.3. INSTITUIÇÕES .................................................................................... 187 5.3.1. Estrutura formal da gestão pesqueira ........................................... 187 5.3.2. Políticas de pesca ......................................................................... 194 5.3.3. Regime de propriedade e regras operacionais ............................. 198 5.4. CONDICIONANTES E EFEITOS DA CRISE PESQUEIRA .................. 200 5.4.1. Redução das capturas e sobreexplotação .................................... 205 5.4.2. Práticas destrutivas ....................................................................... 211 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 212 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 222 ANEXO 1: Informações, variáveis e indicadores associados aos objetivos específicos da pesquisa ................................................................................. 228 ANEXO 2: Entrevista semi-estruturada (pescadores).................................... 230 ANEXO 3: Roteiro de entrevista parcialmente estruturada (pescadores) ...... 233 ANEXO 4: Entrevista semi-estruturada (Prefeitura Municipal de Garopaba) . 235 ANEXO 5: Entrevista semi-estruturada (Secretaria de Agricultura e Pesca do Município de Garopaba) ................................................................................. 236 ANEXO 6: Calendário de pesca dos núcleos pesqueiros .............................. 237 ANEXO 7: Artes de pesca.............................................................................. 240.

(13) 1. 1. PROBLEMÁTICA. 1.1. SITUAÇÃO-PROBLEMA. A questão do meio ambiente emerge como problema social e científico no final da década de 1960. O termo degradação ou deterioração ambiental (environmental disruption), tão corriqueiro hoje, foi usado pela primeira vez em 1970, no Simpósio Internacional sobre Degradação Ambiental no Mundo Moderno, em Tókio. Denotava o dano ou o prejuízo (além de um certo limiar definível) do conjunto total de todas as condições e influências externas que afetam a vida, o desenvolvimento e o comportamento humanos e a sociedade (KAPP, 1971).. O clima intelectual do início dos anos 1970, marcado pelas primeiras análises sistêmicas sobre os limites externos ao crescimento material (MEADOWS, 1972) e pelos trabalhos e reuniões preparatórias da Conferência de Estocolmo, em 1972, pode ser considerado como marco do surgimento de uma consciência planetária dos riscos socioambientais embutidos no “projeto hegemônico da civilização industrial-tecnológica” (VIEIRA, 2005). A crítica inovadora às concepções dominantes acerca das finalidades básicas das práticas de desenvolvimento, das suas estratégias de planejamento e dos seus critérios de avaliação, distingue esse contexto como um ponto de inflexão ecológico-sistêmico. nas. pesquisas. e. discussões. sobre. o. binômio. desenvolvimento & meio ambiente (COLBY, 1989; VIEIRA, 1992; 2005).. Desde então, apesar das evidências da crescente preocupação com as questões ligadas à degradação ecossistêmica no cenário internacional, não constitui um exagero afirmar que a crise do meio ambiente ainda é vista como se ela representasse apenas uma perturbação intempestiva e temporária, a ser tratada de forma tópica e segmentada, sem implicar o questionamento da lógica profunda que organiza a dinâmica dos sistemas sociais contemporâneos (VIEIRA, 2002:1)..

(14) 2 Ao mesmo tempo, na origem dos problemas que configuram a crise contemporânea do meio ambiente destaca-se a articulação complexa de fatores que condicionam a opção por determinados estilos de desenvolvimento e, conseqüentemente, a dinâmica de funcionamento das sociedades liberais e socialistas – geradores de desigualdade social e de “efeitos” nocivos sobre o meio ambiente biofísico e sobre a qualidade de vida das populações (KAPP, 1971; DUPUY, 1980). Deste modo, a crise socioambiental pode ser vista como a resultante da imposição a todos do que se convencionou chamar de “nova ordem mundial”, que atropela os objetivos humanos, sociais e ambientais, ou como a crise dos modelos de desenvolvimento; cujo enfrentamento implica em pensar um estilo alternativo de desenvolvimento (SACHS, 1977).. Nesse contexto, destaca-se a importância da gestão integrada da base de recursos naturais renováveis para as dinâmicas de desenvolvimento regional. Contudo, o que se nota é o predomínio de um tipo de gestão ecologica. e. representação. socialmente. nociva. do. analítico-reducionista. patrimônio do. natural,. processo. de. associada produção. à do. conhecimento científico, baseada numa visão de mundo mecanicista e utilitarista (HOLLING et al., 1998).. À luz dessas considerações gerais, é possível focalizar os desafios que cercam a gestão das zonas costeiras e da pesca artesanal no Brasil e no mundo. As zonas costeiras são formadas por mosaicos de ecossistemas complexos, com a mais alta produtividade biológica do planeta, e oferecem condições excepcionais de abrigo e suporte à reprodução e à alimentação da maioria das espécies marinhas; além de desempenharem uma ampla gama de “funções ecológicas”. Adicionalmente, abrigam a maior parte da população humana mundial e grande parte das atividades econômicas mais importantes.. Assim, estão submetidas a diversos usos, pressões destrutivas e riscos que se inter-relacionam de modo complexo e sinérgico, tais como: o aumento e o adensamento populacional; a expansão da urbanização descontrolada; os usos destrutivos dos recursos marinho-costeiros e as atividades extrativistas (base da sobrevivência de milhares de pessoas); a poluição; a presença de.

(15) 3 complexos portuários e industriais; a erosão e os desmatamentos (EL-SABH et al., 1998; MMA/SBF, 2002; IUCN/UNEP/WWF, 1991).. No Brasil, as deficiências que têm marcado a gestão da zona costeira – sobretudo a fragmentação institucional – estão associadas à perda irreversível de. inúmeros. habitats. e. recursos. marinho-costeiros,. bem. como. ao. empobrecimento crescente e/ou comprometimento das condições de produção e reprodução social de várias comunidades de agricultores e pescadores (DIEGUES, 1996). Este cenário torna-se ainda mais crítico quando se considera também os riscos impostos pelas mudanças climáticas em nível global, incluindo-se aqui o aumento do nível do mar.. Ademais, a degradação das zonas costeiras implica numa ameaça direta à resiliência ecológica dos oceanos e, portanto, à biodiversidade que nele se encontra; e, em conseqüência, à pesca. A despeito dos esforços empreendidos no país, verifica-se que os modelos usuais de gerenciamento dos recursos marinhos e costeiros – inclusive o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro – não trazem, por enquanto, inovações sintonizadas com os princípios de um estilo alternativo de desenvolvimento – ecologica, economica e socialmente sustentável (POLETTE et al., 2006).. Por sua vez, a crise do setor pesqueiro em escala mundial reflete uma das facetas mais dramáticas da questão relativa à gestão nociva dos recursos naturais renováveis e, conseqüentemente, ao comprometimento da qualidade ambiental da zona costeira. Desde 1970, o total mundial das capturas permanece estagnado, apesar da intensificação do esforço de pesca em certas áreas (ACHESON et al., 1998). Entretanto, o modelo adotado para o setor pesqueiro - expansionista e voltado à industrialização – já dava os primeiros sinais. de. limitações. na. década. de. 1950,. quando. diversas. nações. industrializadas experimentaram a destruição e/ou a redução drástica de estoques pesqueiros nas suas áreas costeiras (DIEGUES, 1983).. Já a pesca artesanal, influenciada pelo agravamento da crise mundial da pesca marítima industrial e dos processos de degradação da zona costeira,.

(16) 4 vem sendo gradativamente impelida para um “beco sem saída”. Principalmente por ser realizada em pequena escala, em ambientes litorâneos abrigados, na beira das praias e costões, e nos espaços marinhos adjacentes ao litoral; estando assim mais sujeita aos efeitos adversos das trajetórias de desenvolvimento que vem sendo adotadas pelos países.. No Brasil, uma avaliação cuidadosa realizada pela Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos, em 1998, revelou que mais de 80% dos recursos pesqueiros nacionais, especialmente os costeiros, sujeitos a uma utilização mais intensiva, encontram-se muito próximos ou já no limiar da extinção (CNIO, 1998). Mas as políticas públicas para o setor pesqueiro têm desconsiderado esse aspecto e as características do mar brasileiro, incentivando a pesca industrial e o aumento da produção.. Nesse contexto, convém ainda destacar que, em espaços costeiros ocupados por comunidades que viviam tradicionalmente da agricultura e da pesca, como o litoral catarinense, o avanço dos processos de urbanização e industrialização, especialmente a partir das primeiras décadas do século XX, engendrou mudanças drásticas nos padrões de ocupação, uso e apropriação dos recursos marinhos e costeiros. Mudanças condicionadas, sobretudo, por políticas públicas de desenvolvimento com viés economicista e tecnocrático – a exemplo da estratégia direcionada para o setor pesqueiro, alavancada pelo Decreto-Lei n° 221/1967. Dentre as várias conseqüências de grande impacto, pode-se mencionar a ruptura do binômio agricultura-pesca, que implicou no reordenamento da pesca artesanal, e das formas comunitárias de organização da produção pesqueira, resultando na emergência do estrato social de pescadores artesanais (LAGO, 1961; SILVA, 1998; DIEGUES, 1983).. Se, por um lado, a diferenciação da classe “pescadores artesanais” possibilitou a esses maiores ganhos com a pesca – especialmente pelas melhorias no âmbito da comercialização –, por outro, não foi acompanhada por políticas públicas voltadas a ordenar, organizar e fortalecer adequadamente o setor. Em conseqüência, essa “classe emergente” ficou subordinada ao setor.

(17) 5 pesqueiro industrial, para o qual passou a fornecer mão-de-obra barata e qualificada, além de pescado a preços baixos (DIEGUES, 1983).. Diante desse cenário, os estudos sobre a atividade pesqueira não podem mais ser vistos de maneira dissociada da complexa dinâmica sócioecológica da zona costeira; e a gestão pesqueira não pode mais ser pensada de modo dissociado da gestão dos espaços costeiros e do ambiente marinho, nem da dinâmica das comunidades pesqueiras (BERKES et al., 2001). Tornase necessário compreender as complexas e estreitas inter-relações existentes entre a pesca artesanal marítima e litorânea, a pesca industrial, o planejamento e a gestão dos espaços costeiros e do ambiente marinho e a adoção de um novo estilo de desenvolvimento.. 1.2. ÁREA DE ESTUDO. 1.2.1. A zona costeira do Estado de Santa Catarina: o contexto ambiental e socioeconômico da pesca. A zona costeira catarinense abriga diversos ecossistemas terrestres e marinhos considerados como áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade. Quase todos os costões rochosos e todas as lagunas costeiras são classificados como de extrema importância biológica. Existem diversos manguezais e restingas de muito alta importância biológica. Toda a porção marinha-costeira é considerada de extrema importância para a conservação de quelônios e de alta ou muito alta importância para a conservação de elasmobrânquios. A região centro-sul é classificada como de extrema importância para a conservação de mamíferos marinhos e o restante do litoral como de alta ou muito alta importância. Já em relação à conservação de teleósteos demersais e pequenos pelágicos, o litoral centro sul é de muito alta importância; para citar apenas alguns exemplos (MMA/SBF, 2002).. Na porção marinha, processos oceanográficos distintos, ao largo do estado,. contribuem. significativamente. para. taxas. mais. elevadas. de.

(18) 6 produtividade primária, se comparadas às outras regiões do país. O que influencia diretamente na maior abundância de espécies marinhas. Assim, a riqueza biológica e as características oceanográficas configuram condições favoráveis à ocorrência de cardumes relativamente grandes1 de peixes, crustáceos e moluscos, constituindo uma área propícia ao desenvolvimento da pesca artesanal e industrial. Não é ao acaso que o Estado de Santa Catarina apresenta o maior número de pescadores artesanais da região Sul – 12.332 pescadores, reunidos em 17 Colônias de Pesca (VASCONCELLOS et al., 2004) – e é considerado, juntamente com o Pará, o Estado onde a pesca possui maior impacto econômico, principalmente devido ao seu forte setor industrial (ISAAC et al., 2006).. Todavia, as evidências apontam para uma situação de crise do setor artesanal. Os dados relativos à produção de pescado do estado, no período de 1980 a 2004, apontam uma queda na produção pesqueira artesanal, bem como na sua contribuição percentual para o total da produção da pesca extrativa marinha. Por exemplo, entre 1980 e 1984, a produção manteve-se acima de 20.000 toneladas anuais, com um pico de aproximadamente 27.719 t (1984). A partir da década de 1990, a produção manteve-se abaixo de 10.000 t anuais. A contribuição percentual também caiu, passando da ordem de 20 %, na primeira metade da década de 1980, para 7% em média, entre 1991 e 2004. Em contrapartida, a produção total estimada da pesca extrativa marinha no Estado vem se mantendo no patamar de aproximadamente 100.000 t, a partir de 1993 (CNIO, 1998; VASCONCELLOS et al., 2004; IBAMA/CEPSUL, 1994; 1998; 1999; 2000; IBAMA/DIFAP/CEPENE, 2001; 2003; 2004a; 2004b; 2005).. Além disso, 0 “Diagnóstico Ambiental do Litoral de Santa Catarina” (SANTA CATARINA, 1997) também realça a crise no setor da pesca artesanal e os problemas correlatos associados à expansão do turismo de massa e ao fortalecimento da pesca industrial, a partir da década de 1970. Entre outros, destaca as deficiências da fiscalização e da legislação ambiental; a falta de. 1. Se comparados ao restante do litoral brasileiro..

(19) 7 investimentos e incentivos ao setor pesqueiro; o desenvolvimento desordenado da maricultura; e o uso destrutivo dos recursos hídricos e do solo.. Convém lembrar o papel decisivo que a pesca desempenhou no histórico da ocupação humana do litoral do Estado de Santa Catarina. Por um lado, indícios arqueológicos, como a presença de sambaquis ao longo do litoral, evidenciam que a abundância de recursos pesqueiros parece ter sido uma importante fonte de alimento para povos indígenas que habitavam a região antes da chegada dos europeus (LAGO, 1961).. Por outro lado, posteriormente, representou a base da subsistência e do modo de vida de imigrantes açorianos e madeirenses que aqui se fixaram incentivados pela Coroa Portuguesa. Essa migração fez parte do projeto político-estratégico de ocupação, domínio e exploração do litoral sul brasileiro, ameaçado pelos espanhóis, na ocasião. O mesmo incluía também o desenvolvimento da produção baleeira em Santa Catarina. Desse modo, os açorianos e madeirenses vieram e se instalaram em vários povoados recémcriados, por volta de 1748. Diante das dificuldades encontradas para o cultivo das terras e da abundância de pescado, muitos passaram a se dedicar mais à pesca, para a qual já tinham prática e conhecimento (LAGO, 1961; 1988).. De modo geral, a pesca artesanal e a agricultura predominaram no litoral sul de Santa Catarina aproximadamente até a década de 1960, quando as políticas de desenvolvimento dessa porção do litoral foram intensificadas com a implantação da Rodovia BR-101. Emergiram desde então ações voltadas à expansão e melhoria da infra-estrutura urbana e à integração de mercados, induzindo a formação de novos municípios – a exemplo de Garopaba, emancipado em 1961. O crescimento demográfico e o fortalecimento do turismo e do veraneio, associada à especulação imobiliária, modificaram profundamente a lógica da ocupação da zona costeira e a situação das comunidades. tradicionais. de. pescadores-agricultores. (CÂMARA,. 2001;. DIEGUES, 1983). Em 1980, por exemplo, a pesca artesanal em Garopaba começou a se destacar, do ponto de vista socioeconômico, associada ao.

(20) 8 crescimento da população e à diversificação das opções de comercialização, apesar do nível ainda incipiente de desenvolvimento local (BESEN, 1980).. Em síntese, essas mudanças geraram grandes alterações econômicas, sociais, políticas e culturais em todo o litoral catarinense. Progressivamente, os espaços das comunidades tradicionais foram sendo apropriados pela expansão de outras atividades econômicas, especialmente o turismo e o veraneio. Em conseqüência, ocorreram mudanças na paisagem, nas relações humanas, nas relações seres humanos-natureza e na qualidade socioambiental (SANTA CATARINA, 1997). Atualmente, estão em curso as operações de duplicação da Rodovia BR-101, que provavelmente dará início a um novo ciclo de mudanças em todo o litoral sul catarinense.. 1.2.2. O Município de Garopaba. Esta pesquisa tem como área de estudo o município de Garopaba (Fig. 1), sob o ponto de vista da gestão pesqueira, e mais especificamente a sua zona litorânea, do ponto de vista do diagnóstico sócio-ecológico da pesca artesanal. Apesar da Praia Vermelha não estar inteiramente dentro dos limites municipais, ela foi incluída na área de estudo por ser utilizada por um grupo de pescadores do município. O município de Garopaba está localizado, aproximadamente, entre as longitudes 048º35’56”W e 048º43’31”W e entre as latitudes 27º56’40”S e 28º07’S, apresentando área de 108,1 km2. Em 2000, a população do município era de 13.164 habitantes2. Entre 1991 e 2000, a população rural foi reduzida a mais da metade, passando de 5.598 para 2.442. No mesmo período, a população urbana passou de 5.223 para 10.722 habitantes, mais do que o dobro. Assim, o índice de urbanização chegou a 81,45% em 2000, contra 48,27%, em 1991; e a densidade demográfica passou a 121,3 habitantes/km2 (IBGE, 2000; PNUD, 2003).. 2. Dados estimados em 2005 revelam uma população de 15.198 habitantes (www.ibge.gov.br, acesso em agosto de 2006)..

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(22) 10 Contrastando com a predominância de costas baixas e a tendência à retificação do litoral sul catarinense, nas proximidades do município de Garopaba, o embasamento cristalino é proeminente, caracterizando uma costa acidentada. Nessa porção da zona costeira se distinguem dois grandes domínios morfo-estruturais: o dos Embasamentos em estilos complexos (Serras do Leste Catarinense) e o dos Depósitos Sedimentares, que compreende a região geomorfológica das Planícies Costeiras – na qual se destaca a unidade geomorfológica Planícies Litorâneas (CARUSO, 1995).. Nessas planícies, ocorrem ambientes de alta vulnerabilidade, tais como fácies eólicas, lagunares, flúvio-delta-lagunares, paludiais, deltáicas, de maré, de leques aluviais e praiais marinhas (CARUSO, 1995; SANTA CATARINA, 1997). Do ponto de vista biológico, a presença de enseadas, costões e ilhotes rochosos e do complexo lagunar, formado pelas Lagoas de Garopaba, de Ibiraquera e do Siriú, confere a esta região características especialmente propícias à atividade pesqueira. Por outro lado, sua beleza paisagística e a forte presença da cultura açoriana têm estimulado o desenvolvimento intensivo do setor turístico.. Convém reconhecer a importância crucial da pesca artesanal na formação de Garopaba – um “núcleo típico de pescadores” (LAGO, 1961: 126). O “povoamento” de Garopaba foi criado no bojo do processo supramencionado de ocupação do litoral sul catarinense, em meados do século XVIII. De acordo com Besen (1980), a atividade pesqueira foi fundamental no processo de colonização da área pelos açorianos, principalmente como fonte de alimento. Entretanto, é também reconhecida sua relevância na base da identidade cultural do local. Nos estudos de Besen (1980) e Lago (1961), é notável as referências. à. predileção. dos. açorianos,. incluindo. aqueles. que. se. estabeleceram em Garopaba, pela pesca em detrimento da agricultura. Além disso, pelas características fisiográficas, historicamente o povoado de Garopaba e a zona de Laguna, no litoral sul do estado, se destacaram na atividade pesqueira (LAGO, 1961)..

(23) 11 Contudo, hoje em dia, a economia encontra-se centrada no turismo e no veraneio, predominantes no verão. A pesca artesanal, mais forte no inverno, ainda possui importância para uma parcela significativa da população, seja em termos econômicos ou de subsistência, apesar da crise do setor pesqueiro. Em resumo, os valores de capturas da pesca artesanal, no município, têm apresentado uma tendência geral de redução, desigualmente distribuída entre os núcleos pesqueiros.. Como é freqüente ao longo do litoral brasileiro e catarinense, os principais conflitos e problemas socioambientais de Garopaba estão direta ou indiretamente relacionados ao turismo, à ocupação desordenada do espaço e à questão da habitação (SANTA CATARINA, 1997; CNIO, 1998; CÂMARA, 2001). Entre eles pode-se citar a falta de sistemas de esgotamento sanitário e a conseqüente poluição das águas (e.g. praias e lagoas); as deficiências de infra-estrutura e serviços públicos em geral (fornecimento de energia elétrica, atendimento de saúde, sistema viário, coleta de lixo e limpeza pública); a ocupação de áreas protegidas, como dunas e encostas íngremes, com conseqüente alteração da paisagem, perda de beleza cênica e redução da biodiversidade; e, finalmente, os conflitos socioculturais e de uso dos espaços e recursos naturais.. A esses, é possível acrescentar ainda outros problemas críticos constatados na área. Por exemplo, conflitos diversos envolvendo pescadores locais; perda de espaços usados na pesca; mudanças de valores e transformações. culturais;. e. outros. conflitos. relacionados. ao. turismo,. envolvendo o desrespeito aos nativos, violência, uso e tráfico de drogas. Assim, fica caracterizado um complexo quadro de degradação socioambiental e de declínio da pesca no município.. Essa tendência de uso e apropriação “economicista” dos espaços e recursos litorâneos e marítimos – consolidada nos fenômenos do veraneio, do turismo de massa e também da pesca industrial –, tem condicionado vários processos de degradação socioambiental no litoral brasileiro. Entre eles, a diminuição dos estoques pesqueiros, a perda de habitats e a perda de.

(24) 12 biodiversidade. Nesse sentido, convém realçar ainda os conflitos entre pescadores artesanais e pescadores industriais e os impactos provocados pela pesca industrial sobre a pesca artesanal. Como em outros países, muitos recursos explorados pela pesca artesanal local são igualmente alvo da pesca industrial, configurando um potencial latente de conflitos (BERKES et al., 2001).. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que, no século XVIII, praticou-se a caça às baleias no litoral catarinense, o que levou a baleia franca (Eubalaena australis) à beira da extinção nesta área. O município de Garopaba foi também referência na caça às baleias através da Armação Baleeira de Garopaba, erguida entre 1793 e 1795. Após um período de decadência da atividade, a caça foi retomada no início do século XX até a década de 1950, violando acordos internacionais, firmados desde a década de 1930, para proteger as baleias francas (PALAZZO, 1999). Apesar da caça ter sido revogada, a baleia franca está hoje no centro de conflitos envolvendo entidades ambientalistas e operadoras de turismo de observação de baleias, e, em menor grau, pescadores locais.. Visando atender às demandas de conservação da baleia franca (Eubalaena australis) e do litoral, foi decretada em 2000 a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca. A APA abrange cerca de 130 km da zona costeira sul e centro-sul do estado. Em linhas gerais, a sua finalidade é a proteção da baleia franca austral e o ordenamento dos usos dos recursos naturais, do solo e do espaço marinho (BRASIL, 2000). Com isto, está sendo implementada uma outra dinâmica de reflexão sobre o desenvolvimento da região. A pesca artesanal, em particular, vem recebendo atenção especial, por parte da chefia da APA, no processo de consolidação do Conselho Gestor e de elaboração do Plano de Manejo. Considerando que o litoral do município de Garopaba e a zona marinha adjacente estão inseridos na área da APA, podese dizer que há um cenário favorável a mudanças positivas no âmbito da gestão da pesca artesanal nesta área..

(25) 13 1.2.3. A questão da gestão da pesca artesanal: o cenário institucional. Diante do cenário em tela, é notável o fato de que as políticas e a gestão pesqueiras no Brasil têm favorecido desproporcionalmente o setor da pesca industrial em detrimento da pesca artesanal, criando e mantendo um padrão tecnocrático e perverso de uso e gestão dos recursos pesqueiros – no bojo do “desenvolvimento” exploram e esgotam tanto os recursos quanto os trabalhadores / pescadores (DIEGUES, 1983; ISAAC et al., 2006).. Apesar da importância do setor da pesca artesanal no Brasil – responsável por mais da metade da produção de pescado marinho do país e pelo envolvimento de aproximadamente 2 milhões de pessoas –, é também surpreendente a carência de informações adequadas à formulação de políticas públicas e planos de gestão adaptados ao setor. Essa falta de informações parece estar associada à complexidade e ao caráter espacialmente disperso, característicos da pesca artesanal; à falta de atenção política – responsável pela escassez de investimentos em pesquisa e monitoramento do setor e das suas espécies-alvo –; e à inadequação das abordagens convencionais de avaliação das pescarias, cuja ênfase no enfoque de forte viés biológico, “importado” dos países industrializados de regiões temperadas, deixa de lado as dimensões humanas da pesca e envolve custos considerados proibitivos para muitos países (VASCONCELLOS et al., 2004; BERKES et al., 2001).. Diante desse problema, compartilhado por outros países, pesquisadores e especialistas concordam que é preciso ampliar as fontes de informação e trabalhar com enfoques e metodologias melhor adaptados ao contexto da pesca artesanal e de países com limitações de recursos humanos e financeiros, para formular políticas e estratégias de gestão alternativas aos modelos convencionalmente utilizados (VASCONCELLOS et al., 2004; BERKES et al., 2001). Em outras palavras, existe uma demanda por sistemas de avaliação da pesca artesanal que sirvam de base para a tomada de decisão no.

(26) 14 nível local, mas que também contribuam para dar suporte a políticas nacionais e internacionais para o setor (VASCONCELLOS et al., 2004: 3).. Outra questão que emerge é a da fragmentação das políticas de pesca, dos ecossistemas marinhos e da zona costeira. Diante de um cenário de desenvolvimento alternativo, a idéia de integração das políticas públicas setoriais correlatas não é suficiente. É preciso pensar também no seu redirecionamento, buscando institucionalizar um novo padrão de apropriação, uso e gestão dos recursos e dos espaços costeiros (VIEIRA, 1992).. Em sintonia com as preocupações mundiais relativas à problemática da questão ambiental da zona costeira, o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC II – incorpora princípios desenvolvidos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), a exemplo do conceito de gestão integrada da zona costeira e das diretrizes expressas na Agenda 21 (BRASIL, 1997). Como parte do esforço de planejar de forma integrada a utilização dos recursos costeiros e ordenar a ocupação dos espaços litorâneos, estava prevista a elaboração de planos estaduais e municipais. Entretanto, dez anos depois do PNGC II, apenas alguns poucos estados encontram-se engajados no cumprimento dessa tarefa.. O Estado de Santa Catarina possui um Programa de Gestão Costeira há vinte anos e em 2005 aprovou a Lei que institui o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro. Contudo, a implementação do programa se restringe ao setor norte do litoral e a alguns instrumentos de caráter mais técnico, não tendo obtido até agora mudanças comportamentais mais expressivas na sociedade. A realização de um amplo diagnóstico do litoral catarinense (SANTA CATARINA, 1997) não suscitou ainda, por exemplo, nenhuma ação pró-ativa por parte da prefeitura de Garopaba. Existem evidências de bloqueios no avanço deste programa, condicionados por uma complexa conjunção de fatores sóciopolíticos, socioculturais e socioeconômicos. Esses fatores incluem a baixa articulação das instituições governamentais com a sociedade civil, a existência de lobbies de empresários e políticos, o baixo nível de conhecimento.

(27) 15 e comprometimento da sociedade na questão da gestão costeira, e a carência de recursos humanos e financeiros (POLETTE et al., 2006).. No nível municipal, as carências e as disfunções do PNGC são mais visíveis, levando-se em conta o cenário apresentado acima e agravado por problemas. políticos. (e.g.. cultura. política. clientelista). e. sociais. (e.g.. analfabetismo e semi-analfabetismo). Destaca-se, em especial, a centralização das decisões relativas à utilização dos recursos e espaços costeiros e a inexistência de um sistema de gestão socioambiental local, apesar da existência de um consenso em diferentes níveis sobre a necessidade de se fortalecer. um. processo. de. gerenciamento. costeiro. cada. vez. mais. descentralizado e participativo (BRASIL, 1997; CNIO, 1998; MORAES, 1999; SEAP, 2003).. Embora o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro seja a instituição com maior autoridade na gestão da zona costeira no Brasil, Kalikoski et al. (2002) observaram que ele não vem atuando de forma integrada na gestão dos recursos pesqueiros. A gestão da pesca no Brasil está totalmente centralizada e isolada no nível federal.. Em 2003, o governo federal criou a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), visando fortalecer o setor e dar maior visibilidade às políticas relacionadas. Embora a instituição tenha reconhecido a necessidade de se fazer um diagnóstico do setor (SEAP, 2003), já apresentou de antemão um projeto político cujo tom continuou sendo o da necessidade de aumentar a produção – não obstante, a CNIO (1998) já recomendava ao governo não esperar por uma expansão significativa da produção pesqueira. Continua prevalecendo a falta de conexão entre as diferentes escalas da gestão na formulação de políticas e nas tomadas de decisão..

(28) 16 1.3. ENFOQUE ANALÍTICO. 1.3.1. Conceitos. 1.3.1.1. Pesca Artesanal. Convém precisar de imediato o significado de pesca artesanal nesta pesquisa. Na literatura disponível o termo encontra definições diversas que, entretanto, não diferem substancialmente, embora possam confundir. Em geral, a dificuldade de conceituar a pesca artesanal está associada à grande diversidade de espécies, equipamentos, métodos, ecossistemas, áreas e características socioculturais envolvidas.. Entende-se que a atividade de pesca, vista enquanto atividade humana direcionada à captura de recursos biológicos do ambiente marinho, é um fenômeno multidimensional. O qual envolve, simultaneamente, aspectos ecológicos, tecnológicos, sociais, culturais, econômicos e políticos. Além disso, sua análise distingue 4 sistemas interconectados entre si e com o sistema ecológico marinho-costeiro (Berkes et al., 2001): » o setor extrativo: que envolve todas as categorias de pescadores, e os diferentes tipos de petrechos e de recursos – é a unidade de gestão. » o setor pós-extração: compõem-se dos compradores, das unidades de processamento, beneficiamento e industrialização de produtos e derivados, e as conexões de mercado. » o sistema governamental, e finalmente » a sociedade civil.. A pesca artesanal pode ser definida, inicialmente, como uma modalidade de pesca caracterizada pela utilização de embarcações menores do que 8 m de comprimento total, motorizadas ou não, destituída de área coberta de armazenamento do pescado e de sistema de conservação, com baixa autonomia de mar e com baixo poder de pesca, quando comparada à pesca industrial (IBAMA/CEPSUL, 1994; 1998)..

(29) 17 Entretanto, uma formulação mais complexa leva em conta as relações sociais. de. produção. e. os. fatores. produtivos. (recursos. pesqueiros,. ecossistemas marinho-costeiros, técnicas, equipamentos e força de trabalho). Neste caso, Diegues (1983) propõe uma tipologia das formas de organização da produção pesqueira, visando cobrir as situações existentes no litoral Sudeste brasileiro – que de forma criteriosa pode ser aplicada ao litoral catarinense. Assim, situa a produção dos pescadores-lavradores e dos pescadores artesanais como sub-formas do que ele chama de pesca realizada nos moldes da pequena produção mercantil.. A pequena produção mercantil pesqueira tem como características principais o pescador proprietário dos meios de produção – um trabalhador relativamente independente –, a produção de valor de troca, em maior ou menor intensidade (i.e. a comercialização do pescado), e a exploração de um espaço marinho limitado a áreas litorâneas abrigadas e costeiras. O trabalho é organizado no âmbito da unidade familiar ou do grupo de vizinhança; a divisão social é pequena ou ausente; e a apropriação do produto é regida pelo sistema de partes ou quinhão. A tecnologia empregada tem baixo poder de captura (quando comparado com a pesca industrial), e as embarcações são. de. pequeno porte, motorizadas ou não, com baixa autonomia no mar. Na pequena produção mercantil não há a figura do não-trabalhador e a extração da maisvalia. Além disso, trata-se de uma forma de produção subordinada a uma outra (e.g. capitalista), que condiciona seu espaço de manobra.. Neste quadro, a pesca artesanal, vista como uma modalidade ampliada da pequena produção mercantil, apresenta características próprias. Em geral, ela é a principal fonte de renda para seus praticantes. Os pescadores tendem a explorar ambientes marinhos e costeiros mais distantes do litoral, com embarcações predominantemente motorizadas, o que exige conhecimentos mais específicos. A organização da produção é regida pela propriedade (individual ou grupal) dos meios e instrumentos de produção; e, geralmente, a comercialização está associada a um atravessador, num esquema onde o sistema de pesca é subordinando ao mercado. Além disso, é um traço marcante a identificação dos pescadores com a atividade pesqueira e uma.

(30) 18 quase aversão às atividades agrícolas, dando-lhes uma identidade grupal permeada pela imagem da profissão de pescador, orgulhoso dos seus conhecimentos sobre o mar e “seus segredos”, dos conhecimentos que os permitem “controlar a arte da pesca”. Os pescadores artesanais apresentam o “particularismo” da “gente do mar” – práticas sociais, econômicas e simbólicas marcadas pelo viver adaptando-se às incertezas, mudanças e dinâmica do ambiente marinho, das espécies pescadas e dos fenômenos atmosféricos associados (DIEGUES, 1983; 1995).. Outra forma de se definir a pesca artesanal é através da distinção entre pesca de larga escala e a pesca de pequena escala, proposta por Berkes et al. (2001). Ambas são atividades comerciais, entretanto, a pesca de larga escala representa o nível industrial da pesca, utilizando embarcações de grande porte e equipamentos altamente mecanizados e de alta sofisticação tecnológica, geralmente com estrutura de processamento a bordo. Na pesca industrial, os pescadores exploram grandes estoques de um número pequeno de espécies amplamente distribuídas em áreas produtivas. A pesca de pequena escala, apesar de explorar muitos dos estoques que interessam à pesca de larga escala, direciona-se também a um grande número de estoques menores contendo uma diversidade maior de espécies. Seu espaço de captura abrange tanto as áreas litorâneas e costeiras próximas, quanto aquelas mais afastadas, situadas na plataforma continental e, eventualmente, no talude continental. Em geral, se comparada à pesca de larga escala industrial, a pesca de pequena escala não apresenta o mesmo grau de sofisticação tecnológica e tampouco de modernização – mas pode empregar alguns equipamentos sofisticados. Por outro lado, a unidade de produção, embora estável, é pequena, a propriedade dos instrumentos de produção é individual ou de um pequeno grupo; o sistema de partes predomina como forma de pagamento; e é evidente a divisão de tarefas especializadas.. Nesse modelo, o termo pesca artesanal é empregado para designar uma modalidade intermediária entre a pesca de pequena escala e a pesca de subsistência – à qual os pescadores se dedicam parcialmente, usando embarcações de pequeno porte (motorizadas ou não), explorando uma grande.

(31) 19 diversidade de espécies e de nichos – e estoques, às vezes, muito pequenos (BERKES et al., 2001).. No Quadro 1 são apresentadas algumas das categorias de pesca elaboradas pelos supracitados autores, de forma a mais fiel possível. Cabe realçar que Diegues (1983) distingue uma categoria de “pesca de autosubsistência ou primitiva3”, a qual não faz parte da pequena produção mercantil. Ambos os modelos apresentados – Diegues (1983) e Berkes et al. (2001) – distinguem bem a pesca de subsistência de outras modalidades.. Contudo, Berkes et al. (2001) reforçam a dificuldade de se estabelecer categorias de pesca, especialmente quando se trata dos termos pesca artesanal, pesca tradicional, pesca de subsistência e pesca de pequena escala. Assim, propõem uma macro-divisão: pesca de larga escala e pesca de pequena escala. Mas, ao mesmo tempo em que englobam, sob o termo pesca de pequena escala, a pesca artesanal e a de subsistência, também o utilizam para distingui-la enquanto categoria. Desse modo, realçam simultaneamente os limites tênues que separam essas modalidades e a possível mobilidade dos pescadores através delas.. Numa tentativa de aproximar as duas classificações, nota-se que há uma correspondência entre a categoria “pesca artesanal”, proposta por Diegues (1983), e a categoria “pesca de pequena escala”, sugerida por Berkes et al. (2001). Já a categoria “pescadores-lavradores”, proposta por Diegues (1983), tem pontos de semelhança com a categoria “pesca de subsistência”, em Berkes et al. (2001), embora se aproxime mais da categoria “pesca artesanal” deles: uma categoria intermediária entre a “Pesca de Pequena Escala” e a “Pesca de Subsistência”, como pode ser averiguado no Quadro 1.. 3. Essa modalidade equivaleria à pesca praticada por tribos indígenas ou comunidades ribeirinhas, constituindo-se em mais uma das atividades do grupo e direcionada apenas à produção do “valor de uso” (DIEGUES, 1983:149)..

Referências

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