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A representação do jornalismo na ficção literária: análise da personagem Rita Skeeter da série Harry Potter no papel de jornalista

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

FERNANDA ZIMMERMANN REBELATO

A REPRESENTAÇÃO DO JORNALISMO NA FICÇÃO LITERÁRIA: ANÁLISE DA PERSONAGEM RITA SKEETER DA SÉRIE HARRY POTTER NO

PAPEL DE JORNALISTA

IJUÍ/RS 2017

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS, ADMINISTRATIVAS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO - DACEC

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO JORNALISMO

FERNANDA ZIMMERMANN REBELATO

A REPRESENTAÇÃO DO JORNALISMO NA FICÇÃO LITERÁRIA: ANÁLISE DA PERSONAGEM RITA SKEETER DA SÉRIE HARRY POTTER NO

PAPEL DE JORNALISTA

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para conclusão de curso.

Orientadora: Lara Nasi

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FERNANDA ZIMMERMANN REBELATO

A REPRESENTAÇÃO DO JORNALISMO NA FICÇÃO LITERÁRIA: ANÁLISE DA PERSONAGEM RITA SKEETER DA SÉRIE HARRY POTTER NO

PAPEL DE JORNALISTA BANCA AVALIADORA _________________________________________________ Professor/a _________________________________________________ Professor/a

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à minha família que tanto me apoiou nesses longos anos de faculdade. Mãe, obrigada por cada cafezinho gostoso que só você sabe fazer, por cobrar e cobrar de novo para que eu me dedicasse a esse trabalho, pelo suporte nas horas difíceis e por manter a calma pra me lembrar, todo dia, que com dedicação tudo dá certo. Pai, obrigada pelas caronas e correrias, por lembrar-se do meu trabalho com cada artigo de revista sobre Harry Potter, por me ajudar na minha falta de tempo e pelas infinitas histórias contadas, recontadas e inventadas durante a infância, principalmente a do elefante e da formiga, que me mostrou que qualquer dificuldade pode ser resolvida, foi com elas que me tornei a apaixonada por livros que sou hoje. Não há palavras para expressar meu amor por vocês.

Agradeço à minha orientadora, Lara Nasi, por sempre acreditar nesse trabalho e por não me deixar desistir. Obrigada por cada autor que me indicou que me auxiliaram na construção deste trabalho. Obrigada pela dedicação e pela paciência em me responder desde o início do projeto, nas férias, de madrugada e qualquer outro horário quando eu estava em crise. Espero que você continue lendo os livros de Harry Potter, não mais para me orientar, mas para curtir realmente o mundo da magia.

Agradeço também aos demais professores desta Universidade, o meu reconhecimento a todos os ensinamentos transmitidos nesses cinco anos. Com toda a certeza há um pouco de cada um aqui.

Vitor Gollin de Sena, obrigada pela imensa paciência com que teve comigo, até porque todos sabem o quanto é difícil me aturar em crise. Obrigada por me distrair, me divertir, me ajudar e me apoiar. E é claro, obrigada por cada copo de cerveja que dividimos. Esfriar a cabeça é excelente pra pensar melhor.

Aos amigos, agradeço por compreenderem quando não respondi as mensagens ou quando respondia só mentalmente. Lohana, Rafael e Carlan, a vocês agradeço por atenderem meu pedido e trocarem a senha da Netflix para que eu pudesse realmente me concentrar, obrigada também por não me deixarem cair em tentação. O TCC, finalmente, tá pronto e agora é só comemorar.

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Por último, mas não menos importante, agradeço a J.K Rowling por criar um mundo tão fantástico como o de Harry Potter. Foi através dessas histórias que me tornei uma leitora sagaz, sempre disposta a descobrir novos mundos. Cada personagem nos ensina algo e por isso devemos ficar sempre atentos aos detalhes.

Harry me ensinou a ter coragem. Dumbledore sobre sabedoria e calma. Hermione sobre como é possível ser forte e inteligente. Rony me mostrou que às vezes podemos ter medos, mas precisamos enfrentá-los. Esses e muitos outros personagens de outras histórias e outros enredos, me mostraram que a magia existe sim, em cada virar de páginas de uma nova história. Obrigada.

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“Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia, capazes de causar grandes sofrimentos e também de remediá-los.”

Alvo Dumbledore - Harry Potter e as Relíquias da Morte

"A verdade é uma coisa bela e terrível, por isso deve ser tratada com grande cautela."

Alvo Dumbledore – Harry Potter e a Pedra Filosofal

“A ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bastante simples: a magia existe.”

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RESUMO

Este trabalho busca analisar a personagem de ficção Rita Skeeter, da série literária Harry Potter, no papel de jornalista. O referencial teórico e a metodologia utilizados para a construção do texto se deram, principalmente, baseados na Análise Crítica da Narrativa proposta por Motta (2013), além de outros autores que tratam sobre narrativa (SODRÉ, 2012), sensacionalismo (KARAM, 2004; GENRO FILHO, 1987) e construção de personagens (CANDIDO, 1998). Para a realização da análise também foi preciso compreender a trajetória tanto do jornalismo quanto da personagem no decorrer da narrativa. A análise e, até mesmo, a comparação da história com o meio não ficcional, é importante do ponto de vista jornalístico, pois Skeeter representa uma jornalista sensacionalista, que faz tudo para conseguir uma boa notícia, mesmo que de forma ilegal. Na história, a personagem tenta desmoralizar o protagonista Harry Potter perante a comunidade bruxa, sem nenhum motivo aparente. As atitudes da repórter refletem no estilo de muitos profissionais do nosso cotidiano. A análise aponta que as narrativas se baseiam no real para que o leitor mantenha certa proximidade com aquela história. A criação de Skeeter acaba sendo uma crítica ao sensacionalismo, já que a autora também sofreu assédios da imprensa britânica. Jornalistas que aderem à prática do sensacionalismo acabam prejudicando a coletividade, pois não procuram saber a verdade dos fatos em muitos casos.

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ABSTRATC

This paper aims to analyze the fictional character Rita Skeeter from the Harry Potter literary series who is as a journalist in the story. The theoretical reference and the methodology used to write the text were mainly based on the Critical Narrative Analysis proposed by Motta (2013), as well as other authors dealing with narrative (SODRÉ, 2012), sensationalism (KARAM, 2004; GENRO FILHO, 1987) and character construction (CANDIDO, 1998). In order to carry out the analysis, it was also necessary to understand the trajectory of both journalism and the character throughout the narrative. The analysis and even the comparison of the story with the nonfictional way, is important from a journalistic point of view, for Skeeter represents a tabloid journalist who does everything to get some good news, although illegally. In the story, the character tries to demoralize the protagonist Harry Potter towards the witch community, without any apparent reason. The reporter's attitudes reflects in the style of many professionals in our daily lives. The analysis points out that the narratives are based on the real so that the reader maintains a certain proximity to that story. The creation of Skeeter ends up being a critic to the sensationalism, since the author also underwent harassments of the British press. Journalists who adhere to the practice of sensationalism end up harming the collectivity because they do not seek to know the truth of the facts in many cases.

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LISTA DE FIGURAS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 O MUNDO DA MAGIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NARRATIVA EM HARRY POTTER ... 13

2.1 A bruxa dos bruxos: J.K. Rowling e a criação da magia ... 14

2.2 O menino que sobreviveu: a história de Harry Potter ... 16

2.2.1 Harry Potter e a Pedra Filosofal ... 17

2.2.2 Harry Potter e a Câmara Secreta ... 18

2.2.3 Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban ... 19

2.2.4 Harry Potter e o Cálice de Fogo ... 20

2.2.5 Harry Potter e a Ordem da Fênix ... 22

2.2.6 Harry Potter e o Enigma do Príncipe ... 23

2.2.7 Harry Potter e as Relíquias da Morte ... 24

3 A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA ENTRE ELEMENTOS FÁTICOS E FICTÍCIOS ... 25

4 IMAGINÁRIO OU REAL: O JORNALISMO SENSACIONALISTA ... 30

4.1 Imperio: o controle do sensacionalismo ... 31

5 RITA SKEETER: UMA ANÁLISE SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO JORNALISMO NA FICÇÃO ... 36

5.1 Portus: Procedimentos metodológicos para a análise da personagem ... 36

5.2 Alarte Ascendare: Rita Skeeter e o jornalismo na série literária ... 39

5.3 Specialis Revelio: Considerações sobre a análise... 51

6 CONCLUSÃO ... 54

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1 INTRODUÇÃO

Harry Potter abriu as portas de muitas crianças e adolescentes para o mundo da literatura, inclusive o meu. Ao longo dos anos, meu gosto literário mudou, talvez até se aprimorou, mas nunca canso de voltar para essa história que iniciou meu gosto pela leitura. Hoje, não é apenas pegar um livro e lê-lo o mais rápido possível, para pegar o próximo, mas sim saborear as leituras e tirar o máximo de proveito delas. Foi assim que em uma das minhas histórias favoritas, encontrei o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso.

J.K. Rowling, a autora, conquistou grande parte da população com as histórias do mundo bruxo. Durante os sete livros da saga, acompanhamos a vida de Harry Potter, o herói, e seus dois amigos Hermione Granger e Rony Wesley, na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Os três, com o auxílio de outros personagens, principalmente o professor Alvo Dumbledore, percorrem uma jornada com o intuito de acabar com a força maligna que tomou conta do mundo bruxo, personalizada em Lorde Voldemort.

No primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal (2000), a autora nos mostra que o jornalismo está e continuará presente no restante da história. Mesmo com a tecnologia evoluindo no mundo real, o mundo bruxo ainda preza pelos meios tradicionais como rádios e jornais impressos, e é por meio deles que conseguimos entender mais a narrativa, a jornada e os aspectos que afetam a vida dos personagens.

A autora optou por deixar o Profeta Diário, jornal dos bruxos, com menos ênfase para a construção da história nos primeiros livros, dando foco para a narrativa dos personagens. Já no 4º livro da saga, Harry Potter e o Cálice de Fogo (2001), o Profeta Diário passou a ter mais importância e participação, tornando-se parte da história, interferindo na narrativa e influenciando os personagens.

Durante a graduação, sempre ouvimos que os jornalistas têm a obrigação de levar a verdade ao público, nas mais variadas circunstâncias. É claro, que a imparcialidade nem sempre é possível, afinal, todos possuímos uma bagagem de vida e emocional e não podemos – nem conseguimos - simplesmente deixá-las de lado. Contudo, a ética na profissão é algo que deve ser prezado, e devemos sim, levar a verdade aos nossos leitores, mostrando sempre todos os lados implicados em uma história.

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Sabemos que a ficção, tanto na televisão, em filmes ou livros, retrata experiências com base no cotidiano. Sendo assim, este trabalho tem a intenção de analisar a personagem de ficção Rita Skeeter, criada para a obra de Harry Potter. A personagem na série literária representa uma jornalista sensacionalista e por isso o interesse em analisá-la e compará-la a situações do nosso cotidiano. A análise da personagem é importante, pois, de certa forma, engloba jornalistas do mundo real, que não agem de forma adequada na produção de suas pautas. A análise também possibilita verificar como a ficção e a realidade se relacionam uma com a outra, e qual o papel e a representação dos jornalistas nos dois meios. Na personagem, vemos uma atuação jornalística que não está em consonância com os princípios éticos da profissão. As notícias sensacionalistas escritas por Rita Skeeter, na história, fazem parte do enredo e têm um papel importante na narrativa e desenrolar da mesma.

Foi com esse intuito, de analisar a representação de jornalistas na ficção, que escolhi a personagem de Harry Potter como objeto desse estudo. Na história, temos representada uma jornalista que faz tudo o que pode para conseguir uma boa notícia, vendê-la ao público, e conseguir mais destaque para o jornal, mesmo que não seja uma representação do real.

A primeira parte deste trabalho trata-se de uma reconstituição da narrativa, seguindo os passos de Motta (2013). É importante informar ao leitor sobre a história da autora J.K. Rowling, bem como a construção de sua séria literária Harry Potter e as influências externas que esta sofreu. Para situar o leitor sobre o enredo, o capítulo também é composto por um breve resumo dos sete livros que compõem a história.

O capítulo seguinte aborda sobre os elementos fáticos e fictícios na construção de uma narrativa. O real e a ficção se mesclam em muitos enredos, por isso precisamos compreender quais elementos estão presentes na história de Rowling. A autora utilizou informações fáticas para construir sua narrativa fictícia, trazendo muitos aspectos do nosso cotidiano para manter uma proximidade com quem lê. Entre esses elementos, é claro, está a inserção do jornalismo, presente na história.

Num terceiro momento, trago as questões relacionadas ao sensacionalismo. A personagem analisada possui atitudes que remetem aos jornalistas

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sensacionalistas fora da ficção. O sensacionalismo costuma trazer clichês, tragédias e grandes acontecimentos para mexer com as emoções do público, características também presentes na personagem. Sendo assim, é necessário compreender como o termo surgiu para então analisarmos como a personagem se encaixa no perfil sensacionalista.

Os procedimentos metodológicos necessários para a realização da análise são abordados no capítulo seguinte. Neste último capítulo compreendemos a construção de personagens, e o direcionamento que é dado pelos narradores, astuciosamente, às suas ações. Há ainda uma breve linha do tempo sobre a personagem e também do jornalismo dentro da narrativa, constituindo assim a análise em si.

O trabalho encerra com as considerações finais sobre a personagem e o jornalismo sensacionalista, seguindo da conclusão e referências utilizadas para a composição da análise.

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2 O MUNDO DA MAGIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A NARRATIVA EM HARRY POTTER

Desde 1997, quando o primeiro livro da história de Harry Potter foi publicado pela Bloomsbury, a saga não parou de ganhar, cada vez mais, público e visibilidade. A série pensada, inicialmente, durante uma viagem de trem realizada pela autora, conquistou milhares de fãs que não cansam de apreciar a obra.

Enquanto desenvolvia a história, Rowling não imaginava o tamanho do sucesso que a série teria no futuro, mas a narrativa da autora conquistou o mundo através dos sete livros e oito produções cinematográficas desenvolvidas para o enredo.

Até mesmo quem nunca leu os livros ou assistiu aos filmes da série, conhece a fama da história pelas inúmeras produções. A criatividade da autora levou milhares de pessoas a acreditar e a vivenciar, em sua imaginação, o mundo da magia, que continua a conquistar o público, tanto infantil como adulto. Segundo o site Superinteressante da Editora Abril (MONTELEONE, 2004), o primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, foi tão bem recebido pela crítica que não demorou a entrar na lista de mais vendidos. O fenômeno da saga conseguiu criar seu próprio gênero literário, o Young Adult ou Jovem Adulto, uma literatura jovem com temas mais adultos (HIRATA, 2017).

Os fãs cresceram, gradativamente, conforme cada volume era lançado e, principalmente, quando a série passou a ser produzida para os cinemas em 2001. A empolgação do público foi tanta que Rowling lançou duas continuações da saga, Harry Potter e a Câmara Secreta e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, em 1999.

Quando o quarto livro, Harry Potter e o Cálice de Fogo, chegava às livrarias, Rowling vendeu os direitos autorais da história para a Warner Bros, responsável pelos oito filmes da série. De acordo com informações do site Último Segundo (FRANQUIA, 2011), a franquia já arrecadou mais de US$ 10 bilhões ao redor do mundo.

O último livro foi lançado em 2007 no Brasil, pela Editora Rocco, tendo sua produção cinematográfica dividida em duas partes, lançadas em 2010 e 2011 respectivamente. Os últimos números mostram que a saga já foi traduzida para 79

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idiomas, tendo vendido 450 milhões de exemplares em cerca de 200 países, segundo dados da Revista Mundo Estranho (HIRATA, 2017), se tornando a série de livros mais vendida da história segundo o site EBiografia (FRAZÃO, s/a).

2.1 A bruxa dos bruxos: J.K. Rowling e a criação da magia

Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele (ROWLING, 2000a).

Segundo o site EBiografia (FRAZÃO, s/a), a escritora britânica Joanne Rowling nasceu no dia 31 de julho de 1965 na cidade de Yate, na Inglaterra. Desde pequena, inspirada por outros autores, tinha o sonho de se tornar escritora. Depois de cursar Língua e Literatura francesa, em Paris, Joanne regressou à Inglaterra para trabalhar na Anistia Internacional de Londres como secretária bilíngue, mas não deixou seu sonho de lado.

Em 1991, a autora se mudou para a cidade do Porto, em Portugal, devido à morte de sua mãe por esclerose múltipla. Lá, ela escrevia diariamente em bares e cafés. Após um casamento conturbado com o jornalista Jorge Arantes, Rowling se mudou com sua primeira filha para Ediburgo, na Escócia.

Foi em uma viagem de trem de Manchester a Londres que a história começou a tomar forma. De acordo com informações do site Superinteressante (MONTELEONE, 2004), a inspiração para o nome do bruxo veio, mais uma vez, da infância, pois devido a falhas e atrasos do trem em que estava, Rowling lembrou de antigos vizinhos que tinham o sobrenome Potter e foi então que a narrativa criou vida na mente da autora.

“A história foi concebida num repente. Fui obrigada a pensar nela durante as quatro horas que durou a viagem, pois não tinha caneta nem papel e tive vergonha de pedir emprestado”, conta a autora em entrevista para a Urbanette Magazine (HIRATA, 2017). A Revista Superinteressante afirma que, no período em que a autora escrevia o primeiro livro, J.K Rowling dependia do seguro-desemprego oferecido pelo governo britânico e chegou a ficar deprimida pela falta de perspectiva e dinheiro com que passava (MONTELEONE, 2004).

Após a conclusão do primeiro livro, Rowling enviou o manuscrito da história a editoras, mas sua obra foi rejeitada cerca de dez vezes por ser considerada longa

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demais para o público infantil. A editora Bloomsbury e o agente literário Christopher Little acreditaram no enredo e Harry Potter e a Pedra Filosofal foi publicado, em 1997, na Inglaterra.

Em seu site1, a autora conta que a editora sugeriu que ela utilizasse apenas iniciais em vez do primeiro nome, pois alguns leitores meninos poderiam ter preconceito com um livro escrito por uma mulher. Joanne acrescentou o “K”, emprestado de sua avó Kathleen, e assim surgiu o nome J.K. Rowling.

O sucesso da saga transformou a autora numa das pessoas mais ricas do mundo, entrando para a lista de bilionários da Forbes, ainda segundo informações da Revista Superinteressante (MONTELEONE, 2004). Ao longo da carreira, a autora recebeu vários prêmios e honrarias pela saga, incluindo a premiação de Livro Infantil do Ano, concedido pelo British Book Awards a Harry Potter e a Pedra Filosofal. Ela também foi eleita pela Enciclopédia Britânica uma das 300 mulheres que mudou o mundo e foi nomeada pela Revista Time como Pessoa do Ano em 2007 e Mulher Mais Influente da Grã-Bretanha em 2010.

Além dos sete livros da saga Harry Potter, Rowling também escreveu o romance Morte Súbita e a série policial Cormoran Strike, com o pseudônimo de Robert Galbraith, que por enquanto conta com três volumes, O Chamado do Cuco, O Bicho de Seda e Vocação para o mal, mais voltados para o público adulto. A autora também escreveu alguns spin-offs2 da série Harry Potter, e auxiliou na produção dos filmes, incluindo a nova história paralela, Animais Fantásticos e Onde Habitam, lançado em 2016 nos cinemas.

Em 2001 a autora se casou com o médico Neil Murray, com quem tem dois filhos. A família vive, atualmente, numa mansão no condado de Pertshire, na Escócia. Em seu site, encontramos que J.K. Rowling converte parte de sua fortuna para auxiliar organizações e instituições filantrópicas na luta contra enfermidades, esclerose múltipla, miséria e desigualdades sociais.

A autora também foi vitima da imprensa em vários momentos. O caso mais conhecido, ocorreu em 2011, quando a imprensa sensacionalista do Reino Unido foi dada como responsável por fazer J.K Rowling mudar de casa. Segundo o site de

1

https://www.jkrowling.com/

2

Termo utilizado para designar aquilo que foi derivado de algo já desenvolvido ou pesquisado anteriormente. É utilizado em diversas áreas, como negócios, mídia, tecnologia, entre outras. Na mídia, spin-off acontece quando uma franquia é criada a partir de uma já existente, geralmente aquela que já obteve sucesso e êxito. (https://www.significados.com.br/spin-off/).

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noticias R7, a escritora revelou em seu testemunho para um juiz que “jornalistas e fotógrafos a "expulsaram" de sua primeira propriedade ao publicar imagens em que se via o nome da rua e o número, e por isso continuar vivendo ali se tornou “insustentável”” (EFE, 2011).

Rowling ainda conta que o episódio que mais lhe chocou foi encontrar uma carta de um jornalista dentro da mochila de sua filha. A autora tomou medida contra a imprensa cerca de 50 vezes, principalmente para proteger seus filhos. As situações com os repórteres, podem ter ajudado a escritora a criar a personagem de Rita Skeeter.

2.2 O menino que sobreviveu: a história de Harry Potter

A saga escrita por J.K Rowling se tornou mundialmente famosa por acompanhar as aventuras de Harry Potter e seus fiéis amigos Hermione Granger e Rony Weasley. Harry é conhecido pelo mundo bruxo como o menino que sobreviveu contra o temível Lorde das Trevas3 quando ainda era um bebê. Ao longo dos sete volumes, a história desse enfrentamento é contada e explicada tanto ao público leitor quanto para Harry, já que este não conhecia sua verdadeira história até ingressar em Hogwarts.

Segundo os passos propostos por Motta (2013), para a análise da narrativa é preciso reconstituir a história e conhecer seus personagens. Vladmir I Propp (apud MOTTA, 2013) acreditava que morfologia é o estudo das formas, ou seja, o estudo das partes constituintes de algo e suas relações com outras partes, sendo assim é preciso introduzir a história.

Como este trabalho se propõe a realizar uma análise da narrativa, centrada na personagem jornalista, é fundamental conhecer os aspectos mais relevantes da história, a construção e características dos personagens, e o que os levam a agir de determinada forma. A seguir, apresento um breve resumo de cada livro, com o intuito de situar o enredo àqueles leitores não familiarizados ou que não a conhecem.

3

Mais conhecido como Você-Sabe-Quem ou Voldemort, considerado o mais poderoso bruxo das trevas de todos os tempos. Ele assassinou os pais de Harry Potter e tentou fazer o mesmo com o garoto, contudo o feitiço deu errado e acabou atingindo a ele mesmo e enfraquecendo-o. Após 13 anos, Voldemort regressou ao mundo da magia e retornou sua caça a Harry Potter e a outros bruxos. Seus seguidores ficaram conhecidos como Comensais da Morte (TOM, s/a).

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2.2.1 Harry Potter e a Pedra Filosofal

[A Pedra Filosofal é] uma substância lendária com poderes fantásticos. A

pedra pode transformar qualquer metal em ouro puro. Produz também o Elixir da Vida, que torna quem o bebe imortal. (ROWLING, 2000a, p. 160).

O primeiro volume da série levou cerca de sete anos para ser concluído; após esse tempo conhecemos o famoso universo da magia, icônico para os fãs da saga. No primeiro livro, passamos a acompanhar a vida do herói e entender o porquê de um bruxo tão famoso viver na casa de seus parentes trouxas (não bruxos), desde que era bebê.

A narrativa conta que a família Dursley, formada por seus tios Valter e Petúnia e seu primo Duda, acolheram o ainda bebê Harry Potter, após a tragédia que matou seus pais, mesmo que não o quisessem ali. Durante 10 anos, os tios maltrataram Harry e esconderam dele a verdadeira história de sua vida. Inúmeras corujas começam a aparecer na residência deixando cartas destinadas a Harry, e é então que ele descobre ser um bruxo.

Harry ingressa na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, e assim como ele, vamos conhecendo o mundo da magia. Dentro da Escola, os alunos são divididos, entre quatro casas: Sonserina, Convirnal, Lufa-Lufa e Grifinória, esta última, foi a casa para a qual Harry foi selecionado.

Juntamente com seus amigos, Rony Weasley e Hermione Granger, Harry descobre que o diretor da escola, Alvo Dumbledore, está protegendo a Pedra Filosofal, um artefato antigo e muito poderoso, nos terrenos da escola. Os três desconfiam que o Professor Severo Snape esteja tentando roubá-la para usufruir de seus poderes mágicos.

Depois de passar por um labirinto de desafios, incluindo um cão gigante de três cabeças e um jogo de xadrez humano, Harry chega ao local em que a Pedra está e encontra o professor Quirrel. Harry descobre que ele está tentando ajudar Lorde Voldemort a retomar seus poderes, perdidos após a luta que matou os pais de Harry Potter há 10 anos. Os dois disputam pela posse da Pedra, mas Harry consegue recuperá-la e a entrega para Dumbledore.

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2.2.2 Harry Potter e a Câmara Secreta

Harry se viu parado no fim de uma câmara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrelaçadas com cobras em relevo sustentavam um teto que se perdia na escuridão, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar. (ROWLING, 2000b, p. 227).

O segundo livro da saga, lançado no Brasil também em 2000 pela editora Rocco, inicia contando sobre as férias do protagonista. Enquanto arruma as malas para voltar à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry recebe a visita de Dobby, um elfo doméstico4, uma espécie de criatura mágica, caracterizada nos livros como serviçais de famílias bruxas. Dobby tenta convencer Harry de não regressar a Hogwarts, pois uma grande catástrofe pode acontecer.

Após receber um aviso sobre o uso indevido de magia, causado por Dobby, e de ser resgatado pela família Weasley de seu quarto, Harry e seu amigo Rony perdem o trem para a Escola. Os dois fazem a viagem voando em um carro enfeitiçado, até que finalmente conseguem chegar a Hogwarts.

A catástrofe informada por Dobby realmente acontece quando uma Câmara Secreta é aberta, vários alunos começam a ser petrificados e uma aluna é levada para dentro dela. A Câmara, que ninguém sabe onde fica, é o esconderijo de um Basilisco, uma serpente gigante que mata apenas com o olhar.

Harry e seus amigos, Rony e Hermione, descobrem que a Câmara já havia sido aberta outra vez, e que houve uma morte. Ao descobrirem que Gina Weasley, irmã de Rony, é a garota que está lá, os três procuram descobrir como ter acesso à Câmara e resgatar Gina antes que seja tarde.

Ao ingressar na Câmara, Harry descobre que uma parte de Voldemort, seu inimigo, também está lá, por meio de um diário. Harry precisa lutar contra as ameaças do Basilisco, de Voldemort e ainda salvar Gina dos perigos que lá habitam.

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Criaturas mágicas que servem os bruxos, sendo fiéis a seus senhores ou às instituições nas quais trabalham. Quando cometem alguma indiscrição em relação aos donos, como falar mal deles ou desobedecê-los de alguma forma, elfos domésticos se auto flagelam, como forma de punição. Os elfos só são libertados quando recebem roupas novas de seus donos. (DOMÉSTICOS, s/a).

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2.2.3 Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

Sirius Black, provavelmente o condenado de pior fama já preso na fortaleza de Azkaban, continua a escapar da polícia, confirmou hoje o Ministério da Magia. (ROWLING, 2000c, p. 32).

As férias acabaram e mais uma vez Harry Potter regressa a Hogwarts, agora com uma ameaça ainda maior de perigo. No terceiro livro da série, Sirius Black, considerado por muitos um seguidor do Lorde das Trevas, fugiu de Azkaban, a prisão dos bruxos. A fuga do personagem é noticiada tanto nos jornais bruxos como nos da sociedade não bruxa, evidenciando os perigos que ele pode causar.

Harry não entende o porquê de todos quererem lhe proteger do bruxo, até descobrir que foi Sirius quem deu a localização de seus pais ao Lorde Voldemort, na noite em que foram assassinados. Além disso, Black também é padrinho de Harry e, supostamente, faria tudo para terminar o serviço do Lorde das Trevas.

Os guardas de Azkaban, os “dementadores”, terríveis criaturas que sugam toda a felicidade presente nos locais, estão protegendo Hogwarts e buscando Sirius Black, condenado por matar 13 pessoas com um único feitiço. Devido ao perigo e à falta de autorização dos Dursley, Harry é proibido de sair do castelo para visitar Hogsmeade, um vilarejo bruxo, para onde os outros estudantes podem ir eventualmente.

É então que Jorge e Fred Weasley, irmãos mais velhos de Rony, apresentam a Harry o Mapa do Maroto, que mostra todas as passagens secretas do castelo direto ao vilarejo. É por meio deste mapa que Harry começa a descobrir a verdade: Pedro Pettigrew, que foi dado como morto, assassinado por Sirius Black para defender os pais de Potter, está vivo e ele é o verdadeiro responsável pelos terríveis acontecimentos do passado. Sirius era inocente e defendeu a família Potter.

Ao descobrir a verdade, Harry, juntamente com seus amigos, precisa encontrar uma forma de salvar Sirius Black, seu padrinho, do beijo mortal dos dementadores, que o deixaria sem alma. É com a ajuda do vira-tempo, um artefato mágico que permite voltar no tempo, que Harry e Hermione conseguem evitar a morte de Sirius e de Bicuço, um hipogrifo, outra criatura mágica, mistura de espécie de cavalo e de ave, que estava condenado à morte.

A narrativa do terceiro volume foca principalmente nesta relação entre Sirius Black e Harry Potter. O livro também traz mais artefatos mágicos para a construção

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da narrativa e a inclusão de outros animais fantásticos que auxiliam no fluxo da história.

2.2.4 Harry Potter e o Cálice de Fogo

O bruxo enfiou a mão nele e tirou um grande cálice de madeira toscamente talhado. Teria sido considerado totalmente comum se não estivesse cheio até a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impressão de dançar. (ROWLING, 2001, p. 189).

Em 2001 o quarto livro da série era lançado no Brasil pela Rocco e desta vez passamos a conhecer mais sobre outros aspectos do mundo bruxo, principalmente o esporte e a educação. Juntamente com Harry, somos introduzidos à Copa Mundial de Quadribol5, o evento esportivo que reúne o maior número de bruxos em um só local. Quadribol é um esporte bruxo que lembra o futebol. A euforia dos personagens é demonstrada em cada página, até que o terror se assola e a Marca Negra, utilizada pelos seguidores de Voldemort, aparece no céu, para mostrar que o vilão está mais perto.

O retorno às aulas ameniza os terrores do evento esportivo, e dá início ao Torneio Tribruxo. O Torneio reúne três escolas de magia em uma competição, em que somente alunos com mais de 17 anos podem participar, sendo um estudante de cada escola. Os competidores são sorteados pelo Cálice de Fogo, um artefato mágico, e de forma misteriosa o nome de Harry Potter também é sorteado, mesmo ele não tendo idade para participar.

Os quatro competidores sorteados, dois de Hogwarts, passam por três provas com o objetivo de comprovar suas habilidades perante aos perigos. A quarta e última prova é um labirinto, onde os competidores precisam chegar ao centro e encontrar a Taça do Torneio.

Harry e Cedrico, ambos competidores de Hogwarts, conseguem encontrar a Taça, contudo ela estava enfeitiçada. Ao tocarem nela, os dois são transportados para um cemitério onde se encontrava o Lorde das Trevas. Voldemort e os

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É o esporte mais popular dos bruxos. São sete jogadores por time divididos em quatro posições e com quatro bolas diferentes. A intenção dos artilheiros é fazer gols nos arcos do time adversário. O jogo só termina após a captura do Pomo de Ouro, a bola mais importante, que possui uma agilidade surpreendente e concede 150 pontos para a equipe que o capturar. Harry Potter joga Quadribol na posição de apanhador, que é quem apanha o pomo de ouro (QUADRIBOL, s/a).

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Comensais da Morte aguardavam Harry para um ritual que concederia um novo corpo ao Lorde.

Depois de concretizado o ritual, com participação do sangue de Potter, o novo corpo de Voldemort estava formado e com mais força. Harry, então, inicia uma luta para escapar dos perigos e possível morte, ao mesmo tempo em que tenta recuperar o corpo de seu amigo Cedrico, morto por Voldemort. Ao regressar para a escola, Harry conta o ocorrido a Dumbledore e a outros professores presentes, contudo, poucos acreditam que o Lorde das Trevas retornou.

É neste livro que o jornalismo e a personagem Rita Skeeter, que será analisada posteriormente, se tornam mais fortes. A jornalista noticia todos os eventos desde e a Copa Mundial de Quadribol, passando pelo Torneio Tribruxo, onde começa a desmoralizar Harry, até chegar ao último acontecimento da competição. Rita, por meio do jornal O Profeta Diário, é a primeira a dizer que Harry está mentindo, como mostra a imagem do jornal abaixo, retirado do filme homônimo.

Figura 1: Profeta Diário

Tradução do título: “O menino que mente?” Fonte: Filme Harry Potter e o Cálice de Fogo

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2.2.5 Harry Potter e a Ordem da Fênix - Que lugar é esse afinal?

- A sede da Ordem da Fênix – respondeu Rony na hora.

- Alguém vai se dar o trabalho de me dizer o que é essa Ordem...?

- É uma sociedade secreta – disse Hermione de pressa – Dumbledore é o responsável, fundou a Ordem. São as pessoas que lutaram contra Você-Sabe-Quem da última vez. (ROWLING, 2003, p. 58).

Os acontecimentos do quarto livro ainda refletem na vida de Harry Potter. Mesmo contando toda a verdade, o protagonista é desacreditado pela maior parte dos personagens, que preferem não acreditar que Voldemort retornou ao mundo bruxo.

O Ministério da Magia passa a implantar rígidas regras em Hogwarts para que os alunos não falem sobre o assunto. Para que as regras funcionem, uma personagem chamada Dolores Umbrigde, por indicação do Ministério, torna-se professora de Defesa Contra as Artes das Trevas e “comandante” da escola, passando por cima até mesmo de Dumbledore, o diretor.

Com o intuito de fazer que todos acreditem na sua versão dos fatos, Harry dá uma entrevista para Rita Skeeter, a pedidos de sua amiga Hermione. A jornalista ficou um ano sem escrever notícias, após ser desmascarada por Hermione, e é aqui que surge a Revista O Pasquim, onde a entrevista de Harry é noticiada primeiramente.

Depois de a entrevista ser publicada, muitos colegas de classe passam a acreditar em Harry e no retorno de Voldemort, desejando lutar contra ele. Harry, com a ajuda dos colegas de classe, monta a Armada de Dumbledore, com o objetivo de ensinar, àqueles que desejam, a se defender.

Harry também descobre que existe uma profecia sobre ele e Voldemort. Juntamente com a Armada de Dumbledore, Harry vai ao Ministério da Magia com a intenção de encontrar a profecia e descobrir como derrotar Voldemort. Contudo, não esperavam que os Comensais da Morte desejassem a mesma coisa.

Uma luta é travada entre os Comensais e os estudantes, até que outro grupo combatente a Voldemort aparece para ajudar. Sirius Black, padrinho de Potter, acaba sendo morto no combate. Ao tentarem sair do Ministério, todos são surpreendidos pela presença de Voldemort, o qual luta contra Dumbledore. Em meio

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ao combate, representantes do Ministério e o próprio Ministro da Magia aparecem e descobrem que o retorno do Lorde das Trevas é real.

2.2.6 Harry Potter e o Enigma do Príncipe

Harry se abaixou para recolher o livro e, ao fazer isto, viu uma coisa escrita ao pé da quarta capa, na mesma caligrafia pequena e apertada que as instruções: Este livro pertence ao Príncipe Mestiço (ROWLING, 2005, p.

142).

Agora que toda a comunidade bruxa sabe sobre o retorno de Voldemort, provisões passam a ser tomadas contra os ataques dos Comensais da Morte, ocorridos também no mundo dos trouxas, os não-bruxos. A situação fica cada vez mais fora de controle e todos precisam encontrar uma solução para derrotar o vilão.

É com este objetivo que Dumbledore contrata Horácio Slughorn, para dar aulas em Hogwarts. O professor guarda um grande segredo que pode auxiliar na luta contra Voldemort e Harry precisa descobri-lo para que o resto se encaixe.

É então que Slughorn, em uma de suas conversas com Harry, revela o grande segredo do seu passado e que ainda lhe assombra. Horácio ensinou a Voldemort sobre a construção de Horcruxes, ou seja, a divisão da alma em pedaços. Cada pedaço deve estar associado a um objeto valioso para a pessoa. A alma se divide cada vez que o indivíduo assassina outra pessoa, e assim ele não pode morrer até que todos os pedaços estejam destruídos.

Voldemort dividiu sua alma em sete partes, dentro de objetos que precisam ser encontrados e destruídos. Com essa informação, Dumbledore passa a dar aulas particulares a Harry para que os dois encontrem as Horcruxes e as destruam, pois só assim Voldemort poderá morrer.

Os dois encontram uma possível Horcruxe em uma antiga caverna. Para pegá-la é preciso beber um líquido que enfraquece a pessoa a cada gole. Mesmo com o risco, Dumbledore pede ajuda a Harry para que consiga tomar o líquido e então pegar o medalhão que contém um pedaço da alma do Lorde das Trevas.

Ao retornarem a Hogwarts, Harry e Dumbledore descobrem que os Comensais da Morte invadiram a escola, por meio de um portal aberto por Draco Malfoy, outro estudante, e precisam encontrar uma maneira de defender o castelo. Infelizmente, a invasão termina com Snape assassinando o diretor. A morte de

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Dumbledore havia sido combinada entre os dois como uma forma de proteger Draco Malfoy, personagem designado por Voldemort a matar Dumbledore. A estratégia também serviu para que Snape conseguisse credibilidade entre os Comensais da Morte e com o próprio Voldemort, para conhecer seus movimentos e organizar a resistência.

2.2.7 Harry Potter e as Relíquias da Morte

- A Varinha das Varinhas – disse ele desenhando uma linha vertical no pergaminho. – A Pedra da Ressurreição. – E acrescentou um círculo no alto da linha. – A Capa da Invisibilidade – terminou, circunscrevendo a linha e o círculo em um triângulo, completando o símbolo que tanto intrigava Hermione. – Juntas – disse ele -, As Relíquias da Morte [...] as três unidas, tornarão o seu dono senhor da Morte (ROWLING, 2007, p. 301).

Com a guerra cada vez mais acirrada contra as forças de Voldemort e os Comensais da Morte, Harry, Hermione e Rony decidem não retornar a Hogwarts para o último ano. Ao invés disso, os três amigos decidem honrar a morte do professor Dumbledore e continuar as buscas pelas Horcruxes.

Juntos, os três precisam se esconder das forças malignas em florestas e lugares abandonados, deixando tudo e todos para trás. Em suas perambulações, eles ainda precisam descobrir qual a função dos presentes deixados a eles pelo testamento de Dumbledore, na maior luta dos bruxos.

Um dos presentes deixado pelo diretor a Hermione foi um livro de contos. Uma das histórias dizia respeito às lendárias Relíquias da Morte, artefatos mágicos, dados pela própria morte a três irmãos bruxos: A Pedra da Ressurreição, A Varinha das Varinhas e a Capa da Invisibilidade. Os três artefatos juntos, fazem do bruxo que as tiver, um ser invencível.

Mesmo sem saber, Harry possui um dos artefatos: A Capa da Invisibilidade, e devido a sua ligação com Voldemort, ele sabe que o vilão irá atrás dos outros objetos para se tornar o melhor bruxo. Depois de vários riscos, Harry consegue juntar as três Relíquias, e para derrotar Voldemort ele precisa retornar a Hogwarts e destruir as últimas Horcruxes. A batalha em Hogwarts termina com a vitória de Harry sobre o bruxo das trevas. Voldemort foi derrotado, e a série literária termina com um epilogo dizendo que mesmo após 30 anos, os bruxos viviam em paz, sem nenhuma ameaça do Lorde das Trevas.

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3 A CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA ENTRE ELEMENTOS FÁTICOS E FICTÍCIOS

A ficção, seja em livros, filmes ou séries de TV, se entrelaça muitas vezes com a realidade do cotidiano. Não há como negar que o mundo ficcional retrata acontecimentos do nosso dia a dia, às vezes como uma crítica nítida da nossa sociedade, outras vezes buscando uma maior reflexão do público para determinados assuntos. Em um dos seus livros, Guimarães Rosa (apud SODRÉ, 2012), cita que a narrativa está presente em todas as pessoas e assim criamos histórias o tempo todo.

Somos fabulistas por natureza. Está no sangue narrar histórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e lendas, e também nos criamos em um mundo que às vezes pode se assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo a gente se habitua e narra estórias que correm por nossas veias e penetram nosso corpo, em nossa alma [...] (GUIMARÃES ROSA apud SODRÉ, 2012, p.183).

Nossa vida é uma teia de narrativas na qual estamos nitidamente inseridos. Quando narramos algo, estamos reconstruindo nossos valores morais, costumes, leis, crenças e mitos; tudo que incluímos ou excluímos das nossas narrativas depende daquilo que queremos transmitir. O homem narra porque “narrar é uma experiência enraizada na existência humana” (MOTTA, 2013, p. 17-18).

Quando se pretende produzir narrativas, o enunciador utiliza estratégias de linguagem para convencer o público. As narrativas ficcionais remetem a experiências poéticas e subjetivas, enquanto narrativas fáticas se prendem predominantemente ao real.

Popularmente, narrativas fictícias são aquelas imaginárias ou ilusórias, inventadas e não verdadeiras, como as lendas, a literatura, a tragédia teatral e a grande maioria dos filmes. Em contraposição as fáticas são as narrativas realistas: pretendem ser verdadeiras, como no jornalismo, na biografia, na historiografia e na ciência. A primeira implica uma suspensão temporária da descrença: animais podem falar, monstros podem existir, o tempo retroceder, um morto retornar à vida, etc., e ninguém contesta porque o ficcional pressupõe que o universo descrito seja ilusório, irreal: é o reino do como se. A segunda reivindica uma fidelidade ao real, à veracidade e autenticidade históricas (MOTTA, 2013, p. 36).

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Apesar das colocações de Motta, o real e o imaginário caminham lado a lado na construção da personalidade dos seres humanos. Jung (1964, apud ROCHA 1996, p. 19), explica que “Para benefício do equilíbrio mental e mesmo da saúde fisiológica, o consciente e o inconsciente devem estar completamente interligados, a fim de que possam se mover em linhas paralelas”.

Somos movidos pela curiosidade, pelas emoções e sensações que algo nos causa, principalmente daquilo que não conhecemos. Ainda segundo Jung (apud ROCHA, p. 19) tudo está relacionado aos interiores da mente, pois “ali se origina, ali se manifesta, e reflete a exterioridade cultural de cada indivíduo”. Sendo assim, o real se manifesta no imaginário e vice-versa, por isso tantas obras representam coisas comuns em histórias fantásticas, ou simplesmente se baseiem em nosso cotidiano, como no caso de livros, novelas e filmes.

Desde a época dos grandes romancistas, como Aristóteles e, posteriormente, Shakespeare, as obras literárias costumam ser baseadas no cotidiano que serve como apoio para a construção de uma narrativa sólida. As experiências vividas pelos escritores muitas vezes auxiliam no desenvolvimento do enredo, como afirma Sodré (2012. p. 161) “Com a dimensão externa, uma vez que a literatura é constituída historicamente também pelo que se situa fora dela: sabemos que Tolstoi e Balzac (assim como outros romancistas de todas as épocas) costumavam dramatizar situações reais”.

Conforme Motta (2013), conhecer não é produzir nem representar o mundo, mas criá-lo, por isso para que algo seja classificado como real deve ser conhecido de algum modo. “Algo passa a ser real desde o momento em que se encontra com certa relação conosco” (MOTTA, 2013, p. 85). Em outro texto do autor, datado em 2005, ele afirma que “Mesmo a literatura fantástica, que relata casos absurdos, necessita reafirmar o real para remeter seus leitores ao mundo irreal, a fim de provocar os efeitos de espanto ou assombro” (MOTTA, 2005 apud MOTTA, 2013, p. 90).

Candido (1987, p. 15) afirma que frequentemente este mundo fictício ou mimético “reflete momentos selecionados e transfigurados da realidade empírica exterior à obra, torna-se, portanto, representativo para algo além dele”. No mesmo sentido, Motta (2013, p.121), alega que as narrativas “são relações argumentativas

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que se estabelecem por causa da cultura, da convivência entre seres vivos com interesses, desejos e vontades”.

A inserção de elementos fáticos também foi utilizada pela autora de Harry Potter com o intuito de dar mais caracterização à narrativa e à criação dos personagens. Muitos aspectos conhecidos por nós se assemelham a objetos retratados na história, porém com um auxílio mágico. A imitação da realidade busca trazer uma coerência espacial e temporal para os personagens e assim ajuda a construí-los.

Num enredo, procura-se atribuir coerência espacial e temporal a determinadas manifestações factuais do real-histórico. Este é o caminho tomado pelo que Aristóteles entendia como mimese

(memesis), ou seja, não a “imitação” da realidade, mas o

aproveitamento de aspectos da realidade para produzir um discurso que lhe é semelhante ou homológico. Por maior que seja a afinidade deste mecanismo com o da ficção, são coisas diferentes, porque a mimese do discurso informativa se realiza em função de uma referência sócio histórica, de algo que acontece num aqui e agora da vida social. (SODRÉ, 2012, p. 37).

As narrativas são uma prática humana universal que põem os acontecimentos em perspectivas, “elas nos representam, são metáforas de nossas vidas, refletem nossa relação com o real e o irreal” (MOTTA, 2013, p. 61). Elas possuem uma estrutura interna de conexão que determinam sua configuração, sendo assim, quem narra “evoca eventos conhecidos, seja porque os inventa, seja porque os tenha vivido ou presenciado diretamente” (MOTTA, 2013, p. 74).

Segundo Candido (1987, p. 42), boa parte dos leitores “põe o mundo imaginário quase imediatamente em referência com a realidade exterior à obra”. Sendo assim, estas camadas exteriores são co-percebidas com mais força que o habitual pelos leitores.

É notório como o mundo criado por J.K. Rowling se mescla com o nosso cotidiano, e às vezes até se compara e se iguala a ele. Na série, temos presente um líder do Ministério da Magia, o Ministro da Magia, que regulamenta todas as leis entre os bruxos, e ainda entre os bruxos e os não bruxos, chamados na história de “trouxas”. Cada Departamento do Ministério possui um chefe responsável pelo setor que auxilia a resolver as demandas do governo. Ao observar a obra, notamos que o sistema de governo é semelhante ao de muitos países do mundo.

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A criação de estereótipos e preconceitos sociais também são citados durante o enredo. Ao longo da narrativa vamos conhecendo a “classificação” dos bruxos perante a sociedade. Somos apresentados a quatro tipos de bruxos: os

puro-sangue, os mestiços6, os abortos7 e os sangues-ruins. Ao decorrer da história podemos notar que os dois últimos sofrem um enorme preconceito vindo, principalmente, dos puro-sangue.

O ar presunçoso de Draco pareceu oscilar.

- Ninguém pediu sua opinião, sua sujeitinha de sangue-ruim – xingou ele.

Harry percebeu na hora que Draco dissera uma coisa realmente ofensiva, porque houve um tumulto instantâneo em seguida às suas palavras [...]

- Malfoy chamou Hermione de sangue-ruim Hagrid [...]. É praticamente a coisa mais ofensiva que ele podia dizer – ofegou Rony, voltando – Sangue ruim é o pior nome para alguém que nasceu trouxa, sabe, que não tem pais bruxos. Existem uns bruxos, como os da família de Malfoy, que se acham melhores do que todo mundo porque têm o que as pessoas chamam de sangue puro. Quero dizer, nós sabemos que isso não faz a menor diferença. [...] E é uma coisa revoltante chamar alguém de... – começou Rony, enxugando a testa suada com a mão trêmula - ... sangue sujo, sabe. Sangue comum. É ridículo. A maioria dos bruxos hoje em dia é mestiça. Se não tivéssemos casados com os trouxas teríamos desaparecidos da terra. (ROWLING, 2000, p. 90).

Na trama, a narradora indica que há famílias que não se importam com isso, se abstraindo do preconceito de que os puros-sangues seriam superiores aos demais. Contudo, o preconceito diante dos bruxos nascidos-trouxas (sangue-ruins) retrata o preconceito entre as classes sociais do mundo não fictício. A história ainda cita que algumas famílias de sangue puro desejam eliminar os nascidos trouxas para terem uma nação pura, e assim comparando-se ao Holocausto.

Outras coisas como ônibus, trens, status social, esporte por meio do Quadribol, escravidão representada pelos elfos domésticos, questões culturais como cartomantes, bicho-papão, Natal e Halloween também estão presentes na saga literária, e acompanham a rotina dos protagonistas. Todos esses aspectos semelhantes ao mundo real aparecem na série, especialmente a partir dos personagens Harry e Hermione que vivem com famílias de não-bruxos.

6

Termo utilizado para designar bruxos e bruxas que são filho de um pai/mãe trouxa com bruxo ou bruxa. Nos anos 1990, os mestiços eram o tipo de bruxo mais comum (MESTIÇO, s/a)

7

São pessoas que tem ao menos um pai bruxo, mas não desenvolvem poderes mágicos (ABORTO, s/a).

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Uma estória descreve uma série de ações e de experiências levadas a cabo por algumas personagens reais ou imaginárias. Tais personagens são representadas em situações que mudam e que reagem a essas mudanças. Seguir uma estória consiste em compreender as ações, os pensamentos e sentimentos sucessivos que se desenvolvem em uma direção. O desenvolvimento da estória nos impulsiona a continuar e respondemos a tal impulso mediante expectativas que se referem ao começo e ao final do processo. Não há estória (nem histórias) sem surpresas, coincidências, reencontros, revelações, etc. por isso, é preciso seguir a estória até seu final (MOTTA, 2013, p. 48).

Para François Mauriac (apud CANDIDO, 1987, p. 67), há uma relação entre o personagem e o autor. “Este a tira de si (seja de sua zona má, da sua zona boa) como realização de virtualidades, que não são projeção de traços, mas sempre modificação, pois o romance transfigura a vida”. Portanto, podemos dizer que “o romance se baseia, antes de mais nada, num certo tipo de relação entre o ser vivo e o ser fictício, manifestada através da personagem” (CANDIDO, 1987, p. 55).

Motta (2013, p. 156) afirma que a estratégia narrativa cria expectativas para o leitor, por isso é preciso “observar como o narrador vai, estratégica ou intuitivamente, introduzindo esses recursos de linguagem para produzir esses efeitos de sentido”. Ricoeur, citado por Motta (2013, p.149), diz que a resposta emocional do espectador é construída no drama, independentemente da narrativa. Para ele “qualquer estória (inclusive a historiografia), trata de estados de mudança, para melhor ou pior”.

Com essas considerações, podemos notar que toda e qualquer personagem sofrerá as consequências devido às artimanhas e figuras estéticas do autor/narrador. Mesmo que a personagem exista somente dentro de uma narrativa, ela terá aspectos humanos que são introduzidos para que o leitor ou espectador as compreenda. Neste caso, a personagem de Harry Potter retrata características de jornalistas sensacionalistas, tema do próximo capítulo.

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4 IMAGINÁRIO OU REAL: O JORNALISMO SENSACIONALISTA

Rita Skeeter, a personagem fictícia analisada neste trabalho, possui muitas atitudes que a tornam uma jornalista sensacionalista. As reportagens produzidas pela repórter têm como intuito desmoralizar outros personagens diante de certas situações, mesmo que muitas vezes as informações publicadas não sejam verídicas. Verificando a importância do jornalismo para a construção de narrativas, devemos nos perguntar, até que ponto uma narrativa jornalística traduz fielmente o real? Segundo Sodré (2012, p.62), o “Jornalista seria, acima de tudo, o intérprete qualificado de uma realidade que deve ser contextualizada, reproduzida e compreendida nas suas relações de casualidade e condicionamento histórico”. O papel do profissional, portanto, é levar a verdade a todos os públicos, mostrando os dois (ou mais) lados da história, contudo, cada um pode fazer sua própria interpretação sobre o fato, assim como os leitores de determinada narrativa e os próprios profissionais da área.

Claudio Abramo (1988, apud KARAM 2004) destaca que a cidadania deve se refletir na profissão, pois assim como o cidadão, “o jornalista não deveria mentir, não deveria abusar da confiança, não poderia bater carteira e sair impune”. Já a juíza Carla Rister (apud KARAM, 2004) assegura que ”honestidade e ética, são exigências de qualquer profissão, adquiridas não só no meio acadêmico, mas durante toda a vida”.

Em 1987, Adelmo Genro Filho, escreveu em seu livro O Segredo da Pirâmide que a maioria dos autores reconhece que a objetividade é algo impossível para os profissionais, contudo de uma forma equívoca.

A maioria dos autores reconhece que a objetividade plena é impossível no jornalismo, mas admite isso como uma limitação, um sinal da impotência humana diante da própria subjetividade, ao invés de perceber essa impossibilidade como um sinal da potência subjetiva do homem diante da objetividade. (GENRO FILHO, 1987, texto online).

Na série Harry Potter, a objetividade parece ser quase nula, pois a personagem jornalista utiliza muito sua opinião sobre os fatos narrados. A observação imparcial dá lugar ao jornalismo sensacionalista, termo que explico a seguir.

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4.1 Imperio8: o controle do sensacionalismo

Na série Harry Potter, as técnicas utilizadas pela personagem da história retratam o que entendemos como jornalismo sensacionalista. Conforme o texto de Fabio Rausch (2016), as notícias sensacionalistas surgiram na Roma Antiga, ao anunciar o afogamento de um cão que não quis abandonar o corpo do seu dono. O fato na época foi considerado vulgar para os noticiários, contudo, a prática não parou de ocorrer.

Até mesmo cantigas e histórias, contadas em tavernas ou igrejas, continham um quê sensacionalista por meio dos fait divers, ou seja, fatos diversos que foram acrescentados em jornais de todas as épocas narrando escândalos, tragédias e crimes de maneira inescrupulosa, fatos que encerram-se em si mesmos, sem dizer respeito à coletividade. Contudo, foi só no final do século XIX que o conceito de sensacionalismo se propagou.

Segundo Barthes (2007), o conteúdo dos fait divers não são estranhos ao mundo pois envolvem desastres, assassinatos, agressões, acidentes, roubos e esquisitices, sendo que tudo isso remete ao homem e a sua história. O fait divers nos diz que o homem está sempre ligado a outra coisa, que a natureza é cheia de ecos, de relações e de movimentos; mas, por outro lado, essa mesma causalidade é constantemente minada por forças que lhe escapam; perturbada sem, entretanto, desaparecer, ela fica de certo modo suspensa entre o racional e o desconhecido, oferecida a um espanto fundamental (BARTHES, p. 62, 2007).

Uma pesquisa realizada pela Revista Mundo Estranho (REDAÇÃO, 2011), mostra que o termo sensacionalismo surgiu devido a uma disputa entre o The New

York Journal e o New York World que queriam ter em suas páginas a primeira tira de

quadrinhos publicada, a Yellow Kid, o que gerou publicações sem escrúpulos por ambos os jornais, que por meio de publicações inventadas passaram a vender milhões de exemplares por dia. A imprensa amarela, como é designada essa prática jornalística, tem esse nome, pois o personagem da HQ usava uma camisola desta cor.

Em 1959, o termo teve sua cor substituída no Brasil na redação do jornal carioca Diário da Noite. O editor Alberto Dines preparava a notícia sobre a revista

8

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Escândalo, que extorquia dinheiro de pessoas fotografadas em situações comprometedoras, o que causou o suicídio de um cineasta. A notícia teria como título algo relacionado com “Imprensa amarela leva cineasta ao suicídio”. Calazans Fernandes, chefe de reportagem do jornal, achou que a cor amarela parecia algo ameno comparada ao teor trágico da notícia, e sugeriu trocá-la por marrom, fazendo surgir o termo “imprensa marrom”. Segundo Marcondes Filho (apud RAUSCH, 2016, p. 2), a imprensa sensacionalista, ao lidar com emoções, “está ligada a exacerbações de neurose coletiva”.

A imprensa marrom tem como principal característica o uso de pautas sensacionalistas buscando aumentar o índice de audiência. Esse tipo de jornalismo busca vender fatos por meio da divulgação exagerada, sem compromisso com a autenticidade da notícia. Segundo Sodré (2012), o jornalista precisa obedecer a determinadas regras para não cair no sensacionalismo.

Obedecidas determinadas regras técnicas, o leitor dispõe-se a crer na versão oferecida pelo profissional. O sensacionalismo, a manipulação da notícia, as propagandas disfarçadas são como irrupções maléficas na boa consciência jornalística, que não é imune às enormes pressões da mídia de entretenimento [...]. (SODRÉ, 2012, p. 43).

Karam (2004) afirma que é preciso pensar no sigilo das fontes e na veracidade dos fatos contados, sempre buscando apurar os mesmos. O autor destaca 24 itens que um jornalista deve prestar atenção e, até mesmo, diferenciar na hora da produção de suas reportagens, dos quais cito alguns abaixo:

 Verdade, verossimilhança e exatidão;

 Isenção;

 Separação entre opinião, informação, comentário, análise, apuração e interpretação;

 Off e sigilo das fontes;

 Legitimidade para apuração (ilícito ou lícito);

 Respeitar a privacidade e intimidade;

 Consciência pessoal x profissional.

O autor também comenta que o jornalismo é uma construção humana do dia a dia e, por mais que tentem, “as pessoas, não conseguem abstrair posições de toda ordem, seja política, ideológica ou moral, tal tarefa é impossível” (KARAM, 2004, p.

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122), pois toda a referência sobre ética, é sempre humana. O problema da ética, da mídia e do jornalismo deve ser vinculado à própria história humana, pois a cultura muda, e sendo assim, aquilo que era considerado justo e normal no passado, pode ser considerado antiético agora. Ao tratarmos da ética do jornalismo estamos lidando também com valores construídos humanamente para serem praticados humanamente.

Em diferentes épocas e regiões, atos hoje considerados antiéticos foram e são validados. Atos cruéis significaram honra e tais atos, configurados em práticas que causaram dor e humilhação a alguém, foram valorizados como grandeza moral por alguém, seja na submissão de inimigos, seja nas cabeças ofertadas aos deuses (RUSSELL, 1977 apud KARAM 2004).

Na prática, o sensacional é uma designação para um estilo jornalístico que enfatiza fortemente, às vezes à beira do exagero, fatos do cotidiano, trazendo informações articuladas emocionalmente só para captar a atenção do leitor. Para Genro Filho (1987), “o sensacionalismo é, inevitavelmente, conservador e até profundamente reacionário, mesmo quando se tenta instrumentalizá-lo com intenções democráticas ou socialistas” (GENRO FILHO, 1987, texto online).

Nessa ênfase, podem acontecer os clichês (grandes condutores de emoções), os títulos enganosos, os exageros das situações, escândalos, as falsas declarações, bem como o texto leve, de leitura agradável, próximo do coloquialismo das massas (SODRÉ, 2009, p. 222).

A Maldição Imperio, utilizada na série literária para controlar as vítimas, tem uma forte relação com o sensacionalismo. Assim como a Maldição controla o pensamento das vítimas, o sensacionalismo pretende fazer o mesmo com a emoção das pessoas. Ao escrever uma noticia sensacionalista, o jornalista escreve sobre situações que costumam mexer com o sentimental das pessoas, seja do modo bom ou ruim, e assim exercendo certo controle sobre as reações da comunidade, desde que “comprem” seu discurso.

Os padrões do “sensacional” variam de uma época para a outra. (SODRÉ, 2012, p. 222), assim como, a ideia do bem e do mal, do certo ou errado, que devem ser levadas em consideração devido às mudanças históricas da humanidade. Valores muitas vezes antagônicos causaram discussões que originaram normas morais, éticas e legais conforme as novas civilizações foram se desenvolvendo.

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Segundo Rausch (2016), o sensacionalismo se tornou um reflexo evidente do perfil dos leitores, de modo geral. Devido à cultura em que estamos inseridos, o público costuma ler notícias sobre tragédias, fofocas e crimes, sem se dar conta do distanciamento da realidade, imprecisão e distorção dos fatos, gerados por elas. “É no distanciamento entre a leitura e a realidade que a informação sensacional se instala como cômica ou trágica, chocante ou atraente” (PEDROSO, apud RAUSCH 2016, p.3). Vicente Romano (1984 apud KARAM 2004) acrescenta que “a informação jornalística trata precisamente da vida. Daí que as questões da linguagem e de estilo não possam se separar do jornalismo, já que o fim dele é satisfazer as crescentes necessidades culturais e intelectuais da população” (ROMANO, 1984, apud KARAM 2004, p. 126-127).

Ainda levando em consideração as discussões de Karam (2004), o autor afirma que as finalidades do jornalismo implicam sua relação com o mundo. “Os limites cotidianos, no jornalismo, vivem a tensão entre a possibilidade de realização da ética e as dificuldades teórico-operacionais para a execução dos princípios, o que equivale a dizer que o movimento moral é sempre presente” (KARAM, 2004, p. 127).

Morin (apud RAUSCH, 2016, p. 4) define que o sensacionalismo ocorre quando “a dramatização prepondera a informação”. Já Thompson (apud RAUSCH, 2016, p. 6) expõe dois tipos de sensacionalismo: “o boato sempre consiste em notícia não autenticada, enquanto a fofoca pode, ou não, ser verdadeira”.

Para Rausch (2016), o sensacionalismo é, portanto, o ato de divulgar matérias com o intuito de emocionar, impressionar, indignar ou escandalizar, se preocupando mais com a audiência do meio de comunicação do que com a própria verdade. “Todo o processo comunicativo seria sensacionalista em si, ao mexer com sensações físicas e psíquicas, e apelar às emoções” (RAUSH, 2016, p. 3).

Genro Filho (1987) acredita que um jornal sensacionalista singulariza os fatos ao extremo. Em outro trecho do texto o autor ainda cita que “os jornais sensacionalistas geralmente produzem um discurso de reforço dos valores, como meio para excitar não apenas as sensações como também os preconceitos morais do público” (GENRO FILHO, 1987).

A personagem Rita Skeeter, de Harry Potter, foco desta análise, retrata esse “reforço de valores” em suas notícias, sempre enfatizando que Harry, o personagem principal da história, está errado e não deve ser levado a sério. Os discursos

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utilizados pela jornalista ajudam a alimentar o preconceito de outros personagens para com Harry.

O debate sobre a ética jornalística e os procedimentos deontológicos da profissão vêm crescendo nos últimos anos. Karam (2004) afirma que o exercício ético da profissão “está vinculado às situações morais que enfrenta e às escolhas que necessita fazer a partir da relevância social da área; a partir de uma teoria de determinada atividade; a partir da história de tal área – para afirmá-la, negá-la ou redimensioná-la”, (KARAM, 2004, p. 128).

No último capítulo deste trabalho, trago a análise da personagem Rita Skeeter, e sua construção durante toda a narrativa da série Harry Potter. Durante a análise, tentarei compreender o porquê de a personagem agir de determinada forma, e ainda o perfil sensacionalista com o qual Rita foi desenvolvida na narrativa.

Referências

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