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Direito ambiental e a responsabilidade penal dos danos ambientais: caso Samarco em Mariana-MG

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GRANDE DO SUL

ITAMARA LUANA GOIS SCALEI

DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE PENAL DOS DANOS AMBIENTAIS: CASO SAMARCO EM MARIANA-MG

Ijuí (RS) 2016

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ITAMARA LUANA GOIS SCALEI

DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE PENAL DOS DANOS AMBIENTAIS: CASO SAMARCO EM MARIANA-MG

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Dhieimy Quelem Waltrich

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus acima de tudo, por ter me dado à vida, força, coragem e confiança para superar as dificuldades e nunca desistir.

Аоs meus pais (Inordi e Maria de Lurdes), meus irmãos (Jonatas e Mirian), е a toda minha família que, sempre esteve presente e me incentivou com apoio, confiança e me compreendeu nos momentos de ausência nesta jornada acadêmica.

Ao mеυ esposo, Claudinei, qυе dе forma especial е carinhosa mе dеυ força е coragem, mе apoiando nоs momentos dе dificuldades. Obrigada pеlа paciência, pelo incentivo. Valeu а pena toda distância, tоdо sofrimento, todas аs renúncias...

A todos os professores, que no decorrer do curso souberam usar suas habilidades, compartilhando seus conhecimentos. Em especial a minha orientadora, a professora Dhiemy Quelen Waltrich, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação.

E a todos que de uma forma ou outra sempre me incentivaram e colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade.

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“O homem destrói a natureza na justificativa de sobreviver; a natureza luta para sobreviver, para garantir a sobrevivência do homem”. (J. Wesley)

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O presente trabalho de conclusão de curso estuda o meio ambiente como bem jurídico e sua proteção constitucional, bem como o desenvolvimento desta proteção ao longo do ordenamento jurídico brasileiro, especialmente a responsabilidade penal no descumprimento das normas que o norteiam, com ênfase nos danos ambientais, bem como a responsabilidade causada pela grave conduta criminosa praticado em Mariana, no interior de Minas Gerais, pela empresa de mineração Samarco. Partindo da premissa que o meio ambiente é um bem de valor incalculável e que todos no presente e no futuro o necessitam para sobreviver, tornou-se uma preocupação mundial sua preservação, porém ainda ocorrem casos gravíssimos de sua exposição e exploração pelo homem. Nesta esteira, faz-se necessária a existência e aplicabilidade de uma legislação efetiva na responsabilização dos causadores, tanto o poder público, como as pessoas jurídicas/físicas causadoras do dano que possuem responsabilidade solidária.

Palavras-Chave: Meio ambiente. Proteção constitucional. Danos ambientais. Responsabilidade penal.

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The present work of conclusion of course studies the environment as a legal asset and its constitutional protection, as well as the development of this protection throughout the Brazilian legal system, especially the criminal responsibility in the noncompliance with the norms that guide it, with emphasis on environmental damage, As well as the liability caused by the serious criminal conduct practiced in Mariana, in the interior of Minas Gerais, by the mining company Samarco. Starting from the premise that the environment is a commodity of incalculable value and that everyone in the present and future needs it to survive, it has become a worldwide concern for its preservation, but there are still very serious cases of its exposure and exploitation by man. In this vein, it is necessary the existence and applicability of an effective legislation in the accountability of the causers, both the public power, as well as the legal / physical persons causing the damage that bear joint liability.

Keywords: Environment. Constitutional protection. Environmental damage. Criminal responsibility.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO DIREITO PENAL ... 10

1.1 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental ... 10

1.2 Desenvolvimento da proteção normativa ao ambiente no ordenamento brasileiro ... 14

1.3 Meio ambiente e a Constituição de 1988 ... 17

1.3.1 A responsabilidade penal do ente coletivo na constituição de 1988 ... 18

1.4 A proteção na Constituição Federal e os acordos internacionais ... 19

2 A NECESSIDADE DA TUTELA PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS E A POLUIÇÃO POR ATIVIDADE DE MINERAÇÃO ... 25

2.1 Necessidade de tutela penal do meio ambiental ... 25

2.2 Responsabilidade penal nos crimes ambientais por pessoas físicas e jurídicas... 30

2.2.1 Posição do STF sobre o tema ... 32

2.3 Danos e crimes causados por atividade de mineração ... 34

2.3.1 Legislações Brasileiras Sobre Atividade de Mineração ... 36

3 CASO SAMARCO E CRIMES COMETIDOS ... 39

3.1 Exposição do caso Samarco (noticiado pelo G1 e laudo preliminar) ... 39

3.2 Danos ambientais provocados conforme laudo final (noticiado e os laudos efetivos)... 44

3.2.1. Danos sobre qualidade e disponibilidade da água microrregional e macrorregional ... 44

3.2.2 Danos na qualidade e disponibilidade de solo ... 46

3.2.3 Danos sobre a biodiversidade ... 46

3.3 Crimes imputados e Responsabilidade penal pelos danos causados (os crimes que foram denunciados, os crimes em espécie). ... 49

3.3.1 crimes imputados aos agentes causadores do desastre ... 49

3.3.2 Responsáveis penalmente pelos danos causados ... 56

CONCLUSÃO ... 59

REFERÊNCIAS ... 62

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca das noções sobre o meio ambiente, a fim de efetuar uma investigação em busca da construção de alternativas à reeducação ambiental de preservação. Essa busca é necessária face à crescente destruição coletiva em relação ao meio ambiente, que além de ser uma reconstrução morosa, muitas vezes é irreparável e de grande afetação aos seres vivos, uma vez que o ser humano atual pensa muito em ter, cada vez mais, ou seja, a ganância faz com que não vejam as consequências.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, a análise de algumas obras de direito ambiental e de responsabilidade penal pelos danos causados, além do estudo sobre a empresa Samarco, análise dos planosestruturais para sua existência, bem como as medidas de fiscalização pelo poder público, com fulcro na legislação específica, cumulada com as hipóteses legais que preveem condenações aos infratores, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo da responsabilidade ambiental, revelar a importância dos princípios na construção de ideias sustentáveis, apontar novas perspectivas para a problemática ambiental.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem do meio ambiente e os danos ambientais, tomando como ponto de partida alguns conceitos básicos de direito ambiental, trazidos por diferentes doutrinadores. Ainda foi relacionado o direito ambiental e direito penal, com fulcro no consequencialismo.

No segundo capítulo foi analisada mais profundamente a necessidade da tutela penal ambiental, desde sua previsão da Constituição até seu surgimento nas

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normas infraconstitucionais, como é o caso da Lei n. 9.605/98. Também são analisadas as responsabilidades dos agentes causadores de danos ambientais, além da responsabilidade das pessoas físicas, a das pessoas jurídicas e ainda a dos agentes públicos, verificando quais as penalidades, mas também os meios que poderiam utilizar para prevenção ambiental. Por fim, estudar os danos e crimes causados especificamente por atividades de mineração que não observaram as regras e os limites previstos para explorações dos bens naturais.

Seguindo, no terceiro capitulo, faz-se a exposição do caso Samarco, uma emblemática tragédia ambiental ocorrida em Mariana, no interior de Minas Gerais, com a empresa de mineração Samarco, bem como a apuração dos danos causados com base nas notícias e laudo preliminar. Ainda, as medidas de fiscalização pelo poder público, com fulcro na legislação específica, cumulada com as hipóteses legais que preveem condenações aos infratores. A descrição dos danos e crimes cometidos, levando em consideração o que foi noticiado e os laudos efetivos, bem como a responsabilização por estes danos, os crimes em espécie aos quais os agentes foram denunciados.

A partir desse estudo verifica-se a importância deste bem natural que é o meio ambiente, e a falta de preocupação por parte de todas as pessoas que nele habitam. Ademais, busca-se conscientizar os indivíduos a optarem pelas melhores propostas, quais sejam a da sustentabilidade e preservação para que prolongue a vida na terra, sendo essenciais para a contribuição dessa construção de alternativas à vida, sustentáveis, a utilização de métodos que coíbam tais condutas agressivas ao meio ambiente, normas e regras efetivas, que solucionem e especialmente previnam danos irreversíveis, e que busquem da paz ambiental nacional e internacionalmente.

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1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO DIREITO PENAL

A previsão constitucional do art. 225, caput, da Constituição Federal, ao considerar o direito ao meio ambiente equilibrado um direito fundamental, impôs ao Poder Público e à coletividade o dever de cuidado, proteção e, inclusive, preservação ao ambiente natural para presentes e futuras gerações.

O tema do meio ambiente, principalmente o de sua degradação, é de suma importância, haja vista que produz efeitos imediatos e futuros na vida das pessoas, ameaçando os recursos naturais essenciais à perpetuação de todas as espécies de vida.

Assim sendo, para garantirmos o bem-estar e a qualidade de vida, bem como a apreciação da responsabilidade nos casos de lesões ou ameaça de lesão aos bens ambientais no direito ambiental, imprescindível à análise, primeiramente, dos conceitos básicos a ele inerentes e do desenvolvimento da proteção normativa no ordenamento brasileiro.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar além dos conceitos, a proteção ambiental através de normas punitivas de condutas lesivas ao meio ambiente, ou seja, a origem desta tutela e como esta se desenvolveu, em especial na Constituição de 1988 e no Direito Penal, a fim de possibilitar a posterior averiguação de sua eficácia nas atuais relações com o meio ambiente, objeto deste estudo.

1.1 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente n. 6.938 de 31 de agosto de 1981, definiu meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (art.3º, I). Na mesma cadência de ideias completas José Afonso da Silva, citado por Luís Paulo Sirvinskas (2011), conceituando meio

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ambiente como “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.

Segundo Édis Milaré, citado por Fernando Capez (2007, p.45),

No conceito jurídico de meio ambiente podemos distinguir duas perspectivas principais: uma estrita e outa ampla, a estrita nada mais é do que o patrimônio natural e suas relações com e entre os seres vivos, já na ampla abrange toda a natureza original e artificial, assim como os bens culturais correlatos.

No entendimento de muitos, meio ambiente está relacionado apenas com o sentido estrito, ou seja, com a natureza, beleza, local a ser admirado, um habitat para a vida humana e animal, não deixa de estar correto, porém a doutrina apresenta uma divisão que vai além desse entendimento, dividindo-o em meio ambiente natural, artificial e cultural, quem explica detalhadamente esta divisão é Capez (2011 p. 45-46, grifos do autor):

Meio ambiente natural: aquele que existe por si só, independentemente da influência do homem. Exemplo: a atmosfera, a água (rios, mares, lagos, etc), a flora, a fauna, o solo.

Meio ambiente artificial: aquele que decorre da ação humana. Exemplo: conjunto de edificações, prédios, fábricas, casas, praças, ruas, jardins, o meio ambiente do trabalho, enfim, tudo o que é construído pelo homem. (Obs.: mesmo que se localizem no meio de uma mata, por exemplo, serão considerados parte do meio ambiente artificial, visto que decorrem de intervenção humana no meio ambiente natural)

Meio ambiente cultural: constituído pelo patrimônio arqueológico, artístico, turístico, histórico, paisagístico, monumental, etc. também decorre da ação humana, atribui valores especiais a determinados bens do patrimônio cultural do País.

Ainda, sobre o tema Lenza (2014, p. 1331, grifos do autor) escreve:

Podemos sustentar que o meio ambiente é bem de fruição geral da coletividade, de natureza difusa e, assim, caracterizado como res omnium - coisa de todos, e não como res nullius, como advertiu Sérgio Ferraz.38. Trata-se de direito que, apesar de pertencer a cada indivíduo, é de todos ao mesmo tempo e, ainda, das futuras gerações.

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Levando em consideração as colocações feitas acima, fica clara a importância da preservação, como comenta Sirvinskas (2011, p.91):

O preceito constitucional protege a sadia qualidade de vida do homem que vive neste mundo. Essa qualidade de vida está relacionada ao meio ambiente urbano e rural. Procura-se protegê-lo das agressões e degradações praticadas pelo próprio homem.

Neste sentido, entende-se por degradação da qualidade ambiental a alteração adversa das características do meio ambiente, e por poluição a degradação da qualidade ambiental resultante de atividade que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; que criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; que afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente e que lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos, conforme prevê o art. 3º, II e III, „a‟, „b‟, „c‟, „d‟, e „e‟ da Lei 6.938/81 (BRASIL, 2016).

A degradação ameaça não somente o bem estar da sociedade como também a qualidade de vida e sobrevivência da espécie humana. Dessa forma, cabe verificar as diversas maneiras que se manifestam quer destruindo os elementos que o compõem, quer por substâncias que alterem a qualidade. O dano ambiental no ordenamento jurídico na análise de Costa citado por Morato Leite (2000, p. 97-98):

Dano, de acordo com a teoria do interesse, á lesão de interesses juridicamente protegidos. Costa precisa que o dano é toda ofensa a bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica o interesse, nesta concepção, representa a posição de uma pessoa, grupo ou coletividade em relação ao bem suscetível de satisfazer-lhe uma necessidade. Bem deve ser entendido, em sentido amplo, como o meio de satisfação de uma necessidade. Pelo que se depreende desta definição, dano abrange qualquer diminuição ou alteração de bem destinado à satisfação de um interesse. Isso significa, como regra, que as reparações devem ser integrais, sem limitações quanto à sua indenização, compreendendo os danos patrimoniais.

Na visão de Milaré (2011, p.1119), “Dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”.

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Analisado por José Afonso da Silva (2004, p. 299),

Dano ecológico é qualquer lesão ao meio ambiente causado por condutas ou atividades de pessoa física ou jurídica de Direito Público com o disposto no art. 225, §3°, da Constituição da República, segundo o qual as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, interdependentes da obrigação de reparar os danos causados.

Os danos ambientais, são caracterizados por atingirem um número significante de indivíduos, além de serem de valores incalculáveis, muitas vezes irreparáveis, diferem-se do dano comum pelo fato de que este atinge uma pessoa ou um conjunto determinado de pessoas, por isso dizem ser um dano de difícil reparação, mesmo tendo uma reparação em dinheiro. Às vezes é impossível consertar o dano causado, talvez, a melhor forma de reparação e a solução desse dano, seja a prevenção.

É por este e por outros motivos que o ordenamento jurídico brasileiro passou a tratar da tutela ambiental com um olhar preventivo. Assim, no começo o homem achava-se dono do ambiente ao seu redor e acreditava que era seu provedor natural, e que nunca iria acabar, porém, com o passar dos anos percebeu que os recursos naturais se esgotavam e que deveriam parar e pensar numa maneira de recuperá-los.

Para isso, além dos conceitos estudados acima, indispensável faz fixar uma concepção do que seja o Direito Ambiental. Há muitas definições na doutrina acerca da matéria, dentre elas, menciona Paulo de Bessa Antunes (2005, p.11):

Entendo que o Direito ambiental pode ser definido como um direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida em que o Direito Ambiental é um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que um Direito autônomo, o Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente, em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e

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uma dimensão econômica que se devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento sustentado.

Por mais completo que seja este conceito, vale destacar um conceito que destaca sua sistematização, trazido por Paulo Affonso Leme Machado (2012 p. 62-63):

O Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica. Não se trata mais de construir um Direito das águas, um Direito da atmosfera, um Direito do solo, um Direito florestal, um Direito da fauna ou um Direito da biodiversidade. O Direito Ambiental não ignora o que cada matéria tem de especifico, mas busca interligar estes temas com a argamassa da identidade dos instrumentos jurídicos de preservação e de reparação, de informação, de monitoramento e de participação.

Foi então, que a legislação ambiental teve seu espaço com mais potência em nosso ordenamento. Neste sentido, escreve (SILVA, 2014, p. 28, grifos do autor), “O problema da tutela jurídica do meio ambiente manifesta-se a partir do momento em que sua degradação passa a ameaçar não só o bem-estar, mas a qualidade de vida humana, se não a própria sobrevivência do ser humano”.

1.2 Desenvolvimento da proteção normativa ao ambiente no ordenamento brasileiro

O desenvolvimento da tutela jurídica ambiental, no início deu ênfase no ambiente natural, teve como base a Constituição Portuguesa, no Brasil deu início com o Código Civil, quando este prevê os direitos de vizinhança, mais tarde legisla sobre saúde pública relacionando-os com o meio ambiente, logo após surgiram várias leis especificas, como: Código Florestal, Código de Águas, Código de Pesca. Estes marcos históricos devem ser relembrados com mais detalhes. (MILARÉ, 2011)

A trajetória da tutela jurídica do meio ambiente foi dividida em vários momentos. O primeiro foi aquele desregrado, onde houve explorações sem limites, ausência de normas protetivas, muito caracterizada pelo forte poder do estado, baseado no direito à propriedade e à livre iniciativa (MILARÉ, 2011).

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Tendo em vista, o mencionado acima, naquela época a propriedade era vista como poder, o povo era individualista neste quesito, não se pensava no bem social, podendo o proprietário fazer o que bem lhe convinha em seu imóvel, despreocupado com as consequências oriundas de tais atos. Tomava decisões de corte, mudança, enfim, tinha poderes plenos e ilimitados sobre seus bens.

Falando em ausência de regras, Rodrigo Ribeiro de Magalhães Alves (2009, p. 7), relata que nas Ordenações Portuguesas, que regeu o país até a promulgação da Carta Civil de 1916, onde segundo ele, haviam tratamentos pontuais e esparsos sobre temas relacionados ao meio ambiente, mas sob um enfoque totalmente diverso do escopo de proteção desse bem jurídico.

Neste sentido Milaré (2011, p. 1042), também se pronunciou:

Toda essa legislação, antiga, complexa, esparsa e inadequada, deixava imune (se é que não o incentivava) o esbulho do patrimônio natural, despojado do seu caráter de bem comum e tratado ignominiosamente como propriedade privada, gerido e explorado sem escrúpulos, com discricionariedade acima de qualquer legislação coerente, de qualquer interesse maior.

Ainda, continua dizendo que a nossa história, infelizmente, é de depredação ambiental impune, que na prática somente eram punidos os delitos que atingiam a coroa e interesses de classes dominantes (MILARÉ, 2011, p. 1044).

Em que pese o pouco caso dado à tutela protetiva do meio ambiente, foi após atravessar crises econômicas, problemas sociais e após a possibilidade de escassez dos recursos naturais não renováveis, que começou a preocupação quase que mundial com o tema. Neste sentido são as palavras de Silva (2014, p.35):

[...] a tutela jurídica do meio ambiente aparecia circunstanciadamente nesses diplomas legais. Só recentemente se tomou consciência da gravidade da degenerescência do meio ambiente natural, cuja proteção passou a reclamar uma politica deliberada, mediante normas diretamente destinadas a prevenir, controlar e recompor sua qualidade.

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O segundo marco histórico do desenvolvimento da tutela ambiental foi o Código Civil de 1916, o qual elencou várias normas destinadas a fundamentar, é claro, o direito privado, marcado pelo conflito de vizinhanças pela degradação da propriedade, ainda pela poluição das empresas, mas muito voltado ainda, a visão econômica. Porém, foi a partir de então que surgiram várias legislações específicas de tutela do meio ambiente (MILARÉ, 2016).

Entretanto, outra fase deste desenvolvimento iniciou-se no ano de 1972 com a declaração do meio ambiente na Conferência de Estocolmo. Essa conferência nacional aconteceu para discutir os principais problemas ambientais que já alcançavam uma dimensão global, e principalmente o crescimento econômico, que neste momento passou a ser visto de maneira que possibilitasse o desenvolvimento sustentável, substitui uma visão quantitativa por uma qualitativa e equilibrada. Além disso, contém 26 princípios de grande relevância para as questões ambientais (MIARÉ, 2011).

A partir de então, o âmbito nacional teve uma preocupação em compensar o tempo perdido, e tentar reverter ou ao menos, minimizar a situação, passou a surgir legislações com o objetivo de obter um crescimento econômico através da proteção ambiental. Milaré (2011, p.1047-1048), escreve sobre os quatros marcos mais importantes desta postura recente do ordenamento jurídico na busca de resposta ao clamor social pela imperiosa tutela do ambiente, quais sejam a Lei n.º 6.938 de 31.08.1981 conhecida como a Lei da Politica Nacional do Meio Ambiente, que dentre seus artigos traz para o mundo do direito o conceito de meio ambiente, também institui um sistema nacional de meio ambiente (SISNAMA), e estabeleceu a obrigação do poluidor reparar os danos causados.

Também cita a Lei n.º 7.347, de 24.07.1985, como outro marco, que disciplina a ação civil pública como instrumento processual específica para a defesa do meio ambiente, além de possibilitar que a agressão ambiental seja incluída como um caso de justiça. O terceiro marco, e mais importante podemos dizer, foi a Constituição Federal de 1988, que se fez notável progresso, dando um capítulo único ao meio ambiente, influenciando desta forma, as constituições estaduais a legislarem sobre o tema. O quarto marco, foi Lei n.º 9.605 de 12. 02. 1998, conhecida como Lei dos

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Crimes Ambientais, que dispõe sobre sanções penais e administrativas aos agentes causadores de danos ambientais, além de prever a possibilidades de a pessoa jurídica ser parte ré, em processo contra o meio ambiente (BRASIL, 2016).

1.3 Meio ambiente e a Constituição de 1988

A Constituição ao reservar um capítulo inteiro (VI) para o direito ambiental, em seu Titulo VII, da ordem social, apesar de ter um único artigo, trouxe esperanças para o surgimento de outras normas de proteção e ordem ambiental. Importante faz transcrever o art. 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2016).

Apenas no caput deste artigo percebe-se a riqueza de detalhes e abrangências com que o legislador tratou o tema. Não deixando de ser importante também seus parágrafos e incisos. Além deste capítulo próprio do meio ambiente, há outras proteções ao meio ambiente ao longo da Constituição Republicana.

Neste sentido Milaré (2011, p. 184), escreve que “A constituição de 1988 pode muito bem ser denominada „verde‟, tal o destaque (em boa hora) que dá à proteção do meio ambiente”. A Carta Magma de 1988, na verdade apenas concretizou um sonho que está em nossa nação, à consciência de que precisamos viver em harmonia com a natureza, ou melhor, com o meio ambiente, garantindo um meio ambiente ecologicamente equilibrado dando continuidade à vida, em que pese esta mesma norma, em seu art. 3ª prevê os objetivos da República, dentre os quais está o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade e de todos (BRASIL, 2016).

A partir deste momento, que foram criadas legislações federais, que estabeleceram políticas e conselhos de desenvolvimento e controle do meio ambiente. Contudo, no Brasil, então como já mencionado, foi a Constituição de 1988 que realmente pôs o meio ambiente como um direito fundamental, a qual nos levou ao maior salto no que diz respeito à tutela de proteção e principalmente de punição

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pelos crimes cometidos contra o meio ambiente, os quais passarão a ser estudado num segundo momento.

1.3.1 A responsabilidade penal do ente coletivo na constituição de 1988

Além da responsabilidade administrativa e civil, a própria Constituição Federal preocupou-se em responsabilizar penalmente os agentes causadores de danos ambientais. Foi no próprio artigo acima citado, qual seja, o art. 225 § 3º, que está prevista essa sanção, o qual prescreve que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 2016).

Neste sentido, Celeste Leite dos Santos Pereira Gomes (1998), diz que tal dispositivo e sua interpretação literal enseja o entendimento de que é admissível a responsabilidade penal dos entes jurídicos, enseja sobre as espécies de pena previstas no artigo 5º, XLVI da CF e continua que em tese, é possível que a pessoa jurídica seja objeto de alguma das mencionadas sanções.

Também em seu art. 173, § 5º, a Constituição assim dispõe: A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a as punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

Apesar dos dispositivos, em especial este último não especificar em que responsabilidade se enquadra, como criticado por alguns autores, nossa Lei maior é a Constituição, e ela dá ao direito ao meio ambiente caráter fundamental. Para afirmação deste direito como direito fundamental, imprescindível foram às palavras do Ministro Celso de Mello nas primeiras decisões do STF, sobre o meio ambiente como direito ambiental, citado por Patryck de Araújo Ayala (2011, p. 411):

Trata-se [...] de um direito de terceira geração, que assiste de modo subjetivamente indeterminado a todo o gênero humano, circunstancia

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essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e à própria coletividade – de defendê-lo e preservá-lo em beneficio das presentes e futuras gerações, evitando-se, desse modo, que irrompam, no seio da comunhão social, os graves conflitos

intergeracionais marcados pelo desrespeito ao dever de

solidariedade na proteção desse bem essencial de uso comum de todos quantos compõe o grupo social.

Na esteira de defender o direito à vida com imediata ligação a um direito ao meio ambiente equilibrado, faz pertinente reflexão:

Uma coisa é afirmar a existência de um direito, outra coisa é determinar quais os modos de proteção desse direito (ação judicial, processo administrativo). Acresce que o fato de se reconhecer um direito à vida como direito positivo a prestações existenciais mínimas, tendo como destinatário os poderes públicos, não significa impor como o Estado deve, prima facie, densificar esse direito. Diferentemente do que acontece no direito à vida, na sua dimensão negativa – não matar- e na sua positiva – impedir de matar – aqui, na segunda dimensão, positiva, existe um relativo espaço de discricionariedade do legislador (dos poderes públicos) quando à escolha do meio (ou meios) para tornar efetivo o direito à vida na dimensão existencial mínima. (CANOTILHO 2008, p. 57-58)

O assunto sobre meio ambiente como direito a vida, em especial os meios de proteção trazidos pelos legisladores através de punição, quais sejam, as leis penais serão mais bem desenvolvidas no segundo capítulo.

1.4 A proteção na Constituição Federal e os acordos internacionais

Tendo em vista que as consequências da degradação ambiental extrapolam os marcos territoriais de um país, ou seja, seus reflexos são internacionais ou até mesmo planetário. Houve uma imensa preocupação em nível geral em obterem legislações, como acordos e tratados, convenções, entre outros a fim de manter o equilíbrio do meio ambiente. Esses documentos têm por objetivo a cooperação internacional, que possibilita o desenvolvimento em plano internacional, a conservação ambiental e a melhoria das condições socioeconômicas e da qualidade de vida, ou seja, a internacionalização de tal tutela.

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Desertificação, chuva acida, mudanças climáticas, redução da biodiversidade, entre outras consequências ambientais, fazem parte do dia a dia da humanidade e levaram ao fortalecimento da interdependência entre as nações que, através dos instrumentos do Direito Internacional, tem buscado formas de cooperação e entendimento para a preservação do planeta.

Na medida em que a questão ambiental tornou-se assunto planetário, e a indispensabilidade de concurso entre os povos, ou seja, o princípio da cooperação internacional passa a ser obrigatório. No Brasil, a Constituição Federal o define em seu art.4º a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade como princípio fundamental que deverá nortear as relações internacionais em que o Brasil estiver envolvido (BRASIL, 2016).

Os tratados, como já dito antes, são as principais fontes do Direito Internacional. Milaré destaca que os tratados estabelecem uma relação de Estado a Estado e se aplicam, salvo estipulação em contrário, a todo território dos países contraentes. O tratado é primeiramente definido na Convenção de Viena, de 1969, que é chamada Lei dos Tratados, em seu artigo 2.°: Acordo internacional concluído entre Estados em forma escrita e regulado pelo direito internacional, são juridicamente obrigatórios e vinculantes. (MILARÉ, 2011).

No caso brasileiro, a Constituição de 1988, em seu art. 84, inciso VIII, determina que o Presidente da República tem o poder de celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a apreciação e aprovação pelo Poder legislativo, mediante decreto conforme art. 49, I, da mesma Carta. (MILARÉ, 2011).

Vários atos internacionais foram ratificados pelo Brasil, vejamos alguns deles: já de início, tomaremos como base a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente de 1972, onde foi aprovada a conhecida Declaração de Estocolmo, que contém 26 princípios e foi uma base para a redação do art. 225 da Constituição Federal. Logo após, em 1975, ocorreu a Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, ou Convenção de Ramsar, sua principal preocupação era com a vida e o habitat das aves aquáticas, a mesma impôs as partes contratantes obrigações como listar zonas úmidas de importância nacional, conservando-as, estabelecer reservas naturais e manejar de forma a beneficiar as aves aquáticas, a

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cooperação entre as partes ao programar convenção, nos casos de pesquisa e desenvolvimento de projetos. – o Brasil ratificou-a através do Decreto Legislativo n.º 33 de 16.06.1992. (MILARÉ, 2011).

Também a Convenção sobre o Comércio das Espécies da Flora e da Fauna Selvagem em Perigo de Extinção – CITES, em nosso país foi ratificada em 24.06.1975, através do Decreto Legislativo n.º 54, esta deu origem no Brasil a um conjunto de Decretos, Portarias e Resoluções. Já em 1982 aconteceu a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar – UNCLOS, no Brasil sua ratificação foi formalizada pelo Decreto Legislativo n.º 05 de 09.11.1987, originou uma legislação rica e específica para as questões marítimas nacionais. Segundo Milaré (2011, p, 1516), esta Convenção trata do espaço oceânico e das diversas modalidades de sua utilização, tais como a navegação, o sobrevoo, a exploração de recurso, a conservação e a contaminação, a pesca e o tráfego marítimo.

Outro grande marco foi a Convenção de Viena para proteção da Camada de Ozônio, firmada por 28 países em março de 1985, foi um marco no Direito Internacional do Ambiente, uma vez que adotou tacitamente o Princípio da Precaução, mais tarde, em 1987, amparado pelo perfil desta foi firmado o protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a Camada de Ozônio, aprovado no Brasil em 1989, porém só passou a viger no Brasil em 17.06.1990. Este assunto é um dos mais conhecidos, é um dos problemas ambientais que teve repercussão, ao passo que todos sabem dos cuidados que se deve tomar ao se expor ao sol, visto que o buraco da camada de ozônio vem aumentando (MILARÉ, 2011).

O Brasil preocupou-se intensamente e interagiu de várias formas para amenizar tal problema, criando programas, decretos, resoluções e proibições das empresas na utilização de certas substâncias nocivas, como o uso de SDOs1.

Em 1989, nasceu a Convenção sobre Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos, também conhecida como Convenção da Basiléia. Esta, segundo Milaré, esta baseada no princípio do consentimento prévio e

1

Substâncias de produtos e equipamentos que destroem a camada de ozônio. (MILARÉ, 2011, p.1516)

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explicito para a importação e o trânsito desses resíduos, coibindo o tráfico ilícito. Assim, a Convenção não proíbe a movimentação transfronteiriça de resíduos perigosos em si, mas estabelece mecanismos para o seu controle e acompanhamento. Sendo aprovada no Brasil pelo Decreto n.º 34, de 16.06,1982 e promulgada através do Decreto n.º 875, de 19.07.1993. (MILARÉ, 2011).

Em 1983, foi instituída a Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento - CNUMAD, também conhecida como “cúpula da terra”, ela se realizou na cidade do Rio de Janeiro – Rio 92. Ela nasceu com o objetivo de os países repensarem a questão de reversão da degradação ambiental, nesta ocasião surgiu o termo desenvolvimento sustentável. Além disso, vários documentos foram oriundos desta conferência, vejamos dois deles: A declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que segundo Milaré (2011, p. 1531):

Esta Carta contém 27 princípios e busca estabelecer um novo modelo de desenvolvimento, fundado na utilização sustentável dos recursos ambientais, no respeito a capacidade do Planeta de Absorção de resíduos e de efluentes líquidos e gasosos poluentes e, por fim, na valorização da qualidade ambiental como requisito imprescindível à qualidade de vida, que somente pode ser proporcionada através da solidariedade socioeconômica e da cooperação técnico-cientifica entre os povos.

Foi na Conferência do Rio de Janeiro (ECO-92) que surgiu a Agenda 21, segundo Sirvinskas (2011, p. 635):

Cuida-se de um conjunto amplo e diversificado de diretrizes que, no suceder-se dos vários capítulos, recorre frequentemente a outros textos das Nações Unidas [...]. Essa agenda possui 2.500 recomendações para implementar a sustentabilidade. Cuida-se de uma carta de intenções para o século XXI.

Ainda Milaré (2011, p. 1540), diz que o Brasil foi o primeiro país a assinar a Convenção, em 04 de junho de 1992, tendo sido aprovado pelo Congresso Nacional mediante o Decreto Legislativo 01 de 03.02.1994 e entrado em vigor no país em 29 de maio de 1994. Foi promulgada pelo Decreto Presidencial n.º 2.625, de 01. 07.1998.

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Com a finalidade de reduzir os poluentes do ar atmosférico, em 1997, foi realizada a reunião na qual surgiu o protocolo de Kioto, nele estabeleceram-se metas para os países desenvolvidos e em desenvolvimento, e os países como o Brasil, não incluso no anexo 1, foram chamados para adotar limite quanto suas emissões. Porém, este documento entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, quando preencheu os requisitos estabelecidos para sua entrada em vigor. Assim, é importante salientar que essas metas, após o transcurso de certo tempo passaram a ser insuficientes para combater o efeito estufa diante do aumento imenso das emissões. (SIRVINKAS, 2011, p. 634)

Entre as consequências desses poluentes merece destaque especial às mudanças climáticas que afetam o globo terrestre por inteiro, gerando efeitos perversos como a perda da biodiversidade, a sensível alteração por nível dos oceanos e mares, assim como incalculáveis prejuízos de ordem econômica. Além disso, essas mudanças podem tornar inviável a vida humana e outras espécies de vida, provocando assim uma radical mudança no Planeta. (MILARÉ, 2011, p. 1541)

O nosso país retificou o texto deste Protocolo pelo Decreto. Leg. n. 144 de 20.06.2002, estabelecendo que fica sujeito a aprovação do Congresso qualquer ato que possa alterar ou ajustar a Convenção sobre Mudanças Climáticas.

Passados 10 anos da “Cúpula da Terra”, foi realizada a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, na cidade Johannesburgo na África do Sul, que ficou conhecida como Rio + 20. Sirvinkas (2011, p. 634), fala sobre:

A reunião da Cúpula da terra, em Johannesburgo, deveria ser o marco para a virada da conscientização internacional do meio ambiente. O balanço, ao final da reunião, demonstrou que não houve nenhum avanço significativo. Essa megarreunião, pois muitas questões foram discutidas sem a devida solução. [...] Vê-se, pois, que a reunião não foi conclusiva para resolver os maiores e mais graves problemas por que o planeta está passando no momento.

Tendo em vista, toda esta explanação da cooperação internacional, percebemos como são notórias as questões ambientais não só a nível nacional, mas também de forma global e a grande preocupação por parte de todos em resgatar os

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recursos naturais, e planejar a forma como serão gastos os que ainda restam, necessários, portanto, a existência desses tratados e convenções de colaboração planetária, bem como deveres e obrigações impostos de forma eficaz, em especial os que impõem limites aos indivíduos e fiscalização pelo poder Público para que tenhamos futuro.

Nesse sentido vem ao encontro às palavras de Milaré (2011, p. 1551):

Assim, as obrigações planetárias decorrentes de ordem ambiental internacional podem ou não tornarem-se legais na medida em que os governos soberanos se dispuserem a encampá-las em suas respectivas legislações. E, sabendo, pela observação, do panorama internacional e dos próprios fatos, haver um conflito de interesses que, por vezes, submetem os requisitos essenciais da comunidade da Terra aos caprichos de um povo ou de um governo, ao arrepio do bom senso ecológico e dos constantes do Planeta. As tentações de grandeza, supremacia e hegemonia prevalecem contra tudo e contra todos.

Ainda, o autor observa a partir dos diversos tratados existentes em matéria de direito Internacional Ambiental, a cooperação internacional é um tema revestido de especial relevância, fala que a afirmação “o meio ambiente não conhece fronteiras” tornou-se bastante comum, tanto nos meios científicos como nas próprias comunidades nacionais. Ainda, finaliza dizendo que nossa carta magna ao proclamar que ”todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, não está sendo egoísta e etnocentricamente na população e no território do Brasil, embora não lhe caiba explicitá-lo: por sermos parte da humanidade, este desideratum estende-se para todos os seres humanos e o planeta Terra. (MILARÉ, 2011, p. 1551, 1570).

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2 A NECESSIDADE DA TUTELA PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS E A POLUIÇÃO POR ATIVIDADE DE MINERAÇÃO

A partir de uma análise do meio ambiente como direito difuso inerente às relações humanas e agente de mudanças das sociedades, faz-se necessária uma busca de alternativas à prestação jurisdicional do Estado, a fim de regular essas relações de forma construtiva e solucionadora. A nossa Constituição de 1988 ao reconhecer a necessidade de legitimar a obtenção do desenvolvimento sustentável, em face ao de progresso tecnológico e cientifico determinou a atuação conjunta do direito penal, civil e administrativo a fim de proporcionarem medidas sancionadoras e reparadoras aos danos ambientais.

Em que pese antes do advento da Constituição a tutela penal do meio ambiente não ser muito conhecida, havia várias legislações penais esparsas que eram aplicadas nos casos concretos. Veremos neste capítulo como esta tutela é aplicada, bem como se estudará as legislações vigentes e sua aplicação aos danos causados no meio ambiente. Além de dar ênfase aos crimes por atividade de mineração.

2.1 Necessidade de tutela penal do meio ambiental

A Constituição Federal tutela o meio ambiente administrativa, civil e penalmente. A tutela penal atua de forma repressiva, punindo os agentes causadores de danos a fim de desestimular a prática de atos lesivos ao meio ambiente. A importância desta tutela está muito bem demonstrada nas palavras de Hébia Luíza Machado (2006, p. 48):

[...] a aplicação isolada dos Direitos Administrativos ou Civil não seria apta a solucionar o problema da degradação ambiental, pois, no campo administrativo há interferência política, culminando, quase sempre, em impunidade. Na seara civil, as demandas são prolongadas e difíceis, causando sensação de impunidade, além das sérias dificuldades existentes em se valorar e quantificar os danos causados.

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As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem é que há de orientar toda a forma de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Compreendeu que ele é um valor preponderante que há de estar acima de quaisquer considerações como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as da iniciativa privada. Também são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumental no sentido de que, através desta tutela, o que se protege é um valor maior: a qualidade da vida humana.

Frente à pequena eficácia das normas da responsabilidade civil ou administrativa, optaram os políticos a estabelecerem normas penais na constituição, não sendo dessa forma por acaso a previsão constitucional de responsabilização penal. Seguindo, neste raciocínio imprescindível o Direito Penal estabelecer em sua codificação ou em Leis extravagantes responsabilidade penal aos agentes causadores de danos por práticas lesivas ao meio ambiente, como é o caso da Lei 9.605/98 (MILARÉ, 2011).

A edição da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que foi aprovada após longa tramitação complexa e difícil, dispõe sobre as sanções penais e administrativas lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências, estabeleceu uma nova estruturação para a repressão penal e administrativa dos ilícitos ambientais (BRASIL, 2016).

A Lei n. 9.605/98 pode ser dividida em duas partes: a) a Parte Geral, compreendida entre os arts. 2º (já que o 1º foi vetado) e 28, e que apresenta normas penais e processuais penais gerais; b) a Parte Especial, que indica as infrações penais ambientais em espécie. Vale destacar que a Parte Geral muitas vezes repete redações contidas no Código Penal e Código de Processo Penal, mas, também, cria institutos aplicáveis somente aos crimes ambientais, em virtude do princípio da especialidade (BRASIL, 2016).

Cabe ressaltar ainda, que há princípios também que regem esta proteção, e que tratando de tutela penal ambiental eles se chocam. Um deles é o princípio da intervenção mínima, pelo qual o Estado somente pode intervir quando realmente

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necessário, e quando esgotados todos os meios em direito permitidos, deixando o direito penal como a “última ratio”. Conforme leciona Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Christiany Pegorari Conte (2012, p.6):

Há evidente diferença – fundamento do princípio da

fragmentariedade2 – entre tutelar um bem da vida e incluí-lo no seleto rol dos bens jurídico-penais. Para ser legítima a tutela penal, é necessário que o bem seja “digno” dessa proteção, e que a lesão ou

ameaça efetivamente mereça uma sanção penal. A

imprescindibilidade da tutela penal deve ser observada tendo em vista a proporcionalidade entre a relevância do bem jurídico protegido e as consequências sociais estigmatizadoras, inexistentes nos outros ramos do direito.

A visão do direito penal, como meio forte de utilidade social, pois tutela os mais importantes bens jurídicos da sociedade, e que deve ser observado como instrumento para solucionar os conflitos em últimos casos, Alexandre Victor de Carvalho (2003, pg.279, 280), escreve:

É cediço ser o Direito Penal instrumento vigoroso de utilidade social, tendo por função precípua a tutela dos mais relevantes bens jurídicos da sociedade. A visão minimalista do Direito Penal é hoje largamente difundida na órbita da doutrina criminal, para a qual este instrumento político (porque é assim que se deve olhar o Direito Penal) só deve ser empregado em última instância, quando os filtros de controle social, assim como os demais ramos do Direito, não conseguirem dar uma resposta adequada ao fato gerador de danosidade.

Além deste, há o principal, qual seja princípio da precaução, tendo em vista que tratando de matéria sobre meio ambiente não se pode esperar pelo desfecho danoso, para depois somente haver uma intervenção estatal, ou seja, deve prevenir antes do dano ocorrer.

Há autores que dizem que este princípio corresponde à essência do direito ambiental, uma vez que vai além do simples fato de afastar o perigo, nas palavras de Cristiane Derani (1996, p. 164):

2

Referido princípio estabelece que apenas os ilícitos que atentam contra valores fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade podem configurar ilícitos penais, colocando o direito penal na última etapa de proteção do bem jurídico. (FIORILLO, Celso; CONTE, Christiany 2012, p.6).

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[...] Na verdade, é uma “precaução contra o risco”, que objetiva prevenir já uma suspeição de perigo ou garantir uma suficiente margem de segurança da linha de perigo. Seu trabalho esta anterior à manifestação do perigo.

Derani (1996), completa o raciocínio afirmando:

O princípio da precaução deixa claro que, devido à dimensão temporal (relacionada com o futuro) e à complexidade da proteção ambiental, não é suficiente que se pratique apenas uma “intervenção periférica”. Isto é, com base neste princípio, a politica ambiental desenvolve-se não em normas rigidamente divididas numa denominada ordem do direito ambiental. Normas que denotam uma prática sustentável de apropriação de recursos naturais integram obrigatoriamente o planejamento da politica econômica e, consequentemente, as normatizações da prática econômica. Precaução ambiental é necessariamente modificação do modo de desenvolvimento da atividade econômica. (1996, p. 165, 166)

Ocorre que, diante destes dois princípios supracitados, já se iniciam os conflitos, tendo em vista que o princípio da precaução confronta com o da intervenção mínima, pois o segundo orienta a intervenção do Estado apenas quando se faz necessário, e não ocorrendo dano não teria como criminalizar, ao passo que primeiro trabalha com a anterioridade da norma aplicada a fim de impedir que danos futuros aconteçam.

Sendo assim, a tutela penal atua de maneira repressiva a fim de punir e desestimular a prática de atos lesivos contra o patrimônio, porém sempre observando esses princípios além de muitos outros. Ainda, com relação à lei ambiental acima mencionada, significa apenas o primeiro passo para a consolidação das leis ambientais, uma vez que não se trata de uma lei perfeita e acabada, trazendo consigo avanços, mas também retrocessos (SIRVINSKAS, 1998).

Levando em consideração os fatos mencionados acima, vão ao encontro as palavras de Sirvinskas (1998, p. 29):

Perdeu-se uma grande oportunidade de se criarem tipos penais completos e abrangentes. A lei se restringiu em sistematizar, praticamente, normas já existentes e criminalizar condutas que outrora eram apenas contravenções, deixando de disciplinar ou proteger outros bens jurídicos relevantes para o meio ambiente.

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Muitos tipos penais são extremamente abertos, como por exemplo, o art. 54 da LA. A maioria dos tipos deve ser complementada por normas penais em branco. Muitos dispositivos ficaram nas legislações esparsas, não resolvendo o problema da sistematização de maneira ampla e precisa. Oxalá, podemos resolver o problema na Consolidação das Leis Ambientais que se encontra tramitando no congresso.

Em que pese às críticas, um dos avanços que a lei ambiental trouxe foi a introdução da responsabilidade penal da pessoa jurídica, em concurso ou não com a pessoa física, as quais serão estudadas detalhadamente no próximo tópico. Neste sentido, Carvalho (2003, p. 281), coloca que:

Destarte, o direito ao meio ambiente, chamado de “direito de terceira geração”, não impõe deveres apenas ao Estado, mas a todos, pessoas físicas e jurídicas, cuja obrigação de preservar a sadia qualidade de vida das presentes a sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações é indeclinável.

O mesmo autor acima citado diz que por ser tamanha magnitude o valor constitucional dado a esse assunto era prescindível ser efetivada pela legislação inferior, nasceu então a Lei n 9.605 de 1998, cujo “objetivo fundamental foi o de estabelecer uma resposta penal eficaz aos principais ilícitos penais, dimensionando a responsabilidade penal consoante a importância do bem jurídico consubstanciado no meio ambiente”. (CARVALHO, 2003, p.283)

Entretanto, para ele a legislação não colide com o princípio da intervenção mínima do direito penal, porém acredita ser abuso político do direito penal, uma vez que criminaliza algumas condutas que deveriam ser tratadas apenas como infrações administrativas. Nesse sentido, completa Carvalho (2003, p. 283):

[...] Esta desproporcionalidade em relação às penas cominadas, no exemplo tomado, traz descrédito ao instrumento legislativo, demonstrando que o legislador malgrado tenha efetivado a proteção penal ao meio ambiente da forma como a Constituição exigiu, não levou em conta os princípios constitucionais que penetram no sistema penal para a limitação do poder punitiva estatal, e, neste particular aspecto, não observou os postulados da intervenção mínima.

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2.2 Responsabilidade penal nos crimes ambientais por pessoas físicas e jurídicas

Partindo da interpretação da lei em questão, a reponsabilidade penal por ela indicada abrange tanto pessoas físicas como jurídicas, geralmente são cometidos em concurso de pessoas e podem ser praticados por qualquer pessoa (crime comum), exceto os contra a administração ambiental, o qual exige como sujeito ativo funcionário público.

Com relação à pessoa física é tranquilo, pois é sujeito ativo possível de delito, possui capacidade de ação com consciência e vontade.

A responsabilização da pessoa jurídica teve, e ainda há certa discussão por parte de alguns doutrinadores, ocorre que não há o que ser questionado, uma vez que esta constitui mandamento constitucional, prevista no artigo 225, § 3º como já citado anteriormente. Além disso, essa determinação constitucional encontra-se ressonância em várias outras normas de natureza infraconstitucionais.

Em função desta discussão foram criadas correntes/teorias. As principais são:

1ª:É a corrente minoritária. A CF/88 não previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas apenas sua responsabilidade administrativa. Os seguidores desta corrente interpretam o § 3º do art. 225 da CF/88: os infratores pessoas físicas estão sujeitos a sanções penais e os infratores pessoas jurídicas a sanções administrativas. Acreditam que quando o dispositivo constitucional fala em sanções penais ele está apenas se referindo às pessoas físicas. Adotam essa corrente: Miguel Reale Jr., Cézar Roberto Bitencourt, José Cretela Jr (SIRVINSKAS, 1998).

2ª:É a posição majoritária na doutrina. A ideia de responsabilidade da pessoa jurídica é incompatível com a teoria do crime adotada no Brasil, esta segunda corrente baseia-se na Teoria da ficção jurídica, de Savigny, a qual acredita que a pessoa jurídica não teria autonomia, vontade e capacidade de ação. Adotam essa corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado, Alberto Silva Franco, Fernando da Costa Tourinho Filho, Roberto Delmanto, LFG, entre outros.

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3ª: É plenamente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais porque assim determinou o § 3º do art. 225 da CF/88. A pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não haja responsabilização de pessoas físicas. Esta corrente é defendida, dentre outros, por Vladimir e Gilberto Passos de Freitas. Também adotada por Otto Gierke, a teoria da realidade ou da personalidade real que ao contrário, atribui à pessoa jurídica capacidade postulatória, com as características acima mencionadas (SIRVINSKAS, 1998).

Para a segunda teoria, a pessoa jurídica não pode cometer delito, uma vez que é destituída de consciência e vontade, e que os delitos praticados por esta são de responsabilidade de seus diretores [...]. Já para esta última, ela pode delinquir, pois possui vontade que pode ser exteriorizada pela soma das vontades dos seus sócios ou dirigentes [...] (SIRVINSKAS, 2002, p. 58).

4ª: É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em conjunto com uma pessoa física. Essa é a posição, dentre outros, de Édis Milaré e da jurisprudência do STJ.

A Lei n. 9.605/98 acompanhou a teoria da realidade, encaixando aos preceitos constitucionais para atender à necessidade de prevenção e repressão de delitos que atingem bens jurídicos ambientais, sobretudo diante do incremento dos danos causados e dos crimes cometidos no âmbito das empresas (BRASIL, 2016).

Esse assunto é muito discutido não só no Brasil como também em outros países, há muito conflito e divergência, pelo fato de tratar-se de direito penal, em especial na aplicabilidade da pena, uma vez que para esta é observado o princípio da culpabilidade. Sobre estas divergências, no entender de Antunes (2005, p. 900):

Este é, certamente o tema mais polêmico que foi introduzido pela lei nº 9.605/98 em nosso ordenamento jurídico. Com efeito, afirma-se a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no Direito Positivo brasileiro não é uma questão pacífica e, certamente, será examinada pelo Supremo Tribunal Federal [...].

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Porém, para que a pessoa jurídica possa vir a ser incriminada por prática de crime ambiental, devem ser observados alguns requisitos básicos, quais sejam:

a) o crime ter sido cometido em benefício ou no interesse da sociedade; b) tenha sido cometido por decisão do seu representante legal ou contratual do ente coletivo, ou por seu colegiado;

c) e que esta conduta seja considerada crime.

Nesse sentido, são as palavras de Sirvinskas (2002, p.61):

Assim, age criminalmente a entidade em que seu representante ou seu órgão colegiado deixa de tomar medidas de prevenção do dano ambiental, por exemplo, usando tecnologia ultrapassada ou impropria á qualidade do ambiente. De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão de seu representante legal ou contratual ou de órgão colegiado.

Ainda, há doutrinadores que usam como requisito que somente podem responsabilizar pessoas jurídicas de direito privado. Porém, há outros que defendem a responsabilização de pessoas de direito públicos, mas a lei deixou em aberto ao não dar distinção entre as duas.

2.2.1 Posição do STF sobre o tema

O Supremo Tribunal Federal, até pouco tempo não havia se pronunciado sobre a responsabilidade da pessoa jurídica, quem enfrentava o tema era o STJ, que até então era o que prevalecia. Em 2013, o STF enfrentou diretamente o tema e optou por seguir a 3ª corrente quando a 1ª turma, adotou corrente diversa daquela até então dominante. Entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa (1ª Turma. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013). Cuja ementa está colacionada a seguir:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PENAL. CRIME

AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA

(34)

IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO CONCOMITANTE DA

PESSOA FÍSICA QUE NÃO ENCONTRA AMPARO NA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação. 2. As organizações corporativas complexas da atualidade se caracterizam

pela descentralização e distribuição de atribuições e

responsabilidades, sendo inerentes, a esta realidade, as dificuldades para imputar o fato ilícito a uma pessoa concreta. 3. Condicionar a aplicação do art. 225, §3º, da Carta Política a uma concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental. 4. A identificação dos setores e agentes internos da empresa determinantes da produção do fato ilícito tem relevância e deve ser buscada no caso concreto como forma de esclarecer se esses indivíduos ou órgãos atuaram ou deliberaram no exercício regular de suas atribuições internas à sociedade, e ainda para verificar se a atuação se deu no interesse ou em benefício da entidade coletiva. Tal esclarecimento, relevante para fins de imputar determinado delito à pessoa jurídica, não se confunde, todavia, com subordinar a responsabilização da pessoa jurídica à responsabilização conjunta e cumulativa das pessoas físicas envolvidas. Em não raras oportunidades, as responsabilidades internas pelo fato estarão diluídas ou parcializadas de tal modo que não permitirão a imputação de responsabilidade penal individual. 5. Recurso Extraordinário

parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido

(BRASIL.2016).

Trata-se o caso julgado de uma denúncia apresentada pelo MPF por crime ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e também contra dois de seus dirigentes (o então Presidente da Companha e um superintendente de uma refinaria). Recebida a denúncia, os acusados, pessoas físicas impetraram um habeas corpus conseguindo a exclusão do polo passivo da ação penal.

O STJ, adotando o posicionamento já consolidado decidiu que a pessoa jurídica também deveria ser obrigatoriamente, excluída do processo, uma vez que as pessoas físicas haviam sido excluídas da ação penal. Por conseguinte, ocorreu a extinção do processo.

Foi, então, interposto recurso extraordinário para o STF. A 1ª Turma do STF, por maioria, cassou o acórdão do STJ. Justificando o entendimento adotado, disse

(35)

que a tese do STJ (Teoria da Dupla Imputação) viola a Constituição Federal. Tendo em vista que, o art. 225, § 3º, da CF/88 não relaciona a responsabilização da pessoa jurídica a uma identificação, e manutenção na relação jurídico-processual, da pessoa física ou natural, ou seja, não exige que a pessoa jurídica seja, obrigatoriamente, denunciada em conjunto com pessoas físicas.

O presente acordão julgado representa uma grande transformação quanto a esse assunto, qual seja, da responsabilidade penal da pessoa jurídica em relação aos crimes contra o meio-ambiente. O parecer do Supremo diz ser inteiramente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais, em virtude da compreensão concedida ao § 3º do art. 225 da CF/88. A pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não haja responsabilização de pessoas físicas (BRASIL, 2016).

Para justificar essa corrente, aplica-se uma técnica precisa. A obrigação penal da pessoa jurídica pode ocorrer, pois a CF/88 assim determinou. Cabe destacar que o § 3º do art. 225 da CF/88 não exige, para que haja responsabilidade penal da pessoa jurídica, que pessoas físicas sejam também, obrigatoriamente, denunciadas.

2.3 Danos e crimes causados por atividade de mineração

Levando em consideração o que mencionamos acima sobre o grande destaque que as questões ambientais vêm ganhando nos últimos anos, não apenas internacionalmente como também aqui no Brasil, ao criar a Lei 9.605/98, e ainda o advento da responsabilidade penal, porém está podendo atuar somente em última ratio, ou seja, somente em ações mais graves dirigidas a bens fundamentais podem ser criminalizados.

Sendo assim, pode-se dizer que, ao estabelecer como crime a poluição por atividade minerária, a lei supracitada reconhece uma tutela especial, de importância quanto à gravidade e intensidade da ofensa. Porém, é imprescindível, a execução desta riqueza, devido aos avanços da globalização. Além disso, a Constituição Federal também dá ênfase ao prever em vários de seus artigos normas sobre tal prática. Nesse sentido, são as palavras de Antunes (2005, p.845):

(36)

A mineração é uma das atividades mais polêmicas quanto aos impactos ambientais que produz. Apesar disto, é indiscutível que, no nível tecnológico em que a humanidade se encontra, é absolutamente impossível a vida humana sem as atividades minerárias. Esse fato, evidente por si mesmo, fez com que o constituinte de 1988 dedicasse diversos tópicos da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, ao tema mineração.

Não poderia ser ao contrário, esta preocupação do legislador ao tratar sobre este assunto, porque como veremos, além de ser uma atividade de extrema importância para o desenvolvimento tecnológico e de impacto na economia, é prejudicial ao meio ambiente, trazendo danos muitas vezes irreversíveis, fazer o equilíbrio entre eles não é uma tarefa fácil. A busca em transformá-los, associá-los a um desenvolvimento sustentável é o ideal a ser alcançado (ANTUNES, 2005).

Ainda, sobre a relevância deste tema escreve Priscila Kutne Armelin (2002, p.340):

A mineração sempre desempenhou um papel de relevância na economia nacional, desde a época em que o Brasil era colônia de Portugal, quando este retinha a quinta parte das riquezas minerais encontradas e lavradas aqui, pois eram os minerais propriedade do Estado que outorgava o direito de lavra aos particulares. Tal relevância é conhecida por todos, minerais como carvão, ferro, ouro e pedras preciosas, areia, calcário, argila, e outros, são amplamente usados pelo homem, seja na industrialização, na tecnologia, na construção, enfim, no desenvolvimento.

Porém, também fala do grande impacto ambiental que ocasiona ao escrever que a “atividade de mineração, de forma geral, é ofensiva, podendo ser de maior ou menor intensidade, trazendo sérias consequências ao homem e à sua saúde, precisando ser tutelada para a efetiva proteção do meio ambiente, não apenas com o intuito de reprimir, mas também de prevenir. Ainda, diz que as sanções civis ou administrativas não são suficientes para a repressão, fazendo necessário a intervenção penal”. (ALMERIN, 2002, p. 341).

Referências

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