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Teologia contextual como sincretismo?: o "novo sincretismo” da teologia da libertação e a suspeita de sincretismo em relação à ecumene

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Teologia Contextuai como Sincretism o?

O "novo sincretism o” da teologia da libertação e a sus*

peita de sincretismo em relação à ecumene*

Hermann Brandt

O sin cre tism o co m o a p a riç ã o e x tra c ristã ?

Em sua obra Deutscher Wortschatz nach Sachgruppen, Franz

D o rn se iff a p re se n ta o te rm o "s in c re tis m o " na seção p rin c ip a l in titu la d a "R e lig iã o . O s u p ra -s e n s itiv o ", sob os tópicos "h e re s ia , p a g a n is m o "1. Lá, "s in c re tis m o " se e n co n tra na ce rca n ia im e d ia ta dos seguinte s conceitos: id o la tria , c u lto aos ancestrais, serviço d e Baal, serviço de ídolos, p a g a ­ nism o, re lig iã o da n a tu re za , p o lite ís m o , a d o ra ç ã o do fo g o , d o sol, das estrelas. De a co rd o com esta cla ssifica çã o , o cristia n ism o e o sincretism o parecem in co m p a tíve is, sendo o cristia n ism o s u p e rio r a to d o sincretism o.

Por isto, q u a n d o , na q u a lid a d e d e te ó lo g o s cristãos, nos o c u p a ­ mos com o fe n ô m e n o d o sincretism o, p o d e m o s ca ir sob a suspeita d e re- la tiv iz a r a v e rd a d e da fé cristã, de v a lo riz a r o q u e é in c o m p a tív e l com a confissão da fé e de e n fra q u e c e r o p o d e r de resistência d o cristia n ism o p e lo fa to d e — a o qu e in d ic a m as a p a rê n cia s — a d v o g a rm o s a "m is tu ra de re lig iõ e s ".

Por esta razão, n ã o é d e a d m ira r q u e , em nossas d is c ip lin a s te o ló ­ gicas clássicas, o te m a " s in c re tis m o " d e se m p e n h a um p a p e l se cu n d á rio , na m e lh o r das hipóteses. Se e x a m in a rm o s esboços de d o g m á tic a neste se n tid o , o b te re m o s um re su lta d o to ta lm e n te n e g a tiv o na m a io r p a rte dos casos. E o n d e a c iê n c ia da re lig iã o e a m is s io lo g ia — q u e , po r sua vez, v iv e m na m a rg e m das d is ic ip lin a s te o ló g ic a s — se m a n ife s ta m a re sp e ito

* — K o n te x tu e lle T h e o lo g ie a ls S y n k re tis m u s ? ; d e r " n e u e S yn kre tism u s" d e r B e fre iu n g s th e o lo g ie

und d e r S yn kre tism u sve rd a ch t g e g e n ü b e r d e r Ö k u m e n e , Ö k u m e n is c h e R undschau,

F ra n k fu rt/M ., 3 5 (2 ):]4 4 -5 9 . Tradu ção d e Luís M . S ander. 1 — 5. e d ., B e rlin , W a lte r de G ru y te r, 1959, p. 508.

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do tem a, isso a co n te ce , d e sco n sid e ra n d o a lg u m a s exceções, com o p ro ­ pósito de c o lo ca r o fe n ô m e n o do sin cre tism o d o la d o d e fo ra d a p o rta ; e le é interessante , p o ré m n ã o nos a tin g e h o je e x is te n c ia lm e n te com o cristãos.

N ão estou e m co ndiçõe s de e x p o r a q u i d e ta lh a d a m e n te a m a n e i­ ra d is ta n c ia d a com q u e a h istó ria d a re lig iã o , a fe n o m e n o lo g ia d a r e li­ g iã o e a m is s io lo g ia descrevem a re la ç ã o com o sincretism o.

S in to m á tica p a ra a te n d ê n c ia de d e sp a ch a r o fe n ô m e n o para a his­ tó ria passada é a in fo rm a ç ã o de q u e se e m p re g a o c o n ce ito "s in c re tis m o ” "e s p e c ia lm e n te para c a ra c te riz a r ( ...) o a c o n te c im e n to h is tó ric o -re lig io s o ( ...) no h e le n is m o "2.

R ecentem ente, p o ré m , a firm o u -s e com c la re za q u e o sincretism o nos a tin g e ta m b é m h o je . Já em 1964, Horst B ürkle co lo co u sua p re le ç ã o in a u g u ra l sob o te m a "S in c re tis m o co m o p ro b le m a p a ra a te o lo g ia da m is s ã o "3; H ans-W erner G ensichen , p o r sua vez, e x a m in o u o "S in c re tis ­ m o co m o p e rg u n ta d irig id a à crista n d a d e a t u a l" 4.

O estado a tu a l da discussão se d is tin g u e d e a v a lia ç õ e s a n te rio re s d o sin cre tism o p e lo fa to de este não ser c o m p re e n d id o co m o fe n ô m e n o h istórico, nã o m ais re le v a n te para o pre se n te , nem co m o d e s a fio que a tin g e o cristia n ism o a p a rtir de fo ra . O q u e irro m p e u a g o ra é, antes, a p e rg u n ta p e lo sincretism o dentro da Ig re ja cristã — q u e r se v e ja m nossas c o m u n id a d e s a m e a ça d a s p o r te n d ê n cia s sincretistas q u e precisam ser e n e rg ic a m e n te co m b a tid a s, q u e r se d e fe n d a um " n o v o s in c re tis m o " do cristia n ism o e um a co m p re e n sã o lib e rta d o ra de m issão a e le co rre sp o n ­ d e n te .

A q u i, o sin cre tism o se to m o u um c o n c e ito usado p a ra d e fe n d e r ou a ta ca r a le g itim id a d e de um a te o lo g ia cristã c o n te x tu a l; sob as condiçõe s da e c u m e n e , não só te o lo g ia s estranhas d e outros co ntextos se a p ro x i­ m a ra m m u tu a m e n te ; ta m b é m a c o n te x tu a lid a d e de nossa p ró p ria te o lo ­ g ia , d e v a lid a d e su p o sta m e n te u n iv e rs a l, torna-se d o lo ro s a m e n te cons­ cie n te . Pode-se, c o n tu d o , an e ste sia r essa dor. Um dos m étodos d e fa z e r isso consiste em c o lo c a r a e cu m e n e sob suspeita d e sincretism o.

2 — G. MENSCHING, in: K. GALLING, e d ., D ie R e lig io n in G e s c h ic h te u n d G e g e n w a r t, 3. e d ., Tü­ b in g e n , J. C. B. M o h r (Paul S iebeck), 1962, v. 6, col. 563.

3 — S ynkretism us als m issio n sth e o lo g isch e s P rob le m , E v a n g e lisch e T h e o lo g ie , M ü n c h e n , 25: 142ss., 1965.

4 — S ynkre tism us als Frage an d ie C h ris te n h e it h e u te , E va n g e lis c h e M is s io n s z e its c h rift, 23: 58ss., 1966.

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O sin cre tism o no cristia n ism o :

Igre ja e te o lo g ia a m e a ç a d a s p e la "e c u m e n e "

a) O sincretismo como elemento de polêmica evangelical

Com o sin cre tism o a Ig re ja cristã parece cada vez m ais a m e a ç a d a a p a rtir de d e n tro . A q u i, o sin cre tism o nã o é visto co m o fe n ô m e n o que pode surgir q u a n d o da p ro c la m a ç ã o p rim e ira do E vangelh o e n tre a d e p ­ tos de re lig iõ e s não cristãs, mas é u tiliz a d o com o d ia g n ó s tic o q u a n d o do e xa m e do estado de nossa Ig re ja d o p o v o (*) e da in flu ê n c ia qu e sofre por p a rte da e cu m e n e . N este caso, m antém -se a v a lo ra ç ã o n e g a tiv a do fe n ô m e n o c o n tid a em nossa lin g u a g e m c o tid ia n a , q u e m e n cio n a m o s no início. Assim , o te rm o " s in c re tis m o " p o d e se rvir para in d ic a r um p a g a n is ­ m o q u e se d ifu n d e em nosso m e io . M e n c io n o a se g u ir a lg u n s e x e m p lo s dessa p e rc e p ç ã o e a v a lia ç ã o d o sin cre tism o existentes em nossa Ig re ja :

Desde q u e , num esboço de c u lto e la b o ra d o por cristãs índias para o Dia M u n d ia l de O ração das m ulh e re s, se fa lo u da " m ã e te rra " , esse Dia está e xp o sto , todos os anos, à acusação de sincretism o.

A can çã o sueca "S e n h o r, teu a m o r é co m o re lv a e m a rg e m (**), q u e se p o p u la riz o u e n tre nós através d o Dia da Ig re ja E vangélica A le ­ m ão, é co n sid e ra d a nã o b íb lic a p o rq u e , na S agrada Escritura, o te rm o " r e lv a " seria a qu in te ssê n cia da tra n s ito rie d a d e . A re lv a seria um s in ô n i­ m o "d e m a s ia d a m e n te h u m a n o ", m ais a in d a : " í m p io " p a ra o a m o r de Deus5.

N um c o m e n tá rio sobre a revisã o d o h in á rio a tu a lm e n te em a n d a ­ m e n to se a firm a q u e , a tra vé s da a c o lh id a de novas canções, o sincretis­ m o p e n e tra ria no h in á rio da Ig re ja e v a n g é lic a : recon h e ce m -se "fo rte s te n d ê n cia s em d ire ç ã o à p ro c la m a ç ã o sem Lei, re c o n c ilia ç ã o u n ive rsa l, pa n te ísm o , sincretism o e p o litiz a ç ã o d o E v a n g e lh o "6.

Sob o títu lo "M is tu ra d e re lig iõ e s em T a iz é " se to m a posição fre n ­ te à co n te m p la ç ã o lá p ra tic a d a : a c o n te m p la ç ã o é "u m a espécie de a u to -a d o ra ç ã o ", cujas raízes re m o n ta m à "m e d ita ç ã o a siá tica , p a g ã ".

* — N o ta d o tra d u to r: V o lk s k irc h e , no o rig in a i.

* * — N o ta d o tra d u to r: Esta é a tra d u ç ã o lite ra l da versão em a le m ã o cita d a p e lo a u to r. N a versão em p o rtu g u ê s q u e consta em H inos do p o v o d e D eus; h in á rio da Ig re ja E vang élica de C o n fis­ são Luterana no B rasil, 3. e d ., São L e opold o, S in o d a l, 1982, co m o h in o n ° 176, o in íc io reza: "D e u s, teu a m o r é q u a l p a isa g e m b e la " .

5 — Cf. M . ACKERMANN, E v a n g e lik a le im A u fb ru c h nach rechts, J u n g e K irc h e , B rem en, 45: 560, 1984.

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"T rata-se, p o rta n to , de um a m istura de re lig iõ e s m a ciça m e n te p ra tic a d a , em re la ç ã o à q u a l ta m b é m um a c a m u fla g e m cristã so fistica d a n ada co n ­ segue m u d a r ." 7

Isso não são juízos de g ru p e lh o s dissidentes. R ecentem en te, n um a e n tre vista co n c e d id a à a g ê n c ia de notícias e p d 8, o bispo de um a das m aiores Igrejas te rrito ria is e v a n g é lic a s da R epública Federal da A le m a ­ nha se re fe riu ao "s in c re tis m o nã o c la rific a d o em V a n c o u v e r". Ele co m ­ p a rtilh a , p o rta n to , o te m o r de qu e o C onselho M u n d ia l de Igrejas se m o­ ve em d ire ç ã o " a um a crescente m istura d e re lig iõ e s " 9.

Todos os e x e m p lo s a d u zid o s d e ix a m c la ro que se acusa a "e c u m e - n e " de sincretism o: seja o Dia M u n d ia l de O ração das m ulh e re s, seja Tai- zé, seja o Dia da Ig re ja , seja o CMI. A o qu e p a re ce , as novas e x p e riê n ­ cias cristãs de outros contextos, insó lita s em nossa tra d iç ã o , são q u a lific a ­ das co m o "s in c re tis m o " para conservar, de m o d o in a lte ra d o , a p ró p ria tra d iç ã o , as expressões fa m ilia re s da fé em term os d e d o u trin a , de can­ ções e de v id a e para re iv in d ic a r v a lid a d e u n ive rsa l para elas.

b) O modelo de argum entação anti-sincretista da teologia cien­ tífica contra a ecumene (“de consenso")

No e n ta n to , a cla ssifica çã o de novos d e s e n v o lv im e n to s d o u trin a is e cu m ê n ico s q u e se ca ra cte riza po r rechaço n ã o é tã o n o va assim. Q u a n ­ do, no século XVII, G e o rg C a lix t quis c ria r um "c o n s e n s o " ("consensus quinquesaecularis") e n tre as confissões re c o rre n d o às a firm a ç õ e s de fé necessárias à sa lva çã o (articuli fundamentales), d e p a ro u com a e n c a rn i­ çada resistência dos g e n e s io lu te ra n o s . Sua te o lo g ia d o consenso fo i co m ­ b a tid a com o c a lv in is m o , c rip to c a to lic is m o e sincretism o. A " g ra n d e dis­ pu ta s in c re tis ta " qu e se se g u iu p a re ce ter se to rn a d o o b soleta h o je , na era da e cu m e n e .

M as essa a p a rê n c ia e n g a n a . Os resultados dos vá rio s processos de a p re n d iz a g e m e cu m ê n ico s, dos d iá lo g o s d o u trin a is m u ltila te ra is e b ila ­

7 — Ib id ., p. 36.

8 — Cf. e p d -D o k u m e n ta tio n 4 a /8 5 , p. 8.

9 — Cf. a a v a lia ç ã o e v a n g e lic a l em L. COENEN & W. TRAUAAÜLLER, V a n c o u v e r 1983 (B e ih e ft zur ÕR N r. 48), F rankfu rt, 1984, p. 213. N a VI A sse m b lé ia G e ra l d o CMI h a v ia sido d ito qu e um real e n c o n tro de pessoas de fé d ife re n te n ã o seria m ais possível co m o m o n ó lo g o , em m ã o ún ica , m as só a in d a com o "c o n fe s s a r re c íp ro c o " (assim D. C. MULDER, in: ib id ., p. 117). O testemu'- nh o cristã o co m o co n v ite d irig id o a outros e o d iá lo g o com a d epto s de o u tras re lig iõ e s d e v e ­ ria m ser d is tin g u id o s um do o u tro em seu re s p e c tiv o d ire ito e, a o m esm o te m p o , vistos e m sua re la ç ã o m ú tu a (cf. W . MÜLLER-RÕMHELD, e d ., B e rích t au s V a n c o u v e r, F rankfu rt, 1983, p. 67). P ortanto, é esta co m p re e n sã o de m issão co n scie n te m e n te nã o " g u e r r e ir a " — a in d a m e re fe r i­ re i a e la — qu e é ju lg a d a co m o "s in c re tis m o n ã o c la rific a d o " .

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terais e n tre as Igrejas cristãs são ju lg a d o s ju sta m e n te por certos e x p o e n ­ tes de nossa te o lo g ia a c a d ê m ic a com o se se tratasse de " b a ra lh a m e n to de re lig iõ e s ".

A lg u n s te ó lo g o s re a g e m a d o cu m e n to s e cu m ê n ico s de crescente co n c o rd â n c ia sustentando — so b re tu d o em re la ç ã o à Ig re ja C a tó lica Ro­ m ana — um "disse n so fu n d a m e n ta l" e q u e re n d o fix a r um a "c o n s c iê n c ia da d ife r e n ç a " 10. Desta fo rm a , a o lid a r com os assim ch a m a d o s textos de Lim a, se cria a im pressão de q u e neles estaria sendo suscitado um sincre- tism o não cristão: neles a " n ã o -c o n tra d iç ã o " seria tra n s fo rm a d a no " p rin c íp io da u n id a d e c ris tã " 11. Caso esses textos obtivessem v a lid a d e , " e m to d o caso para Igrejas re fo rm a tó ria s " n ã o h a v e ria "m a is lu g a r " na e c u m e n e 12. N eles, a firm a -s e , c h e g a r-se -ia a um " a b a n d o n o " da R e fo rm a 13; eles e sta ria m em "c o n tra d iç ã o com o E vangelh o b íb lic o " 14.

O s e n tim e n to a n ti-e c u m ê n ic o em re presenta ntes de nossa te o lo ­ g ia c ie n tífic a v iv e da suspeita de qu e , na fo rm u la ç ã o de co n ve rg ê n cia s ecum ênicas, a posição re fo rm a tó ria seja p ra g m a tic a m e n te d is to rc id a em prol do a lv o da u n id a d e . O e s ta b e le c im e n to d e um dissenso fu n d a m e n ta l exerce a fu n ç ã o de um a b a rre ira no c a m in h o de um a u n id a d e e n te n d id a com o re su lta d o q u e s tio n á v e l de um a re la tiv iz a ç ã o de d ife re n ç a s d o u tri­ nais de p rin c íp io .

As reações aos resultados do m o v im e n to e c u m ê n ic o e n tre os e v a n g e lic a is e por parte de te ó lo g o s a ca d ê m ico s seguem , p o rta n to , o m esm o m o d e lo (p o r m ais in d e s e já v e l qu e seja essa v iz in h a n ç a p a ra a m ­ bos): am bos le v a n ta m a suspeita de sincretism o co n tra a e c u m e n e . A o invés de p a rtic ip a r d o processo de a p re n d iz a g e m e c u m ê n ic o d e um a fo r ­ ma p rim e ira m e n te a u to c rític a (isto é, a d m itin d o a c o n d ic io n a lid a d e con­ te x tu a i ta m b é m da p ró p ria posição e tra d iç ã o te o ló g ic a ), com bate-se um

"enganador ecumenismo 'sincretista'" q u e estaria o b n u b ila n d o o Evan­ g e lh o na Ig re ja de h o je 15. 'T e n d ê n c ia e c u m ê n ic a " seria a "re c e p ç ã o de

10 — C f., p. e x ., E. HERMS, E in h e it d e r C h ris te n in d e r G e m e in s c h a ft d e r K irc h e n , G õ ttin g e n , 1984, p. 184.

11 — Assim R. SLENCZKA, Die K o n v e rg e n z e rk lã ru n g zu Taufe, E ucharistie, A m t und ih re K onsequen-zen fü r Lehre und G o ttesdien st, K e ry g m a und D o g m a , G õ ttin g e n , 31: 18, 1985.

12 — Assim F. BEISSER, Thesen zur K o n v e rg e n z e rk lã ru n g ü b e r "T a u fe , E ucharistie u n d A m t" , ib id ., p. 20.

13 — E. VOLK, M a h l des H errn o d e r M a h l d e r K irche?, ib id ., p. 64.

14 — Ibid . Estas são a p e n a s a lg u m a s citações. O c a d e rn o to d o pa re ce u m a fa la n g e d irig id a co n tra a im in e n te in va sã o d o e n sin o e c u m ê n ic o . A e c u m e n e pa re ce a m e a ç a r a id e n tid a d e re fo rm a tó ­ ria — ou, no m ín im o , a re iv in d ic a ç ã o de v a lid a d e u n iv e rs a l de nossa te o lo g ia p rotesta nte. V. ta m b é m W. PANNENBERG, Lim a — pro und co n tra , K e ry g m a un d D o g m a , G õ ttin g e n , 32: 35- 51, 1986.

15 — W. KÒNNETH, " D ie U n te rsch e id u n g d e r G e is te r" ais S chicksalsfra ge unserer Kirche h e u te , ln-fo rm a tio n s b rie f Nr. 113 d e r B e k e n n tn is b e w e g u n g " k e in a n d e re s E v a n g e liu m ", p. 10.

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e s p iritu a lid a d e s (*) e s tr a n h a s /'16 Porém , e n tã o , se precisa re p e lir to d o q u e s rio n a m e n to a d v in d o da e cu m e n e e m a n te r a p ró p ria posição sem a l­ terações co m o a ú nica fie l ao e v a n g e lh o . Se d e c la ra m o s a e c u m e n e sin- cretista, é c la ro q u e não d e ve m o s e n g a ja r-n o s n e la . O s e n tim e n to a n tie - cu m ê n ic o dos e v a n g e lic a is e de te ó lo g o s a ca d ê m ico s te m , pois, a mes­ ma raiz.

A te o lo g ia a ca d ê m ic a só tem d ire ito de c ritic a r a id e n tific a ç ã o e v a n g e lic a l de e cu m e n e e sin cre tism o se, de sua p a rte , re co n h e ce seu p ró p rio c o n d ic io n a m e n to c o n te x tu a i. Só se a te o lo g ia " c ie n tífic a " está disposta a re la tiv iz a r sua re iv in d ic a ç ã o de possuir c a rá te r a b s o lu to — em re la ç ã o aos te ste m u n h o s da te o lo g ia d a lib e rta ç ã o , p. ex. — é q u e sua crítica contra os e v a n g e lic a is p o d e ser co n vin ce n te .

N um a carta d e 22 de a b ril de 1519 a F ilipe M e la n c h th o n , Erasmo de Roterdã se re fe riu à "c o n s p ira ç ã o " d irig id a de m uitos lados contra as belas artes e c o n c la m o u à u n id a d e de h u m a n ism o e R eform a. "A eq u u m est, nos quoque sygkretízein. Ingens praesidium est concordia." — É

justo q u e ta m b é m nós a ja m o s co m o os cretenses. A co n c ó rd ia é um a d e ­ fesa in g e n te .17

V a ria n d o os conceitos, pode-se u tiliz a r essa cita çã o para c a ra c te ri­ zar a a u to c o m p re e n s ã o da a tu a l te o lo g ia da lib e rta ç ã o . Da sua a u to c o m - pree n sã o fa z p a rte a co n c ó rd ia e n tre h u m a n iz a ç ã o da s o cie d a d e e re n o ­ vação da Ig re ja , fa z p a rte a e x p e riê n c ia da c o n sp ira çã o de p a rte dos p o ­ derosos d e n tro e fo ra da Ig re ja e fa z p a rte , expressis verbis, a d e fesa de um a nova te o lo g ia e p rá tic a sincrética. N e la , a d o r da re la tiv id a d e de to ­ da resposta h u m a n a à p a la v ra da re v e la ç ã o nã o é n a rco tiza d a . Pelo c o n ­ trá rio : essa re la tiv id a d e é a d m itid a , contraposta a pretensões a b s o lu tis­ tas d e d o m ín io e o fe re c id a com o e lix ir de vid a a um a te o lo g ia e Ig re ja q u e se p e trific a m em seu suposto u n ive rsa lism o .

O “novo sincretismo" da teologia da libertação

O sin cre tism o co m o c o m p ro v a n te de um a re lig iã o v iv a

A tra vé s da c o n tro vé rsia sobre a te o lo g ia da lib e rta ç ã o tornou-se a m p la m e n te co n h e c id a um a c o le tâ n e a de ensaios q u e Leonardo B o ff p u ­

* — N o ta d o tra d u to r: G e is tig k e ite n , no o rig in a l. 16 — Ibid.

17 — In: C. G. BRETSCHNEIDER, e d ., C orp us re fo rm o to r u m , H a lle , C. A . S chw etschke, 1834, cols. 77-8.

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b lic o u sob o títu lo Igreja: carisma e poder18. Um dos ensaios tem o títu lo "Em fa v o r do sincretism o: a p ro d u ç ã o da c a to lic id a d e d o c a to lic is m o "

19-"N ossa ta r e fa " , d iz B o ff, " é m ostrar a le g itim id a d e do sincretism o com o processo de vid a de um a r e lig iã o ." (p. 149.) O sincretism o, p o rta n ­ to, não é um m al — seja um m al necessário, seja um m al e v itá v e l — , e sim o c o m p ro va n te de um a re lig iã o viva.

Todo o rg a n ism o m o rre sem a lim e n to . Assim , um a re lig iã o só p ode p e rm a n e ce r v iv a se a c o lh e e le m e n to s q u e , o rig in a lm e n te , lhe são estra­ nhos, os in c o rp o ra em si e os " d ig e r e " . Ela fa z isso a c o lh e n d o o q u e co r­ responde a sua p ró p ria id e n tid a d e e e lim in a n d o o q u e lhe é indigesto . "U m a re lig iã o , co m o o cristia n ism o , conserva e e n riq u e c e sua u n iv e rs a li­ d a d e na m e d id a em q u e é capaz de fa la r todas as lín g u a s e de e n c a rn a r- se, re fu n d in d o -s e , em todas as cultu ra s h u m a n a s ." (Ib id .) "S in c re tis m o com o re fu n d iç ã o " é a co m p re e n sã o de sin cre tism o q u e B o ff d e sig n a co­ m o le g ítim a : a c a p a cid a d e q u e o cristia n ism o tem para o sin cre tism o o conserva v iv o , ju sta m e n te q u a n d o m o d ific a sua fo rm a histórica num no­ vo contexto.

Com isto estão superada s outras d e fin iç õ e s de sincretism o: por e x e m p lo , um a c o m b in a ç ã o m e ra m e n te a d itiv a de e le m e n to s re lig io so s diversos, sem q u e ch e g u e a criar-se um ce n tro o rg â n ic o e um a id e n tid a ­ de re lig io s a re a l; ou a su b stitu içã o , fo rç a d a a p a rtir de fo ra , de sím bolos re lig io so s a n tig o s por novos (da deusa do m ar le m a n já por M a ria , p. e x .); ou sincretism o co m o m istura confusa (com o no p a n te ã o ro m a n o ); ou sincretism o co m o um a re lig iã o unive rsa l a c rític a ; ou sin cre tism o com o

re lig iã o construída a rtific ia lm e n te (um a espécie de "e s p e ra n to

re lig io s o "). Para B off, todos esses tipos de sin cre tism o — com e xceção d a q u e le qu e surge q u a n d o da tra d u ç ã o em outros contextos e q u a n d o da c o m u n ica çã o m issio n á ria — não são le g ítim o s: im p lic a m p e rd a de id e n ­ tid a d e re lig io s a , são a -h istó rico s ou nã o consegu em m a n te r seu ce n tro o rg a n iz a d o r. Eles nã o consegu em conservar a c o n tin u id a d e na desconti- n u id a d e dos tem pos nem expressar a u n iv e rs a lid a d e de seu te ste m u n h o na p a rtic u la rid a d e de sua fo rm a de a p a riç ã o . N o e n ta n to , o sin cre tism o é le g ítim o co m o d e s ig n a ç ã o de um a re lig iã o v iv a , q u e preserva e

desen-18 — L. BOFF, Ig r e ja : c a ris m a e p o d e r, 3. e d ., P etrópolis, Vozes, 1982. Q u a n to à discussão no â m b i­ to a le m ã o , c f., e n tre outros, H. BRANDT, Kirche von de n A rm e n h e r; zur B e fre iu n g s th e o lo g ie b e i Leonardo B o ff, L u th e ris c h e M o n a ts h e fte , H a m b u rg , 24: 8ss., 1985; W. LIENEMANN, Leo­ n a rd o B o ff und d ie ö ku m e n isch e B e d e u tu n g d e r B e fre iu n g s th e o lo g ie , Z e its c h rift f ü r e v a n g e ­

lis c h e E th ik, G ü te rslo h , 29: 287ss., 1985; H. M . BARTH, Die T h e o lo g ie Leonardo Boffs — e in e

ö k u m e n isch e V e rh e issu n g ? ; pro te sta n tisch e Lese-E rfahrungen, M a te r ia ld ie n s t des K onfe s-

s io n s k u n d lic h e n In s titu ts , B ensh eim , 36: 107ss., 1985.

(8)

110

vo lve sua id e n tid a d e ju sta m e n te nos necessários processos de tra n s fo r­ m ação. Para o c ristia n ism o , isso s ig n ific a q u e , no processo sin cré tico de sua re fu n d iç ã o em outras cultu ra s e contextos, e le se o rie n ta pelos " c r ité ­ rios de sua p ró p ria id e n tid a d e " (ib id .).

O sincretismo como característica essencial e como tarefa da Igreja

N a m e d id a em qu e cu m p re essa c o n d içã o , o cristia n ism o é um "g ra n d io s o s in c re tis m o ". A concepçã o d e q u e o fe n ô m e n o d o sincretis­ m o só e x is tiria nas outras re lig iõ e s , a o passo qu e o cristia n ism o , co m o re ­ lig iã o re v e la d a , n ã o seria sin cré tico ou seria a n ti-sin cre tista , é, para B off, expressão de um a re lig iã o de d o m in a ç ã o q u e se a rtic u la num "d is c u rs o id e o ló g ic o to ta liz a d o r" (p. 150). S egund o B off, o c a to lic is m o ro m a n o é essa re lig iã o de d o m in a ç ã o q u a n d o c o m p re e n d e re lig iõ e s não cristãs apena s co m o p re p a ra ç ã o do cristia n ism o e se e n te n d e o c a to lic is m o p o ­ p u la r, be m com o as Igrejas da R eform a, a p e n a s co m o d e c a d ê n c ia d o ca­ to lic is m o , fe c h a n d o os o lhos a n te o fa to de q u e o "c a to lic is m o o fic ia l" é tão sin cré tico q u a n to q u a lq u e r o u tra re lig iã o (ib id .).

Com sua d e fesa d o sincretism o, B o ff se to rn a , nã o por ú ltim o , um a d v o g a d o d e um a teologia ecumênica. Pois com sua tese a re sp e ito do c a rá te r sin cré tico ta m b é m d o ca to lic is m o ro m a n o , as d ife re n ç a s co n fe s­ sionais são re la tiv iz a d a s sem qu e o c a rá te r d e fin itiv o da re v e la ç ã o de Deus em Jesus Cristo seja d im in u íd o . O cristia n ism o se d e ve a o do m de Deus e te m — em term os tra d ic io n a is — um a o rig e m s o b re n a tu ra l. Po­ rém a fé q u e resp o n d e à p a la v ra de Deus é te s te m u n h a d a , v iv id a a tra d i- c io n a d a p o r seres hum anos. A Ig re ja cristã e n g a n a ria a si m esm a se q u i­ sesse a firm a r q u e suas c o n fig u ra ç õ e s concretas te n h a m saído e sido re ce ­ bidas pro n ta s das m ãos de Deus ou de C risto (ib id .). Isto s ig n ific a " q u e o cristia n ism o p u ro não existe, nunca e x is tiu nem p o d e existir. O d iv in o sem pre se d á em m e d ia çõ e s h u m a n a s ." (Ib id .)

Assim , o sin cre tism o da Ig re ja existe p o r fo rç a da d ia lé tic a da re la ­ ção e n tre a re a lid a d e da Ig re ja e sua o rig e m d iv in a : a re la ç ã o e n tre E vangelh o e Ig re ja d e ve ser d e fin id a no se n tid o de id e n tid a d e e não- id e n tid a d e a o m esm o te m p o . Pois m esm o qu e a Ig re ja dê espaço ao E vangelh o lib e rta d o r e, nessa m e d id a , conserve a id e n tid a d e com e le , com o expressão h is tó ric o -c u ltu ra l e co m o o b je tiv a ç ã o re lig io s a da fé e la p ró p ria ja m a is p o d e to rn a r-se id ê n tic a à sua o rig e m . "S u a origem é sem ­ pre s o b re n a tu ra l, p o rq u e a in ic ia tiv a cabe e x c lu s iv a m e n te a D e u s ." (p. 152.) Na Ig re ja c o n cre ta , e n tre ta n to , e n co n tra m -se e n tã o a proposta d iv i­ na e a resposta h u m a n a " n u m a u n id a d e sem m istura e sem s e p a ra ç ã o ".

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Assim a Ig re ja é, po r essência, " s in c ré tic a " , pois fo rm u la , o b je tiv a e tra d ic io n a a fé ou a e x p e riê n c ia re lig io s a . Com isso e la segue a e n c a r­ nação: assim co m o Deus se subm eteu às condiçõe s da h istó ria e a um a si­ tu ação histórica co n cre ta , da m esm a fo rm a a Ig re ja te ste m u n h a , " n o se­ g u im e n to da e n c a rn a ç ã o "20, o E vangelh o u n ive rsa l sob as condiçõe s ca m b ia n te s da e x istê n cia te rre n a .

Protestantes hão de supor q u e nessa inclusão de fo rm u la ç õ e s da cris to lo g ia da Ig re ja a n tig a na e c le s io lo g ia a Ig re ja é c o lo ca d a de m a n e i­ ra " tip ic a m e n te c a tó lic a " — no lu g a r de Cristo. C o n tu d o , o discurso da te o lo g ia da lib e rta ç ã o acerca d o sincretism o in e v itá v e l, q u e segue a e n ­ ca rn a çã o , tem um a in te n ç ã o oposta.

A dupla intenção do discurso acerca do sincretismo da Igreja

Por um la d o , o discurso acerca d o sincretism o da Ig re ja visa um a co m p re e n sã o de Ig re ja fra n c a m e n te re fo rm a tó ria : n e n h u m a m e d ia ç ã o do E vangelh o u n ive rsa l c o n fia d a a Ig re ja e sua missão " é som ente pura e liv re de to d a a c o n ta m in a ç ã o de p e c a d o " (p. 154). A Ig re ja é d ife re n te de Jesus Cristo em p rin c íp io : e la é "s a n ta e p e c a d o ra " a o m esm o tem po. No o rig in a l em p o rtu g u ê s Lutero se fa z o u v ir: "ju s to e p e c a d o r". " O sin­ cretism o q u e ocorre em to d a a m a n ife s ta ç ã o re lig io s a não som ente a rti­ cula a presença do a m o r de Deus, mas ta m b é m a o cu lta , re ca lca e obsta- cu liza na m e d id a em q u e fe c h a o h o m e m sobre si m esm o, c o n fu n d e m e ­ d ia ç ã o com re a lid a d e d iv in a , escraviza o h o m e m a um ritu a lis m o e le g a - lism o que o fa z e m o lv id a r d o p rin c ip a l qu e é Deus e sua g ra ç a ." (Ib id .) B o ff in te rp re ta esse sin cre tism o da Ig re ja , do q u a l e la c o m p a rtilh a ju n ta ­ m ente com as outras re lig iõ e s , co m o " a m b ig ü id a d e " no s e n tid o de Til- lich e a trib u i à te o lo g ia a ta re fa de a p o n ta r, de m a n e ira a u to c rític a , para os e le m e n to s qu e co n tra d iz e m o E vangelh o na Ig re ja , p a ra , desta fo rm a , co rre sp o n d e r a o te ste m u n h o de Paulo de q u e , o n d e a b u n d a o p ecado , su p e ra b u n d a a graça (cf. ib id . e Rm 5.20).

Essa fu n ç ã o re fo rm a tó ria , crítica em re la ç ã o à Ig re ja , c o n tid a no co n c e ito de sin cre tism o é, p o ré m , a pena s um aspecto, m esm o qu e , com o é de se supor, te n h a sido o d e c is iv o para a re a çã o q u e v e io de Roma. Em term os positivos, a confissão d o sin cre tism o da Ig re ja fu n d a m e n ta sua ca­ p a c id a d e de se c o n c re tiz a r co m o Ig re ja " u n iv e r s a l" , c a tó lic a , em Igrejas p a rtic u la re s (cf. pp. 158ss.).

20 — Cf. H. BRANDT, In d e r N a c h fo lg e d e r In k a rn a tio n o d e r: "D a s A u fta u c h e n G o tte s " in L a te in a ­ m e rik a , Z e its c h rift f ü r T h e o lo g ie u n d K irc h e , T ü b in g e n , 78: 367ss., 1981.

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Pois o ca rá te r sin cré tico da Ig re ja constitui a co n d iç ã o da p o s s ib ili­ d a d e de e la se e n c a rn a r em seu re sp e ctivo co n te xto : "P e rte n c e à c a to lic i- dad e da Ig re ja o p o d e r e n c a rn a r-se , sem p e rd e r sua id e n tid a d e , nas m ais d ife re n te s culturas. Ser c a tó lic o n ã o consiste em e x p a n d ir o sistem a eclesiástico, mas em p o d e r d e n tro de um a d e te rm in a d a c u ltu ra v iv e r e te ste m u n h a r a m esm a fé em Jesus Cristo sa lv a d o r e lib e r ta d o r ." (Pp. 158s)21. Nisso a fé ja m a is desistirá de sua busca d e c o n c re tiza çã o ; e la possui um a " in te n c io n a lid a d e e n c a rn a tó ria " (p. 162), visa fazer-se ca r­ ne.

O e m p re g o escanda loso d o c o n ce ito " s in c re tis m o " em re la ç ã o à Igreja precisa, em outras p a la vra s, ser e n te n d id o com o expressão da e x i­ g ê n c ia d e um a te o lo g ia e Ig re ja de cu n h o in c o n fu n d iv e lm e n te la tin o - a m e ric a n o . O " n o v o s in c re tis m o " e x ig id o c e rta m e n te im p lic a decisão m issio n á ria e e v a n g e lís tic a no se n tid o de p ro vo ca r a conversão a Jesus Cristo e, nessa m e d id a , ta m b é m um a d e lim ita ç ã o fre n te a outras r e li­ giões. O n o vo sincretism o nã o visa um a m istura d e re lig iõ e s . A ta re fa m issio n á ria pressupõe, isto sim , o a b a n d o n o d o p ró p rio sincretism o h e r­ d a d o : "Essa co n ve rsã o só é possível se a fé cristã tiv e r a co ra g e m de re ­ n u n c ia r a o seu p ró p rio sincretism o, com as g ló ria s c u ltu ra is e te o ló g ic a s q ue a c u m u lo u e se a rrisca r a um n o vo sincretism o, a ssum indo, a s s im ila n ­ do, in te g ra n d o , p u rific a n d o os v a lo re s das re lig iõ e s a fro -b ra s ile ira s ." (p. 170.)

Para q u e a Ig re ja possa g a n h a r um a fo rm a nova — la tin o - a m e ric a n a , em B off — , é necessária um a " p e d a g o g ia de co n d e sce n d ê n ­ c ia " . A o in tro d u z ir este co n ce ito , B o ff fa z re fe rê n c ia expressa a o te rm o

katábasis, à co n d e sce n d ê n cia de Deus, em uso na c ris to lo g ia da Ig re ja a n tig a nos séculos IV e V. Esse c o n ce ito era, ju sta m e n te na ép o ca da fo r ­ m u la ç ã o d o "g ra n d io s o sin cre tism o c ris tã o " p e la Ig re ja a n tig a , um a ca­ te g o ria te o ló g ic a fu n d a m e n ta l: "D e u s usou de in fin ita co n d e sce n d ê n cia para com o h o m e m , a ssum indo to d a sua re a lid a d e com suas irre v o g á v e is lim ita ç õ e s e onerosas a m b ig ü id a d e s ." (p. 171.)

A nova Ig re ja na A m é ric a Latina q u e r co rre sp o n d e r a essa condes­ c e n d ê n cia de Deus em C risto e, com isto, e n c o ra ja r a Ig re ja to d a : " . . . a fé , q u a n to m ais p ro fu n d a m ais se a b re no sincretism o v e rd a d e iro no q u a l Deus e Jesus C risto lib e rta d o r n ã o a p a re c e m co m o O b je to de satisfação da carga p u ls io n a l do h o m e m em busca d e segurança e c o n fo rto , mas com o o C oração da v id a e o A m o r q u e tu d o a tra i e p e n e tra ." (Ib id .)

21 — Q u a n to à c ris to lo g ia d e B off, Cf. H. BRANDT, Jesus C risto L ib e rta d o r; q u a n to à c o m p re e n sã o da "c ris to lo g ia c rític a " em Leonardo B off, Estudos te o ló g ic o s , São Le o p o ld o , 14: 36-55, 1974.

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Três sincretísmos na história da Igreja brasileira

Com essa d e fesa d o "v e rd a d e iro s in c re tis m o " B o ff de m o d o a l­ gum é um a voz iso la d a . Já antes, Eduardo H o o rn a e rt tin h a p u b lic a d o sua história da Ig re ja b ra s ile ira " a p a rtir dos o p rim id o s ''22 com o o b je tiv o de " d a r um a c o n trib u iç ã o na re fle x ã o acerca da a titu d e a to m a r p e la ig re ja fre n te aos diversos sincretism os d e co rre n te s d e sua c a m in h a d a p e la his­ tó r ia " (p. 137).

Os três tipos fu n d a m e n ta is do sin cre tism o c a tó lic o no Brasil po r e le descritos são o c a to lic is m o " g u e r r e ir o " dos con q u ista d o re s, o c a to licism o " p a tr ia r c a l" , c o n fo rm e im p e ra v a na ép o ca d o la tifú n d io e da m in e ra ç ã o baseados no sistem a da e scra vid ã o , e a "in te rp re ta ç ã o o r ig in á r ia " d ada p elos índios e a fric a n o s à re lig iã o d o m in a n te , isto é, o assim c h a m a d o "c a to lic is m o p o p u la r".

T am bém H o o rn a e rt pressupõe q u e " o sin cre tism o é e x ig ê n c ia da p ró p ria ação m is s io n á ria " ( ib id .). O q u e im p o rta ta m b é m a e le são os c ri­ térios p a ra d is tin g u ir o v e rd a d e iro d o fa ls o sincretism o. O fa ls o sincretis­ mo e s ta b iliz a as re la çõ e s de p o d e r herdada s d o c o lo n ia lis m o , c im e n ta a d iv is ã o da so cie d a d e e le va à p a g a n iz a ç ã o do cristia n ism o . O v e rd a d e iro sincretism o re co n h e ce a fra te rn id a d e já v iv id a e n tre os pobres e conta com a a tu a çã o d o Espírito e n tre eles. Pois " a fra te rn id a d e p e rd id a por causa do c o lo n ia lis m o será re s ta b e le cid a a p a rtir dos p o b re s ." (p. 140.) Só através desse v e rd a d e iro sin cre tism o se pod e ch e g a r " à c ristia n iza çã o d a c u ltu ra q u e o c e rc a ".

Teologia como "linguagem regional"

H o o rn a e rt h a v ia a rtic u la d o a e x ig ê n c ia m issio n á ria d e um sin cre ­ tism o da Ig re ja a p a rtir da h istó ria eclesiástica. Em sua a n á lis e e p iste m o - ló g ic a d a te o lo g ia d a lib e rta ç ã o , C lodovis B o ff fa z p ra tic a m e n te a m es­ ma coisa23.

Ele cham a d e id o la tria o in te n to d e id e n tific a r a id é ia d e Deus com o p ró p rio Deus. O c o n h e c im e n to te o ló g ic o " n ã o está d o ta d o das q u a lid a ­ des de seu o b je to " . Por isso, co m o a tiv id a d e h u m a n a , histórica e co n cre ­ ta, a te o lo g ia nã o p o d e p re te n d e r um c a rá te r a b so lu to para suas a fir m a ­ ções. Ela p e rm a n e c e p ro v is ó ria ; não possui os p re d ica d o s d e Deus, sua

22 — F o rm a çã o d o c a to lic is m o b r a s ile ir o 1550-1800, P etró polis, Vozes, 1974. As se g u in te s três c ita ­ ções se re fe re m a este escrito.

23 — T e o lo g ia e p r á tic a ; te o lo g ia d o p o lític o e suas m e d ia çõ e s, P etró polis, Vozes, 1978. As citações são e x tra íd a s desta ob ra.

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e te rn id a d e , sua tra n sce n d ê n cia , mas "p e rm a n e c e um c o n h e c im e n to p a rcia l, p re c á rio , d e fe c tív e l, a s p e c tu a l" (p. 104). Em resum o: a te o lo g ia é um a " lin g u a g e m r e g io n a l" (pp. 102ss.).

" O a b s o lu to da Fé nã o existe senão sob a fo rm a d o r e la tiv o ." (P. 103.) Assim e le corre sp o n d e à e n ca rn a çã o de Deus em Jesus Cristo. Pois — assim d iz um a fo ris m o d e Pedro C a s a ld á lig a — " a p a la v ra unive rsa l só fa la d ia le t o " 24.

Resumo: teses sobre a compreensão do "sincretism o" na teologia da li­ bertação

1. T e o lo g ia da lib e rta ç ã o é re fle x ã o de um a p rá tica qu e leva a Ig re ja la tin o -a m e ric a n a a e n ca rn a r-se em seu c o n te x to 25.

2. Esse s e g u im e n to da e n c a rn a ç ã o se re a liz a na consciência de qu e a a c e ita ç ã o irre strita d a proposta de Deus ("s e m p e c a d o ") a contece u tã o -so m e n te em Jesus Cristo.

3. A re v e la ç ã o de Deus em Jesus Cristo só p o d e ser a p re e n d id a na fé : a e s p iritu a lid a d e da lib e rta ç ã o está baseada n u m a e x p e riê n c ia do

extra nos (G. G u tié rre z).

4. A rtic u la n d o -s e , a fé p a rtic ip a d a a m b ig ü id a d e d e to d a re lig iã o , pois a re lig iã o é expressão sin cré tica d a fé .

5. O e m p re g o d o c o n ce ito " s in c re tis m o " to rn a possível a v a lia r o cristia n ism o sem p re co n ce ito s no co n te x to das re lig iõ e s e com o re lig iã o .

6. A lé m disso, o e m p re g o e c le s io ló g ic o d o c o n ce ito de sincretism o tem um a fu n ç ã o crítica em re la ç ã o à Ig re ja : p o s s ib ilita a d is tin çã o q u a li­ ta tiv a e n tre Deus e discurso (e cle sia l, te o ló g ic o ) sobre Deus; im p e d e a id e n tific a ç ã o d e um tip o h is to ric a m e n te c o n d ic io n a d o d o cristia n ism o com a Ig re ja q u e se crê. Q u a lific a r a Ig re ja cristã co m o in e v ita v e lm e n te sincrética e q u iv a le a a firm a r q u e e la é "sim ul justa et peccatrix". Por is­ so, a n o tific a ç ã o da C o n g re g a çã o para a D o utrina da Fé vê no liv ro de B o ff um " p e r ig o " p a ra os p rin c íp io s fu n d a m e n ta is da Ig re ja C a tó lica Ro­ m a n a : para e le , a h ie ra rq u ia seria a pena s o re su lta d o da "n e c e s s id a d e

24 — Cf. H. BRANDT, B e is p ie le un d K onse que nzen d e r " r e le it u r a " in d e r b e fre iu n g s th e o lo g is c h e n B a sislite ra tu r L a te in a m e rika s, V e rk ü n d ig u n g u n d F o rsch u n g , M ü n c h e n , 30: 38ss., 1985. Se­ g u n d o Hb 4.2, a fé te m um a fu n ç ã o sin cré tica : a p a la v ra da fé de n a d a a p ro v e ita se n ã o se m istu ra r, a tra vé s da fé (d a tiv o in s tru m e n ta l!), com a q u e le s q u e a o u ve m .

25 — Cf. H. BRANDT, Die In k a rn a tio n d e r B e fre iu n g — d ie B e fre iu n g d e r In k a rn a tio n ; la te in a m e ri­ kan isch e Z eugnisse e in e r E ntfesselung, M a te r ia ld ie n s t des K o n fe s s io n s k u n d lic h e n In s titu ts , B ensh eim , 34: 8ss., 1983.

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de se in s titu c io n a liz a r". C o nseqü ência disso seria um c o n c e ito re la tiv i- zante d e Ig re ja . B o ff in v e rte ria a a firm a ç ã o d o C o n cílio de qu e " a Ig re ja de Cristo (isto é, a ú n ica Ig re ja d e C ris to )" e sta ria re a liz a d a na Ig re ja Ca­ tó lic a e a firm a ria q u e e la p o d e ria estar re a liz a d a ta m b é m em outras Igrejas cristãs26.

7. A o m esm o te m p o , a e n c a rn a ç ã o fu n d a m e n ta a e x ig ê n c ia de um cristia n ism o co n te x tu a i em se n tid o p o sitivo , O sin cre tism o co m o co n ­ se q ü ê n cia da e n ca rn a çã o , em co rre sp o n d ê n cia à co n d e sce n d ê n cia de Deus, le va a te o lo g ia d a lib e rta ç ã o a um a n o va co m p re e n sã o de m issão: to d a m issão, isto é, e n c a rn a ç ã o d o E vangelh o sob novas co ndiçõe s h istó­ ricas, cu ltu ra is, re lig io sa s, e x ig e um n o vo sincretism o da Ig re ja . Trata-se quase q u e de um teste p a ra a m issão da Ig re ja : está e la disposta e em co ndiçõe s de se e x p o r a o risco de tal n o vo sincretism o? A m issão e x ig e a disposição d e o p ta r por um n o vo sincretism o, ou, em outras p a la vra s, a disposição para a re fo rm a (* ) da Igreja.

8. Na A m é ric a Latina, aos c rité rio s da v e rd a d e do n o vo sincretis­ m o p e rte n c e m : a b e rtu ra para a presença d o Espírito lib e rta d o r d e Deus nos pobres e o p rim id o s , a e n tre g a aos fracos e aos grupos m a rg in a is em co rre sp o n d ê n cia a o m o d e lo d e Jesus, e um a e stru tu ra eclesiástica d e te r­ m in a d a fu n c io n a l, nã o o n to lo g ic a m e n te , q u e te n h a seu fu n d a m e n to na p a te rn id a d e de Deus, da q u a l resulta a fra te rn id a d e e n tre os seres h um anos27.

9. O v e rd a d e iro sin cre tism o da Ig re ja la tin o -a m e ric a n a se o rie n ta na parê n e se a p o s tó lic a de nã o te r em vista o qu e é seu (Fp 2).

10. As conseqü ências dessa o rie n ta ç ã o m ostram -se ta n to nos o b je ­ tivos só cio -p o lítico s da te o lo g ia d a lib e rta ç ã o q u a n to em seu c a rá te r e c u ­ m ênico.

O debate em torno do sincretismo como indicação do problema ecumê­ nico da teologia contextuai

C o m p a ra n d o -se o discurso sobre o sincretism o e n tre nós e na A m é ric a Latina, constata-se q u e a d ife re n ç a nã o p o d e ria ser m a io r: e n tre nós, a acusação de sin cre tism o é le v a n ta d a para se p ro te g e r co n tra as in ­ flu ê n c ia s in q u ie ta n te s e insó lita s d a e c u m e n e , q u e o b rig a ria m a re p e n ­ sar a p ró p ria posição e tra d iç ã o . N a A m é ric a Latina, um a Ig re ja o rie n ta ­

26 — D o cu m e n ta d o em L‘O s s e rv a to re R om ano, e d iç ã o e m a le m ã o d e 29 m a r. 1985, n ° 13, p. 4. * — N o ta d o tra d u to r: R a fo rm a tio n , n o o rig in a l.

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da para a base fo rm u la sua nova a u to c o m p re e n s ã o e a u to co n sciê n cia com o m esm o c o n c e ito "s in c re tis m o ".

Assim , esse te rm o to rn a e v id e n te s os p ro b le m a s de c o m u n ica çã o na crista n d a d e q u e o co rre m q u a n d o re la ç ã o com o co n te x to e fid e lid a d e à tra d iç ã o e n tra m e m c o n flito . Sim, p o d e r-s e -ia m co n sid e ra r as co n ce p ­ ções tã o opostas de sincretism o na A m é ric a Latina e e n tre nós com o p ro ­ va de q u e os p ro b le m a s d e lin g u a g e m têm seu fu n d a m e n to em c o n c e p ­ ções irre c o n c iliá v e is do E vangelh o e da Igreja.

C o n tu d o , e n te n d o a discussão a q u i descrita sobre a nova a tu a lid a ­ de d o p ro b le m a d o sin cre tism o com o um sinal de esperança . As n u m e ro ­ sas vozes q u e le v a n ta m a acusação de sin cre tism o e n tre nós ou, corres­ p o n d e n d o a e la , e sta b e le ce m um a d ife re n ç a fu n d a m e n ta l to rn a m isso cla ro : os im pulsos p ro vin d o s da e c u m e n e , da co m p re e n sã o de m issão de Igrejas nã o e u ro p é ia s e das e x p e riê n c ia s de s o frim e n to dos cristãos em outros c o n tin e n te s com eçam a p ro d u z ir e fe ito ta m b é m e n tre nós.

C o n c lu in d o , q u e ro c o m e n ta r isso por m e io de a lg u m a s o b se rva ­ ções.

Estamos nos to rn a n d o cada vez m ais conscientes de q u e nossa n e ­ cessidade de segurança re p re se n ta um fa to r re a l no d iá lo g o e cu m ê n ico . Ele e n tra em a çã o q u a n d o alusões a p rin cíp io s fu n d a m e n ta is irre n u n c iá ­ veis visam a p e n a s c a m u fla r a recusa de se d e ix a r q u e stio n a r. Então se a r­ g u m e n ta com o S enhor Jesus, com o se n h o rio de Cristo ou com a rtig o s confe ssio n a is p a ra n ã o precisar lid a r com um consenso e cu m ê n ico .

Cresce a consciência de q u e tem os necessidade d e re c u p e ra r nos­ so atraso e c u m ê n ic o . Assim co m o d e m o ro u séculos a té q u e o e m p re g o de m étodos h istó rico -crítico s fosse " r e c e b id o " na Ig re ja e na te o lo g ia , não é da n o ite p a ra o d ia q u e se c h e g a rá à p e rce p çã o da d im e n s ã o e cu ­ m ê n ica d e Ig re ja e te o lo g ia . Neste s e n tid o , as reações de re je iç ã o em p rin c íp io a resultados e cu m ê n ico s de co n v e rg ê n c ia ou consenso a p a re ­ cem co m o p rim e iro passo n u m a lo n g a ca m in h a d a .

Já e xiste m ind ício s do d e s e n v o lv im e n to em d ire ç ã o a um a fo rm a e cu m ê n ic a de te o lo g ia e Ig re ja . Cresce, por e x e m p lo , o c o n h e c im e n to h a u rid o d e e x p e riê n c ia d e p rim e ira m ão sobre te o lo g ia s e Igrejas em o u ­ tros contextos. O q u e cristãos de a lé m -m a r fa z e m e pensam nã o e n co n tra m ais interesse u n ic a m e n te " e x ó tic o " . R econhecem os, p e lo c o n trá rio , q u e se trata de c o n fig u ra ç õ e s d o cristia n ism o q u e possuem os m esm os d i­ reitos.

N ão p o r ú ltim o d e v id o a m uitos en co n tro s e cum ênicos, a d e p e n ­ d ê n c ia c o n te x tu a i de nossa p ró p ria Ig re ja e te o lo g ia é cada vez m ais

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pro-b le m a tiz a d a e n tre nós. Do d iá lo g o e c u m ê n ic o fa z p a rte a p e rg u n ta p e la p ró p ria p ré -co m p re e n sã o e p elos p ró p rio s interesses: po r qu e nós re a g i­ mos assim com o re a g im o s (em re la ç ã o à q uestão da re d is trib u iç ã o , por e x e m p lo )?

Se fa ze m o s essa p e rg u n ta a nós m esm os, ta m b é m p o d e m o s d irig i- la às te o lo g ia s c o n te xtu a is de nossos parceiros. A q u i d e ve ría m o s to rn a r com preensíve is as razões — d e v id o as e x p e riê n c ia s q u e fiz e m o s no na- cio n a ls o c ia lis m o , por e x e m p lo — p elas q u a is te m e m o s um a d ilu iç ã o da m ensagem no co n te xto . Existe um tip o de re la ç ã o com o co n te x to em que se pe rd e a id e n tid a d e . N o e n ta n to , esse p e rig o é p e rfe ita m e n te re c o n h e ­ cido por rep re se n ta n te s da te o lo g ia da lib e rta ç ã o , por e x e m p lo 28.

N ão só o co n te xto , ta m b é m a p ró p ria confissão é " r e la tiv a " . Sin­ to m á tico é, neste se n tid o , com o H. M. Barth fa z "e x p e riê n c ia s de le itu ra p ro te s ta n te s "29a o le r L. B off. Barth descobre q u ã o e m in e n te m e n te c a tó li­ co B o ff é, e se presta contas, com o le ito r "p ro te s ta n te ", " e v a n g é lic o " , " r e fo r m a d o " , de o n d e "s e lhe a rre p ia m os c a b e lo s ". N um p rim e iro m o ­ m ento, p o rta n to contatos e cu m ê n ico s re a tiv a m a p ró p ria consciência co n fe ssio n a l. N ão obstante , se — co m o B o ff o e xpôs e co m o ta m b é m corre sp o n d e à c o m p re e n sã o lu te ra n a — as posições confession ais são " r e la tiv a s " , não se p o d e e m b a sa r um "d isse n so fu n d a m e n ta l" com elas.

O c a rá te r in sustentá vel da a lte rn a tiv a e n tre um c o n ce ito de Igreja e s p iritu a lis ta (supostam en te re fo rm a tó rio ) e um c o n ce ito in s titu c io n a l (supostam ente c a tó lic o ) torna-se e v id e n te ju sta m e n te ta m b é m po r in te r­ m é d io da te o lo g ia da lib e rta ç ã o . A crítica contra a rig id e z da in stitu içã o eclesiástica e da posição te o ló g ic a é a lim e n ta d a po r e x p e riê n c ia s com o E vangelho qu e são v iv id a s nas Igrejas e a n im a m a re fle x ã o te o ló g ic a .

Cristãos qu e v iv e m em contextos to ta lm e n te d istin to s d o nosso e x ­ p e rim e n ta m a presença d e Jesus e e x p rim e m essa e x p e riê n c ia d e m a ­ n e ira d ife re n te da fo rm a a q u e estam os acostum ados. Existem te ste m u ­ nhos e cu m ê n ico s de crescente co n co rd â n cia . V em os nossas tra d içõ e s e a nós m esm os sendo q u estion ados. Ficamos assustados com isso — a m e ­ nos q u e possam os o u v ir a p e rg u n ta d o o ra tó rio de N a ta l de Bach com o p e rg u n ta d irig id a a nós da p a rte da te o lo g ia da lib e rta ç ã o , sim , de to d a a e cu m e n e :

28 — C f., p. e x ., o te x to de C arlos MESTRES in titu la d o N u r w e r w eiss, w a s e r sucht, fin d e t au ch, in: H. BRANDT, e d ., D ie G lu t k o m m t vo n u n te n , N e u k irc h e n -V lu y n , N e u k irc h e n e r V e rla g , 1981, pp. 155s.

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"P o r q u e q u e re is assustar-vos? Pode a presença d e m eu Jesus d espertar-vos ta n to te m o r? O h! N ão d e ve ríe is, antes, a le g ra r-v o s com is­ so, p o rq u e por esse m e io e le p ro m e te re n o v a r o b e m -e sta r dos seres h u ­ m a n o s !"

Referências

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