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A ação do Estado nas teorias do desenvolvimento regional

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

MAURICIO GALEAZZI MEDEIROS DE FARIAS

A AÇÃO DO ESTADO NAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Ijuí 2014

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MAURICIO GALEAZZI MEDEIROS DE FARIAS

A AÇÃO DO ESTADO NAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Artigo Científico apresentado à Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para a conclusão do Curso de Ciências Econômicas, examinado pela seguinte comissão de professores:

Ijuí, ____ de _____________ de _____.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Professor (Nome do orientador)

Afiliações

________________________________________ Professor (Nome do professor avaliador)

Afiliações

________________________________________ Professor (Nome do professor avaliador)

Afiliações

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Mauricio Galeazzi Medeiros de Farias1

RESUMO: Atualmente o desenvolvimento das regiões tornou-se um assunto bastante

discutido entre economistas de todas as linhas do pensamento. Este artigo caracteriza o papel do estado em algumas teorias do Desenvolvimento Regional que apesar de serem pensadas em outras épocas, ainda fazem parte da literatura atual e também, possuem identificação com as idéias de Keynes como a Teoria da base de Exportação, Pólos de Crescimento, Big Push, Teoria da Causação Circular, os Encadeamentos de Hirshman, a CEPAL e o processo Endógeno. Justificando-se a escolha destas por serem teorias de intervenção do poder público e pela grande influência nas políticas implantadas por governos de diversos países inclusive no Brasil. Permite assim, reflexões na direção de um novo modelo de desenvolvimento com bem estar social.

Palavras-chave: Papel do Estado; Teorias do Desenvolvimento; Políticas de

Desenvolvimento Regional

ABSTRACT: Currently the regions have become a widely discussed topic among economists

of all lines of thought. This item features the role of the state in some theories on Regional Development that although they are thought of in other times, are still part of the current literature and also have identification with the ideas of Keynes as the export base theory, growth poles, Big Push, Theory of Causation Circular, the threads of Hirshman, ECLAC and the endogenous process. Justifying the choice of these when they were intervention theories of public power and influence in policy implemented by governments in several countries including Brazil. Thus allows reflections towards a new model of development with social welfare.

Keywords: Role of the State; Theories of Development; Regional Development Policies

1- APRESENTAÇÃO

Este artigo sobre a ação do Estado nas teorias do Desenvolvimento Econômico Regional foi pensado e elaborado durante a disciplina Monografia II do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ sendo este, um trabalho de conclusão do curso de graduação.

2- INTRODUÇÃO

Economistas, sociólogos, antropólogos, ambientalistas, historiadores e geógrafos, entre outros estudiosos de diversas áreas do conhecimento, dedicam muita atenção ao desenvolvimento. Por terem objetivos diferentes, formam muitas teorias e modelos que

1 Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Noroeste do Estado – Unijuí, Ijuí – RS – Brasil. Email: mauricio.galeazzi.farias@gmail.com

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discutem este tema. Em consequência disso, surgem também muitas definições tornando o conceito subjetivo, ambíguo e bastante discutível.

Abaixo temos um quadro com a evolução do conceito de desenvolvimento.

Época Pensamento

1759 (Wolf)

Processo de evolução dos seres vivos para o alcance da sua potencialidade genética.

1774

(Herder) Ápice da sociedade – História Social.

1800 O homem é o principal responsável pelas mudanças positivas enegativas de uma sociedade – auto-desenvolvimento. 1859

(Darwin)

Um movimento na direção da forma mais apropriada. Evolucionismo social.

1900

(Desenvolvimento urbano)

Tudo que pode ocasionar transformação das áreas periféricas urbanas

1939

(Lei do desenvolvimento das colônias)

Cuidar do bem-estar dos nativos.

1949 (Truman)

“O que imaginamos é um programa de desenvolvimento baseado nos conceitos de uma distribuição justa e democrática.” Era do Desenvolvimento. 1960 (Ano da descolonização) Independência e pobreza. 1968 (Clube de Roma)

Publicação do relatório Limites do Crescimento – Meio ambiente e sobrevivência humana. 1970 (Bretton Woods) Equilíbrio financeiro. 1987 (Comissão Brundtland)

“Nosso Futuro Comum” Desenvolvimento e Sustentabilidade. 1992

(Eco-92 Rio de Janeiro)

Desenvolvimento sustentável e Agenda 21. 2001

(Fórum Mundial Social)

Um outro mundo é possível. Quadro 1: Evolução do conceito de desenvolvimento.

Fonte: Breda & Andrade (2002) e Santos (2009).

O conceito de desenvolvimento, apesar de ser caracterizado e pensado em épocas e regiões diferentes, vem sendo buscado há tempos por vários organismos mundiais que se esforçam para elaborar indicadores sociais para assim, acompanhar a evolução da qualidade de vida e do bem estar do cidadão. Acrescentaria na tabela acima, Antonio Vásquez Barquero

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e seu pensamento sobre o processo de desenvolvimento endógeno que será conceituado e analisado nas partes seguintes do trabalho.

Historicamente, o conceito é baseado em três visões distintas: desenvolvimento como crescimento econômico, desenvolvimento como satisfação das necessidades básicas e o desenvolvimento como elemento de sustentabilidade socioambiental. Este trabalho possui como referência uma dimensão política, econômica, social e ambiental para entender assim, a qual direção o desenvolvimento vai levar, porém essas dimensões não são as únicas que possibilitam o estudo, mas são as mais importantes na fase atual do sistema capitalista.

Com a tabela apresentada, observamos que Darwin, na biologia, utilizou a palavra desenvolvimento com um pensamento de transformação, ou seja, um organismo se desenvolve quando avança em direção à sua maturidade biológica. A mudança da biologia para a vida em sociedade ocorreu nas últimas décadas do século XVII e tomou corpo com o chamado “darwinismo social” onde a expansão e o crescimento não faziam parte de todas as sociedades. Entendia-se, nesta época, que as populações desenvolvidas eram aquelas capazes de produzir os seus próprios movimentos em busca do seu bem-estar.

No campo político, o termo é usado pela primeira vez em um programa do governo de Truman, presidente dos Estados Unidos da América, quando em seu discurso de posse em 1949 aplicou o termo para dizer que iniciava uma nova era no mundo - a era do desenvolvimento. Em suas palavras:

É preciso que nos dediquemos a um programa ousado e moderno que torne nossos avanços científicos e nosso progresso industrial disponíveis para o crescimento e para o progresso das áreas subdesenvolvidas. O antigo imperialismo -a explor-ação p-ar-a o lucro estr-angeiro – não tem lug-ar em nossos pl-anos. O que imaginamos é um programa de desenvolvimento baseado nos conceitos de uma distribuição justa e democrática (TRUMAN apud ESTEVA, 2000, p.59).

Com isso, começa o desejo dos países ricos de auxiliar as nações atrasadas em seu desenvolvimento e a palavra subdesenvolvimento aparece pela primeira vez, aumentando a vontade de se ter uma mudança.

Porém, é na década de 1940 que se constrói todo o arcabouço teórico e metodológico para caracterizar e promover o desenvolvimento e o acúmulo de riqueza em uma sociedade industrial e urbana.

O Clube de Roma (1968) era um movimento preservacionista da natureza que defendia a estagnação do crescimento populacional, do capital industrial e das formas de consumismo, com o objetivo de alcançar a estabilidade econômica e ecológica nas nações. Essa proposta foi conhecida como a tese do crescimento zero.

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Porém, com o fim do socialismo, em algumas sociedades da época devido ao esgotamento do modelo de expansão e dos fracassos das promessas do progresso, junto com a crise ambiental do planeta, surgiu o novo papel do Estado e dos organismos internacionais (ONU, FMI, BRD, OMC). Houve então, a necessidade de rever alguns pressupostos dos modelos de desenvolvimento por crescimento, por meio de um esforço intelectual e político para assim, introduzir o modelo político de desenvolvimento da era neoliberal.

A vitória política de Margaret Thatcher (1979) e Ronald Reagan (1980), Inglaterra e EUA respectivamente, contribuíram para facilitar a implantação do modelo. As décadas de 1980 e 1990 são caracterizas pela expansão do modelo de desenvolvimento neoliberal com base no ajuste fiscal e com o ideal de que o desenvolvimento requer a retirada do Estado e maior autonomia do mercado.

Entretanto, tal modelo também não foi capaz de satisfazer as sociedades que buscavam o bem estar social.

Atualmente acredita-se que a riqueza não é um fim em si, mas um meio para atingir objetivos mais humanistas, mais importantes, e a preocupação com o desenvolvimento equilibrado e sustentável tornou-se indiscutível.

Para este trabalho, a abordagem do conceito de desenvolvimento posiciona-se na utilização de idéias da geografia, sociologia, política e economia na medida em que, se trata do desenvolvimento social e econômico num contexto territorial e em um determinado período de tempo.

Já nos anos de 1960, Celso Furtado chamava a atenção para o desafio de construir forças políticas, econômicas, sociais e intelectuais para romper as estruturas que vinham do passado colonial, escravista, de dependência, e assim promover o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos.

De acordo com a literatura existente atualmente pode-se inferir que para alcançar o desenvolvimento é importante que certo território tenha capital social, capital humano, conhecimento, investigação, inovação, informação e que as instituições estejam presentes para que assim, se tenha melhores condições de atingir um objetivo equilibrado e sustentável com elevados índices de coesão social, econômica e territorial.

[...] O desenvolvimento não é apenas um processo de acumulação, de aumento de produtividade macroeconômica, mas principalmente o caminho de acesso às formas sociais mais aptas a estimular a criatividade humana e responder às aspirações da coletividade.

Dispor de recursos para investir está longe de ser condição suficiente para preparar um futuro melhor para a massa da população. Mas quando o projeto social

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prioriza e efetiva a melhoria das condições de vida desta população, o crescimento se metamorfoseia em desenvolvimento. Ora, essa metamorfose não se dá espontaneamente. Ela é fruto da realização de um projeto, expressão de uma vontade política. As estruturas de países que lideram o processo de desenvolvimento econômico e social não resultaram de uma evolução inercial, mas de uma opção política orientada para formar uma sociedade apta a assumir um papel dinâmico nesse processo (FURTADO apud CADERNOS DO DESENVOLVIMENTO, 2006, p. 25).

Em um contexto histórico, aproveitando da análise de Celso Furtado, a idéia do desenvolvimento originou-se em dois momentos históricos. Em um primeiro momento, no “Renascimento” Comercial (época da queda do império romano), a busca pelo lucro era o principal objetivo econômico após, se teve a Revolução Nacional (era dos feudos), que foi a formação e consolidação dos estados nacionais. É neste momento que as nações se dotam de estados e formam os chamados estados-nação. São eles e seus governos que serão os condutores do processo de desenvolvimento, através da definição das instituições necessárias para o desenvolvimento capitalista, garantindo a propriedade, os contratos, dando proteção para a indústria nacional, fornecendo estímulos para o investimento produtivo, e também através da educação que permitirá o aumento da produtividade em toda a economia. O segundo momento foi com a Revolução Industrial onde se buscava formas de alcançar o lucro através da aceleração do progresso e da incorporação de novas tecnologias. Com isso, o aumento da produtividade e a estratégia escolhida passam a ser uma condição de sobrevivência das empresas.

O estado tornou-se, o instrumento para promover o desenvolvimento econômico. Quando uma economia está em pleno processo de crescimento é sinal de que existe uma estratégia nacional de desenvolvimento, que seu governo, seus empresários, técnicos e trabalhadores estão buscando de forma consertada na competição econômica com as demais nações. Quando uma economia começa a crescer lentamente, ou às vezes estagnar, é sinal de que não conta com uma estratégia nacional de desenvolvimento que busque manter a competitividade.

O desenvolvimento é, portanto, um fenômeno relacionado às duas instituições fundamentais do sistema capitalista: o estado e os mercados. O estado tem uma dupla função, pois é uma instituição organizacional, com capacidade de legislar e tributar uma determinada sociedade e também, uma instituição que estabelece uma ordem jurídica ou um regime político-constitucional.

Para se alcançar o desenvolvimento econômico é preciso que as instituições garantam a ordem pública, a estabilidade política, o bom funcionamento do mercado, e boas

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oportunidades de lucro para estimular os empresários a investir e inovar. É necessário, portanto, que o estado tenha capacidade para formular políticas, cobrar impostos e impor a lei. Grande parte dos esforços dos governantes está voltada para promover o desenvolvimento do país. Nas campanhas eleitorais, na qual os políticos estão permanentemente envolvidos, o critério principal de êxito ou fracasso adotado por eles mesmos e por seus eleitores é o de sua capacidade de promover o desenvolvimento econômico ou a melhoria dos padrões de vida.

Cabe ao estado e ao seu governo, em cada momento, estabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento e a distribuição, dos lucros, os salários, os investimentos e as despesas sociais.

Portanto, o desenvolvimento econômico é um processo de transformação que implica em mudanças estruturais, institucionais e culturais objetivando, um aumento sustentado dos padrões de vida e do bem estar de uma sociedade.

“O homem não se limita a viver no espaço: ele também o modela. Nele implanta suas cidades, suas estradas, suas culturas, suas civilizações” (BOUDEVILLE, 1973, p. 7).

É importante analisar teorias do desenvolvimento formuladas pelos economistas clássicos, Keynes, e pelos que, desde a Segunda Grande Guerra Mundial, desenvolvem mais teorias e estratégias sempre levando em consideração todas as estruturas econômicas, as instituições, às sociedades, a política, o mercado, o poder, os interesses e as convicções dos agentes econômicos e dos formuladores de estratégias de desenvolvimento para assim com elas, orientar a ação prática.

O trabalho está divido em dez partes. A primeira é uma apresentação mostrando o objetivo deste trabalho, a segunda, chamada de introdução, busca o conceito da palavra desenvolvimento, a terceira parte é uma breve introdução nas teorias formuladas. Na parte seguinte, é explicada a “Teoria dos Pólos de Crescimento” de François Perroux, a quinta parte, relata os “Efeitos de Encadeamento” de Albert Hirshman, a posterior explica a “Base de Exportação” do Douglas North, a sétima parte conceitua a teoria do “Big Push” desenvolvida por Rosenstain-Rodan após, é caracterizado o pensamento Cepalino. Concluindo as teorias, foi apresentado o “Processo Endógeno do Desenvolvimento” e por fim, as considerações finais da pesquisa.

Justificando a escolha destas por se tratarem de teorias keynesianas de ações de intervenção do poder público com o objetivo de melhorar o desenvolvimento nas regiões, e também, pela grande influência que estas exerceram nas políticas implantadas por governos de diversos países inclusive no Brasil.

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3- TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Existem diversas teorias que retratam o desenvolvimento regional nas quais, algumas delas, utilizam as políticas públicas com uma maior intensidade para atingir progresso econômico e social. Este artigo caracteriza algumas delas e identifica as idéias que norteiam as políticas públicas a favor do desenvolvimento das regiões.

Abaixo, temos um quadro com os principais representantes dos diversos tipos de pensamento e as suas obras.

Teorias Principais Representantes e suas respectivas obras

Fundo Marginalista

 Joseph Schumpeter (1911)

A Teoria do Desenvolvimento Econômico.  Rosenstein-Rodan (1943)

Problema de Industrialização da Europa Oriental e Sul – Oriental.

 Arthur Lewis (1954)

Desenvolvimento Econômico com Oferta Ilimitada de Mão-de-obra.

 Ragnar Nurkse (1957)

Problema de Formação de Capital em Países Subdesenvolvidos.

 Walt W. Rostow (1962)

Etapas do Desenvolvimento Econômico: Um manifesto não comunista.

Fundo Marxista

 Karl Marx (1867) O Capital.

 Vladimir Lenin (1916) Imperialismo, fase capitalismo.

 Nikolai Kondratieff (1926) As ondas longas da conjuntura.

 Joseph Alois Schumpeter (1942) Capitalismo, Socialismo e Democracia.

 Rosa Luxemburgo (1900) Acumulação de Capital.

Da Dependência - Pensamento

Latino-Americano O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Raúl Prebisch (1949) Alguns de seus Principais Problemas.

 Celso Furtado (1963)

Desenvolvimento e Subdesenvolvimento  Fernando Henrique Cardoso (1970)

Dependência e Desenvolvimento na América Latina.  Theotonio dos Santos

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O marxismo na América Latina.

Desenvolvimento Regional

 Douglas North (1961)

Teoria da Localização e Crescimento Regional.  François Perroux (1964)

Indústria e Crescimento Coletivo.  Albert Hirschman (1961)

Estratégia do Desenvolvimento Econômico.  Paul Krugman (2002)

Economia e Espacial. Quadro 2: Base Teórica do desenvolvimento.

Fonte: Santos (2009).

Acrescentaria, na tabela apresentada acima, a obra “Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização” de Antonio Vasquez Barquero (2002), a “Teoria Econômica e regiões Subdesenvolvidas” de Gunnar Myrdal (1965), a “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” de John Maynard Keynes como também, obras com pensamento liberal de alguns autores como Adam Smith, David Ricardo e Stuart Mill e autores Neoliberais como Milton Friedman. O interesse de Smith, Ricardo e Marx para explicar a riqueza de uma nação deu origem à teoria do crescimento, cujo conceito de desenvolvimento está relacionado com a evolução do sistema de produção, acumulação e progresso técnico, restrita ao pensamento da Economia. Porém, os esforços para explicar o subdesenvolvimento e a pobreza, deram origem às teorias de desenvolvimento, e neste caso, o conceito de desenvolvimento está relacionado com a satisfação das necessidades humanas. Essas teorias possibilitam uma discussão teórica e política sobre crescimento e desenvolvimento. O debate toma forma no âmbito da ONU, entretanto, é com alguns autores influenciados pela teoria keynesiana, que o conceito de desenvolvimento econômico e social se expande.

O capítulo seguinte caracteriza e identifica o papel do Estado na promoção do desenvolvimento na primeira teoria escolhida chamada de Teoria dos Pólos de Crescimento de Fraçois Perroux.

4- TEORIA DOS PÓLOS DE CRESCIMENTO: FRANÇOIS PERROUX

A teoria dos Pólos de Crescimento foi desenvolvida por François Perroux em 1955 e teve grande participação nas políticas de desenvolvimento regional implantadas em países desenvolvidos e em desenvolvimento a partir da década de 1950 até os anos de 1970 partindo da observação da concentração industrial na França, em torno de Paris, e na Alemanha, ao longo do Vale do Reno.

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É importante identificar o conceito de espaço econômico definido por Perroux: “o espaço da economia nacional não é o território da nação, mas o domínio abrangido pelos planos econômicos do governo e dos indivíduos” (PERROUX, 1967, p.158).

Destacado o conceito de espaço econômico, podemos perceber que o crescimento econômico possui a seguinte característica segundo o autor:

[...] o crescimento não surge em toda parte ao mesmo tempo; manifesta-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se, segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto da economia (PERROUX, 1967, 164).

A partir deste conceito a teoria pode ser apresentada mostrando o papel desempenhado pela indústria motriz, pelo complexo de indústrias e pelo crescimento dos pólos de desenvolvimento.

Para poder caracterizar o processo de crescimento econômico é importante analisar três aspectos. A primeira e principal indústria é chamada de motriz, a segunda, de “indústria movida”. A primeira indústria é que tem a propriedade e através da expansão do volume de produção e compra de serviços acaba afetando a segunda. O segundo aspecto se refere à estrutura de mercado, pois é oligopolístico e instável, no qual, é responsável por aumento de produtividade e acumulação de capital e por fim, o terceiro aspecto, se refere à intensidade que ocorrem as atividades econômicas como serviços públicos, diversificação do consumo, moradias, e transportes.

As indústrias, chamadas motrizes, atuam sobre outras indústrias e sobre a economia como um todo. Afinal, seu lucro é função do seu próprio volume de produção e compra de serviços como também do volume de produção e compra de serviços de outras firmas, portanto, estão interligadas através de suas relações.

Segundo Perroux (1967), o pólo de desenvolvimento é uma indústria motriz ou um grupo formado por várias delas que atuam em um processo para cima e para baixo sobre outras indústrias que com elas estão relacionadas. Com isso, a economia nacional é uma combinação desses conjuntos de indústrias motrizes, indústrias movidas, regiões concentradas e regiões dependentes.

Séries de desequilíbrios econômicos e sociais são desencadeados com a implantação de um pólo de desenvolvimento, pois os salários e rendimentos são distribuídos sem aumentar a produção local de bens de consumo. Junto com isso, o investimento se concentra e a

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inovação pode surgir como vantagem de outro local retardando assim o desenvolvimento da região.

Perroux (1967) cita em seu livro que:

O crescimento e o Desenvolvimento dum conjunto de territórios e de populações não serão, por conseguinte, conseguidos senão através da organização consciente do meio de propagação dos efeitos do pólo de desenvolvimento (PERROUX, 1967, p. 194).

Seria necessário então, realizar transformações de ordem mental e social em uma população para estimular assim a inovação, o trabalho, a propensão a poupar, o investimento e o aumento do produto real, pois ele percebeu que em países subdesenvolvidos as economias se caracterizam de forma desarticulada onde maior parte da população não possui acesso a condições mínimas de saúde, moradia, emprego e conhecimento. O papel do Estado é fundamental nestas tarefas, arrumando as estruturas do país e mudando as taxas de crescimento.

Para alcançar o desenvolvimento econômico Perroux (1967), evidencia a necessidade de políticas intervencionistas que buscam o melhoramento técnico, humano junto com a cooperação entre regiões pobres e ricas.

O seu conceito de região não era no sentido econômico, mas sim, nos fenômenos que aconteciam, como também pelo seu passado histórico e sua geografia.

O pólo de desenvolvimento de Perroux (1967) é uma junção de indústrias propulsoras que geram um efeito de aumento de emprego e renda. Estas indústrias tendem a formar outros grupos e a dominar outras indústrias que estariam ligadas a ela ocasionando assim uma expansão da economia. A maior parte destas indústrias se localiza nas cidades e com o passar do tempo a aglomeração irá formar um centro metropolitano.

Segundo François Perroux (1967), as cidades são centro de atração, difusão e será de crescimento se existir um efeito multiplicador entre o investimento que foi feito na cidade com o crescimento demográfico, melhoria da tecnologia, aumento da renda, entre outros.

A cidade será centro de atração se com a expansão que foi gerada pelo investimento reduzir a densidade demográfica de regiões menos desenvolvidas e será um centro de difusão se o investimento realizado aumentar a renda per capita, o emprego, etc., nas regiões periféricas.

Por fim, acreditava que seria necessário pelo menos um pólo de desenvolvimento ou região propulsora para se ter um crescimento ou desenvolvimento econômico.

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5- DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O PROCESSO DE CAUSAÇÃO

CIRCULAR CUMULATIVA: A LÓGICA DE GUNNAR MYRDAL

A teoria de Gunnar Myrdal buscou explicar a dinâmica da economia regional entre e dentro de países, pois acreditava que a teoria econômica da época não tinha instrumentos adequados para analisar de forma correta as desigualdades existentes entre as regiões e que as inter-relações sofriam influências exógenas ao modelo. Como o sistema é, para ele, instável e desequilibrado, criou a teoria da causação circular cumulativa.

Esta teoria seria como um ciclo vicioso que poderia ocorrer em direção negativa ou positiva. Qualquer fator negativo é ao mesmo tempo causa e efeito de outros fatores negativos como que qualquer fator positivo acarretaria em novos outros fatores positivos. Isso explicaria uma série de relações sociais, por exemplo, se certa região perdesse uma indústria importante os efeitos seriam imediatos, pois iria trazer desemprego, diminuição da renda e também das demandas locais após, provocaria uma queda na demanda de atividades das outras regiões, seria necessário então, mudanças exógenas para que esta localidade não perca seus fatores de produção, capital e trabalho para regiões mais atraentes. O mesmo exemplo pode ser dado se diminuíssem os impostos sobre a produção isso geraria maior oferta de emprego, aumentaria a renda e em consequência a demanda por bens e serviços tornando assim, o lugar mais atrativo para ter novas atividades e investimentos.

Myrdal (1965) defende a idéia de que as intervenções públicas podem e devem contrabalançar e neutralizar o funcionamento destes ciclos, pois se as forças de mercado não forem controladas por esta política intervencionista, a produção industrial e as outras atividades econômicas tendem a se tornar concentradas por isso deve-se buscar uma melhor equidade entre as regiões para não deixar nenhuma estagnada e se alcançar um melhor desenvolvimento.

Seria necessário, portanto, um plano de desenvolvimento e integração nacional. Este deveria ser como um programa estratégico de intervenções nas forças do mercado englobando diferentes setores econômicos e sociais para assim, impulsionar a região, se ter um progresso social, incentivar o investimento, influenciar a distribuição do capital em regiões distintas, melhorar a infra-estrutura, capacitar a criação de novas plantas industriais, fornecer capacidade de importação para adquirir novas maquinas assim como equipamentos, aumentar a produtividade na agricultura e investir em saúde, educação e treinamento da população.

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Enfim, o propósito principal seria estimular os chamados “spread effects” (efeitos propulsores) entre as regiões e diminuir os “backwash effects” (efeitos de polarização).

Este planejamento seria pensado em termos reais e não em termos dos custos e nem com visão de lucro, porque vários destes investimentos são necessários porem não lucrativos do ponto de vista do mercado, pois tem o propósito de criar economias externas e aumentar a competitividade futura. O resultado, em um processo de causação circular cumulativa, seria um aumento da renda e da produção maior do que os gastos das políticas intervencionistas que foram adotadas além do mais, garantiria o desenvolvimento com algumas transformações sociais.

Se uma região se expandisse, geraria os “backwash effects” em outras regiões, pois o fluxo de capital (chegada de poupança das regiões menos desenvolvidas) assim como o livre comércio em favor das regiões avançadas aumentaria tornando com isso, localidades com desenvolvimentos distintos. Portanto, todas as mudanças negativas que tiveram origem fora da região, sejam econômicas ou não, são consideradas “backwash effects”. Já os “spreads effects” atuam ao contrario, pois são os ganhos obtidos pelas regiões estagnadas. Entretanto, estes efeitos se equilibrarão de forma que as outras localidades não se desenvolverão com as mesmas taxas de progresso tendo assim, um desenvolvimento desigual e descontínuo entre essas regiões.

Myrdal buscou evidenciar as diferenças econômicas entre regiões e as classificou em dois grupos: “desenvolvidas”, que eram aquelas caracterizadas por uma renda per capita alta, com uma integração nacional mais dinâmica e investimentos. Já as regiões “subdesenvolvidas”, foram caracterizadas por terem níveis de renda per capita reduzidos e índices de crescimento baixo. Nessa caracterização, Myrdal destacou que dentro dos próprios países existem regiões com diferenças de crescimento, visto que os países desenvolvidos possuem regiões mais estagnadas e nos países subdesenvolvidos existem regiões com um nível de prosperidade maior.

A partir disso, surgiram algumas constatações de que em um pequeno grupo de países existem aqueles em situação econômica favorável com um nível de desenvolvimento continuo e outro grupo maior em situação econômica desfavorável com um desenvolvimento descontínuo. Vendo este cenário o autor constatou de que a diferença entre eles aumentava nas ultimas décadas.

Para Myrdal (1965), as técnicas que os países desenvolvidos utilizavam deveriam ser analisadas e aplicadas em países subdesenvolvidos. Também, explicou o porquê da diminuição das diferenças regionais nos países mais avançados e o aumento desta nos países

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subdesenvolvidos, pois eram os próprios efeitos que controlavam isso, ou seja, quanto maior o spread effects mais fácil de controlar o backwash effects.

Com isso, torna-se indispensável, para Myrdal (1965), a presença ativa do Estado afinal, é ele quem vai dar para a região ou localidade mais periférica os equipamentos, a infra-estrutura, empresas públicas de grande dimensão e serviços que proporcionam um aumento da renda local, das receitas fiscais. Enfim, seria função do Estado controlar os impedimentos da busca pelo progresso, a concentração de investimentos e renda ocasionada pelo processo cumulativo.

6- HIRSCHMAN E OS EFEITOS DE ENCADEAMENTO

Para Albert Hirschman (1961) as teorias produzidas na época não retratavam as várias inter-relações do processo de crescimento econômico e que este, possui uma movimentação em forma de ciclos complexos, portanto seu estudo é extremamente importante na analise de problemas específicos do desenvolvimento regional.

Assim, procurou analisar como o processo de desenvolvimento econômico é transmitido de uma região para outra e criou uma teoria centrada na dinâmica do progresso de desenvolvimento mostrando que este, não ocorre em toda a parte e que na maioria das vezes se concentra perto do ponto que se inicia. Acreditava então que seria preciso estabelecer algumas estratégias já que os recursos quando são alocados ocasionam impactos diferentes.

O desenvolvimento, segundo a teoria, ocorre através de uma sequência de desequilíbrios, cada movimento desta sequência é induzido por um desequilíbrio que ocorreu anteriormente isso gera um novo desequilíbrio que irá induzir a um novo movimento. Essa dinâmica foi caracterizada como “encadeamentos para trás e para frente”, pois permite a visualização e a articulação dos elos entre atividades diversas que formam a estrutura produtiva de determinada região.

O crescimento então vai iniciar nos setores lideres da economia, pois estes irão produzir já que possuem uma demanda para vender a sua produção. Esse movimento irá formar as chamadas indústrias “satélites” que de uma forma irregular e desigual das principais, desfrutam da vantagem de aproximação e da utilização de um produto ou subproduto da primeira sem precisar fazer uma grande transformação no seu processo produtivo podendo até mesmo utilizar a produção básica da indústria principal. Também possuem como característica, uma capacidade econômica menor ao comparar com a firma que se formou por primeiro. Portanto, em cada etapa, algumas indústrias irão usufruir da expansão

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anterior e irá gerar novas oportunidades a serem exploradas por outras indústrias. Para se ter um melhor “linkage effects” é necessário saber o grau de ligação que se tem entre os setores.

Também Hirschman (1961) discutiu a questão da desigualdade regional e do desenvolvimento usando os conceitos de efeitos propulsores (forward linkages) e efeitos regressivos (backward linkages): os efeitos propulsores se formariam a parir da oferta fornecida pelas áreas centrais de lucros, serviços e produtos, tais como, novas infra-estruturas rodoviárias, mais emprego, melhorias no sistema de ensino e formação, salários mais elevados, etc., que assim, tornariam viáveis os setores que se localizassem em áreas periféricas. Já os efeitos regressivos são a forma encontrada pelo autor para expressar as externalidades negativas ocasionadas da implantação de indústrias motrizes numa determinada região, que, ao aumentarem a procura de lucros, ao adaptarem novas técnicas e produzindo novos bens, aumentam a procura de fatores humanos, materiais, e econômicos, elevando os seus preços, e atraindo-os para aquele local em particular. Esta situação, segundo o autor, poderá exercer efeitos negativos para o processo de desenvolvimento de outras regiões por causa da chamada “troca desigual” que é vender seus recursos para comprar produtos com maior valor agregado de outras localidades e também, pelo esgotamento dos termos de intercambio das demais regiões, isso vai contribuir para o aumento das disparidades regionais. Neste contexto, para Hirschman (1961), o desenvolvimento econômico seria dificultado por uma série de círculos viciosos que estariam entrelaçados, argumentando que para se atingir o desenvolvimento é preciso pressões e processos de incentivos que vão gerar e mobilizar o maior número possível de recursos escassos, por exemplo, capital e atividade empreendedora.

Esse crescimento de forma desigual mostra para ele a necessidade da intervenção do estado para viabilizar assim os objetivos.

“(...) the fundamental problem of development consists in generating and energizing human action in a certain direction” (Hirshman, 1958, p. 25).

Os principais objetivos da intervenção do estado devem estar voltados para a criação de oportunidades de investimentos locais e na investigação de como esses investimentos são determinados principalmente, em países subdesenvolvidos.

Estes países que enfrentam certo tipo de dificuldade para sair da faixa do subdesenvolvimento possuem uma estrutura ainda mais complexa segundo o autor, pois seus problemas seriam de causa mais estrutural do que cíclica. Nestas regiões o desenvolvimento não ocorre de forma tão natural em razão da poupança e do investimento serem interdependentes assim, é necessário medidas deliberativas.

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Também, para ele, existem dois tipos de indivíduos, os primeiros, acreditam que a mudança deve afetar a todos do grupo a que pertencem de forma igualitária isso, faz com que, o governo disperse seus fundos optando por projetos menores e mais fáceis de elaborar ao invés de buscar outros mais dinâmicos que acarretam mudanças mais significativas. O outro tipo de individuo seria mais “solitário” não sendo visualizado dentro de um grupo acreditando que o progresso econômico é alcançado a partir de mudanças concebidas a ele diminuindo assim, a sua capacidade de empreender, inovar e cooperar com os outros. Percebe-se então que o principal enclave destes países é a incapacidade de dinamizar os recursos e não somente a sua escassez.

Percebeu-se então que a escassez de pré-requisitos da produção também é interpretada pelo autor como uma deficiência na organização de estratégias adotadas por um país para dinamizar e criar oportunidades de investimentos locais.

Assim, as decisões de onde o Governo vai investir e fornecer infra-estrutura torna-se a questão principal da teoria, pois para alcançar o desenvolvimento no curto prazo, assim como as idéias de Keynes, são necessários projetos que produzem efeito favorável sobre o fluxo de renda em varias atividades-chaves de produção como a administração pública, educação, saúde, transportes, urbanização, agricultura, indústria, etc. A capacidade que se tem de investir é o que vai limitar essas realizações formando assim uma espécie de “ranking” de projetos, fazendo por primeiro, o projeto que possui maior retorno social e preferência. Nesta sequência de investimentos deve-se cuidar a ordem, pois o primeiro deve facilitar e consolidar a implantação do próximo. Para Hirschman (1958), essa determinação de sequência mostra que investimentos isolados funcionam apenas durante um curto período de tempo e que esta movimentação, deve variar de região para região de acordo com as especificidades e potencialidades do local. Já no longo prazo deve-se buscar a equidade nacional.

Hircshman (1958) acreditava que para definir esta sequência era preciso diferenciar os tipos de projetos e dividiu-os em Social Overhead Capital (SOC) e Directly Productive Activities (DPA). Os primeiros são chamados de serviços básicos, pois sem eles a atividade produtiva não consegue funcionar, por exemplo, saúde, educação, transportes, saneamento, portos, rodovias, hidroelétricas. Portanto, são pré-requisitos que estimulam o investimento nas atividades produtivas. Já estas, são consideradas as atividades primárias, secundárias e terciárias da economia. Feita esta diferenciação o autor acredita que a combinação destes fatores deve gerar uma maximização dos retornos das atividades e minimizar os custos envolvidos já que os recursos são escassos porem, acreditava que não seria interessante um ponto de equilíbrio entre SOC e DPA, pois assim não se teria incentivos e nem pressões para

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as prioridades de decisões de investimentos o caminho seria, optar por uma pequena escassez de SOC, mas sem esquecê-la por inteiro.

Para se alcançar o desenvolvimento, acreditava que seria necessário ter a chamada “ability to invest”, esta é uma variável que depende dos setores mais modernos da economia e do empreendedorismo local, quanto menor a capacidade de investir do país, mais baixo será o seu nível de desenvolvimento devido a sua relação com a renda nacional por isso, que basear o investimento em setores modernos é mais difícil e custoso em países que são subdesenvolvidos.

Hirshman deixou como idéia que um país pode dar alguma autonomia para determinada região que esteja mais estagnada através dos chamados “equivalents of sovereignty” que são instituições e programas que buscam alcançar um maior desenvolvimento regional, um exemplo, foi à implantação das Superintendências de Desenvolvimento Regional no Brasil. Também citou que políticas intervencionistas podem estimular o aparecimento de indústrias mestres que podem aumentar assim os “linkage effects”.

Por fim, Albert Hirschman (1958) acreditava que o desenvolvimento teria de uma forma inevitável, diferentes níveis de crescimento regional e que uma maior taxa de desenvolvimento de uma localidade vai gerar certa “pressão” nas outras regiões, forçando assim o crescimento de uma para outra.

7- A TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO DE DOUGLASS C. NORTH

Um dos primeiros estudos feitos para uma região alcançar certo desenvolvimento foi com Douglas North na década de 1950 em seu livro “Location theory and regional economic growth” onde explica a dinâmica da economia norte americana. Esta teoria surgiu da constatação de que muitas regiões se desenvolveriam sem precisar passar pelas etapas que os teóricos antecessores acreditavam. As etapas seriam as seguintes: a) deveria estar localizada perto de onde estivesse os recursos naturais, ser uma economia de subsistência, auto-suficiente e agrícola; b) através de melhorias nos transporte a próxima etapa, seria um desenvolvimento do comércio e da especialização local; c) diversificando as atividades agropecuárias poderia assim surgir um comércio com regiões mais distantes; d) o próximo estágio impulsionado pelo crescimento da população, dos rendimentos decrescentes da agricultura e das industriais extrativas se conseguiria uma pequena industrialização de

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manufaturas e mineração; e) o estagio final seria uma especialização das atividades terciárias para a exportação.

Essa teoria foi a primeira a inserir a exportação como fator chave para o crescimento de uma região. Ele enfatiza que transferir produtos para “fora” tem um papel importante na determinação do nível de renda absoluta e per capita, também, produzem um efeito multiplicador sobre a economia e que o desenvolvimento depende desde o início de sua capacidade de produzir artigos exportáveis afirmando, que países que se voltassem para o mercado externo teriam um processo de desenvolvimento mais rápido, mas sua teoria não é válida para regiões com uma estrutura complexa, população numerosa e um estágio de desenvolvimento econômico e social mais avançado. Sua teoria focaliza nas chamadas “regiões novas”.

Para North (1977), a primeira condição para um país exportar é possuir recursos naturais que as outras nações demandam, este era um fator exógeno do seu modelo, quanto maior a “dotação” destes recursos, maior será a vantagem comparativa deste país. Outra condição seria de produzir com o mínimo de custo incluindo os custos de transferências e de processamento, isso faria com que as regiões “novas” melhorassem a competitividade de seus artigos de exportação sendo assim, um fator endógeno de sua teoria.

A base de exportação desempenha um papel de extrema importância para o desenvolvimento da região, contudo, não deve ser a única preocupação, pois dependem de diversos fatores. Para não ficar “encalhada”, termo utilizado por North, deve-se mudar a base quando houver mudanças na demanda externa da região devido às alterações nas preferências dos consumidores com os artigos produzidos, quando os custos de produção como terra, trabalho e transportes não tornarem seus produtos competitivos assim como a tecnologia e, quando os recursos ou matérias primas não se tornarem mais disponíveis. Por isso, os desenvolvimentos de regiões tendem a ser desiguais, pois a irregularidade destes fatores é comum.

Existem fatores que ao contrário, elevam o crescimento das exportações como o maior desenvolvimento dos transportes tornando possível assim a produção de bens que antes eram economicamente impraticáveis, um aumento da renda em outras regiões na qual faz com que aumente a demanda pelos produtos, um progresso tecnológico e a participação do governo com a criação de benefícios sociais básico.

North (1977) divide a economia em atividades básicas e não básicas. Atividades básicas seriam voltadas para a exportação incentivando as não básicas como uma força motriz, já estas, estariam destinadas para o abastecimento do mercado interno fornecendo

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assim uma espécie de suporte. Com o passar do tempo, segundo ele, as atividades ligadas à exportação perderiam espaço para as atividades não básicas, pois não conseguem manter-se de forma sustentada sem uma gama de serviços além de uma infra-estrutura eficiente.

Um fator que também é favorável para o desenvolvimento da região é o efeito que a atividade exportadora causa sobre os outros setores, sendo identificado por North, como o efeito multiplicador. Com a especialização da produção interna, os produtos podem ser exportados, isso vai gerar renda, estimular o emprego e viabilizará o aumento das importações onde uma parte delas atenderá a demanda da produção que vai possibilitar uma diversificação da produção local, pois aumentará a capacidade de desenvolver novos bens e serviços para em uma próxima etapa poder exportá-los, desde que economicamente viáveis, substituindo assim as importações, isso se tornará uma espécie de círculo. Já a outra parte será consumida pela demanda da população atendendo suas necessidades. Portanto, uma economia segundo o autor, não prospera sem exportações contínuas que permita importar em grandes volumes até tornar a produção do bem ou serviço viável, também, sem um mercado interno consolidado e que possibilite a inovação e diversificação de novos produtos. Para que haja o buscado efeito multiplicador sobre os demais setores é preciso que se tenha igualdade na renda gerada, quanto maior a desigualdade menor será o desenvolvimento econômico e social, percebemos este efeito, por exemplo, na economia brasileira nos ciclos da cana de açúcar e do café, em que uma pequena parcela da sociedade ficava com quase toda a renda gerada pelo comércio e impossibilitava a o surgimento da substituição das importações.

Segundo Dílson Trennepohl (2010):

“(...) Tão importante quanto diversificar as atividades motrizes do desenvolvimento regional é aproveitar mais e melhor o potencial de multiplicação dos efeitos positivos ancorados nas bases exportadoras. Cada atividade econômica integrante da base exportadora da região gera demandas para atividades complementares e subsidiárias que podem ser atendidas por iniciativas da própria região. Enquanto tais demandas estiverem sendo supridas majoritariamente pela importação, a renda gerada anteriormente apenas passa pela região sem produzir efeitos mais relevantes no desenvolvimento. Entretanto, quando a produção e a oferta de tais mercadorias forem internalizadas, haverá uma ampliação dos impactos no emprego e na renda local.”

Quando North (1977) cita a industrialização, ou seja, a presença de indústrias pesadas, ele diz que não é essencial para a continuidade do processo de desenvolvimento econômico, pois é possível sim manter sua dinâmica através da exportação de produtos agrícolas, cujo sucesso vai aumentar o surgimento de atividades secundárias e terciárias voltadas para o mercado local, haveria apenas dificuldade para desenvolver as chamadas “indústrias sem

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raízes” que são aquelas que aparecem por acaso em uma determinada região. Para ele industrialização significa vender bens finais ou intermediários, não necessariamente, bens manufaturados mais elaborados.

O autor da teoria divide em quatro tipos de atividades industriais que podem ser desenvolvidas: a) indústrias de matérias primas na qual se localizam junto da sua fonte; b) atividades de serviços voltadas para a indústria de exportação; c) indústria local que produz para o consumo interno e; d) indústrias sem raízes, que são aquelas inadequadas para uma região.

Referindo-se ao avanço tecnológico o autor cita que é de extrema importância, pois com ele é possível produzir mais, deslocando a curva de produção para a direita, aumentando assim a renda gerada na economia.

Para melhorar a competitividade dos produtos de exportação no mercado nacional e internacional é necessário ter organizações de comercialização, sistemas de crédito, mão de obra qualificada e indústrias complementares além do mais, é preciso uma ligação entre sociedade, setor privado e setor público para promover o bem estar econômico, assim, fica claro para North, de que é preciso atitudes políticas e ajuda governamental para que ocorra o desenvolvimento.

Percebe-se que a teoria da base de exportação foi direcionada para explicar o processo de desenvolvimento de alguns países novos que ainda não tenham se desenvolvido e possuem baixa densidade populacional. A teoria usa a variável exportação como uma peça chave e à medida que tais países alcançassem um estágio mais avançado de desenvolvimento, surgiriam novas atividades no mercado interno gerando renda, emprego e propiciando a criação de novos produtos destinados à exportação.

8- A TESE DO GRANDE IMPULSO

A teoria do grande impulso de P. Rosenstein-Rodan (1969) foi outra contribuição na busca pelo desenvolvimento. Ele fez um comparativo dizendo que um país num crescimento auto-sustentado é como a decolagem de um avião. É necessário uma velocidade e um impulso para que decole, portanto, é como se fosse uma quantidade de investimento para que se alcance o êxito. Sustentando que “natura non facit saltum” (a natureza não dá saltos).

O desenvolvimento poderia ser alcançado de duas maneiras segundo ele. Pelo chamado “modelo russo” em que as nações se industrializariam por conta própria, porém, o crescimento seria lento, seria uma economia isolada da divisão internacional do trabalho e

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desperdiçaria recursos com sua capacidade ociosa. Outra forma seria com o aporte de capital externo, que permitiria um progresso mais rápido através da sua industrialização, esta um requisito básico para se alcançar o desenvolvimento econômico segundo o autor.

Pode-se explicar que para uma economia estagnada começar a se expandir deveria ser feito investimentos, que seriam recursos para a implantação de grandes empresas. Esse aporte, segundo a teoria, viabilizaria investimentos simultâneos em setores que se complementam aumentando assim a demanda inter-setorial e conseguindo com isso escoar a produção.

As empresas devem ser de grande porte e com tecnologia. Por exemplo, as empresas de infra-estrutura e serviços básicos, como energia, comunicação e transportes, pois exige um capital inicial grande e seus produtos demoram a entrar no mercado. Segundo o autor, no inicio as empresas atuariam com capacidade ociosa e também não conseguiriam funcionar isoladas, é necessário uma estrutura de diferentes serviços públicos ficando clara a importância do estado, pois as leis de mercado nunca darão conta da implantação de tais industriais.

Estes investimentos teriam uma perspectiva de lucro baixo ou talvez ate negativos violando as leis de mercado também, precisam de um planejamento pensando no seu futuro para se alcançar as metas de produção e se ter o chamado lucro social, que é no longo prazo, o fornecimento de insumos para as empresas diminuindo com isso seu custo.

Percebe-se que pelas leis do mercado, esses investimentos jamais se realizariam e somente o Estado que pode realizá-los. Um exemplo é a instalação das empresas estatais num dos ramos de infra-estrutura como energia elétrica, petroquímica ou siderurgia que podem até estar operando com prejuízo porem esta maximizando o lucro total das empresas privadas e o lucro social.

Para se alcançar a industrialização nas áreas menos desenvolvidas é necessária a criação de um novo ambiente institucional pelo Estado, com o objetivo de promover uma industrialização planejada em larga escala, com treinamento da mão de obra e investimentos e transformações em bloco, garantindo uma complementaridade nas diferentes indústrias para potencializar o alcance e os efeitos dinâmicos das economias externas por eles geradas

Então, a Teoria do Grande Impulso ou Big Push surgiu da estratégia de política de industrialização que deveria ser viabilizada com investimentos para que esse processo conseguisse ter êxito levando determinada região ao seu desenvolvimento.

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Ocorreram diversas transformações na economia mundial após o período das Guerras como um maior protecionismo e uma menor elasticidade da demanda por produtos primários, isso colocou em risco a idéia predominante da época que era Teoria das Vantagens Comparativas na qual atuava com um livre comercio. Com a “revolução keynesiana”, formou-se em alguns países latino-americanos um clima de tensão contra o liberalismo, gerando um processo de industrialização por causa dos desequilíbrios que aconteceram na balança de pagamentos desses países.

Porém, ainda faltavam teorias para dizer que a industrialização era o caminho mais fácil para “pular” etapas e alcançar o desenvolvimento de forma mais rápida, sustentando aqui que “natura facit saltum” (a natureza dá saltos). Essa fundamentação teórica começou a partir do surgimento da Comissão para a América Latina e Caribe (CEPAL), em 1948. Os países latinos americanos estavam insatisfeitos por terem sido excluídos da ajuda do Plano Marshall à Europa e também pelo sucateamento dos equipamentos da indústria ocasionado pela falta de dólares para importar devido à crise das exportações. Sediada em Santiago, no Chile, consolidou-se como um dos principais centros de reflexão sobre a economia e políticas de desenvolvimento da região formando, um pensamento econômico contra o liberalismo, que viria a influenciar toda uma nova geração de economistas.

Seu pensamento pode ser separado em duas etapas e cinco fases. Começou com a etapa estruturalista que foi até meados dos anos 80 e após, a segunda etapa, chamada de neo-estruturalista vigora desde o início dos anos 90.

A primeira etapa foi conhecida como “desarrollo hacia adentro”, esta na qual, reúne às quatro primeiras fases do seu pensamento começando pelos anos 50 com a industrialização por substituição de importações; nos anos 60, a agenda de reformas e as teorias econômicas e sociológicas da estagnação, da dependência e da diferenciação estrutural; nos anos 70, as “formas” de crescimento e a reorientação da industrialização para assim, promover exportações industriais; e nos anos 80, renegociação da dívida, controle da inflação e ajuste expansivo. Essa etapa implica na defesa do processo de industrialização latino-americana, na diminuição da vulnerabilidade com o mundo externo e em reformas estruturais internas, todas com uma grande participação do Estado. Os principais autores desta etapa são Raúl Prebisch, Celso Furtado, Osvaldo Sunkel e Aníbal Pinto, entre outros.

Nos anos 50, o principal objetivo da CEPAL (1949) era de alcançar a industrialização pela substituição das importações. O autor, Raul Prebisch, criou nos primeiros anos a “idéia original” do pensamento cepalino, que era uma análise da relação centro-periferia fazendo um comparativo de como eram as economias mais dinâmicas dos países centrais e as economias

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menos dinâmicas dos países latino-americanos caracterizando também, os seus problemas estruturais.

Esse processo de substituição das importações se “esgotou” com isso, a CEPAL (1949) propôs nas duas décadas seguintes, uma sequência de reformas estruturais para assim, viabilizar o desenvolvimento, por exemplo, a reforma agrária e a redistribuição de renda. Mas era preciso superar a dependência e buscar mais equidade nas ações de desenvolvimento combinando mercado interno dinâmico e um maior esforço exportador. Para isso, novas teorias do desenvolvimento foram criadas, a exemplo, a estagnação de Prebisch e Furtado, a dependência de Cardoso e Faletto e do chileno Osvaldo Sunkel, a heterogeneidade estrutural e os “estilos de desenvolvimento” do também chileno Aníbal Pinto. Além disso, o aprofundamento da dependência externa e as crises internacionais dos anos 1970 levaram a CEPAL (1949) a propor uma integração regional inicialmente baseada em um regionalismo do tipo “fechado” com a promoção das exportações industriais, o cuidado com o endividamento e à abertura econômica para superar a vulnerabilidade externa, tudo isso mantendo o Estado como indutor do desenvolvimento (BIELSCHOWSKY, 2000).

Porem, a dependência externa e a crise fizeram com que, nos anos 1980, a instituição deixasse de lado a idéia desenvolvimentista de longo prazo, e passasse a se preocupar com as questões macroeconômicas de curto prazo, sobretudo com o tripé dívida, inflação e ajuste. A principal recomendação cepalina nesse período era de substituir o ajuste recessivo imposto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) por um ajuste expansivo. Era preciso então, combinar a renegociação da dívida com o controle da inflação, para viabilizar um ajuste com crescimento. Vencidas as restrições externas e internas impostas pela crise da dívida, e com a melhora do ambiente econômico internacional para a América Latina, ressurge nas décadas seguintes o interesse cepalino pela temática do desenvolvimento econômico em termos de produção e de distribuição, assim como o seu enfoque em questões de longo prazo. Só que agora “adaptada aos novos tempos de abertura e desregulação”, começando assim uma nova etapa do seu pensamento: o neo-estruturalismo.

O neo-estruturalismo corresponde até o presente momento à quinta fase do pensamento cepalino e a segunda etapa. Iniciou nos anos 90 em torno da idéia de Transformação Produtiva com Eqüidade. A CEPAL (1949) procurou se adaptar a uma conjuntura diferente daquela encontrada nos anos anteriores. A partir de então, essa instituição incorporou medidas que foram recomendadas pelo governo neoliberal norte-americano e de órgãos como o FMI e o Banco Mundial, formulados no “Consenso de Washington”. Então, ela começa a apoiar as reformas liberalizantes na região, agora sob a “lógica dos mercados” e

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com atuação estatal passiva e complementar nesse processo. Entretanto, os objetivos finais da etapa anterior são mantidos.

A primeira década do neo-estruturalismo cepalino foi até 1997 e a segunda é dividida em dois períodos conjunturais, começando no ano seguinte e terminando em 2008.

Essa nova posição que a CEPAL (1949) assumiu ainda é motivo de discussão e de algumas divergências entre os economistas, pois seu pensamento neo-estruturalista apresenta semelhanças e também diferenças com o estruturalismo clássico dos anos anteriores. Duas das etapas estão ligadas por elementos comuns como a idéia da relação centro-periferia; a análise da inserção internacional, análise dos problemas estruturais internos como crescimento, progresso técnico, renda e emprego; e as possibilidades de intervenção do Estado para promover o crescimento e o desenvolvimento econômico.

A primeira etapa estruturalista (1948-90) procurou legalizar o processo de industrialização latino-americana, diminuindo a vulnerabilidade externa e fazendo reformas estruturais internas, tudo isso, coordenado por uma forte intervenção estatal. Já a etapa neo-estruturalista, iniciada em 1990, manteve os principais elementos da análise neo-estruturalista, mas introduziu apenas novos esquemas analíticos. No entanto, a agenda de Transformação Produtiva com Eqüidade originada na década de 1990 e aprofundada nos anos 2000 rompeu com o pensamento anterior quando incorporou o conceito de “regionalismo aberto”, que era baseado nas novas teorias neoclássicas do comércio internacional, como a abertura comercial, a desregulação, a privatização e outras reformas estruturais de cunho liberalizante. O Estado então perdeu o seu papel estratégico de promotor do desenvolvimento, e passa a atuar como coadjuvante das forças de mercado. Embora o neo-estruturalismo fosse similar ao estruturalismo em muitos aspectos e quanto aos objetivos finais, afastou-se deste nos meios utilizados para atingir os fins pretendidos, ainda que isso tenha sido uma maneira da instituição se adaptar aos tempos de abertura econômica, buscando conservar a influência dos anos iniciais, mas que foi sendo perdida ao longo das três últimas décadas.

Com isso percebemos que a CEPAL (1949) representou um grande avanço em direção à elaboração de um pensamento econômico independente das correntes teóricas que existiam, pois teorias e análises que aconteciam nos países desenvolvidos eram colocadas, quase que sem nenhuma mediação, para a realidade dos países latino-americanos.

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As teorias que tratam sobre o desenvolvimento regional sofreram mudanças profundas nos últimos anos, provocadas pela crise e pelo declínio de muitas regiões industriais e também pelo surgimento de novos paradigmas de desenvolvimento local.

O cenário econômico mundial possui uma estrutura bastante complexa e precisamos de teorias econômicas para explicar o dinamismo desses mercados e também, de como a ação do governo afeta esses movimentos.

O ponto de partida para compreender o “Desenvolvimento Local Endógeno” é saber da existência de duas alternativas impostas pela globalização para se alcançar o desenvolvimento: a) pelo desenvolvimento exógeno que busca investimentos externos para as regiões periféricas ou então; b) por meio de estratégias de desenvolvimento local.

Esse desenvolvimento, segundo seus teóricos, seria uma mudança e um processo estrutural de crescimento econômico, utilizando o potencial que existe em certo território na qual, os fatores fundamentais, é a capacidade de liderança do próprio processo “de dentro para fora” e também pela mobilização do uso dos recursos locais para favorecer os rendimentos crescentes e a criação positiva de externalidade como a ampliação do emprego, produto e renda da localidade analisada.

Para Barquero (2001), Desenvolvimento Econômico Local é:

O processo de crescimento e mudança estrutural que ocorre em razão da transferência de recursos das atividades tradicionais para as modernas, bem como pelo aproveitamento das economias externas e pela introdução de inovações, determinando a elevação do bem-estar da população de uma cidade ou região. Este conceito está baseado na idéia de que localidades e territórios dispõem de recursos econômicos, humanos, institucionais e culturais, bem como de economias de escala não aproveitadas, que formam seu potencial de desenvolvimento (2001, p. 57). O conceito de desenvolvimento endógeno, no ponto de vista regional, pode ser caracterizado como um processo de crescimento econômico que implica em uma ampliação da capacidade de agregar valor sobre a produção como também, da capacidade de absorção da região, cujo objetivo é a reter o excedente econômico gerado na economia local e assim, atrair também, os excedentes vindos de outras regiões. Este processo resultaria na ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região.

O papel do desenvolvimento endógeno, segundo Barquero (2001), é o seguinte:

O desenvolvimento endógeno propõe-se a atender às necessidades e demandas da população local através da participação ativa da comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos em termos da posição ocupada pelo sistema produtivo local na divisão internacional ou nacional do trabalho, o objetivo é buscar o bem-estar econômico, social e cultural da comunidade local em seu conjunto.

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Além de influenciar os aspectos produtivos (agrícolas, industriais e de serviços), a estratégia de desenvolvimento procura também atuar sobre as dimensões sociais e culturais que afetam o bem-estar da sociedade (2001, p. 39).

Não há especificamente uma nova teoria da função do Estado que tenha sido produzida para se adaptar às formas de organização. No entanto, há novas interpretações para as suas funções, tendo em vista as divisões e parcerias que foram estabelecidas entre o Estado e a sociedade. Um dos principais elementos das novas funções é a ênfase na economia local com as “ações coletivas”. Contudo, para que essas ações alcancem o objetivo, seria necessário o Estado fornecer um ambiente favorável ao desenvolvimento, seja através de obras de infra-estrutura, da qualificação do ensino e da cidadania por exemplo.

Este processo pode ser definido como realizado “de baixo para cima”, pois procura identificar as potencialidades socioeconômicas do local como conhecimento, informação, capital humano, pesquisa, etc. Assim, deixou-se de lado o modelo tradicional “de cima para baixo” isto é, aquele em que o volume de produção dependia de apenas dois fatores: capital e trabalho. Também conhecido por ser aquele modelo centralizado em que o planejamento e a intervenção são conduzidos pelo Estado desconsiderando o interesse dos grupos locais.

É importante perceber qual a lógica e os objetivos que existem nas propostas de desenvolvimento local, pois estas mudam o caráter das políticas propostas pelo Estado onde, se o objetivo é de solidariedade, a participação e a gestão local serão fortalecidas, preservando assim, a cidadania e equidade. Entretanto, quando se tem um objetivo mais individualista, concorrencial e de mercado, há o risco de transformar a participação do Estado em estratégias de legitimação dos interesses dominantes, descentralizando e fragmentando o desenvolvimento e os seus aspectos de inclusão e equidade social.

O modelo acredita que ao estudarmos os atores locais e seus fatores internos é possível transformar em um impulso externo de crescimento produzindo um aumento de bem estar social e desenvolvendo da região se tornando mais eficaz e eficiente do que os outros modelos.

Por procurar um desenvolvimento sustentável por um longo período, o desenvolvimento endógeno deve abastecer-se em três fontes fiscais: a) saber qual o novo papel do Estado federado; b) entender que a estratégia é baseada na mobilização de poupança e, de investimento em formação bruta de capital fixo; c) é necessário valorizar os novos fatores de produção. Apesar de não aparecer claramente, a função do governo federal é de prestar atenção aos desequilíbrios entre as regiões mantendo um nível de coesão entre elas, é preciso também que ele forneça infra-estrutura adequada como energia, comunicação, etc. Por

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fim, é preciso que coordene as políticas fiscais e financeiras praticadas pelas unidades federadas para evitar a “quebra”, o desequilíbrio fiscal e monetário.

Segundo este processo de Desenvolvimento, é através da criação de redes, distritos industriais e APL’s (sistemas locais baseados na cooperação entre empresas), e através de alianças estratégicas, contratos e consórcios que vai gerar uma maior capacidade tecnológica e economias de escala em proporções comparáveis àquelas geradas pelas empresas de grande porte, além do mais, tornam possível o melhor enfrentamento das incertezas.

As economias de escala quando criadas em virtude dessas redes favorecem a uma redução dos custos devido a troca de produtos, serviços e conhecimento dos processos de produção, e também, por criarem um ambiente que favorece à inovação.

O tipo de região segundo este modelo deve variar de região para região, por exemplo, ela pode ser agrícola, industrial, terceiro setor, pode ser especializada ou não entre outros, sempre levando em conta as estruturas socioeconômicas, culturais, institucionais e políticas que prevalecem na respectiva área.

Também conhecido por “desde baixo” as políticas devem criar um bom ambiente incorporando assim, os players regionais para atrair, capturar, cooperar, aperfeiçoar e fortificar um desenvolvimento originalmente local, mas que busca novas atividades econômicas através de uma economia aberta maximizando os recursos internos (naturais, humanos e institucionais), combinando-os com os recursos externos gerando novas situações na dinâmica social, política, econômica e ambiental, pois o “novo mundo” busca sempre a sustentabilidade.

Portanto concluímos que neste modelo valoriza-se o cenário, as potencialidades e outros fatores internos para que assim se possa investir em atividades de base local buscando sempre, a preocupação fundamental de, alcançar a eficiência, eficácia e a efetividade na busca do bem-estar social.

10- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao Estado, podem ser atribuídas funções que variam das mais intervencionistas às menos intervencionistas, portanto é impossível torná-lo um agente neutro. É a partir destas transformações, ao longo do tempo, que justificam seu estudo, sobretudo se for adicionada a concepção das teorias do desenvolvimento e os problemas estruturais que a cercam.

Referências

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