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A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais

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Academic year: 2021

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Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC) Curso de Biblioteconomia e Gestão de unidades de Informação (CBG)

Danielle Silva dos Santos

A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais

Rio de Janeiro-RJ 2013

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Danielle Silva dos Santos

A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação (CBG/FACC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Biblioteconomia.

Orientadora: Marina Dias de Faria Orientadora de forma: Mariza Russo

Rio de Janeiro-RJ 2013

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S237 Santos, Danielle Silva dos

A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais/ Danielle Silva dos Santos. – Rio de Janeiro, 2013.

46 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação.

Orientadora: Marina Dias de Faria. Orientadora de forma: Mariza Russo Inclui bibliografia.

1. Texto cultural 2. Estereótipo profissional 3. Bibliotecário- Imagem I. Faria, Marina Dias de. II. Russo, Mariza. III. Título.

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Danielle Silva dos Santos

A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação (CBG/FACC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Biblioteconomia.

BANCA EXAMINADORA

Aprovado em:

___________________________________________________________________

Prof.ª Marina Dias de Faria Mestre em Administração

Orientadora

___________________________________________________________________

Prof.ª Mariza Russo Doutora em Engenharia de Produção

Orientadora de Forma

___________________________________________________________________

Prof.ª Maria de Fátima Borges Gonçalves de Miranda Mestre em Ciência da Informação

Professora convidada

___________________________________________________________________

Prof. Nikiforos Joannis Philyppis Junior Mestre em Economia Empresarial

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AGRADECIMENTOS

À Deus pela força e ser o meu guia nessa caminhada da vida;

Aos meus pais pelo apoio e todo o suporte necessário, sem eles seria impossível chegar até aqui;

À minha orientadora, Marina Dias de Faria, pela empatia com o tema, competência e total dedicação para a realização desse trabalho;

Aos amigos, especialmente Talita Costa, pelo incentivo;

À Ingrid Gomes, pelo companheirismo nessa jornada, apoio e a amizade que levarei para a vida;

À Alessandra Rosalba e Felipe de Souza pela amizade e que fizeram parte do dia-a-dia nesses intensos quatro anos de graduação. E aos amigos conquistados na faculdade;

Aos estágios que proporcionaram a consolidação do meu aprendizado;

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a concretização dessa etapa na minha vida.

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Os bibliotecários controlam a informação nesta cidade, neste país inteiro. Eles controlam o que é lido, o que é visto e o que é aprendido. Por causa disso, eles têm o poder.

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RESUMO

SANTOS, Danielle Silva dos. A representação do profissional de Biblioteconomia: um estudo com textos culturais. 2013. 46 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2013.

A cultura está regida por regras e padrões culturais onde a sua maior fonte de difusão, sucede os meios de comunicação de massa, publicidade, moda e até mesmo seus próprios consumidores, constituindo assim, uma sociedade segmentada. Em vista disso, os textos culturais por meio de imagens e / ou palavras difundidas são considerados como elementos transformadores de valores e crenças, apresentando uma forte influência na representação das pessoas, no seu papel e no seu lugar na sociedade. Refletindo sobre essa absorção e reprodução de comportamentos, o objetivo dessa pesquisa é discutir as representações do profissional bibliotecário e o ambiente da biblioteca, difundida em textos culturais como, desenhos animados, telenovelas, seriados televisivos, programas de auditório e livros, com o intuito de descobrir a percepção da sociedade sobre esse profisisonal. A metodologia foi estruturada com base na análise de textos culturais, coletados por meio do site YouTube e através do buscador Google, com o uso de análise de conteúdo. Os resultados das análises dos textos, diálogos e imagens abordam questões a respeito das características físicas, comportamentais, competências, relacionamento interpessoal e a percepção da sociedade sobre os bibliotecários. O estudo inclui também a percepção que a sociedade tem a respeito desses profissionais e o espaço físico da biblioteca.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 1 – Representação da bibliotecária (desenho animado: Kick Buttowisky) 26

Imagem 2 – Representação da bibliotecária (telenovela: Malhação)... 27

Imagem 3 – Representação das bibliotecárias (desenho animado: Phineas e Ferb) 27

Imagem 4 – Representação da bibliotecária Uniqua (desenho animado

Backyardigans)... 28

Imagem 5 – Reação da bibliotecária ao perceber a chegada de usuários (desenho animado: O pequeno Scooby Doo)... 28

Imagem 6 – Expressão enfadonha do bibliotecário durante execução de sua tarefa (desenho animado: Phineas e Ferb)... 29

Imagem 7 – Personagem bibliotecária fazendo gesto de silêncio (desenho

animado: O pequeno Scooby Doo)... 30

Imagem 8 – Atividades executadas pelos bibliotecários (desenho animado:

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

2 REVISÃO DA LITERATURA... 11

2.1 A importância dos Textos culturais... 11

2.2 Estereótipos e representações coletivas... 14

2.3 Estereótipo profissional... 15

2.4 Breve histórico sobre a imagem do bibliotecário... 17

2.5 A imagem do bibliotecário... 19

3 METODOLOGIA... 22

3.1 Coleta de dados... 22

3.2 Análise de conteúdo... 23

4 REPRESENTAÇÃO DO RESULTADO... 25

4.1 Panorama do material analisado... 25

4.2 Categorias de análise e interpretação... 26

4.2.1 Características físicas dos bibliotecários... 26

4.2.2 Características comportamentais dos bibliotecários... 28

4.2.3 Espaço físico da biblioteca... 31

4.2.4 Competências dos bibliotecários... 32

4.2.5 O bibliotecário e o seu relacionamento interpessoal... 35

4.2.6 Percepção da sociedade a respeito do profissional bibliotecário e a biblioteca como instituição... 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 38

REFERÊNCIAS... 40

REFERÊNCIAS DOS TEXTOS CULTURAIS ANALISADOS... 44

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1 INTRODUÇÃO

A cultura está regida por regras e padrões culturais cuja sua maior fonte de difusão, sucede os meios de comunicação de massa, publicidade, moda e até mesmo a seus próprios consumidores, constituindo assim, uma sociedade segmentada (McCRACKEN, 2003). Em vista disso, os textos culturais, são considerados como importantes fontes de informação e elementos transformadores de valores e crenças da sociedade que produz e consomem tais produtos. Por meio de imagens e/ ou palavras de uma narrativa apresentam uma forte influência na representação das pessoas, no seu papel e no seu lugar na sociedade (HIRSCHMAN; STERN, 1994).

Refletindo sobre essa absorção e reprodução de comportamentos, os textos culturais, são tidos como instrumentos que contribuem na formação de imagem e consequentemente no estereótipo que a população em geral possui a respeito de diversas áreas profissionais, inclusive a Biblioteconomia. Portanto, essa percepção é significativa para o grupo social, a fim de revelar a imagem difundida sobre a sua função e comportamento.

As mudanças sociais e econômicas e o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) impulsionaram uma série de transformações na trajetória dos profissionais de Biblioteconomia. Como consequência dessa atualização curricular, houve uma mudança na sua imagem e a ampliação de suas funções. No entanto, apesar dos bibliotecários terem ampliado a sua área de atuação, não se restringindo apenas ao espaço físico da biblioteca, a sua imagem ainda está interligada às atividades tecnicistas e a antigos paradigmas (ALMEIDA; BAPTISTA, 2009).

Diante desse cenário, o objetivo dessa pesquisa é discutir a representação do profissional bibliotecário e o ambiente da biblioteca, difundida em diferentes textos culturais com o intuito de identificar a imagem retratada sobre os mesmos. É relevante envolver também o espaço físico por ser tratar de um fator que contribui intrinsecamente na visibilidade e no interesse dos leitores em frequentar uma unidade de informação. O foco da pesquisa recaiu em desenhos animados, telenovelas, seriados televisivos, programas de auditório e livros.

O resultado da pesquisa foi obtido pela técnica de investigação das comunicações, a análise de conteúdo, com o propósito de conseguir novos conhecimentos sobre o tema.

Esse trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos. Além de introdução, é também composto pela revisão da literatura subdividida em cinco subseções que contextualizam os

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textos culturais como instrumentos de pesquisa; estereótipos e representações coletivas; estereótipo profissional; breve histórico sobre a imagem do bibliotecário e a imagem do profissional bibliotecário. Em seguida é apresentada a metodologia subdividida em duas subseções que apresentam coleta de dados o contexto da análise de conteúdo. O quarto capítulo envolve a representação dos resultados, apresentando o panorama do material analisado e as seis categorias criadas para a análise e interpretação dos dados. O capítulo seguinte é formado pelas considerações finais a respeito da pesquisa.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Na revisão da literatura são abordados os temas: textos culturais, demonstrando a sua importância como instrumentos de pesquisa; estereótipo; representações coletivas e estereótipo profissional, seguindo-se de alguns exemplos de estereótipos relacionados a profissões encontrados na literatura acadêmica. A revisão da literatura abarca também a imagem do profissional bibliotecário.

2.1 A importância dos textos culturais

Considerados como importantes fontes de informação sobre cultura e perspectivas vigentes, os textos culturais como, filmes, telenovelas e programas de TV, por meio de imagens ou palavras de uma narrativa, transformam os valores e crenças representativos da sociedade que produz e consome tais produtos. Por consequência disso, ocorre uma forte influência na imagem das pessoas, no seu papel e no seu lugar na sociedade, pois “da mesma maneira que nós consumimos textos midiáticos, somos também consumidos por eles, que moldam nossos pontos de vista, quem e o que somos” (HIRSCHMAN; STERN, 1994, p. 580).

Evidenciando esse conceito, os textos culturais, segundo Lotman (1996), podem ser tratados como um elemento fundamental da cultura, apresentando-se como um instrumento capaz de transformar as mensagens recebidas e produzir novas. É condizente observar que a cultura é um artifício de consolidação e concepção de significados, identidades e formas de vida, sendo duelada entre grupos sociais e ideologia políticas rivais que buscam a sua hegemonia. Essa disputa é vivenciada pela sociedade por meio de imagens, discursos e espetáculos veiculados pela mídia de forma geral (VALIM, 2005).

A partir dessas fundamentações teóricas, nessa revisão de literatura, será dado foco aos textos culturais que serão utilizados na etapa empírica da pesquisa: (1) desenhos animados; (2) literatura; (3) telenovelas; (4) seriados televisivos; (5) programas de auditório.

Dentre esses textos, no Brasil, a televisão merece destaque por ser um poderoso meio de comunicação de grande influência no comportamento e no imaginário da sociedade, sendo capaz de alcançar todos os tipos de classe social, faixa etária e etnia. É um ambiente em que são encontradas informação, entretenimento, fantasia e outros tipos de atrações que conduzem a uma semelhança com a vida real do telespectador (SILVA, 2008).

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Corroborando com esta afirmativa de Silva (2008), uma pesquisa realizada em dez países, pelo Instituto Ipsos, afirma que as crianças e os adolescentes brasileiros são os que mais assistem televisão no mundo e, ainda, são os que possuem o menor hábito de leitura. Dentre os programas infantis preferidos pelas crianças está o gênero desenho animado, que são elaborados, em sua maioria, com representações exageradas como, “do bem” e “do mal” (BOUTIN, 2006).

Sob a visão de Carvalho [2012?],os desenhos animados, além da função de entretenimento e lazer, também podem exercer sobre as crianças uma ação de captura, sedução e condicionamento, de tal modo que, ao vê-los, se comparam às necessidades fundamentais, como alimentação e descontração. Esses textos culturais são constituídos de um variado repertório de temas como, ciência, violência e expressão de poder, tendo embutido em seu conteúdo padrões culturais e de consumo. Ao mesmo tempo em que podem servir à consciência de seu público, também podem servir à alienação, pois as crianças ficam fascinadas pelas imagens, sem conseguir, de início, separar o real da fantasia apresentada na televisão. Essa alienação pode refletir na formação de sua personalidade, na capacidade de escolha, iniciativa e na sua maneira de percepção do mundo.

Em relação à literatura infantil, Escanfella (2006, p. 115), considera ser esta um meio de comunicação de massas por se tratar de “[...] um veículo de produção de formas simbólicas que podem estabelecer ou sustentar relações de dominação. Produzido, transmitido e recebido em contextos culturais estruturados por relações de dominação (classe, raça, gênero e idade)”.

A literatura infantil é primordial no desenvolvimento da criança, contribuindo não só para o seu aprendizado, como também na influência de apreciação da leitura. Além de incentivar na busca de novos conhecimentos, ela colabora para o desenvolvimento de esquemas de leitura das crianças, que consiste na compreensão mental a respeito da história (BERNADINELLI; CARVALHO, 2011). Desse modo, a experiência com a leitura literária contribui para a formação de cidadãos, na qual cada indivíduo possa conseguir compreender a sua autonomia, suas limitações, seus potenciais e perceber as diferentes perspectivas de vida (ALMEIDA, 2011).

No que diz respeito ao público adulto, dentre os diversos textos culturais exibidos nos canais de televisão, um exemplo com muita relevância no contexto brasileiro são as telenovelas. As tramas das novelas costumam ter enorme receptividade por parte do espectador de todas as classes sociais, tornando-se assim, um grande atrativo de entretenimento para a comunidade

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(SILVEIRA, 2010). Segundo Silva (2008), o seu alto índice de audiência ocorre pelo fato de conseguir abordar diversos assuntos distintos que procuram se assemelhar com a vida cotidiana das pessoas, sendo responsável por motivar mudanças no comportamento e a quebra de tabus.

Outro tipo de programação bastante comum nos canais brasileiros de televisão são os programas de auditório. Segundo Sousa (2009), os programas de auditório da TV são provenientes da junção do circo, das festas populares, do teatro e dos programas de rádio. São fragmentos de culturas e histórias, atualmente ajustados pelas necessidades mercadológicas da sociedade, vendendo valores, comportamentos e crenças.

De acordo com Lunardi (2005, p. 80), “os programas de auditório poderiam ser pensados como reflexo das concepções do mundo por um grupo”, para que assim haja uma identificação dos telespectadores em relação ao conteúdo. Essa identificação faz com que a audiência desfrute e não reflita sobre o que lhe está sendo transmitido.

Esse gênero de programa está baseado no diálogo oral, encenado ao vivo, e abriga diferentes subgêneros como, show de variedades; jogos; disputas etc. O diálogo com o público é uma das qualidades essenciais e fundamentais dos programas de auditório que, mesmo transparecendo espontaneidade são resultados de uma composição encenada. Faz parte de sua figuração as cores vibrantes, luzes, sons de aplausos, gargalhadas da plateia, o som de voz do apresentador, entre outros componentes. É o apresentador quem determina o assunto da conversa, tom e demarca o tipo e tamanho das respostas, interrompendo ou cortando a fala do participante quando deseja. O seu posicionamento em frente à câmera é para dirigir-se ao telespectador, que assiste ao programa em casa (SOUSA, 2009).

As séries televisivas também têm conquistado o seu espaço, principalmente entre o público jovem. A produção seriada consiste em um formato televisivo fragmentado, com uma estrutura de episódios ou capítulos, sendo transmitidos diariamente ou semanalmente e dissipado ao longo de meses, anos e em alguns casos, até décadas. Quando a narrativa é entrelaçada, normalmente, no início do conjunto de blocos do programa é incluída uma rápida contextualização sobre o que aconteceu no episódio anterior e termina no seu ápice para que assim possa manter o interesse do espectador até o retorno da série (MACHADO, 2003). Meyer [2013?] observa que a popularidade dos seriados tem crescido significativamente, tornando-se um meio de formação de opinião, comportamento e disseminador de tendências. No mundo dos negócios, é um ótimo meio para formar potenciais consumidores, vinculando a

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imagem de personagens a produtos, impulsionando assim a sua venda. É intenso também o seu poder em relação ao vestuário e penteados, criando ou fortalecendo as tendências da moda.

2.2 Estereótipo e representações coletivas

Por meio das atividades culturais que a sociedade produz podemos inferir os valores e representações de um agrupamento social, portanto a ligação entre uma sociedade e os produtos culturais que ela produz é de natureza causal e refletiva (NORDEN, 2002).

Sob a óptica de Nogueira (1998, p. 205), as “representações coletivas” podem ser consideradas como “concepções e símbolos que resultam da interação social e adquirem um significado comum para os membros do grupo, suscitando-lhes reações emocionais semelhantes”.

O mesmo autor expõe a respeito da existência de uma distinção conceitual entre “representação coletiva”, ideologia e estereótipos. O estereótipo é a representação coletiva de um grupo por si mesmo ou por outro; a representação coletiva pode ser aplicada a outro sentido da realidade, não sendo restrito apenas a grupos sociais; e a ideologia, além dos estereótipos e representações coletivas, envolve as justificativas e reflexões que os tornam conscientemente defensáveis por aqueles que os aceitam.

O termo “representações coletivas” foi concebido por Durkheim ao descobrir que a “matéria-prima de toda consciência social está em relação íntima com o número dos elementos sociais, a maneira de seu agrupamento e sua distribuição” e que “uma vez que um fundo inicial de representações se tem constituído, elas se tornam... realidades parcialmente autônomas que vivem uma vida própria” (NOGUEIRA, 1998).

No entanto, o termo “estereótipo”, criado por Walter Lippmann, tem sido abordado como “imagem ou ideia, geralmente expressa em forma verbal”, que os membros de um grupo aceitam em relação aos componentes de outro ou em relação a si próprios (NOGUEIRA, 1998, p. 205). Para Amossy (1991 apud ARAÚJO, 2010) o estereótipo classifica o mundo, consiste em ideias pré-concebidas, universais que cada sujeito faz de uma classe ou tipo de pessoas, geralmente pejorativas, comuns a um grupo social.

Quin (1995, apud ROGGAU, 2006) afirma que o estereótipo é uma representação reproduzida diversas vezes, simplificando algo que é complexo. É um processo que envolve a seleção,

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categorização e generalização de um objeto enfatizando certas características de forma distorcida. São conceitos de um grupo a respeito de outro grupo diferente. Os estereótipos, por meio da simplificação e generalização, contribuem para a organização de informações sobre a sociedade, que podem ser verdadeiras ou falsas. A veracidade dessas informações consiste na seleção de suas características e a falsidade na distorção da seleção das mesmas, pois são baseadas em uma série de suposições, que são aceitas como características representativas de um determinado grupo.

Articulando com esses conceitos a autora Bardin (1977) manifesta que o estereótipo surge espontaneamente a partir de influências diárias, sendo difundido por grupos sociais de forma sólida.

O estereótipo é a ideia ou imagem que surge espontaneamente a respeito de coisas, pessoas e ideias, podendo ser parcialmente desligada de sua realidade objetiva e distribuída pelos membros de um grupo social com certa estabilidade. A composição semântica pré-existente, na maioria das vezes muito concreta e expressa por meio de imagens é organizada ao redor de alguns elementos simbólicos simples, substituindo ou dirigindo imediatamente a informação objetiva ou a percepção real. Estrutura cognitiva e não inata (submetida à influência do meio cultural, da experiência pessoal, de instâncias e de influências privilegiadas como as comunicações de massa), o estereótipo, no entanto mergulha as suas raízes no afetivo e no emocional porque está ligado ao preconceito por ele racionalizado, justificado ou engendrado. (BARDIN, 1977, p. 51).

Roggau (2006) observa que o estereótipo é caracterizado pela construção de uma imagem, por uma função cognitiva, a direção positiva ou negativa de uma imagem, a interação entre o grupo representado e o que o sustenta, o processo de interpretação da realidade do sujeito e a estabilidade e capacidade de adaptação a mudanças. Por conseguinte, trata de ser uma forma influente de controle social. O estereótipo demarca, mantém fronteiras simbólicas, fortalece a autoestima e facilita a união de todos que são considerados “normais” em uma “comunidade imaginária”, excluindo os que não se encaixam nesse controle social, e ainda, “[...] constitui um problema para a representação do sujeito em significação de relações psíquicas e sociais”. (BHABHA, 1998, p. 117).

2.3 Estereótipo profissional

No campo profissional, o estereótipo é a consequência da influência cultural gerada no histórico de uma profissão, que pode produzir uma desvalorização da visão mercadológica sobre o profissional e as atribuições que lhe cabe. (BARROS; IZIQUIEL; SILVA, 2011). É considerado também um fator preponderante na decisão da formação acadêmica entre os

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estudantes, causando uma decisão precipitada na escolha de outra profissão (DECOSTER, 1971 apud AZEVEDO, 2010).

De acordo com Jacobsen (2010), a imagem como forma de representação, reflete a percepção que a sociedade tem do profissional, em termos de atuação e de comportamento, sendo de fundamental importância para o grupo profissional. Essa mesma imagem também é construída a partir das atitudes e do comprometimento de seus profissionais e de como estes se refletem na sociedade.

Além de Biblioteconomia, profissão que é o foco do presente estudo, a representação social atinge áreas distintas fazendo com que esses profissionais enfrentem um desafio constante no exercício de sua profissão. Dentre alguns exemplos de estereótipos relacionados a profissões encontrados na literatura acadêmica estão os profissionais de Secretariado, Enfermagem, Ciências Contábeis e Odontologia.

A profissão de secretariado, antigamente, era predominantemente masculina. Indicativos demonstram que a divisão dos gêneros profissionais surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, onde foram criados paradigmas em torno da profissão. A partir desse fato histórico, surgiu a dificuldade atual de aceitação do profissional do gênero masculino, resultando no enfraquecimento de sua presença no cenário “secretarial”. Atualmente, o secretariado é exercido em sua maioria por mulheres, embora, observe um crescente retorno do sexo masculino na área para suprir as necessidades do mercado em virtude da globalização e da dinâmica administrativa (BARROS; IZIQUIEL; SILVA, 2011).

Por consequência desses acontecimentos, muitos homens precisam enfrentar o preconceito ainda existente na sociedade e no ambiente de trabalho referente à sua atuação profissional. Para lidar com esse desconforto associado a um campo de trabalho atípico do sexo masculino muitos utilizam a estratégia de usar outras denominações para definirem seus papéis. Com o intuito de quebrar esse estereótipo de gênero, faz-se necessária a atuação conjunta das entidades de classe, dos profissionais e dos estudantes da área, em direção à consolidação da imagem do profissional independente de gênero (BARROS; IZIQUIEL; SILVA, 2011).

Assim como o secretariado, a enfermagem, também sofre com o estereótipo de gênero por ser uma profissão predominantemente feminina e com baixa remuneração. Além desses fatores, ainda há a desvalorização pela sociedade, na qual os próprios clientes acreditam ser o médico o único capaz de solucionar os problemas e o enfermeiro existindo somente para auxiliá-lo.

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No entanto, para uma maior valorização de sua imagem, estima-se que a informação é a maior aliada para a formação de um público mais crítico e informado sobre a história da Enfermagem (LUCHESI; SANTOS, 2005).

A respeito dos dentistas, as imagens veiculadas pela mídia estão normalmente interligadas ao medo, dor e angústia, prevalecendo no imaginário coletivo características negativas referentes a esses profissionais e, ao tratamento odontológico. Essa representação social transforma tais procedimentos em um mal necessário ou até mesmo, em um castigo para os pacientes, causando o afastamento das pessoas do consultório dentário e prejudicando a sua saúde bucal. Torna-se necessária uma desmistificação desse receio que os pacientes têm em relação ao profissional, que uma vez estabelecidos ainda na infância são mantidos por toda a vida (PINHO et al, 2008).

O estereótipo negativo da imagem profissional também tem afetado o campo das Ciências Contábeis que sofre com um declínio em relação ao número e qualidade de ingressantes no curso. A causa dessa queda é o fato de terem uma imagem associada a um profissional monótono, pouco atrativo, conservador e restrito à responsabilidade funcional dentro das organizações. As mudanças no ambiente empresarial, diminuição dos níveis salariais e a falta de informação sobre o curso também são outros fatores que contribuem para essa desvalorização do curso (ALBRECHT; SACK, 2000). Contudo, de acordo com a dissertação de mestrado de Azevedo (2010, p. 83), os profissionais brasileiros de contabilidade não possuem uma imagem tão negativa diante da sociedade: “O status da profissão pode realmente ser menor do que outras profissões, mas não tão crítica a ponto de receber o rótulo de estereótipo negativo”. O mesmo autor afirma que há um exagero em relação à representação social nos cinemas e, na literatura norte-americana a respeito dos contadores ou uma não representatividade de acordo com a realidade social brasileira na amostra de sua pesquisa. Esta pesquisa também aponta que há o estereótipo de gênero na profissão, prevalecendo o sexo masculino.

2.4 Breve histórico sobre a imagem do bibliotecário

Com o desenvolvimento da capacidade do Homem em produzir informações, logo surgiu a necessidade de organizar e desenvolver métodos de preservação para esses registros, emergindo a figura do bibliotecário na sociedade (OLIVEIRA, 2010).

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Na Antiguidade, de acordo com Oliveira (2010), a atividade dos bibliotecários era de grande valor, pois representavam a vanguarda do pensamento e do conhecimento da época, atingindo um alto reconhecimento pela sociedade. Entretanto, na Idade Média, esse status sofreu um declínio.

Os bibliotecários na época medieval possuíam a sua imagem interligada a um detentor da informação, com o poder de decidir quem poderia ter acesso ou não aos livros. Sua função restringia-se à organização e salvaguarda do patrimônio intelectual produzido ao longo do tempo. Em relação ao ambiente, a biblioteca, era um espaço fechado e de acesso privilegiado (SILVEIRA, 2008).

Para desempenhar essa função na época, era preciso ter as seguintes características:

Amor à leitura e prazer para o trato com os livros; aguçado senso de organização; perspicácia para criar e manejar inúmeros sistemas classificatórios; dominar conhecimento em várias áreas da ciência e dominar com fluência idiomas modernos e antigos, especialmente o latim e o grego para acesso aos mistérios e segredos do conhecimento; além de compreender os processos de produção e circulação do escrito. (SILVEIRA, 2008, p. 87)

Roggau (2006) e Oliveira (2010) acordam que o estereótipo existente até hoje a respeito da imagem dos bibliotecários surgiu a partir dessa época: “Com modelos arquitetônicos que mais pareciam labirintos, as bibliotecas dos monastérios não pretendiam de nenhuma forma disseminar informações [...]. Sua imagem tornava-se conservadora, retrógrada e antissocial [...]” (OLIVEIRA, 2010, p. 22).

Passado esse período e com a criação da imprensa de Gutenberg, no século XV, houve uma ampliação nas produções literárias e consequentemente na popularização dos livros e no interesse pela leitura. Outro fator relevante nessa época a ser citado é o advento das primeiras universidades, resultando na construção de bibliotecas em seus próprios campi. A partir de então, a figura do bibliotecário se consolida profissionalmente e começam a surgir os seus próprios procedimentos de trabalho (OLIVEIRA, 2010). Contudo, Roggau (2006) salienta que o estereótipo sobre os bibliotecários já havia se consolidado e acomodado aos novos tempos.

A partir da Idade Contemporânea, há uma preocupação em reaver o status da profissão que foi perdido durante a Idade Média, reavaliar suas atividades e, consequentemente, democratizar o acesso à informação (OLIVEIRA, 2010).

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2.5 A imagem do bibliotecário

Com o surgimento das TIC, houve uma necessidade de desenvolver uma atualização curricular na formação dos bibliotecários, a fim acompanhar e atender a evolução do mercado profissional e, consequentemente, conquistar novas áreas de atuação (SILVEIRA, 2008). No entanto, apesar das transformações tecnológicas e as novas ferramentas de socialização da informação, os bibliotecários ainda possuem a sua imagem totalmente interligada a livros em seu formato impresso e, desde o ingresso na graduação, os estudantes, precisam enfrentar o estereótipo de apaixonados por livros e de serem leitores assíduos e ecléticos (ROCHA, 2011).

É visível que a percepção da sociedade brasileira a respeito dos bibliotecários não equivale ao que o profissional representa, atualmente, para a área de organização e disseminação da informação, juntamente com suas contribuições para a educação e cultura (ALMEIDA; BAPTISTA, 2009). De acordo com Oliveira (2010), essa visão pode ser explicada por alguns fatores sociais que sucedem em nosso país como, a falta de valorização entre os próprios profissionais; desconhecimento da profissão pelos cidadãos, que muitas vezes estão relacionados a problemas de nossa base educacional; escolas públicas mal estruturadas e professores com remuneração baixa; experiências mal sucedidas de alguns e a influência da mídia desinformada sobre o verdadeiro papel do profissional.

Baptista (2009) indica que o ambiente de uma unidade de informação, como um local de trabalho e prestação de produtos e serviços, provoca indagações a respeito de sua atuação e utilidade perante a sociedade, devido aos avanços nas tecnologias de comunicação e as transformações ocorridas no âmbito da Biblioteconomia.

Por conseguinte, o papel do bibliotecário não está mais restrito somente ao trabalho tecnicista de catalogação e classificação; além dessas funções, o profissional realiza um importante ofício como agente transformador, gestor de conhecimento e/ou mediador, facilitando na busca e no uso da informação (SALES, 2004). Suas atividades geralmente são desenvolvidas em unidades de informação, com o intuito de suprir as necessidades informacionais de um determinado grupo, considerando o seu perfil, e, contribuindo para o desenvolvimento de suas atividades (MORAES; COSTA, 2007).

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Além dos conhecimentos técnicos, Silveira (2008), evidencia as novas habilidades e competências que o mercado de trabalho passou a exigir do novo perfil profissional dos bibliotecários, que envolve:

1. Entender, de maneira ampla, a informação como objeto de seu fazer profissional, tendo-se em vista estabelecer um quadro de referências a cerca de suas teorias, paradigmas e aspectos legais;

2. Trabalhar de forma integrada e com equipes multidisciplinares com o objetivo de acompanhar as tendências mundiais em torno do desenvolvimento dos suportes e produtos de informação, conjugando formatos eletrônicos e digitais às tecnologias de telecomunicações de modo a possibilitar acesso local ou remoto aos documentos informacionais;

3. Conhecer e utilizar as tecnologias da informação e da comunicação (TICs) como ferramentas de trabalho para a seleção, armazenamento, processamento e disseminação seletiva da informação;

4. Organizar o conhecimento por meio de ferramentas linguísticas e conceituais adequadas, visando sua rápida recuperação;

5. Criar pontos de acesso físico e intelectual para a informação, independente se alocada em bases físicas ou on-line;

6. Interpretar criticamente o lugar assumido pela informação no processo de edificação das várias esferas sociais, econômicas, políticas e culturais contemporâneas, bem como elemento estratégico para a democratização dos recursos oriundos da práxis humana. (SILVEIRA, 2008, p. 89-90)

A respeito da internalização da imagem dos bibliotecários, Mueller (2004), considera que quando um grupo de pessoas possui determinado discernimento a respeito de uma profissão, a mudança para uma representação pública favorável, que ofereça benefícios para a sua imagem, será processada muito lentamente pela sociedade. Isso ocorre pelo fato dessa imagem ser uma construção mental de cada indivíduo (ROGGAU, 2006), e consequentemente, ocasiona uma estranheza do próprio profissional na descrição que sua profissão retrata no imaginário da população. (ALMEIDA; BAPTISTA, 2009).

Diante disso, o reconhecimento do bibliotecário modifica-se com o tipo de atividade que ele desempenha, seja esta predominantemente tecnológica, técnica-especializada, gerencial ou voltada para o caráter social. Em todos esses casos surge uma necessidade contida de autoafirmação do profissional, em consequência, ao desconhecimento de suas habilidades e das áreas que se pode atuar por parte de outros segmentos que o bibliotecário precisa interagir. Isso acaba refletindo em sua remuneração, que apesar de ter um baixo índice de desemprego na área, a média salarial apresenta-se insatisfatória em comparação a outras categorias (BAPTISTA, 2009).

Os autores Walter; Baptista (2009), Arruda; Marteleto; Souza (2000) apontam a importância do papel da Escola e dos professores na construção da imagem profissional, pois a formação acadêmica é o sinal precursor nesse processo. Diante disto, a formação profissional e a

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educação continuada legitimam um novo modelo de qualificação profissional, introduzindo novas formas de gestão de trabalho e socialização dos indivíduos, causando a valorização da atuação e a interdisciplinaridade.

Sobre o perfil psicológico, Roggau (2006) identifica que a imagem construída e adaptada aos bibliotecários pela sociedade é associada a uma pessoa reservada, tímida, pouco comunicativa, com atitude agressiva e a habilidade de criar obstáculos e impedimentos aos usuários em razão de regulamentos da biblioteca. Em relação ao aspecto físico há a presença dos óculos, penteado rígido e o uso de vestimentas antiquadas e formais. Fundamentando-se nessa representação, a Biblioteconomia, ainda é eleita ou indicada como área de atuação para pessoas que têm o perfil introvertido e que gostam de conviver solitariamente com a leitura. Essas características contrariam as mudanças ocorridas na profissão que valoriza, atualmente, um perfil comunicativo, sociável com o público, pró-ativo, participativo, gestor e facilitador ao acesso à informação.

Referindo-se ao espaço físico da biblioteca, observa-se que dependendo do seu ambiente poderá ocorrer o afastamento do leitor e uma contribuição para uma visão hostil do local, como afirma Barbalho (2000, p. 57), “[...] as fachadas se colocam como uma fronteira que separa o interior do exterior, e pode-se afirmar que manifestam valores, podendo criar diversos efeitos como curiosidade, familiaridade, intimidação, rejeição ou aceitação [...]”.

A construção de uma imagem elitista das bibliotecas também contribui para uma visão equivocada do ambiente. A biblioteca era vista como uma instituição de espaço reservado para intelectuais, com leitores da alta sociedade. A sua arquitetura clássica era remetida a um templo do conhecimento, em que os livros eram objetos intocáveis, sendo considerados como “sagrados”, afastando assim, pessoas de outras classes sociais. Atualmente, a biblioteca encontra-se numa realidade diferente, é um organismo vivo que busca a interação com os usuários, com um acervo acessível (ROGGAU, 2006).

Para Barbalho (2000, p. 85), além da localização e arquitetura externa, o interior da biblioteca também é imprescindível para manter e atrair novos leitores. É fundamental despertar no usuário a sensação de liberdade para usufruir o ambiente de acordo com as suas necessidades e conveniências. Para alcançar esse objetivo, o local precisa ser composto por um “mobiliário ergonomicamente adequado, muitas vezes modular, bem sinalizado de modo a facilitar a livre locomoção, arejado, claro e bem iluminado”.

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3 METODOLOGIA

Na pesquisa foram selecionados e analisados diálogos e imagens de textos culturais que envolvessem bibliotecas e bibliotecários, produzidos ou veiculados no Brasil e que fossem de fácil acesso a maioria da população brasileira. Esta análise é importante na fundamentação de contribuição dos textos culturais na formação de imagem e consequentemente no estereótipo que a população em geral possui a respeito do profissional de Biblioteconomia e do ambiente da biblioteca.

Foi feita a escolha de buscar atingir o objetivo da pesquisa por meio de cenas exibidas em desenhos animados, telenovelas, seriados televisivos, livros e programas de auditório, que são tidos como importantes fontes de informação e têm grande influência no telespectador brasileiro conforme apontado na revisão de literatura por Silva (2008), Boutin (2006), Carvalho [2012?], Silveira (2010), Sousa (2009), Lunardi (2005) e Jacobsen (2010).

3.1 Coleta de dados

Neste item serão abordadas, por meio de coleta de dados questões a respeito das características físicas, comportamentais, competências, relacionamento interpessoal e a percepção da sociedade sobre os bibliotecários. O estudo inclui também a percepção que a sociedade tem a respeito desses profissionais e o espaço físico da biblioteca.

A respeito da coleta de dados, as imagens de desenhos animados, telenovelas e programas de auditório foram pesquisadas pelo site YouTube. Brillion (2008) e Hartley (2009) mencionam o

YouTube como um poderoso canal para a reprodução e para a difusão de textos culturais. O

buscador Google também auxiliou na recuperação dessas informações e na pesquisa de livros infantis e juvenis que incluíssem bibliotecários e/ ou bibliotecas. Para essa seleção de livros, recorreu-se à fonte bibliográfica de Jacobsen (2010) e a fim de buscar novas obras utilizou-se também o mecanismo de busca de um site de uma grande livraria virtual.

Foram selecionadas três telenovelas brasileiras; três seriados televisivos; cinco desenhos animados; três programas de auditório e nove livros, subdividindo-se em três indicados para o público infantil e seis para o público juvenil, totalizando em 23 textos culturais a serem analisados.

Como limitação dessa pesquisa, encontrou-se dificuldade na disponibilização e recuperação de informações de textos culturais que envolvessem bibliotecários e bibliotecas. Como

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possível limitação, encontra-se a análise do material coletado visto que é necessário um olhar mais apurado, buscando outras denotações para obter um resultado confiável.

3.2 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo é utilizada para observar as diferentes formas de manifestação de um indivíduo, sejam elas verbais ou escritas. Sendo assim, pode atuar na observação de todos os tipos de pesquisa que possam ser documentado em textos escritos, gravações de voz ou imagens possibilitando a organização e o resumo destas informações (FREITAS; JANISSEK, 2000).

A partir desse fundamento, a análise dos dados desta pesquisa foi realizada de acordo com o método de análise de conteúdo proposto por Bardin (1977), que consiste em um conjunto de técnicas de investigação das comunicações, permitindo a conclusão de conhecimentos relativos às condições de produção das mensagens. Essa técnica possibilita interpretar o conteúdo da mensagem e também o seu significado, com o intuito de fornecer conhecimento, obter ou completar novas informações e deduções a partir destes dados (FREITAS; JANISSEK, 2000).

A análise de conteúdo caracteriza-se por ser um método de observação indireto, pelo fato da expressão verbal ou escrita do questionado ser observada (FREITAS; JANISSEK, 2000). Consequentemente, a leitura dos dados analisados precisa compreender o sentido da comunicação e desviar o olhar para outra denotação, atingindo significados de natureza psicológica, política ou histórica (BARDIN, 1977).

Todo o seu processo necessita seguir uma série de etapas precisas, que se inicia pela definição clara e delimitada do assunto estudado. Após essa delimitação, é realizado o processo de categorização, que consiste no problema central da análise de conteúdo, determinando as dimensões que serão analisadas, simplificando os dados e formando categorias. As categorias fazem a ligação entre os objetivos de pesquisa e os resultados. Logo, o valor da análise fica submetido à qualidade ou legitimidade das categorias de análise. É o objetivo a ser atingido que deve relatar a escolha ou definição do que deve ser quantificado (FREITAS; JUNISSEK, 2000).

Segundo Bardin (1977), as categorias precisam ser exaustivas (percorrer todo o conjunto do texto), exclusivas (os mesmos elementos não podem pertencer a diversas categorias),

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objetivas (características claras de modo a permitir seu uso por diferentes analistas em um mesmo texto) e pertinentes (em relação aos objetivos e ao conteúdo tratado).

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4 REPRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Esta etapa fundamenta-se na escolha das unidades de análise, que nessa pesquisa, remete-se a de personagens representando outro significado, sobre os quais estão permitidos manipular determinadas características e tomá-las como foco de análise.

4.1 Panorama do material analisado

Para melhor compreensão das representações das bibliotecas e bibliotecários em textos culturais foi elaborado o quadro abaixo com a apresentação dos dados que serão analisados nessa pesquisa. É importante ressaltar que o quadro não tem a intenção de esgotar todos os textos culturais que assinalaram a presença de bibliotecas ou bibliotecários e as obras analisadas, excetuando os programas de auditório “Vídeo Game” e “Domingão do Faustão”, são de cunho fictício.

Texto cultural Copyright/ Período de exibição

Material analisado Editora/ Emissora

Desenho animado

2007 Backyardigans Discovery Kids

2010 Kick Buttowski Globo/ Disney Channel

c1989 Os Simpsons Band / FOX

2007 Phineas e Ferb Disney Channel c1988 O Pequeno Scooby-Doo SBT Literatura infantil c1995 Conto Memórias de um Herói caduco da obra Ana de Salto Alto

L&PM Editores

c1994 O Bibliotecário que mediu a terra

Salamandra c1996 Um rato na biblioteca Atual

Literatura juvenil 2010 Alcatraz contra os bibliotecários do Mal Benvirá 2008 Assassinato na biblioteca Rocco

2006 Pânico na Biblioteca Galerinha Record

2005 O mundo é dos

canários

Ática

2000; 2001; 2005 Harry Potter Rocco 2010 Dona Casmurra e seu

Tigrão

Ática

Programa de auditório

2010 Vídeo Game Globo

2011 Comédia MTV MTV

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Telenovela

2006 Malhação Globo

jun. 2007- fev. 2008 7 Pecados Globo mar. 2011- out. 2012 Rebelde Brasil Record Seriado

televisivo

1994-1997 Castelo Rá-Tim-Bum TV Brasil

1991 Seinfeld Sony Entertainment

2000-2001 Friends Warner Channel Brasil Fonte: Elaborado pela própria autora.

4.2 Categorias de análise e interpretação

Grande parte dos procedimentos de análise é ordenada a partir de um processo de categorização, que permite o seu agrupamento, objetivando uma representação simplificada dos dados brutos (BARDIN, 1977).

4.2.1 Características físicas dos bibliotecários

Normalmente, a imagem associada ao profissional bibliotecário é realizada de forma pejorativa, sendo uma mulher, velha, de coque e ultrapassada em relação aos movimentos contemporâneos (WALTER, 2008).

Imagem 1 – Representação da bibliotecária (desenho animado: Kick Buttowisky)

Fonte: YouTube

A respeito do gênero, foram analisados 30 profissionais (27 personagens fictícios e três participantes de programas de auditório) nos textos culturais que apresentaram a presença de bibliotecário. Apenas 10 são do sexo masculino. A predominância do perfil feminino na profissão, de acordo com Martucci (1996) pode ser vista como a aproximação entre a Biblioteconomia e o magistério, visto que é uma área relacionada à Educação. O ensino era uma das atividades extradomésticas que as mulheres poderiam exercer com a aceitação da sociedade. Além da ideologia patriarcal, variáveis econômico-sociais também influenciaram a admissão feminina nessas profissões. Segundo Roggau (2006), a Revolução Industrial

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resultou no êxodo da mão de obra masculina e então, as bibliotecas precisaram recorrer às mulheres que eram a força de trabalho disponível para as tarefas não remuneradas ou com salários mais baixos.

No que tange ao aspecto físico, quatro bibliotecários são aparentemente jovens, sendo que dois estão cursando a graduação de Biblioteconomia, quatro não tiveram a sua idade identificada e 22 têm acima de 40 anos. Na telenovela, Malhação, mesmo a personagem sendo jovem, ela é caracterizada com os cabelos presos e óculos.

Imagem 2 – Representação da bibliotecária (telenovela: Malhação)

Fonte: Blogspot - Malhação arquivo

Em relação às vestimentas, dos textos culturais que puderam ser analisado como desenhos animados, seriados e telenovelas grande parte dos personagens usam trajes antiquados, inclusive um personagem do sexo masculino; cinco bibliotecárias usam algum tipo de acessório de pérola, como brincos ou cordão e nove personagens usam óculos.

Imagem 3 – Representação das bibliotecárias (desenho animado Phineas e Ferb)

Fonte: YouTube

Apesar de estar caracterizada como uma “típica” bibliotecária, Uniqua, do desenho animado

Backyardigans, em sua apresentação, tenta desfazer essa imagem obsoleta afirmando: “As

bibliotecárias são elegantes, são sim! Temos estilo e queremos agradar” (BACKYARDIGANS, 2007).

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Imagem 4 – Representação da bibliotecária Uniqua (desenho animado: Backyardigans)

Fonte: YouTube 4.2.2 Características comportamentais dos bibliotecários

O perfil delineado na literatura especializada a respeito dos bibliotecários, na sociedade da informação, envolve a capacidade de comunicação eficiente, a criatividade e a inovação (BAPTISTA; MUELLER, 2005).

A partir de algumas ações e descrições dos personagens, identificou-se a existência de mau humor, impaciência e insociabilidade como características psicológicas de seis personagens analisados, conforme visto em Kick Buttowisk, O pequeno Scooby Doo, Pânico na biblioteca,

Harry Potter e Dona Casmurra e seu Tigrão. Esse perfil foi apontado por Roggau (2006)

como a imagem construída e adaptada pela sociedade aos bibliotecários.

Imagem 5 – Reação da bibliotecária ao perceber a chegada de usuários (desenho animado: O pequeno Scooby Doo).

Fonte: YouTube

Em cinco textos culturais, tais como Backyardigans, Malhação, Um rato na biblioteca, Assassinato na biblioteca e o Mundo é dos canários, os bibliotecários são apresentados como pessoas dinâmicas, comunicativas e simpáticas.

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Em relação ao comodismo e à aparência de tédio na execução de suas atividades, três textos culturais demonstram esse sentimento por parte do profissional, como o personagem bibliotecário entrevistado no programa Papo Desinteressante e nos desenhos animados

Phineas e Ferb e Kick Buttowisk.

Imagem 6 – Expressão enfadonha do bibliotecário durante execução de sua tarefa (desenho animado: Phineas e Ferb)

Fonte: YouTube

O autoritarismo e a rigidez são marcas da personalidade de alguns bibliotecários analisados, como na Madame Irma Pince (Harry Potter) e Dona Ângela (Pânico na biblioteca). Ambas não admitem que se quebrem regras na biblioteca. De acordo com Dickinson (2002, apud WALTER; BAPTISTA, 2007) essa representação pode estar atrelada ao motivo dos primeiros profissionais bibliotecários terem a função de manter a integridade e manutenção dos acervos, exigindo uma postura de cobrança e dificultando o acesso às obras.

Os bibliotecários normalmente aparecem concentrados nas suas atividades, como no seriado

Seinfeld em que a profissional aparece compenetrada carimbando livros e nem percebe a

chegada de um usuário no balcão para pedir informações e, Lu, a estagiária de Biblioteconomia (Dona Casmurra e seu tigrão), que é descrita da seguinte forma: “uma garota muito magra e vestida de preto, debruçada sobre duas altas pilhas de fichas amareladas” (JAF, 2010, p. 15).

Outro aspecto relevante a ser citado é a constante atribuição às bibliotecárias como mulheres solitárias e solteironas, conforme são apresentadas nos trechos abaixo:

“Olhe para ela. É uma mulher solitária em busca de companhia. Uma solteirona. Talvez uma virgem” (SEINFELD, 1991, grifo nosso).

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“Mulher simpática, solteira, de óculos redondos, que morava sozinha num bairro distante. [...] ela quem fechava as portas da biblioteca antes de ir embora, solitária e pensativa, no ônibus das sete” (SEGATO, 1996, p. 5, grifo nosso).

Nos dados obtidos por Walter (2008) em sua tese de doutorado, foi identificado que a maioria dos bibliotecários brasileiros são casados, contestando essa imagem solitária dos profissionais.

O ato de pedir silêncio foi percebido em três textos culturais. No livro “Pânico na biblioteca”, um leitor descreve seu sentimento ao receber esse gesto:

[...] De repente uma sombra conhecida caiu no tapete, me fazendo tremer. Dona Batata tava parada ali, os pés separados, o cinto pesado de carimbos. Sem dizer uma palavra, ela sacou um grande cartão do bolso. No cartão estava escrita a palavra Shhhh. Entendemos o recado. (COLFER, 2006, p. 51)

A respeito dessa ação Walter e Baptista afirmam: “postura geralmente antagônica e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que indique um enfático pedido de silêncio” (2007, p. 30).

Imagem 7 – Personagem bibliotecária fazendo o gesto de silêncio (desenho animado: O pequeno Scooby Doo)

Fonte: YouTube

A paixão pela literatura também é mencionada como característica pessoal de alguns personagens analisados como Carolina (O mundo é dos canários); Lu (Dona Casmurra e seu tigrão); Rute (Um rato na biblioteca); Seinfeld, Gato Pintado (Castelo Rá-Tim-Bum) e Aurélia (Malhação). O hábito da leitura foi indicado como uma das habilidades mais importantes para o exercício profissional na dissertação de mestrado de Silva (2009) e como um dos requisitos para a escolha do curso na tese de doutorado de Walter (2008).

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Alguns textos culturais mencionaram as atividades de lazer realizadas pelos personagens bibliotecários fora do horário de trabalho; praticamente todas envolvem atividades culturais. O bibliotecário Gato Pintado, do Castelo Rá-Tim-Bum gosta de recitar poemas; a bibliotecária do seriado Seinfeld de escrever poemas nos tempos vagos; Átila (Papo Desinteressante) fica em casa assistindo televisão e Rute (Um rato na biblioteca) gosta de ir ao circo ou ao cinema. Como atividade extracurricular, Carolina (O mundo é dos canários), escrevia artigos sobre crítica de livros em uma coluna de jornal.

4.2.3 Espaço físico da biblioteca

As bibliotecas retratadas nos textos culturais analisados, em sua maioria, são apresentadas como um ambiente tradicional e conservador, de amplo espaço, com móveis de madeira e não muito atraente para o leitor.

Em relação à localização, é essencial que a biblioteca seja vista, portanto, a sua disposição é elemento fundamental para persuadir o olhar do usuário, de modo que ele se sinta atraído a frequentar o ambiente (BARBALHO, 2000). Apenas o livro infantil “Um rato na biblioteca”, demonstrou isso claramente no decorrer de sua estória: “Numa das ruas principais de Sampa há uma biblioteca [...]” (SEGATO, 1996, p. 4, grifo nosso).

No que tange à disposição do espaço interno, o personagem Alcatraz relata a sua aversão em relação ao ambiente, descrevendo-o de forma nem um pouco agradável:

[...] Nesses lugares as estantes são espremidas perto uma das outras e chegam a alturas cada vez maiores. Pilhas de livros surgem aleatoriamente nos cantos, aguardando para ser colocados em prateleiras [...]. A poeira se acumula sobre os livros [...], dando ao ar um certo cheiro importuno de mofo [...]. Atrás de cada canto, você espera ver os mirrados e esqueléticos restos mortais de algum infeliz pesquisador que se perdeu entre as estantes e nunca mais encontrou a saída. (SANDERSON, 2010, p. 111)

No livro “Assassinato na biblioteca” há outra referência à característica sombria da biblioteca, como: “nunca imaginara que de noite a biblioteca, às escuras, formava um cenário perfeito para um filme de terror” (GOMES, 2008, p. 40).

Segundo Barbalho (2000) o ambiente interno precisa ser funcional e despertar no usuário boas sensações para que ele consiga se sentir à vontade e usufruir esse espaço. Simples ações podem fornecer esse sentimento ao frequentador como, por exemplo, no desenho animado

Backyardigans e no livro Alcatraz, onde o conforto do espaço foi associado ao mobiliário da

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A receptividade do profissional também é um fator primordial para cativar os leitores e fazer com que eles se sintam menos intimidados no ambiente. No livro, “O mundo é dos canários”, nota-se que o bom atendimento da bibliotecária Carolina faz com que ela conquiste as pessoas, tornando-as frequentadoras assíduas da biblioteca.

[...] quando entravam aqueles garotos e garotas que jamais haviam estado numa biblioteca, e em seu olhar se via que eles se sentiam intimidados por aquela quantidade de estantes, prateleiras, livros e mais livros.

Daí ela sorria, dava uma piscadela sedutora, os novatos se aproximavam, começavam a conversar [...]. E comemorava quando na terceira visita, se tanto, eles já revoavam entre as estantes e ocupavam as mesas [...] como se fossem donos do pedaço. [...] Maravilha-se também de perceber que a Biblioteca havia se tornado um lugar acolhedor para um público de todas as idades [...].

(AGUIAR, 2005, p. 80)

Em relação à tecnologia, apenas uma biblioteca demonstrou ter máquina fotocopiadora e quatro têm a presença de computadores no local, seja para a área de referência ou para uso dos leitores, contradizendo a atualização das unidades de informação frente às tecnologias de informação. Segundo Rowley (1994), a informática influencia as rotinas e o gerenciamento da biblioteca, sendo fundamental para a execução de suas atividades, aumentando a sua eficiência.

Outra observação relevante é a escolha dos corredores de estantes de livros para encontros amorosos, como são demonstradas em cenas do seriado Friends e da novela Rebelde. Nessa mesma telenovela, a biblioteca, também é eleita entre os alunos da escola como local para se isolar das pessoas, conversar particularmente e praticar atividades proibidas, como o consumo de bebida alcoólica. A partir dessas cenas, podemos inferir que a biblioteca é vista como um lugar de pouco movimento e nem sempre os bibliotecários estão preocupados em fiscalizar as atividades que os usuários realizam na biblioteca.

4.2.4 Competências dos bibliotecários

O mercado de trabalho atual exige que o bibliotecário seja um profissional multifacetado, de visão holística, não se restringindo apenas as atividades tecnicistas da biblioteca, como afirmam Baptista e Mueller (2005, p. 43): “Atualmente, parecem prevalecer as competências ligadas à capacidade gerencial e tecnológica, e à organização do conhecimento”. Santos (2000) reforça a importância dessas competências e complementa que os bibliotecários precisam ser curiosos, proativos, criativos, acessíveis aos usuários e empenhado no acesso às informações.

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Dudziak (2001) cita também a necessidade da comunicação e sociabilidade ao novo perfil profissional. O bibliotecário precisa trabalhar e aprender com o seu público, criando uma sinergia entre a comunidade e a unidade de informação. A bibliotecária escolar Conceição (Assassinato na biblioteca) demonstra perspicácia nessa habilidade ao conhecer a necessidade informacional dos alunos da escola e avisá-los sobre a chegada de novas aquisições: “conhecia todos os gostos dos alunos” (2008, p. 22). Carolina também apresenta preocupação em conseguir satisfazer seus usuários e realizar um bom atendimento.

[...] Nada a alegrava mais do que responder “Tem sim!”. Ou de sair procurando com ele. E como ficava chateada quando não encontrava coisa alguma? Como ficava triste com a decepção do freguês! Nesses casos, lhe prometia fazer de tudo – e fazia mesmo! – para arranjar o mais rápido possível, por encomenda, o livro desejado. (AGUIAR, 2005, p. 81)

Contudo, algumas representações das atividades atribuídas aos bibliotecários nos textos culturais ainda não condiz com essa atualização curricular, limitando-se apenas a antigos paradigmas.

No programa Castelo Rá-Tim-Bum, a atividade do bibliotecário restringe-se ao controle do acervo; o Gato Pintado passa o seu dia de trabalho contando de forma rígida as obras pertencentes à biblioteca. No livro Alcatraz contra os bibliotecários do mal, a descrição sobre o aprendizado dos estudantes de Biblioteconomia também é limitada.

Veja bem, os aprendizes de bibliotecários têm tempo de sobra para praticar coisas ridículas. Eles realmente só têm três obrigações. Primeira: aprender o incrível e desnecessariamente complicado sistema de arquivamento usado para catalogar livros nas estantes de trás. Segunda: treinar uso dos ganchos-pinças de livros. Terceira: engendrar meios de torturar a população inocente. (SANDERSON, 2010, p. 111)

É comum aparecer também entre as cenas um bibliotecário carimbando ou empurrando um carrinho de livros para colocá-los na estante, como em Friends, Seinfeld, kick Buttowisk,

Phineas e Ferb, Backyardigans, Simpsons e Pânico na biblioteca. A respeito desta última

atividade, Baptista e Mueller também mencionam essa representação equivocada em sua pesquisa: “[...] apresenta uma função que normalmente não é executada pelos bibliotecários, mas sim pelos auxiliares de bibliotecas, que é a de recolocação de material nas estantes.” (2005, p. 31).

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Imagem 8 – Atividades executadas pelos bibliotecários (desenho animado: Phineas e Ferb)

Fonte: YouTube

No livro “O bibliotecário que mediu a terra”, é atribuído ao bibliotecário à qualidade de organização.

Gostava muito de fazer listas. Era uma boa maneira de organizar as informações de modo que fossem úteis também a outras pessoas. [...] Exatamente como fazem os bibliotecários modernos, ajudavam os leitores a encontrar o que estavam procurando e mantinham o material em ordem. (LASKY, 1994, p. 16-24)

Além dessa habilidade de organização, também é citada a curiosidade e a vontade de aprender como características da personalidade do profissional.

Os bibliotecários, principalmente os que atuam em biblioteca pública e escolar, assumem também o papel de agente transformador social da comunidade. Segundo Santos (2000), o perfil de educador envolve a criação de hábitos de leitura, estudo e pesquisa e competências para a escrita. Complementando essa linha de pensamento, para Dudziak (2001) os bibliotecários precisam se envolver ativamente na comunidade, como educadores e cidadãos e assim, concentrar esforços na formação de pessoas, fazendo com que elas sejam capazes de pensar criticamente, construir seu aprendizado de forma independente e que estejam preparadas a usar e buscar a informação. Esse processo é denominado competência informacional.

Essas ações são observadas quando a bibliotecária Carolina (O mundo é dos canários) decide criar na sua biblioteca o Clube de leitura para fins de incentivo à leitura e reflexão na comunidade; também na disponibilidade da estagiária de uma biblioteca escolar (Dona Casmurra e seu tigrão) em ajudar um aluno a entender a obra de Machado de Assis, despertando a vontade contínua de aprender.

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4.2.5 O bibliotecário e seu relacionamento interpessoal

Além dos conhecimentos técnicos, os bibliotecários precisam estar preparados emocionalmente e socialmente para lidar com situações e personalidades distintas, transmitindo segurança ao leitor. Portanto o aprimoramento e a manutenção de um bom relacionamento interpessoal com o usuário e a equipe de trabalho torna-se uma qualidade essencial para ser um bom profissional. Segundo Santos (2000), a relação com o usuário precisa ser baseada na empatia, cordialidade e em uma comunicação efetiva para que se possa ter uma boa interpretação de suas necessidades.

Essas características são percebidas em quatro personagens. A bibliotecária Carolina (O mundo é dos canários) demonstra ser amável e acessível aos usuários, possuindo um ótimo relacionamento com os frequentadores da biblioteca; a Uniqua (Backyardigans) que apresenta disponibilidade e flexibilidade com os leitores; a Aurélia (Malhação) em que seu ponto forte é a espontaneidade e ser comunicativa e na bibliotecária Conceição (Assassinato na biblioteca) que sempre recebe os alunos com um sorriso, buscando satisfazer suas necessidades informacionais.

A falta de paciência, cordialidade e intolerância representam a relação bibliotecário/ usuário em cinco personagens analisados. Nos desenhos Kick Buttowski quando a bibliotecária diz que não pode atender ao leitor, fechando a porta na cara dele em pleno horário de funcionamento; “O pequeno Scooby Doo”, quando Scooby e Salsicha vão agradecer à bibliotecária pelo livro, ela fica brava, pedindo para que eles façam silêncio na biblioteca. Eles saem correndo chamando-a de “velha rabugenta” e na expressão facial da segunda bibliotecária que aparece no episódio ao perceber a chegada de usuários. Nos livros “Harry

Potter”, onde a bibliotecária restringe todas as ações dos usuários, cuidando da biblioteca

como se fosse uma ditadura e “Pânico na biblioteca” onde a bibliotecária impõe regras em relação à utilização do espaço da biblioteca, e ao receber dois novos usuários ocorre o seguinte diálogo:

Dona Ângela: - Eu disse, o que vocês querem? – repetiu ela, batendo na mesa com um carimbo [...].

Eduardo: - A mamãe disse que temos que nos inscrever – eu disse.

Dona Ângela: - Era só o que me faltava- rosnou dona Batata. – Mais dois diabinhos bagunçando minhas estantes. (COLFER, 2006, p. 29-30)

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