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Indisciplina escolar no ensino fundamental

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CETREDE – CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

INDISCIPLINA ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL

Ana Régia Silva dos Santos

Fortaleza-Ceará 2005

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INDISCIPLINA ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL

Ana Régia Silva dos Santos

Monografia apresentada à

Coordenação do Curso de

Especialização em Psicopedagogia como requisito parcial para obtenção do título de Especialista pela Universidade Federal do Ceará

Fortaleza-Ceará 2005

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Esta Monografia foi submetida como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Ceará e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.

A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que seja feita de conformidade com as normas da ética científica.

__________________________________ Ana Régia Silva dos Santos

Monografia aprovada em: ____/____/____

___________________________________________ Gláucia Maria de Menezes Ferreira

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Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia, que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos, olhos e competência para ultrapassar os perigos, alçando vôos acima deles. (Neidson Rodrigues, 1985).

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DEDICATÓRIA

Aos meus familiares -pai, mãe, filho, irmãos e sobrinho -, por me ajudarem a enfrentar as dificuldades desta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela força , coragem e oportunidade de fazer esse curso, me iluminando, de forma rica e questionadora;

A todos os professores do Curso de Especialização em Psicopedagogia da Universidade Federal do Ceará – UFC -, pelos momentos de reflexão e crítica que me ajudaram a compreender melhor a realidade educacional brasileira e, em conseqüência, a trabalhar de maneira mais questionadora e comprometida, principalmente, com a questão disciplinar;

Aos colegas de curso pelas experiências trocadas e pelas informações e momentos agradáveis que foram passados juntos;

Aos familiares, reconhecidamente meus colaboradores mais próximos – pais, filho, irmãos e sobrinho – pelo apoio e compreensão nos momentos em que precisei está ausente.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a Indisciplina Escolar no Ensino Fundamental observada a partir do desenvolvimento das atividades pedagógicas em sala de aula, analisando-a na perspectiva da Psicopedagogia. O que é Disciplina ou Indisciplina Escolar? Qual a importância de se fazer um estudo dessa natureza? Até que ponto a Instituição Escolar é responsável por ações, caracteristicamente, de indisciplina? E a Psicopedagogia, de que forma pode contribuir para o desenvolvimento de atividades disciplinares ou de orientação aos professores, dentro da Instituição Escolar? Que visão tem a Psicopedagogia sobre a questão disciplinar? Sabe-se que este problema vem sendo discutido, refletido e estudado desde que o homem começou a tomar consciência da responsabilidade com a educação de seus filhos, como condição necessária da própria convivência. O trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa bibliográfica, pois tenta conhecer o que pensam os estudiosos e os educadores sobre a disciplina escolar e sobre as mudanças necessárias na mentalidade educacional dos profissionais comprometidos com uma melhoria na qualidade do processo ensino-aprendizagem. Está alicerçada na leitura de trabalhos e livros na área da Psicopedagogia e sobre a questão disciplinar, como forma de entender como o ser humano espera conviver com os demais se não houver um respeito a normas e regras de comportamento estabelecidas, como necessárias, pela sociedade. No momento, faz-se necessário um trabalho de educação nesse sentido. Fica a esperança de que o homem entenda que ele é apenas um elo nessa “corrente” tão grande chamada humanidade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1.A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA E COMPORTAMENTO SOCIAL 12

1.1. O indivíduo e a sociedade 12

1.2. Normas e valores sociais: uma exigência do ser humano 16

2. A INDISCIPLINA E OS FATORES RELACIONADOS 19

2.1 Conceito de disciplina e sua transgressão 19

2.2. Fatores familiares de indisciplina 24

2.3. Escola e indisciplina: análise do professor, organização escolar e

relações com administradores 26

3. PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO NOS EVENTOS DE INDISCIPLINA NA

ESCOLA 33

3.1. As Relações professor e aluno à luz da psicopedagogia 33

3.2. A atuação do psicopedagogo na escola 38

4. CONCLUSÃO 41

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INTRODUÇÃO

A (in)disciplina é uma das principais temáticas que preocupam pais e educadores nos dias atuais. Se houver o entendimento de que a disciplina é uma ordem consentida, convenientemente, ao funcionamento das organizações sociais, então se reconhece que a disciplina é imprescindível na organização familiar e escolar.

Como processo democrático, a educação deve oferecer à criança e ao adolescente condição de exercerem atividades sociais, esportivas, etc. e de participarem de atividades culturais de forma atuante e crítica. Para isto, o respeito às normas e aos padrões de comportamento previamente estabelecidos pela sociedade, deve ser a preocupação primeira da escola, buscando-se desenvolver um trabalho eficiente de conscientização, pois, é condição para uma melhor convivência em grupo.

Toda a ação pedagógica deve ter como objetivo primeiro a aluno e sua aprendizagem, ou seja, a criança enquanto ser cognoscente, em todas as suas dimensões. Daí a importância da presença do psicopedagogo no dia-a-dia da escola, fazendo parte de seu corpo técnico, pois, enquanto profissional ele tem como objetivo facilitar a construção do EU cognoscente, identificando os obstáculos que impedem que essa construção se faça, e ao mesmo tempo, reconstituindo suas possibilidades. No entanto, é impraticável o desenvolvimento de um trabalho pedagógico de qualidade, sem as mínimas condições disciplinares. Como trabalhar com crianças e adolescentes que não respeitam limites? De que forma pode-se buscar uma mudança num quadro de indisciplina?

Numa sociedade como a nossa, que passa por uma inversão de valores tão grave, gerando problemas sociais tão sérios, que, de uma forma ou de outra se

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reflete na educação das crianças, é fundamental um investimento na questão disciplinar; um atendimento sistemático com psicopedagogos na escola é uma alternativa viável. Nunca se buscou tanta solução para os problemas de aprendizagem, mas, se não houver um trabalho consciente no sentido de que, pouco se pode fazer sem disciplina, os resultados não serão os esperados

.Para a construção de uma nova sociedade, deve-se trabalhar de forma a garantir a todos o efetivo exercício da cidadania. Mas, como fazer quando os problemas impedem esse trabalho? Quando esses problemas são de disciplina, o que fazer? Onde buscar alternativas? A busca dessas alternativas deve ser uma constante na escola, bem como uma exigência da própria comunidade escolar que, espera-se, seja presente. Até, porque, já existe hoje uma perspectiva de resultados satisfatórios com relação à educação enquanto direito de todos e instrumento de transformação. Sua concretização será sentida a partir do momento em que se observar vontade política dos que realmente têm poder de decisão na sociedade, em investir na Educação de Qualidade para Todos, incluindo-se, aqui, um investimento nos problemas sociais que refletem na educação das crianças e jovens.

Uma parceria satisfatória no processo ensino-aprendizagem pode ser a atuação de um profissional da área da psicopedagogia; nem sempre, existe nas escolas ou se tem acesso a eles, mas, por parte da instituição escolar, se reconhece que, a possibilidade de mudança e de crescimento do ser humano, passa por respostas oferecidas por um trabalho sistemático de qualidade, respaldo para a luta por um trabalho consciente e crítico.

Fica aqui a esperança de novos investimentos na educação, principalmente, num trabalho voltado exclusivamente para os alunos indisciplinados ou crianças com outros problemas de aprendizagem, que, muitas vezes, contribuem para a indisciplina da escola, porque não conseguem

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adaptar-se à ela ou porque ela não lhe oferece nenhuma perspectiva de crescimento.Trabalhar o conhecimento de forma mecânica não é o suficiente. Tem que despertar no aluno o desejo de aprender e inculcar-lhe o verdadeiro valor de um conhecimento crítico, de qualidade.

Levando-se em conta a questão da disciplina escolar e as dificuldades em e fazer um bom trabalho num ambiente indisciplinado é que estudiosos como Gotzens (2003), Vasconcelos (1995), Saltini (1997) Scoz (2000), dentre outros, fundamentam este trabalho, pois a preocupação primeira de cada um deles é exatamente o resgate, por parte da criança ou do jovem, de contribuírem para a disciplina escolar, como forma de crescimento humano e de possibilitar um aprendizado de qualidade.

Nesse sentido, o trabalho foi dividido em três capítulos, coerentes entre si, que tratam: o primeiro, da evolução da sociedade e do comportamento humano, tendo como condição de sobrevivência o respeito às normas; o segundo, da indisciplina e os fatores correlacionados e o terceiro, de forma mais específica, trata da importância e da necessidade do trabalho do psicopedagogo na escola, como suporte à uma educação de qualidade.

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1.A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA E COMPORTAMENTO SOCIAL

1.1. O Indivíduo e a Sociedade

O homem é, por natureza, um ser social e por isto se distingue dos demais seres vivos. Ele não sobrevive sozinho e a necessidade de criar padrões de comportamento que permita sua vida em sociedade é uma constante. Em outras palavras, o homem caracteriza-se pela ausência de especialização genética.

Sobre o assunto, Willems (1966, p.09) assevera:

A ausência de especialização genética no homem é amplamente compensada pela realização mais admirável da evolução orgânica: um cérebro poderoso que lhe permite inventar e desenvolver o aparelhamento de que necessita para sobreviver...Este cérebro torna possível, em escala cada vez maior, a transformação das condições dessa sobrevivência, através do uso engenhoso do fogo, da construção de habitações adequadas aos climas mais diversos, da manufatura das roupas protetoras, do cultivo de plantas e da criação de animais que lhe aumentam as provisões de alimentos, através da invenção de meios mecânicos de transporte, de técnicas de conservação de alimentos [...].

Nesse contexto, o homem é o único animal capaz de inventar e usar símbolos, isto é, ele é capaz de associar significado a tudo que pode ver, ouvir, tocar ou cheirar, condição indispensável à invenção e a transmissão da cultura.

A riqueza do ser humano reside, exatamente, no fato dele compreender o alcance do processo de simbolização e reconhecê-lo como necessário. Cada povo, cada cultura cria seus próprios símbolos e, a partir deles, regem a vida de toda a sociedade. Pode-se dizer que: “Estas, sim, encontram as possibilidades de

sua própria sobrevivência somente no aparelhamento cultural criado por elas mesmas”(Willems, idem, p. 17).

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Questões como: o que é cultura ou, até que ponto, a sociedade sobrevive sem cultura? A transmissão cultural é um processo inerente a qualquer sociedade? Como ocorre essa transmissão? Que instituições são responsáveis pela transmissão cultural? E a escola, como deve trabalhar a cultura do aluno? Estas, devem servir de ponto de reflexão se há a pretensão de entender ou compreender o relacionamento humano, suas limitações ou a necessidade de padrões de comportamento como forma de “criar” uma previsibilidade para o comportamento das pessoas frente a determinadas situações dadas.

“A cultura compreende...as regras ou normas da vida social. Uma sociedade existe somente na medida em que seus membros agem uns sobre os outros de maneira ordenada, isto é, de acordo com regras implícitas, ou explicitamente reconhecidas” (Willems, 1966, p.18). Essas regras são definidas

como costumes, convenções, usos, etiquetas, moral, leis, estatutos, normas, etc., e o significado de cada uma delas varia de acordo com o tempo histórico ou com as sanções empregadas pela própria sociedade para cada situação.

No entanto, não se pode esquecer que, enquanto certas formas correntes de comportamento social se guiam por regras ou normas estabelecidas, outras, divergem delas, acabando por modificá-las. Caracterizam, assim, as mudanças sociais. Quando tomadas isoladamente, as regras podem assumir um caráter autoritário, mas, para a sociedade, são elas que vêm garantir as mínimas condições de sobrevivência, no que diz respeito ao relacionamento e ao respeito entre as pessoas.

Nenhuma sociedade sobrevive sem cultura. É a cultura quem proporciona aos membros de uma sociedade uma espécie de guia comportamental, indispensável em todos os campos da vida.

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De acordo com Ralph Linton (apud Cardoso e Ianni,1971, p.99), pode-se afirmar que:

Sem ela, tanto a sociedade como seus membros estariam impossibilitados de funcionar eficientemente. O fato de a maioria dos membros da sociedade reagir a uma dada situação de determinada forma capacita a qualquer um a prever o comportamento, com um alto grau de probabilidade, se bem que jamais com absoluta certeza. Essa previsão é um pré-requisito em todo tipo de vida social organizada.

Em outras palavras, os padrões culturais característicos de toda e qualquer sociedade vêm ajustar o comportamento de uns indivíduos aos outros. Sua existência, repassados de uma geração à outra, é necessário tanto para o funcionamento de uma sociedade, como para sua conservação. Como nos coloca Linton (idem, p.100) “... o sistema social como um todo é uma configuração mais

extensa de padrões culturais”.

É ensinando aos indivíduos de cada geração os padrões culturais vigentes e as posições relativas a cada papel desempenhado, que a sociedade vai se perpetuando. A aptidão do ser humano para o ajustamento a condições de mudança ou de desenvolvimento, é inegável. Embora sobre a influência decisiva da sociedade e da cultura, cada ser humano guarda dentro de si uma individualidade que o permite ajustar-se a novas situações. Linton (idem, p. 101) exemplifica: “O primeiro homem que se embrulhou numa pele ou alimentou o fogo

não o fez consciente da necessidade que tinha a sociedade dessas inovações, mas porque sentia frio”.

Passando a um nível mais alto de complexidade cultural, qualquer que seja o mal que faça uma instituição a uma sociedade em face de condições em mudança, o estímulo para transformá-la ou abandoná-la não vem nunca do indivíduo sobre o qual ela não pesa. Novas invenções sociais são feitas por aqueles que sofrem por causa das condições reinantes e pelos que se aproveitam com elas (idem, p.102).

Nesse sentido, há um aspecto da cultura que se “sobressai” sobre os demais e é, em parte, responsável pela transmissão cultural: é a linguagem. Ela

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existe a partir das relações humanas e, por sua vez, interfere na forma como se organiza o pensamento e a consciência dos homens, ou seja, ela é construída e como toda construção do homem, seu sentido ou seu significado varia de acordo com a sociedade.

A linguagem é uma das formas de comunicação entre os homens; ou melhor, é a comunicação por excelência das sociedades letradas como a nossa. Nesse contexto, fazer com que a criança se sinta parte do processo de construção da linguagem é tarefa não só da família, mas, principalmente, da escola, cuja função social é ensinar. Saber como as crianças constroem seus conhecimentos em interação com outras crianças e com os adultos, na vida e na escola, como defendem seus valores, sua posição nos grupos sociais a que pertencem, seus ideais e de que forma se relacionam ou se comunicam na e com a família, é imprescindível para entender seu processo de socialização e, conseqüentemente, seu nível de interação com as demais pessoas. O respeito às normas e as mudanças possíveis devem nortear todo o processo.

A linguagem é fator de interação social, permitindo a troca de informações e de experiências e definindo, portanto, a assimilação das conquistas alcançadas ao longo do tempo. “A palavra articulada é a mais importante forma de expressão

simbólica” (White apud Cardoso e Ianni, 1971, p. 188). Nesse sentido, ninguém

pode retirar da cultura a linguagem, pois, a palavra significa comunicação de idéias, preservação cultural, acumulação, tradição, processo histórico. Na escola a criança aprende, a partir da linguagem falada e escrita, toda a história da sociedade na qual está inserida e o conhecimento acumulado pela humanidade no decorrer do tempo.

A preocupação com a linguagem tem sido objeto de estudo de muitos trabalhos e, hoje, já se busca uma compreensão da própria história do homem a partir dela que evoluiu das ideografias da Idade da Pedra ao jornal e ao rádio do

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mundo moderno. Estes, vistos como extensões instrumentais da palavra falada. Tão característicos das sociedades atuais, sua amplitude permite que o homem conheça símbolos de outros povos e passe a fazer um comparativo com os seus, inclusive, tomando consciência da relatividade dos valores e dos padrões de comportamento.

1.2. Normas e Valores Sociais: Uma exigência do ser humano

Todas as civilizações se perpetuam pelo uso de símbolos. “O símbolo é

alguma coisa cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o usam”

(White apud Cardoso e Ianni, 1971, p. 182).

Sobre o assunto, Znaniecki (apud Cardoso e Ianni, idem, p. 88) faz a seguinte colocação:

Cada elemento que entra na composição de um sistema cultural tem o significado que lhe atribuem aqueles que o estão usando efetivamente, e o estudioso não pode captar este significado a menos que consiga aperceber-se da forma assumida pelo elemento na experiência dos que dele se servem.

Em virtude de sua determinação essencialmente prática com relação a qualquer atividade humana, são chamados de valores os objetos culturais. Estes, possuem um conteúdo e um significado e quando considerados com relação a um sistema particular, podem parecer “útil” ou “inútil”, “desejável” ou “indesejável”, etc.

Os valores sociais, até certo ponto, podem definir o comportamento social das pessoas. O que elas acreditam ou deixam de acreditar, gostam ou deixam de gostar, usam ou deixam de usar, por exemplo, podem definir mudanças radicais no comportamento de cada um.

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Pode-se dizer que, “o sistema de valores” da sociedade se constitui em atitudes e formas de comportamento que merecem preferência sobre as demais, assim como a hierarquia de tais preferências e suas relações com os demais aspectos da vida social.

É em função da existência de muitas regras de comportamento e das relações observadas entre elas, que se pode falar em sistema de regras ou

sistema normativo. Sua função é conferir continuidade e estabilidade à vida em

sociedade, a partir da previsibilidade do comportamento de cada pessoa que, por sua vez, é reflexo de um comportamento repetitivo fundamentado nessas regras, pré-estabelecidas. Só assim, é possível uma vida em sociedade, embora não se possa negar as mudanças.

Segundo Tonnies (1942, p. 213), uma norma social pode ser compreendida como:

uma negação ou uma proibição, ou seja, como uma limitação da liberdade humana, pois o mandato positivo anula também a liberdade existente de agir segundo a própria vontade, ou de maneira diferente da determinada e, sobretudo, da liberdade de agir contra o mandato... A proibição fecha um determinado caminho, permitindo, porém, todos os outros, ou seja, deixando-os abertos. O mandato fecha todos os caminhos exceto o indicado e o prescrito, o qual, como caminho autorizado, é o único permitido, ao mesmo tempo em que é proibido não percorrê-lo. Por isso, a relação entre a proibição e o mandato não é apenas uma relação de oposição, uma vez que, o mandato é conjuntamente uma proibição ampliada e aumentada.

No entanto, a característica social de uma norma só fica estabelecida quando um mandato ou uma proibição responde a uma vontade conjunta de diferentes pessoas socialmente unidas pela “autolegislação”. É um fenômeno permanente, diário. uma tentativa de garantir o mínimo de organização na sociedade.

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Ainda existem outras formas de agir sobre a vontade das pessoas, limitando seus comportamentos, suas vontades. São elas: o pedido, o conselho, a exortação, a advertência, a requisição, a citação, o convite, a doutrinação, a persuasão, a incitação, a sedução, o suborno, entre outras, que, por si só, não garantem a ordem estabelecida, mas, igualmente, limitam a ação dos demais. O que há em comum é o uso racional de signos da linguagem, graças ao qual se entendem mutuamente.

Tonnies (1942, p. 216) faz colocações bem mais específicas sobre o assunto. Ele afirma que:

Logicamente, é indiscutível que o homem, na medida em que possui uma razão, é dono e senhor de suas ações. Este ser senhor de si próprio significa também que ele pode proibir algo a si mesmo; com isso, se expressa somente um fato de nossa própria consciência que era comum caracterizar-se, além do mais, como o domínio da parte racional da alma humana sobre sua parte irracional, sobre seus impulsos e paixões.

No entanto, viver em sociedade supõe muito mais do que limitar vontades ou desejos ou, por outro lado, ficar indiferente ao comportamento dos demais. Como ser social, o homem precisa do homem. A maior parte dos traços de sua personalidade são aprendidos ou adquiridos em associação íntima com outros seres humanos. Daí, a necessidade da escola, como instituição responsável pelo processo ensino aprendizagem, colocar para cada educando a necessidade do respeito a normas estabelecidas em seu regimento interno, mas, principalmente, aos padrões de comportamento aceitos pela sociedade no qual cada um encontra-se inencontra-serido, como uma alternativa de viver bem, em harmonia e mantendo o mínimo de condições de sobrevivência. Valores como o respeito, a paz, a honestidade, a lealdade, a amizade, a parceria, devem ser referência se há a preocupação com a questão da qualidade de vida e/ou do respeito à própria vida, bem maior de cada ser humano.

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2.A INDISCIPLINA E OS FATORES RELACIONADOS

2.1. Conceito de Disciplina e sua transgressão

Embora não sendo uma realidade nova, a questão disciplinar continua despertando interesse por parte de todos os envolvidos com o compromisso de buscar maiores possibilidades de um bom trabalho em sala de aula, conseqüentemente, de melhores resultados no processo de aprendizagem da criança.

A disciplina apresentada em algumas instituições escolares hoje, tem impedido o desenvolvimento de um bom trabalho, ou seja, o comportamento do educando não tem se ajustado, de forma adequada, às exigências estabelecidas por aqueles que, sendo responsáveis pelo funcionamento escolar, primam pelo cumprimento de um trabalho satisfatório.

O que fazer? Como buscar alternativas de superação do problema da indisciplina numa perspectiva psicoeducativa? O que é, de fato, disciplina e/ou indisciplina? Que tipo de educação se pretende e quais os códigos disciplinares coerentes com este tipo especifico de educação?

Gotzens (2003, p.20) chama a atenção para algumas características que se tem colocado na definição de disciplina pela maioria dos estudiosos.

[...] trata-se de definições que, embora se ocupando da disciplina no contexto escolar, não parecem levar em consideração os aspectos psicológicos do ensino do tema, isto é formulam a questão da disciplina independentemente de se referir ao estabelecimento da ordem na sala de aula ou em outro contexto cujos objetivos em nada se relacionam com os processos de ensino-aprendizagem. Em segundo lugar, a maioria assinala o caráter sociocultural do tema, insistindo em suas relações com conceitos como de poder, de autoridade, etc. e, no

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entanto, omitem sistematicamente seu valor como variável mediadora e facilitadora do êxito no ensino.

Descontextualizada do ambiente psicopedagógico, a disciplina tem deixado muitos profissionais do magistério sem perspectiva de fazer um bom trabalho, principalmente, porque, ainda é vigente a idéia da necessidade de repressão como forma de conter a “rebeldia” dos educandos. A autodisciplina ou, ainda, a possibilidade de uma disciplina consentida, a partir de uma consciência crítica trabalhada, ou planejada, como uma dinâmica do próprio processo educacional, ainda é pouco discutida pelos profissionais do magistério. Até porque, historicamente, a instituição escolar tem sido marcada pelo autoritarismo.

Nesse contexto, as dificuldades são grandes, pois, a disciplina escolar não se constitui num receituário pronto para enfrentar os problemas de comportamento apresentados pelos educandos, mas, apenas num enfoque de organização e numa dinâmica de padrões de comportamento.

Possui um caráter funcional e instrumental e, enquanto instrumento, vê-se que “...deve-se aprender a usá-la e, cujas possibilidades, limitações e riscos, é

preciso conhecer a fim de manter o sempre difícil equilíbrio de forças entre disciplina e o comportamento do grupo” (Gotzens, 2003, p.24).

Sendo um dos objetivos básicos da escola favorecer relações socialmente respeitosas, harmoniosas e coerentes com os padrões de comportamento estabelecidos pela sociedade, a disciplina pode constituir-se num dos pontos de ensinamento, já que, não se imagina o desenvolvimento de um processo ensino-aprendizagem sem uma ordem e uma disciplina necessárias.

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[...] o tipo de disciplina que, em termos gerais, se impõe depende principalmente da importância que cada sistema educacional – assim como os educadores responsáveis por ele – atribui à socialização de seus alunos. Isto é, se o tema é relevante para a educação dos cidadãos, necessariamente deverá ser planejado, e isso para todos os indivíduos, não apenas para os que apresentam problemas. Além disso, será preciso ter um cuidado especial com as formas como será aplicado e desenvolvido, já que não se pode cair no contra-senso que significa a utilização de estratégias agressivas e até cruéis, quando o que se busca é o ensino de formas de interação positivas para elas.

A importância da disciplina como um valor social reconhecido e aceito como aprendizagem e socialização é o que conta.Toda a dinâmica de uma sala de aula, por exemplo, passa por questões disciplinares, já que, as atitudes e as ações de uns afetam os demais. “Por isso, é preciso assinalar que quando se diz que o professor planeja e controla a disciplina, enfatiza-se a responsabilidade do educador para instrumentalizar a moderação dessa dinâmica, sabendo que isso pode gerar conflitos ou simplesmente agravá-los” (Gotzens, 2003, p.26).

Por outro lado, a existência de normas estabelecidas pelo grupo tendo como mediador a pessoa do professor é fundamental, principalmente, porque caracteriza uma situação de co-responsabilidade, onde, as cobranças podem vir do próprio grupo. É preciso levar em conta situações diferenciadas; algumas delas, gerida pelos próprios alunos frente aos demais, pois, estes, quando chamados a cooperarem com o grupo maior, geralmente, o fazem espontaneamente. Os prêmios ou castigos, tão usados por algumas gerações, já não oferecem o mesmo resultado, até, porque, nos dias atuais a própria família oferece uma autonomia maior às suas crianças e aos seus adolescentes. O que parecia funcional durante tanto tempo, deixa de ser, em função de uma sociedade mais liberal e com menos cobranças.

No entanto, não se pode esquecer que a escola é apenas mais uma das instituições responsáveis pelo processo de socialização e, por que não dizer, de

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educação das crianças e jovens – ao lado da família, vizinhança, grupo de amigos, etc. -, não cabendo, unicamente a ela a solução dos problemas dos cidadãos que a freqüentam. Não se pode superdimensionar as possibilidades reais da escola, embora, se reconheça que, em nível de sala de aula, a questão disciplinar deve passar pelo planejamento das atividades pedagógicas.

Alguns exemplos são claros e comuns a todas as instituições escolares que lidam, diretamente, com a educação de crianças e adolescentes. Gotzens (2003,p. 29), é enfático ao fazer algumas colocações:

[...] quando se indaga aos professores a respeito de quais são os problemas de disciplina que tanto os angustiam, constatamos que, em geral, não são problemas que se referem à disciplina escolar, mas sim a problemáticas sociais de alto nível (delinqüência, uso de drogas, marginalidade, etc.), cuja solução ninguém pode pensar seriamente que esteja nas mãos da instituição escolar, o que não significa, obviamente, que ela deva ignorá-los.

Diante da perplexidade dos educadores com relação ao assunto, Vasconcelos (1995, p.13) faz referências a um tipo de situação que ele considera bem mais grave: “... se esta indisciplina for comparada com a social – fome, mortalidade infantil, desemprego, neonazismo, tráfico de drogas, corrupção, favela, pichação, assalto, seqüestro, roubo...extermínio de crianças, etc. – até que a indisciplina escolar não parece tão grave”.

Mas, o problema existe: o que fazer? Como enfrentá-lo? Até que ponto a indisciplina é uma “falha” do educador e/ou da escola?

Partindo do princípio de que a relação professor-aluno é algo construído e reconstruído continuamente, a visão que o educador possui sobre sua ação pedagógica é fundamental para essa construção, embora a questão disciplinar se coloque de forma bem mais ampla.

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Como nos afirma Vasconcelos (1995, p.33):

É preciso ter consciência de que estamos numa grande luta: a luta contra a brutalização, a alienação, a destruição do homem. Não podemos esquecer isto, não podemos reduzir o problema simplesmente à relação professor-aluno, aluno-escola. O inimigo é muito maior do que se imagina num primeiro momento (e não é o aluno). O trabalho da escola tem uma repercussão muito maior também: não se trata simplesmente de transmitir determinados conteúdos socialmente acumulados pela humanidade; trata-se além disso de inserir o sujeito no processo civilizatório, bem como na sua necessária transformação tendo em vista o bem comum.

Falar de disciplina escolar supõe uma consciência de que, não basta apenas prestar atenção ou participar,de forma “civilizada” das atividades da escola, mas, passa pela formação do caráter, da cidadania e de uma consciência crítica de transformação. Passa por uma questão maior que tem norteado os debates em prol de uma educação de qualidade: que tipo de homem se quer formar? Para que tipo de sociedade?

Questionamentos à parte, o fato é que “sem disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo” (Vasconcelos, 1995, p. 37).

Para Vasquez (1982, p. 259), nos dias atuais, pode-se dizer que: “buscamos construir uma nova disciplina que deixe de ser a expressão das relações sociais alienadas”.

Coerente com os objetivos maiores da escola, deve-se investir numa disciplina voltada para o respeito, a participação, a consciência crítica de sua necessidade e a autonomia do aluno, oferecendo-lhe condições de se autogovernar, na busca de uma aprendizagem mais significativa.

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2.2. Fatores Familiares de Indisciplina

A disciplina é um processo aprendido de forma sistemática, com origens institucionais as mais diversas: a sociedade no qual o educando está inserido, a família, a escola, o professor e o próprio aluno. O que muda é o nível de influência ou de importância de cada instituição sobre ele.

No entanto, ela é uma construção coletiva que envolve participação, envolvimento família X escola, grupo de amigos, etc.

Nesse contexto, a família por ser o primeiro grupo social a que cada ser humano pertence, se constitui numa unidade fundamental de experiência, de aprendizagem, criatividade e relações harmoniosas, sendo urgente o investimento da escola no processo de formação e conscientização dos pais, aproveitando todos os espaços que surgirem no decorrer do processo ensino-aprendizagem.

Num sentido mais específico, é na família que as pessoas satisfazem suas necessidades básicas de alimentação, afeto, segurança, desapego, disciplina, aprendizagem e comunicação. Além desses fatores de proteção, a família também deve se organizar para tornar-se um bom continente das ansiedades infantis, próprias do processo de desenvolvimento. É na família se estabelece a mais importante forma de aprendizagem: a aprendizagem de estabelecer vínculos, a capacidade de aprender a se relacionar com as outras pessoas, portanto, consciente ou inconscientemente, as primeiras formas de estabelecimento dos limites necessários.

Pode-se dizer que é na família que se concretizam os primeiros vínculos da criança com o mundo, com o objeto. Todos os dias, em todos os momentos, a criança estabelece vínculos. O tipo de vínculo que ela estabelece ou a forma

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como se estabelecem vai definindo a visão de mundo que a criança vai adquirindo, suas opiniões, valores e até seu caráter e sua personalidade.

Klein (apud Chamat, 1997, p.61) aponta que: “a formação das estruturas

afetivas antecedem a formação das estruturas psicológicas do ego...pois é nas primeiras relações mãe-filho que a afetividade se manifesta e vai se cristalizando durante o desenvolvimento do bebê, preservando assim suas estruturas psicológicas a serviço do ego, e a nível orgânico, sua sobrevivência”.

É exatamente na família, por ocasião de sua entrada na escola, que a criança demonstra seus primeiros momentos de angústia, medo, desespero, protesto, insegurança, em função de uma separação necessária. Ela não possui a consciência do retorno da mãe para apanhá-la e se sente sozinha.

A partir de um tipo de relacionamento fundamentado, imprescindivelmente, no afeto, no amor, num vínculo íntimo e contínuo de cuidados, se pode garantir a superação desses problemas cujos reflexos se farão sentir nos resultados do trabalho pedagógico, quando a criança deixa clara sua situação de ajustamento ao grupo ou não. Como acredita Moreira (1992, p. 60) às vezes, “esquecemos que o

ato pedagógico não envolve apenas um convite intelectual para o conhecimento, envolve também uma relação afetiva forte entre os que ensinam e aprendem, relação essa que precisa ser vivida com todas as suas ambigüidades, dificuldades e contradições”.

Os cuidados do grupo familiar e, mais especificamente, da mãe são determinantes para o equilíbrio emocional da criança que será “testado” em várias ocasiões, no decorrer da vida, principalmente, na escola, ambiente de interação constante e de limites necessários.

Infelizmente, a percepção que se tem da família – em crise - na sociedade de hoje, nos leva a duvidar desse tipo de cuidado, por parte de um grande número

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de famílias. Muitas estão totalmente desestruturas, desorientadas com relação aos valores sociais, transferindo, principalmente, para a escola, a responsabilidade de estabelecer limites e desenvolver hábitos básicos nas crianças e jovens, antes estabelecidos pelas próprias famílias.

2.3. Escola e Indisciplina: análise do professor, organização escolar e relações com administradores

Ao estudar o problema da Disciplina Escolar, Gotzens (idem, p.27) coloca algumas dimensões a serem consideradas no estudo do tema, já referidos aqui: dependência do contexto, funcionalidade, ensinamentos, valor socializador, caráter positivo e interatividade e reconhece sua coerência com a visão de disciplina que se deve trabalhar nos dias atuais.

Para os autores Genovard, Gotzens e Montane, apud Gotzens (2003, p. 26), a disciplina deve ser considerada como:

[...] conjunto de procedimentos, normas e regras mediante os quais se mantêm a ordem na escola e cujo valor é basicamente o de favorecer a consecução dos objetivos propostos ao longo do processo ensino-aprendizagem do aluno

Qualquer tipo de comportamento que ignore ou transgrida essas normas, pode ser reconhecido como um comportamento indisciplinado. No entanto, nem todo comportamento fora dos padrões considerados normais pode ou deve ser resolvido pela instituição escolar. Até, porque, a escola nem sempre tem as soluções esperadas.

Quanto ao professor – cuja competência é orientar o processo ensino-aprendizagem de acordo com a idade, as características e as necessidades dos

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educandos -, nem sempre está preparado para resolver tais questões. Mas, o problema continua. O que fazer? Como essas questões são vistas pelo professor? De que forma elas devem ser trabalhadas em sala de aula?

Além dos problemas sociais característicos do mundo moderno refletirem diretamente na escola – as drogas, a prostituição infanto-juvenil, a violência, etc. – muitos cursos de formação de professores não priorizam a questão disciplinas em seus currículos, deixando-a totalmente fora de discussão.

Há uma estreita relação entre a disciplina escolar e a disciplina da sala de aula, embora em níveis diferentes. A disciplina escolar refere-se à totalidade das ações desenvolvidas no âmbito da escola, enquanto que, a disciplina em sala de aula é resultado de um comportamento apresentado por todos os alunos que nela desenvolvem atividades. Cabe ao professor ser mediador do comportamento dos alunos no decorrer de suas atividades pedagógicas.

A grande dificuldade no enfrentamento da problemática disciplinar está no fato de não existir métodos ou ferramentas que possam contribuir numa mudança de comportamento por parte do aluno, em sala de aula. “Para isto concorrem a falta de análise dos determinantes, a falta de clareza de objetivos, a falta de mediações concretas, bem como a falta de interação entre estas três dimensões básicas” (Vasconcelos, 1995, p. 17).

É comum ouvir um professor comentando que: nunca esteve tão difícil trabalhar com as crianças e os jovens. Alguns acreditam que a falta de perspectiva por parte do aluno na possibilidade de uma ascensão social a partir da escola tem contribuído para que o problema se agrave. Outros, colocam a inversão de valores por que passa a sociedade moderna como a grande responsável pela indisciplina, ao lado da crise moral porque passa a família e de uma crise ética

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que caracteriza a sociedade capitalista nas condições atuais; conseqüentemente, outras instituições sociais. A própria relação escola-sociedade vem mudando consideravelmente. A noção de sentido e de limite assume novas feições.

O que se observa é uma transferência de responsabilidades da família e de outras instituições sociais para a escola, como, se ela possuísse poderes absolutos na resolução dos problemas de comportamento dos jovens de hoje.

Por outro lado, a situação do professor também mudou: paralelo à desvalorização da profissão e das condições de trabalho, houve um crescimento do senso crítico dos educadores.

Segundo Vaconcelos (1995, p.25) o problema é bem mais sério. Ele afirma:

Há uma desorientação geral hoje na sociedade: quer se superar o velho, mas não se sabe bem como é o novo. Há crise da racionalidade, crise dos projetos sociais, das utopias, do sentido para viver, crise da autoridade em nível mundial, mudança no sistema de valores. Constata-se que as agências produtoras de Constata-sentido (partidos, igreja, família, escola, ciência) estão em crise. É a crise da Disciplina no contexto da Pós-Modernidade.

O discurso que se tem feito nos dias de hoje é que a função da escola é a formação de um novo homem e de uma nova sociedade, caracterizados pela possibilidade de se autogovernar; no entanto, com a crise social observada em todos os níveis, fica difícil se falar em educação para a autonomia. Num momento em que a própria família é objeto de questionamento, como definir limites e/ou sentidos para a conduta do educando?

O professor, enquanto profissional que lida diretamente com crianças e jovens, se sente perdido diante de algumas situações de indisciplina. Mas, a

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importância do seu contato diário com o educando fica clara quando se percebe que ele pode orientar uma mudança de comportamento esperada. Como fazer para impedir ações não aceitáveis em sala de aula? Como disciplinar sem criar um conflito entre o professor e o aluno? Como tratar os casos de indisciplina?

O que se percebe claramente é que a postura do professor e sua visão pedagógica confirmam ou não os limites colocados em sala de aula. Até, porque, a relação pedagógica professor X aluno é algo construído e reconstruído continuamente. “São os homens metamorfoseados de professor e de alunos que a recriam a todo minuto sob o peso milenar da tradição herdada, subvertida pela ânsia sempre presente de avançar e de transformar” (Vasconcelos, 1995, p. 28).

Mas, a questão disciplina continua uma incógnita. Como criar ou encontrar alternativas de trabalho na escola de hoje, se a questão disciplinar vai de um extremo a outro: há os profissionais autoritários, herdeiros da chamada escola tradicional e os liberais que, contrapondo-se à estes, levantam a bandeira da liberdade e, em seu nome, permitem todo tipo de manifestação em sala de aula.

O cuidado que se deve ter é com os limites – se existem ou quais são – e, com os rótulos apregoados. Construídos historicamente, nestes dois “modelos” de disciplina as pessoas não se reconhecem como iguais, ou como alguém que está criando um compromisso consciente. O desafio é a superação de ambas: a disciplina autoritária e a espontaneísta, buscando-se, sempre, a criação de um novo modelo.

Como nos afirma Vasconcelos (idem, p.32):

[...] os dois pólos só fazem aumentar o descompromisso e o ódio mútuo, transformando o movimento educacional num processo destrutivo. Mais e mais alunos e professores vêem a aula como algo terrivelmente

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desagradável. Agiganta-se aos olhos dos alunos a imagem do professor como repressor e aos olhos deste, aprofunda-se a ‘certeza’ desanimante de que os alunos são perversos e imutáveis, constituindo-se no ‘mal necessário’ para a ação educacional.

Acredita-se que o caminho mais viável para a construção de um bom trabalho em sala de aula é através de uma participação consciente e interativa, onde cada um possa se reconhecer como agente histórico de transformação. A partir de uma experiência de mudança na escola, o educando está sendo protagonista de uma mudança mais ampla.

“Antes de tudo ..., nossa disciplina deve ser sempre uma disciplina consciente. (...) Nossa disciplina, como fenômeno moral e político, deve vir acompanhada de consciência, isto é, de uma noção do que é disciplina e para que a necessitamos” (Makarenko, 1977, p. 175).

Além de apontar os limites, a disciplina deve apontar, também, as possibilidades. Ao professor, cabe a responsabilidade de orientar esse processo de construção em sala de aula. “O professor como coordenador do processo não pode ser omisso, mas profundamente interativo. Atento às diferenças entre os alunos na sala de aula, deve buscar combiná-las (combinações construtiva das diferenças), trazendo de cada elemento o que ele pode contribuir” ( Vasconcelos, 1995, p.44).

Com relação à organização escolar, a disciplina se define a partir da função social da escola. Mas, “para alcançar a disciplina é fundamental que se tenha um horizonte buscado juntos, objetivos comuns. Isto normalmente não tem ocorrido nas escolas, onde o aluno se vê obrigado a estar numa sala de aula sem entender o porquê e o para quê daquilo” (Vasconcelos, idem, p. 58).

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Com relação ao professor, exige-se uma consciência de grupo; uma consciência de que ele é parte de um contexto maior, pois, o reflexo do comportamento de uma turma, em determinada matéria e/ou com determinado professor, fica claro nas demais aulas, daí, o seu compromisso com um trabalho participativo, interativo.

Por outro lado, as normas da escola devem ser bem definidas, claras (o que, para que, quem, quando, onde...) e colocadas por escrito e o Conselho Escolar deve ser, de fato, atuante. Como possuem representantes de todas as categorias profissionais da escola, representa um espaço de estudo, discussão e análise da prática pedagógica desenvolvida.

No entanto, deve-se ir além das discussões e das regras escritas; a necessidade é de uma interação permanente para administrar todo o processo

Aos administradores, espera-se um compromisso com a questão da qualidade do processo ensino-aprendizagem; entretanto, é impossível um bom trabalho sem disciplina. O ponto de partida é a própria realidade. É o aluno com quem trabalha, a escola na qual trabalha; ambos inseridos num país com características bem específicas: no nosso caso, com uma série de problemas sociais gritantes e de carências, principalmente, a carência afetiva.

Sobre o assunto Vasconcelos (1995, p.68) coloca:

É claro que tudo isso tem a ver com a (in)disciplina em sala de aula, o que demanda a atuação dos educadores de maneira organizada e articulada em todas as frentes. Mas isto de forma alguma deve servir de álibi para que o educador não assuma sua responsabilidade em sala de aula. Simultaneamente, pode-se e deve-se trabalhar com os pais, com a formação mais geral do aluno, com as contradições da escola, com a influência da sociedade, etc., mas não podemos nos esquivar de um dos focos principais da luta que é a sala de aula. O professor tem que ser

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sujeito da história pedagógica de sua classe e de sua escola; não pode ficar sonhando com alunos ideais. [..].

Não se pode esquecer que a construção do conhecimento em sala de aula necessita da construção da pessoa e esta depende da construção do coletivo, base de todo o processo. Tudo passa pelo envolvimento afetivo de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem, despertando uma consciência crítica no sentido de que, nem sempre se acerta, apesar do amor. O desafio é saber ouvir as necessidades e as expectativas do educando; é saber respeitar as diferenças individuais, lembrando que, a participação é uma exigência para um ensino transformador. Tudo é aprendizagem e, como tal, resulta em mudança de comportamento.

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3. PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO NOS EVENTOS DE INDISCIPLINA NA ESCOLA

3.1. As Relações Professor e Aluno à Luz da Psicopedagogia

Novas relações com o conhecimento surgem como um imperativo numa sociedade que pouco valoriza o ser humano e, valoriza, excessivamente, tudo que constitui um bem material. Nesse contexto, cabe ao professor, também, a busca de novas respostas.

O processo de aprendizagem que envolve a criança, a família e a escola, sendo cada um desses elementos responsável pela formação da criança, também, assume nova roupagem. Entendidos, hoje, como um sistema aberto a transformações, qualquer conflito e/ou falta de interação, pode ser considerado como resultados de modelos de “desintegração” ou “desordem” no sistema maior, no caso, a própria sociedade e as dificuldades apresentadas pelas crianças ou adolescentes podem ser vistos como uma necessidade de mudança; uma necessidade de transformação em todas os níveis: nas relações professor X aluno, professor X núcleo gestor, alunos X pais, etc.;

Sobre o assunto, algumas questões ficam implícitas nas idéias de Saltini (1997) com relação ao processo educacional. Para ele, a educação deve ser um processo que permita ao indivíduo chegar a ser sujeito de suas ações e não objeto de outro sujeito. Nesse sentido, a escola deve priorizar o ser e não o ter (não somente ter informações mas agir sobre elas). Deve oferecer uma educação crítica, uma interpretação de mundo voltada para a transformação,inovando-o.

A preocupação com a forma como são trabalhadas as informações que os educandos recebem: como as interpretam, como as transformam em produtos

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culturais, em bens sociais que fundamentem as relações estabelecidas, deve ser uma constante. As informações, antes repassadas para os alunos como saberes inacabados, que acompanhavam cada um pelo resto da vida, sem nenhuma perspectiva de transformação, em função de um tipo de educação que se caracterizava pela não preocupação com a questão da cidadania, cede lugar a necessidade crescente de criticidade, de uma interação participativa, de reestruturação e de estabelecimento de novas relações.

Sem dúvida, um dos pontos mais importantes na educação atual é a consciência de que o pensamento se desenvolve de forma sistemática. A possibilidade que o homem possui de transformar, agregar, construir, pensar e resolver desafios e problemas a partir da ação consciente sobre as informações adquiridas, tem sido a tônica nos estudos e discussões mais recentes. Enquanto construtor e utilizador de símbolos culturais, o ser humano é participante de um processo que só ele constrói.

Pode-se dizer que: “Ele está começando a compreender a totalidade de

maneira mais ampla e este deve ser o caminho da educação. A sua busca é a percepção do sujeito como um todo (sujeito e meio)” (Saltini, 1997, p. 69).

Somente o homem pode educar o próprio homem. Sendo assim, o vínculo afetivo entre pais e filhos, entre alunos e professores, escola e comunidade, devem ser priorizados ao se falar de processo educativo, pois, é um processo contínuo de interações que vão ocorrendo de forma sistemática. A forma como os vínculos são vivenciados, de forma harmoniosa, por exemplo, incentivam, ou não,a novos desafios, favorecendo um ritmo de desenvolvimento. Embora se saiba que, a forma como cada ser humano lida ou estabelece e mantém vínculos com as outras pessoas, deva ser visto como um dos aspectos constituintes da personalidade do indivíduo, não se pode esquecer que, ela é influenciada por fatores como as características da mãe, o temperamento da criança, seu processo de socialização e o meio social na qual ela se desenvolve.

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Bowlby (1990) enfatiza que “ variável alguma tem mais profundos efeitos sobre o desenvolvimento da personalidade do que as experiências infantis no seio da família: a começar dos primeiros meses e da relação com a mãe”.

A partir dessas considerações, o professor, obviamente, precisa conhecer a criança em sua totalidade: sua estrutura biofisiológica, psicossocial, suas necessidades afetivas e o seu mundo circundante, se há a pretensão em se obter resultados satisfatórios em seu ato educativo, pois, se educa a partir do afeto e das regras.

A interrelação que se processa entre a professora e a criança, por exemplo, é básico para sua experiência em sala de aula. Como já ficou claro, ela é um processo que envolve, não apenas, aspectos cognitivos, mas, também, aspectos afetivos.Toda criança deseja ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para o processo ensino-aprendizagem e para a curiosidade que é inerente a qualquer criança.

Saltini (1997, p. 89) faz algumas considerações importantes sobre o assunto:

[...] a interrelação da professora com o grupo de alunos e com cada um em particular é constante, se dá o tempo todo, seja na sala, no pátio, seja nos passeios e é em função dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os objetos e a construção do conhecimento altamente envolvente. Essa interrelação é o fio condutor, o suporte afetivo do conhecimento. Neste caso, o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião.

O papel do professor é o de preparar e organizar o universo onde as crianças buscam satisfazer sua curiosidade e se interessam, levando em conta que os interesses são diferenciados, de acordo com a idade e o modo de sentir o mundo. Na pré-escola, por exemplo, “É importante que o educador tenha um

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planejamento de situações-problema para cada objeto da sala de aula e do pátio, local onde se faz também educação. Mas para isso é necessário que o educador seja antes de tudo um curioso, um pesquisador, possibilitando assim à criança descobrir verdades, ao invés de impor conteúdos” (Saltini, 1997, p. 90). Ao invés de dar conceitos prontos, acabados, encorajar a criança a descobri-los.

A relação que se estabelece em todos os níveis no interior da escola, diferencia-se em qualidade e objetivos, mas, a maturidade e a individualidade da criança deve ser respeitada em seu ritmo e nível de desenvolvimento. Aqui, regras são necessárias, mas, deve haver uma tolerância a elas. Devem ser discutidas pelo grupo para que todos tomem consciência de sua utilidade e dos resultados do trabalho quando são respeitadas.

Na escola, algumas regras podem até mudar em duração, mas nunca em sua ordem. Isso facilita a compreensão da criança com relação a uma rotina que deve ser obedecida. O hábito que ela adquire no decorrer do processo e as atividades na mesma seqüência diária, são imprescindíveis, inclusive, para a segurança psicológica da criança.

Nesse contexto, Saltini (1997, p. 91) assevera:

A serenidade e a paciência do educador, mesmo em situações difíceis faz parte da paz que a criança necessita. Observar a ansiedade, a perda de controle e a instabilidade de humor, vai assegurar à criança ser o continente de seus próprios conflitos e raivas, sem explodir, elaborando-os sozinha ou em conjunto com o educador. A serenidade faz parte do conjunto de sensações e percepções que garantem a elaboração de nossas raivas e conflitos. Ela conduz ao conhecimento do si-mesmo, tanto do educador quanto da criança.

No dia a dia da sala de aula as emoções devem ser trabalhadas além da inteligência e/ou da capacidade de aprender do educando. Essas atividades podem ser desenvolvidas em forma de dramatizações, em momentos de

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interação corporal criança X professor X ambiente X criança, com a presença dos pais em sala de aula, etc.

Outro ponto importante são as considerações que o educador pode fazer entre algumas situações vivenciadas na escola com o mundo circundante da criança e com a própria sociedade. “Há um trabalho cotidiano de cada um estabelecendo relações entre o individual e o coletivo. Também há constantes questionamentos sobre cada objeto manipulado ou elemento da cultura que poderá ser focalizado dentro do processo educativo” (Saltini, 1997, p. 93).

Ouvir o que a criança tem a dizer sobre seu dia-a-dia, incentivando-a a formar seu próprio pensamento ou atribuindo um significado para tudo que a rodeia. Estar sempre atenta as suas atividades, despertando sua atenção (da criança) para as coisas novas e encorajando-a a buscar respostas às suas perguntas, são atitudes que se espera de um educador realmente consciente de sua importância na vida da criança: promover a interação da criança com o meio.

Para Piaget (apud Saltini, idem, p. 96), “o conhecimento é resultado de uma construção que nasce na interação entre o Sujeito e o Meio e constitui uma criação contínua de estruturas que não se encontram pré-formadas nem no sujeito, nem no objeto”.

Não se pode esquecer, no entanto, que há uma necessidade premente de se criar um novo tipo de relação entre pais e professores, pautada no objetivo de mostrar aos pais que a escola existe para contribuir para o desenvolvimento do pensamento da criança, diferentemente, do tipo de escola que eles vivenciaram, que, buscava, apenas, a satisfação dos pais. Assim, pode-se garantir uma parceria da família no trabalho pedagógico da escola.

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3.2. A Atuação do psicopedagogo na escola

Juntamente com a família, a instituição escolar vem assumindo o papel de socializador na vida da criança e do adolescente.

Nesse sentido, Lopez (apud Scoz el al, 2000, p.73) assevera:

No contexto escolar, o indivíduo pode vivenciar novas e significativas experiências não só do ponto de vista cognitivo, mas também, social e afetivo, o que faz da escola um espaço de trabalho privilegiado para o desenvolvimento do afeto, das relações, das habilidades e competências.

Em outras palavras, a preocupação da escola vai além da transmissão de conhecimentos, mas, passa pelo desenvolvimento de regras de convivência, pela consciência de valores sociais fundamentais para o ser humano, tais como: cooperação, honestidade, fraternidade, amizade, etc. Ou seja, o papel da escola, nos dias atuais, supera a formação acadêmica da criança ou do adolescente.

Ao lidar com o adolescente, qualquer escola assume tarefas bem mais “difíceis” do que aquelas que assume quando trabalha apenas com a educação infantil, Isso, porque, todo o processo de mudança – tanto física, quanto emocional que vive o adolescente -, porque passa o adolescente, exige da escola e de seus profissionais, uma maior predisposição para lidar com situações de ansiedades, crises, etc. Sua presença na aprendizagem e no desenvolvimento da personalidade do adolescente é marcante.

Uma pesquisa sobre adolescência desenvolvida por Zagury (1996, p.56), deixou claro que:

[...] mesmo com todos os defeitos, a instituição escola é ainda um lugar em que as novas gerações convivem com o respeito e a orientação; é

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ainda um lugar em que o saber é valorizado e no qual, apesar de seus erros e problemas, o ser humano se socializa, aprende a conviver, torna-se um cidadão.

Isso significa dizer que, o adolescente reconhece a importância da escola e do trabalho pedagógico desenvolvido, mas, como é próprio da maioria, critica a metodologia de trabalho utilizada. Na verdade, pode-se dizer que, nesse momento a escola assume uma nova função: é um lugar de encontros, de bate-papo com os amigos, estabelece, por assim dizer, novas relações.

O professor continua mantendo um papel específico dentro dessa integração maior. No entanto, a intervenção de um psicopedagogo na escola é necessária, principalmente, porque, a atuação psicopedagógica está imbuída da intencionalidade de promover a adequação exigida a novas situações, quer seja por um momento específico, quer seja do aluno frente a novas situações.

Mendes (apud Scoz, 2000, p. 124) coloca que:

Em sua visão global e profunda do objetivo da Educação, que é o da adaptabilidade do ser, a ação psicopedagógica se orienta dentro do reconhecimento das necessidades humanas e potencialidades da pessoa para se transformar. Quanto mais a intervenção psicopedagógica se dá, a partir do aluno, na integração dos subsistemas envolvidos e envolventes da instituição, mais circular e múltipla deve ser sua leitura.

Nesse contexto, evidencia – se a amplitude da educação escolar. Ela não se limita à sala de aula, embora, os resultados sejam apresentados por ela. “A sala de aula é o espaço onde se constituem as definições, as concepções, as contradições que envolvem a experiência humana, contextualizada espaço-temporalmente” (Mendes apud Scoz, idem, p. 124).

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As relações professor X aluno são importantes se levadas do ponto de vista de que, a sala de aula é o espaço em que todos aprendem sistematicamente. Cada um com sua individualidade, buscando responder a demandas e expectativas que, embora exista, inicialmente, para atender às necessidades de aprendizagem do aluno, leva o professor também a aprender coisas novas ou a partir de situações novas.

Da integração do trabalho da escola e do profissional da psicopedagogia, deve nascer uma proposta de projeto pedagógico que englobe e direcione um trabalho para atender a heterogeneidade dos alunos e seus problemas, que são, com certeza, específicos e que tenha uma conotação de praticidade e viabilidade nas ações, tendo como “pano de fundo” detectar as necessidades e/ou as dificuldades de aprendizagem dos alunos.

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CONCLUSÃO

O objetivo maior deste trabalho pautou-se na reflexão e análise da

importância da necessidade de disciplina para a educação, mais especificamente, para a instituição escolar, condição sine qua non para o desenvolvimento do trabalho pedagógico da escola; feita a partir de leituras sobre o tema e da curiosidade com relação a evolução da educação e do tipo de disciplina característico de cada época.

Nos dias atuais, a escola, principalmente a escola pública – por atender a uma clientela bem maior -, necessita, com urgência, de um trabalho que venha garantir qualidade ao processo ensino-aprendizagem, em todos os níveis de ensino. Mas, ter consciência de que a disciplina escolar pode ser vista, até certo ponto, como o alicerce de toda a ação pedagógica, que leva à formação do indivíduo, pode contribuir para uma organização mais racional das atividades, como para garantir o efetivo exercício da cidadania.

Mas, somente quando todos os profissionais do magistério tomarem consciência de que o ideal comum da escola é, de fato, fazer com que todos aprendam e reconheçam que cada um é responsável pelo processo de organização da escola, portanto, todos devem se envolver na luta por uma disciplina necessária, os resultados serão sentidos. O prazer de ensinar pode ser sentido pelos que, direta ou indiretamente, estão na escola, pois, aprender pode ser uma atividade prazerosa, desde que, construído e mantido nessa medida, principalmente, os que lidam com crianças pequenas.

Alves (1999, p.47), por exemplo, acredita que o prazer de aprender é possível de ser construído na medida em que certas condições sejam levadas em conta, mas, essa construção é de todos:

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2. Que a escola estabeleça como objetivos a busca da felicidade do ser humano;

3. Que quem ensina tenha consciência da força e do poder da palavra; 4. Que a educação seja voltada para alcançar a qualidade humana.

Nesse sentido, qualquer mudança deve começar no interior da própria escola, pois, é do conhecimento de todos que a Lei 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB -, prevê uma educação de qualidade fundamentada no princípio da democracia, ou seja, a educação é um direito de todos. O que ela não pode prevê é que os profissionais da educação se sintam responsáveis por esse processo de qualidade ou que eles busquem uma melhoria dessa qualidade se não possuírem uma consciência crítica da importância da educação e da função social da escola numa sociedade em constante transformação.

Nos dias atuais, cada profissional deve buscar uma qualidade maior e um compromisso que corresponda às reais necessidades dessa nova realidade. Uma alternativa é somar esforços com profissionais da área da Psicopedagogia, na tentativa de se atingir os objetivos almejados.

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BIBLIOGRAFIA

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Referências

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