• Nenhum resultado encontrado

Jovem-aprendiz: os sentidos do trabalho expressos na primeira experiencia profissional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Jovem-aprendiz: os sentidos do trabalho expressos na primeira experiencia profissional"

Copied!
152
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

REGINA CÉLIA PAULINELI BORGES

JOVEM-APRENDIZ: OS SENTIDOS DO TRABALHO EXPRESSOS NA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Florianópolis/SC 2010

(2)
(3)

REGINA CÉLIA PAULINELI BORGES

JOVEM-APRENDIZ: OS SENTIDOS DO TRABALHO EXPRESSOS NA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Práticas Sociais e Constituição do Sujeito

Orientadora: Profª. Drª. Maria Chalfin Coutinho

Florianópolis/SC 2010

(4)
(5)
(6)
(7)

”Mesmo nos momentos em que eu sozinho desenvolvo uma atividade científica, uma atividade que raramente posso levar ao fim em direta associação com outros, sou social, porque é como homem que realizo tal atividade. Não é só o material da minha atividade – como também a própria linguagem que o pensador emprega – que me foi dado como produto social. A minha própria existência é atividade social. Por conseguinte, o que eu próprio produzo é para a sociedade que o produzo e com a consciência de agir como ser social.”

(8)
(9)

AGRADECIMENTOS

Ao dar início a esta página de agradecimentos, sinto, contraditoriamente, um sentimento misto de alegria, por estar concluindo minha dissertação e, ao mesmo tempo já com um pouco de saudade, certa nostalgia da “vida de mestrando”.

Penso neste momento, numa diversidade de pessoas que contribuíram, direta e indiretamente na construção deste projeto, por muitos anos atrás, um sonho distante, hoje real. No entanto, escrevo estas linhas, como quem costura uma colcha de retalhos, numa feliz realidade, concretizada, compartilhada e, efetivamente, orientada pela Prof(a) Dr(a). Maria C. Coutinho. Muito obrigada, Mestra, por todas as suas contribuições nesta trajetória, pelo muito que aprendi ao seu lado, tanto em aspectos teóricos e práticos de uma pesquisa, da sua competente atuação profissional, mas, muito além disso dos momentos de amizade vividos.

Aos colegas de turma, dos tempos divididos em aula entre novos saberes, tarefas a cumprir, angústias, mas também muitas risadas. Falando em amigos, ou melhor, em amigas do “mundo do trabalho”: Pri, Mari e San, foi “delicioso” ter dividido as dúvidas e estudado as teorias marxistas com vocês. As amigas, quase irmãs, Fernanda e, de novo você San, nem sei o que dizer de e para vocês. Penso que a música de Milton Nascimento, me ajuda neste momento: amigas vocês moram no lado esquerdo do peito.

Manu, Laila, Andressa, Márcia, Ricardo e demais amigos Marian@s e do Núcleo de Estudos do Trabalho e Constituição dos Sujeitos (Netcos) completam a lista de amizades. Manu, Laila e Andressa, aprendi muito com vocês!

Às Professoras Dulce Helena P. Soares e Mariléia Silva pelas contribuições na banca de qualificação do meu projeto. Às Professoras Andréa Zanella e Kátia Maheirie pelo “despertar” de um olhar estético. À Professora Edite Krawulski, que, também para além do ensinar teórico, permitiu discussões para a vida em suas aulas.

À minha família, de perto, Beth e Beto e seus convites para o almoço de domingo, oportunidade de pequena pausa e descanso. Ainda, a família, de longe, minha mãe Amélia, as irmãs Maria e Sueli, as sobrinhas Telma, Déia e Alessandra, que, mesmo nos muitos kilometros distantes entre as cidades de São Paulo e Florianópolis, estavam sempre presentes com seu apoio e interesse pelo andamento desta dissertação.

À ONG, lócus desta pesquisa, receptiva desde o primeiro contato, permitindo com muita liberdade, tornar-me uma pesquisadora. Agradeço, especialmente, a atenção da K. e da S, profissionais dedicadas ao seu

(10)

trabalho nessa instituição. Aos jovens-aprendizes: Giovana, Carla, Júnior, Patrícia, Viviane, Adriana, Camile, Mariana e Adrile, protagonistas desta dissertação, meu muito obrigado pela participação.

Termino minha costura com as duas pessoas mais importantes na minha vida: meu marido Jerônimo, que também entre muitas indas e vindas no trecho São Paulo-Florianópolis, sempre procurou nos oferecer uma boa qualidade de vida e possibilidades para que eu pudesse me dedicar aos estudos. À minha filha Mariana que, apesar dos seus somente oito anos, “viveu” essa aventura comigo, acompanhando-me, por muitas vezes, nas minhas atividades na UFSC e esperando pacientemente seu término. Entendeu minhas “ausências” nas infinitas horas de leituras e no computador, escrevendo ou reescrevendo. Obrigada, amo vocês!

(11)

BORGES, Regina Célia Paulineli. Jovem-Aprendiz: os sentidos do trabalho expressos na primeira experiência profissional. Florianópolis, 2010. 150f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

RESUMO

O propósito da presente investigação foi compreender os sentidos do trabalho para jovens em sua primeira experiência profissional. As constantes transformações, de ordem material e subjetiva, no chamado “mundo do trabalho”, suscitam necessidades de buscar novas compreensões, sentidos e significados produzidos neste contexto. Diante dessas mutações, os grupos juvenis, são, frequentemente, apontados como um dos mais vulneráveis ao desemprego, tarefas e contratos precarizados, como também predispostos a faixas salariais inferiores às de trabalhadores adultos. Numa abordagem qualitativa, esta pesquisa tomou como pressuposta a centralidade da categoria trabalho através do materialismo histórico-dialético e uma visão sócio-histórica do conceito das juventudes/adolescências. Nessa perspectiva, as categorias sentido e significado são compreendidos como contornos privilegiados na busca da apreensão singular do ser humano. Os sujeitos aqui pesquisados foram vistos como seres constituídos em uma relação dialética com o social e o histórico, na e pela sua atividade e expressões humanas. Utilizou-se como principal técnica de coleta de informações a entrevista, com um roteiro semi-estruturado organizando eixos temáticos relativos a dados pessoais e familiares, atividade atual e histórico profissional. Através da fotografia, utilizada como instrumento complementar, os sujeitos produziram imagens de cenas de trabalho, também significadas por meio de entrevista. O procedimento para a análise do material coletado permitiu sua organização em quatro núcleos de significação: 1) Experiência, Registro Formal e Consumo, 2) Cotidiano, 3) Projetos e 4) Primeiro Emprego. Os sentidos do trabalho, proclamados nas falas e nas imagens auto produzidas, trazem, dialeticamente, o trabalho, em pólos de positividade, mas também de negatividade na primeira experiência profissional. Além disso, expressam alterações cotidianas na vida dos jovens pesquisados. Em síntese, nos sentidos expressos entre ”perdas” e “ganhos”, mas, numa prevalência positiva, foi possível verificar que, apesar de fortemente atravessados pelas significações sobre o trabalho produzido em um contexto capitalista, esses jovens trabalhadores, que precocemente iniciam uma atividade laboral, trazem desejos na busca de ser alguém, de ser feliz a partir do seu trabalho, o que em nosso entendimento corrobora uma centralidade dessa categoria.

Palavras-chave: Trabalho. Juventude. Sentidos. Primeira experiência

(12)
(13)

BORGES, Regina Célia Paulineli. Young Apprentice: the meanings of work expressed in their first Professional experience. Florianópolis, 2010. 150f. Dissertation (Master in Psychology) – Psychology Postgraduate Program, Santa Catarina Federal University, Florianópolis, 2010.

ABSTRACT

The purpose of this research was to understand the meanings of work for the young in their first professional experience. The constant changes, of material and subjective fashion, in the so-called “work world”, arouse needs of searching for new understandings, meanings and significations produced in this context. The juvenile groups, facing this mutations, are frequently pointed as some of the most vulnerable to unemployment, precarious tasks and contracts, and predisposed to inferior salary range to that of adult workers as well. In a qualitative approach, this research regarded as underpinning the centrality of the labor category through the historic-dialectic materialism and a social-historic point of view of the youth/adolescence concept. Within this perspective, the categories of meaning and signification are understood as privileged outlines in search of a singular grasp of the human being. The subjects researched herein were viewed as beings constituted in a dialectic relationship with the social and historic, in and for their human expressions and activity. The main form of data gathering technique was the interview, with a semi-structured script organizing thematic axises relative to family and personal information, current activity and professional history. Through photography, used as a complementary instrument, the subjects produced images of work scenes, signified also through interviews. The analysis of the collected material allowed four cores of signification: 1) Experience, Formal Record and Consumption, 2) Quotidian, 3) Projects and 4) First Job. The meanings of work, proclaimed in the self-produced images and speech, set work dialectally, in positive poles, but also negative in the first professional experience. Beyond that, it expresses changes in everyday life for the researched young. In synthesis, the meanings expressed between “losses” and “gains”, but, positively prevalent, it was possible to verify that, although strongly crossed by the significations produced about work in a capitalist context, these young workers, who have had a precocious onset of labor activity, have desires in search to be someone, to be happy through work, which in our understanding sustains a centrality of this category.

(14)
(15)

LISTA DE SIGLAS

ABRH Associação Brasileira de Recursos Humanos

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBO Classificação Brasileira de Ocupações

CEPSH Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos CIC Cartão de Identificação do Contribuinte

CONJUVE Conselho Nacional da Juventude CPD Centro de Processamento de Dados ECA Estatuto da Criança e do Adolescente GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas IBGE Instituto Brasileiro de Geografias e Estatísticas IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada NUFT Núcleo de Formação do Trabalho OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização Não Governamental OP Orientação Profissional

PEA População Economicamente Ativa PIO Padrão de Inserção Ocupacional PJT Programa Jovem Trabalhador PJT Programa Jovem Trabalhador

PNPE Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego RG Registro Geral

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional SNJ Secretaria Nacional da Juventude

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

(16)
(17)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

FOTOGRAFIA 1 – Jovem Aprendiz... 105

FOTOGRAFIA 2 – Cantinho do serviço... 106

FOTOGRAFIA 3 – Empacotador de Mercadorias... 107

FOTOGRAFIA 4 - Talento ... 108

FOTOGRAFIA 5 - Esforço ... 108

FOTOGRAFIA 6 – Em busca de um sonho... 109

FOTOGRAFIA 7 – Se esforçar para ser um bom exemplo ... 110

FOTOGRAFIA 8 - Construção ... 111

FOTOGRAFIA 9 - Cozinha ... 112

FOTOGRAFIA 10 - Cobradora... 112

(18)
(19)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO... 19

1 INTRODUÇÃO ... 23

2 TRABALHO: MUITO ALÉM DE UM CONCEITO... 27

2.1 Uma breve conceituação de trabalho... 27

2.2 Políticas Públicas de inserção do jovem no mercado de trabalho ... 33

2.3 Sentidos e Significados do Trabalho ... 35

3 JUVENTUDES/ADOLESCÊNCIAS: RE (CONHECENDO) UM CONTEXTO ... 39

3.1 O sentido histórico-social da juventude ... 39

3.2 O lugar do jovem no trabalho contemporâneo ... 43

4 MÉTODO: A ESCOLHA DE UM CAMINHO... 47

4.1 Tipo de Pesquisa... 47

4.2 Estudo exploratório ... 48

4.2.1 Procedimentos Utilizados...48

4.2.2 Caracterização dos Sujeitos do Estudo Exploratório...51

4.3 A seleção dos participantes ... 52

4.4 Procedimentos para Busca das Informações ... 55

4.5 Procedimentos para Análise de Informações ... 59

5 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS... 63

5.1 Alguns Indicadores da população juvenil na cidade de Florianópolis... 63

5.2 O lócus da pesquisa ... 65

5.3 Perfil dos Participantes... 68

6 TRAJETÓRIAS ... 79

6.1 Experiência, Registro Formal e Consumo... 79

6.2 Cotidiano ... 83

6.3 Projetos... 88

7 EMPREGO JUVENIL: UM GRANDE DESAFIO... 95

7.1 O jovem aprendiz e seu primeiro emprego... 95

7.2 Imagens do trabalho ... 105

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 117

(20)

APÊNDICES ... 137

Apêndice A – Teses e Dissertações consultadas... 137

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 138

Apêndice C – Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada ... 140

Apêndice D – Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada para os Recursos Imagéticos... 142

Apêndice E – Indicadores ... 143

(21)

APRESENTAÇÃO

Faço um breve relato sobre minha trajetória acadêmica e profissional, minha história pessoal dentro da Psicologia, além de apresentar um porque para a dissertação que ora se completa. Graduei-me Psicóloga em 1988, pela Universidade de Guarulhos, em São Paulo. Nos anos de 1989 e 1990, estendi minha formação especializando-me em Administração de Recursos Humanos, pela Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo e, em 1999, fiz nova especialização em Administração Hospitalar, pela Fundação Getúlio Vargas. Entre os anos de 1990 e 1999, realizei cursos de curta duração relacionados à Psicologia do Trabalho, área que me inseri, logo no segundo ano da faculdade. Estudar, ampliar conhecimentos e saberes sempre foi uma constante, penso que poderia aqui retomar um trecho da música “O que é o que” do Gonzaguinha, que muito me descreve: “viver a beleza de ser um eterno aprendiz”. Estudar é um dos fatores que me movem.

Atuei na área da Psicologia do Trabalho em três empresas, multinacionais, nacionais de grande e médio porte, nos segmentos financeiros e serviços. Dessas vivências, fui-me “fazendo” psicóloga, mesmo durante a graduação, ao seu término, recém- formada e, depois já como profissional. Ao final, foram mais de dezoito anos dentro das organizações, “brigando” pelos trabalhadores através de um posicionamento crítico, ético e humano, pilares da atuação do Psicólogo do Trabalho. Fui “passeando” por quase todas as veredas da chamada área de Recursos Humanos e seus subsistemas, destacando minha atuação na área de Treinamento e Desenvolvimento de Pessoal; minhas vivências, em sala de aula, elaborando e ministrando programas de capacitação e desenvolvimento; trabalhos com grupos, além de uma grande gama de observações empíricas sobre o ser humano e seu trabalho, nas relações sociais construídas no espaço organizacional e seus sistemas de gerenciamento.

Porém, em 2003, por diversos fatores pessoais, optei por reorganizar minha carreira e buscar os sonhos adiados, aqui seguindo o “conselho” de um poema de Fernando Pessoa: “Persiga um sonho, não deixe ele viver sozinho!” Acredito que cada instante de nossa vida é um convite, uma oportunidade, a nos convocar para contínuas mudanças.

Apesar da dedicação, da centralidade e importância que este trabalho me suscitava, senti necessidade de realizar “outros vôos”, buscando novos desafios em outras áreas. Uma de minhas respostas e decisão de forma bastante determinada, foi de planejar e colocar em

(22)

20

prática, prioritariamente, meu interesse e investimento na área acadêmica, através de muita disposição para um “recomeçar”, mais uma vez acreditando numa aprendizagem permanente.

Retomando novamente Fernando Pessoa: “sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver”. Desta forma, iniciei minha própria “reorientação profissional”, em São Paulo, minha cidade natal, tendo a certeza que muito havia para conhecer dentro da Psicologia, mas com outra objetiva. Enquanto me definia na nova trajetória, resolvi fazer cursos, de pequena duração, nas áreas de Psicopedagogia, Orientação Profissional e Psicomotricidade, acreditando serem esses novos conhecimentos importantes para aprofundar meus conhecimentos em desenvolvimento infantil, adolescência e aprendizagem, sob a ótica das teorias psicanalíticas e, possivelmente, embasar uma atuação clínica profissional em consultório particular e/ou como voluntária.

Ainda “transformando” minha vida, em 2006 mudei-me de São Paulo para Florianópolis, movida pela busca de melhor qualidade de vida e, por saber que um antigo “namoro”, estabelecido nos passeios de férias, com a Universidade Federal de Santa Catarina, além de um possível mestrado e ingresso no mundo acadêmico estariam bem mais próximos. No entanto, este fato, bem demarcado para mim, como um grande desafio!

No período de adaptação e novos conhecimentos, tive a oportunidade de realizar, entre 2006 e 2007, outro curso de formação em Orientação Profissional, promovido pelo Instituto do Ser, ministrado pela Prof(a).Dra. Marilú Diez Lisboa e Prof(a)Dra. Dulce Helena Penna Soares. Também em 2006, tive meu primeiro contato e acesso com a UFSC, participando como aluna especial, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, na disciplina Tópicos especiais em práticas sociais e constituição do sujeito I: trabalho, identidade e escolha profissional, ocasião esta que possibilitou “meu primeiro ponta-pé” rumo ao “gol” da vida acadêmica e, deste modo, fui aproximando-me das temáticas de interesse: trabalho e juventude.

Em 2007, inicie uma atividade voluntária junto ao Projeto da ABRH na Escola, tendo atuado com jovens estudantes das escolas públicas da Grande Florianópolis. O objetivo era promover discussões sobre o mundo do trabalho, como também lançar algumas “dicas” para sua primeira inserção laboral. Nessas escolas, pude observar através de frequentes verbalizações e expressões sentimentais, algumas dificuldades que circundam a realidade desses jovens na busca do

(23)

21

primeiro emprego, devido às incessantes inovações do mercado de trabalho, a competitividade acirrada nos processos de recrutamento e seleção e as elevadas taxas de desemprego juvenil, segundo dados do próprio Ministério do Trabalho. Muitas indagações passaram a me inquietar: será que esses jovens, na busca do seu primeiro emprego, reconhecem em si e no mundo suas capacidades de interferência no processo histórico da sociedade e do mercado de trabalho? O que será o trabalho para esses jovens? Qual a importância na sua vida?. Também em 2007, tive a oportunidade de atuar como pesquisadora voluntária junto ao NETCOS – Núcleo de Estudos e Trabalho e Constituição do Sujeito, na pesquisa intitulada “Os sentidos do trabalho para servidores técnico-administrativos da Universidade Federal de Santa Catarina”. Tal experiência efetivamente me aproximou da pesquisa cientifica, bem como do exercício ético-profissional do psicólogo na construção do saber cientifico.

Diante desses caminhos e unindo experiências busquei concretizar o desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado somando todas as minhas vivências e seus sentidos, mesmo sem ter certezas prontas para o futuro, ousei-me nesta “aventura”. Deste modo, segue a apresentação da minha dissertação, um antigo projeto, agora objetivado, não somente em seu sentido material de tarefa e/ou prazo cumprido, mas, como uma oportunidade subjetiva de ter “saboreado” um novo capítulo na minha trajetória.

(24)
(25)

1 INTRODUÇÃO

A questão da juventude tem emergido como temática expressiva nas últimas décadas, seja para o propósito de discutir políticas públicas em diversas esferas sociais, seja para problematizar as temáticas trabalho/emprego para esse grupo, numa amplitude latino-americana. No entanto, ainda somam-se muitos questionamentos, pois nem mesmo são encontrados consensos no entendimento do que seja a juventude. Ao indagarmos o que é juventude, surgem muitas respostas numa abrangência que estende desde concepções do ponto de vista biológico (mais naturalizantes e como fase problemática, em definições etárias, como etapa de transição a vida adulta), até as de caráter mais social, compreendendo estes sujeitos em suas heterogeneidades. Nesta dinamicidade esse é um conceito em permanente transformação, heterogêneo a ser referido em sua pluralidade (León, 2005).

Diante do fato de os jovens formarem quase 20% da população mundial, é possível afirmar, como faz Pochmann (2007), que os jovens “tomam a cena atual”, de modo quantitativo no século XXI. O autor destaca o grande número de crianças e adolescentes trabalhando, e considera necessário desacelerar este processo. Para cada dez jovens no Brasil, sete já iniciaram uma atividade profissional. Nos países desenvolvidos, a presença de jovens no mercado de trabalho é muito menor, chegando a apenas um ativo para cada nove inativos.

O significativo aumento da chamada “onda jovem”, em idade ativa, qualificada como bônus demográfico, possui um efeito positivo sobre a dinâmica do desenvolvimento socioeconômico. Tal aspecto se depara em contraste com outras concepções clássicas, dentre elas, as que tematizam a juventude ora como etapa problemática ou como fase preparatória da vida. (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, 2008, grifo dos organizadores). Segundo o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), apresentando o Censo GIFE – Juventude 2007/2008 é premente a necessidade de atenção a este público que representa 53,9 milhões de jovens e 28% da população, na realidade brasileira.

No entanto, a positividade associada ao “peso numérico” deste segmento tem sido afetada pelo fenômeno mundial do desemprego. Dados estatísticos apontados pelo IPEA, e corroborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), notificam que na realidade brasileira a taxa de desemprego entre jovem de 15 a 24 anos é 3,5 vezes a dos adultos. Em 2005, 46,6% do total de desempregados eram jovens,

(26)

24

dados superiores comparados com 40,4% do México e 39,6% da Argentina. No Brasil, somente depois da segunda metade dos anos 1990 as questões juvenis “entram em cena” e, em 2005, criaram-se a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), que oportunamente serão novamente abordados.

Diante deste contexto e considerando minhas inquietações, já apresentadas anteriormente, busquei então conhecer um pouco das produções científicas vinculadas às temáticas de meu interesse: juventude e trabalho. Assim, realizei uma investigação através da revisão bibliográfica no banco de dados virtual da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)1. Utilizei-me da conjugação das palavras-chave: sentidos do trabalho e juventude, e juventude e primeiro emprego, além de uma delimitação temporal entre os anos de 2000 a 2007, em ambos os casos. No primeiro acesso, encontrei um total de 166 teses/dissertações. Efetivamente, somente seis autores abordavam temáticas com relativa proximidade, frente ao presente projeto de pesquisa, tais como o jovem, o trabalho, a educação, sua inserção profissional, o desemprego e os sentidos do trabalho em uma única dissertação.

Na segunda conjugação, foram localizadas dezenove teses/dissertações, oito pesquisas abordavam discussões em relação aos modos de inserção no mercado de trabalho, o desemprego, as avaliações dos sistemas educacionais e políticas públicas vinculadas aos Programas de Primeiro Emprego2. Complementando, Barbiani (2007) realizou um mapeamento latino-americano dos estudos e publicações sobre a temática juventude, também encontrando uma diversidade e intercâmbio que retratam as transições dos séculos XX e XXI sobre esse grupo e confirmando sua centralidade numérica no continente latino americano através da chamada “onda jovem”. Segundo o IPEA (2008), esse bônus demográfico da população juvenil remete a um aumento na população ativa e efeitos socioeconômicos no mercado de trabalho.

Deste modo, pude notar quão recorrentes e oportunos são os estudos voltados para as questões envolvendo a juventude, através de recortes que retratam o desemprego, especificamente, nesse grupo, suas

1 Revisões realizadas no primeiro e segundo semestre de 2008, durante a elaboração do projeto

desta dissertação no banco de teses da CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (http://serviços.capes.gov.br/capesdw/).

2 No APÊNDICE A apresento um quadro síntese sobre as teses/dissertações com maior

proximidade temática desta dissertação, com títulos e nomes dos autores, utilizados como referências e/ou bibliografias consultadas.

(27)

25

formas de inserção profissional e discussões envolvendo as políticas públicas nesse segmento. Julguei, portanto, que diante do meu forte interesse também poderia trilhar esse percurso e contribuir com novos conhecimentos, investigando a construção e atribuição dos sentidos que o trabalho suscita no jovem trabalhador, diante da sua primeira experiência profissional, dentro de uma sociedade de mercado globalizado. Navarro e Padilha (2007), ao comentarem sob o atual mundo do trabalho e suas mutações, entendem a necessidade de buscar novas compreensões e rever os significados e transformações do trabalho, operadas sob a égide do sistema capitalista, e seus efeitos para a subjetividade.

Entretanto, não somente os contextos produtivos sofreram alterações expressivas nas últimas décadas. Segundo Antunes (2000), a classe que vive do trabalho está sempre na situação angustiante de lutar pela inclusão profissional e social ou enfrentar a exclusão e a marginalização, sendo os jovens também integrantes deste panorama, gerando novos modos de subjetivação. Desse modo esta pesquisa propõe a seguinte questão geral:

Como se dá o processo de construção dos sentidos do trabalho para jovens em suas primeiras experiências profissionais?

Tendo como objetivo geral responder à questão proposta, são definidos os seguintes objetivos específicos:

• Investigar as relações entre trabalho e as demais dimensões da vida cotidiana dos jovens trabalhadores;

• Investigar como se deu a inserção no mercado de trabalho; • Identificar quais os motivos principais que levam esses

jovens a buscar sua primeira experiência profissional;

• Investigar o lugar do trabalho nas trajetórias de vida dos jovens.

Assim, será usado, como pressuposto teórico o referencial do materialismo histórico e dialético, no qual o trabalho é concebido como atividade central da vida humana. Em consonância teórica e partindo do pressuposto de que homem e sociedade estabelecem entre si uma relação de mediação, numa dialética entre o social e o histórico, sendo o homem constituído na e pela sua atividade, esclarece-se que a busca desses sentidos e a concepção de juventude terão como orientação teórico-metodológica a abordagem da psicologia sócio-histórica.

Os capítulos posteriores desta pesquisa se compõem da seguinte forma: no segundo capítulo, a apresentação do referencial teórico dentro

(28)

26

do materialismo histórico-dialético e da concepção da categoria trabalho adotada, a Lei da Aprendizagem que regulamenta o trabalho dos jovens a partir dos 14 anos de idade na condição de aprendiz e a compreensão dos sentidos e significados através das concepções teóricas metodológicas utilizadas pela perspectiva sócio-histórica.

No terceiro capítulo, segue-se com a exposição sobre o sentido histórico-social das juventudes, discorrendo sobre algumas dentre as múltiplas concepções. Na sequência exponho uma breve visão a respeito do lugar do jovem no mercado de trabalho contemporâneo. No capítulo quarto, apresenta-se o caminho metodológico desta investigação: o tipo de pesquisa, o estudo exploratório e a caracterização dos sujeitos dessa etapa, a seleção dos participantes, os procedimentos para busca de informações e análise dos dados.

No capítulo cinco, apresento alguns indicadores da população juvenil na cidade de Florianópolis, o lócus da pesquisa e o perfil dos participantes, caracterizando o estudo. No capítulo seis, Trajetórias, iniciam-se as discussões dos seguintes núcleos de significação: Experiência, Registro Formal e Consumo, Cotidiano e Projetos. Chegando ao capítulo sete, Primeiro Emprego, findam-se as discussões apresentando este quarto núcleo. E, posteriormente, as considerações finais.

(29)

2 TRABALHO: MUITO ALÉM DE UM CONCEITO

2.1UMA BREVE CONCEITUAÇÃO DE TRABALHO

Sem Trabalho eu não sou nada, não tenho atividade, não sinto meu valor, não tenho identidade, mas o que eu tenho é só um emprego, um salário miserável, eu tenho meu ofício que me cansa de verdade. Tem gente que não tem nada e outros têm mais do que precisam.

Esse trecho inicial de uma música da banda Legião Urbana3 traz o tema do trabalho compreendido como elemento-chave para a vida humana, numa condição de assalariamento, sofrimento e desigualdades. O trabalho, embasamento dessa pesquisa, caminha dentro da historicidade fazendo parte da condição humana, e nas suas muitas “versões”, essa categoria permeia as relações sociais. De acordo com Castel (1998),

[...] a descoberta da necessidade do trabalho certamente não data do século XVIII. Tem suas raízes na maldição bíblica, e a condenação da ociosidade é uma constante de toda a pregação religiosa e moral, pelo menos para os que dependem desse tipo de trabalho que, literalmente, “faz suar”. (p. 226)

Deste modo, por meio de uma leitura teórica do materialismo-histórico dialético, pretendo conceber tal categoria dentro de uma concepção de centralidade e através dos sentidos revelados pelos jovens nas suas primeiras experiências profissionais, destacar o lugar ocupado pelo trabalho em suas vidas. O trabalho, na teoria marxista, para além de um elemento teórico da Economia Política, foi considerado um meio pelo qual a consciência deixa de ser mero produto de adaptações biológicas e passa a ser uma atividade autogovernada. O homem produz a sua própria humanização e, assim, distancia-se de sua animalidade, desenvolvendo novas faculdades e capacidades. Na opinião de Marx & Engels (2007/1932):

3 Essa música intitulada Música de Trabalho faz parte do álbum A Tempestade lançado pelo

(30)

28

[...] pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo o que se queira. No entanto, eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência, e esse salto é condicionado por sua constituição corporal. Ao produzir seus meios de existência, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material. (p. 44)

Em seu sentido genérico, o trabalho foi concebido por Marx (1985b/1818-1883) como um processo entre o homem e a natureza, ação essa exclusivamente humana, imaginada ou planejada com prévia intencionalidade. Tal processo transformador do homem e da natureza proporciona mudanças em ambos, num determinado tempo histórico. Mais além de uma categoria teórica, letra de música, palavra cotidiana no senso comum ou apontado como um conceito polissêmico, trabalho é a atividade pela qual se define o indivíduo como ser humano social. Dentro da ótica marxista, o trabalho possibilitou ao homem ir além da natureza. “A natureza dita o comportamento aos animais; o homem, no entanto, conquistou certa autonomia diante dela” (Konder, 1983, p. 24).

Segundo Blanch Ribas (2003), trabalho ao longo da história humana sofre inúmeras concepções e significados de acordo com o momento econômico, político e cultural ao qual está submetido. Dentro dos diferentes modos de produção4 (a escravidão, o feudalismo e o capitalismo) nota-se a existência do trabalho perpassando sempre uma relação de dominação/exploração, cada vez mais acentuada neste último. Para Marx (1985a/1818-1883, p. 141), “não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz, é o que distingue as épocas econômicas“. No século XVIII, período em que o capitalismo começa a se impor como modo hegemônico de produção, seu sentido passa a ser revestido numa dupla face de direitos e deveres. “De uma atividade que fazia parte da vida, o trabalho tornou-se o meio de ganhar a vida. O homem não mais possuía sua integralidade, não produzia o que consumia e não consumia o que produzia” (Organista, 2006, p. 29).

O capitalismo, caracterizado pela venda da força de trabalho de um trabalhador livre para um proprietário dos meios de produção, fez da força de trabalho humana uma mercadoria, através do trabalho

4 De acordo com Netto e Braz (2008) os modos de produção são uma articulação entre as

forças produtivas e as relações de produção, sendo modificados ao longo da evolução humana e do desenvolvimento histórico-social, com peculiaridades distintas em cada época.

(31)

29

assalariado. Assim, o produto final não mais pertencia ao seu produtor direto, mas sim, ao capitalista. De tal modo, o trabalho concreto produtor de valor de uso para o atendimento das satisfações e necessidades do próprio produtor, dotado de condições naturais na relação homem-natureza, cede lugar ao trabalho abstrato, produtor de valor de troca (Marx, 1985b/1818-1883).

O capitalista investe na produção de valores de uso considerando que estes terão um valor de troca e serão destinados, como mercadorias, à comercialização. Pretende o capitalista, “extrair”, nesta operação, sua soma de valores antecipadamente empregados nos meios de produção e força de trabalho. “Quer produzir não só um valor de uso, mas uma mercadoria, não só um valor de uso, mas valor e não só valor, mais também mais-valia“ (Marx,1985b/1818-1883, p. 155).

Competição, concorrência, exploração, alienação, preço, dinheiro e uma busca insaciável pelo lucro - a partir da mais valia - serão as realidades que irão compor as relações homem-trabalho, implicando na destruição de todas as outras formas de produção e na desqualificação das culturas e sistemas de subjetivação e significação ligados aos antigos modos de produção (Tumolo, 2005). Nas palavras de Antunes (2005, p. 69), “aquilo que era uma finalidade básica do ser social – a busca de sua realização produtiva e reprodutiva no e pelo trabalho – transfigura-se e se transforma”.

No entender de G. Alves (2005), as mudanças ocorridas nos séculos XIX e XX, com a mundialização do capital e o intricado desenvolvimento de reestruturação produtiva, geraram um novo e precário mercado de trabalho, além de um inovador contexto sócio-histórico para a classe trabalhadora. Segundo o autor, essas transformações, principalmente no trabalho industrial, promoveram metamorfoses nos processos laborais, tanto no sentido objetivo, quanto no subjetivo. Tais relações não são dicotômicas, mas sim, dialéticas, ou seja, as alterações objetivo-concretas irão significar novos modos de subjetivação.

As alterações em curso do capitalismo contemporâneo, em diferentes contextos econômicos, sociais, psicológicos e culturais, enfatizaram novos perfis de trabalhadores com características diferenciadas daquelas delineadas nos clássicos textos marxianos, “pois aquela época os trabalhadores assalariados eram predominantemente proletários indústrias” (Diogo & Coutinho, 2006, p. 124). Prosseguem, ainda, mutações com tecnologias poupadoras de mão-de-obra e taxas de desemprego, diminuição do emprego, subcontratação e precarização, alterando o sentido do trabalho e aludindo ao debate da sua centralidade

(32)

30

(Lapis, 2006).

Para pensadores como Gorz (2007), Rifklin (1995) e Offe (1989), entre outros, há o descentramento dessa categoria e o fim de uma emancipação humana fundada no trabalho. Segundo Offe (1989)

O trabalho foi não só objetivamente deslocado de seu status de fato da vida, central e auto-evidente; como consequencia desta evolução objetiva, mas inteiramente contrária aos valores oficiais e aos padrões de legitimação desta sociedade, o trabalho está sendo privado também do seu papel subjetivo como a força motivadora central na atividade dos trabalhadores. (s/p, grifo do autor)

Em contrapartida a essas opiniões, há autores, tais como Antunes (2000), Frigotto (2002), Organista (2006) e Coutinho, Krawulski e Soares (2007), condizentes com as diversas transformações do “mundo do trabalho”, mas que irão argumentar e defender a centralidade dessa categoria. Assim, segundo Organista (2006)

[...] para alguns autores, o trabalho deixa de ser uma categoria analítica importante para compreender as relações sociais em virtude de suas transformações quantitativas e qualitativas. Ou seja, num primeiro momento, identificam trabalho e emprego, parecendo esquecer que o segundo é uma construção histórica enquanto que o primeiro é uma condição ineliminável da existência humana. (p. 10)

O trabalho ainda é a senha de identificação do homem contemporâneo, segundo Navarro e Padilha (2007), que defendem o caráter pluralista e central do trabalho nas vidas das pessoas, sendo a atividade laboral fonte de experiência psicossocial. A centralidade do trabalho não é simplesmente uma fonte de subsistência dentro da esfera econômica, mas também uma forma de reconhecimento do sujeito na esfera psíquica como agente social.

Para Antunes (2005), o trabalho mostra-se, então, como momento fundante de realização do ser social, condição para sua existência, e por isso, ponto de partida para sua humanização. Apesar de todos os avanços tecnológicos e das contradições na relação capital/trabalho, a força de trabalho é o componente central imprescindível desse processo, para a produção de mais valia e, portanto, o elemento fundamental dentro do processo de valorização do capital. Por mais restrita e precária

(33)

31

que seja a condição do sujeito dentro desse contexto contemporâneo, com fragmentações de tarefas e/ou introdução de novas tecnologias, o trabalho humano ainda permanece, pois a força de trabalho e o saber-fazer são recursos inalienáveis dos trabalhadores. “Por mais que se tente cercear a criação dos trabalhadores, eles não deixam de imprimir o seu traço pessoal” (Bianchetti, 1999, p. 136).

Considerando ser o homem capaz de mudar o contexto, de “reagir” e alterar sua condição de mercadoria e assim retomar e reafirmar seu efetivo papel de sujeito histórico, cabe questionar: serão os jovens trabalhadores capazes dessas mudanças? Problematizando a questão da juventude nesse cenário, surgem outras questões: será que os jovens reconhecem em si mesmos sua capacidade de interferência no processo histórico da sociedade e do mercado de trabalho ao iniciarem sua trajetória profissional? Quais sentidos o trabalho lhes suscita? Quais são as significações atribuídas ao trabalho?5

Os sentidos do trabalho nesta pesquisa foram narrados através da experiência do primeiro emprego dos sujeitos participantes. A expressão emprego surge a partir da Revolução Industrial, sendo entendida por Blanch Ribas (2003) como uma forma de trabalho definida por uma relação contratual, entre as partes, na qual a força de trabalho é comprada pelo contratante, assim trocada por um salário e/ou remuneração. Ainda segundo o autor, o trabalho assalariado, no avançar do sistema capitalista, tem construído outros significados para o emprego, ressaltando seu caráter contratual ”compromisso que envolve a pessoa que trabalha com o contrato, com outros componentes normativos (legal, social, moral e subjetiva)" (p.38) (tradução da pesquisadora).6 Esse trabalho, sob a forma de assalariamento, num contínuo processo de metamorfoses, passa por uma sucessão de condições salariais, não necessariamente lineares e indistintas, e de acordo com Castel (1998), a chamada “civilização salarial” trouxe para os trabalhadores, além dos deveres, também direitos. “Assim, o trabalho que era tão desvalorizado nas sociedades antigas, torna-se um elemento fundamentalmente integrador da sociedade, isto é, permite efetivamente a uma sociedade engendrar ou reforçar os laços sociais. A figura do trabalhador vai se tornar totalmente central” (Enriquéz, 1999, s/p).

Com vistas a compreender o lugar do trabalho no imaginário

5

Os conceitos de sentidos e significados serão abordados no item 2.3.

6 Texto original: “conlleva el compromisso de la persona trabajadora com los términos del

contrato, com sus correspondientes componentes normativos (jurídicos, sociales, morales y subjetivos)” (p.38).

(34)

32

juvenil, Guimarães (2005), ao analisar uma das etapas da pesquisa intitulada Perfil da Juventude Brasileira7, foi buscar o sentido atribuído pelo jovem ao trabalho. A autora verificou que, longe de apresentar um sentido uniforme, o trabalho traz uma gama de múltiplos sentidos/significados.

Independentemente de sua efetiva finalidade singular para cada um dos pesquisados, bem como das condições sociais e culturais apreendidas no momento histórico atual, o trabalho, seja um valor, uma necessidade ou um direito, assume um caráter central na vida desses jovens. Em decorrência dessa centralidade, esses jovens profissionais, também, manifestaram suas angústias e inseguranças quanto à falta de vagas, somando em conjunto com os adultos as filas do desemprego e dos trabalhos precários (Guimarães, 2005).

Corrochano, Ferreira, Freitas e Souza (2008) apresentam dados do desemprego juvenil e mostram que o mesmo atinge de forma desproporcional as diferentes faixas etárias, os sexos, a cor/raça, contexto familiar e a escolaridade, por exemplo: o desemprego apresenta índices mais elevados quanto menor for a idade do jovem e não fica restrito àqueles com menor escolaridade. Numa divisão de gênero, por exemplo, as mulheres, mesmo tendo maior formação escolar, estão mais suscetíveis, destacando que as maiores desigualdades são em relação aos jovens negros, estudantes ou não, que compõem os mais altos índices de desemprego. Conforme aponta Pochmann (2007), a inserção da juventude no mercado de trabalho se mostra repleta de dificuldades e as ocupações, normalmente, são de formas precárias, diante da realidade econômica brasileira em gerar postos de trabalho qualificados e em maior quantidade.

Acrescentam-se às mudanças ocorridas no século XX, em relação ao “mundo do trabalho”, outros fenômenos sociais salientes quanto às relativas alterações estruturais na distribuição etária da população, em nível mundial, já comentadas na introdução desta investigação, resultando, então, num expressivo crescimento do grupo juvenil. Nesta nova perspectiva, a juventude transita do conceito de problemática para um destaque como “ator estratégico”, promovendo uma “onda juvenil” nos quadros que avaliam a população em idade ativa (IPEA, 2008).

Assim, numa busca de possíveis soluções, diante das dificuldades

7 A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira de 2004, desenvolvida pelo Projeto

Juventude/Instituto Cidadania, com a parceria do Instituto de Hospitalidade e do Sebrae, foi um estudo realizado em áreas urbanas e rurais de todo o Brasil, com jovens de 15 a 24 anos, de todos os segmentos sociais. Os dados foram colhidos em novembro e dezembro de 2003.

(35)

33

de inserção laboral e seu efetivo aumento populacional, a Organização Internacional do Trabalho – OIT (2007), através do seu Diretor-Geral, lança o conceito de trabalho decente para a juventude, sendo este entendido como

[...] um trabalho produtivo com remuneração justa, segurança no trabalho e proteção social para o trabalhador e sua família, melhores perspectivas para o desenvolvimento pessoal e social, liberdade para que manifestem suas preocupações, organizem-se e participem na tomada de decisões que afetam suas vidas, assim como a igualdade de oportunidades e de tratamento para homens e mulheres. (p. 18)

Até aqui foi apresentado o conceito de trabalho e emprego, bem como sua face atual no capitalismo, o emblemático debate sobre a questão da centralidade, finalizando com a condição juvenil no mercado de trabalho. Na próxima seção, dou sequência com comentários sobre as políticas públicas voltadas a geração de empregos juvenis e da Lei da Aprendizagem.

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INSERÇÃO DO JOVEM NO MERCADO DE

TRABALHO

Tornou-se consensual que as discussões/ações envolvendo as temáticas juventude e políticas públicas despontaram, na realidade brasileira, nos últimos dez anos, tendo ainda como pressupostos iniciativas focalizadas e motivos emergenciais (Sposito & Carrano, 2003; Branco, 2005; Carvalho, 2006; IPEA, 2008). Contextualizando os programas e projetos públicos federais, Sposito e Carrano (2003), identificaram que além de recentes, os mesmos ainda apresentam “incipiente institucionalização e fragmentação”(p. 30).

As informações do Guia de Políticas Públicas da Juventude (2006) reiteram que a realidade brasileira está apenas “caminhando” nesse assunto, pois a constituição da SNJ e do CONJUVE são datados do ano de 2005. A SNJ tem como finalidade realizar uma articulação entre os programas e projetos, em âmbito federal, para jovens compreendidos entre os 15 e 29 anos. Já o CONJUVE foi criado para estabelecer um canal de dialógo entre a sociedade civil, o governo e a juventude brasileira.

(36)

34

Comentam Sposito e Carrano (2003) que o desafio do governo federal é “avançar para além das doutrinas da segurança pública e da assistência social no trato com as políticas públicas federais orientadas para os jovens”, inscrevendo e ampliando as políticas da juventude para um caráter universal. Esses autores, criticam alguns dos programas de inserção laboral, entendendo que eles “assumiram sobremaneira o fetiche da capacitação do jovem para um mercado de trabalho de poucas oportunidades” (p.31).

Dentre os programas voltados à inserção de jovens no mercado de trabalho encontra-se o Jovem Aprendiz, que faz parte da Lei da Aprendizagem. De acordo com Branco (2005), esta é uma das políticas públicas voltadas a minimizar o cenário desfavorável e reduzir os impactos sobre a procura de trabalho na juventude, emergindo assim um programa voltado para o primeiro emprego que associa a possibilidade de geração de renda para o jovem trabalhador, ora para complementar a renda familiar, ora para subsidiar sua própria autonomia material, além de fazer uma vinculação entre trabalho e educação.

Promulgada em 19 de dezembro de 2000 e regularmentada pelo Decreto nº. 5.598/2005, a Lei da aprendizagem estabeleceu que todas as empresas de médio e grande porte estão obrigadas a contratar adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos, na condição jovem aprendiz. Dispõe em sua formulação de um contrato de trabalho especial, por tempo determinado de no máximo dois anos. Os jovens beneficiados por essa Lei são contratados como aprendizes de ofício, denominação prevista na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego, ao mesmo tempo que são matriculados em cursos de aprendizagem, em instituições qualificadoras reconhecidas, responsáveis pela certificação. Desse modo, a carga horária definida contratualmente soma a atuação prática na instituição e também os contéudos teóricos.

Na legislação vigente estabelece as seguintes cotas como diretriz para os contratantes: fica fixada em 5% no mínimo, e de 15%, no máximo, por empresa, sendo tais valores calculados sobre o total de empregados que demandam formação profissional, sendo excluídos das funções gerenciais, de nível superior e técnico. Aprendizagem era é um dos seis componentes do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego (PNPE), criado no ano de 2003, com objetivos de promover qualificação profissional, inclusão social e inserção de jovens no mercado de trabalho. No entanto, em 2007, com a criação do Programa

(37)

35

Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem,8 os programas existentes voltados para a juventude foram unificados, dentre eles o PNPE.

A presente pesquisa investigou jovens inseridos no mercado de trabalho por meio da Lei da Aprendizagem. No contexto desta inserção os participantes foram convidados a expressarem seus sentidos sobre o trabalho. A partir do próximo subitem, apresento uma delineação dos conceitos de sentidos e significados, através das concepções teóricas metodológicas utilizadas pela perspectiva sócio-histórica.

2.3SENTIDOS E SIGNIFICADOS DO TRABALHO

Esta seção está centrada na discussão sobre os conceitos de sentido e significado, considerando que a problematização desta pesquisa visa apreender, discutir e analisar os sentidos do trabalho para jovens na sua primeira experiência profissional. Mesmo sabendo existir uma pluralidade de sentidos do trabalho, esta pesquisa, corroborando com Raitz (2003, p. 56), não intenciona “reconstruir este constructo ou arcabouço existente sobre os diversos sentidos do trabalho e seus períodos históricos, muitos autores já o fizeram”.

Pretende sim, contribuir com as diversas áreas de estudos, como a Psicologia, a Sociologia do Trabalho e a Administração que têm se empenhado em conhecer quais são os sentidos e significados do trabalho tendo em vista as já referidas alterações que o contexto histórico e social promoveu no conceito do trabalho. Ressalte-se que novos estudos ganham evidências a partir da década de 70, através de distintas correntes epistemológicas, tais como a sócio-histórica, o construcionismo, o cognitivismo e a humanista (Tolfo, Coutinho, Almeida, Baasch & Cugnier, 2005). Segundo as autoras nas diversas abordagens sobre sentidos e significados, estes são tratados, frequentemente, de forma única não sendo explicitada uma distinção analítica conceitual. No entanto, esta pesquisa fará uma diferenciação entre sentidos e significados, fazendo uso desses conceitos através das “lentes” da psicologia sócio-histórica.

Nessa perspectiva, as categorias sentidos e significados são compreendidas como contornos privilegiados na busca da apreensão singular do ser humano. Os sujeitos aqui pesquisados foram vistos como seres constituídos em uma relação dialética com o social e o histórico,

8 Informações retiradas em 27 de abril de 2010, disponível em:

(38)

36

na e pela sua atividade e expressões humanas diversas, proclamando “a sua singularidade, o novo que é capaz de produzir, os significados sociais e os sentidos subjetivos“ (Aguiar, 2006, p. 12). Segundo Aguiar na diferenciação entre sentidos e significados, deve ainda ser esclarecido que, apesar da distinção, as duas categorias não devem ser analisadas separadamente, pois ambas são constitutivas uma da outra e em conjunto oportunizam aproximações da dimensão subjetiva do sujeito. Na presente pesquisa, a compreensão da categoria sentido foi pautada através da obra de Lev Semenovich Vygotski, um dos autores expoentes dessa conceituação. Segundo Namura (2007), esse autor,

[...] em seu pensamento crítico e de aguda sensibilidade para tratar dos processos psicológicos, formulou a categoria “sentido”, para ressaltar a natureza especificamente humana do homem, a sua capacidade de criação e autoprodução nos seus modos de existência, e para superar as cisões e reduções que a psicologia, aprisionada aos modelos naturalistas e idealistas de homem, promoveu no “sujeito psicológico”. (p.91)

Portanto, o sentido apresenta-se na expressão mais subjetiva do sujeito, num conjunto de fatores biológicos, intelectuais e afetivos que “imprimem” sua singularidade, apresentando-se como uma categoria complexa. Para Vygotski (1992), toda palavra é dotada de múltiplos sentidos, une pensamento e linguagem, fala interior e exterior numa formação dinâmica que acompanha o desenvolvimento do sujeito e seu contexto histórico social.

Segundo Namura (2004), a palavra não contempla o sentido do todo na expressão do sujeito. Diante de tal complexidade, Aguiar (2006) aponta como possibilidade na apreensão uma aproximação de zonas de sentidos. Portanto, além da análise do significado da palavra, devemos relacionar suas necessidades, interesses, aspectos afetivos e simbólicos, de acordo com suas relações sociais, vivenciadas de modo dinâmico e superar a cisão objetivo/subjetivo. “O sentido é muito mais amplo que o significado, pois o primeiro constitui a articulação dos eventos psicológicos que o sujeito produz frente uma realidade“ (Aguiar e Ozella, 2006 p.224).

Ao estudar a relação entre o pensamento, a palavra e a fala humana do ponto de vista psicológico, Vygotski (1992) considera o significado de cada palavra como uma generalização, ou um conceito, que apesar de, muitas vezes, ser “dicionarizado” ou mais inflexível, está

(39)

37

em constante evolução e sofre alterações quantitativas e externas, de acordo com o momento histórico. Desse modo, os significados são estabelecidos na esfera social, são históricos e culturais. “São eles que permitem a comunicação, a socialização de nossas experiências“ (Aguiar e Ozella, 2006 p.224).

O significado é um fenômeno do pensamento e um componente indispensável para a palavra. Há, no entanto, há uma predominância do sentido sobre o significado, pois as palavras e os sentidos são relativamente independentes, ou seja, as palavras podem mudar de sentido em função da entonação ou de um componente emocional, por exemplo. Concebendo o sujeito como um ser interativo, Gonçalves (2007) entende que dentro da Psicologia Sócio-Histórica

[...] o significado, que é social e objetivo, é apropriado pelo sujeito a partir de sua atividade, o que implica uma subjetividade própria de cada sujeito, o que se expressa na atribuição de sentidos pessoais, Os sentidos representariam a síntese entre a objetividade e a subjetividade, já que unificam a atividade do sujeito sobre o objeto, o significado social produzido intersubjetivamente e que representa a atividade sobre o objeto e a subjetividade na sua dimensão emocional (subjetiva) e ativa (objetiva). (p.72)

Seguindo essa orientação, indaguei aos jovens participantes desta investigação quais os sentidos o trabalho lhes suscita? Compreendendo esses sentidos como expressões sociais, porém construídas a partir da vivência pessoal, singular, dotada de emoções, sentimentos, contradições, ambivalências, entre outras, representativas na construção história desse sujeito juvenil. No próximo capítulo, sigo por esclarecer os conceitos de juventude/adolescência.

(40)
(41)

3 JUVENTUDES/ADOLESCÊNCIAS: RE (CONHECENDO) UM CONTEXTO

Adolescência é quando o jovem desabrocha para o mundo. É uma experiência tão forte que não comporta dúvidas. Por isso ela se impõe de forma absoluta. O adolescente não duvida do que vê e sente. (Rubens Alves, 2009, p.104)

Neste capítulo apresento a visão a partir da qual os jovens aqui pesquisados foram entendidos, ancorada na concepção de sujeito enquanto um ser histórico e social, produto e produtor do contexto em que está inserido, conforme os princípios do materialismo histórico-dialético e segundo um conhecimento psicológico fundado em uma perspectiva sócio-histórica, na qual cada sujeito é um “ser social e singular“ o qual “constitui sua singularidade através das mediações sociais” (Aguiar e Ozella, 2006, p. 223).

3.1O SENTIDO HISTÓRICO-SOCIAL DA JUVENTUDE

A historicidade humana, vista numa lógica dialética, indica leituras contraditórias dessa realidade, que não devem ser compreendidas isoladamente, mas, sim, num contínuo processo de relações sociais. Por isso, primeiramente, faço um breve percurso sobre algumas transformações históricas sobre dos conceitos de adolescência e juventude.

Há um panorama multifacetado de explicações e diferentes concepções sob a gênese da adolescência e juventude, umas mais cronológicas, biológicas, outras mais sociais. O marcante é reconhecer o quanto estudos e pesquisas envolvendo os jovens, seus modos de vida, relações com o mercado de trabalho e com a educação, entre outros, vêm aumentando com maior ênfase nas últimas décadas em toda a América Latina (Abramo, 2005; León, 2005 e Raitz, 2003 e Raitz & Petters, 2008).

De acordo com Ariès (1981), a preocupação com uma segregação etária ocupou importante papel na Idade Média. Até o século XVIII não havia distinção entre infância e adolescência; no século XX, através de uma expressão musical, surge o primeiro adolescente típico: o Siegfried de Wagner, proclamado numa mescla de pureza, força física, naturismo

(42)

40

e alegria, compondo assim um adolescente heróico. Por meio da literatura, preocupação dos moralistas e políticos, a “juventude surgia como depositária de valores novos, capazes de reavivar uma sociedade velha e esclerosada” (p.47).

Na realidade brasileira, até os anos de 1960, a visibilidade juvenil era limitada às classes médias, aos jovens escolarizados participantes dos movimentos estudantis. Sequencialmente, já ao final do século passado, o foco de atenção é centralizado nas crianças e adolescentes em situação de risco. Tal conjuntura vista com extrema seriedade, inspirou ações sociais emergentes e o estabelecimento, em 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 9. O ECA, em seu Art. 2º, considera criança, “a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Apesar de seu importante papel, disseminando tais segmentos como sujeitos de direitos, foi somente por volta de 1995, que a “percepção da juventude para além da adolescência em risco, numa direção, e para além dos setores da classe média, em outra direção” tomaram força (Abramo, 2005, p. 39).

Lyra, Medrado, Nascimento, Galindo, Moraes e Pedrosa (2002), consideram cronologicamente como adolescência, um período interfacial com a infância e imediatamente anterior à juventude. Todavia, compreendem os autores que a devida ênfase deve ser dada mais “no tipo de experiência que a caracteriza do que propriamente no significado biológico/cronológico” (p.11). Para o CONJUVE (2006), a juventude é:

[...] uma condição social, parametrizada por uma faixa-etária, que no Brasil congrega cidadãos e cidadãs com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos. Sendo tema de interesse público, a condição juvenil deve ser tratada sem estereótipos e a consagração dos direitos dos/das jovens precisa partir da própria diversidade que caracteriza a(s) juventude(s). (p.05)

Na opinião de León (2005), as classificações etárias não são suficientes para considerar os adolescentes e os jovens; permitindo, no entanto, demarcações sociodemográficas, por vezes, importantes nas investigações quantitativas. Comenta tal autor que, frequentemente, têm-se utilizado as têm-seguintes têm-segmentações: dos 12 aos 18 anos para designar a adolescência; dos 15 aos 29 anos para a juventude, sendo esta dividida

(43)

41

em: dos 15 aos 19 anos, dos 20 aos 24 anos e dos 25 aos 29 anos, aproximadamente, já que, habitualmente tem havido alterações etárias, para baixo e para cima, prolongando essas faixas num intervalo entre os 12 e 35 anos.

León (2005) esclarece ainda que, quanto à utilização dos conceitos, disciplinarmente falando, a Psicologia tem se utilizado do termo adolescência, enquanto outras disciplinas sociais, como a Sociologia, Antropologia, História e Educação recorrem à terminologia da juventude. Ressalta que há casos de utilização desses conceitos de modo sinônimo e homologados entre si, em algumas ramificações da Psicologia Social, opção esta também adotada nesta pesquisa. Enfim, o imprescindível é entender a necessidade de se pluralizarem os conceitos. Novaes (2002) considera o jovem como aquele indivíduo mais predisposto à vida, ou seja, biologicamente falando, se encontra mais longe da morte. A autora também corrobora a opinião de que se deve falar em várias juventudes, coexistentes em um mesmo tempo e espaço social, tomando o cuidado de não demarcar em “etapas de vidas” sequenciais. Na mesma direção, Reis (2006) se contrapõe à idéia de homogeneizar, tipificar e categorizar as experiências juvenis, considerando que as adolescências/juventudes devem ser compreendidas e analisadas em cada contexto sociocultural.

Notam-se, enfim, diferentes visões: de um lado aquelas que assinalam etapas da vida marcadas por faixas etárias homogêneas, enquanto outras, como a teoria sócio-histórica, compreendem a adolescência como uma construção humana, assumindo diferentes características de acordo com o contexto social. Segundo Bock (2004), não temos uma definição precisa entre as palavras adolescência e juventude, mas, sim, critérios construídos culturalmente, derivados da estrutura socioeconômica; portanto, falamos de adolescências. A adolescência não foi nem será sempre a mesma coisa, pois se acredita, numa visão sócio-histórica, que poderá existir de modo diferente em uma nova formação social, ou deixar de existir, considerando haver adolescências com significados sociais em muitas expressões, ao invés de uma adolescência única e padronizada. Desse modo, a concepção da adolescência como etapa natural e inerente ao desenvolvimento humano é contestada na abordagem sócio-histórica “o jovem não é algo por natureza” (Aguiar, Bock & Ozella, 2007, p.168).

As idéias de Abramo (2005) também corroboram neste entendimento, problematizando a necessidade de saber a qual juventude/adolescência se esta aludindo, pois para a autora:

(44)

42

[...] a significação social destes atributos das fases da vida são culturais e históricos, e que a juventude nem sempre apareceu como etapa singularmente demarcada. Tal como foi consolidado no pensamento sociológico, a juventude “nasce” na sociedade moderna ocidental (tomando maior desenvolvimento no século XX), como um tempo a mais de preparação (uma segunda socialização) para a complexidade das tarefas de produção e a sofisticação das relações sociais que a sociedade industrial trouxe (p.41).

Nesse pensar pode-se, então, encontrar dentro da modernidade a “constituição” de novas adolescências e juventudes. Torna-se então, necessário reafirmar que a constituição do sujeito, dentro desta pesquisa, terá como base as teorias sociocríticas que adotam a concepção ontológica na qual o homem é um ser histórico e cultural, um ser de relações e criações, em um movimento dialético de “construção” inacabada. Assim, pretendo, tal como Ozella (2003), fazer crítica as concepções clássicas, pois:

[...] a concepção vigente e hegemônica na Psicologia (assim como na mídia e no imaginário popular) é a de uma adolescência como etapa natural, inerente e própria do desenvolvimento do homem. Etapa marcada por conflitos e crises “naturais” da idade, por tormentos e conturbações vinculadas à emergência da sexualidade, enfim, uma etapa marcada por características negativas, sofridas, patologizadas, que ocorreria necessariamente em qualquer condição histórica e cultural, isto é, universalizada. A abordagem sócio-histórica não nega a existência da adolescência enquanto um conceito importante para a Psicologia. Entretanto não a considera como uma fase do desenvolvimento mas sim como uma criação histórica da humanidade (p. 9).

Os estudos realizados por Gonçalves (2003) sobre as produções veiculadas pela mídia televisiva em programas destinados ao público juvenil são um exemplo no qual se pode constatar que determinados significados dos meios sociais, novos hábitos, relativos à adolescência e juventude, são “instalados” e os “sujeitos juvenis” passam a se apropriar

Referências

Documentos relacionados

A significância dos efeitos genéticos aditivos e dos efeitos da interação, envolvendo os qua- tro testes de progênies foi avaliada pela análise de LTR, que foi significativa para

Folha estreito-elíptica, elíptica a ovada, 1,6-6,7 x 0,7-3,4 cm, pubérula, tricomas esbranquiçados; ápice agudo arredondado; base arredondada a cuneada; nervura média plana a

Dessa maneira, é possível perceber que, apesar de esses poetas não terem se engajado tanto quanto outros na difusão das propostas modernistas, não eram passadistas. A

No primeiro caso, significa que as normas são criadas na tentativa de elaboração de um sistema coerente de justiça e equidade; no segundo, impõe ao magistrado o dever de interpretar

Cada vez mais a vida humana está implicada na política, o que torna a política moderna uma biopolítica. Na biopolítica, a exceção tende a ser utilizada como técnica eficiente

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..

Homes e Sustein (2005) alertam que a manutenção do oferecimento de direitos fundamentais pelo Estado é contingente à alocação do problema da escassez de

O setor de energia é muito explorado por Rifkin, que desenvolveu o tema numa obra específica de 2004, denominada The Hydrogen Economy (RIFKIN, 2004). Em nenhuma outra área