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Os desafios da alfabetização na sociedade contemporânea

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

MICHELI LAIZE MATTIONI

OS DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA

IJUÍ (RS) 2014

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MICHELI LAIZE MATTIONI

OS DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de graduada em Pedagogia na Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grandedo Sul.

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MICHELI LAIZE MATTIONI

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OS DESAFIOS DA ALFABETIZAÇÃO NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de graduada em Pedagogia na Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grandedo Sul.

Banca examinadora:

Conceito:

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de conclusão de curso aos meus pais, Edson e Vaine pelo esforço, dedicação e compreensão, em todos os momentos desta e de outras caminhadas, a minha irmã e meu namorado que sempre me apoiaram e estiveram ao meu lado durante toda a graduação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida e a oportunidade de fazer um curso de ensino superior.

Agradeço aos meus pais Edson e Vaine pelo esforço, dedicação, por acreditarem em mim, nas minhas responsabilidades perante aos compromissos da vida.

A minha irmã Daiana e cunhado Marcos, por estarem ao meu lado sempre.

Ao meu namorado que de alguma maneira, me ajudou com um apoio, uma palavra de incentivo, um sorriso encorajador e por compreender a minha ausência, durante a realização deste trabalho.

Aos professores do Curso de Pedagogia, em especial a minha orientadora Iselda Sausen Feil, os quais foram fundamentais na construção do meu conhecimento.

Aos meus amigos e amigas que sempre acreditaram em mim e torceram pelo meu sucesso.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...7

1-ALFABETIZAÇÃONA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: ALÉM DE UMA EXIGÊNCIA...UM DIREITO...10

2-PAPELDAESCOLANESTE PROCESSO...13

3-OLHARES SOBRE AALFABETIZAÇÃO...15

4-OBSERVANDOE REFLETINDOSOBREOCOTIDIANO...18

5-CONCLUSÃO: É PRECISO SOBRETUDO ALFABETIZAR...21

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INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo comandado pela linguagem e em razão disso, o histórico entendimento reducionista atribuído à alfabetização precisa ser definitivamente rompido passando a assumir o compromisso com a formação do leitor do mundo, de sujeito usuário dos bens culturais. Isto se faz, promovendo a fala, a escuta, a experiência de escrita e leitura, permitindo o erro, refletindo sobre o mesmo e refazendo-o em processo reflexivo, pois é andando que se aprende a anda e é também lendo que se aprende a ler, ou seja, pela experiência mediada por alguém com mais experiência. Em outras palavras, uma pessoa aprendeu a andar porque viu e vê outras pessoas andando e, é assim, também com a leitura: a criança lê se vir adultos lendo. Como um professor poderá testemunhar a importância de leitura se ele mesmo não lê?O aluno, principalmente a criança, observa o professor e, quando este a cativa ,passa a ver no professor uma referência positiva. Aí reside a responsabilidade daquele que alfabetiza: antes de autorizar-se a mediar a formação de um leitor, precisa, antes, constituir-se como tal.

A alfabetização, nos últimos tempos, tem sido objeto de estudo e pesquisa, as quais evidenciam a evolução da importância da leitura e da escrita para a inserção dos sujeitos na sociedade. Neste sentido, educadores e pesquisadores na área da educação concentram seus esforços na produção de alternativas que promovam além da decifração dos códigos linguísticos, a decifração do mundo através da linguagem. Esta preocupação aumenta, na medida em que as transformações na/da sociedade estão cada vez mais aceleradas, esta mesma sociedade exige homens e mulheres mais “preparados para nela conviver”. Estas transformações criam impactos na escola e no seu modo de ensinar, o que por sua vez, desafiam os professores a repensar e reconstruir suas práticas de leitura e de escrita, pois as possibilidades do uso da linguagem são inúmeras, e a escrita está apenas tentando aproximar-se deste mundo.

Para aproximar-se deste mundo, para poder de fato inserir-se no mesmo, é imprescindível que o processo de alfabetização ultrapasse, ou supere o ensino através de um único método e um único suporte de texto- o livro didático, embora o mesmo não precise ser descartado. Alfabetizar, considerando os novos tempos e as novas exigências implicadas nos mesmos, exige que as metodologias privilegiem a leitura da realidade

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dos estudantes, trazendo deste modo, atividades de leitura e escrita através de suas culturas, algo significativo, que provoque, desperte o interesse, o gosto, o prazer pela leitura. Para isso, outras rupturas se fazem necessárias, como por exemplo, planejar as aulas pautadas pelo ensino em regras, pois isso não irá proporcionar aprendizagens significativas ao aluno, muito menos experiências, e sim haverá somente perdas de interesse por parte do mesmo, pois se sentirão obrigados na realização das atividades.

Para Ferreiro (1993, p.25):

As crianças são facilmente alfabetizáveis desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um objeto interessante que merece ser reconhecido. Ler, ter acesso a bons livros, preparar ambientes que despertem nas crianças um desejo pela leitura, são mediações importantes para a formação do leitor, e terá mais sentido ainda, se o professor ajudar o aluno a descobrir o teor de dialogicidade da linguagem, a qual somente existe no encontro, na troca, no engajamento da pergunta-resposta, pois, em um texto nada é dito gratuitamente, e não se deve esperar que os alunos descubram sozinhos, por isso, é fundamental que em cada exercício, os professores fales aos educandos para quem se vai falar ou escrever, pois redações escritas “para ninguém”, só podem resultar no desinteresse do aluno.

Foi a partir destas, e outras reflexões, que me propus a realizar a monografia de conclusão de curso. A mesma teve a finalidade de refletir as principais pesquisas sobre alfabetização e aos temas dela recorrentes na perspectiva de melhor entender este tema no contexto atual e a partir disso, construir referências que possam subsidiar a minha prática de docência; conhecer as práticas pedagógicas sob um novo olhar, ou seja, analisar aquilo que já se discute há tempos, mas que ainda, por algum motivo, nãofoi operacionalizado junto às crianças. A expectativa é fazer uma relação entre uma prática vivenciada com as leituras produzidas por diversos autores que enfatizam a leitura e escrita como parte fundamental na ampliação do acesso à cultura letrada das crianças.

No primeiro capítulo escrevo sobre a importância da alfabetização na sociedade contemporânea e defendo a alfabetização como direito de todos e condição para a cidadania. No segundo capítulo, reflito sobre o papel da escola neste processo. Para realizar o mesmo, transitei pelas leituras feitas ao longo do curso e também textos produzidos por diversos autores que trazem a escola como um lugar onde se cruzam saberes e desejos, nos quais são importantes para a formação da cidadania dos alunos. No terceiro capítulo trago algumas concepções acerca da alfabetização, os novos olhares da mesma na sociedade. Para isso, foi preciso a leitura de textos e livros de diversos

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autores que visam a leitura e escrita como parte fundamental para ampliar o acesso à cultura letrada das crianças, já que escrever na nossa sociedade, torna-se uma necessidade, e a leitura é condição fundamental para a produção de textos. Para melhor compreender um cotidiano alfabetizador, realizei uma pesquisa de observação participada, e finalmente me posiciono frente uma alfabetização possível, necessária e adequada às crianças, não mais adaptando a criança à escola, mas a escola se organizando atendendo estas características. Também me posiciono enfatizando quais as causas da não aprendizagem. Quais seriam os principais fatores que dificultam a aprendizagem?

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1-ALFABETIZAÇÃO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: ALÉM DE UMA EXIGÊNCIA... UM DIREITO

Hoje a escrita tem diversos usos, está presente na maior parte de nossas atividades do cotidiano e delas lançamos mão para dar conta de grande parte de nossas ações. (Barbosa, 2013 p.141)

Como diz Cagliari (1989, p. 10): “A alfabetização é um elemento importante, pois, saber ler e escrever é condição necessária à participação na sociedade letrada em que vivemos. A alfabetização é o momento mais importante da formação escolar de uma pessoa assim como a invenção da escrita foi o momento mais importante da história da humanidade”. Atualmente estar alfabetizado, ou seja, saber ler, escrever e fazer uso destes conhecimentos é uma questão de sobrevivência e, para o país, uma questão de soberania. Embora se defenda o direito de todos ao acesso ao conhecimento, é bem verdade que, no Brasil ainda há uma injustiça a ser superada. Há muitas crianças e jovens que ainda não sabem ler e se tornam marginalizados dos debates e decisões da sociedade. Como escreve Garcia (2008, p.13), “os iletrados sabem por que vivem as consequências sociais, políticas e econômicas de não saber ler e escrever. Não sabem ler a palavra, mas sabem ler o destino dado a quem não sabe lê-la”.

O sonho brasileiro: “cidadãos alfabetizados” continuam se caracterizando como grande desafio para a sociedade e para a escola. É certo que, considerando as práticas pedagógicas, incluindo aí a prática da alfabetização, segundo Barbosa (2013) são: culturais, históricas, elas evoluem em função das necessidades sociais emergentes e do acervo de conhecimento disponível o qual permite a elaboração de uma nova teoria, capaz de justificar a nova prática necessária. Analisando a sociedade brasileira é certo que não cabe mais uma alfabetização restrita ao ensino da técnica/mecânica da leitura e da escrita, mas de um novo processo assumido por toda a escola, dando-lhe um caráter político, humano e de inclusão social. Não que estejamos defendendo que a escola e o processo de alfabetização simplesmente se atrelem às exigências da sociedade, pois como bem sabemos nem sempre as intenções da sociedade são humanitárias. Quando falamos de uma alfabetização inclusiva, estamos nos referindo ao direito das pessoas entenderem o mecanismo desta sociedade para dela participar, modificando-a quando necessário. O que está claro é de que atualmente, o sujeito precisa, para inserir-se na sociedade, tornar-se um leitor eficaz.

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Nos últimos anos, há uma maior preocupação em relação à alfabetização, também por parte das políticas públicas de educação brasileira, mais especificamente em duas que atingem diretamente a alfabetização: a implantação do Ensino Fundamental de 9 Anos (EF9) de Nove Anos¹ que tem como objetivo assegurar a todas as crianças um tempo mais longo no convívio escolar, mais oportunidades de aprender e um ensino de qualidade e, o Plano Nacional de Alfabetização na Idade Certa², as criança aos oito anos de idade, precisam ter a compreensão do funcionamento do sistema de escrita; o domínio das correspondências grafofônicas, mesmo que dominem poucas convenções ortográficas irregulares e poucas regularidades que exijam conhecimentos morfológicos mais complexos; a fluência de leitura e o domínio de estratégias de compreensão e de produção de textos escritos.

Além destas inovações, as avaliações externas como a Provinha Brasil³, mostram a preocupação em mudar a situação da alfabetização no Brasil, pois ela verifica a qualidade da alfabetização e o letramento dos estudantes, bem como, oferece aos professores e gestores escolares um diagnóstico sobre o processo de alfabetização da turma e de cada aluno de uma escola.

Voltando ao título do capítulo, alfabetizar-se é um direito, Garcia (2008), aponta para esta questão alertando, no entanto, que a escrita assim como liberta também domina, razão porque não basta ensina ler e escrever, mas junto refletir, discutir o uso incluso destes conhecimentos. Lembremos que qualquer tecnologia faz sentido para quem precisa dela para viver melhor, com mais facilidade. [...] nesse sentido, a escrita se faz passaporte entre o já dado e o que está para ser criado. A favor deste argumento, basta ver como, a partir da invenção da escrita, se acelerou o processo de invenção de novos inventos e conhecimentos. E mais, a escrita, como arma de dois gumes, tanto serve a dominação como a libertação.

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Política Pública Nacional (MEC) que amplia a duração docom a implantação do ensino fundamental de nove anos. A intenção é fazer com que aos seis anos de idade a criança esteja no primeiro ano do ensino fundamental e termine esta etapa de escolarização aos 14 anos. A ampliação do ensino fundamental começou a ser discutida no Brasil em 2004, mas o programa só teve início em algumas regiões a partir de 2005. O prazo para que o ensino fundamental seja de nove anos em todo o Brasil é até 2010.

² Plano Nacional de Alfabetização Idade Certa- é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental.

³A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos.

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Vai depender do modo como vem predominantemente se inscrevendo em nós. Quem descobriu na escrita possibilidades de ver mais, de usufruir mais beleza, de saber mais, de se potencializar e criar mais poderia prescindir dela?Aí reside o direito da aprendizagem.

O importante é que a aprendizagem da leitura e da escrita durante o processo de alfabetização tenha como objetivo ampliar o acesso à cultura letrada das crianças, pois desde pequenas elas estão em contatos desde muito cedo com diferentes textos, como por exemplo, nas embalagens dos brinquedos, na televisão, nos livros, enfim, hoje tudo no mundo utiliza-se a escrita, e é neste sentido que a escola precisa repensar o seu papel de “formador de leitores e escritores ”ampliando o seu entendimento de alfabetização e dar continuidade e aprofundamento aos saberes referentes a leitura e escrita que as crianças trazem de casa.

Andrade (2009) posiciona-se dizendo que, durante muito tempo a visão do educador só aconteceu como método de ensino, o sistema de alfabetização, pois através deste se aprendia a leitura e a escrita, entendendo-se que assim formava-se um sujeito alfabetizado. A sociedade foi se tornando mais exigente, já não é mais suficiente dominar o código, exigem-se outros conhecimentos; conhecimentos de mundo, conhecimento textual, conhecimento tecnológico, conhecimento digital, conhecimento do contexto social e mais, espera-se que esses sujeitos saibam aplicar o domínio do código em um contexto, por meio de interpretação, de uso no cotidiano.

Porém, essa aprendizagem que Andrade coloca, somente será significativa se houver a elaboração de sentido e se essa atividade acontecer em um contexto histórico e cultural, pois é na vida social que os sujeitos adquirem marcos de referência para interpretar as experiências e aprender a negociar os significados de modo congruente com as demandas da cultura. É dever da escola, por meio do processo de interação e de diálogo, ampliar as formas das crianças serem e estarem neste mundo.

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2-PAPEL DA ESCOLA NESTE PROCESSO

É urgente em nosso país a escola ensinar a ler. Não a leitura da escola para a escola (Demo, 2007).

Sabemos que a escola não é a única responsável por propiciar à criança a sua inserção no mundo da escrita. Porém, é onde que as crianças devem ser mais instigadas a experimentar e até mesmo de vivenciar situações de leitura e escrita de diversas formas e em diferentes ambientes, sempre desafiando as mesmas a escreverem ou desenharem para que assim expressem o que viram e o que ouviram, porque nós, futuras professoras sabemos que o mundo não nos dá nada pronto, e que é através do diálogo, da leitura e escrita que as crianças vão entendendo, incorporando os significados do nosso mundo, e até mesmo outros significados vão sendo construídos de acordo com o entendimento da criança.

Andrade (2009, p.6) contribui nos dizendo ainda que, é a escola que oportuniza ao indivíduo a formação pessoal, social e de cidadania. No entanto, ela não caminha sozinha, pois necessita de outro personagem de fundamental importância no contexto. Este papel é assumido pelo docente, e para que isso aconteça, é necessário que os professores sejam estimulados/desafiados a pensar sobre a sua própria profissão, sobre que ela exige, e com isso querer estar sempre buscando cada vez mais conhecimento.

Neste sentido, a escola é por excelência, o lócus, responsável por propiciar condições para os indivíduos iniciarem-se (reflexivamente) e ampliarem sua condição de leitores, o que está atrelado à necessidade de se constituírem cidadãos. É uma importante instituição humana, cuja função é de contribuir para que as pessoas possam inserir-se na sociedade como sujeitos, por meio dela que são compartilhados e construídos valores culturais, morais e sociais. A mesma constitui um local de troca, de obtenção de informação e de aprendizado. É na escola que formulamos grande parte das respostas e das perguntas necessárias a compreensão de nossas vidas. É um espaço de aprender aonde se trabalha coma diversidade, com disciplina, com serenidade despertando assim no aluno o prazer de estar na escola, pois a escola ainda possui uma grande influência na vida de cada aluno.

Portanto, a função primordial da escola seria, então, a de auxiliar a criança a compreender o mundo por meio da pesquisa, do debate e da solução de problemas, devendo ocorrer uma constante inter-relação entre as atividades escolares, e as necessidades e os interesses das crianças e das comunidades. A mesma é um espaço privilegiado para desenvolver o uso da língua materna: a fala e a escuta, a leitura e a

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escrita.Potencializar práticas que pretendam prover os alunos de conhecimentos e instrumentos para o uso efetivo e autônomo da linguagem e constituírem-se como sujeitos criativos, reflexivos, afetivos e comunicativos, capazes de interagir nesta sociedade em constantes mudanças.

Garcia (2008, p.178) aponta a sala de aula, como um lugar múltiplo onde se cruzam saberes e desejos e que convida ao diálogo, mesmo quando só dá espaço para o diálogo interior. Sala de aula, lugar que procura organizar-se no singular, ocultando que sua singularidade está na pluralidade que a compõem, impedindo que os trajetos, desejos e possibilidades peculiares expressem e afirmem, fazendo que muitos tentem adequar-se ao ritmo imposto, a tarefa dada,aos tempos fixos, ao movimento previsível e uniforme, que obrigam a deixar de forma a turbulência da vida e desobrigam a vivê-la, ainda que por pouco tempo, em toda sua intensidade. As crianças chegam à escola, assim como os professores e professoras, encharcados da vida e frequentemente não encontram na sala de aula espaço-tempo para viver o movimento no qual estão imersos, tendo que entrar todas numa sintonia única, que emudece a polifonia.

Maria Isabel H. Dalla Zen (2010, p. 71) afirma que:

É necessário considerar que a sala de aula abrigará um grupo, alunos e alunas coordenados por uma professora, e que a participação de todos na composição desse ambiente será fundamental. Na medida em que houver a participação de todo o grupo, por exemplo, na decoração da sala, na confecção dos cartazes, nos acessórios usados para organizar os materiais coletivos se dará a impressão das marcas pessoais. Tudo isso acaba por influenciar no aconchego de uma sala de aula voltada para a alfabetização, uma sala de aula com a cara da turma.

Retomando a questão de que a escola é o lócus por excelência para desenvolver um processo de alfabetização que realmente ensine a ler e escrever, faz-se necessário, um olhar atento e reflexivo sobre a escola e sobre a alfabetização. Como afirma Demo (2007, p.23):

A escola existe para iniciar as crianças na leitura do mundo, não para disciplinar em quatro paredes através de métodos impositivos, cuja pecha maior não é servir à criança, mas ao contrário. Afinal ler é mais do que decifrar. O sentido do texto é mais relevante que o som do texto. A aprendizagem parte de palavras com significado afetivo e efetivo para o leitor.

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3-OLHARES SOBRE A ALFABETIZAÇÃO

“Se apenas a aquisição do código escrito vem se revelando insuficientemente para abarcar a complexidade do ato de ler; se parece crescente a distância entre o mundo que lemos e o mundo em que vivemos, com tantas vezes denunciou Paulo Freire, se o processo de escolarização ensina hegemonicamente a ler apenas as palavras da escola e não as palavras da realidade, por que não submeter a alfabetização a novos olhares?” (Garcia, 2008, contra capa)

A afirmação evidencia de que o mundo mudou e desfez aquelas identificações de que ler não é mais decodificar e o leitor não é mais o alfabetizado, a não ser que o próprio entendimento de alfabetização seja modificado. Barbosa (2012, p.112) nos fala de que é preciso, pois, criar outra realidade na qual as palavras, memória e imaginação sejam mágicas para a construção de uma nova sociedade, respeitando, assim, as diferenças e as liberdades individuais e coletivas. [...] são essas vivências que, costuradas, formarão a urdidura para a construção de um mundo com homens e mulheres que, supostamente, deverão ser mais conscientes da tarefa de estar no mundo onde lhes tocará viver.

Kramer (1986, p.16) já trazia esta polêmica em torno do que é mesmo alfabetização:

O objetivo da alfabetização é o de favorecer o desenvolvimento da comunicação e expressão com ênfase no processo de produção e utilização de textos, ou é o de garantir a aquisição dos mecanismos da leitura e da escrita?[...] talvez a tentativa de construção de uma teoria geral da alfabetização traga o risco de que imaginemos ser possível abstrair a alfabetização das diferentes práticas sociais em que ela se realiza e das condições concretas que a viabilizam.

Deste modo o conceito em torno da alfabetização existe diversos pensamentos e entendimentos, há desde aqueles que entendem a alfabetização como o domínio da mecânica da leitura e da escrita, até os que a concebem como um processo de compreensão e expressão de significados. (Kramer, 1986, p.17)

O desenvolvimento da escrita evoluiu muito, e hoje a mesma tem sido um grande desafio para os professores, já que o mundo está em constante transformação, muitas mudanças estão ocorrendo na prática de alfabetizar, perspectivas estão cada vez mais amplas, discussões acerca da mesma provocam grandes desafios aos professores com a prática da leitura e escrita, pois as possibilidades do uso da linguagem são inúmeras.

Com isso, Alves (1993, p.65) nos coloca que:

É urgente, pois que os alfabetizadores compreendam o processo de aquisição da leitura e da escrita e, assim, possam compartilhar das experiências da criança que aprende, estabelecendo condições para que o aluno possa se manifestar, experimentar, descobrir, criar; enfim, construir e testar hipóteses relativas á aprendizagem da língua escrita, através de interações significativas como seu contexto sócio cultural.

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No modelo tradicional de alfabetização entendia-se que o eixo principal era aquele estabelecido entre o professor (que tem o domínio do conhecimento) e o aluno (que não sabe). Já na concepção atual, o eixo principal no processo de alfabetização escolar é entre a criança e a escrita, sendo o professor o principal (mas não o único) mediador (Andrade, 2009, p.17). E afirma que:

Durante muito tempo habituou-se a falar em alfabetização. Ser alfabetizado significava saber as letras, saber juntá-las para ler, saber escrever o próprio nome, codificando e decodificando a escrita. Hoje, esse termo alfabetização já foi resinificado e é centro de varias discussões e correntes ideológicas que procuram esclarecer o que realmente é ser alfabetizado e quais as implicações deste processo nodia-a-diados sujeitos.(Teixeira, 2008, p.12)

Para isso, trago a concepção de alguns autores sobre o conceito de alfabetização, evidenciando a necessidade de ampliar a compreensão do conceito, ou sua função e com isso, inclusive justificar aqueles educadores que questionam a necessidade de incluir neste tempo pedagógico, a questão do letramento uma vez que a alfabetização, compreendida deste modo, já daria conta da formação do leitor e escritor na sociedade. Além disso, estes entendimentos já apontam de que o processo da alfabetização não é tarefa exclusiva de um professor, mas compromisso de toda a escola.

Paulo Freire (1987) defende que alfabetização é educação e educação é poder o qual provoca transformações no homem e na sociedade, possibilitando a sua independência. Este deve ser o objetivo fundamental da alfabetização: “libertar o homem através da educação. [...] A alfabetização precisa estabelecer relações como mundo e com a vida dos sujeitos inseridos no processo de aprendizagem”.

Cagliari (1998) traz como concepção que, em primeiro lugar, é preciso entender que o segredo da alfabetização está na aprendizagem da leitura. Aprender a ler, aqui, significa aprender a decifrar a escrita. Para saber decifrar, é preciso saber como os sistemas de escrita funcionam e quais os seus usos. Como a escrita é uma forma gráfica de representação da linguagem oral, é necessário estudar os mecanismos da produção da linguagem oral, os seus usos e, ainda, como a linguagem oral se relaciona com a forma escrita que a representa, num contexto culturalmente específico da sociedade moderna.

Feil (2004, p.123), contribui dizendo que a alfabetização que interessa é aquela que transforma o sujeito em alguém que passa a dispor de um novo instrumento de comunicação e expressão, tornando-se leitor, criador e recriador de textos, num sujeito diferente e capaz de enfrentar melhor a vida.

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Maria da Graça Costa Val (2006, p.19) define alfabetização da seguinte forma:

Pode-se definir alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita.

Neste contexto, também surgem pesquisadores e educadores que alertam sobre a necessidade de que o processo de alfabetização respeite, acima de tudo, os sujeitos que estão neste processo de aprendizagem. Aqui no caso, a criança. Defendem que as propostas precisam considerar as pesquisas sobre, e principalmente com a infância, as quais demonstram a necessidade de partir do que ela já sabe a respeito deste conhecimento e que elas podem participar, com autoria do seu processo de aprendizagem.

Sarmento (2009, p.64), grande defensor da infância debatem esta questão dizendo que: “[...] por muito tempo, as investigações sociológicas sobre a infância estiveram focadas em sistemas centrados na criança ou em sistemas orientados para a criança e muito pouco em sistemas protagonizados ou controlados pelas crianças”.

Neste caso, o que acaba acontecendo é o que Alves (1993, p.58) descreve:

O que se observa é, sem duvida, o distanciamento da atividade de escrever com alguma finalidade – seja ela identificar, nomear, perguntar, informar, comunicar, alegrar, representar - enquanto professores e alunos se perdem no“sobe e desce a montanha” que não levam a lugar nenhum.

A criança para aprender a ler e escrever precisa compreender as funções da língua escrita na sociedade. Pois quando a mesma cresce em um ambiente alfabetizador, convivendo com adultos que leem, recebem cartas, e-mails, mensagens, entre outros portadores de texto, têm acesso à função social da escrita. Para estas crianças não há mistério ler e escrever. Mas quando ela não tem acesso a esse tipo de informação “para que escrever” não vê sentido na escrita sob a mesma óptica. (Teixeira, 2008, p. 33)

Contudo, é possível dizer que não se trata de acelerar o processo do ensino da leitura e da escrita, forçando uma alfabetização a crianças muito novas, sem respeitar os ritmos individuais e as características da faixa etária, mas permitir/desafiar que a criança aprenda, se produza em sujeito alfabetizado.

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4-OBSERVANDO E REFLETINDO SOBRE O COTIDIANO

Na perspectiva de buscar mais elementos para melhor compreender o processo de alfabetização, realizei uma “observação oparticipada” em uma turma do1ºano no turno da manhã, no segundo semestre de 2014 numa Escola do município de Ajuricaba. A turma composta por apenas oito crianças, todas interessadas em Ler. A sala é bem colorida, com muitos desenhos feitos pela turma, alguns individuais, outros coletivos. Possuem alfabetos diferentes na parede, números em forma de livro, calendário, ajudante do dia. Em um canto da sala tem muitos jogos de alfabeto e números. Os materiais da turma ficam guardados na sala de aula em estantes abertas e as crianças podem pegar o que desejam. Tem o amigo da turma, que é o senhor Alfabeto. Todos os dias uma criança o leva para sua casa juntamente com várias histórias com o intuito de motivar a leitura. Segundo a professora, o planejamento é organizado através das vivências dos alunos, para depois incluir nos registros, trabalha bastante com a escrita espontânea e o fazer pensar. A mesma trabalha muito com o lúdico, a brincadeira, “mas sempre com uma intenção”.

A leitura é trabalhada utilizando-se de diferentes suportes e explora todos os gêneros textuais. Valoriza os textos de qualidade e sempre os apresenta inteiros, pois ainda segundo a professora, “textos fragmentados não trabalham com a totalidade do conhecimento”. Procura também usar textos que contribuam na ampliação do universo vocabular das crianças, produzindo glossários a partir de cada história, cada texto lido. A hora do conto é feito por ela todos os dias na sala de aula, utilizando estratégias e mediadores diversos, como, fantoches, dedoches, fantasias e em outros momentos, a mesma senta com eles e conta um livro mais complexo, formal.

Alfabetiza conforme o nível de aprendizagem da criança, sempre partindo do que já sabem. Embora trabalhe de forma integrada e sempre a partir de um texto, o método de alfabetizar é analítico/sintético, pois ela inicia trabalhando com as vogais “e depois com as letras que possuem o som mais forte”. Durante minhas observações estava trabalhando com a letra N. Ela não segue a ordem alfabética, trabalha as letras durante as atividades do projeto. Além do projeto, adota um livro denominado “Prosa”, como material complementar, em razão disso, também não o segue na ordem em que ele está organizado.

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Um fato interessante que observei é que a professora mostra as suas próprias produções (ela está fazendo um curso de especialização) para os alunos, para que os mesmos saibam que “a professora também precisa da leitura e escrita, assim como eles”. Nesta prática, a professora dá testemunho de sua própria experiência. Ao conversarmos sobre como ensina a leitura e a escrita, a professora contou de que já participou da formação de alfabetização denominado Alfa Beta e que atualmente participa da formação do PNAIC (Programa Nacional pela Alfabetização na Idade Certa). A docente fez algumas comparações entre as duas modalidades de alfabetizar e afirma que as experiências são importantes e lhe deram elementos para afirmar que é possível alfabetizar a partir das duas propostas, embora a segunda seja mais abrangente e menos diretiva. Independentemente da qualidade da proposta do PNAIC, o importante é não tomá-la como uma receita ou único método de alfabetização, e que cabe à professora recriar a sua prática continuando a fazer uso daqueles métodos ou situações de aprendizagem que “estão dando certo”.

Segundo a professora “Devemos sempre melhorar a qualidade de ensino e a criança só será considerada alfabetizada quando além de ler e escrever ela também já consiga interpretar os textos, fazer contas”.

Continuando a interlocução, a professora ainda afirmou que “o docente, deve estar sempre buscando, inovando, trazendo algo novo para as crianças, tornando assim, suas aulas prazerosas, alegres, produtivas, e não ficando sempre na mesmice, aulas monótonas, rotineiras”. Através das observações das crianças, foi possível evidenciar isso na prática de sala de aula. Há, sim, uma rotina das aulas, no entanto não é uma rotina rotineira marcada pelo relógio e nem sempre segue o mesmo caminho. A professora utiliza vários recursos para motivar a leitura e para isso utiliza, além do livro, outros mediadores para ilustrar. Analisando estes aspectos, é possível perceber a importância do professor alfabetizador implicado com a leitura e de um ambiente alfabetizador. Ao entrar na sala, logo se percebe que há aí uma professora instigando as crianças para novas leituras e crianças aprendendo a ler e isso se consolida ao ver as crianças entusiasmadas pela leitura. Adoram pegar os livros e contar para os colegas e para a professora – sempre tentando imitá-la, o que evidencia a influência da professora como produtora de desejo pela leitura e literatura.

Retornando a questão, mais específica da alfabetização, percebi a importância da presença efetiva da professora neste processo e, que realmente a alfabetização é uma apropriação individual-cada criança no seu tempo e seu ritmo aprende a ler e a escrever. Em razão disso, me chamou atenção a disponibilidade da professora organizar suas aulas de modo a envolver todos nas atividades e, ao mesmo tempo acompanhar e ajudar aquele que mais precisa de sua atenção. Senta ao lado das crianças que possuem mais dificuldade tantas vezes que for necessário, mas sempre de um modo diferente.

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A experiência de observar, embora num espaço relativamente curto, o dia a dia de uma turma em processo de alfabetização, confirmou quase todas as hipóteses levantadas sobre as condições ideais para que a alfabetização efetiva ocorra, embora trouxessem outras questões. Uma das questões que orientavam minha observação foi do ambiente alfabetizador. Teria ele influência? A resposta a esta questão iniciou logo da entrada da sala. Aquela sala era realmente um ambiente alfabetizador! A organização das mesas e cadeiras, a disposição dos jogos, livros, vários alfabetos na parede, numerais, trabalhos realizados por eles e, a integração das crianças neste ambiente são indicadores significativos. A segunda hipótese, talvez a mais importante, era em relação à professora. A relação da professora com a leitura e escrita é importante para o processo de alfabetização? A relação da professora com a leitura e a escrita instigava e envolvia as crianças o que era evidenciado quando todas, ao contar ou “ler uma história” “queriam ser como a profe” e também pelo entusiasmo que demonstravam frente à atividade de ler, em buscar voluntariamente livros nas estantes para fazer suas leituras.

O fato de a professora ler e/ou contar histórias, mediar todos os gêneros de leitura de forma lúdica e significativa, mostra como ela também necessita e faz uso da leitura e da escrita. Ao observar a relação da professora com a leitura e a escrita comprovou a importância do alfabetizador e, o quanto ele é referência para suas crianças. Ele ensina dando seu testemunho de leitora, pois suas ações são refletidas e repetidas pelos alunos. A observação foi de suma importância para compreender melhor como ocorre o processo de aprendizagem na alfabetização e que o professor, assim como mostrou a professora, “o docente, deve estar sempre buscando, inovando, trazendo algo novo para as crianças, tornando assim, suas aulas prazerosas, alegres, proveitosas, e não ficando sempre na mesmice, aulas monótonas, rotineiras”.

Por outro lado, as observações me trouxeram outras indagações: Será que o processo de alfabetização precisa passar pelo ensino das letras, uma de cada vez? Considerei todo o processo muito importante, mas permitiu questionar-me se, realmente é necessário ensinar letra por letra, como se estas fossem uma totalidade, um objeto de conhecimento. Não seria o caso de trabalhar isso de uma forma mais integrada? Não tem como analisar, ao mesmo tempo várias “letras”? Será que não perdemos muito tempo ensinando uma letra com objetivo em si mesmo? Apesar de não ser o objeto da pesquisa, percebo que esta questão não pode ser ignorada, no momento em que nos propusermos a alfabetizar. É sabido que qualquer método ensina juntar letras, formar palavras e até

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5-CONCLUSÃO: É PRECISO SOBRETUDO ALFABETIZAR

Coerentes com a posição que assumimos, não esperamos que uma intervenção de ensino- qualquer intervenção de ensino- possa criar aprendizagem. Em última instância é o aprendiz (adulto ou criança) que, com base do seu esquema de assimilação, reinterpreta os dados fornecidos pela intervenção do ensino (José Juvêncio Barbosa (2013. Apresentação).

Atualmente as discussões sobre alfabetização, escrita e leitura ocupam amplo espaço, tanto na formação inicial quanto na continuada. Embora, em discurso, já se possa afirmar que há uma concordância quanto da necessidade de ampliar o objeto e o objetivo da alfabetização, assim como muitos defendem,“alfabetizar letrando”4,na prática isso não se evidencia com tanta clareza. Ainda surgem questões como: Como alfabetizar? Há um método que não alfabetiza? É o professor que alfabetiza? É a criança que se alfabetiza? Ou são ambas as coisas?

Como aponta Soares (2004, p.87), “não há um método ideal”, mas todo alfabetizador acaba construindo procedimento próprio, a que cabe o termo “método”, desde que não seja rígido, impositivo. O importante é que a criança se alfabetize adequadamente. O método serve se conseguir alfabetizar. Após as leituras e a observação de um cotidiano escolar, chego a estas conclusões. Embora não haja um método certo para alfabetizar, este processo não ocorre sem método. Parece paradoxo, mas na noção de método, conforme Demo (2007, p.25) “não pode estar a pretensão de caminho a ser seguido a ferro e fogo, mas de instrumento de aprendizagem, tão flexível quanto a própria aprendizagem, à qual serve”. Demo, citando Telma Weisz, quando escreveu o prefácio AP livro de Smith (2003, p. I), retira este fragmento:

Não discute métodos, nãodefende métodos e, principalmente, não reconhece nos métodos –quaisquer que sejam – o poder de produzir aprendizagem. O que não significa, como pensam alguns, uma defesa do espontaneísmo pedagógico, mas pelo contrário. A posição do autor perpassa o texto do início ao fim, é de reconhecimento da importância da intervenção do professor na aprendizagem da criança.

Então não se trata de adoção deste ou daquele método, mas de construir metodologias ou didáticas de alfabetização que permitam a coparticipação da criança no seu processo de alfabetização, porém, sempre mediada (com rigor) pelo professor.

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Letramento refere-se a apropriação da leitura e da escrita para uso social, traz consequências (políticas, sociais, econômicas, culturais...) para indivíduos e grupos que se apropriam da escrita, fazendo com que esta se torne parte de suas vidas como meio de expressão e comunicação. O sujeito torna-se usuário da leitura e da escrita na vida social.

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A professora, com a qual tive oportunidade de interagir, ao afirmar que teve a vivência de duas experiências de metodologia de alfabetização e, que ambas lhe proporcionaram aprendizagens, mas que nenhuma poderia ser entendida como receita, confirma a afirmação de Demo (2007, p.25), quando diz que não tem como ignorar “outras coisas, o desenvolvimento físico e biológico da criança, a vivência, as ideias e o contexto de cada criança, sua característica interpretativa e autorreferente, a cultura própria”. As crianças possuem saberes os quais não podem ser ignorados, pelo contrário, precisam ser o ponto de partida do processo de alfabetização. É preciso partir de dentro para fora, do que a criança sabe, acredita, faz, experimenta. Comparando as leituras de autores e a leitura de um cotidiano de alfabetização, concordo tanto com a professora, sujeito da pesquisa quanto com os autores lidos, que cada professor, continuando a citar Demo, precisa saber desenvolver o seu “método”, a partir da “pesquisa dos outros, de autores, teorias, sem reproduzir”.

Assim por exemplo, Paulo Freire contribui ao dar o caráter político da alfabetização e da necessidade de partir da cultura dos sujeitos pela via da decodificação e codificação dos significados (leitura de mundo). A psicogênese supõe a criança como sujeito que constrói ativamente seu saber pela via da reconstrução participativa e a linguística, contribui na aprendizagem do funcionamento da língua. Considerando estas e outras contribuições, é possível fazer uma reorganização do processo de alfabetização utilizando-se de todas estas teorias, desde que pautadas sob mesmos princípios, produzindo seu próprio “método” (metodologia), desde que isso ocorra em ambientes materiais e sociais adequados de aprendizagem.

No final desta pesquisa, destaco que o “método” que alfabetiza, certamente precisa focar-se na formação do leitor e, que a criança que tem a oportunidade de ter um contato desde cedo com bons livros, boas histórias, conviver com pessoas leitoras e escritoras, começa seu processo de letramento muito cedo e com mais qualidade, pois isso faz com que desperte na criança o desejo de ser um sujeito-alfabetizado, o desejo de descobrir a leitura das letras. E quando falo em bons livros, me refiro ao que Demo (2007, p. 27) defende: “O que está em jogo não é ler letras ou textos escolares, mas o exercício cotidiano da leitura de textos da vida”. Na escola, as crianças precisam ser mais instigadas a experimentar e de vivenciar situações de leitura e escrita de diversas formas e em diferentes ambientes, e sempre desafiando as mesmas a escreverem ou

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incorporando os significados do seu mundo, e até mesmo outros significados vão sendo construídos de acordo com o entendimento da criança. Nesta direção, Barbosa (2007) defende de que o maior desafio não é apropriar-se de textos disponíveis, mas acima de tudo, saber fazer texto próprio, para chegar a ser autor.

Para que este processo se viabilize, é imprescindível, a professora conhecer a realidade de seus alunos, suas linguagens, crenças e valores, tanto para o professor selecionar e organizar os temas, palavras que devem orientar a prática de alfabetização, quanto compreender suas construções, interagindo assim como mundo no qual vivem, trazendo palavras, textos que sejam significativos na realidade do mundo em que vivem, e não apenas trabalhar as palavras da escola, para que com isso vão ampliando seu conhecimento, pois escrever na nossa sociedade torna-se uma necessidade e, segundo muitos educadores, por exemplo, Leite (2008) e Demo (2007), entre outros, alertam que não se trata mais de um ensino de aquisição do código escrito, embora também necessário.

Concluo que é possível ensinar, simultaneamente crianças e adultos a ler, a conhecer os sons que as letras representam e, ao mesmo tempo, com a mesma ênfase convidá-los a se tornarem leitores, a participarem da aventura do conhecimento implícito no ato de ler e escrever.

Bettelheim & Zelan (1984) afirma que:

A alfabetização plena é aquela que engaja o leitor principiante na descoberta do mundo cheio de atrações, desafios e sentidos novos profundos. Assim, é importante que o professor crie com e para a criança um ambiente alfabetizador, produtor de desejos, que desafie as crianças falar, relacionar, registrar, recriar através do lúdico situações de aprendizagem de leitura e escrita, o ambiente tanto da sala de aula quanto o da biblioteca devem ser atrativo, desafiador para a leitura. A biblioteca precisa pertencer ao leitor e não ao bibliotecário, ela deve ter uma organização que a criança possa entender, para que ao freqüentar a mesma, ela já saiba onde encontrar o livro de sua preferência. Pois ler, ter acesso a bons livros, preparar ambientes que despertem nas crianças um desejo pela leitura, são mediações importantes para a formação do leitor. Neste sentido, reforço que a criança para aprender a ler e escrever depende das mediações e das condições que lhes são dadas. É preciso partir do princípio que todos têm capacidade de aprender. Jamais desistir de seu aluno, é uma premissa fundamental. A criança tem a necessidade de que o espaço ao seu redor valorize os seus modos de ser e interagir, sendo assim, há a necessidade de se criar espaços de aprender, problematizar o cotidiano da escola pensando sobre o que é

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significativo para as crianças. Criar instrumentos na vida escolar a partir de novas didáticas que desafiem as crianças a escrever o vivido em sua casa, na rua, discutindo, escrevendo e lendo para elas sobre estes fatos.

Considerando que a produção de sujeitos-alfabetizados depende do desejo/necessidade, a escola, os professores têm o desafio de construir condições e estratégias que possam mediar esta construção. Respeitando sempre a especificidade de cada objeto de conhecimento e ao mesmo tempo proporcionar uma prática interdisciplinar que permita a formação do leitor de mundo, do sujeito usuário dos bens culturais.

Com base no que já foi dito, refletido e pesquisado, afirmo que não há um único método para se alfabetizar, mas que também não tem como alfabetizar sem método. Método que tenha como procedimentos de investigação ou análise pautados em princípios norteadores e não por regras práticas aplicáveis a problemas técnicos, concretos que funciona sempre como uma vigilância epistemológica.

Utilizando-me de uma afirmação de Maturana (2001, citado pór Demo (2007, p.21), concluiria dizendo que:

Assim como nenhuma mãe simples do povo daria aula para seu filho, o professor realmente dedicado à aprendizagem do aluno, não dá aula, mas arquiteta em torno dele o ambiente mais propício de aprendizagem, sempre partindo do alunoe oferecendo oportunidades de formação com base no processo de construçãode autonomia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

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