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Desenvolvimento de animatic com a temática de violência contra as mulheres

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CÂMPUS CURITIBA – SEDE CENTRAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL CURSO DE TECNOLOGIA EM DESIGN GRÁFICO

KRISTINA KANTIKAS

Desenvolvimento de Animatic com a Temática de Violência Contra

as Mulheres

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2018

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KRISTINA KANTIKAS

Desenvolvimento de Animatic com a Temática de Violência Contra

as Mulheres

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso 2, do curso superior de Tecnologia em Design Gráfico do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial – DADIN - da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR – como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo.

Orientadora: Profa. Marina Moraes.

CURITIBA 2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 086

Desenvolvimento de Animatic com a Temática de Violência Contra as Mulheres

por

Kristina Kantikas – 1503626

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no dia 30 de novembro de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de TECNÓLOGO EM DESIGN GRÁFICO, do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico, do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A aluna foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo, que após deliberação, consideraram o trabalho aprovado.

Banca Examinadora: Profa. Marinês Ribeiro dos Santos (Dra.) Avaliadora Indicada

DADIN – UTFPR

Profa. Fabiane Alves de Lima (MSc.) Avaliadora Convidada

Pós-Graduação em Animação Digital – PUC/PR Profa. Marina Moraes de Araujo (Esp.)

Orientadora DADIN – UTFPR

“A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso”. UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Curitiba

Diretoria de Graduação e Educação Profissional Departamento Acadêmico de Desenho Industrial

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Para minha mãe e minhas irmãs, as grandes mulheres da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, meus queridos amigos e ao meu psicólogo por toda a ajuda, paciência, carinho e suporte que me deram ao longo do desenvolvimento desse trabalho, acreditando em todo o meu potencial em muitos momentos que eu mesma não acreditei.

À minha mãe, Graça, da qual eu sempre fui muito próxima, a qual me protegeu e ainda me protege de tantas coisas, e que me ensinou a ser uma pessoa íntegra, respeitosa e carinhosa. Todas as suas histórias e batalhas até agora me dão forças para enfrentar as minhas próprias.

Às minhas irmãs, Maritsa e Tatyane, minhas outras mães, que são meus portos seguros diante de tantos momentos difíceis, com as quais eu sei que poderei contar com a ajuda, amor e carinho em qualquer momento que eu precisar, assim como a força que sempre me dão para não desistir dos meus sonhos.

Às grandes mulheres da banda Mulamba, que me autorizaram a utilizar a canção que deu um toque tão especial à animação desse trabalho.

Às professoras da banca desse trabalho; obrigada, Silmara, por ter acreditado e me dado a honra de ser a primeira orientadora desse trabalho; obrigada, Marinês e Fabiane, mulheres incríveis que me ensinaram tantas coisas dentro da universidade, por terem aceitado participar da banca e terem dado ótimas sugestões para desenvolver um trabalho mais interessante e relevante.

E, por fim, porém com tanto respeito e carinho quanto aos outros, à minha orientadora Marina, à qual eu não tenho palavras que mostrem todo o meu agradecimento e carinho, não só por ter aceitado orientar um trabalho que já estava em andamento, mas também por ter me guiado e me dado tanta luz até o final dessa aventura. Você acreditou em mim em âmbitos que ultrapassam o acadêmico, e me deu forças para me encontrar em muitos momentos que eu me desesperei e me perdi no decorrer do projeto. Espero crescer e me tornar uma mulher e profissional tão incrível como você.

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RESUMO

KANTIKAS, Kristina. Desenvolvimento de Animatic com a Temática de Violência Contra as Mulheres. Trabalho de Conclusão de Curso de Tecnologia em Design Gráfico - Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Este trabalho apresenta dados e análises sobre a violência contra as mulheres, uma discussão sobre o histórico da percepção e desigualdade de gênero, além de um breve histórico sobre animação e os principais estilos de produções da área. O projeto audiovisual do presente trabalho refere-se à temática do texto, e expõe a necessidade de debate acerca do tópico por meio de animações dentro de mídias sociais atuais. O projeto propõe a criação de um animatic que mostre uma situação de violência contra as mulheres, assim como formas de reação e informação do público. Palavras-chave: Animação. Design Social. Desigualdade de Gênero. Violência Contra Mulheres.

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ABSTRACT

KANTIKAS, Kristina. Developing an Animatic Regarding Violence Against Women. Technology in Graphic Design - Federal University of Technology – Paraná.

This work presents data and analyses regarding the theme violence against women, a discussion about the history of the perception and unequality of gender, and a brief record concerning animation and the main production styles of the area. The audiovisual project of this work makes reference to the theme of the text, and it exposes the necessity of debate of the topic through animations inside the current social media. The project proposes the creation of an animatic which shows a situation of violence against women, as well as ways of reaction and information of the audience.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Infográfico 1 - Infográfico do texto “5 Pontos Sobre a Lei Maria da Penha”. ... 24

Figura 1 – Metodologia.. ... 16

Figura 2 – “Violentômetro” feito para informar sobre estágios de atenção e reação de violência contra as mulheres.. ... 27

Figura 3 - Campanha #WhoWillYouHelp.. ... 35

Figura 4 - Campanha "Don’t Be That Guy". ... 36

Figura 5 - Campanha Ponto Final ... 37

Figura 6 - Campanha Ponto Final - Viral Mulher. ... 38

Figura 7 - Imagens capturadas e editadas do vídeo original “Don't Confuse Love & Abuse" ... 38

Figura 8 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “Lyft - Origin Story”. ... 39

Figura 9 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “HSE Little Things: Robert” ... 40

Figura 10 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “Myosis”. ... 41

Figura 11 - alguns trabalhos de Haugomat; imagens editadas para diagramação dentro do trabalho. ... 42

Figura 12 – Thumbnails ... 45

Figura 13 – Storyboard ... 46

Figura 14 - Personagem A. ... 47

Figura 15 - Personagem B ... 48

Figura 16 - Sketch 3D do modelo de corpo das personagens ... 49

Figura 17 - Sketch digital 2D do corpo das personagens ... 49

Figura 18 - Moodboard do cenário ... 50

Figura 19 - Cenário 3D dentro do Blender, desenvolvido para o projeto. ... 51

Figura 20 - Color Script. ... 52

Figura 21 - Flyer - elemento gráfico dentro da animação.. ... 54

Figura 22 - Lista de softwares utilizados. ... 55

Figura 23 - TvPaint; divisão de cenas. ... 56

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LISTA DE SIGLAS

CGI Computer Generated Imagery CNJ Conselho Nacional da Justiça EBC Empresa Brasil de Comunicação

UPGPG Unidade Politécnica de Gestão com Perspectiva de Gênero IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros

LISTA DE ACRÔNIMOS

CEJIL Centro pela Justiça e Direito Internacional

CLADEM Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa Dos Direitos das Mulheres

OEA Organização dos Estados Americanos ONGOV Governo de Ontario

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 11 1.1 PROBLEMA ... 11 1.2 OBJETIVO GERAL ... 12 1.2.1 Objetivo Geral ... 12 1.2.2 Objetivos Específicos ... 12 1.3 JUSTIFICATIVA ... 12 1.4 DESIGN SOCIAL ... 15 1.5 METODOLOGIA ... 16 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ... 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 19

2.1 VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES ... 19

2.1.1 Contexto nacional: a Legislação Brasileira para as Mulheres e a Negligência de Punição aos Agressores ... 22

2.1.2 Tipos de Violência Contra as Mulheres... 25

2.2 ANIMAÇÃO ... 28

2.2.1 ANIMAÇÃO 2D TRADICIONAL, DIGITAL E O 3D ... 28

3 DESENVOLVIMENTO ... 32 3.1 PROCESSO DE ANIMAÇÃO ... 32 3.2 ANÁLISE DE SIMILARES... 33 3.2.1 Em Relação ao Tema ... 34 3.2.2 Em Relação ao Estilo ... 39 4 PROJETO ... 43 4.1 PRÉ PRODUÇÃO ... 43 4.1.1 Thumbnails ... 44 4.1.2 Storyboard ... 45 4.1.3 Personagens ... 46 4.1.3 Cenário ... 49 4.1.4 Animatic ... 51 4.1.5 Color Script ... 52 4.1.6 Áudio ... 53 4.1.7 Flyer ... 54 4.1.8 Softwares ... 55

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4.2 PRODUÇÃO ... 56 4.3 PÓS PRODUÇÃO ... 57 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58 REFERÊNCIAS ... 60 APÊNDICES... 63 APÊNDICE A – Thumbnails ... 64 APÊNDICE B - Storyboard ... 67

APÊNDICE C – Ficha das personagens ... 80

APÊNDICE D – Model Sheet... 81

ANEXOS ... 82

ANEXO A – Rascunho de roteiro – alternativa 1 ... 83

ANEXO B – Rascunho de roteiro – alternativa 2 ... 85

ANEXO C – Rascunho de roteiro – alternativa 3 ... 87

ANEXO D – Letra da música “Desses Nadas”, da banda Mulamba ... 89

ANEXO E – Autorização da Utilização da Música “Desses Nadas” pela banda Mulamba ... 91

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11 1 INTRODUÇÃO

Este trabalho busca analisar e aprimorar o entendimento e conscientização de um problema que nasceu de concepções culturais, mas que ainda é muito discutido em nossa sociedade atual: a violência contra mulheres. O objetivo do trabalho é a criação de um projeto audiovisual até a etapa de um animatic (versão em movimento dos desenhos do storyboard – capítulo 4.1.4) que mostra, pela narrativa e animação, um dos tipos de violência que serão analisados neste trabalho, que é a violência psicológica.

Esta, em termos gerais (pois será melhor definida na sequência desse estudo, na seção 2.3, que trata dos tipos de violência), e de acordo com a Lei nº 11.340/2006 ― popularmente conhecida como Lei Maria da Penha ― pode ser compreendida como qualquer conduta que acabe gerando, por exemplo e principalmente, danos emocionais e psicológicos.

1.1 PROBLEMA

A violência contra a mulher não é um tema recente, extraordinário, ou, ainda, de ocorrência incomum. Ao contrário; a violência parece estar naturalizada e presente nas mais diversas sociedades, e, até hoje, lidamos com esse problema, independentemente de sua localidade de manifestação.

Este trabalho busca promover e evidenciar a relevância e a seriedade da discussão desse problema. A narrativa e os ritmos diferenciados que a animação nos permite utilizar, junto à defesa de que designers também possuem um papel social de relevância dentro da sociedade, possibilitam a conscientização e alcance de muitos tipos diferentes de espectadores. Isso acontece pois eles tornam, de maneira acessível e versátil, possível a demonstração de diversas situações relacionadas à violência contra as mulheres – das mais aparentes às mais sutis –, e o quão reais e próximas elas estão de nós no dia a dia.

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12 1.2 OBJETIVO GERAL

1.2.1 Objetivo Geral

Desenvolver animatic 2D digital retratando e expondo uma situação de desconforto sobre um tipo de violência contra as mulheres, a violência psicológica, com o intuito final de informar e/ou conscientizar o público com acesso à mídia digital.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Identificar, reunir e analisar os tipos até então documentados de violência contra a mulher, assim como avaliar seus dados e estatísticas atuais;

• Argumentar sobre o papel da animação como ferramenta de informação e conscientização;

• Desenvolver narrativa, design, storyboard e animatic sobre o tema para o projeto gráfico;

1.3 JUSTIFICATIVA

A divulgação de notícias sobre casos de violência contra as mulheres se tornou mais frequente em meios de comunicação como jornais físicos, televisivos e digitais. Ainda no primeiro semestre de 2016, no Brasil foram registradas 67.692 denúncias feitas no ligue 180 – central destinada ao Atendimento à Mulher –, uma alta de 147% de relatos de casos violentos comparado com o começo de 2015 (FREITAS, 2016).

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem aproximadamente 208.826.935 milhões de pessoas (IBGE, 2018). Dentre o número total, a população de mulheres é maior que a dos homens, contando com

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13 um número acima de 50% da população brasileira total. Contudo, pesquisas feitas na área de estatísticas de violência ainda mostra como a desigualdade de gênero (principalmente entre homens e mulheres) está presente na nossa sociedade, e de como as mulheres ainda são alvo de crimes de ódio e intolerância, tendo como base uma sociedade que se construiu com a superiorização do homem sobre a mulher.

Desde as concepções criadas pelos filósofos gregos dos primeiros séculos, são analisadas as diferenças marcantes entre os gêneros humanos, sejam elas biológicas, psicológicas ou emocionais. Desde crianças, é de se observar que há uma mentalidade de “batalha entre os sexos” ensinada por agentes socializadores (família, instituições educacionais, grupos sociais), e uma grande determinação, patriarcal e machista, recorrente historicamente, em inferiorizar, desumanizar e/ou objetificar a figura da mulher.

O número de casos que mostram diferentes tipos de violência contra a mulher sobe à medida que os anos passam. Ademais, as pesquisas são guiadas apenas pelos dados dos casos noticiados e registrados perante a lei – o que deixa às escuras o número real de casos que acontecem diariamente por todo o país. Conforme pesquisas feitas pela Secretaria de Transparência – Data Senado em março de 2013, 99% das mulheres brasileiras já ouviram falar da Lei Maria da Penha (Lei 11.340); no entanto, pelo menos 700 mil mulheres ainda sofrem algum tipo de agressão.

Dentro de um país que custa a sair da estagnação de velhos modelos de organização da sociedade - o Brasil está no quinto lugar de um ranking internacional de violência contra as mulheres, segundo dados da Organização Mundial de Saúde dentro da pesquisa de Julio Jacobo Waiselfisz “Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil” -, e acompanhar as tendências internacionais, a sociedade continua a conviver com a mentalidade de inferiorização e submissão da mulher ao papel de dona do lar e à figura de um homem machista tido como norma historicamente. A família nuclear – o pai, a mãe e os filhos -, como a apresentada por Richard Miskolci em seu texto “Do Desvio às Diferenças” (2005), e pensada como norma desde o final do século XIX, é mantida em nossa sociedade – a qual é marcadamente patriarcal, machista e heteronormativa. E, de tal forma, continua também sendo um berço para a violência doméstica: ainda segundo a pesquisa do Data Senado (2013), o Brasil ocupa o 7º lugar nas taxas de feminicídio (crimes de ódio que levam ao assassinato de mulheres pela sua condição de gênero) num ranking de 84 países.

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14 Atualmente, a força dos movimentos e iniciativas contra a violência à mulher – sejam elas expressamente feministas, de igualdade entre os gêneros, de defesa dos direitos humanos, das minorias e/ou dos oprimidos – vêm crescendo no âmbito nacional e internacional. O reconhecimento no Brasil da lei 8305/14, a Lei do Feminicídio, em 2015, é um exemplo disso. A sensibilidade perante o assunto aumenta à medida que a população – principalmente a de mulheres – se mostra mais empoderada, ciente de sua força, e desafiadora do que em momentos históricos anteriores. Contudo, ainda cabe à justiça que seja de fato cumprida, algo que, em prática, não é necessariamente cumprida de acordo com a lei. Segundo a autora Sayonara Moreno em sua postagem “Em dois anos, Lei do Feminicídio pune apenas uma pessoa na Bahia” (2017), para a empresa pública federal EBC (Empresa Brasil de Comunicação), mesmo após a inauguração da Lei do Feminicídio com punições mais duras aos violentadores, ainda assim na Bahia, segundo estado brasileiro com maior número de casos de feminicídio, no período de 2015 à 2017 houve apenas uma punição registrada (MORENO, 2017). O descaso da justiça em facilitação de julgamentos e de seu tempo viável para a realização dos mesmos acaba por ser um motivo mais à desistência da procura da resolução da Lei por muitas mulheres.

Para que a luta pela igualdade e pelo respeito alcance mais públicos, e para que isso se magnifique/continue a se magnificar ainda mais, é necessário divulgar e abordar o problema em mais segmentos da sociedade. Mostra-se urgente, portanto, a necessidade encontrar possíveis maneiras para realizar tal tarefa, de modo a expor, ao menos, algumas faces do problema, e, dessa forma, sensibilizar as pessoas.

O projeto audiovisual deste trabalho busca ajudar a enfatizar a realidade e a importância da conscientização do tema em questão não apenas em importância acadêmica, mas também em âmbito social e pessoal, mostrar o quão próximo ele está de nós, e como ele pode ser, muitas vezes, mascarado sem que percebamos.

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15 1.4 DESIGN SOCIAL

O papel do design como ferramenta e meio de comunicação e informação se dá precisamente pela definição que as autoras Bianca Martins e Edna Lima trazem no capítulo “Design Social, o herói de mil faces, como condição para atuação contemporânea”, do livro O Papel Social do Design Gráfico: História, Conceitos e Atuação Profissional, organizado por Marcos da Costa Braga (2001):

Design social é uma abordagem de projeto que implica tanto metodologias participativas como motivações projetuais e consequências sociais do processo de design. É possível afirmar ainda que o design social também promove valores como sustentabilidade e desenvolvimento sociocultural (LIMA e MARTINS, 2011, p.115).

O design sempre busca atender as demandas da sociedade, sejam elas positivas a alguns ou negativas a outros. Ao abordarmos a ideia de design social voltado para a conscientização sobre assuntos que visam o respeito à terceiros, é com o auxílio da linguagem que o design oferece que podemos ver a disseminação de campanhas e iniciativas, que procuram informar à sociedade sobre um ou mais temas, e cabe aos profissionais da área utilizar-se disso para o benefício e a conscientização da sociedade.

O meio de comunicação que a animação oferece foi escolhido por ser um meio uma alternativa mais oferece um mundo de mais possibilidades que não se limitam à regras do mundo real (ao consideramos o exagero e o abstrato que o live action – representação com atores reais – as vezes não consegue atingir) para explicação do tema.

A animação proposta, junto à sua narrativa e o embasamento teórico, tem o intuito de servir tanto como campanha contra a violência contra a mulher, quanto como material informativo e educacional – o qual poderá vir a ser utilizado e comparado no futuro.

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16 1.5 METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho, as áreas de pesquisa foram separadas em duas: o assunto (violência contra as mulheres) e a técnica (animação), como mostra a figura 1, a seguir.

Figura 1 – Metodologia. Fonte: A Autora (2018).

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17 Tendo como base algumas das etapas propostas por Gavin Ambrose e Paul Harris (2011) para a metodologia Design Thinking, o trabalho se iniciou com a necessidade de discussão e conscientização sobre a violência contra as mulheres. A partir disso, pesquisas foram feitas para entender o que é a violência contra as mulheres, assim como seu histórico de estudos, busca por direitos humanos de igualdade, lutas e manifestações ao decorrer das épocas. Com a utilização de estudos de três autoras brasileiras, foi desenvolvido o tema do trabalho em relação ao que é violência e quais são os tipos de violência dentro da Lei Maria da Penha, assim como a escolha de uma destas para discussão dentro do projeto audiovisual.

Para o projeto de animação, foi utilizado e adaptado a linha de produção proposta pelo animador Andy Beane em seu livro 3D Animation Essentials (2012). Apesar da obra de Beane ser voltada para a animação 3D, o básico do processo de produção de uma animação se mantém único tanto para as animações 2D quanto 3D. As etapas seguidas por esse projeto se encontrão melhor explicadas no capítulo 4.

1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO

O primeiro capítulo apresenta uma breve introdução do presente trabalho de conclusão de curso, discursando sobre o problema, os objetivos e a justificativa à níveis sociais e acadêmicos para o estudo e produção do projeto gráfico.

O segundo capítulo junta a fundamentação teórica a respeito do tema da violência, sendo analisadas e discutidas bibliografias acerca da violência contra as mulher e os tipos mais aparentes em nossa sociedade, e da animação, discutindo a forma da técnica a ser utilizada para o projeto audiovisual do presente trabalho.

O terceiro capítulo apresenta a etapa desenvolvimento do projeto audiovisual, discutindo as três grandes etapas do trabalho prático e a análise de similares em dois pontos: as produções similares ao tema do trabalho e as produções similares ao estilo a ser alcançado pelo projeto audiovisual.

O quarto capítulo possui detalhes e exemplos das etapas seguidas dentro da linha de produção da animação do presente projeto.

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18 O quinto e último capítulo traz as considerações finais da autora em relação às diferentes etapas do trabalho geral, assim como os desafios e resultados obtidos até a finalização do projeto.

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19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esse capítulo se divide em duas partes: a primeira trata da conceituação do que é violência e a violência contra as mulheres, assim como sua tipificação dentro da legislação brasileira; a segunda parte relaciona a argumentação acerca da escolha da técnica de animação utilizada para o projeto audiovisual.

2.1 VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Para iniciarmos a discussão sobre o tema, é necessário que seja feita uma reflexão sobre como se estruturam os processos violentos e suas relações com a opressão de gênero, para que possa ser discutido com mais afinco sobre o que é a violência contra a mulher.

Em seu artigo “A Violência Doméstica Como Violação dos Direitos Humanos”, de 2005, a promotora de justiça criminal Stela Valéria Soares de Farias Cavalcanti discorre sobre os direitos humanos, vitimização, cidadania, violência domésticas e suas consequências em âmbito familiar. Na seção onde conceitua violência de gênero e violência doméstica, a autora comenta sobre o que é, primeiramente, violência:

Violência, em seu significado mais frequente, quer dizer uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar sua vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem ao seu domínio, é uma forma de violação dos direitos essenciais do ser humano (CAVALCANTI, 2005).

O tipo de violência mais evidente é a violência física, pois se mostra visível aos olhos. Porém, é necessário aceitar que outras formas de violência sejam compreendidas e debatidas como tal, por mais subjetivas e não-aparente que sejam.

Ao longo da história dos seres humanos, também é visto que, de acordo com valores e aspectos culturais de diferentes momentos históricos e sociedades, as concepções quanto a violência tendem a mudar, adicionando aspectos que antes não teriam sido percebidos como atos violentos, mas, com novos olhares sobre a sociedade, passam a ser uma forma de violência. A assistente social Martina Mendes

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20 de Lacerda, em seu artigo “A Naturalização da Violência Contra a Mulher Como Construção Sócio-Histórica Passível de Desconstrução”, de 2014, comenta sobre essa dinamização do conceito, ao citar as considerações da psicóloga Irme Salete Bonamigo, autora do ensaio “Violências e Contemporaneidade” (2008):

(...) a modificação em nossa percepção e sensibilidade ‘possibilitam hoje abranger novos tipos de violências que antes não eram considerados, como: discriminação por cor, sexo, idade, etnia, religião, escolha sexual; situações de constrangimento, exclusão ou humilhação’, o que antes era visto como natural, hoje com mudanças ideológicas e a compreensão de equidade social há um aumento na desnaturalização de algumas formas de violência (BONAMIGO, 2008 p. 206, apud LACERDA, 2014. p. 18).

Ao mencionar a naturalização da violência contra as mulheres construída historicamente, Lacerda diz que essa “(...) foi consolidada no seio de uma sociedade hegemonicamente patriarcal, embasada em uma ideia hierárquica, sexista e machista, que estereotipa os sexos através das diferenças biológicas” (LACERDA, 2014. p. 21).

Considerando-se as questões de gênero que se desenvolveram ao longo da história, com a inferiorização e submissão destinados às mulheres por conta de seu sexo biológico e a dominação e não contestação da superioridade do homem, pode-se ver que a violência, assim como o as relações de poder entre os gêneros, foi algo construído socialmente. A professora e feminista brasileira Heleieth Saffioti discursa sobre o assunto em seu livro “Gênero, Patriarcado, Violência” (2004), comentando sobre a transição da visão do homem como o um ser que não teria um papel tão confiável em prover para o seu grupo (dentro do contexto dos primeiros seres humanos pré-históricos) quanto as mulheres com o mesmo papel de prover, para o homem como o centro da sociedade atual. Essa transição, como comenta Saffioti, se deve à “produção de excedente econômico, cerca de 11 mil anos atrás” e à “descoberta de que o homem era imprescindível para engendrar uma nova vida” (SAFFIOTI, p.59, 2004).

É dentro de uma sociedade com essa perspectiva que questões como a cultura de estupro, a sexualização e objetificação das mulheres e crianças crescem e se disseminam, e, pela aceitação histórica da normalidade de uma sociedade patriarcal acabam sendo vistas como naturais. Cavalcanti refuta essas explicações, lançando um olhar para a forma como essas questões foram construídas social e historicamente ao dizer que “(...) os costumes, a educação e os meios de comunicação tratam de criar e preservar estereótipos que reforçam a idéia de que o sexo masculino

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21 tem o poder de controlar os desejos, as opiniões e a liberdade de ir e vir das mulheres” (CAVALCANTI, 2005). Lacerda (2014) afirma que essa naturalização, por ter sido construída de acordo com a cultura e aspectos sociais, é passível de desconstrução, e utiliza uma citação da psicóloga Tânia Pinafi, autora do artigo “Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na contemporaneidade”, de 2007:

A violência contra a mulher é produto de uma construção histórica — portanto, passível de desconstrução — que traz em seu seio estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas relações de poder. Por definição, pode ser considerada como toda e qualquer conduta baseada no gênero, que cause ou passível de causar morte, dano ou sofrimento nos âmbitos: físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública quanto na privada (PINAFI, 2007, p. 1, apud LACERDA, 2014. p. 21).

O Instituto Avon e Data Popular lançaram a pesquisa “Percepção dos homens sobre a violência doméstica contra a mulher” (2013), e Amelinha Teles, coordenadora do projeto “Promotoras Legais Populares”, comenta que a violência é aprendida na passagem:

A violência contra as mulheres é o primeiro tipo de violência com a qual os seres humanos lidam. Os dados são estarrecedores: a cada 24 segundos uma mulher sofre violência. Muitas são agredidas enquanto estão grávidas e seus bebês já nascem em situação de violência. Nesse sentido, é uma das matrizes de outras formas de violência. Isso é resultado de uma desigualdade, que dá aos homens poder sobre as mulheres, inclusive de vida e de morte. Essa violência é aprendida: tanto homens como mulheres aprendem a ser agressores, agressoras e vítimas. Nosso trabalho é desconstruir esse aprendizado (AVON/DATA POPULAR, p. 8, 2013). Ao desenvolvimento da pesquisa, é importante reconhecer o homem como um dos principais agressores em casos de violência contra as mulheres, seja violência doméstica ou as outras vertentes da mesma. Carlos Eduardo Zuma, secretário executivo do Instituto Noos, na mesma pesquisa, diz que:

(...) notamos que ainda é preciso trabalhar com eles [homens] o conceito de violência doméstica, para que entendam que comportamentos mais aceitos pela sociedade, como xingar e humilhar a companheira, são também violência doméstica. E abordou-se também a questão da cultura machista, que leva homens e mulheres a terem expectativas equivocadas sobre o papel de suas companheiras e companheiros e a se julgarem no direito de usar a violência diante de qualquer frustração em relação a essas expectativas. (AVON/DATA POPULAR, p. 4, 2013).

Se mostra, então, de grande necessidade educar e conscientizar tanto homens quanto mulheres a priorização dos direitos humanos e o respeito ao outro por

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22 ambos, mostrando que as ideias sobre superiorização do homem contra a inferioridade da mulher são perspectivas equivocas e machistas.

2.1.1 Contexto nacional: a Legislação Brasileira para as Mulheres e a Negligência de Punição aos Agressores

Lacerda (2014) introduz argumentos em relação à instauração do patriarcado no Brasil, costumes passados pelo processo de colonização da monarquia portuguesa. Ela explica que:

(...) a sociedade estabelecida com normas patriarcais passou a dar total autoridade aos homens e, assim, às leis que se estabeleciam nesta sociedade dominada pelo poder masculino fomentaram o poder aos homens sobre as mulheres, a mulher restou à posição de silêncio, obediência, e de resguardar a chamada honra da família (LACERDA, 2014. p.24).

No contexto do Brasil colonial, os Códigos Penais Brasileiros corroboram a justificação dos atos violentos de homens em relação às mulheres se fosse alegado a legítima defesa da honra dele. Lacerda (2014), ao citar a psicóloga Margarita Danielle Ramos em seu artigo “Reflexões Sobre o Processo Histórico-Discurso do Uso da Legítima Defesa da Honra no Brasil e Construção das Mulheres”, de 2012, diz que: "(...) a honra passa a ser entendida como um bem juridicamente tutelado, o homem ao matar sua esposa, em defesa de sua honra, está simplesmente defendendo um bem que lhe foi lesado anteriormente ao crime de assassinato" (RAMOS, 2012, p.63 apud LACERDA, 2014, p. 25).

Com o avanço dos movimentos sociais por igualdade ao decorrer dos anos, no século XIX o feminismo brasileiro passa a conseguir pequenas vitórias que reivindicavam os direitos das mulheres como direitos humanos. Em 27 de agosto de 1962, a criação Lei de Nº 4.121, o Estatuto da Mulher Casada, passa a permitir que mulheres casadas possam trabalhar no mercado de trabalho, dando a figura da mulher uma maior abertura como um agente de decisões dentro da família. Em 26 de dezembro de 1977, foi criada a Lei de Nº 6.515, conhecida como Lei do Divórcio, que, por mais que dessas vantagens para o homem frente à justiça, também é considerada um avanço na linha do tempo de Lacerda (2014). A autora comenta, ainda, que na

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23 década de 70, a mobilização do feminismo nacional foi intensa com o assassinato de Ângela Maria Fernandes de Diniz por seu companheiro Doca Street, que alegou legítima defesa da honra. Anos depois, Street foi condenado a 15 anos de prisão pelo assassinato de Diniz.

A criação da Lei nº 11.340/06, mais conhecida como Lei Maria da Penha, também foi um grande avanço às conquistas dos direitos das mulheres no Brasil. Com duas tentativas de assassinato feitas por seu companheiro na época, Maria da Penha Maia Fernandes levou dezenove anos e seis meses (de 1983 à 2001) para conseguir o julgamento decisivo de Marco Antonio Heredia Viveros. Pela falta de punição do sistema judiciário brasileiro em relação aos homens agressores, Fernandes conseguiu, com ajuda de ONGs como o CEJIL (Centro Pela Justiça e Direito Internacional) e do CLADEM (Comitê Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher), levar os fatos do crime para a OEA (Organização dos Estados Americanos), em 1977, que, por consequência, exigiu respostas e uma nova conduta da República Brasileira quanto aos direitos das mulheres. Após inúmeras tentativas de conversa com o Estado Brasileiro, a OEA finalmente impôs medidas corretivas às leis brasileiras que regiam sobre a violência contra as mulheres no país.

No texto de Bruno Blume, bacharel em relações internacionais, de título “5 Pontos Sobre a Lei Maria da Penha”, publicado no site Politize, em outubro de 2015, o autor discorre sobre como eram atendidos casos de violência contra as mulheres antes da Lei nº 11.340/06 e suas principais mudanças (algumas das quais estão são explicadas didaticamente no artigo “Lei Maria da Penha e a Sua Efetividade”, 2008, de Antônia Alessandra Sousa Campos), como é mostrado no infográfico 1, na página a seguir:

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24 Infográfico 1 - Infográfico do texto “5 Pontos Sobre a Lei Maria da Penha”, de Bruno Blume.

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25 Campos, ainda em seu artigo sobre a efetividade da Lei Maria da Penha (2008), discorre sobre as primeiras reações à implementação da Lei nº 11.340/06, com apenas dois anos de seu lançamento. Como formas de inferiorizar e ridicularizar a lei, Campos comenta que:

A lei foi recebida com desdém e muita desconfiança, muitas vezes chamada de indevida, inconveniente e até mesmo de ‘conjunto de regras diabólicas’ e ‘monstrengo tinhoso’, como a denominou o Juiz Mineiro, Edilson Rumbelsperger Rodrigues, em uma decisão que ficou conhecida no Brasil, chegando inclusive ao conhecimento do Conselho Nacional de Justiça. Há atualmente inúmeros estudos suscitando dúvidas, apontando erros, identificando imprecisões e até mesmo proclamando-a de inconstitucional. Todos esses ataques são motivos para tentar torná-la inviável, ao mesmo tempo em que tentam impedir sua efetividade (CAMPOS, 2008).

2.1.2 Tipos de Violência Contra as Mulheres

O Instituto Maria da Penha (IMP), em 2017, tornou público um site chamado “Relógio da Violência”, o qual tem como base as pesquisas feitas pelo DataFolha no mês de fevereiro de 2017. O site é atualizado automaticamente em tempo real, e mostra dados que são recalculados de acordo com as informações recolhidas pela pesquisa. Nas diferentes seções, pode ser visto a estatística, por dia, de mulheres que já sofreram algum tipo de violência, separadamente. O site possui informações sobre a Lei nº 11.340/2006, como a explicação do que a mesma considera como atos violentos contra a mulher. Segundo o site, mais a complementação do site do CNJ (Conselho Nacional da Justiça), os tipos de violência contra a mulher são:

● A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal: espancamento; atirar, sacudir e apertar os braços; torturas; dentre outros;

● A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões: ameaça; constrangimento; humilhação;

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26 manipulação; proibir de sair de casa, falar com os amigos; vigilância constante; insulto; chantagem; dentre outros;

● A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força: estupro; impedir o uso de contraceptivos; forçar matrimônio, gravidez ou prostituição; limitar ou anular os direitos sexuais e reprodutivos da mulher; dentre outros;

● A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades: furto, dado ou extorsão; controlar o dinheiro; destruição de documentos pessoais; causar danos de propósito a objetos da mulher ou dos quais ela goste; dentre outros;

● A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria: denegrir a imagem da mulher; expor vida íntima; distorcer e omitir fatos que façam a mulher a questionar a própria sanidade; desvalorizar a vítima pelo seu modo de vestir; dentre outros.

Com base nos estudos feitos pela UPGPG (Unidade Politécnica de Gestão com Perspectiva de Gênero do México), denominado “Violentómetro y Semáforo de la Violencia”, com base de entrevistas feitas mais de 14 mil estudantes de nível médio e superior em 2009 no México pela UPGPG (SECRETÁRIA DE EDUCACIÓN PÚBLICA, s.i), o Senado Federal do Brasil elaborou uma versão em português de “violêntometro”, que mostra uma escala de violência com o seu determinado índice de atenção e reação como informativo para as mulheres, como mostra a figura 2, na página a seguir. O informativo foi feito em novembro de 2016, no mês do dia internacional contra a violência contra as mulheres.

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27 Figura 2 – “Violentômetro” feito para informar sobre estágios de atenção e reação de violência contra

as mulheres.

Fonte: Consumidor Moderno.

O Instituto Avon, junto do Data Popular, mostra que muitos homens ainda não consideram atos violentos aqueles que saem de questões físicas. Ao questionar e estimulá-los com diversas opções de formas consideradas violentas, os homens entrevistados para a pesquisa “Violência Contra a Mulher no Ambiente Universitário”,

de 2015, pelo menos 38% dos 732 entrevistados diz ter cometido algum tipo de violência listado na pesquisa. As alternativas da lista são listadas a seguir:

● Assédio Sexual: comentários com apelos sexuais indesejados; cantadas ofensivas; abordagem agressiva;

● Coerção: ingestão forçada de bebida alcoólica e/ou drogas; ser drogada sem conhecimento; ser forçada a participar de atividades degradantes (leilões, desfiles);

● Violência Sexual: estupro; tentativa de abuso enquanto sob efeito ácool; ser tocada sem consentimento; ser forçada a beijar veteranos;

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28 ● Desqualificação Intelectual: desqualificação ou piadas ofensivas, ambos por

ser mulher.

● Agressão Moral ou Psicológica: humilhação por professores e alunos; ofensas; xingada por rejeitar investidas; músicas ofensivas cantadas por torcidas acadêmicas; imagens repassadas sem autorização; rankings (beleza, sexuais e outros) sem autorização.

É de grande importância e relevância de uma pesquisa como essa ser mencionada no presente trabalho. O projeto desenvolvido busca tratar sobre a violência psicológica, trazendo uma situação que tenha como alvo um público jovem/adulto, possivelmente de cenários acadêmicos como esse. É, pois, de necessidade a discussão e informação sobre o tema com crianças, jovens e adultos acerca das formas de violência que transpassam e cruzam “a linha” dos atos físicos, e passam (também) para o lado psicológico e moral.

A seguir, o próximo capítulo traz uma introdução acerca do meio que será utilizado para a produção do projeto audiovisual, complementando e apresentando a relevância de sua escolha.

2.2 ANIMAÇÃO

2.2.1 ANIMAÇÃO 2D TRADICIONAL, DIGITAL E O 3D

A animação tradicional 2D utiliza desenhos em quadros - frame-by-frame -, geralmente entre 16 a 24 quadros por segundo. A descoberta das folhas de acetato como uma forma de evolução da técnica foi muito utilizada devido sua praticidade da criação dos desenhos de objetos e personagens em folhas individuais, sendo desnecessário o re-desenho de cenários e personagens por completo. Atualmente, a técnica evoluiu com a utilização de caixas de luz e folhas sulfite ou de substratos semi-transparentes, deixando de lado a pintura direta nas folhas de acetato.

A animação tradicional 2D é muito utilizada ainda no Japão para filmes animados,e principalmente (mas não exclusivamente) para o gênero anime, o estilo denominado para as séries de animações japonesas. Como está presente no texto

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29 informativo “Anime Production – Detailed Guide to How Anime is Made and the Talent Behind it!” (2011), do blog Washiblog, a preferência para os desenhos iniciais das produções de anime ainda é pelo método tradicional, pois o desenho em papel permite expressar melhor a individualidade do artista e do desenho. Além disso, grande parte dos artistas se sentem mais confortáveis pelo meio tradicional, que também permite uma rápida e ágil forma de lidar com erros e correções de quadros. Para o diretor e escritor japonês Hayao Miyazaki, um dos principais fundadores do estúdio japonês Ghibli, o desenho feito com lápis e papel é fundamental para a animação (GHIBLI GABBLE, 2013).

A partir de 1960, a área de animação já começa a se estender com artistas que já utilizavam computadores, ainda que as novas ferramentas tecnológicas fossem limitadas. Foi a partir de 1970, com o desenvolvimento dos pesquisadores canadenses Nester Burtnyk e Marceli Wein, que as técnicas de animação por keyframes (quadros chave) e controle por esqueleto repercutiram na área da animação (JÚNIOR, 2002. p. 313). Burtnyk e Wein tinham como objetivo desenvolver sistemas digitais que facilitassem a animação digital para o mercado cinematográfico, para que os animadores que quisessem se aventurar no mundo digital pudessem aprender e produzir de maneira eficiente sem se preocupar com a parte mais técnica de programação. Com essa premissa, os pesquisadores desenvolveram os sistemas que hoje são utilizados por muitos programas de animação digital: a interpolação dos keyframes pelo próprio computador.

Atualmente, diversos programas foram desenvolvidos para ajudar no processo de animação digital 2D. Os mais notáveis são Toon Boom Studio, que junta aspectos da animação quadro por quadro da animação tradicional com animação vetorial – a qual complementa os keyframes com movimentação gerada pelo programa; TVPaint, que se aproxima da animação tradicional ao ser voltado para animação quadro por quadro, apresentando ferramentas que busquem a simulação do meio tradicional; Adobe Photoshop, que, apesar de não ser um programa voltado para animação, possui ferramentas básicas para animação de quadros por quadros; After Effects, direcionado para animação com keyframes e edição de vídeos; e o Adobe Animate, o software específico da empresa Adobe para animações. Dentre outras formas de animação 2D, há a rotoscopia (desenhos sucessivos feitos sobre frames de um vídeo); o flipbook (livreto com desenhos em sucessão em cada folha); o cutout animation, na qual é criado um “esqueleto” com a separação dos principais

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30 membros do personagem, e a animação é feita pela movimentação dessas junções; e o motion graphics, que é a animação de textos, gráficos e formas, muito utilizado para animações comerciais ou explicativas.

Desde 1980, a indústria da animação cresceu muito com a evolução da tecnologia e da informática para as mídias digitais, dando uma enorme abertura para a animação 2D digital e 3D. Segundo a dissertação de Hyejin Yoon, “The Animation Industry: Technological Changes, Production Challenges, and Global Shifts”, 2008, a autora diz que a mudança tecnológica mais significante na indústria da animação é o uso da imagem de computação gráfica (em inglês, computer graphic imagery ou computer generated imagery – CGI). A criação e desenvolvimento de plataformas 3D dentro do virtual revolucionaram a animação ao deixar o desenho feito a mão e darem espaço ao poder da programação para dar base aos movimentos de uma personagem, oferecendo um potencial atraente de corte de custos e prazos para as produções atuais. Assim como seus contribuidores passados, as formas de animação digital se disseminaram e deram espaço a novas formas e técnicas de animação dentro do âmbito virtual.

A animação se mostra como um meio efetivo de disseminação de ideias e informações. Ao se juntar à uma história, a narrativa, seja qual ela for, e a animação atingem um nível de apelo que atrai o imaginário criativo do espectador ao dar espaço para um mundo de ilimitadas ações que não precisam respeitar as leis do mundo físico. A narrativa, então, é tão importante quanto às próprias imagens, sendo que as imagens facilitam a visualização para o cérebro humano entender o que lhe foi passado. Segundo o escritor Jonathan Gottschall, especializado em literatura e evolução, em seu livro “The Storytelling Animal - How Stories Makes Us Human”, 2012, a narrativa, seja em qual meio que ela estiver inserida, tem o poder de moldar nossas ideias:

“(...) a ficção molda, sim, nossas mentes. Histórias - sejam elas entregues por filmes, livros ou video-games - nos ensinam fatos sobre o mundo; influenciam nossa lógica moral; e nos marcam com medos, esperanças e ansiedades que alteram nosso comportamento, ou, até mesmo, nossas personalidades. Pesquisas mostram que narrativas estão constantemente nos roendo e nos massageando, dando forma às nossas mentes sem o nosso conhecimento ou consentimento. Quanto mais profundamente estivermos enfeitiçados por uma história, o mais potente será sua influência” (GOTSCHALL, 2012. p. 245)

Ao continuar com sua tese, Gotschall (2012) comenta sobre as os textos do psicólogo comportamental Raymond Mar, que diz que: “pesquisas têm comprovado

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31 repetidas vezes que as atitudes do leitor se deslocam para se tornarem mais congruentes com as ideias expressas em uma narração fictícia”. Ou seja, a narração fictícia tem um poder de atuação efetivo ao formular uma ideia, tanto quanto um argumento não fictício e baseado em lógica.

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32 3 DESENVOLVIMENTO

Esse capítulo será dividido em duas partes: uma breve explicação sobre as etapas a serem consideradas e seguidas na produção de uma animação; a análise de similares que influenciarão o projeto de audiovisual desse trabalho.

3.1 PROCESSO DE ANIMAÇÃO

A animação 2D tradicional, mais especificamente as produções para filmes ou desenhos animados, tem uma diferenciação de pipeline (linha de produção) que se diferencia de das formas prévias de animação mostradas no infográfico X, do capítulo 3, mas que também dão base às novas formas de animação 3D modernas. Para esse trabalho, serão comentadas as etapas relacionadas à produção de animações 2D que interessam ao projeto audiovisual.

Segundo a Miracle Animation Studios Inc (2013), a pipeline de animação 2D se divide em três principais etapas: a pré-produção, produção e pós-produção.

• PRÉ-PRODUÇÃO

Na pré-produção, normalmente são feitas as sub-etapas de criação do conceito do script (enredo), storyboarding (sketches de quadros chaves de cenas e movimentos), gravação de áudio, animatic (animação do storyboard), criação dos personagens, cenários e objetos, e são feitas considerações sobre as cores a serem utilizadas na animação. A pré-produção é a etapa mais importante de uma animação, já que é nesse momento que a ideia é construída e dará base às outras etapas que virão a seguir. Assim como vários processos criativos, é normal que o animador tenha que voltar atrás algumas etapas para arrumar pequenas questões, porém uma base bem estruturada pode evitar maiores transtornos ao decorrer do processo, que, ao longo do projeto, podem se tornar grandes desvantagens em tempo e, até mesmo, dinheiro. Vale ressaltar aqui sobre a importância de pesquisar referências para o

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33 projeto, sejam referências de escrita, narrativa, animação, estilos de desenho, cores e música.

• PRODUÇÃO

Na produção são feitas as partes de detalhamento e finalização de cenários, animação, limpeza dos in-betweens (desenhos que preenchem os quadros chaves feitos no storyboarding), composição e fechamento/processamento da animação (rendering). É nessa etapa que será feito um “polimento” de toda as ideias produzidas pela pré-produção. A parte de detalhamento é mais longa ao considerar as outras principais etapas da pipeline, e onde pode ter mais ocorrência de voltar para pré-produção para consertar ou arrumar questões que podem estar causando problemas.

• PÓS-PRODUÇÃO

A pós-produção conta com a composição de cenários com animações, a adaptação da música e dos efeitos sonoros, edição e final rendering do vídeo para mídia de escolha. A pós-produção, tanto na mídia tradicional quanto a mídia digital, é o que fará todas as partes finalmente darem a sensação de uma unidade.

3.2 ANÁLISE DE SIMILARES

A análise de similares entra como uma parte da pré-produção (mencionada anteriormente) do presente projeto audiovisual, e dá uma base e direção ao estilo das narrativas e do estilo do trabalho. Essa análise de similares foi dividida em duas áreas: uma sobre produções que se relacionam ao tema do projeto como um todo (a violência contra as mulheres), e outra parte sobre o projeto prático em si - estilos que influenciarão o projeto audiovisual.

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34 3.2.1 Em Relação ao Tema

Atualmente existem várias produções que retratam e chamam a atenção para a violência contra as mulheres. Não é de se surpreender: em uma mentalidade – não nova, mas que tem conquistado, nas décadas mais, voz mais ativa – que se dissemina a igualdade entre gêneros, entre grupos sociais e étnicos, muitos estão se juntando para reivindicar um mundo mais igualitário, quebrando com os paradigmas de uma sociedade retrógrada e conservadora.

Grande parte das representações aqui separadas se atém a produções no estilo live-action, ou seja, contando com a utilização de atores reais, buscando interpretar e apresentar situações sobre a violência física. Apesar das diferenças de técnica e, de certa forma, assunto, ainda é importante que os diversos exemplos de produções que discutam sobre o tema sejam analisados, para que possamos ter uma variedade de estilos de arte, reprodução, pensamento e diálogo a ser considerados.

O primeiro vídeo que mais se aproxima do tema ao ser considerada a narrativa, é a campanha “#WhoWillYouHelp” lançada em 2015 pela ONgov, Governo de Ontario (estado canadense). Seu principal objetivo é incentivar a consciência de é necessário ajudar as mulheres em situações de risco, como deixa claro o próprio nome dos vídeos: “Quem você irá ajudar?”.

A proposta da campanha foi a criação de pequenos vídeos em live-action, nas quais diferentes situações apresentavam diferentes formas de assédio sexual e moral contra mulheres, e como a cumplicidade de quem vê e se cala também é considerada um ato de violência contra elas.

Nos vídeos, situações como a de um homem colocando uma droga desconhecida na bebida de uma mulher distraída (figura 3, na próxima página), são apresentadas, sempre com seus pré-finais contando com o silenciamento do espectador no momento que o assediador agradece por sua cumplicidade no ato. Ao chegar no final da situação demonstrada em cada vídeo, é passada uma mensagem que leva a conscientização do problema, além de medidas que podem ser tomadas pelo espectador: “When you do nothing, you’re helping him. When you do something, you’re helping her” (“Quando você não faz nada, você está ajudando ele. Quando você faz alguma coisa, você está ajudando ela”, em tradução livre).

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35 Figura 3 - Campanha #WhoWillYouHelp.

Fonte: Youtube, Governo de Ontario, 2015.

Outra campanha canadense que fez sucesso por sua linguagem e efetividade foi “Don’t Be That Guy”, que discute, em imagens publicitárias bem pensadas, a cultura de estupro e o sexo sem consentimento.

Originalmente criada em Edmonton, Alberta – Canadá, pelo grupo Sexual Assault Voices of Edmonton, a campanha tinha como público alvo homens de 18 a 25 anos, levando a proposta de conscientização dos mesmos como responsáveis por suas atitudes em espaços de festas e situações que envolvessem o consumo de álcool. Com a máxima de “sexo sem consentimento = assédio sexual”, as imagens publicitárias contavam situações como a de uma mulher desmaiada em um sofá após muitas bebidas, com a frase “só porque ela não está dizendo ‘não’, não quer dizer que ela esteja falando ‘sim’” (figura 4, na próxima página). Os estudos feitos pela equipe que levou em frente a campanha mostraram que 48% dos homens na faixa etária do

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36 público alvo não considerava estupro se a mulher estivesse bêbada demais para saber o que estava acontecendo (BATTERED WOMEN’S SUPPORT SERVICES, 2010). Com essa estatística quanto a mentalidade quase que da metade dos homens entrevistados, se mostra de extrema importância mostrar que não há desculpa para esse tipo de atitude.

Figura 4 - Campanha "Don’t Be That Guy". Fonte: Savedmonton, 2010.

A campanha “Ponto Final na Violência Contra as Mulheres e Meninas” (coordenada pela Rede Feminista de Saúde), de 2010, foi uma iniciativa desenvolvida no Brasil, mas que possuiu âmbito internacional e foi realizada conjuntamente com outros países da América Latina e Central. Por meio do uso da animação, como mostra a figura 5 na página a seguir, a campanha mostrava algumas possibilidades de mudanças de atitudes e formas de acabar com a linha de pensamentos que leva à violência. Outros vídeos, feitos para a campanha no estilo live-action também possuem narrativas próximas às da campanha #WhoWillYouHelp, falando sobre diferentes situações nas quais há algum tipo de assédio ou violência contra a mulher; todos possuem uma máxima, com o pedido de “um ponto final” para esse problema.

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37 Figura 5 - Campanha Ponto Final.

Fonte: Campanha Ponto Final, 2010.

A campanha também produziu vídeos com atores reais (figura 6, na página a seguir), que, pela proposta, “optam por uma abordagem reflexiva em relação à violência contra as mulheres e meninas com referência no cotidiano” (segundo descrição oficial do grupo). O objetivo é exatamente promover o espectador a se posicionar e ser agente atuador de mudanças contra a violência contra as mulheres.

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38 Figura 6 - Campanha Ponto Final - Viral Mulher.

Fonte: Campanha Ponto Final, 2010.

O vídeo ”Don’t confuse Love & Abuse” (figura 7, a seguir), produzido pela organização Day One, junto com a agência de propagandas BBDO Nova York e o diretor brasileiro Guilherme Marcondes, mostra a realidade de uma garota adolescente em um relacionamento amoroso. Ao decorrer da narrativa, diversas “bandeiras vermelhas” (sinais) começam a surgir em relação ao seu namorado, levando à situações de abuso emocional e verbal por ele contra ela.

Figura 7 - Imagens capturadas e editadas do vídeo original “Don't Confuse Love & Abuse" Fonte: http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/dont-confuse-love-abuse/

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39 3.2.2 Em Relação ao Estilo

O estilo buscado para o presente trabalho é um que se tornou tendência para estúdios de design e propaganda para empresas, ou então vídeos explicativos (explainers): formas simplificadas, cores e movimentos. Os exemplos da figura 13, a seguir, se relacionam nesse sentido, ao mostrarem a composição desses e outros quesitos, comentados a seguir.

“Lyft - Origin Story” Buck TV - 2016

Figura 8 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “Lyft - Origin Story”. Fonte: https://vimeo.com/192725431

O estilo oferecido pelo estúdio norte-americano Buck no curta “Lyft - Origin Story” é um tanto quanto colorido, e apresenta uma ótima combinação com o estilo simples e de ilustração em lápis no papel da animação (figura 8, acima). A escolha de paletas análogas e complementares tem se mostrado uma tendência em animações voltadas para publicidade e/ou comerciais, por mostrar não só uma estética agradável, mas também por proporcionar um melhor entendimento das informações passadas por outros aspectos das animações.

A simplificação e estilização dos desenhos, em uma característica mais de ilustração estática, diferenciando-se do estilo de animação vetorial - na qual as linhas são mais perfeitamente curvas e calculadas -, também é um atrativo visual. Apesar da estilização, as formas mais simples tornam o processo de animação mais viável no

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40 quesito de tempo, mas ainda assim entregando a ideia de visuais mais sérios, ainda que informais.

“HSE Little Things: Robert” Art&Graft - 2014

Figura 9 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “HSE Little Things: Robert” Fonte: https://vimeo.com/109249452

Assim como o exemplo anterior, a animação feita pelo estúdio inglês Art&Graft “HSE Little Things: Robert” (figura 9, acima) também segue uma tendência de comercial com ilustrações animadas. O estilo do desenho é estilizado em suas formas, procurando apresentar muitas formas geométricas, porém com paletas mais amplas do que o exemplo anterior. Ao deixar de lado as paletas mais limitadas, o vídeo apresenta a combinação das texturas que se animam junto aos desenhos. A simplicidade da forma, junto com aspectos do motion graphics, passam a informação de uma forma efetiva ao narrar visualmente a história de um jeito que não quebre a atenção do que está sendo narrado verbalmente.

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41 “Myosis”

Gobelins - 2013

Figura 10 - imagens capturadas e editadas do vídeo original “Myosis”. Fonte: https://vimeo.com/73617382

O projeto audiovisual de graduação dos alunos Emmanuel Asquier-Brassart, Ricky Cometa, Guillaume Dousse, Adrien Gromelle e Thibauld Petitpas (figura 10, acima) para a Ecole de I’image Gobelins, faculdade de animação, cinema, artes visuais em geral na França, é um dos grandes motivadores visuais do presente trabalho. O curta conta apenas com movimentos, cores e a trilha sonora para contar a história, mostrando que palavras ou narração verbal não são necessárias para transmitir a ideia e o sentimento da animação. As cores, um dos aspectos mais fortes do curta, contam com uma paleta limitada de cores análogas que intensificam as emoções dos personagens da história. A falta de palavras é compensada com a dinâmica dos movimentos que utiliza o estilo de “liquid animation” - formas fluidas que transacionam entre as chaves de animação de forma orgânica, quase líquida -, o que proporciona uma estética mais atrativa e dá espaço para que o telespectador acompanhe a narrativa de uma forma mais íntima.

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42 Tom Haugomat

Ilustrador

Figura 11 - alguns trabalhos de Haugomat; imagens editadas para diagramação dentro do trabalho. Fonte: https://www.behance.net/tomhaugomat

O ilustrador francês Tom Haugomat tende a desenhar formas humanas proporcionalmente mais próximas do desenho mais realista, tendo um grande atrativo em sua escolha de cores e uso de silhuetas em suas ilustrações (figura 11, acima). As paletas são limitadas, podendo ser análogas, complementares ou tríades, e as silhuetas são marcantes, geralmente sem sombras, apenas lidando com linhas e contornos que dão identidade às formas simples.

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43 4 PROJETO

Nesse capítulo estarão presentes as etapas do processo de animação comentadas no capítulo anterior (pré-produção, produção e pós-produção), explicando as diferentes técnicas e materiais de apoio que serão utilizados como base para o presente projeto.

4.1 PRÉ PRODUÇÃO

O tema escolhido para a animação é a violência contra as mulheres, um assunto de importância social que justifica a vontade e necessidade de realização do projeto gráfico. Contando com essa premissa, foram feitas pesquisas sobre o que é violência e como a violência se relaciona com as mulheres. Por ser um tema muito amplo e sensível, o subtema violência psicológica foi escolhido para a ser explorado na animação. A relevância da escolha é da possibilidade do material produzido para esse projeto servir como uma referência à um tipo de violência que não é comentado tanto como a violência física, exatamente por essa não se mostrar tão aparente.

A análise de similares apresentada no capítulo anterior serve como base para a criação da narrativa do projeto. Os similares do tema possuem diversas abordagens para diferentes tipos de violência, principalmente para as físicas (assédio sexual e doméstica), mas também contam com a ideia do sofrimento calado pelo qual muitas mulheres passam.

Após a leitura e análise das alternativas de rascunhos de roteiros, produzidos em parceria com a aluna do curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Maritsa Kantikas (anexos A, B e C), a narrativa 1 (anexo A) foi escolhida. O rascunho da narrativa, junto à modificações feitas na história com ajuda o storyboard, foi gerada uma logline com base no seguinte tema e narrativa:

"Ao receber inúmeras mensagens de ódio de seu parceiro enquanto estava em companhia de sua amiga, uma mulher se perde dentro de memórias que a levaram-na a se contrair em si mesma. Sem saber

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44 como voltar para a realidade, ela tenta lutar contra o que a prende dentro de um relacionamento abusivo”.

A utilização de técnicas em 3D foi de grande suporte para esse trabalho. Apesar de que o projeto não se desenvolverá em formas 3D, a fase de criação dos conceitos de personagem e cenário (que serão melhor explicadas nos tópicos a seguir) tiveram um avanço de tempo significativos dentro do cronograma do trabalho, permitindo que os mesmos fossem vistos de diversos ângulos, algo que apenas o desenho não permitiria com tanta facilidade.

4.1.1 Thumbnails

Com base no rascunho da narrativa 1 (anexo A), foram desenhados diversos thumbnails, definidos como “um rápido pensamento visual” por J.K Riki, animador e escritor para o site de referências em vídeos e artigos Animator Island (2016). Ainda segundo o animador, a geração de thumbnails é uma etapa importante no processo de animação, pois permite que, ainda no começo da ideia, seja dado uma maior atenção a história como um todo sem detalhar, para que no final não haja tanto trabalho na organização de história e detalhamento gráfico. Riki comenta que os desenhos rápidos “(...) permitem a você a tirar da sua cabeça poses ou emoções e colocá-las em uma página, para que então você possa substituir o espaço em seu cérebro por novos pensamentos, sem perder a ideia do primeiro pensamento” (RIKI, 2016).

Os thumbnails produzidos para o projeto (figura 12, na página a seguir) serviram como uma primeira perspectiva sobre o visual, posições e cortes de câmera, assim como também um novo rumo para a situação e resolução da narrativa para a animação. As páginas de thumbnails completas podem ser vistas no Apêndice A.

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45 Figura 12 – Thumbnails.

Fonte: A autora (2018).

4.1.2 Storyboard

Após feitos os thumbnails junto às anotações das ações nos desenhos, foi pensado e desenhado um storyboard inicial (apêndice B), o qual modificou e adaptou os acontecimentos da narrativa para que as partes gráfica e lúdica da animação se tornassem mais interessantes visualmente. Alguns quadros do storyboard são representados na figura 13, na página a seguir, e o conteúdo completo no Apêndice B.

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46 Figura 13 – Storyboard.

Fonte: A autora (2018).

4.1.3 Personagens

Com a ajuda da narrativa e do storyboard, foram criadas as fichas e model sheets (apêndices C e D, respectivamente) das personagens principais da animação.

As personagens foram pensadas como possíveis estudantes em nível superior, levando em consideração o público-alvo inicial da animação. Sobre isso, é pertinente comentar: a princípio, consideramos que esse público poderia ser mulheres em nível acadêmico, por julgarmos que haveria maior identificação com as personagens. No entanto, mediante mais discussões e sugestões das avaliadoras do presente trabalho, e por acreditar na capacidade de compreender e atingir mais grupos sociais, estendemos nosso público-alvo para mulheres em geral, de diferentes agrupamentos etários, econômicos, étnico-raciais, e assim por diante, com acesso à mídias digitais. Considera-se também, aqui, o público alvo de fãs da banda Mulamba, a qual autorizou a utilização da canção “Desses Nadas” (seção 4.1.6); mulheres e homens jovens e

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47 adultos, os quais muitos fazem parte de comunidades LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgêneros) e movimentos feministas, com posições mais críticas dos modelos machistas, corrupto, patriarcais e violentos da sociedade atual.

Na seara das roupas e acessórios, o contraste é um indicativo visual das diferenças de personalidades entre as personagens principais, pois ajuda a enfatizar a ideia de uma personagem mais retraída (personagem A, figura 14, a seguir) e outra mais descontraída (personagem B, figura 15, na página a seguir).

Figura 14 - Personagem A. Fonte: A autora (2018).

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48 Figura 15 - Personagem B

Fonte: A autora (2018).

O design dessas personagens levou em consideração às formas simples analisadas no estudo de similares em relação ao estilo (capítulo 3.2.2), que facilitam não apenas na leitura das silhuetas (os contornos da sombra de uma pessoa ou objeto), mas também beneficiam na animação das mesmas. A estilização das personagens em seus corpos compridos dá um toque lúdico e levemente exagerado que a animação permite em sua construção, mas que ainda remete ao mundo real.

Para a geração dos desenhos iniciais, uma versão 3D (figura 16, na próxima página) foi feita no software Zbrush (programa de escultura em estilo clay digital). A versão 3D serviu como uma importante base para a geração das alternativas dos desenhos 2D iniciais (figura 17, na próxima página).

(50)

49 Figura 16 - Sketch 3D do modelo de corpo das personagens

Fonte: A autora (2018).

Figura 17 - Sketch digital 2D do corpo das personagens Fonte: A autora (2018).

4.1.3 Cenário

A ideia do cenário se deu pela escolha de um ambiente gastronômico descontraído, em formato cada vez mais replicado (no Brasil), e comumente frequentado por estudantes (público-alvo inicial da animação, conforme descrevemos anteriormente).

Referências

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